FRASE

"Quem escolhe a desonra a fim de evitar o confronto, a conseguirá de pronto, e terá o confronto na sequência."

sábado, 21 de dezembro de 2019

Estratégia Naval *188


Operando no Mar - Generalidades

Guerra Naval é a disputa pela superioridade militar, em que forças antagônicas se atritam de forma violenta, buscando alcançar a hegemonia sobre um determinado espaço geográfico, que com frequência resulta no engajamento físico de suas diversas unidades. Ela compreende ações desenvolvidas na superfície dos mares e abaixo dela, no espaço aéreo respectivo e nas terras contíguas a estas águas, que de alguma forma influenciem ou sejam influenciadas por estes primeiros elementos. 

Visam a consecução de objetivos tanto no espaço marítimo quanto terrestre, imediatos ou a longo prazo, e envolvem elementos pertencentes ou não ao poder militar. Diferentemente das operações de guerra terrestre ou aérea, onde os meios civis raramente participam de situações de caráter tático, no mar os meios de marinha mercante frequentemente são mobilizados para conduzir operações bem caracterizadas em apoio às forças militares, de acordo com suas possibilidades operativas.

A Importância Político-Estratégica do Mar

A importância do mar na vida dos povos é inquestionável e antiga. Observando a história podemos constatar que a maior parte da atividade humana ao longo dos tempos se desenvolveu ligada a ele. Ocupando 70% da superfície do planeta, continua a ser o cenário de manifestação de poder de um grande número de nações. As maiores cidades do mundo estão junto ao mar ou muito próximas a ele, assim como os países com atividade marítima mais intensa assumiram ao longo da história e mesmo hoje maior importância mundial.

O uso do mar, na atualidade, é permitido apenas aqueles que possuem poder econômico e militar, ou que obtenham a permissão deste poder para fazê-lo. Sob a ótica econômica, o mar é a via de comunicações mais importante do planeta e fonte abundante de matérias-primas essenciais ao abastecimento de muitos países. Mesmo com a intensificação das vias de transporte aéreo e terrestre, não há indícios que num futuro previsível o mar venha a perder sua importância absoluta na movimentação de matérias primas entre as economias modernas. Estima-se que mais de 36.000 navios mercantes transportaram 8,1 bilhões de toneladas de carga em 2008 pelo mundo. O ferro e o petróleo, vitais nos sistemas econômicos modernos são totalmente transportados pelo mar. Muitas nações ainda encontram no pescado uma de suas principais fontes de alimento. A exploração das plataformas continentais adquire maior importância a cada dia como fonte de matéria-prima.




A importância militar também é significativa, pois é através dele que os invasores chegam, e seu domínio constituí uma efetiva barreira para qualquer aventura deste tipo. Os ingleses só deixaram de ser invadidos depois que assumiram o controle do Canal da Mancha, ao passo que invadiram mais tarde todos os recantos do mundo. Nenhuma nação sobrevive apenas de estoques acumulados e o mar é porta de entrada contínua de todos os tipos de suprimento. Base industrial agregada a matéria prima é um dos componentes do poder nacional. Como o poder é sempre relativo, mesmo nações sem dependência direta do mar o consideram estrategicamente, pois muitos de seus aliados ou inimigos estão nesta dependência. A Suíça possui uma grande frota mercante e nenhum litoral, por exemplo.


Para a estratégia naval o mar apresenta-se com duas características importantíssimas quanto a sua utilização:
  • é uma eficiente via de transporte disponível, podendo muitas vezes ser a única aos protagonistas de uma situação de conflito declarado ou potencial; 
  • é uma ampla e flexível base de projeção de poder sobre as bases do poder contrário.

O Domínio do Mar

Entendemos como o domínio do mar a efetiva utilização das superfícies oceânicas pelas forças navais e marinha mercante. Busca-se neste domínio a condição de mínima interferência possível de poderes antagônicos. Este domínio é o objetivo final da guerra naval e em torno dele suas estratégias são traçadas, sendo pré-requisito essencial a obtenção da iniciativa nas ações estratégicas, valendo lembrar que a iniciativa é um dos princípios da guerra. Durante a II grande guerra o domínio do Atlântico, mesmo que parcial, significou condição vital a manutenção das operações no continente europeu, pois de nada valia o enorme poder produtivo da indústria norte-americana, sem a capacidade de transportar este suprimento para a área de operações. Os comandantes aliados sabiam que não haveria a invasão da Europa sem comunicações marítimas seguras, por consequência sem vencer a Batalha do Atlântico. Os Alemães também sabiam disso e colocaram seus U-boats em operação intensa, além de dedicar esforços na construção de meios de superfície como o encouraçado Bismark.




O domínio do mar não pode ser considerado apenas como algo absoluto e em grandes áreas marítimas. Ele pode ater-se à áreas restritas, desde que o domínio destas satisfaçam os objetivos estratégicos. Seu domínio absoluto só existirá se houver total ausência de poderes antagônicos, situação improvável. Na prática considera-se estabelecido o domínio quando as operações militares e suprimentos econômicos podem fluir sem perdas inaceitáveis.

Um fator importante ao domínio do mar é a existência de bases aéreas e navais disponíveis, ou locais onde possam ser instaladas. Assim o domínio de ilhas em grandes extensões oceânicas como o Hawaii no Pacífico, e a ilha de Ascensão no Atlântico, por exemplo, são de vital importância a operação das forças que disputam a guerra neste ambiente. Como o poder é relativo e o domínio global uma condição raramente atingida, cabe à estratégia naval avaliar o grau de controle necessário de cada área e aplicar ali os meios requeridos. Podem haver áreas importantes para um dos lados e totalmente desnecessárias a outro, como foi o caso do Atlântico Norte na II Guerra. Quando esta situação se configura, o lado que não necessita da área marítima, tende a empregar esforços no sentido de negar seu uso ao outro lado. Neste contexto, se este lado não puder vencer a guerra, ainda pode provocar um impasse estratégico e forçar o outro a mesa de negociações.

Algumas áreas marítimas são mais importantes que outras. Como as já citadas áreas que podem abrigar bases aéreas e navais, temos ainda pontos de passagem obrigatória como os canais de Suez e do Panamá, os estreitos como o Bósforo, o estreito de Ormuz, Gibraltar e Bering entre outros; os cabos Horn e da Boa Esperança. Águas interiores como o Mediterrâneo e o Mar Vermelho, Mar do Caribe e Báltico também assumem importância nas operações. A Rússia, a despeito de sua extensão territorial, tem limitadíssimas opções de acesso ao mar. Ao norte o mar congela ou tem que ser transposto o Báltico com seus estreitos e baixa profundidade; ao sul tem que passar pelo Bósforo para deixar o Mar Negro; e o leste fica distante e no quintal do império japonês. Em contraste, Brasil, Estados Unidos e Chile tem amplo acesso ao mar aberto.


O nível de domínio do ambiente marítimo pretendido por determinada nação deve estar definido em sua estratégia naval. Esta, define quais os objetivos a serem alcançados através das operações navais para que este domínio se consolide. O nível de domínio do mar se dá em 4 graus distintos:
  1. Não existe nenhum domínio do mar, e os atores do poder antagônico tem total liberdade sobre o ele, podendo inclusive negar seu uso a quem o desejar;
  2. O seu uso é negado aos atores do poder antagônico, porém não é possível utilizar o espaço marítimo pois aqueles detêm capacidade semelhante;
  3. O domínio do mar está em disputa e pode-se utilizá-lo, porém com risco proporcionado por capacidades reais do poder antagônico que as utilizará se conseguir transpor as barreiras de segurança adotadas;
  4. O domínio do mar está consolidado, podendo o espaço marítimo ser utilizado sem grande interferência do poder antagônico, que não pode utilizá-lo pois esta capacidade lhe é negada. É o oposto diametral da primeira situação.


O Poder Marítimo

O poder marítimo é capacidade de uma nação se fazer presente nos mares com maior ou menor expressão, capacidade esta resultante de uma série de fatores condicionantes. São eles:

  • o poder naval constituído pela força aérea e marinha de guerra e suas bases de apoio e instalações estratégicas, 
  • sua geografia, 
  • a marinha mercante e suas agências de comércio marítimo, 
  • seus portos, estaleiros e bases de reparação, e toda base industrial,
  • a qualificação de seu pessoal envolvido com a atividade marítima ou que a dê suporte
  • a índole nacional e sua capacidade de organização
  • além de suas alianças estratégicas que envolvam a atividade marítima.

O Poder Naval

Poder naval é a capacidade de uma nação impor sua estratégia marítima e naval através de meios de guerra naval e poder marítimo, empregando suas marinhas de guerra e mercante. O emprego do poder naval dá-se a partir do grau de domínio do mar que foi alcançado, e busca a efetivação de 5 objetivos básicos:
  • Negar o uso do mar ao inimigo para deslocamento de sua força militar, impedindo sua aproximação de solo pátrio ou ultramarino de interesse, o que inviabiliza qualquer tipo de invasão;
  • Pressionar militar e economicamente o poder antagônico, impedindo que receba pelo mar todo e qualquer recurso que facilite seu esforço de guerra, ou que despache pelo mar seu comércio, sufocando desta forma suas finanças e inviabilizando a compra de suprimentos de guerra, bem como pressionar as nações neutras que estejam dispostas a participar de tal comércio;
  • Proteger do assédio do poder antagônico o tráfego marítimo amigo que realiza o apoio a atividade econômica que participa do esforço de guerra;
  • Assegurar à força militar amiga o acesso às cabeças de praia no território do poder antagônico e sua projeção para o interior, bem como de suas linhas de suprimento;
  • Apoiar a manutenção de territórios costeiros conquistados, permitindo o livre acesso às áreas do interior de todos os meios oriundos do mar, em apoio às forças terrestres que estejam em operação neste locais.
Estes objetivos devem ser buscados simultaneamente a fim de atingir o intento final que é solucionar o conflito na condição de superioridade, sendo que a intensidade aplicada a cada item será calibrada pela dimensão tático-estratégica de cada situação específica. As marinhas de guerra possuem diferentes capacidades para aplicação do poder naval, cada qual operando de acordo com suas capacidades proporcionadas pelos meios disponíveis.



Operando no Mar - Generalidades
Operações de Guerra Naval

segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Operando no Mar - Generalidades *187


Adaptação do Guia de Guerra Naval do site Sistemas de Armas

A guerra naval, tal qual a terrestre, é um jogo de fogo e movimento, onde as forças procuram surpreender suas oponentes, colocando os meios daquelas dentro do alcance de seu fogo, evitando assumir a mesma condição. É uma sequência de escaramuças baseadas em alta tecnologia e muita astúcia, onde o equipamento menos capaz quase sempre é sinônimo de fracasso, podendo em raras ocasiões ser compensado pela perspicácia dos comandantes mais astutos e bem treinados. 

As marinhas do mundo buscam constantemente equipar-se da melhor forma possível, porém o custo dos sistemas navais mais modernos reservam o domínio dos mares àquelas mais abastadas. Um exemplo clássico desta situação ocorreu um 1982, quando submarinos nucleares britânicos forçaram a pequena esquadra argentina a ficar imóvel e inútil em suas bases, mesmo não estando ainda presentes de fato, pois a simples suspeita de sua presença anunciada, obrigou os argentinos a reguardarem seus meios, incapazes de contrapor a ameaça representada pelos submersíveis. O disparo de uma arma no cenário naval é tão somente o coroamento de uma sequência de escaramuças, combinando movimento contínuo para obter o melhor posicionamento a uma atividade intensa de operações de esclarecimento, usando meios navais, aeronavais e de guerra eletrônica, incluindo o sensoriamento por satélites.

Em contraponto aos espaços restritos e repletos de recursos de ocultação dos teatros terrestres, as vastidões marítimas são o grande trunfo das forças navais para manterem-se incógnitas.  Monótono e desprovido de acidentes naturais, o mar exige a vigilância constante por aeronaves, submersíveis e sensores eletrônicos com detecção a grandes distâncias, sendo a ocultação permitida apenas pela curvatura do planeta e pela submersão dos meios capazes de tal manobra. Quando operando próximas à costa, as formações navais ainda conseguem alguma proteção dos acidentes do terreno, porém também podem ser surpreendidas por ameaças surgidas a partir deles. No teatro marítimo, meios eletrônicos modernos e sistemas no estado da arte são a diferença entre ganhar ou perder.



O primeiro recurso que uma força naval dos nossos tempos coloca em ação é o esclarecimento marítimo através da aviação de patrulha de longo alcance e do sensoriamento por satélites, se disponível. Pequenos navios patrulheiros e aeronaves, baseadas em terra ou mesmo em escoltas e navios porta-aeronaves, patrulham os mares a procura de forças que possam representar ameaça, pois o quanto antes se detectar o inimigo, mais tempo se terá para preparar-se para enfrentá-lo. 

Patrulheiros aéreos baseados em terra formam a primeira linha de defesa de uma nação contra incursões vindas do além-mar e são vitais na segurança de qualquer país com fronteiras marítimas. Estas aeronaves são vulneráveis ao assédio de caças inimigos, porém devido à imensidão marítima estes teriam que ter raios de ação improváveis ou contarem com o suporte de navios-aeródromos. Vigiar o mar com radares baseados em navios é perigoso e deve ser feito com critério, pois o radar diz ao atacante exatamente onde está. Mesmo denunciando sua posição, o radar é elemento vital na guerra naval e amplamente usado nestas operações, sendo àqueles aerotransportados (AEW) mais fugazes e difíceis de serem plotados, além de terem um horizonte maior. Aeronaves AEW operando em proveito de uma força naval são elementos valiosos. Na batalha de Midway, ao contrário dos porta-aviões norte-americanos, os japoneses não possuíam esclarecimento por radar, cabendo às aeronaves e aos olhos de seus pilotos este papel. Esta condição lhes custou caro, pois as forças dos EUA lograram surpreender a frota nipônica quando esta não mais podia reagir, afundando 3 naves em poucos minutos e revertendo em instantes o rumo da guerra no pacífico, na maior batalha naval da história.

As principais missões navais são o controle de área marítima e a negação do uso do mar, que é o contraponto da primeira. A partir do mar também se lança o poder sobre terra, operação que deve partir de um espaço marítimo sob controle e dentro de uma esfera de segurança relativa. A mobilidade de uma força naval é fator chave para sua sobrevivência, pois uma força estática pode ser rapidamente localizada e virar alvo, de forma que ela deve estar sempre em movimento, salvo em áreas onde o domínio é total. Na Guerra das Falklands/Malvinas a esquadra britânica se manteve em segurança a leste das ilhas onde a aviação argentina não a alcançava, porém ao custo da autonomia de seus caças Harrier. Como neste caso, aeronaves baseadas a grandes distâncias de sua área de operações acabam por permanecerem pouco tempo engajadas em combate, devendo retornar para abastecer. Reabastecedores aéreos podem prolongar sua presença.

As esquadras operam como um único corpo, com seus diversos navios proporcionando segurança um ao outro. Quando um deles dispara, seja suas armas ou sua radiação eletromagnética, sua posição fica logo conhecida e a mudança de posição, bem como o movimento contínuo são inevitáveis. Pode-se operar em grupo em um dia, dispersar-se em seguida para evitar detecção e reagrupar-se novamente muito longe de onde se estava anteriormente. Distâncias muito longas (maiores que 40 km que é o horizonte-radar para naves de superfície) podem prejudicar os links de comunicação se a frota não contar com o enlace por satélites, neste caso sendo necessárias retransmissões por aeronaves.

Durante uma operação naval as diversas unidades que a compõem manobram e disparam sempre que se julgar oportuno, porém todas, invariavelmente, trabalham o tempo todo na coleta, processamento e disseminação de informações de combate, de forma que todas as unidades estejam continuamente cientes da situação tática, que pode ser bem dinâmica. Os tempos modernos trouxeram os sistemas informatizados e a NCW (guerra centrada em redes), que tornaram as atividades de C3I (comando, controle, comunicações e informações) mais rápidas e tempestivas. A inteligência é a essência das operações, e no mar esta afirmação é acentuada. 



Aeronaves de patrulha marítima, caças e bombardeiros, helicópteros antisubmarinos, navios de superfície e submersíveis operam seus sistemas de ESM (medidas de apoio eletrônico), radares e sonares, na coleta de toda informação que se possa obter sobre o inimigo e situação tática. Armas potentes e precisas, posicionadas com seus alvos teoricamente dentro de seus alcances, de nada valem se estes não puderem ser detectados, identificados, adquiridos e travados, bem como deve-se manter vigilância constante para que as unidades inimigas não se coloquem em posição favorável ao disparo das suas.

O grau de segurança que uma esquadra dispõem é aquele proporcionado por sua mobilidade, complementado por seus sistemas defensivos. Quem detecta primeiro, dispara primeiro e se evade da mesma forma, ficando fora de alcance e ganhando a batalha. Desde o planejamento até o regresso pós-missão o esclarecimento é a principal atividade desempenhada pela frota. Uma vez localizada, a ameaça oferecida por uma formação naval diminui muito, devido principalmente a perda do fator surpresa. Nesta situação o comandante pode empreender um ataque se seus meios forem suficientes e a ocasião conveniente, ou evadir-se em caso contrário. O esclarecimento deve sempre andar de mãos dadas com seu contraponto, que é a negação de informações ao inimigo, com a situação tática e as especificidades operacionais determinando este equilíbrio.

Quando se opera em um ambiente misto, ou seja próximo a costa ou lançando incursões aéreas e anfíbias terra adentro, a topografia dos terrenos adjacentes e de uso potencial adquirem importância tática. Aeronaves utilizam-se das elevações e dos espaços entre elas para traçar suas rotas de ingresso e retorno, rotas estas que também podem servir para que a aviação inimiga lance missões contra a frota. Nas operações anfíbias as praias adquirem relevância, bem como as posições de artilharia contra-desembarque, seja de tubo cujo alvo principal serão os fuzileiros e as embarcações, ou de mísseis antinavio baseados na costa.  As elevações e acidentes do terreno podem ainda abrigar forças de combate. Águas restritas podem servir para forças costeiras montarem emboscadas, lançarem minas navais ou ainda abrigarem os silenciosos e mortais submarinos diesel-elétricos. Barreiras físicas como recifes e bancos de areia também se fazem presentes em ambientes próximos a costa, e constituem obstáculos, bem como a profundidade relativa do local. 

A base naval de Pearl Harbour era considerada segura contra o ataque de torpedos lançados do ar devido a sua baixa profundidade, onde sequer haviam redes antitorpedos. Calculava-se que pela inércia da queda, se chocariam com o fundo. Porém não se considerou a engenhosidade japonesa que criou formas destes projéteis assim lançados evitarem este comportamento e atingirem a frota norte-americana la ancorada durante a Segunda Guerra Mundial.



Conhecer a ordem de batalha inimiga é fundamental ao comandante naval. Saber das capacidades de cada um dos meios à disposição dos comandantes adversários norteará as decisões a serem tomadas e os cuidados que devem ser observados, e o desconhecimento destas poderá resultar em surpresas desagradáveis. A capacidade do inimigo capitalizar as características dos ambientes restritos também dependerá da adequação de seus meios disponíveis a este cenário, porém estes são mais acessíveis e disponíveis a quase todos. Invariavelmente se faz necessário o reconhecimento prévio dos locais onde a frota ou suas unidades operarão, com varreduras aéreas e de superfície a fim de identificar e eliminar ameaças ali presentes, como o já citado submersível de tocaia, a presença de minas, artilharia de costa e lanchas torpedeiras ou com mísseis.

Um comandante competente possui planos de contingência para todas as situações, não importando o quanto elas possam ser remotas, e cumpre sua missão com agressividade e cautela, pois a timidez e a negligência quase sempre levam ao fracasso ou a inoperância. Operar nesta situação de agressividade necessária sem se expor não é tarefa fácil, e exige competência dos comandantes, conquistada pelo conhecimento e treinamento constante.

Manobrar significa posicionar-se para que se possa fazer fogo de forma eficiente, sem se expor, levando em consideração as distâncias a serem vencidas e o tempo disponível. A manobra requer a sincronização no tempo e no espaço dos vários meios navais e aéreos, com base na inteligência disponível e necessária, pesando os riscos envolvidos e o objetivo a ser atingido. 

O centro de gravidade tático deve ser buscado em cada operação e sua identificação é vital ao sucesso da manobra. Deve-se identificar as unidades que representam maior ameaça e os objetivos a serem alcançados para que a missão possa ser cumprida. A simples retirada da força inimiga pode significar o sucesso da missão, algumas vezes sem que um único disparo seja efetuado. Esta situação aconteceu no conflito do Atlântico Sul em 1982, onde o afundamento do cruzador ARA Gen Belgrano, em manobra de assédio às forças britânicas, por um SSN de sua majestade, fez com que toda a frota argentina se recolhessem à suas bases e lá permanecessem até o final do conflito, como dito anteriormente. Salientamos ainda que unidades de maior ameaça são aquelas capazes de interferir de forma significativa na manobra e devem ser priorizadas no quesito segurança, unidades que constituam os objetivos da missão são as mais importantes e devem ser buscadas no quesito finalidade, e unidades muito potentes que se encontrem próximas à área de operações, devem ser tratadas como objetivos secundários. O tempo disponível determinará o grau de flexibilidade que a missão poderá alcançar.

Ao iniciar o deslocamento de uma esquadra ou flotilha, o comandante naval poderá optar por uma rota direta e previsível, ou por uma indireta que os mantenha incógnitos à vigilância inimiga. Poderá ainda realizar um deslocamento emassado ou disperso, todos sempre precedidos de meios precursores, tarefa desempenhada pela aviação, embarcada ou não, e pelos submarinos que tem na sua capacidade de permanecerem ocultos seu maior trunfo nesta vital tarefa de esclarecimento. Estas decisões serão tomadas de acordo com o nível de ameaça que a frota irá enfrentar, sua capacidade de reação, a presença ou não de armas nucleares, o tempo disponível, a presença de submarinos, as áreas patrulhadas pela aviação inimiga, entre outros. A disciplina de emissões eletromagnéticas deve sempre ser considerada, com momentos em que o "silêncio" é fundamental.



Outra decisão que o comandante naval levará em consideração, será de manter contato ou não com as forças inimigas antes dos momentos decisivos. Muitas vezes um contato que leve a provocar um desgaste, seja nos meios inimigos ou em seus estoques de munição e combustível ao custo de danos mínimos, pode ser mais proveitoso que um deslocamento totalmente isento de proximidade. Antecipar corretamente a presença do inimigo e fazê-lo disparar suas armas de modo calculado é uma arte que rende dividendos, porém perigosa se executada de forma inadequada.

Com os meios de combate selecionados e o itinerário definido, a frota se lança para atingir as posições iniciais de combate e completar sua missão. Sempre guarnecida pelo guarda-chuvas proporcionado por seus meios de vigilância de superfície, aéreos, antiaéreos e ASW, e suas armas dedicadas. Também se faz importante a análise da área de operações, suas características geográficas e a capacidade do inimigo em "capitalizar" estas áreas, inclusive o relevo submarino.

Uma vez iniciado o contato, o comandante deve seguir uma ordem de engajamento coerente, priorizando as unidades que oferecem maior ameaça a seus meios, seja enfrentando-as, visando sua neutralização ou as evitando, se o engajamento for muito perigoso, sem perder no entanto o foco no objetivo da missão. Por exemplo, para deter um desembarque anfíbio os alvos prioritários são os transportadores de tropas e meios de desembarque, porém o desembarque se dará coberto por escoltas que devem ser vencidas para se chegar aos objetivos principais, e que pode causar revezes significativos. Nenhum plano sobrevive aos primeiros engajamentos, e cada contato deve ser avaliado com o plano de batalha revisto para se adequar a nova situação.

Aquelas ameaças que poderão interferir de forma significativa no cumprimento da missão ou mesmo impedi-la são consideradas muito perigosas e devem ser controladas. As que não podem interferir de forma tão contundente, mas mesmo assim podem ameaçar a frota ou seus meios individualmente de forma mais séria, também devem tratadas da mesma forma. O comandante deve avaliar constantemente suas prioridades visando a integridade de seus meios sem negligenciar o cumprimento da missão, e alocar cada uma de suas unidades ou grupo delas de forma calculada contra cada fração inimiga, dentro de uma escala de prioridades que permitam atingir o objetivo final. Meios aéreos e submarinos são os mais eficazes em ações de assédio aos meios flutuantes do inimigo e se disponíveis devem ser priorizados, pois são alvos mais difíceis de engajar.



As ameaças a integridade da frota devem ser colocadas em um nível hierárquico e combatidas de acordo com sua periculosidade. Como exemplo podemos definir as ameaças em Poderosa e Prioritária (classe A) como mísseis cruise se aproximando,pois podem provocar danos imediatos aos meios da frota; Apenas Prioritária (classe B) como um SSK detectado pelas coberturas externas e que poderá ou não lançar um ataque; Apenas Poderosa (classe C) como um grupo de ação de superfície detectado a 500 km e está longe demais para uma ação mais decisiva; e Nem Poderosa e Nem Prioritária (classe D) como um FAC ancorado e que não representa ameaça a curto prazo.

As ameaças classe A devem ser imediatamente combatidas e todos os meios disponíveis devem ser alocados para eliminá-la. As ameaças classe B igualmente requerem reação rápida mas não necessitam que a maioria dos meios se engajem na sua neutralização. As ameaças classe C são uma espécie de "zona de conforto" do combate e há tempo de se tomar medidas preventivas antes que atinjam posição de disparo, como adquirir formação para combate-la ou manobrar para evitá-la. As de classe D são alvos de oportunidade, pois sua neutralização evita que sejam usadas no futuro mas não contribuem para o sucesso imediato.

Qualquer plataforma, mesmo naves civis ou sem poder de fogo podem ser uma ameaça de primeira grandeza se puderem denunciar a posição ou acabar com o elemento surpresa, ou mesmo criar vulnerabilidade, como ilustrado no filme "Pearl Harbor", quando o Cel Doolittle ordenou a decolagem dos bombardeiros antes da hora pois o porta-aviões Hornet foi visto por uma pequena nave patrulha japonesa que foi afundada, mas que poderia ter transmitido a posição e alertado as defesas. Além do alerta como exemplificado, uma pequena plataforma, seja uma nave de superfície ou helicóptero, pode passar dados para que outra possa abrir fogo.



Na guerra naval a concentração de meios não é importante e unidades dispersas podem concentrar fogo sobre um mesmo alvo mesmo estando a grandes distâncias uma das outras. Mísseis de longo alcance e sistemas de NCW permitem a coordenação e sincronização destas ações. A concentração passa a ser uma função entre capacidade defensiva x capacidade ofensiva, e a situação estabelecerá esta disposição, além é claro, da natureza da missão. Quando se trata de capacidade defensiva a concentração de meios favorece o apoio mútuo com sobreposição de capacidades, salvo quando se lida com ameaça nuclear onde a concentração favorece o atacante. A dispersão permite que as frações possam ser engajadas separadamente.

Quando duas forças navais de capacidades diferentes se enfrentam, a força superior leva vantagem mantendo-se coesa, dificultando seu engajamento pela força inferior. Ao dispersar-se a força superior permite à inferior engajamentos à suas frações individualmente, porém se manter a coesão permite que a força inferior adquira seus alvos mais facilmente, correndo é lógico um risco maior. Por outro lado, seguindo os princípios da guerra de resistência, a força inferior tenderá a sempre dispersar seus meios para forçar a dispersão da força superior. Ao atacar um elemento da força inferior, a força superior terá de atacar também os outros simultaneamente com todas as dificuldades inerentes a tal empreitada, ou dar chance para que a força inferior manobre os seus para um ataque coordenado à força superior.

O comandante deve estimar de onde podem vir as ameaças à suas forças, e esta estimativa faz sentido para planejar a defesa de uma formação inteira, e não de unidades isoladas. Num primeiro momento faz sentido estimar que a ameaça virá da direção contrária ao deslocamento, porém o mais lógico é fracionar a ameaça em aérea, de superfície e submarina. Por exemplo é possível que as incursões aéreas possam vir somente da direção A, enquanto que as de superfície e submarina possam vir das direções A e B.

Na guerra das Falklands/Malvinas a ameaça aérea à frota britânica só poderia vir do oeste, devido à distância das bases aéreas, porém a ameaça submarina era imprevisível, materializada por um único submersível diesel-elétrico. Considerar que a ameaça pode vir de todas as direções é sempre o mais prudente, porém isto custará a alocação de mais meios defensivos, e se estes forem escassos uma direção terá que ser priorizada.




As naves de guerra modernas possuem capacidade multifuncional, porém isto só funciona em ambientes de baixa intensidade, pois as capacidades da cada elemento em particular sempre priorizam um tipo de ação, sendo as demais limitadas. Ambientes de alta intensidade requerem unidades dedicadas e ao compor uma força-tarefa o comandante deverá construir sua ordem de batalha de acordo com aquilo que espera enfrentar, sem no entanto esquecer que surpresas podem surgir. Manter uma capacidade suficiente de meios ASW e antiaéreos é sempre aconselhável. 

Ao assumir formação de combate, a esquadra ou flotilha assume um dispositivo defensivo em camadas, e este dispositivo depende dos meios disponíveis. A defesa naval geralmente dispõem-se em três camadas. A cobertura externa é composta de navios-piquete, patrulhas de combate aéreo (CAPs) e aeronaves de AEW. A função de piquete é melhor desempenhada pelos submersíveis, que tudo ouvem e são difíceis de serem detectados, que vão à frente, unidades de superfície e as CAPs, que apoiadas pelos AEW, constituem um formidável guarda-chuvas à formação. Marinhas menos abastadas geralmente não dispõem de navios-aeródromo e dependem de cobertura aérea vinda de terra, ficando vulneráveis operando em águas fora do alcance. Esta cobertura estende-se a mais de 300 km do núcleo da flotilha para detecção, e 20 a 40 km para ação. A segunda camada é composta pelas escoltas, geralmente balanceadas em capacidade ASW e mísseis SAM de médio alcance de defesa de área, e tem por missão combater o que os caças-interceptadores e submersíveis deixaram passar, sendo posicionada em contato visual com o núcleo da formação (cerca de 18 km), e por último o núcleo da formação com seus navios-aeródromo, logísticos e anfíbios, além de escoltas próximas, se disponíveis. Estes meios geralmente dispõem de mísseis e canhões de defesa de ponto a alguma capacidade ASW.

Os piquetes de superfície ocupam a posição mais perigosa da formação e devem ser naves de alta capacidade, pois tem que se garantir sozinhos. As coberturas externas devem também ter capacidades completas com ênfase na cobertura ASW, com conjuntos de detecção passiva e helicópteros dedicados. Devem detectar e engajar as ameaças que passaram pelos piquetes de uma forma mais intensa. Meios ASW trabalham melhor nas áreas externas devido à distância do corpo principal gerador de ruído, fator crítico. Os meios aéreos e AAAé da cobertura externa devem dar cobertura aos meios ASW e deter bombardeiros equipados com ASMs antes que atinjam o ponto de lançamento. Os SAMs de cobertura externa tem no alcance seu requisito principal. Aeronaves são mais lentas que os mísseis, e combate-las é mais fácil que a estes, assim deve-se engajar aeronaves hostis antes que liberem seus mísseis, permitindo-se mais engajamentos no mesmo espaço. Quanto mais engajamentos de sucesso, maiores as chances dos atacantes abortarem suas missões. Uma situação hipotética bem provável, ilustrada no filme "A soma de todos os medos", é o ataque a um grupo nucleado por navio-aeródromo com múltiplos bombardeiros disparando múltiplos mísseis de cruzeiro na função antinavio, saturando as defesas, situação muito difícil de contrapor.


Os operadores de ASW que atuam na cobertura interna devem contar com um competente sonar ativo para cobrir adjacências e parte inferior do núcleo da formação, detectando imediatamente qualquer vetor inimigo que tenha penetrado a cobertura externa. Devem levar helicópteros aos pares, pois um deles deverá estar constantemente em voo para ações decisivas e imediatas, não podendo estar ancorado no convês da escolta ou do navio-aeródromo.

Os meios AAé desta camada terão na razão de fogo seu requisito básico, pois tem que atirar muito e rápido a fim de saturar àqueles que penetrarem a cobertura externa em pouco tempo, não sendo tão importante seu alcance. Este intruso provavelmente será um míssil voando muito rápido, e muito provavelmente trará outros com ele. Quanto mais projéteis o inimigo disparar, mais sobrecarregados ficarão os sistemas defensivos, e neste ponto meios AAé de altíssima razão de fogo são importantes.

Operar no mar é um jogo perigoso e além da tecnologia, a competência dos comandantes e o treinamento das tripulações fará a diferença. 



segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Combate em Localidade *186




Introdução

O combate em áreas urbanas tem se mostrado cada vez mais freqüente nos conflitos da atualidade, sendo uma missão difícil e notoriamente arriscada para o combatente. Tradicionalmente constituídos e adestrados para a guerra travada nos grandes espaços rurais, os exércitos modernos tiveram que adaptar-se a travar seus embates nos limitados espaços das concentrações urbanas, refúgio de forças qualitativamente inferiores e repletos de esconderijos, vielas e condições que favorecem os defensores. Combater nestes ambientes é um dos maiores trunfos daquelas forças em inferioridade tecnológica e que buscam a estratégia da guerra de desgaste, sendo estas empreitadas geralmente longas e extenuantes, mesmo para forças mais abastadas. Este tipo de cenário é o mais buscado nos conflitos de características assimétricas. O combate urbano é o combate dos inssurgentes, dos guerrilheiros, daqueles que não tem como enfrentar um exército convencional em campo aberto.

Embora se busque hoje estratégias mais modernas e menos desgastantes como o enxameamento, que busca a debilitar os defensores antes da tradicional “limpeza casa à casa”, não se pode fugir desta prática final, pois sempre poderá restar uma fração do inimigo, que mesmo que não faça diferença para o desfecho, podem continuar provocando baixas e forte pressão psicológica sobre os combatentes, que nunca sabem o que poderá estar escondido na edificação ao lado.

Qualquer porta ou janela poderá conter uma armadilha, os espaços são curtos e o inimigo poderá surgir das inúmeras pilhas de escombros ou veículos abandonados, telhados ou vias subterrâneas como galerias pluviais e de esgoto. Nunca se sabe o que está oculto ali adiante, qualquer presunção poderá ser a última e cada lugar em particular tem que ser observado, revisado, limpo e descoberto, numa faina meticulosa e demorada. Ao combatente é necessário cautela, alerta e treinamento eficaz. O grupo de combate é a unidade básica deste tipo de empreitada, e apesar de atuar inserido como parte de uma grande força, cada fração tem sua parte a fazer.

No combate urbano o defensor desfruta de uma posição segura e tende a conhecer na intimidade o terreno que ocupa, o que lhe confere grande vantagem. Empregar com inteligência um treinamento de alto nível é vital a sobrevivência do atacante, que deve saber bem avaliar quando e por onde se deslocar, por onde entrar e sair de edifícios, quando usar granadas, que posições de disparo são as mais adequadas, etc... É o atacante que dita o ritmo do combate, e fazê-lo eficazmente e com velocidade é importante a fim de não dar aos defensores tempo para reorganização.



Movimentando-se

Todo o deslocamento deve ser feito pelo interior das edificações, sempre que possível, abrindo passagens onde elas não existirem com explosivos ou outros meios. O deslocamento ao ar livre deve ser precedido de cortinas de fumaça e coberto por fogo de saturação, sempre em lanços curtos, evitando exposição demasiada. Não se deve iniciar um deslocamento se que se saiba exatamente para onde ir e se encontrará abrigo, procurando sempre ficar próximo às paredes e valer-se da sombra sempre que disponível, evitando oferecer a silhueta ao inimigo. Evita-se cruzar espaço aberto diretamente, buscando sempre o caminho mais longo se este for o mais seguro. Um atirador inimigo terá pouco tempo para adquirir seu alvo se este for rápido e contar com o fogo de cobertura de sua equipe. O trabalho coletivo é fundamental.

Quando o GC estiver agrupado não se deve cruzar espaços abertos um-a-um, pois mesmo que o primeiro homem passe, um eventual atirador terá tempo para alvejar o próximo. O movimento deve se em grupo com certa dispersão, se possível, com cobertura de fumígenos e fogos de saturação. Becos e vielas estreitas devem ser atravessados em fileira, com dispersão de 3 a 5 metros. Cada elemento que terminar a travessia deverá posicionar-se para cobrir àqueles que ainda o estão fazendo, sendo importante a capacidade de usar sua arma de forma ambidestra.



Posições de Tiro

Ao fazer fogo de uma posição coberta, não deve-se expor a silhueta em sua parte superior, que se destacará contra o fundo e tornará o atirador em um alvo fácil. Procura-se sempre disparar pela laterais no sentido diagonal para oferecer exposição mínima. Cada situação definirá a maneira mais adequada para se efetuar fogo com rapidez e precisão, usando-se sempre os cantos de edificações, paredes baixas, buracos existentes e chaminés, por exemplo.

Quando um atirador usa o canto de um prédio como posição de tiro, não deve fazê-lo de pé, pois os atiradores inimigos o esperam que faça por ser sua condição de chegada. Esta postura o expõem como um alvo grande. Ajoelhar ou deitar-se diminui seu tamanho como alvo. Detritos e escombros são bons abrigos, pois são irregulares e proporcionam uma dissimulação mais eficaz. Atirar por uma janela próximo a ela também proporciona exposição, sendo o recomendado o posicionamento da boca do fuzil a mais de 1 metro dentro do recinto. Desta forma fica difícil para o inimigo visualizar seu interior e identificar seu alvo. Visualizar de dentro pra fora é mais provável que o inverso. Em orifícios feitos nas paredes por armas pesadas também vale a mesma regra. Mesmo que se reduza o campo de tiro deve-se posicionar mais a retaguarda dele. Posições nos telhados são excelentes, proporcionam amplos campos de tiro e disparam de cima para baixo, deixando o inimigo em desvantagem. Chaminés reforçam a cobertura, mas atraem o fogo inimigo, e deve-se tomar cuidado com a silhueta. Arbustos e vegetação não detêm projéteis mas proporcionam cobertura.



Como entrar em uma edificação

Não há uma maneira completamente segura de se entrar em um edifício. Toda edificação, em princípio deve ser ocupada e “limpa”, sob o risco do inimigo estar escondido lá dentro, mesmo que não esteja reagindo. Até que um prédio seja conferido deve-se assumir que está ocupado. O inimigo deixado quieto agora pode ser perigoso mais tarde. No combate em geral quem domina as alturas domina a situação, e nas áreas urbanas não é diferente. Entrar pelas portas e janelas, principalmente as mais óbvias, é correr alto risco de ser surpreendido por armadilhas. Qualquer buraco que não tenha sido feito na hora também não merece confiança e deve ser tratado com cautela. A melhor maneira de se adentar um edifício é de cima para baixo, evitando as entradas do térreo e o combate com a cabeça erguida. Outro inconveniente de se ocupar pelo térreo é encurralar o inimigo no último andar, forçando-o a lutar desesperadamente sem ter por onde fugir, o que pode potencializar a reação dele. Se ele puder fugir pelo térreo, além de não lutar com tanto empenho, será alvo fácil para o fogo de cobertura. Ocupar a cobertura da edificação exige certo esforço e pode ser feito com cordas e escadas, helicópteros ou a partir de outro edifício já ocupado previamente, assim só a primeira ocupação é a mais trabalhosa. A ocupação com cordas deve utilizar seções grossas que podem ter nós a cada 30 cm, facilitando a operação. Cordas finas são mais leves, mas é mais difícil subir por elas. Um gancho de 3 ou 4 pontas na extremidade da corda pode ancorá-la facilmente quando jogada.

É mais fácil descer que subir, e para se entrar em um recinto pela janela, deve-se usar o rapel em uma operação na descendente, evitando esta entrada durante a subida. Ao subir uma edificação usando cordas, deve-se certificar que eventuais atiradores, que possam ameaçar a subida estejam neutralizados, bem como ter cautela se a subida tiver que transpor por janelas que podem conter ameaças. Quando do uso do rapel, todos devem estar cientes da manobra, a fim de se evitar o fogo amigo.

Ao se entrar em um recinto seja pela porta, janela ou um buraco feito na hora ou já existente, e uma vez conferida a inexistência de armadilhas, deve-se preceder a entrada com a detonação de uma granada, reduzindo desta forma a possibilidade de fogo inimigo. Porém o uso indiscriminado de granadas pode fazer com que seu estoque acabe logo e façam falta mais a frente, pois os cômodos a se verificar tendem a ser em grande número. No período da instrução básica, os soldados aprendem que o fuzil é seu melhor amigo. No combate em localidade no entanto, quando uma casa deve ser desocupada, a granada o substitui na ordem das afeições. Seu poder explosivo é reforçado pelo espaço fechado dos quartos e fornece uma fonte de potência de fogo muito mais rápida em uma situação em que o fator de velocidade é sinônimo de segurança. Quando se vai entrar em um cômodo, não se deve usar a maçaneta da porta; que poderá ter uma armadilha explosiva e, além disso, seu movimento advertiria o inimigo que ocupa a sala. Em vez disso, usa-se uma forma de estourar a porta e abri-la. Se for uma porta muito forte ou pesada, deve-se dispara contra as dobradiças e chutar a porta. A primeira coisa que tem que atravessar o limiar de uma porta não é o pé, mas a granada. Ao lançar a granada, extraí-se o pino de segurança, libera-se o capacete, espera-se 2 segundos e joga-se, reduzindo desta forma o tempo de retardo e a possibilidade de ser devolvida pelo defensor.

Sempre que possível deve-se usar lançadores de granadas, que “a despacham” a distâncias maiores e tornam o lançamento mais seguro. Uma vez detonada a granada, se adentra o recinto o mais rápido possível. Granadas com detonação por impacto são as mais adequadas,assim como granadas que se tornam inertes se as condições do lançamento não forem atendidas, como o lançamento a menos de 6 metros. O uso de armas tipo ”lança-rojão” permite de forma prática a abertura de brechas nas paredes, em pontos onde o inimigo não instalou armadilhas, porém usar estas armas em ambientes restritos requer cautela e perícia, pois o sopro de impulsão deve ser corretamente direcionado.



Movimentando-se no interior da edificação

O movimento deve ser sempre que possível por dentro das edificações, seja para “limpá-la” ou para evoluir no terreno, pois desta forma que fica protegido de atiradores. Ao se deslocar pela edificação, deve-se fazê-lo através de brechas abertas na hora pelas paredes, evitando-se pontos com armadilhas. Ao se cruzar em paralelo janelas ou outras aberturas, deve-se evitar a exposição, buscando abaixar-se, rastejar, pular, o que for mais conveniente para evitar ser visto. O inimigo pode estar observando do lado de fora. Ao se entrar em uma sala deve-se empregar sempre 3 indivíduos: O primeiro arremessa a granada, atravessa a entrada depois da detonação e posta-se de costas para a parede fazendo fogo de saturação antes de entrar, sem procurar fazer fogo seletivo e usando rajadas de 3 tiros consecutivas; o segundo inspeciona o ambiente também fazendo fogo de saturação, porém com mais critério pois já está coberto pelo primeiro indivíduo, com o terceiro indivíduo dando cobertura a retaguarda, antes da entrada.  Corredores devem ser evitados, passando-se de uma ambiente a outro abrindo passagens diretamente nas paredes, porém se forem usados, deve-se posicionar-se em seus limites laterais contra as paredes, oferecendo um alvo menor. Esquinas de corredores devem ser tratadas como se um novo fosse.

Dentro de uma edificação a granada passa a ser a arma principal, ficando o fuzil em papel secundário. Fuzis longos são inadequados em ambientes restritos e a submetralhadora ou os fuzis curtos como os “bullpup” são mais adequados. Combater no interior de edificações é provavelmente a uma das tarefas mais perigosas que um soldado enfrenta, e toda ação deve antecipar ao inimigo que está lá, esteja ou não, não havendo espaço para deduções ou intuições.

Toda edificação deve ser ocupada pela parte de cima. Quando uma equipe adentra uma edificação, outra de cobertura deve permanecer no telhado. Usando carga de demolição abrem-se as passagens pelas paredes ou telhados. Escadas devem ser evitadas, e normalmente elas tendem a não mais existir. Todas a entradas já inspecionadas devem ser protegidas, assim como devem ser dada especial atenção a sótãos e porões. Todas as posições que possam ser batidas por metralhadora devem ser saturadas, como telhados, tetos frágeis e paredes finas. Atira-se para baixo, para cima e para os lados de forma cega, alvejando quem estiver do outro lado, se estiver.

Pequenos cuidados podem evitar danos pessoais maiores. Não se deve tocar em interruptores e maçanetas, coletar objetos interessantes que podem ser o gatilho de armadilhas, pisar em locais suspeitos e utilizar passagens obrigatórias. Devemos escolher o caminho mais difícil. Armadilhas identificadas não devem ser desativadas a não ser por detonação. Ela deve ser marcada e deixada para os engenheiros. Uma armadilha pode estar próxima de outra que detonará na primeira tentativa de desativar a primeira. Deve-se sempre informar aos demais quando o ambiente está seguro, em voz alta, sendo cada novo movimento igualmente informado de forma que todos saibam o que fazer. Deve-se evitar movimentos padrão, de forma que o defensor possa antecipar o que se vai fazer.

Estar preparado para lutar em contato físico com o inimigo a qualquer momento, sob a constante ameaça do fogo dos atiradores e atravessando uma localidade defendida, é algo que exige paciência, determinação e bom conhecimento das técnicas de combate. Se faz necessário operar sala por sala, casa por casa e rua por rua para garantir o objetivo. É uma tarefa prioritariamente da infantaria, porque em tais condições, a artilharia e os blindados podem oferecer pouco apoio. 



Reorganizando-se

Ao se concluir a “inspeção” de uma edificação, deve-se reorganizar as forças para a próxima empreitada. Procede-se o remuniciamento do combatentes e um pequeno “debriefing” sobre erros e acertos. Deve-se marcar o edifício para que outros saibam que está seguro, evacuar os feridos e se for o caso organizar uma posição defensiva, usando-a como posição de cobertura para assalto a outros edifícios se conveniente.



Fortificando a edificação conquistada

Parapeitos em janelas, brechas fortificadas para atiradores com armas anticarro e metralhadoras são alguns dos recursos que devem ser instalados. Janelas devem ter sua área reduzida com pequenas aberturas que possibilitem o fogo, usando materiais do local ou sacos de areia ou terra. Deve-se tomar cuidado para, ao se preparar uma posição de fogo não torná-la óbvia, cercando-a de posições falsas e evitando que tenha um traçado geométrico e definido. Janelas devem ter seus vidros removidos para evitar acidentes, porém as cortinas devem ser preservadas, desde que não atrapalhem a visão. Telas metálicas evitam o lançamento de granadas. Posições de troca evitam que o inimigo fixe sua atenção em um ponto. Plataformas como mesas podem servir para aumentar o ângulo de fogo para baixo, se a posição estiver em um piso superior. Brechas feitas podem proporcionar posições de tiro melhores que as janelas, abertas onde for mais conveniente e mais difíceis de serem percebidas. Colchões duplos de sacos de areia em pisos superiores evitam o fogo vindo de baixo e uma mesa com sacos de areia em cima proporciona um telhado protetor. Obstáculos externos dificultam a aproximação da posição, posições falsas confundem e fazem o inimigo consumir munição e perder tempo.



Atiradores de precisão

Um atirador posicionado em um edifício deve prezar pela ocultação e camuflagem. Uma boa posição permite bater alcances de 500 metros ou mais, proporcionando campos de tiro teoricamente amplos, evidentemente limitado pelas edificações circunvizinhas, mesmo de posições mais restritas. Aberturas pequenas, convenientemente moldadas, permitem alcances longos, e posições corretas e disparos disciplinados ocultam os flashes e permitem que o atirador se mantenha incógnito por mais tempo. Atiradores bem posicionados são eficazes e sua presença impõem forte fator psicológico ao inimigo. Saber que há um atirador lhe esperando pode retardar em muito uma manobra individual e coletiva.


Fogo de cobertura

Um grupo de atiradores pode e deve se possível, ser protegido por seções anticarro, que devem levar em conta a viabilidade de disparo nestes locais restritos, devido ao sopro destas armas. Paredes podem ter que ser demolidas. Metralhadoras fornecem fogo a altas taxas e devem ser protegidas por fuzileiros, e são fáceis de posicionar, preferencialmente no nível do solo, porém requerendo aberturas de tiro maiores. Carecem também de canais de reabastecimento seguros. Tanto metralhadoras quanto armas anticarro exigem guarnições coletivas, devido ao seu peso e remuniciamento, e devem ser protegidas por fuzileiros que também recebem seu apoio.



Fogo anticarro

As armas anticarro são usadas, além do combate a blindados, contra posições nos edifícios. Posições anticarro posicionadas nos telhados permitem alvejar veículos na parte superior, onde a blindagem é mais fraca, além de que atirar na réplica para cima é mais difícil. Porém construir uma posição nestes locais pode ser trabalhoso e complicado. Deve-se levar em conta também a distância mínima para que a espoleta do rojão possa se armar. Outros cuidados devem ser observados como a remoção de pedaços de vidro, o umidecimento do solo a fim de evitar a ascensão de poeira, a proteção auricular dos combatentes próximos, verificar se não há inflamáveis e explosivos nos locais de sopro e espaço para que o sopro possa ser absorvidos com segurança.



Assaltando uma localidade

Os princípios gerais de combate convencional também podem ser aplicados em áreas urbanizadas. A maneira de implementar essas regras dependerá de se estar implementando a posse de uma localidade, um grupo de casas ou uma cidade grande. O infante deve confiar apenas em seus próprios recursos. Carros de combate e artilharia podem ser devastadoramente eficazes em seus efeitos, mas muitas vezes é impossível posicioná-los pelas ruas estreitas de uma área urbanizada. Na prática, cabe a infantaria fazer o “pente fino”, quase sempre lutando em pequenas unidades, no pelotão ou no nível da seção. A implementação de grandes operações, ao nível de companhias e batalhões, nas ruas de uma grande cidade é sempre muito complexa.

O combate convencional e o combate nas zonas urbanas diferem consideravelmente em alguns aspectos. Luta-se em distâncias muitos curtas e o inimigo pode estar na casa ao lado ou na rua em frente, talvez na próxima sala ou no outro lado de uma porta ou corredor. O combate corpo-a-corpo é provável e as reações devem ser instantâneas, porque pode não haver segunda chance. Em uma área construída, é sempre difícil localizar a origem do fogo inimigo: os silvos dos projéteis de alta velocidade ecoam nos edifícios vizinhos, sendo quase impossível determinar de onde os tiros vêm. Outros fatores de confusão são a fumaça e a poeira resultantes dos combates e sempre estão presentes nas ruas. Mesmo quando se localiza um alvo é difícil passar aos parceiros, sendo o uso de traçantes a única via possível muitas vezes.

Os setores de tiro e observação são mais restritos do que o normal e o inimigo dispõem de maior poder de ocultação e abrigo do que em outros cenários táticos. O atacante é forçado a se expor se quiser avançar e isso o torna um alvo para atiradores, que são particularmente eficazes em ambientes urbanos. Eles estão tão bem escondidos que é difícil silenciá-los com fogo seletivo. A melhor solução é o uso de petardos contra a posição da qual se acredita que o fogo tenha origem. Os carros blindados tendem a ser muito eficazes em combates próximos, mas devem ser acompanhados de infantaria. Se um carro se aventurar solitário em uma via nas mãos do inimigo, sem que a infantaria tenha conseguido proteger as casas próximas, o inimigo pode disparar com armas de carga oca contra seus lados ou retaguarda, que são mais vulneráveis. A presença de civis sempre tende a dificultar ou inviabilizar as operações.

Um plano eficaz de combate urbano deve ser simples e progressivo, para enfrentar uma situação muito complexa. As ações devem ser minuciosas, ponto a ponto, em um trabalho de paciência e muito critério. Os comandantes devem estar preparados para delegar o controle até o ponto deles ficarem por fora de cada situação em particular. Na maioria das outras situações táticas, o oficial pode ver fisicamente grande parte de sua unidade e, conseqüentemente, exercer controle sobre ela. Mas em uma área urbana isso não é possível. As ações tendem a ser limitadas, independentes, ao nível de pelotão e até mesmo ao do indivíduo. O controle geral devm permanecer na linha da frente. Eles têm que dividir a zona tática em vários setores, atribuindo objetivos limitados dentro deles aos pelotões e às seções. A limpeza dos edifícios deve ser feita completamente.

Armas e meios de apoio devem ser utilizados ao máximo. Morteiros e artilharia devem ser usados para preparar um assalto. Blindados são eficazes em apoiar a infantaria nessas circunstâncias, pois seu armamento principal pode abrir o acesso nas paredes, suas metralhadoras podem apoiar o avanço da infantaria e sua armadurs podem oferecer proteção quando se atravessa áreas expostas.

No entanto, blindados são muito vulneráveis em áreas urbanas. A infantaria que o acompanha, portanto, limpará as casas vizinhas, onde a ameaça para os blindados pode estar. O apoio dos sapadores é muito importante em áreas demolidas. Escavadeiras devem ser usadas para limpar escombros e abrir passagens para veículos, engenheiros detectarão e desativarão minas e armadilhas explosivas nas casas que serão assaltadas. Sapadores são especialistas em superar obstáculos, eliminando-os e criando-os quando necessário.

A escolha do equipamento é de grande importância nas operações de combate urbano. Existem exércitos que já não têm lança-chamas, armas de grande valor nessas condições. Alemães e britânicos os usaram em larga escala durante a Segunda Guerra Mundial, porque descobriram que eram adequados para a limpeza de edifícios e casamatas. Outra arma muito apropriada é o lançador de granadas anexado aos rifles, capaz de lançar projéteis explosivos altos através de janelas, portas e outras aberturas. Uma das demandas neste tipo de operação é a de abrir buracos nas paredes. Quando blindados não estão disponíveis, armas como mísseis anticarro ou lançadores de granadas, são muito úteis. Ambos foram projetados para perfurar armaduras, algo muito diferente, mas ainda têm alguma eficácia contra as paredes. Outros acessórios muito valiosos são aqueles que servem para escalar, como escadas de corda e alumínio, e ganchos. Às vezes, é impossível entrar em uma edificação no piso térreo e é necessário chegar rapidamente a uma janela no primeiro andar.

Os cartuchos de 5,56 mm têm a vantagem de ser mais leves do que 7,62 mm e mais fáceis de usar em ambientes fechados, mas a munição de 7,62 mm é mais adequada do ponto de vista balístico para o combate urbano. Granadas devem ser transportadas em quantidade, tantas quanto se possa transportar confortavelmente, além de um bom suprimento de munição para armas individuais. Também são muito úteis granadas fumígenas usuais e de fósforo branco, e munição traçante para indicar objetivos.

No combate urbano, tal qual como em toda manobra militar, é vital a existência de comunicações eficazes. Saber que edificações estão liberadas permite ao comando canalizar seu apoio de forma mais eficiente. Proteção blindada permite se dispor de uma base de fogo para apoio à infantaria que faz o trabalho pesado, além de oferecer proteção a estes do fogo inimigo, permitindo a evacuação de feridos de forma mais segura. Coletes balísticos comuns oferecem proteção individual contra estilhaços e projéteis de baixa velocidade. Projéteis de alta energia como os de 7,62 mm demandam coletes mais pesados que interferem na mobilidade, porém são necessários. Deve-se sempre que possível, evacuar os civis das áreas de combate, pois o inimigo pode usá-los como escudos humanos. Onde há civis existe mais cautela na execução de bombardeios, além de que guerrilheiros podem passar desapercebidos entre eles. Posições de tiro devem ser cuidadosamente escolhidas, e são importantes no posicionamento de armas de precisão.

O ambiente urbano é propício a existência de armadilhas, explosivas ou não. Desativar uma armadilha pode uma forma de se expor ao fogo, posicionado para cobrir a armadilha. Nestes ambientes é mais difícil a identificação do inimigo, que podem usar uniformes das forças amigas ou mesmo roupas civis. Não identificar o inimigo corretamente pode ser a diferença entre a vida ou a morte, ou ainda o precursor do fratricídio. Armas curtas facilitam a maneabilidade em ambientes restritos, e as longas permitem o fogo de longa distância, principalmente se equipadas com aparelhos de pontarias mais apurados, estas oferecem um campo visual restrito, mas preciso a longas distâncias, e alvos fugazes podem rapidamente se esquivas delas. Olhar constantemente por miras telescópicas pode impedir de se ver o que está acontecendo ao seu redor. Calibres mais leves permitem que se transporte mais munição. A manobra é vital neste tipo de combate, como progressão de uma edificação a outra a fim de criar zonas livres de presença inimiga, permitindo o avanço por rotas cobertas e protegidas, sempre acompanhadas da manutenção de rotas de fuga para a necessidade de retiradas.


Uma vez que a ocupação de uma edificação se inicia, deve-se procurar progredir com velocidade, sem negligenciar a segurança, e tornar o edifício seguro em tempo reduzido, permitindo que se desdobre nele um dispositivo defensivo e impeça que o inimigo contra-ataque. O interior das edificações poderá estar escuro e o uso de intensificadores de visão recomendável. Indivíduos de estatura menor acabam por ter mais mobilidade nestes ambientes, e o combate corpo-a-corpo sempre poderá acontecer. Nenhuma pausa deverá ser concedida sob pena de passar a iniciativa ao inimigo. A cada fração de tropa deverá ser designada um objetivo de proporções compatível, sob pena de comprometimento da segurança. Escalões subseqüentes avançam na esteira do escalão de vanguarda, sempre pelas rotas usadas por estes, evitando-se armadilhas, assumindo setores de fogo e vigilância. Os escalões de assalto deverão avançar sob a cobertura de escalões de cobertura, que manterão o defensor “ocupado” enquanto os primeiros manobram. Assim que se invade, o fogo de cobertura deve ser, sob coordenação, direcionado para os cômodos em ordem consonante ao avanço, e por fim bloqueando a fuga da edificação.



O assalto

Neste tipo de combate, em localidade, a vantagem tática natural está sempre com o defensor. Conhecimento prévio da posição e suas particularidades, armadilhas explosivas nos edifícios e escombros, atiradores bem posicionados, posições fortificadas e difíceis de serem identificadas, enquanto que o atacante não tem escolha senão expor-se para cumprir sua missão e expulsar o defensor. 

Planejamento e preparação cuidadosa são vitais ao atacante, sempre com critério máximo para reduzir os riscos e fazer da missão um sucesso. O combatente deve preparar-se com o equipamento adequado, carregando munição suficiente e de vários tipos, com ênfase nas granadas de mão. Deve-se evitar acessórios volumosos como mochilas e ferramentas de sapa, que dificultam os movimentos ao transpor brechas nas paredes, corredores e portas. Este tipo de combate exige velocidade e rapidez de reflexos. Os assaltantes devem levar tantas lanternas quanto possível para inspecionar os interiores, acopladas às armas; NVGs que aumentam a luz disponível, servirão para observar janelas e áreas sombreadas. Equipamentos absolutamente vitais são escadas, minas e cordas. Escadas de alumínio são melhores que as de cordas, pois podem encostar-se a uma parede e facilitar o acesso rápido a um andar alto sem ter que entrar no andar de baixo.

A quantidade de munição que será levada em combate deve ser abundante, seja a missão para limpar edifícios ou ruas. Nessas ações, muita munição será gasta, e o comandante deve certificar-se que todo combatente terá toda a que precisar, com equipes de remuniciamento prestando o apoio necessário. Cada soldado deverá transportar granadas, seja de mão ou para suprir os lançadores. Munição traçante também será necessária. Na confusão que ocorre neste tipo de combate, é particularmente difícil, se não impossível, identificar os objetivos com precisão. A maneira mais simples de fazê-lo é, de longe, marcá-los com traçantes. Se os traçantes não estiverem disponíveis ou estiverem esgotados, será necessário transmitir ordens de fogo muito precisas.

Outro fator importante é a possibilidade de abrir lacunas nas paredes dos edifícios para transpô-las. Isto é conseguido com uma arma antitanque ou com cargas especificamente preparadas. Se blindados estiverem disponíveis, caberá a eles esta tarefa. A assistência médica é importante, uma vez que o número de baixas sempre se mostra alto, e um plano eficaz de remoção de feridos sempre é necessário. Cada homem deve trazer curativos adicionais e doses de morfina. Da mesma forma, uma quantidade extra de água potável e macas de reserva devem ser previstas. Além dos planos para a evacuação de soldados feridos, tem-se que prever os prisioneiros e habitantes locais. Os civis devem ser avisados para não sair, e se esconder em porões, de preferência longe das áreas de combat imediatas. Uma vez que todos esses planos e preparativos estejam finalizados, pode-se começar a limpeza das edificações. Neste tipo de luta, são estabelecidos objetivos limitados. Um pelotão é a unidade mínima apropriada para limpar uma habitação de tamanho normal. Os pelotões trabalhalham em consonância, por exemplo, cobrindo a calçada oposta de uma rua.

Uma esquadrão de assalto típico pode ser organizado com um comandante, um escalão de assalto com 2 fuzileiros assaltantes e 2 granadeiros, com um fuzileiro cobrindo a retaguarda. Um escalão de apoio com o subcomandante do esquadrão e um ou 2 atiradores. O escalão de apoio ocupa uma posição de tiro que domina o ponto de entrada e, se possível, bloqueia qualquer tentativa de fuga do inimigo. Assim que o fogo da cobertura começa, os granadeiros jogam seus petardos e os outros 2 homens entram no recinto com fogo supressivo nos cantos e pontos de provável ocultação. Baionetas garantem vantagem se surgirem combates próximos, mas aumentam o comprimento da arma dificultando a maneabilidade nos espaços confinados. A ocupação deve, se possível, começar pelo telhado, evitando-se o térreo. É aconselhável abrir um buraco na parede para tal. Uma vez que os dois homens estão dentro, eles garantem a segurança do cômodo de entrada. O líder do esquadrão, os granadeiros e o fuzileiro de retaguarda entram neste momento. Os granadeiros limpam os cômodos seguintes, sala por sala, corredor por corredor, de cima para baixo. O fuzileiro de retaguarda garante a segurança e permanece em contato com o escalão de apoio. Uma vez que a habitação esteja segura, o esquadrão é reorganizado, e prepara-se para a próxima tarefa. Ao entrar em um cômodo, se for o caso, faz-se fogo contra o telhado e o chão para neutralizar possíveis ocultos. Escadas devem ser usadas rapidamente e com fogo de apoio, e se possível evitadas.

O conhecimento das técnicas de combate em localidade, seja na limpeza de edificações ou progressão pelas ruas e do combate em áreas urbanas em geral, é fundamental para o soldado moderno. Uma parcela significativa da população mundial mora em cidades e as áreas urbanas tendem sempre a crescer, estando a operação nestes locais cada vez mais freqüente. Desalojar o inimigo de dentro das edificações é uma parte de uma operação bem mais complexa, que é a de controlar as ruas e a área urbana como um todo.

Para se chegar às edificações é necessário ter o domínio das ruas. É delas que se parte para o interior dos edifícios, e é lá que o inimigo está a espera dos assaltantes. Avançar por uma rua é tarefa para 2 escalões de combate, cada qual em uma das laterais proporcionando proteção mútua. Um escalão de reserva cobrirá a retaguarda e servirá de reforço para qualquer imprevisto. Geralmente uma rua é designada a uma companhia de infantaria, com seus pelotões compondo cada escalão de combate e sob o comando de um capitão. Ao chegar à primeira edificação cada pelotão escalonar-se-á em seus grupos de combate (GCs) com cada grupo ocupando uma edificação de forma alternada. Quando um grupo invade, os outros servem de tropa de cobertura, e quando a edificação estiver considerada segura o GC assaltante a usará para oferecer cobertura ao segundo GC que assaltará a próxima edificação. É importante manter as comunicações em bom nível, sejam eletrônicas, orais ou por sinais, de forma que todos saibam a situação atual.

Operar em prédios sucessivos tende a fragmentar as unidades, situação que pode se agravar se o inimigo lançar contra-ataques. Identificar e ocupar os edifícios dominantes é uma forma eficaz de proteger os adjacentes com a colocação de atiradores. À noite a segurança destes pontos dominantes tende a se fragilizar, quando o uso de meios de visão noturna torna-se valioso.

Usando jargão militar moderno, uma área urbana é um "multiplicador de força" para o defensor. Em outras palavras, alguns homens decididamente equipados podem imobilizar uma força maior por um longo tempo. O potencial de uma área urbana para frustrar o progresso dos assaltantes é enorme, e quanto maior a localidade, mais complexo fica o problema. Enquanto que numa pequena aldeia uma seção pode fazer o trabalho, a limpeza de um local mais populoso exigirá a assistência de uma companhia completa ou um batalhão. Cidades maiores envolverão o uso de brigadas e até divisões.

O assalto a uma pequena cidade deverá contar um com escalão de bloqueio, colocado em posição de interditar a rota de fuga do inimigo, empreitada esta mais difícil a medida que o tamanho da cidade aumenta. Um escalão de apoio proporcionará cobertura de fogo às ruas principais, que fará observação a cada edifício, eliminado os soldados inimigos possíveis antes do assalto principal. Um escalão de assalto será aquele que procederá a limpeza da localidade, operando casa por casa, edificação por edificação. A velocidade deste assalto será valiosa, impedindo o inimigo de organizar-se e empurrando-o para as áreas onde o escalão de bloqueio poderá alvejá-los.



Precauções

Difícil e exigente, este tipo de combate impõem que o agressor tenha em mente vários aspectos específicos. O inimigo nem sempre estará dentro dos prédios. Jardins e quintais podem fornecer cobertura, se não melhor, pelo menos não tão óbvias. Se o inimigo souber o que enfrentará, ele distribuirá suas forças em todos os locais que julgar conveniente. O número de granadas que cada homem pode transportar é limitado. O uso irrestrito de granadas antes de entrar em cada sala é desejável, porém a realidade é que as granadas são pesadas e ocupam muito espaço no cinto do soldado. Não se pode levar muitas, e às vezes o remuniciamento poderá ser difícil. Se uma granada for usada em cada cômodo, logo se esgotarão, salvo um remuniciamento ideal, talvez no momento em que mais se precise delas. Portanto, é recomendado um dispêndio de munição mais moderado. É uma simples questão de disciplina em combate.

Pode-se disparar através de todas as portas, tetos e paredes de madeira antes de entrar nos cômodos, mas isso não é suficiente. Lembre-se as entradas devem ser o mais rápido possível, precedidas por uma granada. Cuidado com armadilhas explosivas. Se encontrar algo em seu caminho, desvie, não mova-o, não leve souvenirs não checados. As armadilhas explosivas são relativamente fáceis de construir e são armas ideais para o defensor desesperado. Elas podem ser detonados ao fechar um circuito elétrico, ao aplicar pressão sobre um artifício, ou quando a pressão é liberada sobre ele.



Limpeza de uma rua

Uma companhia (Cia) de infantaria avança com dois escalões, mantendo um terceiro em reserva para ocupar o terreno conquistado. A companhia estabelecerá uma base forte comandando ambos os lados da rua, à frente da zona ocupada pelo defensor. Um escalão ataca em princípio com um pelotão, enquanto o resto da companhia fornece apoio fogo e suprime todas as posições inimigas que poderiam dificultar o trabalho do escalão que está em assalto. Com uma edificação segura, pode-se passar para a adjacente ou cruzar a rua para dominar a edificação oposta, dependendo da situação tática, sempre de forma coberta, utilizando-se escombros, esgotos, valas e outras vias que ofereçam cobertura.

A medida que edificações forem sendo dominadas, os grupos de fogo tomarão posições nos andares superiores dos quais podem cobrir toda a rua. Novamente, apenas uma unidade da companhia se moverá a cada vez, colocando escadas de alumínio ou subindo por cordas para alcançar o telhado do próximo prédio e começando a limpá-lo de cima para baixo. Se as baixas forem elevadas, a reserva se unirá ao escalão em assalto. Uma vez dominada a edificação o escalão de assalto a consolida e entra em reserva, deixando que outro escalão que estava em apoio ou reserva tome a iniciativa. O processo continua casa por casa até que a rua esteja segura.

Uma vez que o comandante da companhia identificou o alvo, ele estabelecerá seu posto de comando em uma casa da qual possa manter contato com as duas seções principais.

Os carros podem ser muito eficazes na luta de rua, e embora a sua mobilidade seja limitada neste cenário, são um poderoso meio de apoio, e tem um efeito inegável sobre o inimigo. Os carros são usados sozinhos ou em pequenos grupos, mas sempre com infantaria em apoio mútuo. A ação pode ser diurna ou noturna, esta se estiverem disponíveis meios adequados. O assalto deve sempre suceder a saturação pela artilharia ou os próprios meios orgânicos de apoio da infantaria. O fogo de granadas, de mão ou lançadas por armas dedicadas deve ser o mais intenso possível, com carros de combate, explosivos plantados e lança-rojões abrindo brechas nas paredes, e as granadas fazendo a vanguarda da invasão. Em locais onde não houver risco de incêndio generalizado, pode-se usar os lança-chamas para este fim, sempre depois das granadas. Barricadas devem ser removidas pela engenharia de combate para que os blindados possam passar, e nas vias onde não houver barricadas, cuidado deverá tomado pois podem ser rotas de afunilamento, levando a áreas de estrangulamento desejados pelo inimigo, “zonas de morte”. O consumo de munição será intenso e o ressuprimento deverá ser previsto e evidenciado. Os assaltos partirão de bases forte e defensáveis a contra-ataques, com edifícios-chave sendo dominados primeiramente. Saber onde o inimigo está é importante, e atiradores bem posicionados poderão fazer um acompanhamento de inteligência contínuo, informando estas posições aos escalões em assalto. Deve-se tomar cuidado especial para não se colocar em posição de fogo cruzado. Bombardeios aéreos podem ser usados, porém causam destruição excessiva e tornam a missão dos infantes mais difícil devido aos escombros gerados, embora produzam efeitos devastadores, sendo que formas de bombardeio mais pontuais desejadas. Bombardeios de artilharia forçam o inimigo a deixar os andarem superiores, facilitando o assalto a partir daí. Veículos de infantaria com seus canhões de 30 mm podem fazer fogo pela janelas com suas granadas limpando cômodo a cômodo. Uma área considerada “limpa” deverá ser adequadamente ocupada, pois existe a possibilidade de o inimigo infiltrar-se novamente à noite e aparecer nestas áreas consideradas seguras, possivelmente na retaguarda imediata, usando rotas “secretas” já conhecidas por ele.



Defendendo uma posição

Defender uma posição é evitar que o inimigo se aproxime dela, concentrando o máximo poder de fogo contra seu avanço, e colocando obstáculos em seu caminho. Os obstáculos irão diminuir o ímpeto, e tornando o avanço mais difícil e perigoso, forçando o assaltante a seguir as rotas previamente definidas pelo defensor. Obstáculos podem ser contra tropas a pé ou contra veículos, lembrando sempre que todo obstáculo deve sempre estar coberto por fogo.

Os obstáculos anti-pessoais mais comuns são as barricadas leves e arame farpado, que poderão estar minados ou não. O arame farpado é freqüentemente usado em combinação com vários tipos de dispositivos explosivos para criar um obstáculo em profundidade. As minas são particularmente adequadas devido à dificuldade em neutralizá-las: além de se espalharem por uma ampla área, sua detecção e desativação é trabalhosa. Se um campo minado é apoiado com o fogo de armas individuais e coletivas de tiro tenso, a passagem por ele será difícil e custará ao inimigo um bom número de baixas.

O local de colocação dos obstáculos deve ser criterioso. Um obstáculo é inútil se o inimigo puder desbordá-lo. Locais como travessias de rua, becos e passagens estreitas devem ser escolhidos, mas os próprios edifícios não devem ser esquecidos. Uma sala cheia de arame farpado é um obstáculo muito difícil de superar, e devido à sua característica física, ele resiste muito bem os efeitos das cargas de demolição explosivas. A menos que se consiga lançar um veículo contra o arame farpado e abrir um corredor, ele certamente terá que ser cortado a mão, uma perspectiva impraticável quando sob fogo automático de posições dominantes. Além disso, se dispositivos explosivos forem adicionados ao obstáculo, a tarefa é quase impossível.

O arame farpado em espiral ou a concertina é muito fácil de manusear e colocar. Vem compacto em rolos, e uma vez liberado se expande formando uma espécie de barreira alta e profunda. Em vez de farpas pontudas em forma de agulha, tem lâminas pequenas muito afiadas (como lâminas de barbear) que podem abrir até mesmo as luvas mais grossas instantaneamente. Diante de três ou quatro fileiras de concertina que podem alcançar a altura da cabeça, o infante está preso. Ele não tem escolha senão procurar outra via até o objetivo. Somente os veículos blindados podem penetrar facilmente, mas para tal eventualidade serão colocadas minas antitanque diante do obstáculo, onde o fogo de armas automáticas impedirá que os sapadores se aproximem para limpeza. Bem combinadas, o arame farpado e as minas são uma maneira muito barata de impedir o avanço do inimigo, mas construir uma barreira efetiva leva tempo. O arame farpado também pode ser colocado dentro de casas. Qualquer coisa que possa atrasar o inimigo é válida. Colocar as concertinas em corredores e escadas, preenchendo o máximo de espaço possível, também constitui obstáculo eficaz. Se não for possível ancorá-lo ao chão ou paredes e tetos, pode-se ancorá-la a estacas de madeira para impedir que os agressores tentem empurrá-lo com portas ou outros escudos improvisados. Não deve-se esquecer os telhados, que devem ser defendidos contra tropas heliportadas e soldados a pé. Nos terraços mistura-se concertinas a cerca com estacas grossas de madeira ou metal para evitar que os helicópteros aproximem-se. Também coloca-se em terraços para que o inimigo não possa usá-los para se deslocar de uma casa para outra, ou para rapel dos telhados para as janelas dos andares superiores. A concertina também é um bom obstáculo dentro das janelas. Os defensores podem disparar através dela, mas impede que o inimigo entre por eles. E se for suficientemente grosso, o arame farpado impedirá a entrada de granadas de mão, embora seja melhor reforçá-lo com malha de arame. Localizado e protegido do jeito certo, uma vedação é um obstáculo impenetrável em túneis e adegas, ainda mais se combinado com minas e armadilhas explosivas.



Armadilhas para carros

No entanto, a concertina não se presta a deter veículos. Apenas obstáculos dedicados vão parar um carro: uma barricada anticarro expressamente preparada, como os “ouriços de aço” (que consistem em três vigas de aço de 1 a 2 metros de comprimento, soldadas e aparafusadas em forma de tetraedro) em números suficientes para preencher uma rua inteira ou uma pilha de detritos ou veículos cheios de detritos, tão pesados que o carro não pode empurrá-los para um lado; combinados ou não com outros dispositivos. Será necessário unir os obstáculos com minas anticarro e contra-pessoal e cobri-los com fogo automático. Não é tão necessário o fechamento da via, mas a capacidade de parar o carro para que possa ser alvejado com um lança-rojão ou, melhor ainda, um ATGW. Uma maneira de fechar uma rua é preencher o cruzamento com arames de tropeço acoplados a minas e armadilhas explosivas colocadas nos escombros, que tornarão a limpeza muito mais difícil. Outra maneira é preencher vários veículos com escombros e entulho, levá-los aos cruzamentos e deixá-los lá em bloqueio, coberto sempre por fogo automático. Se não se dispõem de veículos pesados, uma solução é combinar quatro automóveis e colocá-los dispostos em forma de quadrado. Então eles são virados de lado e seu espaço central cheio com entulhos, criando uma massa pesada. Pode-se colocar cimento dentro e fora deles.



Minas e armadilhas

As minas podem ser de alguns gramas de explosivos plásticos misturados com pregos ou qualquer peça de metal, ou dispositivos industrialmente produzidos capazes de estourar uma lagarta para um carro de 60 toneladas. Eles podem ter o tamanho de uma moeda ou ser tão grande como uma lixeira. As minas de plástico não contêm peças de metal, de modo que não podem ser descobertas com detectores de metal. São tão eficazes quando cobertas pelo fogo automático, como quando o defensor coloca-as em locais que não podem ser observados o tempo todo. Mas, como elas são ativados pelo movimento, são tão perigosas para as tropas amigas quanto para o inimigo. Minas e armadilhas explosivas nunca devem ser colocadas sem balizamento e registo em um mapa de desdobramento. O modo de acionamento também é importante. Pode ser por cabo de acionamento, por pressão ou descompressão, ou por algum dispositivo de controle remoto ou elétrico. Quando um edifício ou terreno é minado, deve haver sinais indicando isso, que servem para evitar que tropas amigas avancem por ali, como para retardar inimigo e forçá-lo a se mover mais devagar e cautelosamente, o que às vezes será suficiente para fazê-lo cair sob o fogo do defensor. A imaginação pode ser muito importante ao decidir quando e onde colocar esses avisos. O defensor dá a informação certa às próprias forças e deixa o inimigo pensar como quiser. Afinal, os cartazes são muito mais baratos do que as minas, e a mera sinalização que elas estão ali, mesmo que falsa, poderá produz os efeitos desejados, tal qual a suposição da presença de um submarino na guerra naval. Sempre devem ser conhecidos e documentados os locais onde se instalaram minas, caso contrário ao se substituir uma unidade por outra pode ser muito perigoso para o recém-chegado. Cada unidade deve ter um oficial encarregado desse registro.

As minas e armadilhas explosivas não devem ser colocadas de qualquer jeito. Há lugares óbvios para colocá-las, como debaixo de escadas, no peitoril de janelas e atrás de portas, mas o arranjo deve ser variado para forçar o inimigo a parar e procurar os explosivos. Se uma mina consegue retardar um atacante o suficiente para o defensor disparar contra ele, foi tão eficaz como se tivesse sido detonada. Os dispositivos explosivos devem ser colocados em profundidade. Se um for descoberto, um segundo pode detonar ao se desarmar o primeiro. 

As minas tipo Claymore atuam exclusivamente por ação explosiva. Pode-se agregar estilhaços em torno dela para transformá-la em uma mina anti-pessoal de fragmentação ou usá-la para derrubar paredes. Além disso, pode-se remover os 675 gramas de plástico explosivo que contém e usá-los para fazer pequenas "armadilhas". Os explosivos plásticos são bastante seguros para se manusear. Pode-se jogá-lo, golpeá-lo com um martelo e até mesmo usá-lo como combustível quando você não tem nada mais à mão. Para detonar uma explosão é necessário um detonador. 

Equipamento individual

O equipamento deve ser o mínimo necessário para que se possa se mover livremente dentro da casa e através de lacunas e janelas. Deve-se sempre carregar máscara de gás, água e toda a munição possível. Os coletes à prova de balas com bolsos integrados são melhores que os cintos comuns, porque neles o peso é melhor distribuído e não vai ficar viciado quando se atravessa lugares difíceis. Um complemento vital são os protetores auditivos. Eles devem reduzir o atrito do tiroteio, mas permitir ouvir o comando. Protetores de joelho e cotovelos são uma proteção importante. Usa-se sempre capacete e óculos de plástico para proteger o rosto e os olhos do pó e fragmentos de tijolos. Curativos de campanha adicionais e morfina devem ser carregados.

Posições de tiro

Em primeiro lugar, será necessário reconhecer o terreno para delimitar os setores de disparo e ver como eles podem se sobrepor. Então será decidido por onde abrir as passagens nas paredes. A camuflagem também deve ser levada em consideração; Aberturas podem atrair fogo inimigo. A idéia é ser capaz de ver sem ser visto, matar sem ser morto. Quem está na defensiva tem a vantagem de não precisar mudar constantemente de posição, e em uma cidade há muitos lugares para se proteger. Devem ser abertas brechas que possibilitem eficientes campos de tiro. A camuflagem é muito importante e na camuflagem o que conta é a imaginação. A melhor camuflagem é a que permite ver e disparar através dela e manter a posição oculta na sombra.

Quando se atira a partir de uma janela, deve-se posicionar a uma distância prudente, distante o máximo possível de onde ainda se pode ver o exterior, mas tentando não reduzir seu setor de fogo. O ideal é o atirador preparar as brechas em locais inesperados, como por baixo de uma estrutura de janela ou através das telhas de um sótão. Essas brechas podem ser aberturas retangulares simples feitas através dos tijolos e devem oferecer uma área de observação conveniente. No entanto, se um ponto específico deve ser coberto, a seteira deve ser feita de modo que sua abertura externa seja pequena, ampliando para dentro em uma forma "V" ou cone. Para evitar lesões de fragmentos de tijolos ou estilhaços, a posição de tiro deve ser protegida com sacos de areia. Quando esta seteira não estiver sendo usada, deverá ser coberta com algum material à prova de balas, para que o inimigo não possa disparar através dela e para que ele não possa ver para dentro da casa.


Defendendo uma cidade

É mais confortável defender uma cidade do que tentar desalojar o inimigo que está instalado nela. O defensor conhece a região muito melhor do que o atacante e pode escolher entre as defesas que têm à sua disposição as que melhor respondem às suas necessidades; A coisa mais importante nestes casos é que há tempo suficiente para planejar e preparar as posições. Se as defesas urbanas estiverem preparadas minuciosamente, elas são distribuídas às tropas da forma mais apropriada e fortificadas de maneira que o defensor sobreviva ao impulso do atacante, para depois detê-lo e destruí-lo.

As forças disponíveis são divididas em quatro escalões principais: escalão de alerta, de ruptura, de defesa e o de reserva.

O escalão de alerta consiste em uma série de forças de reconhecimento cuja função é estabelecer pontos de controle no perímetro da área a ser defendida e cobrir os acessos mais óbvios. Em particular, sua tarefa é alertar a aproximação do inimigo, envolvê-lo e, se possível, destruir os elementos de reconhecimento e vanguarda do oponente para finalmente forçá-lo a implementar um ataque deliberado para penetrar na cidade . Esta força de primeiro contato será dividida em pequenos grupos, que deverão operar e lutar até que sua situação seja verdadeiramente insustentável. Esta missão exige nervos de aço e grande profissionalismo. Uma vez que eles fizeram seu trabalho, esses grupos podem se retirar para se juntar as forças de maior poder.

O objetivo o escalão de ruptura é cobrir o terreno entre o perímetro e as posições principais, localizado no coração da cidade. Pertencer a este elemento de ruptura é uma excelente oportunidade para desencadear a imaginação tática. Esta força tem como missão específica atrasar, confundir e desorganizar o inimigo. Isso pode ser feito com detritos, minas, veículos em obstrução, armadilhas explosivas, atiradores e destruidores de tanques. A idéia é provocar o maior número de baixas e atrasar o avanço do inimigo, enquanto tenta trazê-lo para as áreas escolhidas antecipadamente, em que a maior parte das forças de defesa pode imobilizá-lo e destruí-lo. Isso é conseguido deixando algumas ruas relativamente desimpedidas através dos principais pontos fortes defensivos.

O escalão de defesa é a força principal, e deve ser desdobrado em posições muito fortes no centro da cidade, com o apoio de carros se estiver disponível. É neste local que o defensor deve resistir ao ataque do inimigo, já parcialmente debilitado, e vencê-lo. Também é aqui onde os pontos de retardamento serão erguidos e onde deve-se permanecer firme. Se o trabalho for feito da maneira apropriada, o atacante não poderá expulsar o defensor.

O escalão de reserva apoiará o escalão de defesa onde o atacante conseguir penetrar por alguns pontos no núcleo principal das posições. O defensor recorrerá às suas reservas para que elas compensem as brechas e destruam qualquer infiltração que não puder ser interrompida pela força da ruptura. Se algum ponto for penetrado é a reserva que vai contra-atacar e recuperar o controle.



A escolha do ponto forte
  
A escolha do ponto forte ditará como a defesa de uma área urbana deve ser planejada e como as forças disponíveis para ela serão organizadas. Primeiro, um edifício conveniente deve ser escolhido. Se for muito pequeno, o impacto de uma única arma de artilharia ou canhão de carro de combate pode matar a maioria de seus ocupantes. Por outro lado, se for muito grande, será necessário dispersar muito os defensores, que não poderão cobrir todos os acessos ou conseguir uma concentração adequada de fogo que impeça o inimigo de se aproximar do local. A escolha do edifício ideal para preparar um reduto é, possivelmente, o mais difícil dos problemas que o defensor terá.

Ao localizar um edifício das dimensões apropriadas, deve-se garantir que sua estrutura seja adequada. Deverão ser evitadas casas com armações de madeira cobertas de argamassa e tijolos. Alguns edifícios auxiliares rurais e casas de verão são feitos dessa maneira. Eles são inflamáveis e reduzidos a escombros com facilidade, especialmente se forem atingidos por uma arma pesada. Também evita-se bangalôs modernos e pequenas casas de dois andares, que às vezes são feitas de materiais leves, como madeira e tijolos finos. Algumas partes dessas casas nem protegem do fogo de armas portáteis. Os edifícios muito altos, cuja estrutura básica é feita de aço ou concreto, sem paredes importantes e muitas vezes revestidas com grandes superfícies de vidro, também não são adequados para defesa. Embora possam ser usados como grandes postos de observação, existe o perigo de um colapso progressivo se a estrutura for atingida em um dos seus andares inferiores. Não há dúvida de que os melhores edifícios de defesa são os mais tradicionais, com paredes grossas levantadas com tijolos ou pedras, e geralmente com três ou quatro andares de altura. Este tipo de estrutura foi a mais comum até a primeira metade do século XX, e é caracterizado por janelas relativamente pequenas, inflamabilidade inferior, e especialmente nas cidades pequenas por ter porões profundos e bem construídos. Sua versão mais moderna, construída de blocos de tijolos ou de cimento, com telhados de uma ou duas águas, tetos e pisos feitos de concreto, também são muito adequados para defesa.

Os arredores

O entorno do edifício também influenciará a escolha. Embora seja importante ter bons campos de tiro, também é importante que não seja muito isolado. Haverá acesso à entrada e saída do mesmo, e reforços ou suprimentos não podem, muitas vezes, ser recebidos durante a batalha. Idealmente, no jardim deve haver espaço suficiente para abrir trincheiras, das quais o inimigo será impedido de se aproximar da casa. Uma vez que a casa (ou as casas) que se tornem um reduto foram escolhidas, elas devem estar preparadas para o que se espera delas. Em primeiro lugar, você tem que trabalhar no exterior. Algumas ruas serão bloqueadas com escombros ou com veículos derrubados, ou com ambos. Os obstáculos de arame farpado e outros tipos de barricadas podem ser aumentados. As minas também podem ser colocadas e armadilhas explosivas preparadas em torno da edificação, o que desencorajará o inimigo de tentar aplicar cargas explosivas contra suas paredes. Da mesma forma, setores de fogo mais amplos serão abertos do que aqueles que podem existir para que o inimigo possa ser adquirido a uma distância maior e efetiva.

Como reforçar o ponto forte

Em primeiro lugar, a proteção fornecida pelas paredes deve ser aumentada colocando montes de sacos de areia contra eles. Outros reforços válidos são baldes cheios de terra, troncos e até colchões. Barricadas serão preparadas em todas as entradas, exceto por uma em que os defensores entram e saem da casa. Mas deve-se estar preparado para bloqueá-la se for necessário. As escadas e corredores também serão bloqueados. Os defensores mover-se-ão de um lado do prédio para o outro através de lacunas abertas em divisórias e tetos, que também devem estar preparados. Para mover-se de um andar para outro através desses buracos, usam-se escadas portáteis, cordas e até móveis empilhados. Deve-se ter em mente que todas essas preparações podem aumentar o peso em um determinado ponto da estrutura. Todas essas estruturas devem ser preparadas contra explosões, apoiando os telhados com reforços que serão colocados em uma base sólida e imobilizados por cunhas de madeira pregadas no chão e no teto. Finalmente, em cada sala deve haver uma oferta generosa de água, coletada em todos os tipos de recipientes, de baldes a banheiras, pois seu fornecimento será cortado, assim como o gás e a eletricidade.

Combatentes e armas

Uma vez que o prédio esteja pronto, a próxima tarefa é distribuir os combatentes e suas armas. Armas automáticas geralmente serão colocados no nível do solo. Isso ocorre porque as metralhadoras atingem um alcance maior se suas trajetórias forem paralelas ao chão: sua cobertura potencial é maior do que se eles fossem colocados para atirar de cima para baixo. Os franco-atiradores, por outro lado, dedicar-se-ão a pegar alvos distantes, e é melhor colocá-los em lugares altos a partir dos quais eles podem ver mais. Orifícios devem ser feitos nos assoalhos superiores, a fim de seja possível lançar granadas para os cômodos inferiores, caso o inimigo penetre no edifício. Nos andares superiores, também podem ser colocadas armas anti-carro portáteis, que poderão então disparar contra a armadura superior dos blindados, que é mais vulnerável. No entanto, deve-se levar em conta o sopro provocado pelo disparo dessas armas.

Meios improvisados

A maior ameaça para um reduto defensivo não é a artilharia, mas o tiro tenso dos blindados e dos lança-chamas. Pouco pode ser feito contra o último, mas os carros podem ser destruídos a curta distância com alguns dispositivos improvisados. Lembre-se que as ruas restringem os movimentos dos carros e que, se a infantaria que acompanha é eliminada, pode-se abordá-los para atacá-los com esses meios de fortuna. Bombas de combustível gelatinizadas, detonadas por granadas de fósforo-branco ou outros meios podem ser moderadamente eficazes se colocadas no motor de um veículo blindado. Estas cargas são feitas com blocos de explosivos plásticos. Montadas num bastão longo com um cabo detonador, pode-se colocá-las em um ponto mais vulnerável do carro ou no topo do compartimento do motor. Qualquer recipiente pode ser usado para fazer bombas de combustível gelatinizadas. Elas podem ser construídas com qualquer material que possa ser laminado à mão. Uma caixa de munição cheia de combustível e com uma granada de fósforo branco em que teremos enrolado um cabo detonante é um exemplo

As únicas vias que devem permitir o deslocamento de forma fluida são aquelas que canalizam o inimigo para uma emboscada. Todas as outras rotas devem ser bloqueadas, seja pela demolição de edifícios inteiros, seja pela preparação de barreiras efetivas.

Técnicas a serem observadas

Pelotões que tiverem seus efetivos reduzidos deverão ser agrupados para formar núcleos de resistência fortes. As posições de disparo, tanto dentro como fora das casas escolhidas, devem poder prestar apoio mútuo. As ruas e zonas alinhadas são "campos de caça" para ambos os lados, por isso pague-lhes a devida atenção. As ruas devem ser bloqueadas e negadas ao inimigo, mas certifique-se de poder cobrir as barricadas com armas automáticas. Pequenos grupos de reserva devem estar disponíveis, pode ser necessário bloquear brechas nas defesas ou expulsar o inimigo de qualquer uma das posições. A troca periódica de posição dificulta a identificação do dispositivo. A defesa deve ser agressiva. Reinfiltração em edifícios evacuados anteriormente, colocação armadilhas explosivas, uso generoso de franco-atiradores e assédio a posições inimigas que estejam se preparando para atacar.