quarta-feira, 22 de março de 2023

Elementos do Poder de Combate *239


Elementos do Poder de Combate

O poder de uma força militar é definido pela balanceamento de 5 fatores que o comandante deve lançar mão no campo de batalha. Sua utilização é vital e necessária a consecução bem sucedida das operações. São eles: A Manobra, O Poder de Fogo, A Liderança, A Proteção e a Informação.

A Manobra

É a combinação de fogo e movimento, sincronizados no tempo e no espaço, de forma a posicionar-se de forma vantajosa em relação ao inimigo, a fim de pô-lo fora de ação pela quebra de seu poder de combate e consequente fuga, destruição ou rendição, sempre em consonância com os objetivos da missão. É através da manobra que se alcança surpresa, choque, iniciativa e domínio do campo de batalha. A manobra é implementada nos 3 níveis diferentes da guerra e hierarquicamente dependentes, sendo estes níveis o estratégico, o operacional, e o tático ou combate aproximado.

A manobra estratégica é o nível mais alto e corresponde a todo o movimento de meios desde as bases permanentes até as áreas de concentração estratégica, pondo-se em condições de desencadear a manobra operacional. A manobra operacional é o nível intermediário e mais alto da manobra de campo, e visa posicionar-se vantajosamente em relação ao inimigo antes de se atingir a fase de engajamento. Manobra-se operacionalmente antes de qualquer batalha ou campanha a fim de alcançar a vantagem inicial, com o adequado posicionamento de tropas combatentes e meios de apoio. Ela cria as condições preconizadas no planejamento da missão de forma a tornar possíveis e vitoriosas as subsequentes ações táticas. Manobra tática é o nível onde se faz contato com as posições inimigas a fim de iniciar e dar sequência ao engajamento em busca dos objetivos traçados. Através da manobra tática procura-se sempre manter a iniciativa criando um volume de problemas progressivo ao inimigo, fazendo-o reagir a situações inesperadas e frustrando continuamente o seu planejamento. Enquanto o inimigo tiver problemas a resolver, dificilmente terá oportunidade de criar situações em seu favor. Em operações de estabilidade a manobra visa inviabilizar opções táticas efetivas por parte do inimigo, concentrando poder de combate onde possam as forças aliadas dissuadir ou reduzir os efeitos de suas ações. O combate aproximado é o nível mais íntimo da manobra tática, onde se dá o engajamento propriamente dito. O combate aproximado é levado a cabo com o efetivo emprego de fogo direto, indireto, ar-terra e outros meios de combate. É no combate aproximado que se derrota ou destrói as forças inimigas, conquistando ou mantendo o terreno. Pode-se dar a milhares de metros com armas de alcance condizentes ou em contato "corpo-a-corpo".

Todas as ações táticas requerem inevitavelmente a posse de determinado terreno ou área geográfica, como pré-condição para se alcançar o objetivo ou como sendo o próprio objetivo da missão. O combate aproximado se faz necessário quando o inimigo estiver ali presente e ficar claro que não tem intenções de cedê-lo. No final das contas, o resultado de todas as batalhas, operações e campanhas dependem da habilidade das forças em combate de engajar o inimigo, destruindo-o ou frustrando sua capacidade combativa.

Uma manobra bem conduzida nos níveis mais altos pode colocar o inimigo numa condição em que este preveja sua derrota e seja persuadido a render-se, pois só os tolos lutam batalhas perdidas. Neste caso o combate aproximado se faz desnecessário, poupando-se recursos e vidas. Em operações de estabilidade, a provável superioridade nas ações de combate aproximado das forças estabilizadoras pode influenciar as ações do adversário. Em todos os casos, a habilidade das forças aliadas em se ocupar das ações de combate aproximado é o fator decisivo na derrota inimiga ou controle de uma situação.

A Potência de Fogo

É a força letal aplicada ao inimigo a fim de inviabilizar sua condição e disposição de luta, e parte fundamental da manobra. É empregada na destruição de suas forças e meios, restringindo ou anulando sua capacidade de reação e possibilidades de êxito. Na manobra, através da sincronização de movimentos pertinentes e coordenados, criam-se as condições para o uso efetivo da potência de fogo. Embora a manobra ou o fogo possam dominar uma fase da ação em particular, eles são onipresentes em todas as operações, sendo que seu emprego simultâneo e sincronizado aumenta o impacto de ambos, e a ausência de qualquer um deles torna o outro inócuo na maior parte das vezes.

Combinados, produzem efeitos devastadores e eficazes. Potência de fogo é a quantidade de fogos que uma posição, unidade ou sistema de armas podem alocar em determinado espaço físico durante determinado tempo. Os fogos incluem ainda as missões de apoio implementadas pela artilharia e aviação de forma separada ou em combinação com a manobra. A eficácia da potência de fogo é função direta da precisão dos sistemas de armas modernos, sejam diretos ou não, da capacidade dos sistemas de aquisição de alvos, do alcance e cadência de tiro das armas, bem como de suas capacidades de colocar-se em posição e serem continuamente supridas.

Fogos operacionais são a aplicação pelos comandantes de alto escalão de meios letais ou não, para realizar seus objetivos durante a conduta de uma campanha ou operação principal, sendo componente vital de qualquer plano operacional. São empregados contra objetivos cuja neutralização podem afetar significativamente uma campanha ou operação principal. O planejamento destes fogos inclui a alocação conjunta de meios aéreos, terrestres e navais. Podem ou não ser projetados para alcançar um único objetivo, como por exemplo a interdição de forças inimigas principais para criar as condições favoráveis a manobra das forças aliadas.

Tanto a manobra quanto os fogos operacionais podem acontecer simultaneamente, podendo ou não buscar objetivos muito diferentes. Em termos gerais não se comportam como fogos de apoio e a manobra operacional não necessariamente depende deles, porém quando empregados em sincronia, as oportunidades daí surgidas competentemente exploradas, produzem resultados muito efetivos. Fogos e manobra operacional combinados de forma sinérgica geram batalhas assimétricas, altamente produtivas e unilaterais.

Fogos táticos são àqueles aplicados para neutralizar as forças inimigas, suprimir seus fogos e desarticular seus movimentos. Eles criam as condições necessárias ao combate aproximado, e devem ser sincronizados com os efeitos de outros sistemas. Concentrar fogos de forma a obter máxima letalidade requer uma compreensão completa da intenção do comando e habilidade de empregar todos os meios disponíveis simultaneamente contra uma variedade de objetivos. A aplicação efetiva de fogos táticos deve obedecer a uma escala de prioridades; localizando e identificando alvos; alocando potência de fogo onde for necessária e avaliando seus efeitos. Uma demanda efetiva de fogos requer unidades competentemente conduzidas com um alto grau de compreensão situacional.

A Liderança

É a capacidade de inspirar as forças combatentes a acreditarem no sucesso, sendo o elemento mais dinâmico do poder de combate. Uma liderança confiante, audaciosa e competente é capaz combinar de forma harmoniosa os outros elementos deste poder e servir como catalisador na criação das condições para o sucesso. Forças motivadas são de fundamental importância ao sucesso, e para tal devem conhecer propósito, direção, e relevância de todas as ações. Líderes fazem frequentemente a diferença entre sucesso e fracasso, particularmente em pequenos escalões.

A competência de um líder requer proficiência no relacionamento com seus comandados e superiores, capacidade de entendimento situacional, além de conhecimento técnico e tático. Treinamento ininterrupto permite concatenar estas habilidades às capacidades e deficiências das tropas. Competência profissional aliada a personalidade firme dos comandantes em todos os níveis, representam uma parte significativa do poder de combate de toda uma unidade. Líderes devem demonstrar caráter forte e padrões éticos altos, conhecer e entender as necessidades de seus subordinados, agir com coragem e convicção, saber quando e onde intervir e tomar decisões de forma a influenciar positivamente a situação.

Trabalho de equipe, espírito de corpo e confiança são atributos fundamentais na atividade de combate. Os soldados têm que confiar em seus líderes, e estes têm que conquistar a sua confiança. Confiança perdida pode inviabilizar ações subsequentes e comprometer a missão. Em situações difíceis o líder competente faz a diferença e viabiliza as ações de seus comandados.

A Proteção

É a preservação da integridade e potencial de combate de uma força, de forma que esteja disponível quando for necessária. A adoção de medidas de proteção não é sinal de covardia, timidez ou incapacidade de correr riscos, mas sim sinal de prudência e bom senso. Forças armadas invariavelmente operam em ambientes hostis, onde vida e morte andam juntas e vítimas se fazem a todo momento. As operações criam uma sobreposição entre as necessidade de realizar a missão e evitar vítimas, comumente difíceis de conciliar. Realizar a missão tem precedência a evitar as vítimas, pela própria natureza do combate, porém os combatentes são o recurso mais importante das forças em combate, e baixas excessivas podem comprometer missões futuras, além é claro de ser moral e politicamente indesejáveis. Comandantes são responsáveis por realizar as missões com o menor número de baixas possível.

A proteção tem 4 componentes: proteção da força, disciplina de campo, segurança, e prevenção ao fratricídio. A proteção da força, o componente primário, minimiza os efeitos da potência de fogo inimiga, sua manobra e coleta de informações. Disciplina de campo impede baixas por ações do ambiente. Segurança reduz o risco inerente de mortes fora de batalhas e danos. Prevenção ao fratricídio minimiza a ocorrência de baixas por fogo amigo.

Proteção da Força

Proteção da força é o conjunto de todas as medidas implementadas a fim de impedir ou minimizar baixas, pessoais ou materiais, causadas pelo inimigo. A proteção é implementada seja o combate ou em nos recursos e instalações, além da vital proteção a informação crítica. Ações de proteção conservam a integridade da força em combate, preservando seu potencial para que possa ser aplicado quando e onde necessário. Não é objetivo das medidas de proteção da força derrotar o inimigo ou protege-se contra acidentes, intempéries ou doenças.

As medidas de proteção pode lançar mão de todos os meios disponíveis tais como componentes aéreos, espaciais, defesa anti-míssil, defesa NBC, ações anti-terrorismo; operações de contra-informação e segurança para forças operacionais e seus meios. Forças inimigas de menor poderio e que são incapazes de desafiar seus adversários em combate convencional, freqüentemente buscam ações assimétricas, com armas ou táticas não convencionais. Esta ameaça não pode ser negligenciada.

A proteção da força em todos os níveis minimiza as baixas por ações hostis. Ações de contra-inteligência hábeis e agressivas e avaliações de ameaça diminuem a vulnerabilidade das forças aliadas. Disciplinas de dispersão reduzem perdas por fogos inimigos e ações terroristas. Disciplinas de camuflagem, segurança local, e fortificações de campo fazem o mesmo. Proteção de ligações eletrônicas, incluindo tropas com dispositivos eletrônicos, são vitais à segurança das informações e sistemas de informação. No nível operacional, áreas de retaguarda e segurança de bases contribui para aumentar a proteção. Forças de artilharia de defesa antiaérea protegem instalações e populações civis do assédio de mísseis táticos com ogivas de combate convencionais e WMD. Aviação de caça e sistemas de controle de espaço aéreo e unidades de defesa anti-míssil complementam o controle do componente pelo controle do espaço aéreo. Artilharia de costa e forças navais guardam os flancos para o mar e acesso aos portos. Medidas preventivas contra ações de natureza NBC proveem a capacidade para sustentar operações nestes ambientes.

Disciplina de Campo

Disciplina de campo, um segundo componente da proteção, impõem regras aos soldados, preservando-os dos efeitos físicos e psicológicos do ambiente. Ambientes opressivos podem solapar muito mais depressa o moral dos soldados que a ação inimiga. Embora estes possam adaptar-se ao ponto das populações nativas, esta adaptação só é conseguida a custa de muito treinamento em habilidades de campo e aspectos particulares da região.

Todas as medidas de precaução para manter os soldados saudáveis e de moral alto devem ser implementadas. Sistemas adequados instalados em locais pertinentes preservam a saúde dos combatentes, previnem doenças endêmicas e sazonais, e proporcionam atendimento rápido dos feridos. Sistemas efetivos para manutenção, evacuação, e substituição rápida ou conserto de equipamento preservam o valor do material empregado. A saúde básica e o bem estar da tropa devem estar em primeiro lugar, evitando-se exposições desnecessárias a condições debilitantes, tais como frio e calor extremo, desidratação e insetos, por exemplo.

Segurança

Segurança é o terceiro componente da proteção. Condições operacionais impõem frequentemente riscos significativos aos soldados. Tripulações tem que ser treinadas e operadores têm que saber as capacidades e limitações de seus sistemas de armas. Em condições que extrapolam os limites humanos, meios extras de proteção devem ser providenciados. Em combate, a fadiga reduz reações e a agilidade mental, resultando em acidentes fatais, perda de poder de combate, e de oportunidades táticas. Atenção e disciplina de segurança em níveis altos vem a minorar estes riscos. Operações seguras decorrem de padrões rígidos de treinamento. Enquanto expor-se a riscos calculados é inerente às operações, lançar mão de todos os meios para minorar a probabilidade destes é obrigação do comando

Prevenção ao Fratricídio

O quarto componente da proteção é a prevenção ao fratricídio. Fratricídio é a matança ou ferimento não intencional de pessoal através de fogo amigo. O poder destrutivo e diversidade das armas modernas, aliadas a alta intensidade dos combates, aumentam o potencial para o fratricídio. Manobras táticas, terreno, e condições de tempo também podem aumentar este perigo. A redução dos riscos de fratricídio deve ser buscada sem desencorajar a coragem e audácia. Liderança competente resulta em eficaz controle de armas, movimentos de tropa, e disciplina nos procedimentos operacionais, contribuindo para alcançar esta meta. Compreensão situacional por parte das forças aliadas e métodos de identificação de veículos também ajudam. A Eliminação do fratricídio aumenta nos soldados a vontade de agir corajosamente, confiante que fogos aliados não os atingirão.

Informação

Informação adequada multiplica os efeitos da boa liderança, manobra, poder de fogo e proteção. No passado, quando forças estabeleciam contato com o inimigo, a busca de informação era implementada. Hoje usa-se informação previamente acumulada por uma grande gama de sistemas, desde patrulhas de reconhecimento até sistemas não tripulados e de satélites, para traçar o quadro da situação muito antes dos momentos de contato iminente com o inimigo. Operações de informação ofensivas (IO) são usadas para entender o ambiente operacional e criar as condições de emprego para os outros elementos do poder de combate.

Um quadro operacional em constante atualização, baseado em capacidade de inteligência potencializada, vigilância e reconhecimento (ISR), todos com alta tecnologia se disseminou através dos sistemas de informação modernos, proporcionando uma perspectiva em tempo real muito precisa da situação que irão encontrar. Informação atualizada permite adquirir conhecimento situacional real, possibilitando que se combine elementos do poder de combate de modos novos e mais efetivos. Por exemplo, o adequado conhecimento da situação permite evitar áreas inimigas desfavoráveis, enquanto se concentra fogos e manobra em locais e momentos adequados. Esta capacidade aumenta a probabilidade de sobrevivência da força sem ter que aumentar o esforço de sistemas passivos de proteção na mesma proporção, como a capacidade das blindagens. Sistemas de informação modernos ajudam em todos os níveis a melhores e mais rápidas decisões. Decisões mais rápidas e efetivas, prontamente comunicadas permitem a força potencializar os efeitos do poder de combate mais efetivamente que o inimigo. Isto habilita a força a ver, entender e agir primeiro.

A Informação não é neutra; lados adversários usam-na para capitalizar vantagens exploráveis e aplicá-las contra objetivos selecionados direta ou indiretamente. Da mesma maneira que fogos são sincronizados e endereçados, assim é a informação. Alguns exemplos ilustram o uso da informação como um elemento de poder de combate: Durante a operação Tempestade no Deserto, unidades de operações psicológicas acompanharam forças em manobra, em muitos casos convencendo o inimigo a se render. Na mesma operação, operações diversionárias dos Marines (um elemento de IO ofensivo) resultou na divisão de forças, alocando uma parte da força inimiga para longe da operação decisiva.

O implemento de sistemas informatizados e integrados permite as forças em combate agilidade no trâmite e processamento de informação a um grau sem precedentes. Os sistemas de Guerra Centrada em Redes (NCW) tem efeitos multiplicadores do poder de combate. O objetivo destas melhorias é proporcionar informação em tempo real que permita entender a situação tática e agir dentro da intenção do comando, aumentando a capacidade da força e diminuindo os desafios operacionais. Enquanto os subordinados tem acesso à uma situação tática mais abrangente, o comando têm acesso a camadas de detalhe tático mais específicas.

sábado, 18 de março de 2023

Fator Militar *238


O Fator Militar é a consideração das inúmeras variáveis que influem no desempenho de uma força militar. O comandante deve avaliá-las de forma a tirar o máximo de proveito da situação, corrigir falhas e viabilizar um estratégia viável e bem sucedida. Ao conjunto destes elementos denominamos Fator Militar. São eles: logística, comando, estado-maior, tropa, equipamento, terreno, condições meteorológicas, imponderáveis da guerra, incerteza da situação, confusão no combate, aplicação dos fundamentos da arte da guerra, grau de operacionalidade, moral, pensamento militar e tecnologia. 

São variáveis sempre presentes que influenciam a missão, e que interagem sempre. O Fator Militar é composto de 2 ordens de forças: As materiais e as morais. As últimas assumem relevância nos exércitos menos abastados.

  • Logística é a capacidade de manutenção de uma força combatente. Cabe a ela suprir as forças em todos os ítens imagináveis e necessários ao combate. Alimentação, munição, combustíveis, suprimentos médicos, reposição de pessoal, equipamentos e materiais dos mais diversos; além do transporte, estocagem e distribuição destes ítens, nos locais e momentos adequados. A logística ainda engloba a manutenção de equipamento, seja de serviço ou corretiva, a instalação e manutenção de hospitais de campanha e serviços de transporte, a triagem de feridos e serviços funerários, a manutenção e construção de vias de acesso e áreas de estacionamento, a manutenção de instalações de cunho estratégico como portos, bases aéreas, centros de comunicações, usinas de provimento de energia e água, e outras que se mostrarem importantes às operações. Pode-se dizer que o fator logístico é o pilar central de toda e qualquer campanha, sendo sua importância diretamente proporcional a duração das operações. O próprio foco de qualquer operação continuada é a inviabilização do sistema logístico do inimigo, fator que decidiu quase todas as operações listadas pela história.
  • Comando é o agregador de todos os elementos do fator militar. Cabe ao comando a implementação de uma situação de sinergia de todos os elementos operativos. Um comandante deve desenvolver continuamente seu caráter, capacidade, experiência profissional e características de liderança. Conhecer as características do comandante inimigo é importantíssimo na medida que se deseja antecipar suas decisões. Uma força privada do seu elemento de comando continua detentora de seu potencial orgânico, porém está totalmente incapacitada de aplicá-lo, e se o fizer será de maneira limitada e desordenada.
  • Estado-Maior é o "Staff" do comandante. Cabe ao Estado-Maior ocupar-se dos detalhes da missão, permitindo que o comandante se concentre nas linhas de ação principais. Fator multiplicador do poder de combate, um Estado-Maior eficiente pode ser a diferença entre a vitória e o fracasso. Um Estado-Maior típico constitui-se de uma seção de pessoal (1ª seção), de informações (2ª seção), de operações (3ª seção) e de logística (4ª seção); podendo conter outras como de instrução, ações psicológicas, assuntos civis, comunicação social e o que mais se achar necessário. A missão do Estado-Maior é transformar a intenção do Comando em ordens operacionais. 
  • Tropa é o elemento operativo propriamente dito. Caracteriza-se pelo seu número, nível de adestramento, padrões sanitários e motivação. Uma tropa desmotivada ou mal assistida no quesito de saúde não desempenhará a contento. Uma tropa em número insuficiente poderá sucumbir facilmente a não ser que outros fatores como a tecnologia e o adestramento compensem esta deficiência.
  • equipamento é o conjunto de recursos materiais, nos aspectos quantitativo e qualitativo, postos a disposição da tropa. Material Bélico, Suprimentos e materiais de toda ordem fazem parte deste item. Um aspecto material que assume especial importância são os meios de comunicações disponíveis, vitais ao exercício do comando. Sem elas operando plenas, o comando terá dificuldades em bem reger a orquestra posta a sua disposição. Fica mudo e impotente. A experiência histórica tem demonstrado, em guerras recentes, que exércitos dispondo de bom equipamento, não foram capazes de tirar rendimento satisfatório dos mesmos, por deficiências culturais da tropa.
  • terreno influi diretamente no grau de dificuldade de uma operação, e repercute sensivelmente no Fator Militar. Seus elementos topo-táticos servem para a pesquisa e estudo crítico de uma operação militar. O sucesso da operação está diretamente relacionado a capacidade de superar os obstáculos existentes, a capacidade de utilizar o terreno para ludibriar a percepção inimiga da situação e impor dificuldades a sua manobra e reação.
  • As condições meteorológicas como chuva, neve, ventos, nevoeiro, fases da lua, partes do dia, temperaturas, crepúsculo, etc., influem diretamente nas operações e repercutem no Fator Militar, e devem ser consideradas com atenção.
  • Os imponderáveis da guerra são circunstâncias imprevisíveis num combate, influindo decisivamente em seus resultados. Um incêndio florestal, condições meteorológicas adversas, uma revolta não esperada de populares, o assédio de criminosos, animais selvagens, um terremoto, etc... podem influir, dependendo das circunstâncias nas operações.
  • incerteza da situação está baseada no fato de que, normalmente, o comandante não dispõe de informações suficientes para lastrear seu Estudo de Situação. As medidas de contra-informação do inimigo restringem a ação de seu setor de informações. Daí decorre o risco calculado. Prejudicar a observância de um princípio de guerra em beneficio de outro. Churchill já afirmava "não se pode conduzir uma guerra na base da certeza". O chefe, nestas ocasiões, procura apoiar-se nos princípios de guerra da Segurança e da Economia de Forças, para precaver-se contra a incerteza.
  • confusão no combate estará sempre presente. Situações não previstas (imponderáveis) podem acontecer pondo abaixo todo um planejamento. O comando e a tropa têm que estar preparados e com as cabeças frias, para exercitarem o espírito da iniciativa, em situações confusas de combate, contornando de forma eficiente os problemas que vierem a aparecer. Um bom método de fazer isto é reunir várias cabeças e pedir para que relacionem tudo aquilo que pode acontecer, elencar as situações mais prováveis ou nocivas e precaver-se contra elas. É na ausência de ordens, que a criatividade e a iniciativa dos comandantes mais capazes podem fazer a diferença.
  • Observância dos mandamentos e preceitos da guerra, que fundamentam as decisões de campo é de vital importância ao sucesso operacional que se está buscando. Iniciativa é sempre bem vinda e fará a diferença em qualquer situação, porém deve ser responsável e competente, sem deixar a disciplina de lado.
  • grau de operacionalidade é a capacidade de uma força em aplicar de forma plena seu poder militar. Uma força deverá dispor de comandante e estado-maior conhecedores de seu ofício e se possível experientes, tropa bem adestrada, equipamento moderno e bem manutenido, moral elevado, etc... para bem poder desempenhar suas atribuições. Deverá também saber operar em conjunto com outras forças que se façam presentes.
  • moral é a pré-disposição para lutar. Quanto mais elevado, maior será a qualidade do Fator Militar. É o combatente motivado para a luta. Influem no moral da tropa e por consequência no seu rendimento, fatores como alimentação, notícias do andamento das operações e da segurança de seus familiares, o sentimento da sua importância junto a seus comandantes, estresse a que está submetida, serviço de saúde de que dispõem, perspectiva do desenvolvimento das operações, sentimento em relação a própria segurança, exposição a cenários como de morte intensa, genocídios, amigos e colegas feridos em níveis degradantes, e outros.
  • Espírito crítico e criatividade fazem parte do pensamento militar. É o estado de espírito que deve dominar todos os integrantes de uma força. Pensar para rejeitar, modificar, aperfeiçoar, inovar e progredir. A capacidade de criticar sadiamente ideias previamente aceitas, visando a rejeitá-las, ou modificá-las. Todos os conceitos da doutrina militar resultaram do pensamento militar criador. Todas as inovações na doutrina militar foram em determinada ocasião uma ideia revolucionária de um comandante ou pensador militar. Este espírito sempre enfrentará a tradicional resistência à mudanças, constante no meio militar, e deve ser empregado com cautela e conhecimento. Deve-se tomar cuidado para não se ferir a hierarquia e a disciplina, pilares da doutrina militar.
  • tecnologia sempre fará a diferença. A qualidade do Fator Militar depende muito do grau tecnológico dos equipamentos disponíveis, que não deve ser superior a capacidade dos soldados de utilizá-la.

terça-feira, 14 de março de 2023

Sincronização Operacional *028

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Sincronização é o arranjo das ações das diversas unidades militares e sistemas operacionais envolvidos em uma operação, no tempo, no espaço e na finalidade, de forma que operem harmonicamente, pois quando uma unidade entrar em ação, todas as outras encarregadas de missões preparatórias para a ações desta já o tenham feito com êxito, de forma a maximizar o poder relativo de combate onde se espera, evitando esperas que muitas vezes podem ser de alto risco. Unidades militares devem operar em sinergia de forma que seu efeito combinado seja maior que a soma do efeito de cada unidade operando isoladamente

Um ataque precedido de uma preparação de artilharia, deve ser coordenado de tal forma que quando aconteça, os fogos de preparação já tenham cessado, caso contrário a tropa amiga poderá ser atingida por eles. Durante a execução destes fogos, as forças manobram pelos flancos e retaguarda a fim de posicionar-se e travar contato assim que o bombardeio cessar; uma força blindada deve chegar ao local de transposição de um curso d'água não antes que a engenharia tenha completado a montagem da ponte, evitando colocar-se em vulnerabilidade, salvo se esta força for designada para prover segurança deste local; um ataque principal deverá iniciar-se momentos após o grosso das forças inimigas dirigirem-se ao local do ataque diversivo; o pouso de aeronaves de assalto em um aeródromo hostil deve ser dar somente após seu domínio estar assegurado. Estes são alguns exemplos da importância da Sincronização Operacional.

A sincronização, que será planejada durante o Processo de Planejamento Militar (PPM), visa determinar em que horário cada ação militar componente deverá se iniciar e ser concluída, de forma que seu objetivo tenha sido alcançado antes que a ação subsequente que depende desta primeira, seja iniciada. As diversas ações componentes poderão ocorrer em locais distantes um do outro, em períodos distintos e executando tarefas das mais diversas, mas seus resultados criarão as condições para que a ação principal seja desencadeada de forma satisfatória e eficaz.

Ações preparatórias podem ocorrer bem antes do momento decisivo, desde que não sacrifiquem o fator surpresa. Ações decisivas devem ocorrer sempre após as ações preparatórias imprescindíveis estarem concluídas. A sincronização requer estreita sintonia entre os comandos dos diversos escalões, e estes devem dominar a inteligência da manobra como um todo, visualizando os efeitos desejados e as condições para obtê-los, demandando quando necessário as ações necessárias não previstas. Sendo vital a maximização do poder de combate, o processo de sincronização deve contar com eficiente exploração dos meios de comunicação, pedra fundamental à aplicação deste conceito. 

A estreita coordenação entre várias unidades e atores que participam de uma operação é vital a construção de um processo de sincronização eficaz, porem somente esta coordenação não garante que o processo funcione, sendo necessário que cada comandante visualize o que se espera dele e a importância da sequência das atividades planejadas, onde cada uma contribuirá para o esforço principal, e como poderá ser compensada caso sua execução seja prejudicada pelos imponderáveis da guerra. Os Estados-Maiores são os grandes responsáveis pelos processos de sincronização, sendo importantíssimo que tenham assimilado de forma completa as intenções de seus comandantes. Ensaios são a chave para o êxito das operações sincronizadas. Este processo requer a escolha entre atividades simultâneas e sequênciais. O comandante deve ainda deixar claro ao seu Estado-Maior e comandantes subordinados, quando os efeitos de uma atividade programada são precondição "sine qua non" para a ação subsequente, ou quando são apenas facilitadores. É necessário antecipar eventos e pensar em uma linha do tempo, dominando as relações de tempo e espaço e da interação possível e provável das forças em operação com as do inimigo.

O processo de sincronização demanda um perfeito conhecimento dos efeitos produzidos pelos diversos meios de combate, o conhecimento da relação entre as possibilidades do inimigo e das forças amigas, o domínio perfeito das relações entre o tempo e o espaço, e uma clara unidade de propósito. Por exemplo: não adianta de nada planejar que uma determinada unidade deverá estar na hora H no local L, se este local estiver a uma distância superior a que a unidade pode alcançar naquele tempo determinado; ou que um bombardeio aéreo deverá destruir preventivamente um “bunker” reforçado, se a unidade que o executará não dispuser da munição adequada a penetração deste alvo “endurecido”.

A seguir descrevemos um pequeno exemplo de uma matriz de sincronização.

"Às 0400 horas do dia D a unidade 21 deverá transpor a Rio das Caveiras, porém o rio é largo e profundo e sua ponte foi destruída. Desta forma a Cia de Engenharia de Combate deverá lançar uma ponte de pontões neste rio na rota determinada, cuja montagem deverá estar concluída, e seu uso liberado instantes antes das 0400 horas do dia D. Como o lançamento desta ponte levará 1 hora para ser feito, e a Cia de Engenharia se encontra a 100 km do local, esta deverá iniciar seu deslocamento às 0000 horas do dia D, no máximo, uma vez que o tempo estimado para este deslocamento na via que será utilizada é de 2,5 horas (caso haja a possibilidade de imprevistos durante este deslocamento, antes ainda, conforme avaliação). O Batalhão Logístico em apoio, deverá concluir o abastecimento de combustível das viaturas da Cia de Engenharia antes das 0000 horas do dia D, para que esta possa iniciar seu deslocamento no horário previsto. Como este abastecimento é estimado em cerca de 40 minutos, deverá se iniciado pelo menos 2 horas antes do horário previsto para o deslocamento ou seja, às 2200 horas do dia D-1, no máximo."

Este é um exemplo simplificado de uma matriz de sincronização, que será planejada em um quadro em forma de matriz (linhas e colunas), e a partir da qual serão expedidas as ordens operativas. Os dados de tempo aqui utilizados são totalmente fictícios e uma operação destas demanda um número muito maior de unidades de apoio, porém é o suficiente para ilustrar o conceito.

O objetivo da sincronização é que os meios militares ou não, estejam nos locais e horários que serão demandados, e as condições desejadas destes locais tenham sido alcançadas conforme o planejado, tempestivamente. A sincronização visa a fazer com os objetivos designados às diversas forças componentes sejam cumpridos de maneira satisfatória no momento e no local desejados.