FRASE

"Quem escolhe a desonra a fim de evitar o confronto, a conseguirá de pronto, e terá o confronto na sequência."

sexta-feira, 18 de maio de 2018

MAWS - Sistema de Alerta de Aproximação de Mísseis #149


Este sistema faz parte da suite de aviônica das aeronaves modernas mais avançadas, e visa alertá-la quando ameaçada por mísseis anti-aeronaves (AAM ou SAMs). Os sensores do MAWS (Missile Approach Warning System) alertam o piloto sobre estas ameaças para que possa fazer manobras evasivas ou acionar contramedidas, o que também pode ser feito (e deve) de forma automática.

A Segunda Guerra Mundial trouxe estas ameaças aos cenários de combate e nos anos 50 eles começaram a se fazer presente de forma mais significativa. Como é comum na guerra todo ponto gera seu contraponto, ECMs e procedimentos táticos específicos foram aparecendo com bons resultados permitindo às aeronaves maior capacidade de sobrevivência, desde que o alerta com a devida antecedência fosse dado.

Estatísticas da década de 60 demonstravam que a grande maioria dos abates de aeronaves tinham como vilão o míssil guiado a infravermelho (IR). Os mísseis guiados a radar são mais rápidos, manobram melhor, carregam mais explosivos e possuem espoletas de proximidade, porém as contramedidas contra eles foram muito mais fáceis de conceber que contra os primeiros. Os RWR provaram sua eficácia logo que apareceram e aumentaram sobremaneira a taxa de sobrevivência das aeronaves, sendo que aqueles abatidos pelos mísseis IR nunca souberam o que os atingiu.

A partir da década de 1960 começaram a aparecer nos espaços de batalha os MANPADS, SAMs guiados a IR e lançados do ombro do combatentes, compactos, pequenos, baratos e disseminados em grande número, capazes de atingir aeronaves voando baixo. Não demandam infraestrutura de lançamento como os SAMs guiados a radar e por utilizarem um sistema de guiagem passivo não anunciam sua presença. Produzidos desde então em quantidades substanciais, estão disponíveis no mercado negro e consequentemente para milicias "não estatais".



Os MANPADS de primeira geração estavam restritos aos engajamento pelo setor traseiro da aeronave, porém os modelos de segunda e terceira geração que surgiram a partir dos anos 1980, contam com aperfeiçoamentos significativos, com cabeça de busca avançadas e aerodinâmica mais eficiente associada a motores mais capazes. Passaram a um perfil operacional "all aspect", ou seja, podendo serem lançados de qualquer ângulo, tornaram-se mais resistentes a ECMs e com altíssimo potencial de manobra. 

Aeronaves mais lentas como helicópteros e cargueiros militares, além de aviões civis, tornaram-se mais vulneráveis que nunca a estes SAMs, principalmente durante pousos e decolagens. Aeronaves de alto desempenho como caças passam menos tempo dentro desta zona de morte e apresentam menos vulnerabilidade.



MANPADS são armas de curtos alcance, com raio de cerca de 5 km, pequena margem de erro e tempo de impacto a 1 km de cerca de de 3 segundos, e entre 3 e 5 km de cerca 7 a 11 segundos, respectivamente. Fornecer alerta em tempo hábil contra este projéteis é um desafio. Não avisam que vão ser lançados, não dependem de IR ativo ou orientação radar, não são orientados por qualquer tipo de designador com os a laser que sempre emite uma radiação detectável. São do tipo "dispare e esqueça", travando rapidamente em um alvo e destruindo-o em segundos. Seu propulsor queima em intervalo de tempo curto, sendo visível em tempo reduzido, além de possuírem uma RCS muito pequena.

Proteger-se contra estas ameaças tão furtivas depende de um alerta imediato e uma ECM eficiente. Nos modelos de 1ª geração com operação por amplitude modulada, usavam-se jammers IR omnidirecionais sem alerta, que irradiavam continuamente enquanto estavam ligados, com razoável eficácia desde que técnicas corretas fossem aplicadas. As gerações posteriores passaram a operar com modulação de frequência e o papel desta contramedida se inverteu, passando a atrair em vez de enganar.

Em um ambiente onde o tempo é escasso, um MAWS deve mostrar-se confiável a fim de permitir o uso de ECMs apropriadas em tempo real. Os pilotos só o utilizarão se confiarem neles, e apresentar uma baixa taxa de alarmes falsos (FAR) mesmo que iluminado por emissores múltiplos é importante. Tempos de resposta rápidos e FAR baixas são requisitos conflitantes, requerendo uma configuração equilibrada. O desejável é de se ter um "tempo para o impacto" (TTI) longo, com um FAR baixo. O sistema tem que recolher dados e tomar decisões baseadas neles quando um nível de confiança razoável for atingido, sem falsos alarmes, o que demanda uma coleta de dados significativa, o que por consequência resulta em um TTI mais baixo. A probabilidade de sobrevivência depende do TTI, o que leva a tolerância de uma FAR mais alta, desde que não comprometa a operação.

É importante que o sistema tenha precisão azimutal (cerca de 2 graus) e de ângulo de ataque (AOA), pois deve-se saber exatamente de onde vem a ameaça. Contramedidas IR direcionais (DIRCM) exigem esta precisão para contrapor mísseis com sucesso. É importante evitar que a aeronave e os chamarizes dispensados fique dentro de um mesmo "campo de visão" do míssil, pois se este superar os "engodos" ainda assim poderá atingir a aeronave, particularmente se esta for lenta e demorar a se desvincular deles. O AOA preciso também é importante quando da manobra brusca de aeronaves rápidas que buscam se distanciar dos chamarizes. A alta velocidade tende a negar este distanciamento, e a aeronave deve procurar aumentar o ângulo de separação, principalmente se a aproximação da ameaça for pela retaguarda  quando um AOA preciso evita que o piloto vire na direção errada, aproximando-se do míssil.

Este sistema deverá ser compacto, pois assim poderá equipar aeronaves pequenas, consumir pouca energia e não causar arrasto aerodinâmico. Visualização integrada aos displays existentes evita a duplicação destes, podendo coexistir com os RWR, porém com exibições claras e sem ambiguidades. Devem ser exibidos na tela também as chamarizes disponíveis, o modo de funcionamento e o estado de manutenção. Outro fator desejável é a possibilidade de ser integrado aos outros sistemas de EW da aeronave.

Os sistemas em uso atualmente usam radares pulso-doppler, sensores IR e UV, cada um com suas vantagens e desvantagens. Os sistemas Pulso-doppler podem medir a velocidade de aproximação e a distância da ameaça, podendo determinar a TTI e otimizar o tempo da ECM, não depende da IR do míssil e é menos sensível às condições climáticas. Revelam a presença da aeronave e podem não engajar mísseis com baixo RCS, com alerta tardio. Não são muito precisos e podem ser interferidos por outras fontes de RF, podendo ainda interferir em radares de solo e são mais difíceis de integrar.



Os sistemas IR  funcionam melhor em condições atmosféricas favoráveis e em altitudes longe da interferência das fontes de solo, sendo mais precisos para dispensar chamarizes. Sofrem interferência da água e do gelo que debilitam totalmente sua precisão, e aliadas ao fundo de solo distorcem totalmente a interpretação dos sensores. Altos níveis computacionais são necessários para compensar os alarmes falsos em condições desfavoráveis. Sensores de duas cores são usados para atenuar a interferência de fundo a FAR mais altas, mas encarecem os sistemas e oferecem complicações técnicas. Não podem medir o alcance nem a velocidade, tem campos de visão estreitos e requerem matrizes de 360 graus, que oneram o sistema. Demandam sensores refrigerados e podem ser ineficientes em motores de novas tecnologias IR/UV.

O sistema UV é imune a alarmes falso naturais por operar nesta faixa do espectro, sendo mais eficiente que os IR no que diz respeito a interferências de fundo. Opera bem em condições adversas e com a presença de umidade, tem campo de visão largo e opera com precisão, sendo o sistema mais simples de todos. Não requer refrigeração nem alta capacidade computacional, com baixo custo de ciclo de vida. Requer que os motores estejam queimando para serem detectados, sendo mais efetivo contra SAMs que contra mísseis ar-ar. Não fornece informações de alcance, mas pode alertar quanto a TTI pela variação da amplitude do sinal. Pode se mostrar ineficiente, tal qual os IR, em motores de nova geração.



terça-feira, 15 de maio de 2018

Movimento Tático de Infantaria #148



A infantaria se movimenta no terreno usando formações táticas, quando em condição de provável contato com o inimigo, de forma a minimizar as chances de ser surpreendida e sofrer baixas, além de poder responder ao fogo de forma eficiente se o engajamento for estabelecido. O movimento tático antecede a manobra, e cessa com o inicio desta, que se dá com o estabelecimento do contato. Movimentar-se de forma disciplinada e usando a técnica adequada faz a diferença entre a vida e a morte.

Formações Táticas

São utilizadas 7 formações pré-definidas, cada uma empregada de acordo com a situação tática do momento, onde se leva em consideração as necessidades de velocidade de avanço e fluidez de deslocamento, necessidade de fazer fogo a frente ou para os lados de forma mais eficaz, probabilidade de contato imediato e provável quadrante de contato, entre outras. Ao deslocar-se a infantaria deve manter a coesão do grupo, permitir a comunicação entre seus membros, manter o ímpeto do movimento e alcançar máxima proteção mútua entre seus membros e outros grupos adjacentes. A formação também deve permitir que uma vez estabelecido o contato o grupo possa migrar para uma situação defensiva de forma natural e sem grandes contratempos.

Cada membro do grupo ocupa uma posição padrão na formação de forma que todos possam estar em contato permanente com seu lider imediato e este seu lider superior, além é claro de poder cumprir sua função. As formações não devem ser rígidas, mas sim flexíveis de forma a poder variar se necessário, ao comando de um gesto do líder. As formações em linha, em coluna e em escalão são as menos flexíveis.

As formações são escolhidas de acordo com os fatores largura e profundidade requeridos, sendo que a vantagem de um dos fatores representa desvantagem do outro. Uma coluna de infantaria pode se dispor em coluna, em linha, em V, em cunha, em diamante , em caixa ou em escalão. As formações podem contar com um elemento guia ou com mais de um. A primeira torna o controle mais fácil, porém reduz a superioridade de fogo a frente e vice-versa.

A formação em linha consiste em todos os elementos postados lado a lado, dispondo o grupo com máxima largura e mínima profundidade. Todos podem, de forma otimizada, observar e fazer fogo a frente, com prejuízo dos flancos. O caminho percorrido por um indivíduo ainda não o foi por outro, podendo por exemplo haver uma mina ali, requerendo cautela e esforço de limpeza de itinerário. O movimento deve se dar tendo como base o movimento do líder ou ao seu comando, sendo o controle difícil e é usada quando o contato é iminente. Esta formação implica em baixa velocidade e é inviável em terreno restrito, dificulta a manobra escalonada, favorece a dispersão e alta assinatura. O comando para esta formação é dado quando o líder estica ambos os braços.

A formação em coluna é o oposto da anterior. Os elementos postam-se em fila e assim se deslocam, sendo o terreno relativamente seguro depois da passagem do elemento à frente. Um elemento é destacado para ir um pouco a frente do grupo oferecendo segurança aos demais. Possui poder de fogo máximo nos flancos a mínimo a frente, bem como a observação. É a formação mais fácil de controlar, desde que o elemento a frente não se distancie em muito do líder, e que oferece maior fluidez, mesmo em terrenos mais restritos.  É vulnerável a ataques aéreos e ao fogo de metralhadoras se pouco dispersa. É empregada quando se tem a velocidade como prioridade e o contato com o inimigo é pouco provável, pois a capacidade de manobra fica restrita. O comando para esta formação é um giro de 360 graus com o braço estendido, partindo do alto.

O terceiro tipo á a formação é a em V ou cunha invertida. É similar a formação em coluna, porém oferece mais flexibilidade de manobra pois coloca 2 elementos a frente em vez de 1 só. Possui maior capacidade de fogo e observação à frente, porém mantém a segurança dos flancos em bom nível e oferece boa dispersão. É utilizada quando se quer priorizar a velocidade, porém o contato com o inimigo é mais provável. O controle é similar a formação em coluna, mas um pouco mais complicado. O comando para esta formação são os braços erguidos acima do ombro.

A formação em caixa dispões seus elementos tal qual o formação em cunha invertida na frente e repete esta disposição nos elementos de retaguarda. Possui as mesmas características desta. É uma formação que maximiza a segurança do grupo.

A formação de cunha pode ter 2 variações: cunha a direita ou a esquerda tendo um elemento a frente, dois de um lado de forma escalonada e outro do lado oposto. É usada em situações indefinidas com um elemento a frente. Proporciona alta grau de controle e bom poder de fogo, relativa facilidade em terreno restrito e facilidade de transição para formações de linha ou coluna. Em terrenos muito restritos requer frequente transição para formação em coluna. O comando para esta formação são os dois braços abaixados em 45 graus.

A formação em diamante tem as mesma características da formação em cunha com o quarto elemento disposto à retaguarda do elemento que se desloca a frente.

A sétima formação usada é a formação em escalão, que como a formação em cunha pode ser a direita ou a esquerda. Consiste em escalonar os elementos de forma diagonal a sentido do deslocamento para um dos lados, aquele de onde vem a ameaça. Permite fogo e observação ótima para o lado escalonado e para frente, com segurança debilitada para o lado oposto. É usado quando se tem segurança que a ameaça virá só de uma lado, como na composição de formações maiores com outros grupos que proporcionam segurança mútua, sendo de difícil controle. O comando para esta formação é um braço acima e outros abaixo, sempre no sentido do escalonamento.

Dentro do grupo, os infantes compõem uma equipe de fogo, que nada mais é do que uma atribuição de responsabilidades de cada um de vigiar um quadrante específico, de forma a proporcionar segurança a todo o grupo. casa elemento deverá ter conhecimento de seu quadrante e dos quadrantes de seus companheiros, conhecimento este que concatenado com a formação usada evita que se atire na direção dos parceiros evitando fratricídio. As equipes de fogo guardam um distância de segurança (dispersão) de seus parceiros até o limite do controle, distância esta que é ditada pela situação tática do momento.

A cunha é a formação básica da equipe de fogo, com seus integrantes mantendo um espaço de cerca de 10 metros, variando de acordo com as condições do terreno. Os integrantes da equipe agem de acordo com as ações do líder sem necessidade de ordens explícitas, sendo fundamental que todos tenham sempre o líder em seu visual. Em terrenos seriamente restritos como dentro de edificações e em condições de visibilidade muito limitada se usa a coluna em formação cerrada, pois a cunha é impraticável.

O Itinerário a ser usado

Estabelecer contato no momento e local escolhidos pelo inimigo será sempre desastroso, de forma que entender as peculiaridades do terreno em que se irá operar e selecionar as rotas mais adequadas é vital. Também é importante se deslocar no tempo certo, com a disposição adequadas das armas disponíveis e com o grupo disposto na formação adequada, de forma a chegar ao local escolhido no momento desejado em condições de integridade do grupo e com total potencial de combate.

Quando o movimento não tem por objetivo o engajamento em combate, como aquele praticado por grupos isolados atrás de linha inimigas procurando um reposicionamento, busca-se a máxima segurança e o controle, praticando o contato apenas quando inevitável, movendo-se por rotas ocultas e cobertas que ofereçam poucas possibilidades de emboscadas. Deve-se ainda lançar mão de todos os recursos de camuflagem e disciplina de ruído, manter vigilância em todas as direções e valer-se de recursos como ocultação por fumaça e aplicação de fogos diretos e indiretos quando necessário.

As formações táticas da infantaria determinam o espaçamento entre os membros do grupo, seus setores de fogo e as responsabilidades de cada um. Dentro da formação as técnicas de movimento definem o nível de segurança que um soldado oferece a outro, a posição dos GCs uns em relação aos outros, quem faz fogo e quem se desloca.

Tão importante quanto as outras tarefas do líder, é a habilidade de planejar e selecionar uma rota de deslocamento. Deslocar-se por um itinerário que seja o mais seguro possível, demandem o menor esforço e atinjam o objetivo do deslocamento no tempo adequado é importante. Um deslocamento eficiente começa com uma seleção de rotas bem selecionadas que exige um análise pormenorizada do terreno e termina com uma capacidade de navegação competente. Planejamento e preparação são inúteis se não se consegue encontrar o caminho para o objetivo.

Terrenos perigosos devem ser evitados. Expor-se a observação ou ao fogo, ou ambos também. O planejamento da rota deve levar este fator em consideração e se for inevitável atravessar estas áreas deve-se fazê-lo o mais rapidamente possível e com cautela máxima. 

domingo, 13 de maio de 2018

Apoio Aéreo Aproximado (Close Air Support - CAS) *147



Relativamente desconhecida do público em geral antes das guerras do Iraque e do Afeganistão, esta missão existe desde dos primórdios da aviação. Mas o que é o CAS? como é vista pelos pilotos e por aqueles que se beneficiam dela, as forças terrestres? Estas perguntas ajudam a entender o que realmente é esta missão e ajudam a dissipar alguns mitos que a cercam.


O apoio aéreo aproximado (close air support - CAS) é o nome dado à missão ar-terra executada por aeronaves que estão próximas à forças terrestres amigas, geralmente a pedido e em proveito destas, e com integração detalhada a cada movimento com o fogo e a manobras destas forças. Qualquer aeronave que possa empregar munições pode prover apoio a forças no solo, sejam balões de ar quente na Primeira Guerra Mundial aos atuais vetores estratégicos como os B-1Bs dos EUA, se puderem prover artilharia de qualquer tipo à tropa no solo esta missão caracteriza-se como CAS.


Esta afirmação se faz importante porque muitos pensam que somente aeronaves como os Thunderbold A-10 e seus semelhantes são capazes de executar este tipo de missão. Enquanto estas aeronaves tenham sido concebidas para esta missão e a desempenhem com proficiência, não são as únicas capazes de fazê-lo, e sua atuação representa um pequeno número nas missões desta natureza que acontecem nos dias de hoje.


O CAS é uma das poucas missões igualmente executadas por todas as forças. A instrução JP 3-09.3 é a bíblia do CAS paras as forças dos EUA. Apesar da US Navy e a USAF, de forma anacrônica, divergirem tanto na forma como veem a tática, provavelmente aquecidos numa fogueira de vaidades, quando se trata do CAS os pensamentos convergem para um mesmo objetivo comum. Os helicópteros do US Army não são considerados como atores de CAS, e sim com elementos de manobra, assim como um carro de combate ou uma peça de artilharia, embora em última análise o sejam, mas como são tripulados por integrantes da tropa apoiada e pensam como esta, não precisam de controladores qualificados para realizar seus fogos.

Existem três elementos chave em uma missão de CAS: o comandante da tropa em terra, o controlador aéreo avançado (FAC nos US Marines e JTAC nos US Army/ Navy/ Air Force) e os elementos aéreos de apoio (aeronaves). O comandante terrestre é o responsável pela manobra das forças no solo e determinante dos movimentos e objetivos desta, sendo a sua intenção o objetivo dos fogos de CAS, e estes executados a partir de sua determinação. O FAC é o representante deste comandante junto aos pilotos, aquele que entende as duas linguagens, e sua função é traduzir as intenções deste comandante terrestre nos procedimentos de fogo aéreo praticado pelas aeronaves de apoio.




Os FACs atuam integrados com as unidades terrestres, em terra ou em aeronaves de observação e fazem a ligação entre estes "dois mundos", transformando demandas táticas em fogos de apoio, tal qual um observador de artilharia de campanha, guardadas as proporções. Cabe aos FACs coordenar a chamada "pilha", quando várias aeronaves CAS estão presentes acima da área de operações em altitudes desconectadas, e em condições de executarem a mesma missão, através da marcação de alvos e autorizando aos elementos aéreos liberarem suas "warheads" e fogos de rajada, sempre em estreita sincronização com o comandante da manobra (comandante terrestre).


O CAS é uma missão dinâmica e de ocasião, geralmente desempenhado por aeronaves que estão sobrevoando a área de operações com esta finalidade, mas sem nada planejado especificamente. Não se sabe quais alvos aparecerão, nem se tem rotas específicas de entrada e saída, apenas aguardando-se o chamado do FAC. É a missão aérea mais fácil de se planejar, apenas sabendo qual os prováveis tipos de munição que se irá utilizar e as regras de engajamento do momento.


Esta missão se apresenta de duas formas básicas: Por demanda ou pré-planejada. Em uma missão pré-planejada a aeronave decola já sabendo quais serão seus alvos, como por exemplo um comboio a cavaleiro de uma via de importância tática e que tem relação com a manobra amiga. Nestas missões se está apoiando uma operação específica e não se decola com a garantia de que as armas serão usadas, apenas se está lá para ser usado conforme a conveniência desta missão. 

Nas missões por demanda as aeronaves aguardam em um aeródromo próximo ou sobrevoam a área de operações ou suas adjacências, nada específico existe e se faz parte da "pilha", atuando como uma força de reação rápida com seus fogos endereçados a alvos que forem convenientes ao comandante da manobra, que poderão ser alterados de forma dinâmica.




Por fazerem uso de armas genéricas, as missões de CAS demandam planejamento mínimo, são as missões aéreas mais fáceis de serem planejadas e podem ser executadas por qualquer aeronave, desdo os vetores mais especializados como o A-10 Thunderbolt II e o Su-25, até os bombardeiros estratégicos como os poderosos B-1B, dada a sofisticação de suas suítes eletrônicas. As armas mais usadas são as bombas guiadas por GPS ou laser, as de emprego geral e os mísseis ar-superfície, além dos canhões orgânicos. A seleção das armas a serem empregadas é resultado da experiência do FAC e a disponibilidades destas para serem empregadas nos cabides das aeronaves.

É comum  a ideia de que CAS é uma missão de cenários de baixa ameaça, como as campanhas na Síria, Iraque e Afeganistão; onde os meios aéreos circulam livremente sem se preocuparem com complexas malhas de SAMs de médio e longo alcance e baterias de alto desempenho, onde predominam os MANPADS e as armas leves. Porém nem sempre esta situação se materializa e as tropas estão operando em "zonas quentes", onde missões SEAD e táticas especiais se fazem necessárias.


CAS em áreas de alta ameaça é um negócio de risco, como em hipotéticos conflitos envolvendo a OTAN, o Japão, a China, as Coreias do Norte e do Sul e a Rússia, entre outras. Sejam quais forem as dificuldades ou o cenário, no entanto os atores tendem a se adaptar, e os vetores engajados nestas missões certamente não serão deixados em seus aeródromos, principalmente àqueles mais especializados.




Fazendo Fogo


Uma missão CAS começa no seu centro de operações de apoio aéreo, onde os pilotos tomam ciência sobre a missão ou prováveis missões, a situação e as unidades que apoiarão. Informações sobre o voo e outras aeronaves na área poderão ser passadas. A medidas que as aeronaves se aproximam do objetivo trocarão a frequência do controle de voo para a frequência dos FACs e passarão a fazer um "check-in" junto a estes. Os FACs estabelecerão as regras de engajamento e orientarão os pilotos a se integrarem a "pilha" de aeronaves que estão disponíveis na área, determinando uma altitude de espera se for o caso e um circuíto a cumprir, ou autorizarão que se entre em ação imediatamente.

Em cenários movimentados poderá haver uma grande quantidade de aeronaves na área de operações em condições de prestar apoio CAS, que podem ser desde RPVs, passando por aeronaves de ataque ao solo especializadas e de apoio aproximado, até bombardeiros estratégicos e aeronaves singulares como o AC-130.

O piloto ao aproximar-se da zona de combate passa ao FAC um "briefing" onde informa seu número de missão, número e tipo de aeronave, posição e altitude, munição e sensores disponíveis, tempo que pode permanecer a disposição e o indispensável código de aborto. Este código permite ao FAC interromper de forma rápida e eficaz um bombardeio iminente e autorizado quando se constata que não deve acontecer.

O FAC por sua vez passará aos pilotos sua informações como a situação geral, os alvos presentes e os objetivos pelos quais as forças em terra estão operando, os tipos de ameaças e seus locais prováveis ou conhecidos, como MANPADS, baterias de tubo e SAMs de maior porte e suas altitudes de segurança, as posições amigas e outras informações e restrições vigentes.

De todas elas a informação mais relevante são as posições das forças amigas, as quais as aeronaves devem apoiar, e garantir sua segurança é fundamental. Todo piloto de CAS deve, sempre que o tempo permitir, fazer um sobrevoo visual sobre elas para certificar-se que seus fogos serão endereçados para longe delas. A noite esta tarefa é ainda mais fácil para aqueles que dispões de NVGs, especialmente se as tropas estiverem empregando marcadores infravermelhos estroboscópicos para marcarem sua posição. Se esta checagem não for possível os pilotos irão proceder a marcação destas posições em seus mapas e tentar obter confirmação visual através dos sensores da aeronave.

Em cenários tanto de alta ameaça como de baixa, os pilotos irão obedecer pontos de retenção longe do alvo, sendo que na maioria das operações modernas as aeronaves orbitam sobre o alvo em altitudes de segurança. O tipo de órbita depende do tipo de aeronave: Os F-16 da USAF, por exemplo, orbitam a direita porque seus pods Litening estão montados no queixo direito desta aeronave, enquanto nos Hornet da US NAVY a órbita se dá no sentido inverso devido a disposição de seu sensor ATFLIR. As distâncias ainda são variáveis de acordo com a velocidade e as características da aeronave, com uma ou cinco milhas, por exemplo, e as altitudes dependem dos limites de segurança e da "pilha" existente.

Um grande mito das missões CAS é que suas aeronaves devem voar baixo e serem lentas para serem eficazes. Com os sensores modernos os pilotos podem estar muito longe e muito altos e mesmo assim serem eficazes. Pode-se lançar um bombardeio, mesmo estando acima de vetores mais lentos como UAVs e helicópteros, com eficácia e segurança. Acima dos três mil metros as aeronaves ficam foram da zona de engajamento da maioria dos MANPADS e das armas leves, além de chamar menos atenção em missões que envolvem o sigilo. Evidente que este perfil de missão só é possível a aeronaves e "warheads" de alta tecnologia, que sejam seguramente precisas e não coloquem em risco as tropas amigas.

Uma vez dentro do circuito, o líder e seu ala se separarão, com o líder concentrado na manutenção do circuito e o ala no objetivo de solo, geralmente em altitudes levemente diferentes, usando o rádio ou mais recentemente o datalink para desengajar. 


O FAC dispõem de 3 modos de controle, sendo que no primeiro ele vê tanto a aeronave quanto o alvo durante todo o ataque para assegurar-se que os fogos estão sendo endereçados ao objetivo correto; no segundo modo ele visualiza somente o alvo ou o piloto, e depois que o piloto transmitir seu "pronto", o FAC replicará com a indicação de que o alvo está frente e o fogo está liberado. No terceiro modo o FAC não visualiza nenhum deles e o usa para bombardeiros longe das forças amigas e transmite ao piloto que a área está livre para engajamento. 





O piloto por sua vez conta com 2 modos de ação indicados pelo FAC: no primeiro o FAC passa coordenadas precisas ao piloto, que as alimenta em seus sistema de fogo para liberar armas de precisão nestas coordenadas. No outro modo as coordenadas não são precisas e o piloto deve conferir visualmente ou por sensores onde soltará suas bombas.



Informações poderão ser trabalhadas de várias formas, conforme a doutrina de cada força. Um conjunto normalmente usado são o ponto inicial (PI) para a corrida, o indicativo do alvo, a distância de algum ponto de referência que pode ser a própria aeronave, a direção a ser tomada, as coordenadas na forma de latitude e longitude, a altitude do alvo, a posição do alvo plotada em um sistema de referência militar, a forma de marcação (fumaça por exemplo), a distância mínima a partir da tropa amiga, o ponto de regresso (onde deverá estar após o ataque) de onde retornará ao aeródromo ou ao circuíto de espera.

O FAC é a autoridade máxima durante o ataque e será responsabilidade dele a segurança da tropa amiga, cabendo-lhe estabelecer a linha de segurança a partir da qual o bombardeio poderá se dar, bem como as restrições que devem ser observadas, como armas autorizadas, tempo de ataque e horários-limite. O alvo também poderá ser usado como referência, como a pista de um aeródromo por exemplo, onde a cabeceira da pista serve de ponto de partida para cálculo do ponto de impacto. Se sistema inteligentes estiverem disponíveis a introdução das coordenadas do alvo no sistema, facilita em muito o trabalho dos bombardeiros. Sistemas com Datalink pode dar a visão do piloto ao FAC, e se este estiver usando designadores laser ou IR será como se fosse um tiro direto. Palavras chave como ""contato" ou "visual" também podem ser usadas, deixando claro o status da operação naquele momento, evitando confusão entre o que é alvo e o que é tropa amiga.


Uma vez o ataque definido caberá ao lider (piloto) determinar as regras entre as aeronaves da esquadrilha (ou com o ala). As comunicações passam a ser entre estes, o lider se assegura que seus parceiros estão em sintonia com a missão que foi definida, passando a regras do ataque. Os dois (ou mais) bombardearão ou um bombardeará e o outro proverá cobertura mantendo-se em órbita? que armas usarão e que métodos (provavelmente já definidos), bombardearão juntos ou em intervalo de quantos segundos? de que forma desengajarão para evitar colisão ou ameaças em terra?


Apesar de parecer um processo complicado, e é, tripulações treinadas executam rapidamente, sendo treinamento e prática constante essenciais, estando os pilotos especializados mais capacitados (como os de A-10 e AC-130) a este tipo de operação. Sistemas montados no capacete (HMD) são especialmente úteis neste tipo de missão.


Uma vez completa esta fase de designação o piloto iniciaria sua corrida, transmitindo ao FAC uma mensagem com seu codinome, a designação do alvo, o modo de ataque e se tem as tropa amigas no visual ou não, por exemplo. O FAC responderia para que ele se mantivesse na corrida (não liberado) ou que o "fogo está liberado", geralmente em jargão próprio, o que dá segurança às mensagens. As coisa então acontece rapidamente, e neste momento palavras-chave são "mágicas". Ao iniciar a recuperação, o FAC procurará observar se alguma ameaça tipo MANPADS não foi disparada, alertando o piloto. Informará também se necessário uma segunda passagem ou se pode retornar ao "circuíto" e próximo alvo. A sequencia se repete até que a aeronave fique sem munição ou combustível, ou ainda atinja um horário determinado. O fator psicológico é alto, pois o piloto pode ouvir pela fonia do FAC o fogo sendo trocado, e sente que seu apoio é importante, desejando fazer o que está ao seu alcance para aliviar a ameaça inimiga.


Finalizada a missão, o FAC transmite todos os detalhes possíveis (debriefing) para que os pilotos levem a informação de volta à base. Os pilotos, sabendo que as tropas vão continuar lá lutando, farão o máximo para voltarem o quanto antes para dar continuidade ao apoio. As missões de CAS são muito variadas e dinâmicas, nenhuma sendo igual a outra.





Missões Complementares

O CAS, no entanto, não é só bombardeio puro e simples, e pode envolver, por exemplo, voo de intimidação. As vezes o bombardeio não é alternativa como numa área povoada e a realização de voos rasantes podem fazer o inimigo a "sentir a morte" vinda de cima,  desistindo de lutar ali. Esta prática também pode servir para reforçar a moral das tropas amigas, potencializando sua vontade de lutar. Não requer interação com o FAC.


O passo seguinte é a demonstração de força, que deve ser coordenado entre o piloto e o FAC, e consiste no disparo de armas em alvos visíveis, no intuito de forçar a desistência inimiga. É usado em shows aéreos e pode funcionar como forte fator psicológico junto a insurgentes. Pode ser muito arriscado se houver a possibilidade da presença de MANPADS na área.


Outra missão que pode ser necessária é o CAS improvisado, onde alguém em terra solicitou apoio aéreo através de seu rádio sem ter as devidas qualificações para tal. É uma prática perigosa e a possibilidade de fratricídio está presente em alto nível, porém pode ser a única alternativa. Neste caso os pilotos procuram fazer acontecer de uma forma mais lenta, passo a passo, porém sem deixar o pessoal no terreno sem apoio, de forma a mitigar o risco de atingi-los involuntariamente.


Mais recentemente temos as missões CAS digitais onde todo o processo se dá via software e datalink, com coordenadas precisas e liberação de armas pelo sistema. Os FACs podem visualizar o que o piloto vê, armas podem ser lançadas de grande altitudes, com mau tempo em em terreno cobertos. O risco ainda existe, pois pode-se por exemplo inserir um coordenada imprecisa e chamar o fogo para cima de si, pois nenhum sistema é perfeito. Neste caso, como nos outros, o treinamento é chave do sucesso.


Qualquer aeronave pode fazer CAS, e a eficiência de cada uma estará diretamente relacionada a quem as opera. Aeronaves especializas em CAS são operadas por tripulações (pilotos e FACs) igualmente especializados, e estes farão a diferença. Então tanto faz seu temos um A-10 ou um F-35, as pessoas e seu treinamento ditarão a eficiência de cada missão. 



Veja também: CAS: Qual a aeronave certa?