FRASE
quarta-feira, 22 de março de 2023
Elementos do Poder de Combate *239
sábado, 18 de março de 2023
Fator Militar *238
- A Logística é a capacidade de manutenção de uma força combatente. Cabe a ela suprir as forças em todos os ítens imagináveis e necessários ao combate. Alimentação, munição, combustíveis, suprimentos médicos, reposição de pessoal, equipamentos e materiais dos mais diversos; além do transporte, estocagem e distribuição destes ítens, nos locais e momentos adequados. A logística ainda engloba a manutenção de equipamento, seja de serviço ou corretiva, a instalação e manutenção de hospitais de campanha e serviços de transporte, a triagem de feridos e serviços funerários, a manutenção e construção de vias de acesso e áreas de estacionamento, a manutenção de instalações de cunho estratégico como portos, bases aéreas, centros de comunicações, usinas de provimento de energia e água, e outras que se mostrarem importantes às operações. Pode-se dizer que o fator logístico é o pilar central de toda e qualquer campanha, sendo sua importância diretamente proporcional a duração das operações. O próprio foco de qualquer operação continuada é a inviabilização do sistema logístico do inimigo, fator que decidiu quase todas as operações listadas pela história.
- O Comando é o agregador de todos os elementos do fator militar. Cabe ao comando a implementação de uma situação de sinergia de todos os elementos operativos. Um comandante deve desenvolver continuamente seu caráter, capacidade, experiência profissional e características de liderança. Conhecer as características do comandante inimigo é importantíssimo na medida que se deseja antecipar suas decisões. Uma força privada do seu elemento de comando continua detentora de seu potencial orgânico, porém está totalmente incapacitada de aplicá-lo, e se o fizer será de maneira limitada e desordenada.
- O Estado-Maior é o "Staff" do comandante. Cabe ao Estado-Maior ocupar-se dos detalhes da missão, permitindo que o comandante se concentre nas linhas de ação principais. Fator multiplicador do poder de combate, um Estado-Maior eficiente pode ser a diferença entre a vitória e o fracasso. Um Estado-Maior típico constitui-se de uma seção de pessoal (1ª seção), de informações (2ª seção), de operações (3ª seção) e de logística (4ª seção); podendo conter outras como de instrução, ações psicológicas, assuntos civis, comunicação social e o que mais se achar necessário. A missão do Estado-Maior é transformar a intenção do Comando em ordens operacionais.
- A Tropa é o elemento operativo propriamente dito. Caracteriza-se pelo seu número, nível de adestramento, padrões sanitários e motivação. Uma tropa desmotivada ou mal assistida no quesito de saúde não desempenhará a contento. Uma tropa em número insuficiente poderá sucumbir facilmente a não ser que outros fatores como a tecnologia e o adestramento compensem esta deficiência.
- O equipamento é o conjunto de recursos materiais, nos aspectos quantitativo e qualitativo, postos a disposição da tropa. Material Bélico, Suprimentos e materiais de toda ordem fazem parte deste item. Um aspecto material que assume especial importância são os meios de comunicações disponíveis, vitais ao exercício do comando. Sem elas operando plenas, o comando terá dificuldades em bem reger a orquestra posta a sua disposição. Fica mudo e impotente. A experiência histórica tem demonstrado, em guerras recentes, que exércitos dispondo de bom equipamento, não foram capazes de tirar rendimento satisfatório dos mesmos, por deficiências culturais da tropa.
- O terreno influi diretamente no grau de dificuldade de uma operação, e repercute sensivelmente no Fator Militar. Seus elementos topo-táticos servem para a pesquisa e estudo crítico de uma operação militar. O sucesso da operação está diretamente relacionado a capacidade de superar os obstáculos existentes, a capacidade de utilizar o terreno para ludibriar a percepção inimiga da situação e impor dificuldades a sua manobra e reação.
- As condições meteorológicas como chuva, neve, ventos, nevoeiro, fases da lua, partes do dia, temperaturas, crepúsculo, etc., influem diretamente nas operações e repercutem no Fator Militar, e devem ser consideradas com atenção.
- Os imponderáveis da guerra são circunstâncias imprevisíveis num combate, influindo decisivamente em seus resultados. Um incêndio florestal, condições meteorológicas adversas, uma revolta não esperada de populares, o assédio de criminosos, animais selvagens, um terremoto, etc... podem influir, dependendo das circunstâncias nas operações.
- A incerteza da situação está baseada no fato de que, normalmente, o comandante não dispõe de informações suficientes para lastrear seu Estudo de Situação. As medidas de contra-informação do inimigo restringem a ação de seu setor de informações. Daí decorre o risco calculado. Prejudicar a observância de um princípio de guerra em beneficio de outro. Churchill já afirmava "não se pode conduzir uma guerra na base da certeza". O chefe, nestas ocasiões, procura apoiar-se nos princípios de guerra da Segurança e da Economia de Forças, para precaver-se contra a incerteza.
- A confusão no combate estará sempre presente. Situações não previstas (imponderáveis) podem acontecer pondo abaixo todo um planejamento. O comando e a tropa têm que estar preparados e com as cabeças frias, para exercitarem o espírito da iniciativa, em situações confusas de combate, contornando de forma eficiente os problemas que vierem a aparecer. Um bom método de fazer isto é reunir várias cabeças e pedir para que relacionem tudo aquilo que pode acontecer, elencar as situações mais prováveis ou nocivas e precaver-se contra elas. É na ausência de ordens, que a criatividade e a iniciativa dos comandantes mais capazes podem fazer a diferença.
- Observância dos mandamentos e preceitos da guerra, que fundamentam as decisões de campo é de vital importância ao sucesso operacional que se está buscando. Iniciativa é sempre bem vinda e fará a diferença em qualquer situação, porém deve ser responsável e competente, sem deixar a disciplina de lado.
- O grau de operacionalidade é a capacidade de uma força em aplicar de forma plena seu poder militar. Uma força deverá dispor de comandante e estado-maior conhecedores de seu ofício e se possível experientes, tropa bem adestrada, equipamento moderno e bem manutenido, moral elevado, etc... para bem poder desempenhar suas atribuições. Deverá também saber operar em conjunto com outras forças que se façam presentes.
- O moral é a pré-disposição para lutar. Quanto mais elevado, maior será a qualidade do Fator Militar. É o combatente motivado para a luta. Influem no moral da tropa e por consequência no seu rendimento, fatores como alimentação, notícias do andamento das operações e da segurança de seus familiares, o sentimento da sua importância junto a seus comandantes, estresse a que está submetida, serviço de saúde de que dispõem, perspectiva do desenvolvimento das operações, sentimento em relação a própria segurança, exposição a cenários como de morte intensa, genocídios, amigos e colegas feridos em níveis degradantes, e outros.
- Espírito crítico e criatividade fazem parte do pensamento militar. É o estado de espírito que deve dominar todos os integrantes de uma força. Pensar para rejeitar, modificar, aperfeiçoar, inovar e progredir. A capacidade de criticar sadiamente ideias previamente aceitas, visando a rejeitá-las, ou modificá-las. Todos os conceitos da doutrina militar resultaram do pensamento militar criador. Todas as inovações na doutrina militar foram em determinada ocasião uma ideia revolucionária de um comandante ou pensador militar. Este espírito sempre enfrentará a tradicional resistência à mudanças, constante no meio militar, e deve ser empregado com cautela e conhecimento. Deve-se tomar cuidado para não se ferir a hierarquia e a disciplina, pilares da doutrina militar.
- A tecnologia sempre fará a diferença. A qualidade do Fator Militar depende muito do grau tecnológico dos equipamentos disponíveis, que não deve ser superior a capacidade dos soldados de utilizá-la.
terça-feira, 14 de março de 2023
Sincronização Operacional *028
Sincronização é o arranjo das ações das diversas unidades militares e sistemas operacionais envolvidos em uma operação, no tempo, no espaço e na finalidade, de forma que operem harmonicamente, pois quando uma unidade entrar em ação, todas as outras encarregadas de missões preparatórias para a ações desta já o tenham feito com êxito, de forma a maximizar o poder relativo de combate onde se espera, evitando esperas que muitas vezes podem ser de alto risco. Unidades militares devem operar em sinergia de forma que seu efeito combinado seja maior que a soma do efeito de cada unidade operando isoladamente
Um ataque precedido de uma preparação de artilharia, deve ser coordenado de tal forma que quando aconteça, os fogos de preparação já tenham cessado, caso contrário a tropa amiga poderá ser atingida por eles. Durante a execução destes fogos, as forças manobram pelos flancos e retaguarda a fim de posicionar-se e travar contato assim que o bombardeio cessar; uma força blindada deve chegar ao local de transposição de um curso d'água não antes que a engenharia tenha completado a montagem da ponte, evitando colocar-se em vulnerabilidade, salvo se esta força for designada para prover segurança deste local; um ataque principal deverá iniciar-se momentos após o grosso das forças inimigas dirigirem-se ao local do ataque diversivo; o pouso de aeronaves de assalto em um aeródromo hostil deve ser dar somente após seu domínio estar assegurado. Estes são alguns exemplos da importância da Sincronização Operacional.
A sincronização, que será planejada durante o Processo de Planejamento Militar (PPM), visa determinar em que horário cada ação militar componente deverá se iniciar e ser concluída, de forma que seu objetivo tenha sido alcançado antes que a ação subsequente que depende desta primeira, seja iniciada. As diversas ações componentes poderão ocorrer em locais distantes um do outro, em períodos distintos e executando tarefas das mais diversas, mas seus resultados criarão as condições para que a ação principal seja desencadeada de forma satisfatória e eficaz.
Ações preparatórias podem ocorrer bem antes do momento decisivo, desde que não sacrifiquem o fator surpresa. Ações decisivas devem ocorrer sempre após as ações preparatórias imprescindíveis estarem concluídas. A sincronização requer estreita sintonia entre os comandos dos diversos escalões, e estes devem dominar a inteligência da manobra como um todo, visualizando os efeitos desejados e as condições para obtê-los, demandando quando necessário as ações necessárias não previstas. Sendo vital a maximização do poder de combate, o processo de sincronização deve contar com eficiente exploração dos meios de comunicação, pedra fundamental à aplicação deste conceito.
A estreita coordenação entre várias unidades e atores que participam de uma operação é vital a construção de um processo de sincronização eficaz, porem somente esta coordenação não garante que o processo funcione, sendo necessário que cada comandante visualize o que se espera dele e a importância da sequência das atividades planejadas, onde cada uma contribuirá para o esforço principal, e como poderá ser compensada caso sua execução seja prejudicada pelos imponderáveis da guerra. Os Estados-Maiores são os grandes responsáveis pelos processos de sincronização, sendo importantíssimo que tenham assimilado de forma completa as intenções de seus comandantes. Ensaios são a chave para o êxito das operações sincronizadas. Este processo requer a escolha entre atividades simultâneas e sequênciais. O comandante deve ainda deixar claro ao seu Estado-Maior e comandantes subordinados, quando os efeitos de uma atividade programada são precondição "sine qua non" para a ação subsequente, ou quando são apenas facilitadores. É necessário antecipar eventos e pensar em uma linha do tempo, dominando as relações de tempo e espaço e da interação possível e provável das forças em operação com as do inimigo.
O processo de sincronização demanda um perfeito conhecimento dos efeitos produzidos pelos diversos meios de combate, o conhecimento da relação entre as possibilidades do inimigo e das forças amigas, o domínio perfeito das relações entre o tempo e o espaço, e uma clara unidade de propósito. Por exemplo: não adianta de nada planejar que uma determinada unidade deverá estar na hora H no local L, se este local estiver a uma distância superior a que a unidade pode alcançar naquele tempo determinado; ou que um bombardeio aéreo deverá destruir preventivamente um “bunker” reforçado, se a unidade que o executará não dispuser da munição adequada a penetração deste alvo “endurecido”.
A seguir descrevemos um pequeno exemplo de uma matriz de sincronização.
"Às 0400 horas do dia D a unidade 21 deverá transpor a Rio das Caveiras, porém o rio é largo e profundo e sua ponte foi destruída. Desta forma a Cia de Engenharia de Combate deverá lançar uma ponte de pontões neste rio na rota determinada, cuja montagem deverá estar concluída, e seu uso liberado instantes antes das 0400 horas do dia D. Como o lançamento desta ponte levará 1 hora para ser feito, e a Cia de Engenharia se encontra a 100 km do local, esta deverá iniciar seu deslocamento às 0000 horas do dia D, no máximo, uma vez que o tempo estimado para este deslocamento na via que será utilizada é de 2,5 horas (caso haja a possibilidade de imprevistos durante este deslocamento, antes ainda, conforme avaliação). O Batalhão Logístico em apoio, deverá concluir o abastecimento de combustível das viaturas da Cia de Engenharia antes das 0000 horas do dia D, para que esta possa iniciar seu deslocamento no horário previsto. Como este abastecimento é estimado em cerca de 40 minutos, deverá se iniciado pelo menos 2 horas antes do horário previsto para o deslocamento ou seja, às 2200 horas do dia D-1, no máximo."
Este é um exemplo simplificado de uma matriz de sincronização, que será planejada em um quadro em forma de matriz (linhas e colunas), e a partir da qual serão expedidas as ordens operativas. Os dados de tempo aqui utilizados são totalmente fictícios e uma operação destas demanda um número muito maior de unidades de apoio, porém é o suficiente para ilustrar o conceito.
O objetivo da sincronização é que os meios militares ou não, estejam nos locais e horários que serão demandados, e as condições desejadas destes locais tenham sido alcançadas conforme o planejado, tempestivamente. A sincronização visa a fazer com os objetivos designados às diversas forças componentes sejam cumpridos de maneira satisfatória no momento e no local desejados.
segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023
A Batalha de “Goose Green” - Conflito das Falklands/Malvinas - 1982 * 237
(27/29 Maio 82): A aplicação do
princípio da Massa como fator de desequilíbrio
1° Ten Inf FEDERICO JOSÉ PARODI - República Argentina
A Guerra das Falklands/Malvinas aconteceu entre o dia 02 de
abril e o 14 de junho de 1982, entre as forças da República Argentina contra as
forças britânicas de Sua Majestade, pela posse do território das ilhas
Falklands/Malvinas no Atlântico Sul. Embora o território contestado incluísse,
e ainda inclui todas as ilhas do Atlântico Sul (Falklands/Malvinas, Georgias do
Sul, Sandwich do Sul e Orcadas do Sul) o centro de gravidade da guerra esteve
nas Ilhas Falklands/Malvinas, e mais especificamente na ilha Soledad (ou “East
Falkland”). A batalha de Goose Green é considerada a primeira batalha terrestre
da guerra das Falklands/Malvinas. Embora a batalha tenha acontecido
cronologicamente depois da metade do conflito (a quase 2 meses do início da
guerra que se prolongou por 74 dias), a duração da mesma, a magnitude dos meios
terrestres, aéreos e navais enfrentados e a intensidade dos fogos empregados,
fazem dela a primeira batalha propriamente dita. Assim, os desembarques
argentinos na Ilha Soledad (02 Abr) e na Ilha Georgia do Sul (03 Abr), juntamente
com o desembarque britânico em San Carlos (21 Maio) podem ser considerados
comparativamente combates menores.
Nesta batalha, acontecida entre os dias 27 e 29 de maio de
1982, que é fonte de questionamentos se era realmente uma batalha necessária ou
poderia ter sido evitada, uma força argentina que se encontrava ocupando há um
mês a pequena localidade de Goose Green, no istmo do mesmo nome, foi atacada
por uma força britânica que tinha desembarcado uma semana antes na baia de San
Carlos, 20 km ao NW.
As forças enfrentadas foram um Batalhão de Infantaria Leve (reforçado) na parte argentina defendendo um istmo chamado de “Darwin-Goose Green” contra um Batalhão de Infantaria Paraquedista (reforçado) britânico que atacava. Ante esta aparente paridade de forças surgem numerosas perguntas:
- Foi realmente um batalhão reforçado contra outro?
- Qual foi a chave de vitória britânica?
- Existiam pré-condições que favoreciam aos britânicos?
- As forças argentinas que defendiam o istmo tinham alguma possibilidade de obter a vitória nessas condições?
Um aspecto muito interessante da batalha mas não muito
estudado foi o chamado Combate na colina Darwin. Por muitos é considerado o
ponto de inflexão ou o combate mais difícil. De fato, após os primeiros ataques
britânicos que progrediram com esforço mas sem perder a impulsão inicial, houve
um momento no desenvolvimento da batalha de impasse, um determinado período de
tempo em que o ataque britânico foi detido e nenhuma das forças enfrentadas
conseguia obter vantagem alguma que lhe permita impor sua vontade ao inimigo.
Existe suficiente consenso em que esse momento de equilíbrio aconteceu quando as forças britânicas atingiram os núcleos defensivos argentinos localizados na linha que une a colina “Darwin” com as ruínas chamadas de “Boca House. Isto se deu aproximadamente 4 horas após o início do ataque. Se prolongou por quase 6 horas, desde pouco antes do crepúsculo matutino até aproximadamente o meio-dia do 28 de maio.
- Como conseguiram os britânicos romper essa situação de equilíbrio e continuar com o ataque?
- O que mudou na situação?
- O que tinha detido a progressão do ataque?
- Entre todos os fatores que incidiram no resultado final da batalha de Goose Green, qual foi o que produziu o desequilíbrio a favor das tropas britânicas?”
A batalha aconteceu entre a manhã do 27 de maio em que as
patrulhas de reconhecimento britânicas entraram em contato com as posições
avançadas de combate argentinas e a manhã do 29 de maio de 1982 em que o
comandante das forças argentinas no campo de batalha aceitou a rendição das
tropas frente ao comandante britânico.
A totalidade dos combates se desenvolveram num istmo chamado
“Darwin”, em razão do nome duma das 2 localidades presentes no mesmo. Este
istmo encontrase no centro da ilha “Soledad” e constitui a única comunicação
entre a parte norte da ilha e a parte sul, chamada “Lafônia”. O istmo forma uma
faixa estreita com orientação SW-NE tendo um comprimento de 7 km, uma largura
máxima de 2,3 km e uma largura mínima de 1,3 km. Sendo assim, a batalha
aconteceu numa área aproximada de 16 km2 ou 1.600 hectares. O terreno no istmo
é praticamente plano, com pequenas ondulações que não superam nunca os 45
metros sobre o nível do mar. Como se analisará mais à frente, o principal
acidente capital do istmo era a colina Darwin, que materializou o ponto
decisivo. O solo é mole, elástico e quase permanentemente úmido. Está
atravessado por alguns córregos de pouca profundidade, geralmente transversais
ao istmo. A vegetação é escassa: o solo está coberto de grama, existem algumas
linhas de arbustos e alguma árvore isolada na localidade de Darwin.
As condições meteorológicas durante a batalha não fugiram
das normais para essa época do ano: muito frio, úmido e com escassas horas de
luz (8 hs) devido ao inverno imperante, com a saída do sol as 0900 e o pôr do
sol as 1700. A temperatura média era de 2°C oscilando entre os 10°C ao meio-dia
e os – 7°C com geadas à noite. A alta umidade combinada com as baixas
temperaturas causam chuvas quase diárias e frequentes nevoeiros não só no
nascer e pôr do sol, mas também durante o resto do dia.
Quanto à população civil a área conta com 2 pequenas
localidades: Goose Green e, menor ainda, Darwin. Existem também as ruinas duma
antiga construção argentina do século XIX. A população que mora no lugar soma
um total de 114 “Kelpers”, todos de origem britânica e favoráveis a eles. Em
Darwin fica a residência do administrador da firma “Falklands Islands Company”,
a empresa britânica que é dona e administra a quase totalidade do território e
dos bens das ilhas.
As forças argentinas estavam estruturadas sobre a base do
12° BI que, após ter recebido diferentes reforços, adotou o nome de “Força de
Tarefa Mercedes”. Estava gravemente desfalcados em pessoal e material. Tinha a
menos uma Cia Fuz e careciam quase totalmente de elementos de apoio de fogo
orgânico, de elementos logísticos orgânicos e de rádios. O bloqueio aeronaval
britânico impediu o transporte do batalhão em sua íntegra. Recebeu em reforço
uma companhia da infantaria, uma bateria de artilharia de campanha, um pelotão
de artilharia antiaérea e um Gp de Engenharia. Se encontrava também no centro
do dispositivo pessoal da Força Aérea Argentina mas não estava em reforço nem
em controle operacional. O núcleo da FT foi então o 12° BI e 2 Companhias de
Infantaria (uma delas com um Pel Fuz a menos). Faltava a Cia B que se
encontrava nas proximidades de Porto Stanley, a 80 km. Foi reforçado com a Cia
C/25° sem 1 Pel Fuz e o Pel Ap. Foi também reforçado com o 3° Pel Fuz/C/8° BI.
A FT tinha então 8 Pel Fuz no começo da batalha. O apoio de fogo da FT estava
formado por uma Bia de artilharia de campanha em reforço com 3 obuseiros Otto
Melara 105mm e um Bia AAAé em reforço também com 6 Can de 20mm e 2 Can de 35mm.
Recebeu ainda em reforço um grupo de engenharia com 11 homens, com a dotação
completa. A Companhia de Comando e Apoio do batalhão carecia de todas as armas
pesadas e seus pelotões de Reconhecimento, Antitanque, Morteiros, Comunicações
e Vigilância Terrestre estavam sem seus materiais. Finalmente a FT tinha 202
homens da Força Aérea Argentina que operavam a pista de pouso de Goose Green
chamada de Base Aérea Militar “CÓNDOR” e não integravam a força de tarefa. Esse
pessoal tinha somente pistolas e pistolas-metralhadoras de 9 mm. O comandante
da Base Aérea era mais antigo do que o comandante da força de tarefa e seu
pessoal embora estivesse no campo de batalha, nunca participou da mesma.
Na parte britânica as forças atacantes receberam o nome de
“Grupo 2 Para”, devido ao núcleo da força que era do Batalhão de Infantaria
Paraquedista 2. O batalhão britânico, o famoso “Para 2”, era quaternário, tendo
3 companhias de fuzileiros e uma companhia de reconhecimento e patrulhas a 2
pelotões com 11 pelotões de fuzileiros no total no começo da batalha. Sua
companhia de comando possuía 4 pelotões: comando, comunicações, transporte saúde. Sua companhia de apoio tinha 5
pelotões: anticarro ( 6 Mss AC Milan), morteiros (2 Mrt 81mm), metralhadoras,
engenheiros de assalto e caçadores (6 Cçd). O batalhão tinha sido reforçado com
uma bateria de artilharia de campanha (com 3 obuseiros de 105 mm), um Gp de
defesa antiaérea (Ml Bowie) e um pelotão de engenharia de combate. Além disso,
tinha sob seu controle operacional os seguintes elementos: uma fragata Type 21
(HMS Arrow), um batalhão de helicópteros (17 de transporte e 4 de ataque) e um
esquadrão de aviões de ataque (a 4 caças Harrier GR-3)
O plano de operações do Cmt britânico dividia o ataque em 6
fases onde especificava com alto grau de detalhe os progressos que esperava
para cada uma de suas 4 companhias, e que requeria uma estreita e precisa
coordenação de tempo e espaço entre as peças de manobra. Este plano concebido
pelo TC Jones carecia de simplicidade, flexibilidade e rapidez. Segundo as
palavras do próprio subcomandante da força britânica, o plano de ataque inicial
não facilitava a compreensão por parte dos comandantes subordinados. O plano
inicial também não definia claramente o esforço principal e os esforços
secundários. Assim, o esforço do ataque foi diluído em toda a frente. Foi
previsto iniciar o ataque às 0230 e conquistar a localidade de Goose Green com
o nascer do sol do dia 28 de maio. Desde que o Para 2 ultrapassou a L P Atq às 28
0230 Maio, até que começou o ataque à colina Darwin, as forças britânicas não
tiveram mais problemas no avanço que algumas resistências leves e a
desorientação de algumas frações. Se bem que tinham começado os combates contra
PAC argentinos, em geral estas retraíam sem oferecer uma resistência muito
forte. Porém, com as primeiras luzes do dia, começaram os problemas para o
“Para 2”. Como consequência do nascer do sol, os fogos da defesa argentina
apresentavam-se cada vez mais eficazes sobre as tropas britânicas que não tinham
quase onde abrigar-se. As baixas britânicas começaram a aumentar. Desde o
começo do dia o ataque britânico tinha sido detido na linha Darwin-Boca House (LAADA - Limite Anterior da Área de Defesa Avançada). Aconteceu então que após um contra-ataque argentino
foi morto o Cmt da força britânica, sendo substituído pelo subcomandante, o Mj
Keeble. A mudança na condução do ataque trouxe como consequência a
reorganização das forças e a reorientação dos esforços do ataque. Assim, 2 SU
britânicas concentraram seus esforços sobre o Pel W do LAADA argentina e as
outras 2 SU atacaram simultaneamente o Pel E, entanto os fogos de apoio direto
e indireto, terrestre e aéreo alcançavam a máxima intensidade. Após algumas
horas de intensos combates, os núcleo de contato argentinos foram subjugados
por volta do meio-dia. A partir de então, o ataque britânico foi muito mais
cauteloso, mais metódico e com um ininterrupto apoio de fogo. Os combates
sucederam com muita intensidade e pouca velocidade, até a manhã do dia 29.
Pouco antes do meio-dia e com quase a metade da FT fora de combate o Cmt
argentino decidiu aceitar a rendição. A força britânica conquistava assim as 2
localidades do istmo, quase 30 horas mais tarde do que tinham estimado. A
totalidade dos argentinos foi tornada prisioneiros e os feridos de ambas as
forças foram evacuados e atendidos no hospital de campanha britânico. Argentina
era derrotada na primeira das batalhas terrestres da guerra das Falklands/Malvinas.
Comparação do Poder de Combate
A seguir será exposta a comparação do poder de combate e a
comparação da influência do ambiente operacional para cada força. O poder de
combate será comparado utilizando como fatores de comparação os meios do mesmo
tipo (2° modelo: Poder Relativo de Combate) segundo as funções de combate,
descompostas em suas atividades e tarefas quando for necessário. Os fatores
morais estão incluídos após a função de combate Logística. A influência do
ambiente operacional será comparada fazendo uma descrição por separado das características
do Terreno, das Condições Meteorológicas e das Considerações Civis e de como
era a situação particular de cada força. A ideia desta comparação e
simplesmente evidenciar situações de superioridade e/ou pré-condições
favoráveis às forças, visando à identificação do fator de desequilíbrio na
batalha. É por isso que não estão sendo aplicados coeficientes matemáticos ou
fatores de multiplicação.
A Influência do Poder de Combate
Movimento e Manobra
As forças argentinas possuíam uma ligeira superioridade
numérica (1,29 para 1) ao começo da batalha, com quase 200 elementos a mais que
as forças britânicas. Essa superioridade aumentaria ainda um pouco mais (1,35
para 1) após ter recebido reforços enviados desde porto Argentino durante o dia
28 . Mas esses são efetivos totais presentes na zona de combate, sem
diferenciar entre tropas em condições reais de combater, tropas com funções
auxiliares, logísticas, etc... Portanto, é preciso aprofundar mais para conhecer
as forças realmente enfrentadas. Foram excluídas as tropas argentinas da força
aérea (202) e da marinha (10) que estavam dentro do dispositivo por serem de
natureza não vocacionada para o combate terrestre (mecânicos, técnicos,
tripulação). Os reforços, tanto argentinos como britânicos, também não estão
computados por terem chegado fora de oportunidade e não ter tido possibilidade
de influir no desenvolvimento da batalha. Assim, as forças argentinas tinham a
mesma quantidade de tropas preparadas para o combate terrestre. Existia então
uma paridade numérica em tropas para o combate terrestre. Se aplicarmos o
desdobramento de forças no terreno, ou seja, o dispositivo, vamos ver como a
relação de poder de combate muda. As tropas argentinas, que estavam isoladas,
encontravam-se desdobradas numa defensa circular (360) de forma que os
britânicos poderiam atacar desde qualquer direção. Cobriam um perímetro de 31
km com 8 Pel Fuz. Considerando que esses Pel poderiam “defender” 7,2 km,
“retardar” 12 km e “vigiar” 24 km, conclui-se que se tratava de uma defesa em
larga frente, com amplos setores não vigiados. Desde que o ataque britânico foi
desde a parte norte do istmo, as posições argentinas voltadas para o norte
passaram a constituir-se na frente, enquanto que as outras foram flanco e
retaguarda.
Dispositivo argentino: A defesa argentina tinha 1 Pel Rec
vigiando e uma Cia Fuz (PAC) retardando (em posições não preparadas), 5 e 2,3
km respectivamente, ao norte da primeira linha. Ao começar o ataque britânico o
Pel Rec foi capturado e os PAC retraíram e ocuparam núcleos de ruptura. O
dispositivo ficou com 2 Pel no contato e 4 Pel na ruptura.
Dispositivo britânico: o único escalão de ataque estava
conformado por 4 Cia Fuz somando um total de 11 Pel Fuz (reforçado por 2 Pel
Eng Cmb). Considerando que esse poder de combate foi aplicado nos 1.300m do
setor norte do LAADA argentino, se chega à conclusão que a densidade de tropas
era superior à mínima necessária (poderiam ter coberto até 1.800m). Então as
tropas enfrentadas realmente foram as seguintes: Argentina possuía 6 Pel Fuz
empenhados em primeiro escalão (2 Pel no contato e 4 Pel como reservas
imediatas na ruptura) e os britânicos possuíam 11 Pel Fuz empenhadas num único
escalão de ataque. Evidencia-se então que na primeira linha (a mais
fortificada) argentina, a relação de poder de combate quanto a Pel Fuz foi de
5,5 para 1(11 para 2 Pel Fuz). Outro fator muito interessante na comparação é o
apoio de fogo orgânico. Ambas as forças possuíam metralhadoras MAG de 7,62mm
para o apoio de fogo direto. As tropas britânicas empregaram 56 metralhadoras
MAG no combate enquanto que as argentinas tinham somente 4 metralhadoras MAG. A
relação de apoio de fogo orgânico foi de 14 para 1 a favor dos britânicos com o
consequente efeito sobre as posições defensivas. Quanto à mobilidade e a contra-mobilidade
os britânicos superavam aos argentinos em elementos de engenharia com 4 para 1.
Porém, esses elementos foram utilizados mais para desdobrar minas anti-pessoal
do que para abertura de brechas nos obstáculos defensivos. Esse desdobramento
de minas era realizado após cada ataque para prevenir possíveis contra-ataques
argentinos.
Conclusões Parciais
- Apesar da ligeira superioridade numérica argentina quanto a tropas totais e da paridade numérica quanto a tropas aptas para o combate terrestre, a excessiva dispersão das forças argentinas permitiu aos britânicos concentrar um poder de combate marcadamente superior num setor determinado do dispositivo defensivo. (5,5 para 1).
- Os reforços recebidos por ambas as partes não exerceram influência na batalha por terem chegado fora de oportunidade.
- O poder de fogo das armas de apoio orgânico aplicado pelas forças britânicas foi muito superior ao aplicado pelos argentinos (14 para 1).
- Os britânicos possuíam uma ligeira superioridade de elementos de engenharia de combate (4 para 1), mas essa superioridade não foi decisiva na progressão do ataque por ter sido empregada numa função defensiva.
Evidencia-se na comparação dos meios de apoio de fogo, que
as forças britânicas tinham superioridade tanto nos meios de apoio de fogo
terrestres como também aéreos e navais. As 2 forças enfrentadas fizeram um uso
intensivo de todos os meios de apoio de fogo terrestre disponíveis. Mas em
quase todos os casos a superioridade foi para os britânicos. Uma análise
superficial das armas indiretas indica uma aparente superioridade argentina,
visto que tinham a mesma quantidade de Can 105 mm, de Mrt 81mm que os
britânicos e ainda tinham um morteiro 120mm, meio de que os britânicos careciam.
Mas se se levar em consideração que os britânicos tinham morteiros 60 mm, que
um dos canhões 105 mm e o morteiro pesado argentino não podiam fazer tiro com precisão
e, sobretudo, que os britânicos possuíam o apoio de fogo de uma fragata durante
a noite, se chega à conclusão que a superioridade era claramente dos atacantes.
A intensidade e precisão dos fogos indiretos foi fundamental não só para
perturbar e causar baixas argentinas senão também para manter aos defensores abrigados
em suas posições, facilitando a manobra dos elementos de ataque.
O apoio de fogo direto merece uma análise por separado.
Quanto ao emprego de lança-rojões a superioridade foi claramente britânica (4,4
para 1), apesar do calibre menor de suas armas (Instalaza 88,9mm contra LAW
66mm). Apesar de não ter veículos blindados nem mecanizados em dotação para os argentinos,
o emprego por parte dos britânicos de mísseis anti-carro MILAN contra as
defensas argentinas foi considerado pelos comandantes das companhias atacantes
como fundamental para a conquista das posições. Tanto foi assim que nos futuros
combates da guerra levariam misseis MILAN em todos os escalões de ataque. Outra
menção de destaque merece o emprego dos caçadores pelos britânicos. Se durante
a noite a vantagem no tiro era britânica (por seus meios de visão noturna),
durante o dia a vantagem era para os defensores, favorecidos pelo
aproveitamento do terreno. O emprego de caçadores foi de muita utilidade para o
engajamento de alvos sem expor o caçador ao fogo diurno preciso dos defensores.
Se até agora a superioridade de fogos foi britânica, houve 2 casos em que a
superioridade foi decididamente argentina: metralhadora pesada 12,7 mm e canhão
de 35 mm. Os argentinos conseguiram montar uma metralhadora Browning 12,7 mm
sobre uma viatura JEEP o que proporcionava uma boa base de fogo contra os
atacantes que não tinham esse calibre. E se bem que os 2 canhões Oerlikon de
35mm argentinos eram para a defesa anti-aérea, foram utilizados com muito
sucesso no tiro direto contra alvos terrestres. O fogo desses canhões deteve
numerosas vezes o ataque de 2 companhias britânicas.
Quanto aos meios de apoio de fogo aéreos mais uma vez a
superioridade foi britânica. Eles possuíam helicópteros de ataque (2 Gazelle e
2 Scout) enquanto os argentinos não. Porém, essa vantagem não foi explorada
pelos britânicos pela vulnerabilidade dos helicópteros ao fogo anti-aéreo
argentino. Foram utilizados, contudo, para transporte leve, suprimento e
evacuação de feridos. Um caso distinto foi o emprego de aviões de ataque. Se
bem que quantitativamente os argentinos utilizaram mais aeronaves para o apoio
aéreo aproximado (5 aviões em total contra 4 britânicos), o que fez a diferença
foi a capacidade britânica de controlar e guiar os fogos aéreos por
controladores no solo. De fato, os argentinos careciam totalmente de
controladores aéreos avançados (FAC – forward air control) e, portanto, a possibilidade dos pilotos atingirem alvos terrestres
era muito menor.
Conclusões parciais:
- O volume e a precisão dos fogos indiretos aplicados pelos britânicos conseguiu obter um efeito paralisante nos defensores, dificultando grandemente as reações ofensivas do defensor e desgastando física e moralmente as tropas argentinas. Para isso o apoio de uma fragata acrescentou muito poder de fogo, ainda que só durante a noite.
- O emprego de canhões de 35mm para tiro direto sobre alvos terrestres multiplicou a capacidade de resistência dos defensores, retardando em muito a progressão britânica.
- O emprego de lança-rojões, caçadores e, principalmente, dos mísseis anti-carro MILAN foi fundamental para os atacantes conquistar as posições argentinas mais fortes.
- O apoio de fogo aéreo foi equilibrado quanto ao volume mas foi mais acurado o britânico devido ao emprego de FACs.
Segurança e Proteção
A defensa anti-aérea argentina mostrou uma ligeira
superioridade sobre a britânica. Apesar de não possuir misseis anti-aéreos (os
britânicos tinham Blowpipe), a defesa argentina contava com 2 canhões Oerlikon
de 35mm e 6 canhões Rheinmetall de 20mm com sistema automático de tiro. Isto
dificultou os ataques aéreos britânicos e foi suficiente para dissuadir aos
britânicos de empregar seus helicópteros para o ataque às tropas terrestres,
mas não conseguiu impedir as incursões aéreas dos aviões Harrier. A proteção proporcionada
pelas fortificações no terreno foi muito superior para as forças argentinas que
se encontravam preparando a defesa há quase um mês, enquanto as britânicas só
tentaram aproveitar as escassas cobertas do terreno, sem uma prévia preparação,
comum a uma força atacante.
Se faz necessário observar que o nível alcançado pelas fortificações
argentinas não era proporcional ao tempo disponível para isso, devido ao fato
de que a força-tarefa não contava com seu material de sapa, ainda não
transladado e retido no continente, devido ao bloqueio aeronaval britânico. Só
puderam utilizar 3 pás confiscadas aos civis e alguns objetos improvisados
(tais como capacetes, elementos de rancho, etc...). Por outro lado, nem todas
as tropas argentinas ocupavam posições preparadas e/ou fortificadas. Os PAC ao
norte do istmo tinham recebido a ordem de abandonar suas posições iniciais, já
fortificadas, e fortalecer o dispositivo 3 dias antes do ataque britânico.
Desta forma, quando se iniciou o ataque, os PAC encontravam-se ocupando
posições mais fracas que as iniciais.
Os obstáculos artificiais de proteção foram utilizados por
ambas as forças. Os argentinos tinham preparado faixas de armadilhas explosivas
utilizando bombas aéreas cobrindo grande parte do perímetro defensivo. Os
britânicos, por sua parte, após cada ataque rechaçado pelo defensor, lançavam
minas para prevenir contra-ataques. Contudo, como será explicado mais à frente,
os britânicos conheciam com antecedência os caminhos seguros entre os
obstáculos, relativizando seu valor defensivo.
Quanto à proteção das emissões eletromagnéticas cabe
ressaltar que o 12° BI argentino utilizou para sua comunicação equipamentos de
rádio civis confiscados aos “Kelpers”, sem nenhum sistema de encriptação ou
salto de frequência enquanto os atacantes utilizaram exclusivamente rádios de
uso militar. Já no referido à contra-inteligência, existem 2 aspectos
interessantes: Os britânicos sofreram um vazamento de informação importante de
valor tático ao permitirem que chegasse à emissora de rádio e televisão BBC a
informação da iminência do ataque, que informou abertamente ao mundo da
situação. Desta forma a defensa argentina encontrava-se no máximo grau de
alerta, privando os atacantes do elemento surpresa. O governo argentino tinha
mantido um maior controle da imprensa, mas as forças defensoras em Goose Green
tiveram um controle deficiente da população civil que morava no istmo. Assim,
apesar do estrito controle dos 114 civis na zona de combate, pelo menos 2 civis
conseguiram transmitir informação aos britânicos sobre as forças argentinas e o
sistema defensivo.
Conclusões Parciais:
- A defesa anti-aérea argentina foi ligeiramente superior à britânica, mas nenhuma das forças conseguiu impedir os ataques aéreos inimigos.
- Grande parte das posições defensivas argentinas tinham a vantagem da fortificação do terreno, embora esta tivesse sérias limitações.
- Os obstáculos artificiais instalados por ambas as forças tiveram somente o efeito moral do temor, mais não um efeito físico já que não produziram baixas.
- Ambas as forças sofreram graves falhas na contra-inteligência com importantes efeitos no ataque (perda do elemento surpresa) e na defesa (redução do efeito dos obstáculos).
Na função de combate inteligência, evidenciou-se um dos
maiores desequilíbrios. Pela parte argentina poderia se dizer que a seu maior expertise
era sobre o terreno e as condições meteorológicas locais. Quanto ao
conhecimento das forças inimigas só contavam com 3 fontes de obtenção de
informação: os aviões que atacavam desde o continente, o pelotão reconhecimento
e o radar de aquisição de alvos Skyguard dos Can AAe 20mm.
Os britânicos, por sua parte, contavam com numerosas fontes
de obtenção de informação: uma companhia de reconhecimento, aviões, e dois
radares de aquisição de alvos na fragata “HMS Arrow”. Mas as fontes mais
importantes para os britânicos foram 4 tipos de fontes humanas: um esquadrão de
tropas de operações especiais (Esqd D do SAS) que executou reconhecimento em
força uma semana antes do ataque; o senhor Hardcastle, pessoa mais importante
em Darwin, quem ministrou abundante informação sobre o dispositivo argentino e
os campos minados; o Ten Thurman, oficial não capturado pelos argentinos que
servia em porto Argentino antes da guerra e conhecia perfeitamente a zona de
Darwin; e finalmente os primeiros prisioneiros tomados pelos britânicos quando
capturaram parte do Pel Rec da FT argentina.
Além disso, as tropas argentinas não só não conheciam a
composição do inimigo antes do ataque, como também não conheciam nem a direção
da qual viriam. Foi por causa disso que a defesa, ao invés de estar orientada
para o norte, foi preparada aos 360°, o que rarefez a massificação da tropa
defensora. Isso produziu uma excessiva dispersão dos meios com a consequente
perda do apoio mútuo e um aumento das vulnerabilidades da defesa. Os
britânicos, pelo contrário, conheciam com um alto grau de detalhe a composição
e dispositivo das forças defensoras. Contudo, a inteligência britânica
desconhecia 2 fatores importantes: as reais capacidades de reforço
helitransportado argentino e o estado moral da tropa. Eles achavam que as
tropas iam se render após uma resistência simbólica, causada pelo baixo nível
da moral.
Conclusões Parciais:
- O desconhecimento por parte da força argentina sobre as forças inimigas e, principalmente, de suas linhas de ação impediu a adequada orientação do esforço defensivo e provocou um enfraquecimento do valor defensivo da posição.
- O alto grau de conhecimento por parte da força britânica da organização, dispositivo, atividades e linhas de ação das forças argentinas permitiu-lhes uma adequada preparação da força de ataque e a exploração das fraquezas da defesa.
As capacidades de comando e controle de ambas as forças são
reflexo mais uma vez de uma situação de desequilíbrio.
A capacidade de comando do comandante da FT argentina e dos
comandantes subordinados estava fortemente diminuída pelos seguintes motivos:
Primeiramente não existia unidade de comando, já que dentro do dispositivo
argentino coexistiam 2 forças com diferente subordinação: a FT Mercedes sob o
comando do TC PIAGGI e o pessoal da Força Aérea (202 homens) sob o comando do
vice-comodoro PEDROZO, mais antigo do que PIAGGI e não subordinado à FT
Mercedes, nem sob controle operacional. De fato, no meio do combate, o pessoal da
Força Aérea retraiu abandonando suas posições sem a autorização do comandante
da FT, aumentando as vulnerabilidades já existentes no dispositivo. Outro fator
que enfraqueceu a capacidade de comando, foi a preparação incompleta de quase
25% dos comandantes de pelotão argentinos. Eles eram cadetes de 4° ano da Academia
quando começou a guerra e foram rapidamente promovidos à hierarquia de
Aspirante a Oficial (“Subteniente”). Finalmente outro fator negativo foi e
fraca integração e conhecimento entre muitos oficiais e a tropa. De fato, muitos
oficiais argentinos (o comandante de FT incluído) tinham recebido o comando de
sua fração/organização há 3 meses. Outros nem pertenciam a OM e conheceram seus
homens só no campo de batalha. O controle estava igualmente afetado pela
dispersão das tropas, a falta de meios de visão noturna e ao fraco sistema de
comunicação. Efetivamente, o comandante não conseguia ter observação direta
mais que durante o dia e só de alguns núcleos da ruptura. O controle era ainda
mais difícil pela grande escassez de equipamentos de rádio. Só existia uma
rádio HF para a comunicação com o escalão superior com alcance até Port Stanley
e só 3 rádios VHF para a comunicação com os elementos subordinados. Algumas
posições defensivas estavam ligadas com sistema fio, mas isso foi limitado às
posições mais próximas ao QG local (posto de comando principal). A excessiva
dispersão das tropas dificultava o controle do comandante através de influência
presencial.
Na parte britânica, pelo contrário, existia a unidade de
comando, a integração e conhecimento entre os comandantes e a tropas era muito
boa, e a preparação dos comandantes de pelotão completa e equalizada. A
capacidade de controle estava favorecida por um eficiente sistema de
comunicações radio, (com rádios até nível pelotão inclusive) e um adequado
nível de capacidade de visão noturna.
Conclusões Parciais:
- A falta de unidade de comando, de comunicações eficientes dentro da FT argentina junto às limitações na observação diurna e noturna do campo de batalha e na integração das frações limitou grandemente a consciência situacional do Cmt FT e dificultaram gravemente sua capacidade para o comando e controle (C2).
- O sistema de comunicações britânico era muito eficiente, o que somado a uma adequada capacidade de visão noturna, à boa integração das frações e a unidade de comando facilitaram a formação da consciência situacional do comandante e o comando e controle das frações.
Entre os fatores que foram determinantes do nível de apoio
logístico que receberam as forças, destacamos 2 deles. Primeiramente, o estado
logístico de pessoal e material de que dispunham as unidades previamente a
início dos engajamentos. Em segundo lugar a capacidade do escalão superior em
prover este apoio durante a batalha. O estado de pessoal e material das tropas
britânicas antes da batalha era em geral muito bom. É interessante destacar que
as tropas enviadas tinham recebido, já desde a partida da Europa, todo tipo de
apoio necessário, haja vista a quase impossibilidade de prestar um apoio
logístico continuado, uma vez as tropas e a frota estiverem próximos as Ilhas Falklands/Malvinas.
Partiram então com um nível de suprimento e manutenção excelente. Porém, entre
os dias 21 e 25 de maio, a Fuerza Aérea Argentina atacou os navios ali
presentes, causando-lhes muito dano e afundando a principal unidade de
transporte logístico: o Atlantic Conveyor. A perda que mais sentiram as forças
britânicas foi a de 3 helicópteros de transporte pesado CH-47 Chinook, embarcados
nesse navio logístico. Apesar destas perdas, a logística das tropas não foi tão
gravemente afetada. O apoio logístico durante a batalha manteve-se apesar das
dificuldades.
Os trens logísticos britânicos estavam organizados da
seguinte maneira: A AT Cmb (área de trens de combate) estava desdobrada a menos
de 4 km dos elementos do 1° escalão e a ATE (área de trens de estacionamento)
estava desdobrada junto com a BLB (base logística da brigada) em Baia Ajax, a
19 km da AT Cmb. Como o terreno impedia o transporte logístico terrestre, não
existia uma EPS (estrada principal de suprimento) E Sup Ev (estrada de
suprimento e evacuação). O suprimento e evacuação se realizavam em linha reta
desde a BLB até a AT Cmb por meio aéreo com os 21 helicópteros em apoio. Desses
helicópteros 4 (Sea King) estavam equipados para voo noturno, mantendo o fluxo
logístico mesmo durante a noite. A continuidade no suprimento foi especialmente
importante porque conseguiu manter o remuniciamento no nível que o alto consumo
do ataque exigia, especialmente das 56 metralhadoras MAG.
Pela parte argentina, antes da batalha, a situação logística
geral do pessoal era regular e o do material era ruim. Isto era consequência de
2 fatos. Primeiramente é preciso relembrar que o bloqueio aeronaval imposto
pelos britânicos impediu aos argentinos o transporte de quase a totalidade do
material pesado (logístico e armamento) que ficou no continente. Por outra
parte, a FT se encontrava totalmente isolada, ocupando uma posição defensiva
aos 360°, afastada de toda tropa ou meio logístico argentino. Os escassos meios
logísticos argentinos estavam reunidos numa ATU (área de trens da unidade) na
localidade de Goose Green, no centro do dispositivo defensivo. A falta de
material e instalações era tal, que os trens logísticos da força-tarefa
MERCEDES apenas mereciam esse nome. Por exemplo, contavam com somente uma
cozinha de campanha para os quase 1000 homens. Só para ilustrar a grave
situação logística, basta mencionar 2 fatos: nos dias prévios à batalha a
alimentação das tropas tinha sido reduzida a uma ração por dia produzindo casos
de desnutrição entre os homens desdobrados nos PAC. A evacuação dos feridos
foi outra grave deficiência argentina. Tanto assim que os feridos argentinos
mais graves eram atendidos pelos britânicos que tinham maior capacidade de
evacuação aérea e o hospital de campanha mais próximo. Uma vez iniciada a
batalha, o apoio logístico argentino foi ainda mais limitado. A BLB, que
contava com todos os meios para manter logisticamente à FT, se encontrava a 80
km por ar. Como o transporte terrestre era impossível, e os escassos
helicópteros argentinos eram altamente vulneráveis aos ataques britânicos
durante o dia e não tinham meios de visão noturna para voar durante a noite, a
BLB só conseguiu fazer chegar alguns reforços e evacuar feridos em 2
oportunidades. A FT dependia então das escassas capacidades logísticas que
tinha a FT em Goose Green.
Mas nem tudo favoreceu à logística britânica. Assim, o
serviço de assistência religiosa argentino era muito bom contribuindo a manter
alta a moral das tropas. Os britânicos careciam do apoio espiritual de
sacerdotes. A evacuação terrestre dos feridos era mais rápida para os
argentinos devido a que o posto socorro estava mais perto da primeira linha que
o posto socorro britânico. Quanto ao recompletamento, dos efetivos a situação
era equilibrada: as forças argentinas tinham maior quantidade de tropas para
recompletamento enquanto que as britânicas tinham-nas mais próximas. Contudo,
os reforços recebidos por ambas as forças não chegaram em tempo de influenciar
no resultado da batalha.
Conclusões Parciais:
- O estado geral do suprimento e manutenção das forças britânicas permitiu que as tropas estivessem num ótimo estado psicofísico no momento do combate.
- O alto estado de manutenção da moral das tropas britânicas permitiu-lhes manter a impulsão do ataque durante 2 dias.A grande disponibilidade de helicópteros e a vizinhança da BLB permitiu às forças britânicas manter o fluxo logístico continuo, principalmente quanto a suprimento de munição e evacuação de feridos, tanto durante o dia quanto durante a noite.
- O estado geral de suprimento das tropas argentinas afetou fisicamente às tropas desgastando-as mais do que o normal já antes do combate.
- O alto estado de manutenção da moral das tropas argentinas permitiu-lhes resistir os sucessivos ataques britânicos em condições de marcada inferioridade e, inclusive, executar contra-ataques.
- A escassez de helicópteros e o afastamento da BLB quase impediu o fluxo logístico entre a BLB e os trens da FT argentina, deixando-a numa situação de isolamento quase total.
Fatores Morais
Por serem os fatores morais de difícil mensuração, os
resultados acima mostrados têm um valor somente indicativo. Porém, consideramos
esses resultados suficientes para assinalar qual força estava numa situação de
superioridade ou apresentava uma vantagem considerável. No que se refere aos
comandantes das forças, destaca-se pelo menos 3 situações nas que se evidencia
uma superioridade britânica: A maioria dos Cmt britânicos tinham uma maior
integração e conhecimento com seus subordinados, alguns deles tinham
experiência em combate e, ainda, a formação profissional dos oficiais
britânicos era, em geral, mais completa que a dos oficiais argentinos
(considerando que 8 dos oficiais argentinos eram cadetes de 4° ano da academia
militar quando foram enviados para as Falklands/Malvinas). A situação das
tropas era em geral bastante equilibrada quando ao valor demostrado e a experiência
em combate. Porém, houve um fator onde a superioridade dos soldados britânicos
é indiscutível: seus soldados cumpriam com o serviço militar voluntário, eram,
portanto, profissionais com muitos anos de experiência em alguns casos (desde 2
até 8 anos de experiência). Os soldados argentinos cumpriam com o serviço
militar obrigatório e, sendo da classe do 1964, tinham somente 2 meses e meio
de instrução militar.
Conclusões Parciais:
- O valor demostrado por ambas as forças foi muito alto e reflexo duma alta motivação das tropas por parte dos seus comandantes.
- A capacitação profissional das forças britânicas era superior às argentinas. Levemente superior quanto aos oficiais, mas muito superior quanto aos soldados.
Como é o defensor quem escolhe o terreno a ser defendido, a
batalha de Goose Green não fugiu da regra e o terreno favoreceu majoritariamente
às forças argentinas. O conhecimento prévio do terreno somado à fortificação do
mesmo fez que as tropas argentinas tirassem grande vantagem em muitos casos.
Apesar do terreno ser praticamente plano, o controle das escassas elevações que
dominavam os acessos ao istmo proporcionou-lhes uma importante vantagem. Essas
pequenas alturas permitiam uma boa observação e campos de tiro contra as forças
que atacavam por um terreno plano e sem cobertas e abrigos. O principal
acidente capital que favoreceu aos argentinos foram a linha de alturas da linha
Darwin-Boca House (onde estavam apoiados os núcleos defensivos do contato).
Pela parte britânica o principal acidente capital foi a
colina NO de Camila Creek (onde estavam posicionadas as principais armas de
apoio de fogo). É importante remarcar que as vantagens que o terreno dava ao
defensor eram principalmente durante o dia e só nos momentos sem chuvas ou
nevoeiros, que não eram muitos. Durante a noite a vantagem era para os
britânicos e durante as horas de nevoeiro a situação era equilibrada.
Conclusões Parciais:
- Durante o dia o terreno favoreceu principalmente aos argentinos que o defendiam. Senão tiraram maior vantagem dele foi por uma excessiva dispersão do dispositivo.
- Durante a noite e os períodos de visibilidade reduzida o valor defensivo do terreno era relativo e os britânicos tiravam vantagem de seus meios de visão noturna.
As condições meteorológicas afetaram tanto às tropas quanto
ao material e armamento. Porém, os efeitos não foram sempre os mesmos para
ambas as forças. A natureza do solo a causa das frequentes chuvas restringia a
velocidade de deslocamento das tropas. Mas as tropas argentinas tinham
reconhecido os locais de mais fácil transitabilidade o que era uma vantagem
frente aos britânicos cujo conhecimento do terreno era muito menor. Como se
percebe no quadro acima a visibilidade era em geral muito reduzida durante o
dia para ambas as forças. Já durante a noite a vantagem era para os atacantes
que possuíam óculos de visão noturna até nível comandante de pelotão. Um último
aspeto onde se evidenciou uma situação desfavorável para os argentinos foi que
estes tinham passado um mês expostos às inclemências do clima, principalmente
do frio, a chuva e a umidade, enquanto as tropas britânicas estiveram abrigadas
nos navios até 1 semana antes da batalha. O desgaste das condições meteorológicas
foi então maior nas tropas argentinas.
Conclusões Parciais:
- A má transitabilidade do solo afetou mais as forças britânicas do que as argentinas.
- A visibilidade noturna e os efeitos das condições meteorológicas sobre o pessoal foram piores para os argentinos.
As Considerações Civis
A existência de 2 localidades dentro da área da batalha foi
um fator determinante que influenciou às 2 forças de diferente maneira. A posse
pelas tropas argentinas das 2 localidades junto ao controle das estruturas e
suas capacidades e serviços básicos possibilitou-lhes melhorar um pouco as
condições de vida das tropas. A pista de pouso dentro do istmo não foi
utilizada durante a batalha devido à vulnerabilidade aos ataques aéreos e da
artilharia. Alguns equipamentos foram confiscados aos civis como, por exemplo,
algumas caminhonetes Jeep, um trator e alguns equipamentos de rádio. Apesar do
controle da população e do confisco de alguns bens, os kelpers foram tratados
com muito respeito e consideração. A população, pelo contrário, exerceu um efeito
negativo sobre a condução das operações argentinas. Se bem que os 114 civis que
moravam na área não ofereceram nenhum tipo de resistência à ocupação argentina,
a sua lealdade era para os britânicos. Por isso, em repetidas oportunidades as
tropas argentinas surpreendiam aos civis “Kelpers” se comunicando por rádio com
as tropas britânicas transmitindo-lhes informação sobre a defesa argentina. As
tropas britânicas, entretanto, não puderam tirar proveito das facilidades,
principalmente logísticas, das localidades, mas obtiveram da população local
uma excelente fonte de obtenção de informação que lhes forneceu dados tão
importantes como, por exemplo, a localização e distribuição dos campos minados
e armadilhados da defesa. A presença da população civil dentro do dispositivo
argentino foi utilizada pelo comandante das forças britânicas como fator de
pressão moral sobre o comandante argentino. Assim, o Maior Keeble ameaçou ao TC
Piaggi com aniquilar à população mediante um bombardeio massivo se as tropas
argentinas não aceitavam a rendição, fazendo cair a culpa sobre o comandante
argentino. (É interessante destacar que isso não era só uma ameaça, já que o
Maior Keeble tinha recebido autorização para executar esse bombardeio).
Conclusões Parciais:
- O controle das estruturas e serviços das localidades de Darwin e Goose Green permitiu melhorar o bem-estar das tropas argentinas e compensar em parte algumas deficiências como a das comunicações.
- A população não ofereceu nenhum tipo de resistência armada frente à presença e controle das tropas argentinas.
- A população filtrou informação de valor tático aos britânicos favorecendo o planejamento e execução do ataque.
Identificação dos Fatores que Influíram no Resultado da Batalha
Foram excluídos aqueles fatores cuja análise evidenciou uma
situação de equilíbrio o de superioridade tão leve que não outorgou vantagens significativas
a nenhuma das forças.
Dispersão do Dispositivo Defensivo: A excessiva dispersão do
dispositivo argentino (alcançando um perímetro de até 31 km) impediu a
concentração de efetivos e meios no local decisivo e dificultou a aplicação do
princípio da massa, diminuindo o valor da defesa.
Superioridade Numérica Local: As forças britânicas
direcionaram seu ataque sobre um estreito setor do dispositivo defensivo (1,3
km) alcançando um poder relativo de combate (peças de manobra) de 5,5 para 1 no
LAADA argentino. Materializou a aplicação do princípio da massa em termos de
concentração de forças (peças de manobra) no ponto decisivo (colina de Darwin).
Forte Apoio de Fogos Orgânicos: A organização e equipamento
da força atacante priorizou um grande poder de fogo de metralhadoras medianas
(56 Mtr MAG 7,62mm) para apoiar a manobra dos pelotões, chegando a uma relação
de poder de fogos diretos de 14 metralhadoras por cada metralhadora argentina.
Materializou a aplicação do princípio da massa em termos de concentração de
fogos no ponto decisivo (colina de Darwin).
Forte Apoio de Fogos Indiretos: O fogo dos canhões
britânicos, acrescentados pelo apoio duma fragata durante a noite, conseguiu,
por seu volume e precisão, efeitos não só de inquietação, mas também de
neutralização e destruição.
Utilização de canhões Antiaéreos sobre alvos terrestres: O
emprego de canhões de 35mm para tiro direto sobre alvos terrestres multiplicou
a capacidade de resistência dos defensores, demorando muito a progressão
britânica.
Fogos anti-carro e emprego de caçadores: O emprego de
lança-rojões, caçadores e principalmente, dos mísseis anti-carro MILAN foi
fundamental para os atacantes conquistar as posições argentinas mais fortes.
Controladores de Fogo Aéreo (FACs): O apoio de fogo aéreo
foi equilibrado quanto ao volume, mas foi mais acurado o britânico devido ao
emprego de controladores de fogo desde terra.
Defesa antiaérea argentina: A defesa antiaérea argentina foi
ligeiramente superior à britânica e, embora não conseguiu impedir as incursões
aéreas, limitou o emprego dos aviões de ataque.
Fortificações do Terreno: Os trabalhos de OT (organização do
terreno) das posições defensivas, mesmo se não eram os ideais, acrescentaram
muito o valor defensivo das mesmas.
Detalhada Inteligência Britânica: O alto grau de
conhecimento por parte da força britânica da organização, dispositivo,
atividades e linhas de ação das forças argentinas permitiu-lhes uma adequada
preparação da força de ataque e a exploração das fraquezas da defensa.
Fraca Inteligência Argentina: O desconhecimento por parte da
força argentina das forças inimigas e, principalmente, de suas linhas de ação
impediu a adequada orientação do esforço defensivo e provocou um
enfraquecimento do valor defensivo da posição.
Falhas na Contra-inteligência: Ambas as forças sofreram
graves falhas na contra-inteligência com importantes efeitos no ataque (perda do
elemento surpresa) e na defensa (redução do efeito dos obstáculos minados).
Fraco sistema de C3 argentino: A falta de unidade de comando
e de comunicações eficientes dentro da FT argentina, junto às limitações na
observação diurna e noturna do campo de batalha e na integração das frações,
limitou grandemente a consciência situacional do Cmt FT e dificultaram
gravemente sua capacidade para o C2 .
Helicópteros britânicos: A grande disponibilidade de
helicópteros e a vizinhança da BLB permitiu às forças britânicas manter o fluxo
logístico continuo, principalmente quanto a suprimento de munição e evacuação
de feridos, tanto durante o dia quanto durante a noite.
Deficiência logística argentina: As limitações logísticas
afetaram seriamente as capacidades da defesa argentina. A escassez de
helicópteros e o afastamento da BLB quase impediu o fluxo logístico entre a BLB
e os trens da FT argentina, deixando-a numa situação de isolamento quase total.
Estado moral das tropas: O alto estado de manutenção da
moral das tropas argentinas permitiu-lhes resistir os sucessivos ataques
britânicos em condições de marcada inferioridade e, inclusive, executar
contra-ataques. A moral das tropas britânicas era igualmente alta, mantendo a
impulsão do ataque por 2 dias.
Nível de profissionalismo: A capacitação profissional das
forças britânicas era superior às argentinas. Levemente superior quanto aos
oficiais, mas muito superior quanto aos soldados.
Controle dos acidentes capitais: O terreno favoreceu
principalmente aos argentinos que o defendiam e controlavam os acidentes
capitais com dominância às vias de acesso das forças britânicas.
Visão Noturna: Durante a noite os britânicos tiravam
vantagem de seus meios de visão noturna diminuindo o valor defensivo das
posições argentinas.
Desgaste Psicofísico prematuro: A longa exposição (1 mês)
das tropas argentinas às inclemências do clima sem abrigos adequados afetou sua
capacidade de resistência produzindo um desgaste psicofísico prematuro nas
tropas.
Controle das Localidades: O controle das estruturas e
serviços das localidades de Darwin e Goose Green permitiu melhorar o bem-estar
das tropas argentinas e compensar parcialmente algumas deficiências como a das
comunicações.
População “Kelper”: A população filtrou informação de valor
tático aos britânicos favorecendo o planejamento e execução do ataque.
CONCLUSÕES
Fatores Decisivos
Consequência da falta de informação das possibilidades do
inimigo, a excessiva dispersão do dispositivo impediu oferecer uma defesa mais
forte e profunda na direção do ataque britânico. Diminuiu a flexibilidade da
força defensora ao deixar só uma reserva fraca. A falta de unidade de comando,
de comunicações eficientes dentro da FT argentina junto às limitações na
observação diurna e noturna do campo de batalha e não integração das frações
limitou grandemente a consciência situacional do Cmt FT e dificultaram
gravemente sua capacidade para o C2 . Esta grande vulnerabilidade impediu a
transmissão oportuna das ordens, o emprego eficiente da reserva e deixou a
condução das ações livrada ao critério dos comandantes de companhia e pelotão. Os
britânicos aplicaram o princípio da massa não somente concentrando forças num
espaço e momento reduzidos, mas também concentrando fogos sobre as tropas
argentinas: fogos de artilharia, de morteiros, de metralhadoras, lança-rojões e
granadas de fuzil. E todo em quantidades proporcionalmente muito maiores às
normais para um batalhão. O volume e precisão dos fogos contribuíram
diretamente com a conquista das posições defensivas.
Seleção do fator de Desequilíbrio
Antes de falar do fator de desequilíbrio é interessante
relembrar que quando o sol nasceu na manhã do 28 de maio, após a primeira noite
de combate, o ataque britânico que vinha progredindo segundo o planejado, foi
detido frente a línea de contato. Assim ficou durante 6 horas executando
sucessivos ataques sem conseguir a conquista das posições. Mas foi após a morte
do Cmt e a assunção do comando pelo 2° Cmt que o ataque britânico venceu a
resistência argentina conquistando o acidente capital da colina Darwin. Mais
uma vez, Como conseguiram os britânicos romper essa situação de equilíbrio e
continuar com o ataque? O que mudou na situação? E por fim, “Entre todos os
fatores que incidiram no resultado final da batalha, qual foi o que produziu o
desequilíbrio a favor das tropas britânicas?”
Dentre todos os fatores analisados, identificamos como fator
de desequilíbrio a aplicação do princípio da massa, seja de forças como de
fogos. Este princípio foi aplicado na concentração de forças quando, após a
morte do Cmt britânico, a intensidade da aplicação do poder de combate mudou.
De fato, inicialmente as 4 companhias de fuzileiros paraquedistas atacavam a
linha de contato argentina com a mesma intensidade em toda a frente. Mas após
assunção do comando pelo Mj Keeble, 2° Cmt, duas companhias (Cia A e Cia C(-))
passaram a atacar à posição argentina na colina Darwin (E) e as outras duas
(Cia B e Cia D) se concentraram sobre a posição argentina em Boca House (W).
Assim a relação de poder de combate local foi de 5 para 1 e de 6 para 1
respectivamente.
Foi aplicado também na concentração de fogos mediante a
execução de fogos simultâneos sobre os 2 pelotões argentinos de contato. Esses
fogos reuniram fogos de artilharia de campanha, artilharia naval, aviões de
ataque, morteiros médios e as armas de tiro direto do batalhão paraquedista.
Particular atenção merece o emprego das armas de fogo direto: metralhadoras,
misseis MILAN e caçadores. Os britânicos empregaram 56 metralhadoras MAG 7,62mm
no ataque às posições, mais de 2 vezes a quantidade normal de um batalhão.
Dessa forma alcançaram uma superioridade de 14 para 1. Quanto aos misseis MILAN,
apesar deles serem armas anti-carro, foram utilizadas com muito êxito para
conquistar as 39 posições fortificadas argentinas. De grande importância foi
também o emprego dos caçadores para engajar alvos importantes com fogo de
precisão a longa distância. À luz do anteriormente analisado afirmamos que a
aplicação do Princípio da Massa no momento e lugar decisivo foi o fator que
conseguiu quebrar a situação de equilíbrio, penetrar o dispositivo defensivo
argentino, continuar o ataque e decidir o resultado final da batalha.