quarta-feira, 22 de março de 2023

Elementos do Poder de Combate *239


Elementos do Poder de Combate

O poder de uma força militar é definido pela balanceamento de 5 fatores que o comandante deve lançar mão no campo de batalha. Sua utilização é vital e necessária a consecução bem sucedida das operações. São eles: A Manobra, O Poder de Fogo, A Liderança, A Proteção e a Informação.

A Manobra

É a combinação de fogo e movimento, sincronizados no tempo e no espaço, de forma a posicionar-se de forma vantajosa em relação ao inimigo, a fim de pô-lo fora de ação pela quebra de seu poder de combate e consequente fuga, destruição ou rendição, sempre em consonância com os objetivos da missão. É através da manobra que se alcança surpresa, choque, iniciativa e domínio do campo de batalha. A manobra é implementada nos 3 níveis diferentes da guerra e hierarquicamente dependentes, sendo estes níveis o estratégico, o operacional, e o tático ou combate aproximado.

A manobra estratégica é o nível mais alto e corresponde a todo o movimento de meios desde as bases permanentes até as áreas de concentração estratégica, pondo-se em condições de desencadear a manobra operacional. A manobra operacional é o nível intermediário e mais alto da manobra de campo, e visa posicionar-se vantajosamente em relação ao inimigo antes de se atingir a fase de engajamento. Manobra-se operacionalmente antes de qualquer batalha ou campanha a fim de alcançar a vantagem inicial, com o adequado posicionamento de tropas combatentes e meios de apoio. Ela cria as condições preconizadas no planejamento da missão de forma a tornar possíveis e vitoriosas as subsequentes ações táticas. Manobra tática é o nível onde se faz contato com as posições inimigas a fim de iniciar e dar sequência ao engajamento em busca dos objetivos traçados. Através da manobra tática procura-se sempre manter a iniciativa criando um volume de problemas progressivo ao inimigo, fazendo-o reagir a situações inesperadas e frustrando continuamente o seu planejamento. Enquanto o inimigo tiver problemas a resolver, dificilmente terá oportunidade de criar situações em seu favor. Em operações de estabilidade a manobra visa inviabilizar opções táticas efetivas por parte do inimigo, concentrando poder de combate onde possam as forças aliadas dissuadir ou reduzir os efeitos de suas ações. O combate aproximado é o nível mais íntimo da manobra tática, onde se dá o engajamento propriamente dito. O combate aproximado é levado a cabo com o efetivo emprego de fogo direto, indireto, ar-terra e outros meios de combate. É no combate aproximado que se derrota ou destrói as forças inimigas, conquistando ou mantendo o terreno. Pode-se dar a milhares de metros com armas de alcance condizentes ou em contato "corpo-a-corpo".

Todas as ações táticas requerem inevitavelmente a posse de determinado terreno ou área geográfica, como pré-condição para se alcançar o objetivo ou como sendo o próprio objetivo da missão. O combate aproximado se faz necessário quando o inimigo estiver ali presente e ficar claro que não tem intenções de cedê-lo. No final das contas, o resultado de todas as batalhas, operações e campanhas dependem da habilidade das forças em combate de engajar o inimigo, destruindo-o ou frustrando sua capacidade combativa.

Uma manobra bem conduzida nos níveis mais altos pode colocar o inimigo numa condição em que este preveja sua derrota e seja persuadido a render-se, pois só os tolos lutam batalhas perdidas. Neste caso o combate aproximado se faz desnecessário, poupando-se recursos e vidas. Em operações de estabilidade, a provável superioridade nas ações de combate aproximado das forças estabilizadoras pode influenciar as ações do adversário. Em todos os casos, a habilidade das forças aliadas em se ocupar das ações de combate aproximado é o fator decisivo na derrota inimiga ou controle de uma situação.

A Potência de Fogo

É a força letal aplicada ao inimigo a fim de inviabilizar sua condição e disposição de luta, e parte fundamental da manobra. É empregada na destruição de suas forças e meios, restringindo ou anulando sua capacidade de reação e possibilidades de êxito. Na manobra, através da sincronização de movimentos pertinentes e coordenados, criam-se as condições para o uso efetivo da potência de fogo. Embora a manobra ou o fogo possam dominar uma fase da ação em particular, eles são onipresentes em todas as operações, sendo que seu emprego simultâneo e sincronizado aumenta o impacto de ambos, e a ausência de qualquer um deles torna o outro inócuo na maior parte das vezes.

Combinados, produzem efeitos devastadores e eficazes. Potência de fogo é a quantidade de fogos que uma posição, unidade ou sistema de armas podem alocar em determinado espaço físico durante determinado tempo. Os fogos incluem ainda as missões de apoio implementadas pela artilharia e aviação de forma separada ou em combinação com a manobra. A eficácia da potência de fogo é função direta da precisão dos sistemas de armas modernos, sejam diretos ou não, da capacidade dos sistemas de aquisição de alvos, do alcance e cadência de tiro das armas, bem como de suas capacidades de colocar-se em posição e serem continuamente supridas.

Fogos operacionais são a aplicação pelos comandantes de alto escalão de meios letais ou não, para realizar seus objetivos durante a conduta de uma campanha ou operação principal, sendo componente vital de qualquer plano operacional. São empregados contra objetivos cuja neutralização podem afetar significativamente uma campanha ou operação principal. O planejamento destes fogos inclui a alocação conjunta de meios aéreos, terrestres e navais. Podem ou não ser projetados para alcançar um único objetivo, como por exemplo a interdição de forças inimigas principais para criar as condições favoráveis a manobra das forças aliadas.

Tanto a manobra quanto os fogos operacionais podem acontecer simultaneamente, podendo ou não buscar objetivos muito diferentes. Em termos gerais não se comportam como fogos de apoio e a manobra operacional não necessariamente depende deles, porém quando empregados em sincronia, as oportunidades daí surgidas competentemente exploradas, produzem resultados muito efetivos. Fogos e manobra operacional combinados de forma sinérgica geram batalhas assimétricas, altamente produtivas e unilaterais.

Fogos táticos são àqueles aplicados para neutralizar as forças inimigas, suprimir seus fogos e desarticular seus movimentos. Eles criam as condições necessárias ao combate aproximado, e devem ser sincronizados com os efeitos de outros sistemas. Concentrar fogos de forma a obter máxima letalidade requer uma compreensão completa da intenção do comando e habilidade de empregar todos os meios disponíveis simultaneamente contra uma variedade de objetivos. A aplicação efetiva de fogos táticos deve obedecer a uma escala de prioridades; localizando e identificando alvos; alocando potência de fogo onde for necessária e avaliando seus efeitos. Uma demanda efetiva de fogos requer unidades competentemente conduzidas com um alto grau de compreensão situacional.

A Liderança

É a capacidade de inspirar as forças combatentes a acreditarem no sucesso, sendo o elemento mais dinâmico do poder de combate. Uma liderança confiante, audaciosa e competente é capaz combinar de forma harmoniosa os outros elementos deste poder e servir como catalisador na criação das condições para o sucesso. Forças motivadas são de fundamental importância ao sucesso, e para tal devem conhecer propósito, direção, e relevância de todas as ações. Líderes fazem frequentemente a diferença entre sucesso e fracasso, particularmente em pequenos escalões.

A competência de um líder requer proficiência no relacionamento com seus comandados e superiores, capacidade de entendimento situacional, além de conhecimento técnico e tático. Treinamento ininterrupto permite concatenar estas habilidades às capacidades e deficiências das tropas. Competência profissional aliada a personalidade firme dos comandantes em todos os níveis, representam uma parte significativa do poder de combate de toda uma unidade. Líderes devem demonstrar caráter forte e padrões éticos altos, conhecer e entender as necessidades de seus subordinados, agir com coragem e convicção, saber quando e onde intervir e tomar decisões de forma a influenciar positivamente a situação.

Trabalho de equipe, espírito de corpo e confiança são atributos fundamentais na atividade de combate. Os soldados têm que confiar em seus líderes, e estes têm que conquistar a sua confiança. Confiança perdida pode inviabilizar ações subsequentes e comprometer a missão. Em situações difíceis o líder competente faz a diferença e viabiliza as ações de seus comandados.

A Proteção

É a preservação da integridade e potencial de combate de uma força, de forma que esteja disponível quando for necessária. A adoção de medidas de proteção não é sinal de covardia, timidez ou incapacidade de correr riscos, mas sim sinal de prudência e bom senso. Forças armadas invariavelmente operam em ambientes hostis, onde vida e morte andam juntas e vítimas se fazem a todo momento. As operações criam uma sobreposição entre as necessidade de realizar a missão e evitar vítimas, comumente difíceis de conciliar. Realizar a missão tem precedência a evitar as vítimas, pela própria natureza do combate, porém os combatentes são o recurso mais importante das forças em combate, e baixas excessivas podem comprometer missões futuras, além é claro de ser moral e politicamente indesejáveis. Comandantes são responsáveis por realizar as missões com o menor número de baixas possível.

A proteção tem 4 componentes: proteção da força, disciplina de campo, segurança, e prevenção ao fratricídio. A proteção da força, o componente primário, minimiza os efeitos da potência de fogo inimiga, sua manobra e coleta de informações. Disciplina de campo impede baixas por ações do ambiente. Segurança reduz o risco inerente de mortes fora de batalhas e danos. Prevenção ao fratricídio minimiza a ocorrência de baixas por fogo amigo.

Proteção da Força

Proteção da força é o conjunto de todas as medidas implementadas a fim de impedir ou minimizar baixas, pessoais ou materiais, causadas pelo inimigo. A proteção é implementada seja o combate ou em nos recursos e instalações, além da vital proteção a informação crítica. Ações de proteção conservam a integridade da força em combate, preservando seu potencial para que possa ser aplicado quando e onde necessário. Não é objetivo das medidas de proteção da força derrotar o inimigo ou protege-se contra acidentes, intempéries ou doenças.

As medidas de proteção pode lançar mão de todos os meios disponíveis tais como componentes aéreos, espaciais, defesa anti-míssil, defesa NBC, ações anti-terrorismo; operações de contra-informação e segurança para forças operacionais e seus meios. Forças inimigas de menor poderio e que são incapazes de desafiar seus adversários em combate convencional, freqüentemente buscam ações assimétricas, com armas ou táticas não convencionais. Esta ameaça não pode ser negligenciada.

A proteção da força em todos os níveis minimiza as baixas por ações hostis. Ações de contra-inteligência hábeis e agressivas e avaliações de ameaça diminuem a vulnerabilidade das forças aliadas. Disciplinas de dispersão reduzem perdas por fogos inimigos e ações terroristas. Disciplinas de camuflagem, segurança local, e fortificações de campo fazem o mesmo. Proteção de ligações eletrônicas, incluindo tropas com dispositivos eletrônicos, são vitais à segurança das informações e sistemas de informação. No nível operacional, áreas de retaguarda e segurança de bases contribui para aumentar a proteção. Forças de artilharia de defesa antiaérea protegem instalações e populações civis do assédio de mísseis táticos com ogivas de combate convencionais e WMD. Aviação de caça e sistemas de controle de espaço aéreo e unidades de defesa anti-míssil complementam o controle do componente pelo controle do espaço aéreo. Artilharia de costa e forças navais guardam os flancos para o mar e acesso aos portos. Medidas preventivas contra ações de natureza NBC proveem a capacidade para sustentar operações nestes ambientes.

Disciplina de Campo

Disciplina de campo, um segundo componente da proteção, impõem regras aos soldados, preservando-os dos efeitos físicos e psicológicos do ambiente. Ambientes opressivos podem solapar muito mais depressa o moral dos soldados que a ação inimiga. Embora estes possam adaptar-se ao ponto das populações nativas, esta adaptação só é conseguida a custa de muito treinamento em habilidades de campo e aspectos particulares da região.

Todas as medidas de precaução para manter os soldados saudáveis e de moral alto devem ser implementadas. Sistemas adequados instalados em locais pertinentes preservam a saúde dos combatentes, previnem doenças endêmicas e sazonais, e proporcionam atendimento rápido dos feridos. Sistemas efetivos para manutenção, evacuação, e substituição rápida ou conserto de equipamento preservam o valor do material empregado. A saúde básica e o bem estar da tropa devem estar em primeiro lugar, evitando-se exposições desnecessárias a condições debilitantes, tais como frio e calor extremo, desidratação e insetos, por exemplo.

Segurança

Segurança é o terceiro componente da proteção. Condições operacionais impõem frequentemente riscos significativos aos soldados. Tripulações tem que ser treinadas e operadores têm que saber as capacidades e limitações de seus sistemas de armas. Em condições que extrapolam os limites humanos, meios extras de proteção devem ser providenciados. Em combate, a fadiga reduz reações e a agilidade mental, resultando em acidentes fatais, perda de poder de combate, e de oportunidades táticas. Atenção e disciplina de segurança em níveis altos vem a minorar estes riscos. Operações seguras decorrem de padrões rígidos de treinamento. Enquanto expor-se a riscos calculados é inerente às operações, lançar mão de todos os meios para minorar a probabilidade destes é obrigação do comando

Prevenção ao Fratricídio

O quarto componente da proteção é a prevenção ao fratricídio. Fratricídio é a matança ou ferimento não intencional de pessoal através de fogo amigo. O poder destrutivo e diversidade das armas modernas, aliadas a alta intensidade dos combates, aumentam o potencial para o fratricídio. Manobras táticas, terreno, e condições de tempo também podem aumentar este perigo. A redução dos riscos de fratricídio deve ser buscada sem desencorajar a coragem e audácia. Liderança competente resulta em eficaz controle de armas, movimentos de tropa, e disciplina nos procedimentos operacionais, contribuindo para alcançar esta meta. Compreensão situacional por parte das forças aliadas e métodos de identificação de veículos também ajudam. A Eliminação do fratricídio aumenta nos soldados a vontade de agir corajosamente, confiante que fogos aliados não os atingirão.

Informação

Informação adequada multiplica os efeitos da boa liderança, manobra, poder de fogo e proteção. No passado, quando forças estabeleciam contato com o inimigo, a busca de informação era implementada. Hoje usa-se informação previamente acumulada por uma grande gama de sistemas, desde patrulhas de reconhecimento até sistemas não tripulados e de satélites, para traçar o quadro da situação muito antes dos momentos de contato iminente com o inimigo. Operações de informação ofensivas (IO) são usadas para entender o ambiente operacional e criar as condições de emprego para os outros elementos do poder de combate.

Um quadro operacional em constante atualização, baseado em capacidade de inteligência potencializada, vigilância e reconhecimento (ISR), todos com alta tecnologia se disseminou através dos sistemas de informação modernos, proporcionando uma perspectiva em tempo real muito precisa da situação que irão encontrar. Informação atualizada permite adquirir conhecimento situacional real, possibilitando que se combine elementos do poder de combate de modos novos e mais efetivos. Por exemplo, o adequado conhecimento da situação permite evitar áreas inimigas desfavoráveis, enquanto se concentra fogos e manobra em locais e momentos adequados. Esta capacidade aumenta a probabilidade de sobrevivência da força sem ter que aumentar o esforço de sistemas passivos de proteção na mesma proporção, como a capacidade das blindagens. Sistemas de informação modernos ajudam em todos os níveis a melhores e mais rápidas decisões. Decisões mais rápidas e efetivas, prontamente comunicadas permitem a força potencializar os efeitos do poder de combate mais efetivamente que o inimigo. Isto habilita a força a ver, entender e agir primeiro.

A Informação não é neutra; lados adversários usam-na para capitalizar vantagens exploráveis e aplicá-las contra objetivos selecionados direta ou indiretamente. Da mesma maneira que fogos são sincronizados e endereçados, assim é a informação. Alguns exemplos ilustram o uso da informação como um elemento de poder de combate: Durante a operação Tempestade no Deserto, unidades de operações psicológicas acompanharam forças em manobra, em muitos casos convencendo o inimigo a se render. Na mesma operação, operações diversionárias dos Marines (um elemento de IO ofensivo) resultou na divisão de forças, alocando uma parte da força inimiga para longe da operação decisiva.

O implemento de sistemas informatizados e integrados permite as forças em combate agilidade no trâmite e processamento de informação a um grau sem precedentes. Os sistemas de Guerra Centrada em Redes (NCW) tem efeitos multiplicadores do poder de combate. O objetivo destas melhorias é proporcionar informação em tempo real que permita entender a situação tática e agir dentro da intenção do comando, aumentando a capacidade da força e diminuindo os desafios operacionais. Enquanto os subordinados tem acesso à uma situação tática mais abrangente, o comando têm acesso a camadas de detalhe tático mais específicas.

sábado, 18 de março de 2023

Fator Militar *238


O Fator Militar é a consideração das inúmeras variáveis que influem no desempenho de uma força militar. O comandante deve avaliá-las de forma a tirar o máximo de proveito da situação, corrigir falhas e viabilizar um estratégia viável e bem sucedida. Ao conjunto destes elementos denominamos Fator Militar. São eles: logística, comando, estado-maior, tropa, equipamento, terreno, condições meteorológicas, imponderáveis da guerra, incerteza da situação, confusão no combate, aplicação dos fundamentos da arte da guerra, grau de operacionalidade, moral, pensamento militar e tecnologia. 

São variáveis sempre presentes que influenciam a missão, e que interagem sempre. O Fator Militar é composto de 2 ordens de forças: As materiais e as morais. As últimas assumem relevância nos exércitos menos abastados.

  • Logística é a capacidade de manutenção de uma força combatente. Cabe a ela suprir as forças em todos os ítens imagináveis e necessários ao combate. Alimentação, munição, combustíveis, suprimentos médicos, reposição de pessoal, equipamentos e materiais dos mais diversos; além do transporte, estocagem e distribuição destes ítens, nos locais e momentos adequados. A logística ainda engloba a manutenção de equipamento, seja de serviço ou corretiva, a instalação e manutenção de hospitais de campanha e serviços de transporte, a triagem de feridos e serviços funerários, a manutenção e construção de vias de acesso e áreas de estacionamento, a manutenção de instalações de cunho estratégico como portos, bases aéreas, centros de comunicações, usinas de provimento de energia e água, e outras que se mostrarem importantes às operações. Pode-se dizer que o fator logístico é o pilar central de toda e qualquer campanha, sendo sua importância diretamente proporcional a duração das operações. O próprio foco de qualquer operação continuada é a inviabilização do sistema logístico do inimigo, fator que decidiu quase todas as operações listadas pela história.
  • Comando é o agregador de todos os elementos do fator militar. Cabe ao comando a implementação de uma situação de sinergia de todos os elementos operativos. Um comandante deve desenvolver continuamente seu caráter, capacidade, experiência profissional e características de liderança. Conhecer as características do comandante inimigo é importantíssimo na medida que se deseja antecipar suas decisões. Uma força privada do seu elemento de comando continua detentora de seu potencial orgânico, porém está totalmente incapacitada de aplicá-lo, e se o fizer será de maneira limitada e desordenada.
  • Estado-Maior é o "Staff" do comandante. Cabe ao Estado-Maior ocupar-se dos detalhes da missão, permitindo que o comandante se concentre nas linhas de ação principais. Fator multiplicador do poder de combate, um Estado-Maior eficiente pode ser a diferença entre a vitória e o fracasso. Um Estado-Maior típico constitui-se de uma seção de pessoal (1ª seção), de informações (2ª seção), de operações (3ª seção) e de logística (4ª seção); podendo conter outras como de instrução, ações psicológicas, assuntos civis, comunicação social e o que mais se achar necessário. A missão do Estado-Maior é transformar a intenção do Comando em ordens operacionais. 
  • Tropa é o elemento operativo propriamente dito. Caracteriza-se pelo seu número, nível de adestramento, padrões sanitários e motivação. Uma tropa desmotivada ou mal assistida no quesito de saúde não desempenhará a contento. Uma tropa em número insuficiente poderá sucumbir facilmente a não ser que outros fatores como a tecnologia e o adestramento compensem esta deficiência.
  • equipamento é o conjunto de recursos materiais, nos aspectos quantitativo e qualitativo, postos a disposição da tropa. Material Bélico, Suprimentos e materiais de toda ordem fazem parte deste item. Um aspecto material que assume especial importância são os meios de comunicações disponíveis, vitais ao exercício do comando. Sem elas operando plenas, o comando terá dificuldades em bem reger a orquestra posta a sua disposição. Fica mudo e impotente. A experiência histórica tem demonstrado, em guerras recentes, que exércitos dispondo de bom equipamento, não foram capazes de tirar rendimento satisfatório dos mesmos, por deficiências culturais da tropa.
  • terreno influi diretamente no grau de dificuldade de uma operação, e repercute sensivelmente no Fator Militar. Seus elementos topo-táticos servem para a pesquisa e estudo crítico de uma operação militar. O sucesso da operação está diretamente relacionado a capacidade de superar os obstáculos existentes, a capacidade de utilizar o terreno para ludibriar a percepção inimiga da situação e impor dificuldades a sua manobra e reação.
  • As condições meteorológicas como chuva, neve, ventos, nevoeiro, fases da lua, partes do dia, temperaturas, crepúsculo, etc., influem diretamente nas operações e repercutem no Fator Militar, e devem ser consideradas com atenção.
  • Os imponderáveis da guerra são circunstâncias imprevisíveis num combate, influindo decisivamente em seus resultados. Um incêndio florestal, condições meteorológicas adversas, uma revolta não esperada de populares, o assédio de criminosos, animais selvagens, um terremoto, etc... podem influir, dependendo das circunstâncias nas operações.
  • incerteza da situação está baseada no fato de que, normalmente, o comandante não dispõe de informações suficientes para lastrear seu Estudo de Situação. As medidas de contra-informação do inimigo restringem a ação de seu setor de informações. Daí decorre o risco calculado. Prejudicar a observância de um princípio de guerra em beneficio de outro. Churchill já afirmava "não se pode conduzir uma guerra na base da certeza". O chefe, nestas ocasiões, procura apoiar-se nos princípios de guerra da Segurança e da Economia de Forças, para precaver-se contra a incerteza.
  • confusão no combate estará sempre presente. Situações não previstas (imponderáveis) podem acontecer pondo abaixo todo um planejamento. O comando e a tropa têm que estar preparados e com as cabeças frias, para exercitarem o espírito da iniciativa, em situações confusas de combate, contornando de forma eficiente os problemas que vierem a aparecer. Um bom método de fazer isto é reunir várias cabeças e pedir para que relacionem tudo aquilo que pode acontecer, elencar as situações mais prováveis ou nocivas e precaver-se contra elas. É na ausência de ordens, que a criatividade e a iniciativa dos comandantes mais capazes podem fazer a diferença.
  • Observância dos mandamentos e preceitos da guerra, que fundamentam as decisões de campo é de vital importância ao sucesso operacional que se está buscando. Iniciativa é sempre bem vinda e fará a diferença em qualquer situação, porém deve ser responsável e competente, sem deixar a disciplina de lado.
  • grau de operacionalidade é a capacidade de uma força em aplicar de forma plena seu poder militar. Uma força deverá dispor de comandante e estado-maior conhecedores de seu ofício e se possível experientes, tropa bem adestrada, equipamento moderno e bem manutenido, moral elevado, etc... para bem poder desempenhar suas atribuições. Deverá também saber operar em conjunto com outras forças que se façam presentes.
  • moral é a pré-disposição para lutar. Quanto mais elevado, maior será a qualidade do Fator Militar. É o combatente motivado para a luta. Influem no moral da tropa e por consequência no seu rendimento, fatores como alimentação, notícias do andamento das operações e da segurança de seus familiares, o sentimento da sua importância junto a seus comandantes, estresse a que está submetida, serviço de saúde de que dispõem, perspectiva do desenvolvimento das operações, sentimento em relação a própria segurança, exposição a cenários como de morte intensa, genocídios, amigos e colegas feridos em níveis degradantes, e outros.
  • Espírito crítico e criatividade fazem parte do pensamento militar. É o estado de espírito que deve dominar todos os integrantes de uma força. Pensar para rejeitar, modificar, aperfeiçoar, inovar e progredir. A capacidade de criticar sadiamente ideias previamente aceitas, visando a rejeitá-las, ou modificá-las. Todos os conceitos da doutrina militar resultaram do pensamento militar criador. Todas as inovações na doutrina militar foram em determinada ocasião uma ideia revolucionária de um comandante ou pensador militar. Este espírito sempre enfrentará a tradicional resistência à mudanças, constante no meio militar, e deve ser empregado com cautela e conhecimento. Deve-se tomar cuidado para não se ferir a hierarquia e a disciplina, pilares da doutrina militar.
  • tecnologia sempre fará a diferença. A qualidade do Fator Militar depende muito do grau tecnológico dos equipamentos disponíveis, que não deve ser superior a capacidade dos soldados de utilizá-la.

terça-feira, 14 de março de 2023

Sincronização Operacional *028

.

Sincronização é o arranjo das ações das diversas unidades militares e sistemas operacionais envolvidos em uma operação, no tempo, no espaço e na finalidade, de forma que operem harmonicamente, pois quando uma unidade entrar em ação, todas as outras encarregadas de missões preparatórias para a ações desta já o tenham feito com êxito, de forma a maximizar o poder relativo de combate onde se espera, evitando esperas que muitas vezes podem ser de alto risco. Unidades militares devem operar em sinergia de forma que seu efeito combinado seja maior que a soma do efeito de cada unidade operando isoladamente

Um ataque precedido de uma preparação de artilharia, deve ser coordenado de tal forma que quando aconteça, os fogos de preparação já tenham cessado, caso contrário a tropa amiga poderá ser atingida por eles. Durante a execução destes fogos, as forças manobram pelos flancos e retaguarda a fim de posicionar-se e travar contato assim que o bombardeio cessar; uma força blindada deve chegar ao local de transposição de um curso d'água não antes que a engenharia tenha completado a montagem da ponte, evitando colocar-se em vulnerabilidade, salvo se esta força for designada para prover segurança deste local; um ataque principal deverá iniciar-se momentos após o grosso das forças inimigas dirigirem-se ao local do ataque diversivo; o pouso de aeronaves de assalto em um aeródromo hostil deve ser dar somente após seu domínio estar assegurado. Estes são alguns exemplos da importância da Sincronização Operacional.

A sincronização, que será planejada durante o Processo de Planejamento Militar (PPM), visa determinar em que horário cada ação militar componente deverá se iniciar e ser concluída, de forma que seu objetivo tenha sido alcançado antes que a ação subsequente que depende desta primeira, seja iniciada. As diversas ações componentes poderão ocorrer em locais distantes um do outro, em períodos distintos e executando tarefas das mais diversas, mas seus resultados criarão as condições para que a ação principal seja desencadeada de forma satisfatória e eficaz.

Ações preparatórias podem ocorrer bem antes do momento decisivo, desde que não sacrifiquem o fator surpresa. Ações decisivas devem ocorrer sempre após as ações preparatórias imprescindíveis estarem concluídas. A sincronização requer estreita sintonia entre os comandos dos diversos escalões, e estes devem dominar a inteligência da manobra como um todo, visualizando os efeitos desejados e as condições para obtê-los, demandando quando necessário as ações necessárias não previstas. Sendo vital a maximização do poder de combate, o processo de sincronização deve contar com eficiente exploração dos meios de comunicação, pedra fundamental à aplicação deste conceito. 

A estreita coordenação entre várias unidades e atores que participam de uma operação é vital a construção de um processo de sincronização eficaz, porem somente esta coordenação não garante que o processo funcione, sendo necessário que cada comandante visualize o que se espera dele e a importância da sequência das atividades planejadas, onde cada uma contribuirá para o esforço principal, e como poderá ser compensada caso sua execução seja prejudicada pelos imponderáveis da guerra. Os Estados-Maiores são os grandes responsáveis pelos processos de sincronização, sendo importantíssimo que tenham assimilado de forma completa as intenções de seus comandantes. Ensaios são a chave para o êxito das operações sincronizadas. Este processo requer a escolha entre atividades simultâneas e sequênciais. O comandante deve ainda deixar claro ao seu Estado-Maior e comandantes subordinados, quando os efeitos de uma atividade programada são precondição "sine qua non" para a ação subsequente, ou quando são apenas facilitadores. É necessário antecipar eventos e pensar em uma linha do tempo, dominando as relações de tempo e espaço e da interação possível e provável das forças em operação com as do inimigo.

O processo de sincronização demanda um perfeito conhecimento dos efeitos produzidos pelos diversos meios de combate, o conhecimento da relação entre as possibilidades do inimigo e das forças amigas, o domínio perfeito das relações entre o tempo e o espaço, e uma clara unidade de propósito. Por exemplo: não adianta de nada planejar que uma determinada unidade deverá estar na hora H no local L, se este local estiver a uma distância superior a que a unidade pode alcançar naquele tempo determinado; ou que um bombardeio aéreo deverá destruir preventivamente um “bunker” reforçado, se a unidade que o executará não dispuser da munição adequada a penetração deste alvo “endurecido”.

A seguir descrevemos um pequeno exemplo de uma matriz de sincronização.

"Às 0400 horas do dia D a unidade 21 deverá transpor a Rio das Caveiras, porém o rio é largo e profundo e sua ponte foi destruída. Desta forma a Cia de Engenharia de Combate deverá lançar uma ponte de pontões neste rio na rota determinada, cuja montagem deverá estar concluída, e seu uso liberado instantes antes das 0400 horas do dia D. Como o lançamento desta ponte levará 1 hora para ser feito, e a Cia de Engenharia se encontra a 100 km do local, esta deverá iniciar seu deslocamento às 0000 horas do dia D, no máximo, uma vez que o tempo estimado para este deslocamento na via que será utilizada é de 2,5 horas (caso haja a possibilidade de imprevistos durante este deslocamento, antes ainda, conforme avaliação). O Batalhão Logístico em apoio, deverá concluir o abastecimento de combustível das viaturas da Cia de Engenharia antes das 0000 horas do dia D, para que esta possa iniciar seu deslocamento no horário previsto. Como este abastecimento é estimado em cerca de 40 minutos, deverá se iniciado pelo menos 2 horas antes do horário previsto para o deslocamento ou seja, às 2200 horas do dia D-1, no máximo."

Este é um exemplo simplificado de uma matriz de sincronização, que será planejada em um quadro em forma de matriz (linhas e colunas), e a partir da qual serão expedidas as ordens operativas. Os dados de tempo aqui utilizados são totalmente fictícios e uma operação destas demanda um número muito maior de unidades de apoio, porém é o suficiente para ilustrar o conceito.

O objetivo da sincronização é que os meios militares ou não, estejam nos locais e horários que serão demandados, e as condições desejadas destes locais tenham sido alcançadas conforme o planejado, tempestivamente. A sincronização visa a fazer com os objetivos designados às diversas forças componentes sejam cumpridos de maneira satisfatória no momento e no local desejados.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

A Batalha de “Goose Green” - Conflito das Falklands/Malvinas - 1982 * 237

 

(27/29 Maio 82): A aplicação do princípio da Massa como fator de desequilíbrio

1° Ten Inf  FEDERICO JOSÉ PARODI  -  República Argentina

A Guerra das Falklands/Malvinas aconteceu entre o dia 02 de abril e o 14 de junho de 1982, entre as forças da República Argentina contra as forças britânicas de Sua Majestade, pela posse do território das ilhas Falklands/Malvinas no Atlântico Sul. Embora o território contestado incluísse, e ainda inclui todas as ilhas do Atlântico Sul (Falklands/Malvinas, Georgias do Sul, Sandwich do Sul e Orcadas do Sul) o centro de gravidade da guerra esteve nas Ilhas Falklands/Malvinas, e mais especificamente na ilha Soledad (ou “East Falkland”). A batalha de Goose Green é considerada a primeira batalha terrestre da guerra das Falklands/Malvinas. Embora a batalha tenha acontecido cronologicamente depois da metade do conflito (a quase 2 meses do início da guerra que se prolongou por 74 dias), a duração da mesma, a magnitude dos meios terrestres, aéreos e navais enfrentados e a intensidade dos fogos empregados, fazem dela a primeira batalha propriamente dita. Assim, os desembarques argentinos na Ilha Soledad (02 Abr) e na Ilha Georgia do Sul (03 Abr), juntamente com o desembarque britânico em San Carlos (21 Maio) podem ser considerados comparativamente combates menores.

Nesta batalha, acontecida entre os dias 27 e 29 de maio de 1982, que é fonte de questionamentos se era realmente uma batalha necessária ou poderia ter sido evitada, uma força argentina que se encontrava ocupando há um mês a pequena localidade de Goose Green, no istmo do mesmo nome, foi atacada por uma força britânica que tinha desembarcado uma semana antes na baia de San Carlos, 20 km ao NW.

As forças enfrentadas foram um Batalhão de Infantaria Leve (reforçado) na parte argentina defendendo um istmo chamado de “Darwin-Goose Green” contra um Batalhão de Infantaria Paraquedista (reforçado) britânico que atacava. Ante esta aparente paridade de forças surgem numerosas perguntas:

Como é que as tropas britânicas obtiveram a vitória, sendo que a doutrina militar terrestre assinala que a relação de poder de combate mínima para conquistar uma posição é de 3 para 1?

  • Foi realmente um batalhão reforçado contra outro?
  • Qual foi a chave de vitória britânica?
  • Existiam pré-condições que favoreciam aos britânicos?
  • As forças argentinas que defendiam o istmo tinham alguma possibilidade de obter a vitória nessas condições?

Um aspecto muito interessante da batalha mas não muito estudado foi o chamado Combate na colina Darwin. Por muitos é considerado o ponto de inflexão ou o combate mais difícil. De fato, após os primeiros ataques britânicos que progrediram com esforço mas sem perder a impulsão inicial, houve um momento no desenvolvimento da batalha de impasse, um determinado período de tempo em que o ataque britânico foi detido e nenhuma das forças enfrentadas conseguia obter vantagem alguma que lhe permita impor sua vontade ao inimigo.

Existe suficiente consenso em que esse momento de equilíbrio aconteceu quando as forças britânicas atingiram os núcleos defensivos argentinos localizados na linha que une a colina “Darwin” com as ruínas chamadas de “Boca House. Isto se deu aproximadamente 4 horas após o início do ataque. Se prolongou por quase 6 horas, desde pouco antes do crepúsculo matutino até aproximadamente o meio-dia do 28 de maio.

  • Como conseguiram os britânicos romper essa situação de equilíbrio e continuar com o ataque?
  • O que mudou na situação?
  • O que tinha detido a progressão do ataque?
  • Entre todos os fatores que incidiram no resultado final da batalha de Goose Green, qual foi o que produziu o desequilíbrio a favor das tropas britânicas?”

A batalha aconteceu entre a manhã do 27 de maio em que as patrulhas de reconhecimento britânicas entraram em contato com as posições avançadas de combate argentinas e a manhã do 29 de maio de 1982 em que o comandante das forças argentinas no campo de batalha aceitou a rendição das tropas frente ao comandante britânico.

A totalidade dos combates se desenvolveram num istmo chamado “Darwin”, em razão do nome duma das 2 localidades presentes no mesmo. Este istmo encontrase no centro da ilha “Soledad” e constitui a única comunicação entre a parte norte da ilha e a parte sul, chamada “Lafônia”. O istmo forma uma faixa estreita com orientação SW-NE tendo um comprimento de 7 km, uma largura máxima de 2,3 km e uma largura mínima de 1,3 km. Sendo assim, a batalha aconteceu numa área aproximada de 16 km2 ou 1.600 hectares. O terreno no istmo é praticamente plano, com pequenas ondulações que não superam nunca os 45 metros sobre o nível do mar. Como se analisará mais à frente, o principal acidente capital do istmo era a colina Darwin, que materializou o ponto decisivo. O solo é mole, elástico e quase permanentemente úmido. Está atravessado por alguns córregos de pouca profundidade, geralmente transversais ao istmo. A vegetação é escassa: o solo está coberto de grama, existem algumas linhas de arbustos e alguma árvore isolada na localidade de Darwin.

As condições meteorológicas durante a batalha não fugiram das normais para essa época do ano: muito frio, úmido e com escassas horas de luz (8 hs) devido ao inverno imperante, com a saída do sol as 0900 e o pôr do sol as 1700. A temperatura média era de 2°C oscilando entre os 10°C ao meio-dia e os – 7°C com geadas à noite. A alta umidade combinada com as baixas temperaturas causam chuvas quase diárias e frequentes nevoeiros não só no nascer e pôr do sol, mas também durante o resto do dia.

Quanto à população civil a área conta com 2 pequenas localidades: Goose Green e, menor ainda, Darwin. Existem também as ruinas duma antiga construção argentina do século XIX. A população que mora no lugar soma um total de 114 “Kelpers”, todos de origem britânica e favoráveis a eles. Em Darwin fica a residência do administrador da firma “Falklands Islands Company”, a empresa britânica que é dona e administra a quase totalidade do território e dos bens das ilhas.

As forças argentinas estavam estruturadas sobre a base do 12° BI que, após ter recebido diferentes reforços, adotou o nome de “Força de Tarefa Mercedes”. Estava gravemente desfalcados em pessoal e material. Tinha a menos uma Cia Fuz e careciam quase totalmente de elementos de apoio de fogo orgânico, de elementos logísticos orgânicos e de rádios. O bloqueio aeronaval britânico impediu o transporte do batalhão em sua íntegra. Recebeu em reforço uma companhia da infantaria, uma bateria de artilharia de campanha, um pelotão de artilharia antiaérea e um Gp de Engenharia. Se encontrava também no centro do dispositivo pessoal da Força Aérea Argentina mas não estava em reforço nem em controle operacional. O núcleo da FT foi então o 12° BI e 2 Companhias de Infantaria (uma delas com um Pel Fuz a menos). Faltava a Cia B que se encontrava nas proximidades de Porto Stanley, a 80 km. Foi reforçado com a Cia C/25° sem 1 Pel Fuz e o Pel Ap. Foi também reforçado com o 3° Pel Fuz/C/8° BI. A FT tinha então 8 Pel Fuz no começo da batalha. O apoio de fogo da FT estava formado por uma Bia de artilharia de campanha em reforço com 3 obuseiros Otto Melara 105mm e um Bia AAAé em reforço também com 6 Can de 20mm e 2 Can de 35mm. Recebeu ainda em reforço um grupo de engenharia com 11 homens, com a dotação completa. A Companhia de Comando e Apoio do batalhão carecia de todas as armas pesadas e seus pelotões de Reconhecimento, Antitanque, Morteiros, Comunicações e Vigilância Terrestre estavam sem seus materiais. Finalmente a FT tinha 202 homens da Força Aérea Argentina que operavam a pista de pouso de Goose Green chamada de Base Aérea Militar “CÓNDOR” e não integravam a força de tarefa. Esse pessoal tinha somente pistolas e pistolas-metralhadoras de 9 mm. O comandante da Base Aérea era mais antigo do que o comandante da força de tarefa e seu pessoal embora estivesse no campo de batalha, nunca participou da mesma.

Na parte britânica as forças atacantes receberam o nome de “Grupo 2 Para”, devido ao núcleo da força que era do Batalhão de Infantaria Paraquedista 2. O batalhão britânico, o famoso “Para 2”, era quaternário, tendo 3 companhias de fuzileiros e uma companhia de reconhecimento e patrulhas a 2 pelotões com 11 pelotões de fuzileiros no total no começo da batalha. Sua companhia de comando possuía 4 pelotões: comando, comunicações, transporte  saúde. Sua companhia de apoio tinha 5 pelotões: anticarro ( 6 Mss AC Milan), morteiros (2 Mrt 81mm), metralhadoras, engenheiros de assalto e caçadores (6 Cçd). O batalhão tinha sido reforçado com uma bateria de artilharia de campanha (com 3 obuseiros de 105 mm), um Gp de defesa antiaérea (Ml Bowie) e um pelotão de engenharia de combate. Além disso, tinha sob seu controle operacional os seguintes elementos: uma fragata Type 21 (HMS Arrow), um batalhão de helicópteros (17 de transporte e 4 de ataque) e um esquadrão de aviões de ataque (a 4 caças Harrier GR-3)

O plano de operações do Cmt britânico dividia o ataque em 6 fases onde especificava com alto grau de detalhe os progressos que esperava para cada uma de suas 4 companhias, e que requeria uma estreita e precisa coordenação de tempo e espaço entre as peças de manobra. Este plano concebido pelo TC Jones carecia de simplicidade, flexibilidade e rapidez. Segundo as palavras do próprio subcomandante da força britânica, o plano de ataque inicial não facilitava a compreensão por parte dos comandantes subordinados. O plano inicial também não definia claramente o esforço principal e os esforços secundários. Assim, o esforço do ataque foi diluído em toda a frente. Foi previsto iniciar o ataque às 0230 e conquistar a localidade de Goose Green com o nascer do sol do dia 28 de maio. Desde que o Para 2 ultrapassou a L P Atq às 28 0230 Maio, até que começou o ataque à colina Darwin, as forças britânicas não tiveram mais problemas no avanço que algumas resistências leves e a desorientação de algumas frações. Se bem que tinham começado os combates contra PAC argentinos, em geral estas retraíam sem oferecer uma resistência muito forte. Porém, com as primeiras luzes do dia, começaram os problemas para o “Para 2”. Como consequência do nascer do sol, os fogos da defesa argentina apresentavam-se cada vez mais eficazes sobre as tropas britânicas que não tinham quase onde abrigar-se. As baixas britânicas começaram a aumentar. Desde o começo do dia o ataque britânico tinha sido detido na linha Darwin-Boca House (LAADA - Limite Anterior da Área de Defesa Avançada). Aconteceu então que após um contra-ataque argentino foi morto o Cmt da força britânica, sendo substituído pelo subcomandante, o Mj Keeble. A mudança na condução do ataque trouxe como consequência a reorganização das forças e a reorientação dos esforços do ataque. Assim, 2 SU britânicas concentraram seus esforços sobre o Pel W do LAADA argentina e as outras 2 SU atacaram simultaneamente o Pel E, entanto os fogos de apoio direto e indireto, terrestre e aéreo alcançavam a máxima intensidade. Após algumas horas de intensos combates, os núcleo de contato argentinos foram subjugados por volta do meio-dia. A partir de então, o ataque britânico foi muito mais cauteloso, mais metódico e com um ininterrupto apoio de fogo. Os combates sucederam com muita intensidade e pouca velocidade, até a manhã do dia 29. Pouco antes do meio-dia e com quase a metade da FT fora de combate o Cmt argentino decidiu aceitar a rendição. A força britânica conquistava assim as 2 localidades do istmo, quase 30 horas mais tarde do que tinham estimado. A totalidade dos argentinos foi tornada prisioneiros e os feridos de ambas as forças foram evacuados e atendidos no hospital de campanha britânico. Argentina era derrotada na primeira das batalhas terrestres da guerra das Falklands/Malvinas.

Comparação do Poder de Combate

A seguir será exposta a comparação do poder de combate e a comparação da influência do ambiente operacional para cada força. O poder de combate será comparado utilizando como fatores de comparação os meios do mesmo tipo (2° modelo: Poder Relativo de Combate) segundo as funções de combate, descompostas em suas atividades e tarefas quando for necessário. Os fatores morais estão incluídos após a função de combate Logística. A influência do ambiente operacional será comparada fazendo uma descrição por separado das características do Terreno, das Condições Meteorológicas e das Considerações Civis e de como era a situação particular de cada força. A ideia desta comparação e simplesmente evidenciar situações de superioridade e/ou pré-condições favoráveis às forças, visando à identificação do fator de desequilíbrio na batalha. É por isso que não estão sendo aplicados coeficientes matemáticos ou fatores de multiplicação.



A Influência do Poder de Combate

Movimento e Manobra

As forças argentinas possuíam uma ligeira superioridade numérica (1,29 para 1) ao começo da batalha, com quase 200 elementos a mais que as forças britânicas. Essa superioridade aumentaria ainda um pouco mais (1,35 para 1) após ter recebido reforços enviados desde porto Argentino durante o dia 28 . Mas esses são efetivos totais presentes na zona de combate, sem diferenciar entre tropas em condições reais de combater, tropas com funções auxiliares, logísticas, etc... Portanto, é preciso aprofundar mais para conhecer as forças realmente enfrentadas. Foram excluídas as tropas argentinas da força aérea (202) e da marinha (10) que estavam dentro do dispositivo por serem de natureza não vocacionada para o combate terrestre (mecânicos, técnicos, tripulação). Os reforços, tanto argentinos como britânicos, também não estão computados por terem chegado fora de oportunidade e não ter tido possibilidade de influir no desenvolvimento da batalha. Assim, as forças argentinas tinham a mesma quantidade de tropas preparadas para o combate terrestre. Existia então uma paridade numérica em tropas para o combate terrestre. Se aplicarmos o desdobramento de forças no terreno, ou seja, o dispositivo, vamos ver como a relação de poder de combate muda. As tropas argentinas, que estavam isoladas, encontravam-se desdobradas numa defensa circular (360) de forma que os britânicos poderiam atacar desde qualquer direção. Cobriam um perímetro de 31 km com 8 Pel Fuz. Considerando que esses Pel poderiam “defender” 7,2 km, “retardar” 12 km e “vigiar” 24 km, conclui-se que se tratava de uma defesa em larga frente, com amplos setores não vigiados. Desde que o ataque britânico foi desde a parte norte do istmo, as posições argentinas voltadas para o norte passaram a constituir-se na frente, enquanto que as outras foram flanco e retaguarda.

Dispositivo argentino: A defesa argentina tinha 1 Pel Rec vigiando e uma Cia Fuz (PAC) retardando (em posições não preparadas), 5 e 2,3 km respectivamente, ao norte da primeira linha. Ao começar o ataque britânico o Pel Rec foi capturado e os PAC retraíram e ocuparam núcleos de ruptura. O dispositivo ficou com 2 Pel no contato e 4 Pel na ruptura.

Dispositivo britânico: o único escalão de ataque estava conformado por 4 Cia Fuz somando um total de 11 Pel Fuz (reforçado por 2 Pel Eng Cmb). Considerando que esse poder de combate foi aplicado nos 1.300m do setor norte do LAADA argentino, se chega à conclusão que a densidade de tropas era superior à mínima necessária (poderiam ter coberto até 1.800m). Então as tropas enfrentadas realmente foram as seguintes: Argentina possuía 6 Pel Fuz empenhados em primeiro escalão (2 Pel no contato e 4 Pel como reservas imediatas na ruptura) e os britânicos possuíam 11 Pel Fuz empenhadas num único escalão de ataque. Evidencia-se então que na primeira linha (a mais fortificada) argentina, a relação de poder de combate quanto a Pel Fuz foi de 5,5 para 1(11 para 2 Pel Fuz). Outro fator muito interessante na comparação é o apoio de fogo orgânico. Ambas as forças possuíam metralhadoras MAG de 7,62mm para o apoio de fogo direto. As tropas britânicas empregaram 56 metralhadoras MAG no combate enquanto que as argentinas tinham somente 4 metralhadoras MAG. A relação de apoio de fogo orgânico foi de 14 para 1 a favor dos britânicos com o consequente efeito sobre as posições defensivas. Quanto à mobilidade e a contra-mobilidade os britânicos superavam aos argentinos em elementos de engenharia com 4 para 1. Porém, esses elementos foram utilizados mais para desdobrar minas anti-pessoal do que para abertura de brechas nos obstáculos defensivos. Esse desdobramento de minas era realizado após cada ataque para prevenir possíveis contra-ataques argentinos.

Conclusões Parciais

  • Apesar da ligeira superioridade numérica argentina quanto a tropas totais e da paridade numérica quanto a tropas aptas para o combate terrestre, a excessiva dispersão das forças argentinas permitiu aos britânicos concentrar um poder de combate marcadamente superior num setor determinado do dispositivo defensivo. (5,5 para 1).
  • Os reforços recebidos por ambas as partes não exerceram influência na batalha por terem chegado fora de oportunidade.
  • O poder de fogo das armas de apoio orgânico aplicado pelas forças britânicas foi muito superior ao aplicado pelos argentinos (14 para 1).
  • Os britânicos possuíam uma ligeira superioridade de elementos de engenharia de combate (4 para 1), mas essa superioridade não foi decisiva na progressão do ataque por ter sido empregada numa função defensiva.

Evidencia-se na comparação dos meios de apoio de fogo, que as forças britânicas tinham superioridade tanto nos meios de apoio de fogo terrestres como também aéreos e navais. As 2 forças enfrentadas fizeram um uso intensivo de todos os meios de apoio de fogo terrestre disponíveis. Mas em quase todos os casos a superioridade foi para os britânicos. Uma análise superficial das armas indiretas indica uma aparente superioridade argentina, visto que tinham a mesma quantidade de Can 105 mm, de Mrt 81mm que os britânicos e ainda tinham um morteiro 120mm, meio de que os britânicos careciam. Mas se se levar em consideração que os britânicos tinham morteiros 60 mm, que um dos canhões 105 mm e o morteiro pesado argentino não podiam fazer tiro com precisão e, sobretudo, que os britânicos possuíam o apoio de fogo de uma fragata durante a noite, se chega à conclusão que a superioridade era claramente dos atacantes. A intensidade e precisão dos fogos indiretos foi fundamental não só para perturbar e causar baixas argentinas senão também para manter aos defensores abrigados em suas posições, facilitando a manobra dos elementos de ataque.

O apoio de fogo direto merece uma análise por separado. Quanto ao emprego de lança-rojões a superioridade foi claramente britânica (4,4 para 1), apesar do calibre menor de suas armas (Instalaza 88,9mm contra LAW 66mm). Apesar de não ter veículos  blindados nem mecanizados em dotação para os argentinos, o emprego por parte dos britânicos de mísseis anti-carro MILAN contra as defensas argentinas foi considerado pelos comandantes das companhias atacantes como fundamental para a conquista das posições. Tanto foi assim que nos futuros combates da guerra levariam misseis MILAN em todos os escalões de ataque. Outra menção de destaque merece o emprego dos caçadores pelos britânicos. Se durante a noite a vantagem no tiro era britânica (por seus meios de visão noturna), durante o dia a vantagem era para os defensores, favorecidos pelo aproveitamento do terreno. O emprego de caçadores foi de muita utilidade para o engajamento de alvos sem expor o caçador ao fogo diurno preciso dos defensores. Se até agora a superioridade de fogos foi britânica, houve 2 casos em que a superioridade foi decididamente argentina: metralhadora pesada 12,7 mm e canhão de 35 mm. Os argentinos conseguiram montar uma metralhadora Browning 12,7 mm sobre uma viatura JEEP o que proporcionava uma boa base de fogo contra os atacantes que não tinham esse calibre. E se bem que os 2 canhões Oerlikon de 35mm argentinos eram para a defesa anti-aérea, foram utilizados com muito sucesso no tiro direto contra alvos terrestres. O fogo desses canhões deteve numerosas vezes o ataque de 2 companhias britânicas.

Quanto aos meios de apoio de fogo aéreos mais uma vez a superioridade foi britânica. Eles possuíam helicópteros de ataque (2 Gazelle e 2 Scout) enquanto os argentinos não. Porém, essa vantagem não foi explorada pelos britânicos pela vulnerabilidade dos helicópteros ao fogo anti-aéreo argentino. Foram utilizados, contudo, para transporte leve, suprimento e evacuação de feridos. Um caso distinto foi o emprego de aviões de ataque. Se bem que quantitativamente os argentinos utilizaram mais aeronaves para o apoio aéreo aproximado (5 aviões em total contra 4 britânicos), o que fez a diferença foi a capacidade britânica de controlar e guiar os fogos aéreos por controladores no solo. De fato, os argentinos careciam totalmente de controladores aéreos avançados (FAC – forward air control) e, portanto, a possibilidade dos pilotos atingirem alvos terrestres era muito menor.

Conclusões parciais:

  • O volume e a precisão dos fogos indiretos aplicados pelos britânicos conseguiu obter um efeito paralisante nos defensores, dificultando grandemente as reações ofensivas do defensor e desgastando física e moralmente as tropas argentinas. Para isso o apoio de uma fragata acrescentou muito poder de fogo, ainda que só durante a noite.
  • O emprego de canhões de 35mm para tiro direto sobre alvos terrestres multiplicou a capacidade de resistência dos defensores, retardando em muito a progressão britânica.
  • O emprego de lança-rojões, caçadores e, principalmente, dos mísseis anti-carro MILAN foi fundamental para os atacantes conquistar as posições argentinas mais fortes.
  • O apoio de fogo aéreo foi equilibrado quanto ao volume mas foi mais acurado o britânico devido ao emprego de FACs.


Segurança e Proteção

A defensa anti-aérea argentina mostrou uma ligeira superioridade sobre a britânica. Apesar de não possuir misseis anti-aéreos (os britânicos tinham Blowpipe), a defesa argentina contava com 2 canhões Oerlikon de 35mm e 6 canhões Rheinmetall de 20mm com sistema automático de tiro. Isto dificultou os ataques aéreos britânicos e foi suficiente para dissuadir aos britânicos de empregar seus helicópteros para o ataque às tropas terrestres, mas não conseguiu impedir as incursões aéreas dos aviões Harrier. A proteção proporcionada pelas fortificações no terreno foi muito superior para as forças argentinas que se encontravam preparando a defesa há quase um mês, enquanto as britânicas só tentaram aproveitar as escassas cobertas do terreno, sem uma prévia preparação, comum a uma força atacante.

Se faz necessário observar que o nível alcançado pelas fortificações argentinas não era proporcional ao tempo disponível para isso, devido ao fato de que a força-tarefa não contava com seu material de sapa, ainda não transladado e retido no continente, devido ao bloqueio aeronaval britânico. Só puderam utilizar 3 pás confiscadas aos civis e alguns objetos improvisados (tais como capacetes, elementos de rancho, etc...). Por outro lado, nem todas as tropas argentinas ocupavam posições preparadas e/ou fortificadas. Os PAC ao norte do istmo tinham recebido a ordem de abandonar suas posições iniciais, já fortificadas, e fortalecer o dispositivo 3 dias antes do ataque britânico. Desta forma, quando se iniciou o ataque, os PAC encontravam-se ocupando posições mais fracas que as iniciais.

Os obstáculos artificiais de proteção foram utilizados por ambas as forças. Os argentinos tinham preparado faixas de armadilhas explosivas utilizando bombas aéreas cobrindo grande parte do perímetro defensivo. Os britânicos, por sua parte, após cada ataque rechaçado pelo defensor, lançavam minas para prevenir contra-ataques. Contudo, como será explicado mais à frente, os britânicos conheciam com antecedência os caminhos seguros entre os obstáculos, relativizando seu valor defensivo.

Quanto à proteção das emissões eletromagnéticas cabe ressaltar que o 12° BI argentino utilizou para sua comunicação equipamentos de rádio civis confiscados aos “Kelpers”, sem nenhum sistema de encriptação ou salto de frequência enquanto os atacantes utilizaram exclusivamente rádios de uso militar. Já no referido à contra-inteligência, existem 2 aspectos interessantes: Os britânicos sofreram um vazamento de informação importante de valor tático ao permitirem que chegasse à emissora de rádio e televisão BBC a informação da iminência do ataque, que informou abertamente ao mundo da situação. Desta forma a defensa argentina encontrava-se no máximo grau de alerta, privando os atacantes do elemento surpresa. O governo argentino tinha mantido um maior controle da imprensa, mas as forças defensoras em Goose Green tiveram um controle deficiente da população civil que morava no istmo. Assim, apesar do estrito controle dos 114 civis na zona de combate, pelo menos 2 civis conseguiram transmitir informação aos britânicos sobre as forças argentinas e o sistema defensivo.

Conclusões Parciais:

  • A defesa anti-aérea argentina foi ligeiramente superior à britânica, mas nenhuma das forças conseguiu impedir os ataques aéreos inimigos.
  • Grande parte das posições defensivas argentinas tinham a vantagem da fortificação do terreno, embora esta tivesse sérias limitações.
  • Os obstáculos artificiais instalados por ambas as forças tiveram somente o efeito moral do temor, mais não um efeito físico já que não produziram baixas.
  • Ambas as forças sofreram graves falhas na contra-inteligência com importantes efeitos no ataque (perda do elemento surpresa) e na defesa (redução do efeito dos obstáculos).

Inteligência Militar

Na função de combate inteligência, evidenciou-se um dos maiores desequilíbrios. Pela parte argentina poderia se dizer que a seu maior expertise era sobre o terreno e as condições meteorológicas locais. Quanto ao conhecimento das forças inimigas só contavam com 3 fontes de obtenção de informação: os aviões que atacavam desde o continente, o pelotão reconhecimento e o radar de aquisição de alvos Skyguard dos Can AAe 20mm.

Os britânicos, por sua parte, contavam com numerosas fontes de obtenção de informação: uma companhia de reconhecimento, aviões, e dois radares de aquisição de alvos na fragata “HMS Arrow”. Mas as fontes mais importantes para os britânicos foram 4 tipos de fontes humanas: um esquadrão de tropas de operações especiais (Esqd D do SAS) que executou reconhecimento em força uma semana antes do ataque; o senhor Hardcastle, pessoa mais importante em Darwin, quem ministrou abundante informação sobre o dispositivo argentino e os campos minados; o Ten Thurman, oficial não capturado pelos argentinos que servia em porto Argentino antes da guerra e conhecia perfeitamente a zona de Darwin; e finalmente os primeiros prisioneiros tomados pelos britânicos quando capturaram parte do Pel Rec da FT argentina.

Além disso, as tropas argentinas não só não conheciam a composição do inimigo antes do ataque, como também não conheciam nem a direção da qual viriam. Foi por causa disso que a defesa, ao invés de estar orientada para o norte, foi preparada aos 360°, o que rarefez a massificação da tropa defensora. Isso produziu uma excessiva dispersão dos meios com a consequente perda do apoio mútuo e um aumento das vulnerabilidades da defesa. Os britânicos, pelo contrário, conheciam com um alto grau de detalhe a composição e dispositivo das forças defensoras. Contudo, a inteligência britânica desconhecia 2 fatores importantes: as reais capacidades de reforço helitransportado argentino e o estado moral da tropa. Eles achavam que as tropas iam se render após uma resistência simbólica, causada pelo baixo nível da moral.

Conclusões Parciais:

  • O desconhecimento por parte da força argentina sobre as forças inimigas e, principalmente, de suas linhas de ação impediu a adequada orientação do esforço defensivo e provocou um enfraquecimento do valor defensivo da posição.
  • O alto grau de conhecimento por parte da força britânica da organização, dispositivo, atividades e linhas de ação das forças argentinas permitiu-lhes uma adequada preparação da força de ataque e a exploração das fraquezas da defesa.


Comando e Controle (C2)

As capacidades de comando e controle de ambas as forças são reflexo mais uma vez de uma situação de desequilíbrio.

A capacidade de comando do comandante da FT argentina e dos comandantes subordinados estava fortemente diminuída pelos seguintes motivos: Primeiramente não existia unidade de comando, já que dentro do dispositivo argentino coexistiam 2 forças com diferente subordinação: a FT Mercedes sob o comando do TC PIAGGI e o pessoal da Força Aérea (202 homens) sob o comando do vice-comodoro PEDROZO, mais antigo do que PIAGGI e não subordinado à FT Mercedes, nem sob controle operacional. De fato, no meio do combate, o pessoal da Força Aérea retraiu abandonando suas posições sem a autorização do comandante da FT, aumentando as vulnerabilidades já existentes no dispositivo. Outro fator que enfraqueceu a capacidade de comando, foi a preparação incompleta de quase 25% dos comandantes de pelotão argentinos. Eles eram cadetes de 4° ano da Academia quando começou a guerra e foram rapidamente promovidos à hierarquia de Aspirante a Oficial (“Subteniente”). Finalmente outro fator negativo foi e fraca integração e conhecimento entre muitos oficiais e a tropa. De fato, muitos oficiais argentinos (o comandante de FT incluído) tinham recebido o comando de sua fração/organização há 3 meses. Outros nem pertenciam a OM e conheceram seus homens só no campo de batalha. O controle estava igualmente afetado pela dispersão das tropas, a falta de meios de visão noturna e ao fraco sistema de comunicação. Efetivamente, o comandante não conseguia ter observação direta mais que durante o dia e só de alguns núcleos da ruptura. O controle era ainda mais difícil pela grande escassez de equipamentos de rádio. Só existia uma rádio HF para a comunicação com o escalão superior com alcance até Port Stanley e só 3 rádios VHF para a comunicação com os elementos subordinados. Algumas posições defensivas estavam ligadas com sistema fio, mas isso foi limitado às posições mais próximas ao QG local (posto de comando principal). A excessiva dispersão das tropas dificultava o controle do comandante através de influência presencial.

Na parte britânica, pelo contrário, existia a unidade de comando, a integração e conhecimento entre os comandantes e a tropas era muito boa, e a preparação dos comandantes de pelotão completa e equalizada. A capacidade de controle estava favorecida por um eficiente sistema de comunicações radio, (com rádios até nível pelotão inclusive) e um adequado nível de capacidade de visão noturna.

Conclusões Parciais:

  • A falta de unidade de comando, de comunicações eficientes dentro da FT argentina junto às limitações na observação diurna e noturna do campo de batalha e na integração das frações limitou grandemente a consciência situacional do Cmt FT e dificultaram gravemente sua capacidade para o comando e controle (C2).
  • O sistema de comunicações britânico era muito eficiente, o que somado a uma adequada capacidade de visão noturna, à boa integração das frações e a unidade de comando facilitaram a formação da consciência situacional do comandante e o comando e controle das frações.


Logística

Entre os fatores que foram determinantes do nível de apoio logístico que receberam as forças, destacamos 2 deles. Primeiramente, o estado logístico de pessoal e material de que dispunham as unidades previamente a início dos engajamentos. Em segundo lugar a capacidade do escalão superior em prover este apoio durante a batalha. O estado de pessoal e material das tropas britânicas antes da batalha era em geral muito bom. É interessante destacar que as tropas enviadas tinham recebido, já desde a partida da Europa, todo tipo de apoio necessário, haja vista a quase impossibilidade de prestar um apoio logístico continuado, uma vez as tropas e a frota estiverem próximos as Ilhas Falklands/Malvinas. Partiram então com um nível de suprimento e manutenção excelente. Porém, entre os dias 21 e 25 de maio, a Fuerza Aérea Argentina atacou os navios ali presentes, causando-lhes muito dano e afundando a principal unidade de transporte logístico: o Atlantic Conveyor. A perda que mais sentiram as forças britânicas foi a de 3 helicópteros de transporte pesado CH-47 Chinook, embarcados nesse navio logístico. Apesar destas perdas, a logística das tropas não foi tão gravemente afetada. O apoio logístico durante a batalha manteve-se apesar das dificuldades.

Os trens logísticos britânicos estavam organizados da seguinte maneira: A AT Cmb (área de trens de combate) estava desdobrada a menos de 4 km dos elementos do 1° escalão e a ATE (área de trens de estacionamento) estava desdobrada junto com a BLB (base logística da brigada) em Baia Ajax, a 19 km da AT Cmb. Como o terreno impedia o transporte logístico terrestre, não existia uma EPS (estrada principal de suprimento) E Sup Ev (estrada de suprimento e evacuação). O suprimento e evacuação se realizavam em linha reta desde a BLB até a AT Cmb por meio aéreo com os 21 helicópteros em apoio. Desses helicópteros 4 (Sea King) estavam equipados para voo noturno, mantendo o fluxo logístico mesmo durante a noite. A continuidade no suprimento foi especialmente importante porque conseguiu manter o remuniciamento no nível que o alto consumo do ataque exigia, especialmente das 56 metralhadoras MAG.

Pela parte argentina, antes da batalha, a situação logística geral do pessoal era regular e o do material era ruim. Isto era consequência de 2 fatos. Primeiramente é preciso relembrar que o bloqueio aeronaval imposto pelos britânicos impediu aos argentinos o transporte de quase a totalidade do material pesado (logístico e armamento) que ficou no continente. Por outra parte, a FT se encontrava totalmente isolada, ocupando uma posição defensiva aos 360°, afastada de toda tropa ou meio logístico argentino. Os escassos meios logísticos argentinos estavam reunidos numa ATU (área de trens da unidade) na localidade de Goose Green, no centro do dispositivo defensivo. A falta de material e instalações era tal, que os trens logísticos da força-tarefa MERCEDES apenas mereciam esse nome. Por exemplo, contavam com somente uma cozinha de campanha para os quase 1000 homens. Só para ilustrar a grave situação logística, basta mencionar 2 fatos: nos dias prévios à batalha a alimentação das tropas tinha sido reduzida a uma ração por dia produzindo casos de desnutrição entre os homens  desdobrados nos PAC. A evacuação dos feridos foi outra grave deficiência argentina. Tanto assim que os feridos argentinos mais graves eram atendidos pelos britânicos que tinham maior capacidade de evacuação aérea e o hospital de campanha mais próximo. Uma vez iniciada a batalha, o apoio logístico argentino foi ainda mais limitado. A BLB, que contava com todos os meios para manter logisticamente à FT, se encontrava a 80 km por ar. Como o transporte terrestre era impossível, e os escassos helicópteros argentinos eram altamente vulneráveis aos ataques britânicos durante o dia e não tinham meios de visão noturna para voar durante a noite, a BLB só conseguiu fazer chegar alguns reforços e evacuar feridos em 2 oportunidades. A FT dependia então das escassas capacidades logísticas que tinha a FT em Goose Green.

Mas nem tudo favoreceu à logística britânica. Assim, o serviço de assistência religiosa argentino era muito bom contribuindo a manter alta a moral das tropas. Os britânicos careciam do apoio espiritual de sacerdotes. A evacuação terrestre dos feridos era mais rápida para os argentinos devido a que o posto socorro estava mais perto da primeira linha que o posto socorro britânico. Quanto ao recompletamento, dos efetivos a situação era equilibrada: as forças argentinas tinham maior quantidade de tropas para recompletamento enquanto que as britânicas tinham-nas mais próximas. Contudo, os reforços recebidos por ambas as forças não chegaram em tempo de influenciar no resultado da batalha.

Conclusões Parciais:

  • O estado geral do suprimento e manutenção das forças britânicas permitiu que as tropas estivessem num ótimo estado psicofísico no momento do combate.
  • O alto estado de manutenção da moral das tropas britânicas permitiu-lhes manter a impulsão do ataque durante 2 dias.A grande disponibilidade de helicópteros e a vizinhança da BLB permitiu às forças britânicas manter o fluxo logístico continuo, principalmente quanto a suprimento de munição e evacuação de feridos, tanto durante o dia quanto durante a noite.
  • O estado geral de suprimento das tropas argentinas afetou fisicamente às tropas desgastando-as mais do que o normal já antes do combate.
  • O alto estado de manutenção da moral das tropas argentinas permitiu-lhes resistir os sucessivos ataques britânicos em condições de marcada inferioridade e, inclusive, executar contra-ataques.
  • A escassez de helicópteros e o afastamento da BLB quase impediu o fluxo logístico entre a BLB e os trens da FT argentina, deixando-a numa situação de isolamento quase total.

Fatores Morais

Por serem os fatores morais de difícil mensuração, os resultados acima mostrados têm um valor somente indicativo. Porém, consideramos esses resultados suficientes para assinalar qual força estava numa situação de superioridade ou apresentava uma vantagem considerável. No que se refere aos comandantes das forças, destaca-se pelo menos 3 situações nas que se evidencia uma superioridade britânica: A maioria dos Cmt britânicos tinham uma maior integração e conhecimento com seus subordinados, alguns deles tinham experiência em combate e, ainda, a formação profissional dos oficiais britânicos era, em geral, mais completa que a dos oficiais argentinos (considerando que 8 dos oficiais argentinos eram cadetes de 4° ano da academia militar quando foram enviados para as Falklands/Malvinas). A situação das tropas era em geral bastante equilibrada quando ao valor demostrado e a experiência em combate. Porém, houve um fator onde a superioridade dos soldados britânicos é indiscutível: seus soldados cumpriam com o serviço militar voluntário, eram, portanto, profissionais com muitos anos de experiência em alguns casos (desde 2 até 8 anos de experiência). Os soldados argentinos cumpriam com o serviço militar obrigatório e, sendo da classe do 1964, tinham somente 2 meses e meio de instrução militar.

Conclusões Parciais:

  • O valor demostrado por ambas as forças foi muito alto e reflexo duma alta motivação das tropas por parte dos seus comandantes.
  • A capacitação profissional das forças britânicas era superior às argentinas. Levemente superior quanto aos oficiais, mas muito superior quanto aos soldados.

Influência do Terreno

Como é o defensor quem escolhe o terreno a ser defendido, a batalha de Goose Green não fugiu da regra e o terreno favoreceu majoritariamente às forças argentinas. O conhecimento prévio do terreno somado à fortificação do mesmo fez que as tropas argentinas tirassem grande vantagem em muitos casos. Apesar do terreno ser praticamente plano, o controle das escassas elevações que dominavam os acessos ao istmo proporcionou-lhes uma importante vantagem. Essas pequenas alturas permitiam uma boa observação e campos de tiro contra as forças que atacavam por um terreno plano e sem cobertas e abrigos. O principal acidente capital que favoreceu aos argentinos foram a linha de alturas da linha Darwin-Boca House (onde estavam apoiados os núcleos defensivos do contato).

Pela parte britânica o principal acidente capital foi a colina NO de Camila Creek (onde estavam posicionadas as principais armas de apoio de fogo). É importante remarcar que as vantagens que o terreno dava ao defensor eram principalmente durante o dia e só nos momentos sem chuvas ou nevoeiros, que não eram muitos. Durante a noite a vantagem era para os britânicos e durante as horas de nevoeiro a situação era equilibrada.

Conclusões Parciais:

  • Durante o dia o terreno favoreceu principalmente aos argentinos que o defendiam. Senão tiraram maior vantagem dele foi por uma excessiva dispersão do dispositivo.
  • Durante a noite e os períodos de visibilidade reduzida o valor defensivo do terreno era relativo e os britânicos tiravam vantagem de seus meios de visão noturna.


As Condições Meteorológicas

As condições meteorológicas afetaram tanto às tropas quanto ao material e armamento. Porém, os efeitos não foram sempre os mesmos para ambas as forças. A natureza do solo a causa das frequentes chuvas restringia a velocidade de deslocamento das tropas. Mas as tropas argentinas tinham reconhecido os locais de mais fácil transitabilidade o que era uma vantagem frente aos britânicos cujo conhecimento do terreno era muito menor. Como se percebe no quadro acima a visibilidade era em geral muito reduzida durante o dia para ambas as forças. Já durante a noite a vantagem era para os atacantes que possuíam óculos de visão noturna até nível comandante de pelotão. Um último aspeto onde se evidenciou uma situação desfavorável para os argentinos foi que estes tinham passado um mês expostos às inclemências do clima, principalmente do frio, a chuva e a umidade, enquanto as tropas britânicas estiveram abrigadas nos navios até 1 semana antes da batalha. O desgaste das condições meteorológicas foi então maior nas tropas argentinas.

Conclusões Parciais:

  • A má transitabilidade do solo afetou mais as forças britânicas do que as argentinas.
  • A visibilidade noturna e os efeitos das condições meteorológicas sobre o pessoal foram piores para os argentinos.

As Considerações Civis

A existência de 2 localidades dentro da área da batalha foi um fator determinante que influenciou às 2 forças de diferente maneira. A posse pelas tropas argentinas das 2 localidades junto ao controle das estruturas e suas capacidades e serviços básicos possibilitou-lhes melhorar um pouco as condições de vida das tropas. A pista de pouso dentro do istmo não foi utilizada durante a batalha devido à vulnerabilidade aos ataques aéreos e da artilharia. Alguns equipamentos foram confiscados aos civis como, por exemplo, algumas caminhonetes Jeep, um trator e alguns equipamentos de rádio. Apesar do controle da população e do confisco de alguns bens, os kelpers foram tratados com muito respeito e consideração. A população, pelo contrário, exerceu um efeito negativo sobre a condução das operações argentinas. Se bem que os 114 civis que moravam na área não ofereceram nenhum tipo de resistência à ocupação argentina, a sua lealdade era para os britânicos. Por isso, em repetidas oportunidades as tropas argentinas surpreendiam aos civis “Kelpers” se comunicando por rádio com as tropas britânicas transmitindo-lhes informação sobre a defesa argentina. As tropas britânicas, entretanto, não puderam tirar proveito das facilidades, principalmente logísticas, das localidades, mas obtiveram da população local uma excelente fonte de obtenção de informação que lhes forneceu dados tão importantes como, por exemplo, a localização e distribuição dos campos minados e armadilhados da defesa. A presença da população civil dentro do dispositivo argentino foi utilizada pelo comandante das forças britânicas como fator de pressão moral sobre o comandante argentino. Assim, o Maior Keeble ameaçou ao TC Piaggi com aniquilar à população mediante um bombardeio massivo se as tropas argentinas não aceitavam a rendição, fazendo cair a culpa sobre o comandante argentino. (É interessante destacar que isso não era só uma ameaça, já que o Maior Keeble tinha recebido autorização para executar esse bombardeio).

Conclusões Parciais:

  • O controle das estruturas e serviços das localidades de Darwin e Goose Green permitiu melhorar o bem-estar das tropas argentinas e compensar em parte algumas deficiências como a das comunicações.
  • A população não ofereceu nenhum tipo de resistência armada frente à presença e controle das tropas argentinas.
  • A população filtrou informação de valor tático aos britânicos favorecendo o planejamento e execução do ataque.

Identificação dos Fatores que Influíram no Resultado da Batalha

Foram excluídos aqueles fatores cuja análise evidenciou uma situação de equilíbrio o de superioridade tão leve que não outorgou vantagens significativas a nenhuma das forças.

Dispersão do Dispositivo Defensivo: A excessiva dispersão do dispositivo argentino (alcançando um perímetro de até 31 km) impediu a concentração de efetivos e meios no local decisivo e dificultou a aplicação do princípio da massa, diminuindo o valor da defesa.

Superioridade Numérica Local: As forças britânicas direcionaram seu ataque sobre um estreito setor do dispositivo defensivo (1,3 km) alcançando um poder relativo de combate (peças de manobra) de 5,5 para 1 no LAADA argentino. Materializou a aplicação do princípio da massa em termos de concentração de forças (peças de manobra) no ponto decisivo (colina de Darwin).

Forte Apoio de Fogos Orgânicos: A organização e equipamento da força atacante priorizou um grande poder de fogo de metralhadoras medianas (56 Mtr MAG 7,62mm) para apoiar a manobra dos pelotões, chegando a uma relação de poder de fogos diretos de 14 metralhadoras por cada metralhadora argentina. Materializou a aplicação do princípio da massa em termos de concentração de fogos no ponto decisivo (colina de Darwin).

Forte Apoio de Fogos Indiretos: O fogo dos canhões britânicos, acrescentados pelo apoio duma fragata durante a noite, conseguiu, por seu volume e precisão, efeitos não só de inquietação, mas também de neutralização e destruição.

Utilização de canhões Antiaéreos sobre alvos terrestres: O emprego de canhões de 35mm para tiro direto sobre alvos terrestres multiplicou a capacidade de resistência dos defensores, demorando muito a progressão britânica.

Fogos anti-carro e emprego de caçadores: O emprego de lança-rojões, caçadores e principalmente, dos mísseis anti-carro MILAN foi fundamental para os atacantes conquistar as posições argentinas mais fortes.

Controladores de Fogo Aéreo (FACs): O apoio de fogo aéreo foi equilibrado quanto ao volume, mas foi mais acurado o britânico devido ao emprego de controladores de fogo desde terra.

Defesa antiaérea argentina: A defesa antiaérea argentina foi ligeiramente superior à britânica e, embora não conseguiu impedir as incursões aéreas, limitou o emprego dos aviões de ataque.

Fortificações do Terreno: Os trabalhos de OT (organização do terreno) das posições defensivas, mesmo se não eram os ideais, acrescentaram muito o valor defensivo das mesmas.

Detalhada Inteligência Britânica: O alto grau de conhecimento por parte da força britânica da organização, dispositivo, atividades e linhas de ação das forças argentinas permitiu-lhes uma adequada preparação da força de ataque e a exploração das fraquezas da defensa.

Fraca Inteligência Argentina: O desconhecimento por parte da força argentina das forças inimigas e, principalmente, de suas linhas de ação impediu a adequada orientação do esforço defensivo e provocou um enfraquecimento do valor defensivo da posição.

Falhas na Contra-inteligência: Ambas as forças sofreram graves falhas na contra-inteligência com importantes efeitos no ataque (perda do elemento surpresa) e na defensa (redução do efeito dos obstáculos minados).

Fraco sistema de C3 argentino: A falta de unidade de comando e de comunicações eficientes dentro da FT argentina, junto às limitações na observação diurna e noturna do campo de batalha e na integração das frações, limitou grandemente a consciência situacional do Cmt FT e dificultaram gravemente sua capacidade para o C2 .

Helicópteros britânicos: A grande disponibilidade de helicópteros e a vizinhança da BLB permitiu às forças britânicas manter o fluxo logístico continuo, principalmente quanto a suprimento de munição e evacuação de feridos, tanto durante o dia quanto durante a noite.

Deficiência logística argentina: As limitações logísticas afetaram seriamente as capacidades da defesa argentina. A escassez de helicópteros e o afastamento da BLB quase impediu o fluxo logístico entre a BLB e os trens da FT argentina, deixando-a numa situação de isolamento quase total.

Estado moral das tropas: O alto estado de manutenção da moral das tropas argentinas permitiu-lhes resistir os sucessivos ataques britânicos em condições de marcada inferioridade e, inclusive, executar contra-ataques. A moral das tropas britânicas era igualmente alta, mantendo a impulsão do ataque por 2 dias.

Nível de profissionalismo: A capacitação profissional das forças britânicas era superior às argentinas. Levemente superior quanto aos oficiais, mas muito superior quanto aos soldados.

Controle dos acidentes capitais: O terreno favoreceu principalmente aos argentinos que o defendiam e controlavam os acidentes capitais com dominância às vias de acesso das forças britânicas.

Visão Noturna: Durante a noite os britânicos tiravam vantagem de seus meios de visão noturna diminuindo o valor defensivo das posições argentinas.

Desgaste Psicofísico prematuro: A longa exposição (1 mês) das tropas argentinas às inclemências do clima sem abrigos adequados afetou sua capacidade de resistência produzindo um desgaste psicofísico prematuro nas tropas.

Controle das Localidades: O controle das estruturas e serviços das localidades de Darwin e Goose Green permitiu melhorar o bem-estar das tropas argentinas e compensar parcialmente algumas deficiências como a das comunicações.

População “Kelper”: A população filtrou informação de valor tático aos britânicos favorecendo o planejamento e execução do ataque.

CONCLUSÕES

Fatores Decisivos

Consequência da falta de informação das possibilidades do inimigo, a excessiva dispersão do dispositivo impediu oferecer uma defesa mais forte e profunda na direção do ataque britânico. Diminuiu a flexibilidade da força defensora ao deixar só uma reserva fraca. A falta de unidade de comando, de comunicações eficientes dentro da FT argentina junto às limitações na observação diurna e noturna do campo de batalha e não integração das frações limitou grandemente a consciência situacional do Cmt FT e dificultaram gravemente sua capacidade para o C2 . Esta grande vulnerabilidade impediu a transmissão oportuna das ordens, o emprego eficiente da reserva e deixou a condução das ações livrada ao critério dos comandantes de companhia e pelotão. Os britânicos aplicaram o princípio da massa não somente concentrando forças num espaço e momento reduzidos, mas também concentrando fogos sobre as tropas argentinas: fogos de artilharia, de morteiros, de metralhadoras, lança-rojões e granadas de fuzil. E todo em quantidades proporcionalmente muito maiores às normais para um batalhão. O volume e precisão dos fogos contribuíram diretamente com a conquista das posições defensivas.

Seleção do fator de Desequilíbrio

Antes de falar do fator de desequilíbrio é interessante relembrar que quando o sol nasceu na manhã do 28 de maio, após a primeira noite de combate, o ataque britânico que vinha progredindo segundo o planejado, foi detido frente a línea de contato. Assim ficou durante 6 horas executando sucessivos ataques sem conseguir a conquista das posições. Mas foi após a morte do Cmt e a assunção do comando pelo 2° Cmt que o ataque britânico venceu a resistência argentina conquistando o acidente capital da colina Darwin. Mais uma vez, Como conseguiram os britânicos romper essa situação de equilíbrio e continuar com o ataque? O que mudou na situação? E por fim, “Entre todos os fatores que incidiram no resultado final da batalha, qual foi o que produziu o desequilíbrio a favor das tropas britânicas?”

Dentre todos os fatores analisados, identificamos como fator de desequilíbrio a aplicação do princípio da massa, seja de forças como de fogos. Este princípio foi aplicado na concentração de forças quando, após a morte do Cmt britânico, a intensidade da aplicação do poder de combate mudou. De fato, inicialmente as 4 companhias de fuzileiros paraquedistas atacavam a linha de contato argentina com a mesma intensidade em toda a frente. Mas após assunção do comando pelo Mj Keeble, 2° Cmt, duas companhias (Cia A e Cia C(-)) passaram a atacar à posição argentina na colina Darwin (E) e as outras duas (Cia B e Cia D) se concentraram sobre a posição argentina em Boca House (W). Assim a relação de poder de combate local foi de 5 para 1 e de 6 para 1 respectivamente.

Foi aplicado também na concentração de fogos mediante a execução de fogos simultâneos sobre os 2 pelotões argentinos de contato. Esses fogos reuniram fogos de artilharia de campanha, artilharia naval, aviões de ataque, morteiros médios e as armas de tiro direto do batalhão paraquedista. Particular atenção merece o emprego das armas de fogo direto: metralhadoras, misseis MILAN e caçadores. Os britânicos empregaram 56 metralhadoras MAG 7,62mm no ataque às posições, mais de 2 vezes a quantidade normal de um batalhão. Dessa forma alcançaram uma superioridade de 14 para 1. Quanto aos misseis MILAN, apesar deles serem armas anti-carro, foram utilizadas com muito êxito para conquistar as 39 posições fortificadas argentinas. De grande importância foi também o emprego dos caçadores para engajar alvos importantes com fogo de precisão a longa distância. À luz do anteriormente analisado afirmamos que a aplicação do Princípio da Massa no momento e lugar decisivo foi o fator que conseguiu quebrar a situação de equilíbrio, penetrar o dispositivo defensivo argentino, continuar o ataque e decidir o resultado final da batalha.