FRASE

"Quem escolhe a desonra a fim de evitar o confronto, a conseguirá de pronto, e terá o confronto na sequência."
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sexta-feira, 19 de julho de 2024

O Sistema Artilharia de Campanha *153


A Artilharia de Campanha é um sistema relativamente complexo, que ao contrário de um grupo de combate de infantaria (GC) ou um pelotão de carros de combate (tropa de cavalaria) que pode combater de forma isolada, necessita de pelo menos 3 operadores sem os quais não tem como realizar o tiro.

São estes a linha de fogo (LF), o observador avançado (OA) e a central de tiro (CTir). A Artilharia age em seu emprego padrão em proveito das armas-base, e posiciona-se à retaguarda destas, pronta para atender seus pedidos de fogo, embora possa também atuar em missões de aprofundamento do combate atendendo à pedidos de fogo do escalão superior. Esta distância depende do alcance do material disponível, que não é empregado no seu limite quando do posicionamento das baterias, pois esta prática sacrificaria a flexibilidade do tiro que tem como uma de suas características a capacidade de ser transportado rapidamente de um ponto a outro sem que os obuses tenham que trocar de posição. Vale lembrar que sempre que existir o risco de fogo de contrabateria, deve-se trocar de posição imediatamente após a missão de tiro ter sido concluída.


Uma bateria de Artilharia posiciona-se alguns quilômetros à retaguarda da tropa apoiada, geralmente protegida por uma massa de cobertura (elevação) quando esta existir, e dispara seus projéteis em trajetória balística nos alvos que lhes forem designados, muitas vezes por cima das cabeças dos combatentes que estão em contato direto com o inimigo, em proveito destes.

Devido a esta distância, é impraticável que as baterias possam visualizar seus alvos, cabendo esta função ao observador avançado (OA). Este acompanha ou não os pelotões da tropa apoiada e em contato com seus comandantes, elabora os pedidos de tiro com base nas necessidades táticas destes. Estes pedidos são transmitidos à central de tiro (CTir), que os transforma em elementos de tiro (deriva e elevação), que por sua vez são alimentados nos aparelhos de pontaria das baterias para que as missões de tiro possam ser desencadeadas. Estes pedidos de tiro são transmitidos tradicionalmente via rádio ou telefone, e mais recentemente via link de dados, o que denota a importância de um eficiente sistema de comunicações que apoie o trabalho dos operadores do tiro. Podemos considerar estas ligações de direção de tiro (comunicações) como um quarto operador do sistema de artilharia de campanha.

Uma missão de tiro inicia-se com um pedido de tiro vindo do OA, de um componente da arma-base, da artilharia divisionária, do comando do escalão superior ou outro ator que necessite de apoio de fogo. São repassados neste pedido as coordenadas do alvo no caso de outros "clientes", e em se tratando do OA, cuja posição no terreno é conhecida pela CTir, do ângulo do alvo em relação ao norte partindo da sua posição e a distância que o alvo encontra-se deste. Utilizando-se de meios modernos esta posição pode ser determinada automaticamente por dados de GPS transmitidos via data-link, e o pedido é inserido automaticamente no computador do coordenador de fogos, seja da artilharia divisionária ou de exército (central de tiro de alto escalão cuja função é administrar a distribuição às diversas linhas de fogo, os pedidos de tiro vindo de inúmeras fontes) ou do próprio grupo de artilharia, dependendo da vinculação operacional em que se esteja inserido.


De posse das coordenadas do alvo, informadas ou calculadas a partir da posição do OA, a CTir mede a distância do alvo ao centro de bateria obtendo o alcance a ser utilizado, e consultando tabelas de tiro pré-calculadas para cada alcance obtém a alça (ângulo de tiro) a ser alimentando na peça de artilharia, assim como determina a carga necessária (quantidade de carga de projeção - pólvora a ser utilizada). Mede também o ângulo horizontal (deriva) em relação ao ponto de referência que está sendo utilizado para a pontaria da bateria. Calcula ainda o ângulo de sítio que é negativo se a bateria estiver em um plano mais alto que o alvo e positivo em caso contrário. Podemos visualizar o ângulo de sítio imaginando um triângulo-retângulo no plano vertical e cujas extremidades da hipotenusa sejas as posições do alvo e do centro de bateria. O ângulo formado pela hipotenusa e o plano horizontal é o ângulo de sítio. Este ângulo de sítio é somado a alça anteriormente calculada pela tabela de tiro, resultando na elevação a ser alimentada nos aparelhos de pontaria das peças.


Este elementos de tiro (elevação e deriva) são informados ao comandante de linha de fogo (CLF) que os utiliza para efetuar a pontaria das peças. Utilizando-se de meios modernos todo este processo pode ser automático, visto que as peças, o alvo e o OA tem suas posições determinadas por GPS e são de conhecimento do computador balístico. Este pode apontar a peça ou auxiliar na sua pontaria. O OA informa ainda as características do alvo para que a CTir determine a modalidade de tiro e o tipo de munição a ser usada, bem como a especificação da espoleta para aquela missão, e o número de disparos a ser desencadeado por cada peça.



O CLF após apontar sua bateria e comandar que as peças sejam carregadas autoriza o disparo de acordo com a modalidade de tiro. O tiro, após cumprir sua trajetória balística e ser informado ao OA seu desencadeamento, impacta na área do alvo, é observado pelo OA que comanda a C Tir sua correção, para a esquerda ou direita, mais longo ou mais curto até que satisfaça as especificações de letalidade e precisão, quando é desencadeado na sua forma final de eficácia.

Todo este processo pode se dar por comandos manuais ou de forma altamente automatizada, dependendo da tecnologia disponível. Modernamente utiliza-se localizadores GPS, binóculos com telêmetros eletrônicos para a determinação de distâncias, computadores de coordenação de fogos e balísticos que calculam de forma rápida e precisa os elementos de tiro, tudo interligado por enlaces de dados (NCW). Os alvos são alimentados a partir de uma infinidade de fontes nos computadores de coordenação de fogos, selecionados e priorizados em centrais especialmente dedicadas como as centrais das artilharias divisionárias e de exército, e autorizados conforme sua prioridade.

Uma vez que a linha de fogo (LF) está sob a comando do CLF (oficial que atua como auxiliar do comandante de bateria, e este, além do emprego tático se ocupa de tarefas administrativas), cabe ao comandante da bateria a tarefa de reconhecimento de rotas e posições de troca, de forma que a bateria conta com um plano de emprego constantemente atualizado. Neste reconhecimento o oficial comandante leva em consideração as facilidades de acesso e espaço para desdobramento, resistência do terreno e sua capacidade de suportar o desdobramento da bateria, cobertura e ocultação, contaminação, distâncias e tempo para as percorrer, obstáculos e forças inimigas. Uma equipe, que pode contar com o CLF, pode chegar a nova posição e apontar a bateria, mesmo ela não estando lá ainda.

Um sistema completo de artilharia de campanha envolve ainda elementos de busca de alvos mais sofisticados que podem incluir meios aéreos como drones, operadores de topografia e meteorologia, componentes logísticos e de comando e controle tático. Se houver tempo de realizar um trabalho de topografia, as baterias contarão com elementos de tiro bem mais precisos. Esta descrição procura apenas explicitar de forma simplificada o funcionamento do sistema de observação e fogo, que são o mínimo para que o tiro se realize.



segunda-feira, 5 de setembro de 2022

Artilharia de Tubo em Áreas Urbanas *234


A artilharia de tubo é um dos multiplicadores de combate mais poderosos em um teatro de operações. Em todo o espectro de operações ofensivas, defensivas e de estabilização, ela serve como um meio de apoio de fogo orgânico, oportuno, disponível o tempo todo, sob quaisquer condições climáticas. Embora a artilharia de tubo seja um dos muitos sistemas de armas capazes de utilizar munições de precisão, sua qualidade única vem da capacidade de pronta resposta com um alto volume de fogo, com várias combinações de projéteis e espoletas.

As operações em terreno urbanos, devido às suas peculiaridades, vem demonstrando a preferência dos comandantes de substituir o poder de fogo representados por sistemas complexos, por homens com capacidades de atuação mais pontual e específicas, e o emprego da artilharia de tubo se faz adequado e necessário. Iniciativas de modernização melhoram continuamente o equipamento em uso, adequando-o às novas demandas, e o combate urbano atual exige engenhosidade no uso dos equipamentos disponíveis para preencher lacunas de capacidade, com a incorporação paulatina de novos e mais adequados equipamentos. O sucesso em combates urbanos requer aplicação criativa e conhecimento do básico. Isso inclui “competência transferível”, ou a capacidade de aplicar competências a novos ambientes e situações. A iniciativa dos comandantes de baixo escalão e a rápida adaptação ao campo de batalha são fundamentais para o sucesso neste cenário cada vez mais presente.

O Ambiente Operacional

Emprego da Artilharia de Tubo no Ambiente Urbano

É necessário analisar o emprego neste ambiente sob os seguintes aspectos: Escolha e Ocupação das Posições de Bateria, Dispersão e Técnicas de Emprego; Comunicações e Operações Degradadas; Segurança da Bateria; Fogo Direto e Logística.

Escolha e Ocupação das Posições de Bateria

Com os requisitos da missão e considerações de apoio necessárias, as operações urbanas de artilharia de tubo são inevitáveis. Os comandantes podem considerar operar das periferias, mas muitas áreas urbanas são grandes demais para a execução de fogos destas distâncias, assim como os fogos defensivos a partir de seu interior que também se farão necessários. 

Sejam quais forem as características do terreno, a escolha e ocupação das posições de bateria serão determinadas pelos requisitos da missão. Os critérios padrão não diferem no terreno urbano, mas há um aumento inerente na complexidade de operação nestes locais. As exigências de comunicações, segurança, trafegabilidade e manobrabilidade assumem um papel de apoio, mas são vitais neste esforço. A velocidade de progressão da tropa apoiada é particularmente vital nestas análises: o ritmo da manobra tende a ser lento e deliberado em algumas situações, com combates quarteirão a quarteirão, ou pode ser rápido, no contorno de áreas urbanas, com movimentos diretamente para objetivos selecionados. 

Os ambientes urbanos apresentam grandes massas de cobertura e problemas de mascaramento imediatos. No uso de munições convencionais de saturação de área, o espaço morto é tipicamente 5 vezes a altura dos edifícios para tiro mergulhante e metade desta altura para tiros verticais. Isso causa uma maior propensão para os fogos em tiro vertical de forma a aumentar a eficácia no ataque às áreas desenfiadas entre os edifícios. Para munições convencionais de saturação de área, isso cria uma diminuição na precisão e no alcance. Missões de tiro vertical também exigem mais tempo de trajetória. Essas complexidades adicionais tornam difíceis os engajamentos de alvos de oportunidade e possivelmente até de alvos previstos. Se houverem considerações mais rígidas das regras de engajamento (ROE), as considerações de danos colaterais também podem limitar a capacidade destes fogos de saturação, embora essas considerações possam ser limitadas e minimizadas dependendo da situação. 

Uma análise criteriosa das áreas urbanas é necessária para facilitar os fogos oportunos e maximizar as comunicações, bem como as considerações de segurança. Cada tipo de área urbana apresenta desafios e oportunidades únicos.

As regiões centrais das áreas urbanas apresentam problemas significativos para a artilharia, pois geralmente são muito pequenas e compactas para fornecer áreas de posicionamento. Se a missão exigir ocupação dentro de áreas centrais, os comandantes devem considerar o posicionamento dos obuseiros nas ruas ao longo das linhas de tiro até o alvo, principalmente se a área urbana seguir um padrão radial ou de grade. Como as áreas centrais normalmente restringem o movimento, os comandantes também devem considerar a quantidade de escombros na área de posição e na seleção do local. Estruturas revestidas pesadas são mais propensas a entulho e existem com maior frequência nas regiões mais antigas das áreas centrais, bem como estruturas mais leves são menos propensas a entulho e estão nas regiões mais novas das cidades, especialmente na periferia central. As áreas centrais também podem ter problemas significativos no que se refere à campos de observação. Finalmente, a natureza densa e multidimensional destas áreas tende a dificultar a segurança das baterias.

As áreas de arranha-céus periféricas são semelhantes às áreas centrais, apresentando problemas significativos de comunicações. A diferença está nas grandes áreas abertas, como estacionamentos e parques que separam áreas periféricas de arranha-céus. Essas áreas podem ser grandes o suficiente para ocupações por pelotões e baterias, mas também são propensas ao assédio do inimigo. Os comandantes devem considerar os vários sistemas de transporte coletivo que caracterizam as áreas periféricas de arranha-céus. Estes podem representar vias de aproximação de alta velocidade para as forças inimigas que operam na área.

As áreas militares existentes nos locais podem fornecer espaços de posicionamento adequados para baterias de tiro, pois a defesa será facilitada pelas fortificações permanentes e instalações subterrâneas existentes. Os aeródromos também podem fornecer excelentes áreas de posicionamento e/ou podem funcionar como zonas de pouso de helicópteros ou zonas de coleta. A infraestrutura de comunicações interna ali existentes, podem fornecer um meio de comunicação adicional e redundante. Quanto aos riscos apresentados nas áreas militares, estas podem possuir armas de destruição em massa, gerando risco à força e preocupações com danos colaterais. Além disso, como as áreas militares podem ser um centro de gravidade para as forças inimigas, a chance de ataques complexos e de assédio pode aumentar.

As áreas comerciais podem permitir que a artilharia de tubo seja desdobrada nos corredores, utilizando as vias que cruzam as diferentes áreas urbanas. Em áreas comerciais, os estacionamentos podem ser as posições mais adequadas, mas o espaço de ocupação para obuses rebocados sofrerá restrições. Obuses rebocados terão que plantar suas pás de conteira contra o asfalto ou concreto, entulho ou paredes de construção, ou, alternativamente, encontrar uma área gramada onde se desdobrar. Finalmente, civis podem estar transitando nas proximidades, e áreas residenciais próximas podem existir, aumentando o risco do inimigo usar a população civil como cobertura e ocultação.

A áreas Industriais podem fornecer áreas de posição ideais, com espaços abertos grandes o suficiente para ocupações de pelotões e baterias. As áreas industriais também costumam fornecer ocultação adequada em grandes fábricas e armazéns de teto plano. Essas fábricas e armazéns também podem oferecer excelentes posições de cobertura e ocultação ou, se orientadas na linha de fogo, posições de tiro. Semelhante às áreas periféricas de arranha-céus, os comandantes devem considerar as vias de acesso de alta velocidade facilitadas por vários sistemas de transporte coletivo dentro e ao redor das áreas industriais. Esses centros de transporte comercial geralmente são de natureza multimodal, incluindo aeródromos e as principais rotas marítimas, fluviais, ferroviárias e rodoviárias. As forças militares que operam dentro ou ao redor destas áreas devem tomar cuidado especial com a presença de produtos químicos industriais tóxicos por ali armazenados.

As áreas residenciais estão dispersas pelas áreas urbanas e podem ser difíceis de evitar. Essas áreas podem fornecer áreas de posição ideal para a artilharia, mas exigem uma compreensão e respeito da(s) cultura(s) da área. Finalmente, como as favelas geralmente não contêm vias públicas ou serviços públicos, geralmente apresentam problemas de manobrabilidade/trafegabilidade, particularmente durante e após a ocupação, devendo ser evitadas devida a seus traçados altamente irregulares e não planejados.


Técnicas de Dispersão e Emprego

O combate urbano tem considerações únicas para técnicas de dispersão e emprego, exigindo uma análise cuidadosa do ambiente operacional. O terreno urbano ditará as técnicas de dispersão e poderá limitar o emprego aos escalões abaixo do pelotão, tornando a iniciativa do líder subalterno cada vez mais importante. A adaptação rápida para maximizar a capacidade de sobrevivência e dos fogos eficazes, como o uso de esconderijos e ataques, também podem ser táticas inevitáveis em combates neste ambiente. O espaço físico, as massas de cobertura próximas e as considerações de mascaramento podem ditar a necessidade de emprego em escalões abaixo do pelotão. Operar de forma tão capilarizada aumenta a capacidade de resposta, mas diminui o espaço disponível para fogos de saturação mais emassados. As operações nestes escalões são especialmente adequadas para o uso dos modernos sistemas digitais de direção de tiro dos obuses, mas os fogos emassados em operações degradadas – uma potencial inevitabilidade em combates urbanos – ficam mais difíceis de executar.

Operar com pequenos escalões também aumenta a vulnerabilidade ao assédio de forças terrestres inimigas. As técnicas de dispersão variam de acordo com a ameaça e o terreno. No terreno urbano, as áreas funcionais urbanas e os padrões de ruas surgem como 2 dos pontos vitais de discussão. Diferentes técnicas de dispersão são mais adequadas para áreas urbanas e padrões de ruas com base no espaço disponível, massa de cobertura, mascaramento, segurança e trafegabilidade. Por exemplo, as formações em linha das baterias ou as formações escalonadas em W fornecem controle máximo, mas devido a considerações de espaço, elas podem ser limitadas em áreas periféricas de arranha-céus e áreas centrais. Por outro lado, os comandantes podem considerar o uso das formações em cunha ou estrela em áreas centrais e de arranha-céus porque os edifícios circundantes fornecem cobertura artificial e ocultação de ameaças aéreas e contrabateria. Os espaldões são semelhantes às técnicas, táticas e procedimentos usados em áreas abertas, com seções de armas escalonadas, e em seguida, movendo-se da mesma forma para um posições de troca. Armazéns, pátios ferroviários, celeiros ou oficinas de automóveis podem ser ótimos abrigos. Se posicionadas dentro do alcance operacional da bateria, essas áreas também são excelentes posições de linha de fogo. Quando possível, os comandantes devem considerar abrigos fora das áreas urbanas para evitar a detecção. Abrigos propensos ao emprego de munições termobáricas devem ser evitados.

A proeminência do ataque de artilharia de tubo no combate urbano também pode se tornar uma tática inevitável. Há duas razões principais para esta proposição. Em primeiro lugar, com os problemas de localização até as massas de cobertura e de mascaramento inerentes às áreas urbanas, as formações de artilharia podem ter que trocar de posição rapidamente para apoiar as forças de manobra. A segunda é a natureza letal da ameaça. A realidade é que os sistemas de armas e sensores inimigos sejam tão capazes de encontrar e atacar unidades amigas que se é forçado a empreender missões de tiro deliberadas e/ou apressadas. A sobrevivência pode depender da capacidade de ocupar rapidamente uma posição, executar a missão de tiro necessária, e em seguida retornar rapidamente para trás da linha avançada para outra área de posição ou desenfiamento.

Comunicações e Operações Degradadas

A discussão sobre comunicações e operações degradadas no combate urbano são elencadas em 4 tópicos. Primeiro, planos de comunicação eficazes são essenciais. Em segundo lugar, pode ser necessária flexibilidade para o uso de plataformas e meios de comunicação mais antigos em conexão com meios mais tecnológicos para preencher as lacunas de capacidade criadas por novas tecnologias e demandas. Terceiro, pode haver a necessidade de minimizar as assinaturas eletrônicas. Quarto, as formações de artilharia de tubo devem ser proficientes em operar em modos degradados e analógicos. Pois não importa o ambiente e os meios disponíveis, as missões de tiro tem que ser executadas.

As capacidades inimigas e o terreno urbano podem degradar as comunicações em futuros combates urbanos. Arranha-céus, linhas de energia, transformadores ou outras estruturas urbanas podem interromper os sinais eletromagnéticos necessários para as comunicações. Outros sinais, como telefones celulares, serviços de emergência e outras redes táticas, também podem degradar as comunicações. O espectro eletromagnético Inimigo e os recursos cibernéticos também estão avançando rapidamente, cada um com a capacidade potencial de interromper, degradar ou negar sistemas de comunicação amigos. Planos eficazes maximizam o uso simultâneo dos sistemas de comunicação disponíveis, modernos e tradicionais, monitorando e nivelando-os conforme necessário. Os planos de comunicações bem elaborados minimizam as interrupções nas comunicações, maximizando assim os disparos eficazes e facilitando os mecanismos inter-relacionados de C2.

Os planos de comunicações podem não eliminar todos os gargalos inerentes às comunicações. Consequentemente, são vitais a flexibilidade dos meios C2 que devem permitir a execução descentralizada das missões de tiro. As unidades de artilharia devem ter a capacidade de empregar o maior número de meios simultâneos de comunicações do nível do grupo para o nível da bateria dentro de uma arquitetura flexível. Esses tipos de sistemas disponíveis são o rádio ar-terra-ar, o rádio de alta frequência (HF) e o rádio com link de satélite. A integração bem-sucedida desses 3 sistemas pode determinar a eficácia do apoio de fogo entre os usuários. A capacidade das unidades em executar fogos precisos e oportunos exige o uso eficaz de todos esses 3 sistemas. O rádio tático é o sistema mais abundante nas unidades. Com o uso de um amplificador de potência, estes sistemas são capazes de comunicações de voz até 40 km e dados até 20 KM. O terreno urbano, no entanto, pode restringir severamente o emprego nestes alcances. Equipes de retransmissão podem flexibilizar estes meios sobre ou ao redor de obstáculos para permitir disparos efetivos. Estas equipes devem estar equipadas com o maior número possível de sistemas afins para operar em emprego prolongado, e devem garantir que os locais de retransmissão possam entrar em contato com todos os nós necessários. Como cada sistema requer uma antena para cada rádio na configuração, a situação eletromagnética e operacional destas equipes pode ficar insustentável em algumas situações. Por esse motivo, é vital que elas entendam a missão, e tenham capacidade de uso de locais alternativos e suplementares.

Os comandantes também devem fornecer anexos de segurança às equipes de retransmissão devido às considerações de segurança inerentes ao terreno urbano. O uso de Sistemas Aéreos Não Tripulados para fornecer uma capacidade de retransmissão pode reduzir o risco. Como alternativa a uma equipe de retransmissão, as unidades podem usar outras unidades amigas para retransmitir mensagens quando a comunicação direta não for possível. Os rádios HF fornecem voz à unidade e comunicações digitais que transmitem sobre obstáculos e longas distâncias. Infelizmente, os rádios HF são limitados, mas podem ser necessários para facilitar fogos de longo alcance atendendo às necessidades do terreno urbano. Os rádios satelitais transmitem comunicações de voz e dados em distâncias muito longas. Os grupos de artilharia devem considerar o uso sempre que possível de rádios satelitais para suas baterias, de forma a aumentar a redundância nas comunicações.

No entanto, essa transferência requer treinamento sobre o uso desses sistemas. O combate urbano pode exigir engenhosidade usando plataformas e acessórios de comunicação “desatualizados” e/ou existentes para preencher as lacunas de capacidade criadas pelas novas tecnologias. Por exemplo, sistemas de telefonia celular ou fixos civis podem ser usados em caso de emergência, e sistemas fio podem ser desdobrados através de esgotos e edifícios. Com relação às antenas de campo, os comandantes são limitados apenas pela imaginação. As antenas de campo podem ser colocadas em árvores, amarradas a balões de ar ou colocadas em andares superiores de edifícios para aumentar o alcance. As antenas, no entanto, podem revelar as posições das unidades, de modo que os comandantes devem evitar posições de silhueta.

Por outro lado, o combate urbano pode ditar a necessidade de minimizar as assinaturas eletrônicas. Nesse caso, os comandantes podem considerar períodos de silêncio de rádio para evitar assinatura eletrônica. O silêncio de rádio é um status em que todos os rádios em uma área são solicitados a parar de transmitir, dependendo de uma necessidade imperiosa. Da mesma forma, as equipes de retransmissão permitem que as unidades reduzam a saída de radiofrequência para reduzir as assinaturas eletrônicas em suas posições. Reduzir ou eliminar brevemente as assinaturas eletrônicas reduz o risco de detecção de posições de soldados e unidades. No recente conflito na Ucrânia, a Rússia realizou ataques de artilharia contra o exército ucraniano, visando seus sinais eletrônicos. Os militares dos EUA não tiveram que lidar com essa capacidade durante as guerras no Iraque e no Afeganistão.

As capacidades eletromagnéticas inimigas podem interromper, degradar ou negar os Sinais GPS necessários para sistemas digitais, forçando a artilharia de tubo a operar em modos degradados. Operar em ambientes urbanos requer uma consideração adicional: em modos degradados, os instrumentos magnéticos serão prejudicados e sua precisão degradada em áreas construídas. Essa degradação aumentará nas áreas periféricas de arranha-céus e núcleos, onde existem muitos edifícios altos com estrutura de aço. A precisão é especialmente mais necessária no combate urbano não apenas por causa de considerações de danos colaterais, mas também porque o combate urbano geralmente apresenta alcances de combate direto de fogo inferiores a 100 metros. O ciberespaço e as capacidades eletromagnéticas também podem interromper o comando de missão e o processo de direcionamento de unidades de artilharia amigas, forçando métodos analógicos na eliminação de fogos e gerenciamento do espaço aéreo. Como as redes degradadas reduzem a consciência situacional, os ensaios antes e mesmo durante as operações são vitais – principalmente quando se opera como parte de uma coalizão multinacional.

A Segurança das Baterias

A segurança das baterias em terreno urbano tem uma natureza dupla de desafios e oportunidades: o terreno urbano oferece um ambiente multidimensional para projetar a defesa, porém esta mesma sua natureza multidimensional o torna inerentemente difícil de defender. É necessária uma abordagem holística para reduzir os desafios e maximizar as oportunidades. As iniciativas de modernização para criar uma força mais móvel e ágil aumentarão a capacidade de sobrevivência.

A aplicação criativa do terreno urbano fornece alerta precoce, defesa em profundidade e dispersão. Posições fortificadas podem ser instaladas em edificações abandonadas, e prédios de vários andares podem fornecer ótimos pontos de observação e de rádio-operação, e os principais sistemas de armas podem ser posicionados de forma criativa para fornecer fogos diretos eficazes. A natureza canalizadora e compartimentada do terreno também pode oferecer aos comandantes áreas de engajamento ideais. Finalmente, em terrenos urbanos, os comandantes podem usar a cobertura fornecida por estruturas de vários andares ou podem dispersar suas seções. Em terreno aberto, os comandantes podem optar por dispersar suas pelas em intervalos de 100 metros ou mais, e ainda mais para o comando de linha de fogo (CLF). Em áreas urbanas densas, seja nos centros ou em áreas periféricas de arranha-céus, os edifícios altos podem fornecer cobertura mascarando os sistemas de fogo indireto do inimigo, permitindo uma ocupação mais compacta. Consequentemente, a ocupação em áreas urbanas densas frequentemente exige a execução de fogos verticais (acima de 45 graus).

Além de estabelecer uma defesa padrão, os encarregados da segurança também devem varrer as edificações para cima e para baixo em seus setores para cobrir edifícios de vários andares e outras estruturas altas. Devido a essas complexidades inerentes, uma força de reação rápida designada é vital para a sobrevivência no caso de uma violação do perímetro. Os comandantes também devem coordenar com as unidades adjacentes para aumentar seus planos de segurança, e solicitar anexos de segurança adicionais. Dependendo do tempo disponível, as peças podem individualmente preparar posições suplementares para cobertura de fogo direto em rotas críticas para a posição da bateria

Os sensores dos adversários e os sistemas de armas de fogo indireto também tornam os critérios de movimento de sobrevivência e a capacidade de deslocamento rápido absolutamente críticos. Apesar da agilidade da artilharia rebocada em ataques aéreos e operações aerotransportadas, elas possuem limitações inerentes nos tempos de deslocamento e proteção das guarnições. De certa forma, isso limita sua viabilidade em campos de batalha urbanos.

Há um argumento crível de que sistemas de obuseiros leves e móveis são necessários devido à necessidade premente de ocupações e deslocamentos mais rápidos. Mesmo se operado dentro dos padrões de tempo. Os atuais sistemas de armas rebocadas se deslocam taticamente em um ritmo muito lento para sobreviver no campo de batalha urbano cada vez mais exigente. Além disso, a fadiga da tripulação nos atuais sistemas de armas rebocadas é uma preocupação.

Da mesma forma, as capacidades inimigas e o denso terreno urbano exigem postos de comando (PC) mais móveis e menores. As limitações de comunicação do terreno urbano exigem PCs ágeis e móveis para manter fogos eficazes e C2 eficientes. Preocupações com a sobrevivência, especialmente aquelas relativas aos fogos de contrabateria, também ditam a necessidade de movimentos frequentes e rápidos. Com as exigentes configurações de pessoal e equipamento inerentes aos grupos, deve haver um maior equilíbrio entre eficácia e capacidade de sobrevivência.

A defesa da bateria no terreno urbano também deve seguir uma abordagem holística. Pontos vitais adicionais de discussão incluem, mas não estão limitados à técnicas de emprego e seleção de área de posição. A robótica usada na defesa e reconhecimento de baterias também pode eventualmente ser um tópico de discussão; no entanto, há uma maior necessidade dessas formações de manobra e os custos associados de projeto e desenvolvimento são altos.

Fogo Direto

Embora não seja sua missão principal, a artilharia de tubo pode fornecer uma capacidade de fogo direto de grande calibre que é eficaz na guerra urbana. Durante a Primeira Batalha de Grozny, de dezembro de 1993 a março de 1994, as forças russas utilizaram tiros de canhão indiretos para moldar e suprimir os arredores da cidade. Depois que as forças de manobra conquistaram seus objetivos iniciais, os russos utilizaram parte de sua artilharia autopropulsada em um papel de fogo direto, fornecendo um fogo de longo alcance contra bunkers, fortificações pesadas ou posições inimigas reforçadas em edifícios de concreto. Isso se mostrou eficaz, com o benefício adicional de que o fogo direto produzia menos escombros nas ruas do que o fogo indireto, permitindo maior liberdade de manobra às forças russas que avançavam.

Obuses em uma função de fogo direto trazem capacidades significativas para aumentar os sistemas de armas orgânicas de fogo direto. Muitos MBTs em função de apoio são incapazes de se elevar para engajar alvos nos andares superiores dos edifícios, e os sistemas de armas de artilharia, por sua própria natureza, podem engajar em qualquer elevação. Projéteis de 155 mm podem penetrar até 38 polegadas de tijolo e concreto não armado e até 28 polegadas de concreto armado com danos consideráveis além da parede. Projéteis de 105 mm causarão danos significativos a edifícios construídos com material leve e podem penetrar em paredes de pedra e tijolo de camada única ou concreto armado leve. Essa capacidade é especialmente significativa nas tropas de Infantaria leve e paraquedistas, porque essas formações carecem de sistemas orgânicos de armas de fogo direto de grande calibre.

Considerações adicionais para obuses empregarem fogo direto incluem capacidade de sobrevivência, tempo de ocupação de posição e deslocamento, precisão e mobilidade. Os obuseiros autopropulsados (SPGs) são sem dúvida a melhor opção, mas não oferecem a mesma proteção que um MBT a suas tripulações. As peças de artilharia rebocadas são relativamente vulneráveis, pois não fornecem proteção às suas tripulações e são mais lentas nas movimentações. Sistemas de obuseiros móveis em vez de sistemas rebocados atuais podem reduzir essa lacuna de capacidade.

Os comandantes só devem optar por empregar artilharia de tubo em uma função de fogo direto após uma análise cuidadosa da adequação, viabilidade e aceitabilidade do uso de artilharia para completar o fogo dos MBT ou outras armas de fogo direto. Quando os obuses são retirados de seu papel tradicional, a capacidade de apoiar forças de manobra e moldar objetivos futuros é degradada. Os comandantes devem pesar o esforço principal e realizar uma análise de custo-benefício dos riscos associados à utilização de obuses em uma função de fogo direto.

Logística

Devido à natureza híbrida e letal das ameaças, as dificuldades logísticas das brigadas serão ampliadas em terreno urbano. Como visto na batalha de Aachen durante a Segunda Guerra Mundial, o desafio logístico resultante para igualar este aumento acentuado de munições é significativo. Operações engenhosas e planejamento eficaz são necessários para manter fogos oportunos e eficazes. As futuras iniciativas de modernização auxiliarão no atendimento da demanda logística.

Manter o ritmo com linhas de abastecimento difíceis em grandes terrenos urbanos podem exigir que as baterias operem com uma logística limitada. Durante a invasão do Iraque em 2003, os Marines operaram sem leitos, sem sacos de dormir e, às vezes, com apenas uma refeição pronta para comer por dia. Estes regimentos também foram equipados com kits de teste de combustível para capturar e utilizar combustível inimigo, e veículos e equipamentos foram mantidos escrupulosamente.

A capacidade da artilharia de tubo de fornecer apoio de fogo eficaz depende de sua capacidade de prever efetivamente seu consumo de munição. Áreas urbanas podem ditar uma maior necessidade de certas munições, e certos conjuntos de missões requerem diferentes combinações de espoletas, por exemplo, espoletas de retardo para penetrar no concreto, granadas fumígenas usadas em operações de abertura e passagem de brechas, minas espalhadas para isolar formações inimigas de suas linhas logísticas fora da cidade, munições de precisão para alvos de alta prioridade, etc. Garantir a quantidade e o tipo corretos de munição no lugar e na hora certos é fundamental. O S3 (oficial de operações) e os comandantes de linha de fogo (CLFs) devem identificar esses requisitos no início do processo de planejamento (análise da missão) para garantir tempo suficiente para encomendar e entregar munição.

Mas apesar dos riscos à força e missão causados pelas dificuldades logísticas inerentes ao combate urbano futuro, 3 tendências tecnológicas emergentes merecem destaque. A primeira é o uso de técnicas de manufatura adaptativa, como a impressão 3D, para reduzir custos e aprimorar significativamente o trem logístico, fornecendo ressuprimento antecipado de peças e outros materiais. A segunda é usar inteligência artificial (IA) ou plataformas não tripuladas operadas por humanos para complementar os atuais trens logísticos, reduzindo o risco de força e missão em movimentos logísticos. O terceiro são os avanços tecnológicos na geração e armazenamento de energia para diminuir a dependência dos serviços logísticos em relação ao combustível. Uma dependência reduzida de combustível reduzirá significativamente os requisitos de transporte e comboios logísticos.



quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Observação do Tiro de Artilharia por Combatente de Qualquer Arma *206

A IMPORTÂNCIA DA OBSERVAÇÃO DO TIRO DE ARTILHARIA E DE MORTEIRO PESADO POR COMBATENTE DE QUALQUER ARMA

Augusto Ravanello Duque



A Artilharia de Campanha tem como missão principal apoiar a força pelo fogo. Considerando os aspectos táticos ela realiza fogos de apoio aos elementos de manobra, fogos de contrabateria e de aprofundamento do combate como medidas para cumprir sua tarefa.

Na execução do apoio de fogo em qualquer situação a Artilharia deve proporcionar volume e potência de fogo, nos locais e nos momentos necessários ao combate. Para seu funcionamento, vale-se da execução e da integração de seus subsistemas, os quais são: linha de fogo, topografia, central de tiro, observação, meteorologia, busca de alvos e comunicações. Nessa integração, cabe ao subsistema observação conduzir e ajustar tiros sobre alvos de interesse para o cumprimento da missão das tropas apoiadas. Para executar seu propósito, este subsistema utiliza os Observadores Avançados (OA), que tem como incumbência servir como elementos responsáveis por levantar alvos e informações sobre o inimigo, acompanhar o combate junto aos comandantes de subunidade, serem os elementos mais próximos à linha de contato com o inimigo, formar uma rede de informações e servir como elemento de ligação da artilharia com a tropa apoiada.

Os OA de artilharia são fornecidos pela unidade de artilharia orgânica daquela Grande Unidade, sendo que cada SU recebe um OA. No caso dos OA de Morteiro Pesado 120mm (Mrt P) cabe a própria tropa apoiada fornecê-los. Dessa forma, serão militares oriundos das armas de Infantaria e Cavalaria, e terão as mesmas atividades e responsabilidades dos OA de artilharia.



Durante o desenrolar das operações, existem uma infinidade de situações que influenciam no trabalho dos OA, tais como: postos de observação que não possuem grande amplitude de observação, limitação das comunicações ou baixas na equipe de observação. Dessa maneira, é imprescindível que existam militares em contato visual com os alvos e que estejam aptos a conduzir o tiro e, para isso, os mesmos devem saber os procedimentos e técnicas mínimos para a correta condução do tiro, pois devem analisar os alvos, corrigir os disparos e avaliar os danos.

O desconhecimento da técnica de observação pelos militares de primeiro escalão, durante o combate, impossibilita um Ap F preciso, oportuno e eficaz em proveito da arma-base, além de dificultar o controle de danos.

No caso particular do Pelotão de Exploradores cresce de importância que todos os militares estejam aptos a conduzir os tiros. Apesar de não ter por missão precípua se engajar decisivamente com o inimigo, deve reconhecer, explorar e esclarecer, monitorando sempre a atividade inimiga no terreno. Além disso, opera em uma área mais à frente de sua Unidade em até 2 km e nessa situação não haverá OAs em condições de conduzir os fogos, pois os mesmos estarão acompanhando a manobra da subunidade em apoio que está mais a retaguarda. Nesse contexto, pode em algum momento necessitar do Apoio de Fogo, o que torna necessário a existência de militares com conhecimento técnico da condução.

Durante a instrução dos Pelotões de Exploradores de infantaria, os militares integrantes da fração realizam exercícios de condução de fogos em ambiente simulado, abrangendo diversos contextos táticos, para que tomem conhecimento das ligações existentes e para se adestrarem nos procedimentos da condução.



Outro caso que necessita de atenção é o relacionado ao combate em áreas habitadas que por se tratarem de locais com maior densidade populacional e a maior presença de edificações tem efeitos colaterais de maior amplitude. Nessas áreas a compartimentação no terreno limita sobremaneira a visibilidade, em muitas vezes a tropa só terá vistas no quarteirão ou na rua que estiver atuando, dessa forma haverá necessidade de todas as tropas empregadas estarem em condições de conduzir os tiros em proveito de sua missão. Tendo em vista evitar danos desnecessários, tanto aos civis como as tropas amigas, os fogos devem ser muito mais precisos e nesse contexto somente com munições inteligentes ou com elementos junto ao objetivo orientando os disparos essa situação será possível.



Se analisarmos os combates do passado em relação aos da atualidade, veremos o crescimento da importância da observação dos fogos durante as operações como fator preponderante para o sucesso ou para a derrota. Os fogos utilizados adequadamente podem decidir o combate, mas, para isso, é necessário que a rede de observação se estenda por toda a frente de combate através dos OA e dos militares em contato com o inimigo. Além da amplitude da rede de observação, as habilidades e os conhecimentos de condução devem ser treinadas e manutenidas por todos os elementos de manobra, para que os fogos em apoio nunca sejam interrompidos.

sábado, 4 de maio de 2019

O Tiro de Artilharia *167



A Artilharia de Campanha é caracterizada pela sua grande potência de fogo. Partindo de posições relativamente distantes das linhas de contato, os fogos de artilharia cruzam o espaço aéreo dos campos de batalha em busca de seus alvos, batendo áreas poucos metros a frente da tropa amiga, em proveito desta e com trajetórias por sobre suas cabeças, que conta com o indispensável apoio da arma que é a responsável pela maioria das baixas em combate e facilitadora do trabalho das armas-base.

A artilharia não cerra sobre o inimigo, mas aloca seus fogos em profundidade junto às suas fileiras, desorganizado seu dispositivo e enfraquecendo seu poder combativo, proporcionando tanto a cavalaria como a infantaria oponentes desorganizados e debilitados, mais fáceis de serem suplantados. Dotada de alta flexibilidade em alcance e direção, os fogos de artilharia são deslocados quase que instantaneamente de um alvo a outro a partir de posições dispersas e temporárias.


A arma do fogo apoia os elementos de combate neutralizando ou destruindo os alvos que lhes são designados, aprofunda o combate com fogos de contrabateria (contra a artilharia inimiga) e de isolamento (aqueles que restringem a mobilidade inimiga), desarticulando instalações a serviço do inimigo e frustando sua manobra.

Estes efeitos de combate são conseguidos através do impacto de uma considerável quantidade de projéteis (granadas de artilharia) atingindo seus alvos no tempo adequado com a munição (granadas e espoletas de vários tipos) apropriada.


A técnica de tiro de artilharia, eficazmente aplicada a direção de tiro junto às baterias de obuses e lançadores múltiplos de foguetes é que assegura os efeitos desejados da arma junto aos seus alvos. Estas baterias, convenientemente inseridas em grandes malhas de tiro de várias delas e integradas por comandos de grande escalão, são capazes de efeitos devastadores, pois podem concentrar de forma imediata o impacto de um grande número de bocas de fogo em um só alvo, e no momento seguinte direcionar o fogo de cada uma a alvos distintos, voltando seus impactos a reunir-se, parcial ou totalmente onde forem necessários, sem que qualquer das baterias, separadas por quilômetros, precise mudar de posição, embora o façam a fim de evitar a contrabateria inimiga.



Observadores avançados (OAs) e oficiais de ligação (OLigs) atuam juntos às armas-base a fim de atenderem as necessidades de apoio de fogo destas e traduzirem estas necessidades em comando de tiro válidos. Estes observadores atuam também isolados em posições de observação cuidadosamente escolhidas a fim de orientarem os cálculos das centrais de tiro e observarem os impactos, corrigindo através de orientações a estas centrais a trajetória dos projéteis e seus pontos de impacto no terreno a fim de obter eficiência máxima.


O tiro de artilharia pode atender um grande número de demandas podendo destruir ou neutralizar através de impactos de alto explosivo com sopro e estilhaçamento de granada de metal. Estes impactos poderão ser detonados pelo contato com o alvo ou através do tempo voo, com arrebentamentos em altitude, dependendo do efeito desejado. Podem espalhar fumaça ou munições especiais (como as ogivas químicas, biológicas e mesmo nucleares), buscar alvos móveis como carros de combate ou atingir comboios ao longo de uma estrada. Causam efeitos de inquietação, impedindo ao inimigo  momentos de relaxamento e provocando sua fadiga, de iluminação do campo de batalha, de propaganda e balizamento, de sinalização e interdição do terreno, impedindo sua utilização.

De natureza eminentemente técnica, a execução do tiro de artilharia requer profissionais altamente treinados seja em sua observação, cálculo ou linha de fogo.




O Problema Técnico Fundamental da Artilharia


Posicionada a certa distância das linhas de contato, a artilharia de campanha tem a sua frente, entre sua posição de tiro e as posições do inimigo que lhe servirão de alvo, não só a tropa apoiada, mas também as dobras do terreno. Esta distância pode variar muito de acordo com o alcance do material, geralmente indo de 3 a 30 quilômetros em material de tubo em apoio a arma-base; e muito mais que isso se tratando de lançadores múltiplos de foguetes.

Com tantos obstáculos não é possível a realização do tiro direto, fato complementado pela necessidade das baterias em posicionar-se em locais ocultos a observação inimiga e ao fogo de suas armas de tiro tenso, fundamental para sua própria segurança, já que a artilharia não conta com a blindagem nem a mobilidade imediata dos carros de combate.





Para resolver este problema os artilheiros desenvolveram o técnica de tiro de artilharia  de campanha, que viabiliza a realização do tiro indireto, ou seja, utilizando-se de trajetória balística e aproveitando as características da força da gravidade, dispara seus projéteis para o alto por sobre as elevações e cabeças da tropa amiga. Estes disparos acabam por impactar nas áreas-alvo, sempre observados pelos artilheiros de vanguarda, os observadores avançados (OAs), que retornam suas observações do tiro em execução para os calculadores nas centrais de tiro, corrigindo e ajustando-o para que atinja eficiência máxima.


Uma bateria de tiro ao posicionar-se, direciona suas bocas de fogo para uma direção geral de tiro previamente definida. Quando da execução da missão de tiro, os calculadores "plotam" em uma prancheta um ângulo de tiro medido em relação a um ponto conhecido como o norte magnético por exemplo e uma distância da bateria até o alvo. Baseado em tabelas já existentes, definem um ângulo vertical (chamado elevação) de tiro com base nas leis balísticas e uma carga de projeção apropriada, para que a bateria possa efetuar seus disparos. A este ângulo deverá ser acrescido (ou decrescido) de outro que compense a diferença de altitude da bateria em relação ao alvo, conforme ela esteja abaixo ou acima dele, denominado ângulo de sítio mais um fator compensador de trajetória conhecido como correção complementar de sítio, que visa compensar a maior influência da força gravitacional (sítio total).





Podendo este cálculo ser manual, como na Segunda Guerra Mundial, ou contando com meios modernos como calculadores balísticos digitais que consultam sistemas como o GPS para medir a distância até o alvo e o ângulo de sítio, radares medidores de velocidade inicial, enlaces de dados (data-link) e outros meios modernos, a técnica de tiro de artilharia de campanha garante a eficácia desta arma em batalha, apoio sempre bem-vindo por infantes e cavalarianos no cumprimento de suas missões, e garantidora de seu sucesso.




Modalidades de Tiro de Artilharia

O tiro de artilharia pode assumir um variado número de modalidades, de acordo com o efeito que se busca junto às fileiras inimigas. Em sua missão de apoio de fogo, a artilharia de campanha não visa apenas a destruição do inimigo, mas a alocação de fogos oportunos a cada situação tática, atuando em proveito das necessidades da arma apoiada e do escalão a que está subordinada.

Estes tiros são classificados quanto ao resultado que buscam alcançar, sendo o mais conhecido o efeito de neutralização. A neutralização é alcançada quando o tiro cai diretamente sobre a posição do inimigo visada, causando-lhe baixas e forçando-o a abrigar-se. Este tiro tem o poder de desorganiza-lo, diminuindo sua eficiência em combate, e devem chegar ao alvo de forma repentina e intensa a fim de destruir ou inviabilizar o maior número de meios e desdobramentos que o inimigo tenha feito naquela posição. É o tiro que apoia diretamente a arma-base, que pode avançar sobre as posições batidas de forma eficaz e segura.

O tiro de destruição busca não à "amaciar" o terreno para o avanço dos combatentes de infantaria ou cavalaria, mas sim a destruição até o fim de alvos específicos. É dirigido contra alvos materiais e atinge maior eficiência quando efetuado por disparo direto e com materiais de maior calibre possível. Exige observação apurada, precisão dos disparos e implica em grande consumo de munição, pois só cessa quando o alvo for considerado destruído.

O tiro de interdição, como o próprio nome diz exige menos dos artilheiros, seja em precisão ou consumo de munição, e sua finalidade é impedir a utilização da área de impactos pelo inimigo. Este tipo de tiro é dirigido a nós rodoviários, acesso a pontes, estreitos e gargantas, passos e desfiladeiros. Não visa alvos humanos nem materiais, mas sim efeitos temporários de inacessibilidade a determinado ponto.



Os tiros de inquietação visam a abater o moral do inimigo, através de bombardeios intermitentes a fim de impedir que busque alguma sensação de segurança em determinado momento. De baixa intensidade, visam a "esquentar" momentos de relativa tranquilidade, impedindo que o inimigo durma bem ou relaxe, atrapalhe seus movimentos, cause alguma baixa e mine sua capacidade de combate.

O tiro iluminativo é realizado com munição especial, de queda retardada e visa a proporcionar alguma iluminação através de pirotecnia para operações noturnas. Este tipo de tiro perdeu parte de sua importância com o advento de novas tecnologias como os intensificadores noturnos e dispositivos termográficos. Pode porém ser empregado em algumas situações, principalmente de grande envergadura onde muitos combatentes não dispõem destes equipamentos.

O tiro fumígeno também é realizado com munição especial e visa a sinalização e balizamento do campo de batalha, bem como a ocultação da vista do inimigo de movimentos e outras situações que não se deseja que ele veja, como por exemplo uma transposição de curso d'água. É particularmente útil  para frustrar a missões dos OAs inimigos com impactos imediatamente no seu campo de observação.



Os tiros de contrabateria são aqueles alocados contra a artilharia inimiga, valendo-se de sua localização imediata. São tiros de difícil execução, tendo em vista que as baterias atiram a mudam imediatamente de posição para evitá-los. Determinar a posição de uma bateria não era tarefa fácil até o advento dos radares de campo ou radares de contrabateria, que medem a trajetória balística dos projéteis e calculam a posição da bateria. Nesta prática tem-se que ser extremamente rápido, pois após o radar determinar eletronicamente a posição da bateria inimiga, deve-se passá-la a central de tiro que calculará os elementos de tiro e os comandará às baterias, que terão que apontar e disparar antes que a bateria inimiga mude de posição. Processos automatizados de tiro são mais adequados a conseguir algum sucesso neste tipo de tiro.

Outro tipo de tiro frequentemente realizado e que não visa ações de combate é o tiro de regulação, cuja finalidade é ajustar os elementos de tiro às condições locais (temperatura, pressão do ar, ventos, etc...). Estes tiros são efetuados contra alvos auxiliares (uma árvore por exemplo) e buscam uma maior precisão nos disparos subsequentes, em missão operacional. São uma espécie de calibragem do tiro na adaptação as condições do momento (temperatura, umidade, vento, pressão atmosférica, etc...).

Outros tipos de tiro podem ser empreendidos com finalidades especiais. Tiros de propaganda podem dispersar panfletos por exemplo, junto ao inimigo tentado convencer os combatentes a rendição; tiros com munições especiais de precisão podem atingir alvos móveis como carros de combate em movimento e requerem dispositivos de orientação. No Vietnam os americanos utilizaram a artilharia para "plantar" sensores de trilha que detectavam a vibração no solo e alertavam para o movimento naquela região. Pode-se ainda disparar granadas químicas, biológicas e nucleares, estas de forma pouco usual.

Os tiros previstos são àqueles previamente preparados e locações precisamente determinadas enquanto os inopinados dependem do transporte a partir de um alvo auxiliar e ajustagem prévia, determinados anteriormente pelos tiros de regulação.

Os tiros podem ainda ser observados ou não. Os primeiros demandam menor quantidade de munição e são mais precisos, enquanto os segundos só devem ser empreendidos contra alvos precisamente determinados ou a partir de alvos auxiliares já regulados.

Temos ainda a classificação dos tiros quanto a sua forma. Os tiros de concentração são aqueles que impactam de forma emassada sobre um terreno limitado. Os tiros hora-no-alvo são uma modalidade de concentração onde se ajusta o tempo de disparo de cada boca de fogo de acordo com sua distância do alvo a fim de que todos os disparos atinjam o alvo exatamente no mesmo instante. Os tiros de barragem são uma forma de tiro que visam criar uma barreira no campo de batalha com impactos caindo linearmente. Esta forma de tiro visa a compartimentar temporariamente o espaço desautorizando acessos pelo fogo. O tiro por peça é aquele dirigido por uma única peça a um alvo previamente determinado e pontaria já pronta.


O Comando de Linha de Fogo

A bateria de artilharia de campanha é a menor fração de tropa dessa arma capaz de cumprir missões de tiro de forma autônoma, e mesmo operando dentro de um sistema de apoio de fogo amplo, pode operar independentemente em apoio a uma determinada tropa se assim for designada. Enquanto seu comandante cumpre as tarefas de coordenação tática-operacional de sua subunidade, seja na missão em que está atuando ou em ligação junto aos escalões superiores, e orienta as sempre necessárias e onipresentes demandas administrativas operacionais; delega a um oficial subalterno o comando de sua linha de fogo, que atua como seu auxiliar e se encarrega de fazer funcionar o principal elemento da bateria.



O Comandante de Linha de Fogo ou CLF, é o oficial encarregado de fazer o elemento operativo da bateria atuar, ou seja, fazer com que as missões de tiro que lhes forem passadas se transformem em impactos junto aos alvos designados. Cabe a ele providenciar para que a linha de fogo (LF) da bateria se desloque até as posições de tiro designadas por seu comando e lá desdobra-la colocando-se em condições de cumprir sua missão. 

Comanda aos seus artilheiros o desdobramento do material de artilharia para colocar-se em condições de executar o tiro indicando a direção geral de tiro (DGT) e certificando-se que todas as rotinas necessárias foram cumpridas, executa a pontaria inicial de sua bateria, determina a elevação mínima e os limites de tiro e segurança que suas peças poderão operar a fim de que não atinjam obstáculos a sua frente como elevações ou edificações, repassa a central de tiro (CTir) de seu grupo todas as informações relevantes à posição que acabou de ocupar, comanda às suas peças as missões de tiro que lhes forem imputadas com a necessária e singular adequação de pontaria que cada missão demande, e em caso da bateria estar atuando de forma isolada acumula as funções de comandante e operador de central de tiro. O CLF determina ainda os limites máximos de segurança para o caso de execução do tiro vertical (acima de 45º).

O CLF pode ainda auxiliar o comandante de bateria e o estado maior do grupo nas rotinas de reconhecimento e escolha de posições de bateria e posições de troca. Pode atuar também como subcomandante de bateria se assim for designado e assumir na ausência do comandante suas funções, bem como assumir outras funções dentro da bateria que lhes forem julgadas convenientes e estejam dentro de suas possibilidades, porém que em hipótese alguma prejudiquem a execução do tiro, razão de ser da bateria de artilharia.