A palavra míssil vem do latim “missilis”, que é uma forma do verbo
“mittere” que significa atirar. Em termos gerais esta palavra descreve um objeto
que cumpre um trajetória em direção a um alvo. No entanto não designamos projéteis
de armas de fogo ou obuses de artilharia como sendo mísseis, e alguns autores
tendem a classificar os foguetes, que são projéteis sem guiagem orgânica nesta
classificação.
Eu classifico como míssil a todo projétil não tripulado, dotado de
algum tipo de guiagem e propulsão orgânica, propulsão esta que pode ser
acionada por toda a sua trajetória ou em parte dela, e destina-se a transportar
uma ogiva militar até o seu alvo. Saliento ainda que este projétil deverá
ser destruído quando da detonação de sua ogiva, pois caso contrário ele
deixaria de seu um míssil e sim um vetor, tal qual uma aeronave de bombardeio ou um UAV. Os torpedos navais se encaixam nesta descrição, porém são conhecidos apenas como torpedos e não como mísseis, talvez pelo seu deslocamento submerso e sua baixíssima velocidade determinada pelo meio aquático. Podemos dizer que todos os mísseis são UAVs, mas nem todos os UAVs são mísseis.
Um míssil possui como características àquelas adequadas a sua missão, pois existem mísseis destinados a diferentes tipos de emprego. Existem modelos que podem ser lançados do ombro de um soldado e pesam pouco quilogramas como os do tipo MANPADS, aqui exemplificados pelo IGLA russo ou o Stinger dos EUA; e os gigantescos mísseis balísticos intercontinentais (ICBMs) que podem pesar dezenas de toneladas e atingirem alvos a milhares de quilômetros. Seja qual for seu tipo, para ser um míssil ele deve se enquadrar na descrição feita.
Como características gerais podemos dizer que os mísseis são projéteis de baixa aceleração quando comparados aos projéteis de armas de fogo, podendo no entanto alcançar velocidades altíssimas como no caso dos balísticos que chegam a deixar a baixa atmosfera de atingir até 20 vezes a velocidade do som. mesmo atingindo estas velocidades eles a alcançam algum tempo depois do lançamento e seus primeiros momentos de trajetória se dão a baixa velocidade. Existem ainda modelos com trajetória de baixa altitude de cruzeiro e velocidade supersônica como alguns destinados a atingir navios, aqui exemplificados pelo Brahmos indiano e o russo Moskit. A velocidade de cada tipo de míssil pode variar muito e é mais adequado a consulta cada modelo especificamente.
Eles podem ser manobráveis como àqueles cuja função é a de perseguir aeronaves (AAM) e podem fazer curvas de até 100 Gs como o modelo A-Darter da África do Sul/Brasil e outros que seguem trajetórias rígidas como os balísticos. Podem atingir seus alvos a 3 ou 4 quilômetros como os mísseis anticarro (ATGWs) ou centenas como os mísseis de cruzeiro, ou ainda milhares como os balísticos. Podem ainda contar com mais de um sistema de guiagem, variam muito em complexidade e preço final, dependendo do modelo e do tipo. Alguns podem receber correções de curso (teleguiados) ou orientarem-se totalmente por conta própria (fire-and-forget - dispare e esqueça).
O combate moderno vale-se cada vez mais da informação a fim de endereçar ogivas menores até seus alvos, através de disparos precisos com sensíveis reduções de custo global dos equipamentos e redução dos efeitos colaterais dos impactos. Mesmo com um aumento progressivo ao longo do tempo do equipamento em si, através do aumento de sua sofisticação, os custos globais tendem a reduzir-se pela eliminação do desperdício. Um caça moderno com uma bomba inteligente alcança resultados superiores que toda uma leva de bombardeiros da II Guerra Mundial despejando toneladas de bombas com total imprecisão. É neste cenário que o míssil com toda a seu leque de aplicações constitui atualmente a arma por excelência, a mais evoluída e adaptada.
Não significa no entanto que seja a única ou que venha a tornar as outras obsoletas. Pode ser utilizado vantajosamente em qualquer uma das plataformas existentes: navios de superfície, submarinos, aviões, helicópteros, carros blindados; mas também pode ser utilizado autonomamente, no nível tático e no estratégico.
O futuro reserva um lugar de destaque às armas de energia dirigida, em especial aquelas que utilizam a radiação laser, provavelmente empregadas em algumas aplicações e situações onde os mísseis são atualmente utilizados, mas o míssil continuará a existir, até como eventual portador do próprio laser.
O míssil pode ser usado autonomamente para substituir aviões ou navios, mas seu emprego é mais complementar. Contudo nenhuma plataforma pode prescindir de sua utilização. Um fator favorável ao emprego do míssil é que o seu custo é sempre muito inferior ao da plataforma que ele pode destruir, com probabilidades de êxito maiores devido a sua velocidade muito superior à de qualquer uma dessas plataformas, além de que os sistemas antimíssil nunca são 100% eficazes.
O míssil pode ser utilizado tanto em estratégias ofensivas e defensivas, mas constitui, para quem o adaptar a uma estratégia predominantemente defensiva e dissuasiva, uma solução mais barata do que a utilização de grandes plataformas de sistemas de armas. O míssil é fundamentalmente uma arma de ataque, embora possa ser utilizado vantajosamente por quem se defende.
É uma arma de ataque porque se destina a atacar os grandes sistemas de armas, centros de comunicações, infra-estruturas militares como aeródromos e outros objetivos importantes. O míssil, no estado atual de sua tecnologia, tem vantagem em relação aos alvos que ataca, porque a sua velocidade é sempre superior. Estes alvos tentam defender-se utilizando contramedidas, procurando enganar o míssil, atacando-o com mísseis antimísseis ou, na fase final de aproximação com grande concentração de armas de energia cinética. Contudo essas armas antimísseis têm velocidades que, embora possam ser superiores, são da mesma ordem de grandeza da velocidade dos mísseis.
Mesmo que o sistema antimíssil seja eficiente, alguns mísseis passam. Enquanto não se evoluir para um sistema de defesa antimíssil, com velocidades muito superiores à velocidade do míssil, nunca se poderá ter a garantia de 100% de eficácia. Isso só poderá vir a acontecer com armas de energia dirigida (laser) e canhão de partículas, tal como se vê na Iniciativa de Defesa Estratégica, mas teremos, contudo, de esperar ainda algumas décadas.
Daqui se pode concluir que o emprego de mísseis em combate tem vindo a acentuar-se, enquanto diminui o número das grandes plataformas de sistemas de armas.
- Mísseis de emprego estratégico
- mísseis balísticos intercontinentais (ICBMs)
- mísseis balísticos de alcance intermediário (IRBMs)
- mísseis balísticos de curto alcance (de teatro ou táticos)
- mísseis balísticos lançados de submarinos (SLBMs)
- mísseis de cruzeiro (mísseis "cruise")
- mísseis antimísseis balísticos (ABMs)
- mísseis antissatélites (ASAT)
- Mísseis de emprego tático
- mísseis anticarro (ATGWs)
- mísseis anti-avião lançado do ar (míssil ar-ar - AAM)
- mísseis anti-avião lançado da superfície (SAM)
- mísseis antinavio (AShM)
- mísseis antiradar (ARMs)
- mísseis antimísseis
- mísseis ar-superfície (ASMs)*
- mísseis guiados por fibra ótica (FOG)**
* estes tipo pode envolver mais de um emprego e denota seu lançamento a partir de aeronave. Um ARM pode ser um ASM.
** neste caso é um míssil caracterizado por seu sistema de guiagem que lhe confere características táticas singulares.
Míssil lançado de uma aeronave com o objetivo de abater outra aeronave. São classificados como "de alcance visual" (WVR) para alcances de até 32 km, usam geralmente orientação por infravermelho e são chamados de mísseis "seguidores de calor", podendo no entanto usarem a guiagem por radar; e "além do alcance visual" (BVR), geralmente contam com algum tipo de orientação radar, inercial e atualizações de meio-curso.
Míssil destinado a atingir navios. Podem ser lançados de aeronaves de asa fixa e helicópteros, bases terrestres, outros navios e submarinos. Geralmente são subsônicos e voam rente a superfície do mar (Sea Skimmer), orientados por guias inerciais combinadas com radares de orientação final. Uma nova geração de mísseis supersônicos está saindo do forno. Podem ser detidos por medidas ativas de guerra eletrônica como chaffs e flares, míssseis antimísseis ou canhões de tiro rápido endereçados por radar. Uma maneira de emprego destes mísseis é o ataque de saturação, onde vários deles são lançados ao mesmo tempo contra alvos de alto valor (porta-aviões por exemplo) saturando as defesas e permitindo que pelo menos um deles atinja o alvo.
Míssil guiado de forma passiva a partir da radiação emitida pelos radares-alvo. É usado na missão de supressão de defesas a fim de neutralizar radares-guia de armas antiaéreas, sendo lançado de aeronaves que voam a frente de uma força de ataque.
Míssil de trajetória pré-determinada, que não pode ser significativamente alterada após seu lançamento, pois obedece às leis da balística. É comumente usado para atingir grandes distâncias e nos modelos de maior alcance atinge as camadas mais altas da atmosfera, realizando voos sub-orbitais. Devido ao caráter estratégico de seu emprego, normalmente transportam ogivas nucleares. São usados contras grandes alvos, como cidades, instalações estratégicas, grandes concentrações de tropas e frotas navais.
São comumente lançados de submarinos (SLBM), silos terrestres, plataformas ferroviárias e rodoviárias. São classificado em:
- Míssil balístico de curto alcance (SRBM): Alcance inferior a 1.000 km
- Míssil balístico de médio alcance (MRBM): alcance entre 1.000 e 2.500 km
- Míssil balístico de alcance intermediário (IRBM): alcance entre 2.500 e 3.500 km
- Míssil balístico intercontinental (ICBM): Alcance superior a 3.500 km
- Míssil balístico intercontinental de alcance limitado (LRICBM): Alcance até 8.000 km
- Míssil balístico intercontinental de alcance total (FRICBM): alcance superior a 8.000 km
Míssil dotado de pequenas asas que atingem seu objetivo voando como uma pequena aeronave a distâncias consideráveis. Podem atuar como mísseis antinavio e antisuperfície. Podem ser lançados de qualquer tipo de plataforma, inclusive de submarinos, como ficou demonstrados nas últimas guerra do Iraque, quando os EUA fizeram intensivo uso deles. Podem levar ogivas nucleares ou convencionais, e utilizam navegação por reconhecimento de terreno, GPS e inercial.
- Míssil antisuperfície (ASM)
Míssil destinado ao combate contra carros de combate. podem ser usados contra fortificações e outros alvos.Podem ser portáteis ou montados em veículos. É o menor tipo de míssil existente.
Míssil destinado a abater aeronaves lançado da superfície. Podem ser portáteis ou atingir grandes dimensões, dependendo de seu alcance.
- Míssil antibalístico (ABM)
- Míssil guiado por fibra ótica (FOG)