FRASE

"Quem escolhe a desonra a fim de evitar o confronto, a conseguirá de pronto, e terá o confronto na sequência."
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quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

Segurança de Bases Militares *207



Toda operação militar deve ser lançada de uma base segura, de onde as unidades em operação possam partir com cobertura e depois de cumprida a missão, retornar para tratar de seus feridos, bem como recompor seu equipamento, descansar, alimentar-se e ficar pronta para a próxima operação. Uma unidade não pode entrar em combate se não tiver para onde voltar após sua conclusão, quem a reabasteça e lhe dê suporte. Todas as bases, sejam fixas ou temporárias, devem ter suas linhas de comunicação físicas e eletrônicas com o escalão superior e de suporte logístico asseguradas, assim como com suas unidades adjacentes e operacionalmente vinculadas. Uma unidade ou base isolada das demais não pode ser reabastecida e recompletada, e seu colapso é uma questão de tempo.

Não foi por acaso que o Alte. Woodward posicionou sua frota a leste das ilhas Falklands/Malvinas onde a aviação argentina não podia chegar, pois ela era a base de operações que dispunha, mesmo a custa da autonomia de seus Harriers que tinham que voar por longas distâncias até as ilhas e permanecer em combate por curtos períodos.

A segurança é fundamental em qualquer operação militar, dada a natureza intrinsicamente arriscada desta atividade. Militares devem estar em constante vigilância, quer contra inimigos em potencial, inimigos iminentes ou declarados e sabotadores ocasionais.


A segurança das instalações militares é atividade que deve ser desempenhada com especial presteza, notadamente em períodos de maior tensão ou de beligerância declarada ou iminente, não devendo ser negligenciada em tempos de bonança. As instalações militares são o sustentáculo das operações e devem manter-se íntegras. A constituem o conjunto de medidas de caráter ativo e passivo que vise a integridade destas instalações e do material ali presente, seu pessoal, de sua organização e todo o acervo de informações administrativas e operacionais de caráter reservado ou sigiloso. 

As medidas de segurança podem ser de caráter interno ou externo. As medidas internas visam prevenir quaisquer quebras de segurança decorrentes do pessoal da base que por qualquer motivo se desvie de suas obrigações, seja por má intenção ou não, evitar que indivíduos infiltrados tenham acesso ao que procuram. 

As de caráter externo são as atividades relacionadas com a proteção contra ameaças que venham de fora, exceto infiltrados, e devem ser tratados como defesa das instalações ou defesa da base. Vigilância e observação constante, seja física pela guarnição ou de alto nível envolvendo serviços de inteligência deve ser mantida com a finalidade de alertar quanto à intensões de potenciais inimigos ou qualquer outra ameaça, seja humana ou circunstancial.

Devido ao inevitável tráfego de pessoal e equipamento que acontece diariamente entre as bases militares e seu exterior, com constantes deslocamentos para fora de seus portões, muitas vezes em áreas extensas e espaço aéreo e aquático, a segurança perfeita ou absoluta é um objetivo desejável, porém inatingível. Não há objeto ou informação tão bem protegidos que não possam ser roubados, danificados, destruídos ou observados por pessoal não autorizado. Tornar o acesso não autorizado tão difícil quanto possível é o propósito das operações de segurança, de forma que qualquer incursão desta natureza seja penosa, de alto risco e se alcançada seja às custas de um retardo insustentável ou comprometedor, desestimulando o invasor de suas pretensões.

O comandante da base é o responsável por sua segurança, devendo destacar um oficial experiente como seu encarregado, o qual deverá implementar todas as medidas previstas em normativos e outras mais que julgar necessárias a consecução deste objetivo. Este Oficial será o responsável pelo planejamento, execução e acompanhamento da Segurança das Instalações da OM, e deve ser, preferencialmente, um oficial da arma de Infantaria, se disponível. O dispositivo deverá ser montado em profundidade, de forma que o rompimento dos primeiros obstáculos ao invasor não represente o colapso da segurança como um todo. É uma tarefa complexa devido ao grande número de variáveis a considerar. Uma segurança de altíssimo nível é onerosa, em termos financeiros e operacionais, e deverá ser implementada de acordo com o nível de vulnerabilidade e importância de cada instalação. Deve-se sempre avaliar o efeito da perda ou dano a instalação e seu conteúdo no contexto geral do sistema de defesa para saber o quanto a instalação ou base é importante, e implementar um dispositivo que equilibre um bom nível de segurança a um custo aceitável. 



O binômio importância e vulnerabilidade relativas definirá o nível de segurança a ser implementado. Se a locação puder ser facilmente danificada, destruída ou neutralizada em sua missão, sua vulnerabilidade relativa é alta. Se sua inoperância acarretar em grande revés ao esforço militar como um todo, sua importância relativa é alta. Importância e vulnerabilidade relativas determinarão o dispositivo a ser adotado, de acordo com os recursos disponíveis. Devido a impossibilidade de estabelecimento do dispositivo de segurança perfeito, deve-se focar nas áreas, dentro da base militar que sejam mais sensíveis que as outras. Àquelas mais importantes e vulneráveis devem ser contempladas com sistemas de proteção mais elaborados e as de menor importância com dispositivos mais simples. Os setores considerados altamente importantes são aqueles cuja perda total ou parcial reduzirá ou eliminará a possibilidade da organização desempenhar com eficácia sua missão, por um período inaceitável de tempo. No bombardeio a Pearl Harbour os japoneses cometeram um grande erro, que foi o de não destruir os depósitos de combustível da base naval, o que possibilitou aos navios não danificados continuarem operando normalmente. Em seu esforço de tornar a frota americana inoperante, os japoneses focaram nos navios ancorados e esqueceram os que estavam no mar, neste caso específico todos os navios-aeródromo, que eram as unidades mais valiosas. O setor mais importante da base ficou intacto, frustrando o objetivo principal dos atacantes. Porém foi um erro dos atacantes e não um mérito da segurança da base, mas serve de lição.

Várias são as ameaças contra a segurança de uma base militar, entre elas destacamos: o acesso indevido a informações não ostensivas, atentados diversos a vida dos indivíduos e instalações, perda da operacionalidade da organização por motivos variados como bloqueios no acesso ou “blackout” no sistema de energia, entre outros. Podem ser de origem humana ou por fatores incidentais ou aleatórios como prejuízos causados por forças climáticas e tectônicas ou acidentes involuntários. Na missão brasileira no Haiti o maior número de baixas foi provocado por um terremoto que atingiu militares que estavam dormindo, sendo as baixas em operação quase inexistentes. As ameaças de origem humana incluem negligência, imperícia ou imprudência nas lidas diárias que resulte em acidentes; que devem prevenidos com treinamento adequado e disciplina rígida nas práticas, principalmente nas mais sensíveis. Incluem também atos de hostilidade por terceiros, deslealdade, subversão, sabotagem, espionagem e furto, que devem ser tratados no plano de segurança da base.

A sabotagem é um método de combate antigo e sua identificação é sempre difícil, podendo ser praticada por pessoal da base em ação de subversão, pessoal infiltrado junto ao pessoal da base, ou por grupos armados em ação de escaramuça. Pode ser feita para se parecer com um acidente e ter suas evidências mascaradas.  O objetivo da sabotagem é frustrar a operacionalidade da organização prejudicando seu poder de combate. Seus métodos são a sabotagem por fogo ou incêndio, utilização de dispositivos explosivos, mecânicos, químicos e por ações psicológicas. 


A sabotagem por fogo resulta na maior parte das vezes na destruição das evidências juntamente com o objetivo. Utilizando um dispositivo de retardo, o sabotador dispõe do tempo necessário para deixar a área e estabelecer um álibi. Quando se utiliza de explosivos, visa-se à destruição imediata do alvo. Os alvos principais são as usinas de geração de energia e a infraestrutura de transportes. Os dispositivos explosivos e os incendiários, destinados à sabotagem, são construídos de modo semelhante. Ambos são constituídos de um iniciador, um mecanismo de retardo e uma carga principal. A sabotagem mecânica se dá pela quebra de um mecanismo, sua abrasão, contaminação, adulteração de combustível, substituição de insumos e matérias primas, ou omissão como deixar de lubrificar uma máquina ou não recompletar a água em um sistema de refrigeração.

A sabotagem química e biológica pode se dar com a disseminação de vírus ou bactérias, causando algum tipo de doença. Por esse motivo, qualquer anormalidade sanitária merece uma investigação por pessoal especializado e comunicação e uma comunicação aos serviços de inteligência. Agentes químicos podem ser disseminados através do sistema de climatização ambiental e da rede de abastecimento d’água, por exemplo. A sabotagem psicológica visa quebrar o moral de uma organização. Ela procura colocar as pessoas contra a organização, criando uma situação de antagonismo. São levadas a agir, quer seja por ação (quebra-quebra, piquetes, etc) ou por omissão. Uma ação deste tipo pode ser desencadeada a partir de um indivíduo determinado, exercendo influência sobre os outros. A melhor defesa contra a estas práticas é a existência uma liderança efetiva. Homens esclarecidos e que acreditam em seus chefes, dificilmente se deixam dominar por elementos com maus propósitos.


Principais alvos presentes nas bases militares

Aeronaves e navios, principalmente navios aeródromo e submarinos nucleares, são os alvos muito importantes presentes nas bases militares, pois são de difícil reposição e sua destruição pode determinar a interrupção imediata total ou parcial da atividade fim da base, no caso se for uma base aérea que abriga unidades aéreas, ou uma base naval de alto valor. 

Todo tipo de ameaça pode ser direcionado às aeronaves; desde a sabotagem até o furto. Devem ser adotadas medidas especiais de segurança visando à sua proteção, devendo serem posicionadas sentinelas específicas junto a elas. Aeronaves em visita a uma base qualquer também devem ser vigiadas de perto pela segurança da base anfitriã.

Navios e submarinos atracados ou em movimento de chegada e saída podem ser alvos de ações de sabotagem, roubo ou mesmo de ataques externos. Durante a Segunda Guerra Mundial os aliados abalroaram um dique seco na base de submarinos nazistas de Saint Nazaire, na França ocupada. O dique permaneceu inoperante por toda a guerra causando enormes prejuízos aos esforços navais alemães.


Armamento em geral que poderá ser alvo de furto por grupos criminosos ou terroristas a fim de abastecerem-se destes. Os arsenais deverão ser reforçados para evitar que invasores se apoderem, principalmente de armamento leve.

Material nuclear são um alvo cobiçado por muitas organizações terroristas, e as bases que os contem deverão tê-los trancados em locais de difícil acesso, bem como manter vigilância constante e bem treinada na sua guarda.

Pistas de pouso e decolagem são alvos também de grande importância, principalmente nas bases aéreas, pois a destruição ou interdição de uma pista, praticamente torna inoperante as atividades aéreas. A forma mais usual de bloquear pistas é por bombardeio aéreo, e a presença de artilharia antiaérea orgânica em algumas bases pode ser necessária.


Combustíveis são o sangue que movimenta as unidades militares em operação. A destruição de depósitos de combustíveis, geralmente, se concretiza através de sabotagem por fogo ou por material explosivo; podendo ainda ser objeto de furto sistemático. A perda de combustível é consideravelmente prejudicial e torna impraticáveis as operações nas unidades que o utilizam como de forças mecanizadas, bases navais e aéreas. 

Paióis de munição são extremamente vulneráveis. A destruição de paióis é um golpe muito forte ao sistema de segurança de uma unidade, bem como nas suas operações, em virtude da perda dos elementos necessários à concepção dos objetivos de ataque e defesa.


As comunicações são um auxílio importantíssimo às operações. A destruição das redes de comunicação não acarreta o cancelamento ou interrupção das operações, porém as tornam muito mais difíceis e perigosas, pois estará ausente os necessários enlaces de comando e de logística. Existem também medidas passivas específicas referentes à segurança das comunicações como a criptografia, a disciplina na sua transmissão, a autenticação de mensagens e a utilização de equipamento de tecnologia que proporciona segurança. A destruição ou neutralização física de equipamentos de comunicação também certamente trará efeitos sobre a operacionalidade da base e suas unidades e deve ser considerada. 

Armazéns são locais onde estão estocados materiais diversos e indispensáveis para o cumprimento da missão da Unidade, sejam alimentos, material bélico ou administrativo e outros. O ataque aos armazéns, e a consequente perda do material acarretará prejuízos à operacionalidade da base. O material estocado em armazéns pode ser também alvo de furtos. 

Os geradores são fontes suplementares de energia que não permitem a interrupção das comunicações e outros sistemas de funcionamento elétrico quando ocorre interrupção em seu fornecimento. Interromper o suprimento de energia é uma das primeiras ações do inimigo em um ataque. Assim ocorrendo, os geradores serão alvos de grande importância e que devem ser definidos contra sabotagem. 

O suprimento d’água é alvo ideal para sabotagem química e biológica. A contaminação de um depósito de água poderá resultar na inoperância de toda uma tropa sem que nenhum tiro seja disparado. As bases em geral postam sentinelas em suas fontes de água potável. Suprimento de víveres devem ser igualmente protegidos em virtude de os mesmos serem alvos de sabotagem como a sua contaminação e furto.

Os EUA possuem bases exclusivas com silos de mísseis ICBM, que por sua construção por si só, em ambiente subterrâneo, já lhe proporciona alto nível de segurança, porém mesmo nestas instalações há de se tomar o máximo de cautela com infiltrados, principalmente devido a sensibilidade do material nuclear ali presente e a possibilidade de seu lançamento não autorizado, caso não existissem protocolos de lançamentos super seguros. Mesmo assim um acesso não autorizado de um técnico poderia iniciar o lançamento ou a detonação, se a segurança fosse negligenciada. Outros países como a Rússia possuem ICBM fixos e móveis, que também devem seguir rígidos protocolos de segurança, seja de seus operadores, seja dos militares que lhe fazem a segurança.



Medidas de Segurança mais usuais adotadas em bases militares

Sentinelas

Manutenção de sentinelas em locais previamente escolhidos. Podem ser fixos ou volantes. Estas sentinelas devem ser postadas, preferencialmente, onde possam ser vigiadas por outras sentinelas, constituindo uma corrente circular, de forma que o silenciamento de uma seja imediatamente percebido pela outra. O estabelecimento de rondas periódicas ou contínuas assegura que as sentinelas estejam sempre atentas, evitando distrações como o uso de telefones celulares, dormir durante seu turno ou abandonarem seus postos por outros motivos. A aproximação do militar em ronda deve ser tratada pela sentinela como se fosse um invasor, até que o mesmo seja identificado, em procedimento específicos e com a utilização de senha e contra-senha. Bases navais devem contar com patrulhas embarcadas prevenindo o acesso a partir do meio aquático.


Controle de acessos

O acesso ao interior das bases deverá ser permitido apenas ao pessoal autorizado, devidamente identificados nos portões, preferencialmente e se possível por meios eletrônicos. O conteúdo que os indivíduos carregam também deverá ser checado na entrada e na saída. Os acessos deverão ter obstáculos contra a invasão de veículos como acesso em ângulo, cavaletes anticarro, correntes, perfuradores de pneus, posições de armas automáticas, guaritas fortificadas e outros. As sentinelas destes locais também deverão estar informadas sobre os veículos autorizados a entra e a sair naquele determinado momento, bem como a chegada de militares estranhos à unidade. Uma aeronave ou navio não autorizados pode pousar ou atracar em uma base militar contendo explosivo ou contaminantes, ou ainda militares hostis, e seu acesso deve ser rigidamente monitorados e impedido se necessário. Apesar de não ser uma base, podemos exemplificar o raid israelense em Uganda, onde aeronaves C-130 Hércules de Israel pousaram furtivamente no aeroporto de Entebbe e resgataram cidadãos israelense feitos reféns, nas barbas do ditador Idi Amin Dada. O aeroporto estava guarnecido por soldados ugandenses que foram prontamente neutralizados.

Instalação de sensores

Sensores eletrônicos instalados por todo o perímetro da base poderão alertar sobre invasores. Radares de alerta antecipado e sonares de fundo também pode alertar de aproximações. Bases navais podem ser localizadas em baías restritas, com a implementação de sensores submersos e armadilhas como áreas minadas nos canais de acesso.


Obstáculos Físicos

Obstáculos diversos contribuem em muito para a segurança das bases. Cavaletes de metal, dispositivos destinados furar pneus, acesso aos portões em diagonal e com rampa negativa e obstáculos forçando o zigue-zague, cercas, que podem ser duplas, eletrificadas, ladeadas por campos minados, concertinas alocadas onde não deve haver tráfego e no topo das cercas, cercas altas podendo ser guarnecidas por animais como cães, posições de armas automáticas com cobertura em setores específicos, redes submersas em bases navais prevenindo a incursão de mergulhadores e a transposição de torpedos, e outros.

Inteligência

Identificação pela inteligência e tomada de medidas preventivas de possíveis ou potenciais intenções contra a base, antecipando-se ao inimigo. Uma medida interessante que foi adotada na guerra contra o Iraque foi o posicionamento de aves em gaiolas a fim de dar o alerta de um ataque químico.


Artilharia antiaérea

Bases especialmente visadas pelo assédio aéreo inimigo, como as bases aéreas e navais, deverão contar com estes sistemas. Cobertura aérea por caça e aeronaves AEW podem ser implementadas em casos especiais de alta vulnerabilidade, que atuaram em proveito de áreas mais extensas.

Brigadas de incêndio

Bases devem prever a formação de brigadas de combate a incêndio, principalmente bases aéreas e navais, onde o risco é maior. Quanto maior a base mais especializada deve ser esta tropa, que poderá ser constituída por militares que atuam em outras funções como a infantaria de guarda da base, como por pessoal especialmente dedicado.

Setorização

Restrição de acesso a determinados setores apenas a pessoal autorizado, com rígido controle em área mais sensíveis. Áreas de operação de serviços de inteligência, de estocagem de material perigoso ou muito visado, subestações de força, áreas de comando e controle, etc... Outra medida de setorização pode ser feita no âmbito externo com o estabelecimento de zonas militares restritas no entorno das bases, com postos de controle de veículos e pessoas nas proximidades, além de outras medidas.


Localização Criteriosa

Uma base pode ser alocada em um terreno que favoreça sua defesa, como uma ilha, um local distante de aglomerados urbanos, próxima a contrafortes, em ambiente subterrâneo, oculta entre outras instalações periféricas, locais de afunilamento rodoviário que direcionem o fluxo de veículos de forma a facilitar seu controle, etc... A Base naval da Ilha da Madeira em Itaguaí, por exemplo, foi construída em local privilegiado contra o acesso por mar e por terra de forças inimigas.

Escoltas Armadas

Algumas bases de submarinos nucleares pelo mundo contam com escoltas de superfície que atuam na proteção destas naves no vulnerável momento em que deixam seus atracadouros rumo ao mar aberto e no momento em que retornam de suas patrulhas, enquanto não estiverem submersos ou em profundidade segura.

Existem ainda outras medidas que podem ser adotadas, sendo que cada base possui as suas particularidades, e cada força pode lançar mão de recursos diversos.


domingo, 24 de novembro de 2019

Fortificações de Campanha - Doutrina Alemã de 1943 *185


Parte 1


DOUTRINA ALEMÃ DA FRENTE ESTABILIZADA PREPARADA 
PELO DEPARTAMENTO DE GUERRA WASHINGTON 25
15 DE AGOSTO DE 1943 

A política alemã preconiza o emprego de forças altamente móveis e os sucessos militares da Alemanha foram obtidos em guerras de manobra. Durante os últimos 25 anos, o Alto Comando Alemão tornou-se completamente convencido da solidez das teorias Schlieffen de movimento, envolvimento e aniquilação, especialmente pela localização central da Alemanha na Europa, que lhe dá a vantagem de linhas internas de comunicação, considerada estratégica decisiva em uma guerra de manobra. Doutrinados e treinados nas teorias de Schlieffen, as tropas alemãs foram bem sucedidos na Guerra Franco-Prussiana, na Primeira Guerra Mundial (até que se envolveram na guerra de trincheiras de atrito), e nas campanhas polonesas, norueguesas e europeias ocidentais da Segunda Guerra Mundial.

No entanto, a posição central da Alemanha deixa de ser uma vantagem quando seus inimigos a envolvem em uma guerra de duas frentes. Sua logística disponível não é suficiente para assegurar uma vitória decisiva nos dois lados ao mesmo tempo. Para escapar a esta perspectiva, o Alto Comando Alemão chegou à conclusão de que pelo menos um dos lados deveria ser guarnecido com um grande sistema fortificado.

Uma doutrina de fortificações permanentes, de âmbito exaustivo, foi formulada sob o título "A Frente Estabilizada" (Die Standige Front). O conceito clássico de fortificações - cidades fortificadas isoladas em uma linha de pontos fortes contíguos foi abandonado como obsoleto. O Alto Comando alemão desenvolveu novos princípios à luz da guerra moderna, das armas da atualidade e do poder aéreo que exigia a construção de fortificações permanentes em sistemas de zonas, organizados em grande profundidade. Por "frente estabilizada" significavam não apenas posições fixas que os exércitos de campo poderiam ser obrigados a estabelecer durante uma campanha, mas também as "zonas profundas" de obras fortificadas que seriam construídas em tempo de paz.

A principal missão das fortificações no ocidente era servir no momento adequado como um trampolim para um contra-ataque; entretanto, até que a hora de seu emprego chegasse, eram proteger o flanco ocidental da Alemanha quando empreendeu a guerra ofensiva no leste. Assim, o Muro Oeste foi concebido como uma grande barreira contra a França e os Países Baixos. Mas é essencial perceber que a concepção do Muro Ocidental, longe de comprometer o alto comando alemão a uma atitude passivamente defensiva, deu maior alcance ao caráter ofensivo de sua doutrina. Todo o Exército alemão, incluindo as unidades atribuídas ao Muro Oeste, foi doutrinado com o espírito ofensivo e completamente treinado para uma guerra de movimento.

O papel das fortificações na estratégia alemã foi resumido na seguinte declaração do General von Brauchitsch, então comandante-em-chefe alemão, em setembro de 1939:

"A construção do Muro Ocidental, a mais forte barreira do mundo, nos permitiu destruir o exército polonês no menor tempo possível sem nos obrigar a dividir a massa de nossas forças em várias frentes, como foi o caso em 1914. Agora que não temos inimigo na retaguarda, podemos esperar calmamente o desenvolvimento futuro de eventos sem ter que enfrentar o perigo de uma guerra de duas frentes ".

Este estudo não se propõe a julgar a solidez do conceito alemão de fortificações. Contudo, pode-se ressaltar que, ao formular sua doutrina, o alto comando alemão não prevê que o muro ocidental e as grandes defesas costeiras nos países ocupados protegem as indústrias de guerra vitais contra-ataques maciços e destrutivos do ar. O objetivo deste estudo é fornecer uma síntese dos princípios alemães sobre fortificações modernas e as informações disponíveis sobre as diversas linhas de fortificações permanentes e de campo que a Alemanha construiu dentro e fora de suas fronteiras.





Doutrina Alemã para a Construção de Fortificações

Princípios Estratégicos 

Os alemães consideram a economia de forças como a regra fundamental a ser observada no planejamento de zonas de fortificações permanentes. Seu objetivo é conseguir uma defesa eficaz com um mínimo de mão-de-obra para que a maior parte dos exércitos de campo seja deixada móvel e livre para ação ofensiva em outro lugar. Em outras palavras, uma parcela muito pequena da força militar da nação ou de seu esforço de treinamento é alocada especificamente para as defesas permanentes e até mesmo as tropas que são atribuídas às fortificações, recebem o mesmo treinamento tático que as tropas dos exércitos de campo.

Uma zona permanentemente fortificada, tal como os alemães a concebem, deve servir a dois propósitos: sobretudo serve de base para operações ofensivas e, secundariamente, destina-se a proteger alguma área vital ou interesse do defensor.

O valor de uma tal zona defensiva depende do comprimento e da natureza geográfica das fronteiras nacionais, dos fundos disponíveis para a sua construção e da força potencial do inimigo. De acordo com a doutrina alemã, não há valor militar real em uma zona fortificada que possa ser estrategicamente desviada; Nem há qualquer razão para tais fortificações quando as forças opostas são muito mais fracas ou muito mais forte do que o defensor. Da mesma forma, o custo de um sistema de fortificações não deve ser tão grande a ponto de privar os exércitos de campo de meios adequados para treinamento e equipamento, mas o suficiente deve ser gasto para torná-lo tão forte quanto necessário. A doutrina alemã também pressupõe que o progresso natural da tecnologia produzirá armas que limitarão o valor de quaisquer defesas específicas a um período de anos. Portanto, os alemães constroem suas fortificações para resolver um problema estratégico definido e não para evitar os problemas futuros.

Para fins de ofensiva estratégica, os alemães colocam uma zona fortificada suficientemente perto da fronteira para servir como base de operações militares contra a nação vizinha. Para fins de defesa estratégica, eles o constroem suficientemente longe da fronteira para privar um ataque de força inimigo antes que ele possa alcançar as defesas principais. Em ambos os casos, a zona fortificada é geralmente localizada o suficiente dentro da fronteira para tornar impossível para o inimigo bombardeá-lo com baterias pesadas colocadas em seu próprio solo. No entanto, em casos excepcionais - onde, por exemplo, as indústrias pesadas devem ser protegidas - os alemães podem construir uma zona defensiva imediatamente adjacente à fronteira inimiga.

Neste sistema fortificado, os flancos são afastados tanto quanto possível, a menos que possam ser apoiados em obstáculos naturais inexpugnáveis ou nas fronteiras de países amigos que sejam capazes de manter a sua neutralidade.

Quando esta zona fortificada se encontra ao longo de uma margem de rio, o sistema inclui uma série de pontes, de modo que os defensores possam realizar contra-ataques. Como sempre, a doutrina defensiva alemã se vale do princípio de que a ação ofensiva é, em última análise, a melhor proteção.

Concebida para permitir o livre movimento lateral das tropas, e proporcionar espaço e meios para um contra-ataque eficaz, na ofensiva, os alemães sustentam que uma zona de fortificações artificiais tem vantagens definitivas sobre obstáculos naturais, como montanhas ou rios, porque permite que tropas desembarquem para contra-atacar em qualquer ponto desejado, e da mesma forma as forças em combate podem desengajar-se mais facilmente quando for conveniente.

Fortificações isoladas como uma cidade-fortaleza, mesmo aquelas providas de proteção total, são consideradas obsoletas, onde a população civil é um fardo para os defensores, e além disso, que tal cidade é vulnerável a bombardeios aéreos incendiários.




Princípios Táticos

A Função das Tropas

Espírito ofensivo

A doutrina alemã sustenta que a infantaria deve ser o fator decisivo no combate dentro de zonas fortificadas, bem como em uma guerra de movimento. A resistência tenaz da infantaria, mesmo sob o fogo mais pesado, e sua capacidade em fazer contra-ataques, são a medida da força da defesa. As ações decisivas são geralmente desencadeadas no terreno entre os "bunkers" pelo soldado de infantaria em combate corpo-a-corpo com seu rifle, baioneta e granada de mão. Não menos determinada deve ser a defesa de qualquer instalação permanente, onde a doutrina afirma que a principal posição fortificada deve ser mantida contra todos os ataques, e que cada elo em suas obras deve ser defendido até o último esforço. Dever-se envidar empenho para imbuir cada soldado com a vontade de destruir o atacante. Cada soldado também é ensinado a continuar a luta, mesmo que a maré da batalha flua ao longo e ao redor dele.

Fortificações permanentes, nunca devem ser entregues, mesmo quando todas as armas estiverem fora de ação por falta de munição ou redução da posição. A razão deste princípio é que a perseverança da guarnição, mesmo sem luta ativa, impede o avanço do inimigo e facilita o contra-ataque. Aqui reside uma diferença básica entre a visão alemã dos combates defensivos em frentes fortificadas permanentes e da defesa na guerra de movimento: neste último a perda de uma posição individual não é considerada crítica.

As armas pesadas da infantaria e da artilharia são a espinha dorsal da defesa em uma posição permanente. Durante o bombardeio pesado e prolongado, as instalações permanentes, com suas fortificações de concreto e aço, protegem as armas e suas guarnições, e mantêm as tropas desengajadas da luta em condições de realizar um contra-ataque eventual. Somente neste sentido, os alemães consideram zonas fortificadas taticamente defensivas. "Bunkers" individuais podem ser tomados por um atacante determinado, mas, por causa de seu grande número e dispersão, uma resistência organizada pelos trabalhos restantes pode continuar até que forças móveis sejam trazidas para repelir o inimigo.



Contra-ataque

É indispensável manter pequenas reservas de infantaria em posições fortificadas. Estas reservas são protegidas por reforços que podem ser deslocados rapidamente por meio de túneis para a área onde são necessários para o contra-ataque. Assim que o atacante dominar qualquer parte da zona fortificada, essas reservas são enviadas para a ação antes que o inimigo possa organizar-se e aproveitar seu êxito. Para o contra-ataque, o defensor tem a vantagem de um sistema coordenado e completo de observação e comunicação. Além disso, o defensor deve dispor de reservas protegidas, descansadas e íntegras, sem as baixas que sofrem quando passam pelo assédio da artilharia, e sem a perda de tempo envolvido em traze-las da retaguarda.

Deve-se tentam impedir que as reservas locais cedam a um ataque organizando e reservas adicionais tenham que ser deslocadas a partir da retaguarda, seja por túneis ou por estradas pouco visadas. Todo o esforço é feito para dar a essas reservas apoio de artilharia e para familiarizá-las com o terreno. As reservas setoriais e as unidades da zona intermediária podem iniciar o contra-ataque sem ordens específicas. As unidades com missões de segurança não participam no contra-ataque.

O momento mais favorável para um ataque em larga escala é quando a artilharia inimiga e suas armas antitanque estarão trocando para novas posições. Desde que a situação o permita, a tarde é considerada preferível à manhã, porque após o objetivo ser alcançado, O terreno recuperado pode ser consolidado durante as horas de escuridão.

Como regra geral, as tropas mantidas em prontidão para um contra-ataque geral são empregadas como uma unidade. É vantajoso anexá-las a uma divisão em linha por causa da conduta uniforme da batalha. Se a situação demandar que partes de uma divisão sejam destacadas para o apoio de outras unidades, deve-se subordina-las ao comandante do setor de batalha correspondente.

Se o inimigo conseguir penetrar na posição fortificada principal em vários pontos, as outras posições atacadas devem continuar a batalha sem levar em conta a situação nos pontos de penetração. As rupturas inimigas serão  tratadas por pontos fortes na retaguarda, pontos de proteção de flanco, e as armas da infantaria pesada não empregadas de outra maneira, que dirigem seu fogo de encontro aos pontos da penetração e contrapõem o inimigo antes que consolide seu êxito. 

Satura-se constantemente com fogo de barragem de artilharia além dos pontos de penetração do inimigo, a fim de atrasá-lo e tornar difícil a chegada de reforços. Posições de contato isoladas, onde o inimigo está lutando em combate próximo, serão apoiadas por fogo controlado de armas de infantaria pesada e de artilharia leve. No entanto, as armas de infantaria pesada não serão empregadas quando as guarnições dentro dos “bunkers” possam vir a ser ameaçadas. Ao dirigir seu fogo contra os pontos de penetração, procura-se destruir o inimigo antes de consolidar seu êxito.

Suporte tático

Outra função essencial das reservas é regularmente substituir as tropas empregadas em uma zona fortificada para que sua força de combate possa ser mantida ou restaurada. Por causa das missões especiais das tropas permanentes, sua substituição pode ser completamente prevista, e é realizada sem interromper a continuidade da defesa. A amplitude da substituição depende da condição dos homens, bem como das forças disponíveis. O movimento é efetuado de modo que as unidades substitutas cheguem depois do anoitecer e, em qualquer setor que esteja sujeito à observação do solo, as unidades substituídas se movam antes do amanhecer. Os destacamentos avançados preparam a substituição; guias e destacamentos de orientação dirigem a manobra. A prontidão completa para a defesa é mantida.




Fortificações Permanentes e de Campo

Comparação de Trabalhos Permanentes e de Campo

Embora as fortificações permanentes se conservem ao longo do tempo, exigem muitos recursos e mão-de-obra antes das hostilidades. Fortificações de campo consomem muito menos em trabalho e recursos, mas exigem esforço para sua defesa. Tanto os blindados modernos quanto morteiros pesados são tão móveis que o atacante sempre pode trazê-los dentro do alcance de qualquer zona defensiva. O fogo destas armas, bem como o bombardeio aéreo, é eficaz contra fortificações de campo, mas nem tanto contra obras defensivas permanentes. A solução ideal do problema em um sistema defensivo moderno, é traçar fortificações permanentes e de campo para que se complementem e aproveitem plenamente o terreno.

Outro princípio é que o terreno mais vulnerável deve ser dotado das melhores obras defensivas permanentes, organizadas em grande profundidade, mas obedecendo a critérios rigorosos. A zona defendida é em toda parte transformada quanto os recursos disponíveis permitem, e nenhum terreno deve ser deixado sem a devida cobertura de fogo.

Características das Obras Individuais

Pontos dispersos são geralmente unidos por trincheiras de conexão para formar sistemas defensivos. As fortificações são construídas para a defesa total de áreas de defesa de pelotão ou companhia; Elas podem ser combinadas em áreas de defesa de batalhão estreitamente organizadas ou escalonadas em largura e profundidade. A força, tamanho, guarnição, armamento e equipamento de tais obras dependem da missão das fortificações. Devem ser localizadas de modo a permitir um sistema de defesas de zona. O fogo de tais posições é especialmente eficaz porque mesmo sob bombardeio inimigo, o objetivo e o controle de fogo pode ser mantido. As grandes fortificações permanentes isoladas e não apoiadas pelo fogo de outras fortificações são consideradas obsoletas.

Devido à relativa dispersão dos pontos fortes e à minuciosidade das defesas antiaéreas, o bombardeio aéreo não é eficaz em destruir um sistema de fortificação moderno. Portanto, emprega-se em maior proporção a defesa aérea no apoio geral, bem como no apoio local de grandes contra-ataques.

Onde a resistência decisiva deve ser mantida, emprega-se concreto e aço siderúrgico forte o suficiente para fornecer proteção moral e física contra o fogo indireto mais pesado do inimigo. Um estudo cuidadoso é feito da artilharia inimiga - seu poder, alcance e mobilidade - e um reforço especial é feito nas áreas que podem ser alcançadas por armas de longo alcance. A espessura da cobertura de concreto necessária para resistir ao fogo de artilharia é aproximadamente 10 vezes o calibre máximo que pode disparar sobre ele. Quando se decide que é necessária uma fortificação permanente, especifica-se que ela deve ser construída de acordo com esses requisitos básicos.

As armas de infantaria são geralmente colocadas em obras permanentes. Artilharia e outros meios de apoio são colocados principalmente em posições abertas, com a sua proteção de campo normal, a fim de manter a mobilidade. Em pontos críticos onde o fogo contínuo é essencial, alguma artilharia pode ser colocada de forma permanente.

Os "bunkers" de concreto são geralmente usados para flanquear o fogo em posições que são protegidas da observação direta pelo inimigo. As torres de aço são usadas em todas as obras que disparam frontalmente e que consequentemente são construídas com silhuetas baixas para um bom desenfiamento; Elas também são consideradas essenciais para flanquear fogo em terreno plano.

Fortificações de Campo

As obras permanentes são amplamente complementadas por fortificações de campo e locais de substituição de armas cujas missões de fogo incluem a proteção de portos, rotas de comunicação e áreas afins. As fortificações de campo também permitem que as guarnições continuem a luta quando suas posições permanentes foram neutralizadas e oferecem posições de tiro para reservas no contra-ataque.

De acordo com a doutrina alemã, fortificações de campo são construídas em tempos de tensão ou guerra para reforçar frentes estabilizadas. A construção destas obras é realizada de acordo com planos preparados em tempos de paz por unidades de construção ou por unidades de tropa atribuídas às fortificações. Equipamentos e ferramentas disponíveis e, em certa medida, materiais de construção preparados em tempo de paz são utilizados para este fim.

Com um conflito iminente ou já iniciado, a construção abrange as obras listadas abaixo, sendo o número e o escopo em cada setor dependentes da força das fortificações que foram concluídas em tempo de paz:

  1. Obstáculos na área de posto avançado,
  2. Reforço dos obstáculos na posição avançada e na posição de batalha principal,
  3. Espaldões abertos para armas de infantaria leve e pesada no terreno entre instalações permanentes, e na profundidade da posição de batalha principal,
  4. Calhas à prova d'água nas proximidades dos espaldões,
  5. Postos de observação, posições de artilharia e cobertura para as guarnições,
  6. Postos de comando e instalações de todos os tipos,
  7. Trincheiras de todos os tipos - trincheiras de comunicação rasas e normais, trincheiras de fogo, trincheiras de aproximação e trincheiras de fio telefônico,
  8. Instalações simuladas e camuflagem,
  9. Abrigos profundos no setor traseiro da posição de batalha principal, e também atrás da posição de batalha, se o terreno for adequado,
  10. Obstáculos flanqueadores e posições de retaguarda.

O valor das fortificações de campo reside, em seu pequeno tamanho, seu grande número e suas pequenas exigências de camuflagem. Elas obrigam o inimigo a dispersar seu fogo.

Posições temporárias para armas de infantaria pesada e artilharia são empregadas para atacar o inimigo que se aproxima nas posições avançadas sem trair a localização das instalações permanentes. Elas também podem ser usadas como posições alternativas. A construção, bem como a manutenção e reparação de fortificações de campo, é implementada pelas tropas durante o combate.

Profundidade

As zonas fortificadas devem ser colocadas suficientemente profundas para obrigar a artilharia atacante e o seu serviço de remuniciamento a mudar de posição durante o ataque. O objetivo é privar o atacante do efeito surpresa, e fazer com que ele perca tempo valioso, que pode ser usado pelo defensor na organização de um contra-ataque.

Se uma limitação de espaço não permitir a construção de uma zona de densidade uniforme que satisfaça a exigência de profundidade, constroem-se 2 corredores fortificados paralelos de força máxima, separados por essa distância que assegurará máxima desorganização e embaraço à artilharia atacante. O terreno intermediário entre estes corredores é dotado de obras permanentes, as quais, embora sem densidade, estão situadas de forma que tornem o progresso lento e difícil. Fortificações de campo também são construídas na área intermediária, e deles metralhadoras, canhões antitanque e outras armas de infantaria complementam e reforçam o fogo defensivo. Obstáculos de todos os tipos são empregados extensivamente em toda uma zona para atrasar e forçar o inimigo a avançar em uma área particular que é mais adequada para a defesa.

A área de posto avançado, que inclui fortificações de todos os tipos possíveis, também é calculada para dar profundidade a uma zona fortificada, e para ajudar a absorver qualquer ataque surpresa que é dirigido contra a posição principal. A missão das tropas nessa área é impedir que o inimigo utilize fogo de artilharia observada na posição de batalha principal, adiar sua aproximação e causar baixas.



Controle de Fogo

Fogo sem lacunas

A base para a defesa de uma posição principal em um sistema fortificado é um plano de fogo sem lacunas. O campo efetivo de fogo das armas de infantaria pesada de suas posições fixas é determinado pelos limites de suas lacunas. As armas de infantaria colocadas em fortificações de campo complementam este fogo. As armas de infantaria pesadas também participam de fogos assediados, destrutivos e de barragem de acordo com seu alcance efetivo, mas sua principal missão é a defesa contra ataques. Quando o inimigo começa a atacar as fortificações, das posições fixas faz-se um fogo defensivo com base em dados previamente preparados e incluídos no plano de fogo.

O plano de fogo regula a coordenação e a distribuição do fogo das armas instaladas nas fortificações permanentes e de campo para que todas as áreas em que um ataque possa ocorrer sejam batidas por uma ou mais armas e assim controladas. O fogo das fortificações permanentes é limitado nos flancos, de forma que se fornece suporte a estes setores, em especial com metralhadoras, dos trabalhos de campo.

A posição a partir da qual as armas inimigas podem abrir fogo contra brechas é estimada de antemão pelas tropas cobrindo cada lacuna. Minas também podem ser colocadas em pontos apropriados. O plano de fogo é confeccionado para garantir um cinturão contínuo de fogo, mesmo que as fortificações individuais sejam colocadas fora de ação. Os comandantes regimentais são responsáveis pela coordenação das cartas de fogo nos limites dos setores do batalhão.

Distribuição e Controle de Fogo

A decisão de abrir fogo é feita pelo comandante do batalhão, ou pelo comandante de uma fortificação ou grupo de fortificações. Os comandantes subordinados das obras podem abrir fogo de forma independente assim que tiverem recebido a ordem de "fogo à vontade" do batalhão ou do comandante da fortificação. Para parar o inimigo logo, prescreve-se que o fogo deve ser implementado no longo alcance de acordo com os dados no plano de fogo.

As armas de uma fortificação permanente tentam sempre atrasar a abordagem do atacante imediatamente, e especialmente para impedir que as armas inimigas individuais sejam posicionadas. As armas das obras concretas primeiro envolvem dos flancos os alvos mais perigosos que aparecem em seu setor de combate e, portanto, tais obras são fornecidas com proteção frontal por posições permanentes e de campo. Alvos nos setores de outras posições são engajados apenas por ordem de um comandante superior, mesmo que os alvos pareçam vale a pena.

Os setores de combate são subdivididos em setores de armas, porque, nas torres blindadas, as metralhadoras disparam, como regra, em alvos separados. Devido à possibilidade de falhas de cobertura, o fogo combinado de ambas as metralhadoras só pode ser empregado em casos excepcionais e, em seguida, apenas a intervalos médios e longos. O fogo é combinado se o alvo está no alcance de ambas as armas, e se um efeito decisivo pode ser alcançado.

Pela mudança freqüente e rápida dos alvos, pode-se fazer fogo em muitos alvos em um curto período de tempo, usando assim completamente o efeito do arco do fogo das armas. Se uma mudança de alvo necessita de uma mudança de cobertura, é realizada de forma escalonada pelas metralhadoras sucessivamente, para evitar a interrupção do efeito de fogo. Uma vez que os morteiros complementam o fogo defensivo das metralhadoras, especialmente em terreno acidentado, busca-se uma estreita cooperação com os canhões nos “bunkers”. Morteiros instalados no campo suportam o fogo das outras armas de infantaria pesada e a artilharia em lugares onde o efeito das duas últimas armas não é suficiente.

As armas de infantaria abrem fogo o mais rápido possível. Sua principal missão é engajar alvos problemáticos que não podem ser alcançados por outras armas. Ao empregar armas colocadas em “bunkers”, abre-se fogo assim que o inimigo se coloca dentro do alcance efetivo de suas armas flanqueadoras. Se uma posição é colocada fora de ação, as posições vizinhas assumem o seu setor de combate. Através do fogo flanqueador elas tentam impedir qualquer penetração inimiga através da lacuna resultante, na medida em que isso é permitido pelo alcance efetivo de suas armas e a necessidade de defender seu próprio setor frontal. As tropas devem saber que quando uma posição é perdida, o flanqueamento de fogo das posições vizinhas pode ser decisivo para repelir uma penetração do inimigo.

Controle de fogo das metralhadoras

As metralhadoras são a base de fogo da infantaria em posições de combate. Elas dirigem seu fogo de acordo com as ordens de combate e, em regra, ordenam a imposição direta na força de suas próprias observações.

Os alvos a serem engajados por metralhadoras em posições preparadas são designados pelos comandantes da fortificação de acordo com os dados fornecidos pelos observadores em torres de observação. Se os alvos designados não podem ser vistos de “bunkers”, ou se os alvos são designados por fumígenos, os observadores podem tomar para si o controle do fogo também.



Defesa Anticarro

Uma zona defensiva é protegida contra ataques de blindados por obstáculos naturais ou artificiais que são cobertos por armas anticarro adequadas de todos os tipos. Na área avançada, fortes unidades anticarro móveis são unidas às forças empregadas na área de posto avançado para lidar com as forças blindadas inimigas.

A missão principal dos canhões anticarro estáticos de todos os calibres e da artilharia especialmente designada em uma zona fortificada é destruir os blindados de apoio de infantaria, que poderiam atacar as lacunas de posicionamento em uma posição fortificada principal.

Se o inimigo conseguir penetrar na principal posição fortificada, os defensores solicitam que forças de reserva com poder anticarro apoiem a posição no ponto de penetração. Se as forças blindadas do inimigo tentarem uma penetração adicional da posição principal, as reservas móveis de unidades anticarro, os sapadores mantidos disponíveis e as reservas móveis de canhões antiaéreos são empregadas para engaja-los. Em casos de perigo imediato, direciona-se a artilharia antiaérea com prioridade à defesa anticarro, preterindo a ameaça aérea. Se for necessário o reforço das defesas anticarro fixas em uma zona fortificada, as companhias anticarro são empregadas para este fim em posições de campo entre as obras fortificadas. Em tal caso é subordinada ao comandante do setor, Como são as defesas fixas anticarro. No entanto, o uso destas unidades anticarro em apoio às defesas permanentes é considerado em caráter excepcional. A companhia anticarro fornece a profundidade necessária para a defesa anticarro do setor regimental. Somente em casos excepcionais, como em terreno absolutamente seguro contra ataque de blindados e bem protegido por obstáculos efetivos e com um número suficiente de canhões antitanque, é que as companhias anticarro devem ser usadas como uma reserva móvel. A sua disponibilidade depende da sua mobilidade e da sua capacidade de manobra em todo o setor.

As armas anticarro fixas são guarnecidas por unidades anticarro da fortificação. Unidades anticarro de infantaria engajam principalmente os blindados leves e médios. Os pesados são engajados por armas especiais, apoiadas por engenheiros e artilharia. As metralhadoras colocadas nas fortificações normalmente disparam contra a infantaria inimiga, e também disparam nas janelas de observação dos blindados.

Artilharia

A artilharia que apoia uma zona fortificada consiste em artilharia de posição, que é estacionária ou de mobilidade limitada, artilharia de divisão móvel e artilharia de exército, usada para reforço. A maior parte da artilharia de defesa é altamente móvel para que possa ser empregada concentrada nos pontos em que o inimigo tentar um ataque decisivo. As posições de artilharia são preparadas na área avançada de toda a zona fortificada, e à retaguarda desta zona para o número máximo de baterias de artilharia necessárias. Estas posições são dispostas tanto quanto possível perto de rotas de aproximação. As posições também incluem proteção para homens e munições, e têm comunicações subterrâneas para postos de observação previamente estabelecidos, que são usualmente localizados em torres blindadas. 

Na fase inicial do combate, a maior parte da artilharia de defesa leve e média é mantida nas posições avançadas para missões de contrabateria e contrapreparação. Se a artilharia de defesa é forçada a deslocar-se para cobrir um ataque que atinge a zona fortificada, deve-se concentrar fogo máximo sobre a infantaria inimiga, a fim de efetivamente preparar um contra-ataque. Para este propósito, um certo número de baterias na zona fortificada são colocadas atrás da proteção que pode suportar o fogo de artilharia inimiga mais pesado. Essas baterias são colocadas permanentemente.

No caso de o contra-ataque falhar e a artilharia divisória em defesa for forçada a abandonar sua posição nas áreas avançadas da zona fortificada, esta artilharia deverá concentrar todo o seu fogo na infantaria inimiga.

A doutrina estabelece de que a ligação mais estreita deve ser entre artilharia e infantaria e a interação da artilharia com todos os outros ramos do serviço em campanha são fatores decisivos na condução do combate de artilharia e no desfecho da defesa. Ela prescreve que esta cooperação deve ser estabelecida e mantida em todos os sentidos. Unidades de coordenação divisionárias de artilharia desempenham este papel. A artilharia é treinada para implementar constantemente as seguintes escaramuças:

  1. Mudanças repetidas de posições entre as missões de tiro,
  2. Atividade restrita na posição de tiro escolhida para a batalha decisiva,
  3. As missões individuais e os fogos de assédio são realizados principalmente através da rotatividade entre as baterias,
  4. Algumas baterias em repouso são mantidas na reserva de modo a estar disponível para missões especiais durante o ataque inimigo.




Observação, Reconhecimento e Relatórios

A constante observação do terreno é feita de todas as fortificações, antes da aproximação do inimigo e durante o ataque, e é considerada como de extrema importância. A observação é prejudicada durante as pausas no combate, particularmente durante a escuridão ou com neblina. Nos trabalhos que não têm instrumentos ópticos de campo, a observação é mantida através de lacunas. Em “bunkers”, torres blindadas e postos de observação, os instrumentos ópticos fixos padrão são usados para esta finalidade. Instrumentos suficientes devem ser dotação para permitir a observação extensiva, sem brechas de todo o terreno em combate.

Todas as observações úteis devem ser relatadas constantemente para o quartel-general e transmitidas aos comandantes de outras fortificações. Além disso, quando solicitados pelos escalão superior, os comandantes da fortificação fazem relatórios diários breves, incluindo:
  1. Conclusões extraídas das observações do inimigo,
  2. Engajamentos,
  3. Força em combate e perdas, 
  4. Condição das fortificações, armas e instrumentos, 
  5. Requisições para substituições e suprimentos. 

A missão principal da aviação de reconhecimento anexada às guarnições do corpo é assegurar a informação avançada sobre preparações inimigas para o ataque. Nos combates em larga escala, usam-se aviões de reconhecimento para esclarecer sua própria situação também. Durante as pausas, essas aeronaves supervisionam a camuflagem de instalações de combate concluídas, bem como aquelas em construção.



Comunicação e Controle

Todos os comandantes em uma zona fortificada são mantidos plenamente informados em todos os momentos da situação real dentro de sua área de comando. Em um esforço para assegurar um fluxo contínuo de informações, tenta-se manter um sistema de comunicação funcionando sem falhas sob o maior tempo possível sob fogo do inimigo. Normalmente, um sistema de cabo duplo, enterrado fora do alcance das bombas aéreas pesadas e dos impactos da artilharia. 


Com a finalidade de manter um comando e controle (C2) eficiente, os “bunkers” vizinhos ou as torres, são unidos em um grupo ou fortaleza por túneis. Desta forma, o exército tenta assegurar não só um maior controle tático, mas também uma maior força tática. Cada fortaleza forma uma área de defesa de batalhão na qual os fortes individuais são capazes de apoio mútuo. Os “bunkers” com máxima capacidade de observação e potência de fogo são os pontos focais do novo sistema, e são fornecidos com fogo de flanqueamento completo de fortificações dentro do grupo ou de “bunkers” adicionais construídos para este fim. Os obstáculos de arame cobertos por este fogo flanqueador são camuflados o mais cuidadosamente possível, a fim de não denunciar ao atacante as posições dos “bunkers” flanqueadores e as áreas de defesa do batalhão.



Parte 2 (breve)