FRASE

"Quem escolhe a desonra a fim de evitar o confronto, a conseguirá de pronto, e terá o confronto na sequência."

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Morteiros #012


Veja também: Obuseiros

O morteiro é uma arma de uso coletivo, destinada a prover apoio de fogo imediato à tropa das armas-base, com o lançamento em trajetória balística de granadas na modalidade de tiro vertical (em ângulos iguais ou superiores a 45º). Em relação aos obuseiros convencionais que equipam a artilharia de campanha, este é de construção e funcionamento muito mais simples, possui custo inferior e demonstra a flexibilidade e leveza adequada à operação pelas tropas de vanguarda em posições muito próximas às fileiras inimigas.

Usados há centenas de anos, os morteiros foram primeiramente empregados nas guerras de cerco. Grandes e pesados, não podiam ser facilmente transportados, pois não passavam de pesadas peças de ferro fundido de forma primitiva. Foram usados pela primeira vez como armas de campanha no início do século XVIII pelo British Army, por apresentarem a capacidade inexistente nos canhões da época de atingirem o outro lado das elevações escocesas, próximo à estas, devido às particularidades de sua trajetória. Durante a Guerra Civil Americana usaram-se troncos de madeira perfurados e reforçados com amarras para se lançar petardos desde as trincheiras, no período napoleônico caiu em desuso e foi durante a guerra russo-japonesa que se retomou o tiro indireto desde posições desenfiadas (fora da vista de observadores) como forma contemporânea de apoio de fogo.

O morteiro moderno nasceu durante a grande guerra em 1915. O inimigo abrigado em trincheiras demandou a necessidade de uma arma que pudesse atirar de dentro delas, e ao mesmo tempo penetrar às inimigas, onde as granadas de artilharia encontravam dificuldades devido ao seu ângulo raso de impacto. O morteiro criado por Sir Wilfred Stokes era portátil e foi inicialmente rejeitado por não pode usar as granadas disponíveis, porém após desdobramentos passou a ser fabricado juntamente com sua munição. Era um tubo de alma lisa montado sobre placa-base e bipé. A granada inserida pela boca descia por gravidade até encontrar o pino percutor que pressionava a espoleta (estopilha) e disparava-a até o alvo, em trajetória oposta. Podia cadenciar até 25 tpm a 730 m um projétil não estabilizado. Os modelos modernos mantém inalterada essa configuração original, consagrando a adequação deste projeto inicial.




Os morteiros ocidentais modernos são produzidos nos calibre de 60 mm (leve), 81 mm (médio) e 120 mm (pesado). Os britânicos produziram um morteiro leve de 51 mm, dotado apenas de placa base e tubo, sem o moderno bipé, cuja pontaria servia-se de uma correia que também atuava como bandoleira (alça de transporte). Os israelenses e soviéticos/russos produziram os maiores modelos de 160 mm e 240 mm, este carregado pela culatra. Os modelos leves e médios podem ser transportados pela guarnição, divididos ou não em partes dependendo do peso. Os modelos maiores, de 120 mm ou mais são rebocados por viaturas e geralmente montados em reparos sobre rodas, ou no interior de veículos blindados, estes de construção mais sofisticada e cara, com carga pela culatra a fim de não expor a guarnição para fora da viatura. Os maiores morteiros já construídos foram o belga Henri-Joseph Paixhansen de 610 mm (24 pol) em 1832, O morteiro de Mallet de 910 mm (36 pol) em 1857, e o Little David de 914,4 mm americano da Segunda Guerra Mundial. Apenas o modelo belga foi usado em combate na Batalha de Antuérpia.





Este equipamento consiste de um tubo montado sobre uma placa base que distribui a força de recuo dos disparos diretamente sobre o solo, dispensando a existência dos mecanismos de recuperação presente nos obuseiros e canhões. Os projéteis descrevem trajetórias balísticas em ângulos de trajetória alta, disparando em ângulos entre 45 e 85 graus (tiro vertical), com a maioria dos modelos sendo carregados pela boca em tubos que não ultrapassam os 15 calibres.

Um projétil, desencartuchado e com a carga de projeção presa a sua base, é introduzido pela boca em processo de antecarga e desliza até o fundo do tubo adquirindo velocidade por ação gravitacional. Quando atinge a base do tubo encontra um pino percutor que golpeia a estopilha (na verdade é golpeado por esta) e deflagra a propulsão, lançando-o. Alguns modelos mais sofisticados podem operar o disparo por ação móvel do pino percutor e gatilho. O alcance pode variar pela alteração na inclinação do tubo ou variação na carga de projeção. Um reparo em forma de bipé, e em modelos maiores o próprio trem de rodagem, estabiliza o tubo no ângulo desejado e serve também como suporte ao aparelho de pontaria.

Os morteiros podem ficar instáveis quando usados na neve ou no solo macio, porque o recuo os pressiona contra o chão que não tem resistência para absorvê-lo. O saco Raschen é um artifício de lastro que é colocado sob a placa-base para melhorar a estabilidade e conseqüentemente sua precisão quando usado nestas condições de solo não resistente. 

Sua cadência de tiro é superior a dos obuseiros, pois não tem culatras a serem abertas e fechadas, a munição não tem estojos a serem descartados, sendo suas guarnições sensivelmente menores, com apenas 3 integrantes no modelos médios. A munição, devido a ausência de estojos, é também mais leve, sendo que uma granada de 120 mm pesa o mesmo que a de um obuseiro de 105 mm (cerca de 14 kg). A estatística diz que 60% da munição dos obuseiros atinge o alvo, sendo os 40% restantes dedicados a carga de projeção e estojo metálico. Nos morteiros cerca de 90% da munição atinge o alvo, o que garante uma eficiência logística muito superior. Este percentual refere-se ao peso da munição e não a quantidade de disparos.




O tubo de um morteiro pode ser liso ou raiado. No tubo liso a munição é estabilizada por aletas e no raiado por rotação. As aletas criam arrasto que “puxam” o projétil na direção contrária a trajetória, imprimindo-lhe uma certa tensão estabilizante, enquanto que nos modelos rotacionados, qualquer assimetria no centro de gravidade do projétil é compensada, tal qual nos obuses. Os modelos raiados contrariam o princípio da simplicidade do morteiro. Uma granada estabilizada por aletas tende a ter um alcance maior com a mesma carga de projeção que as rotacionadas, por não ter que vencer o atrito das raias, mas também tende a ser menos precisa. Para que a granada deslize até a base do tubo é necessário que haja uma folga entre ela e as paredes deste, o que faz com que parte dos gases de projeção escapem por esta brecha, diminuindo o alcance da arma. Para se contornar este problema existem modelos (os de 81 mm ocidentais) que usam um anel de plástico especial acomodado em uma ranhura na parte média da granada que é forçado para fora e para cima pelas laterais desta, que forçado pelos gases de projeção, provoca a vedação das laterais e aumenta consideravelmente a precisão e eficiência da arma. Em um modelo raiado francês, na base da granada existe uma placa de cobre abaulada com diâmetro inferior ao calibre do tubo e imediatamente abaixo uma placa de aço plana. Quando a carga de projeção detona, a placa de aço pressiona a placa de cobre fazendo-a expandir-se e preenchendo as raias, provocando vedação dos gases e imprimindo a granada o movimento de rotação estabilizador de voo, resultado em maior alcance e notável precisão.

A direção de tiro se dá de forma similar ao tiro da artilharia de campanha, porém mais simples. A técnica de tiro do morteiro rotacionado deve compensar a tendência da granada de desviar-se para o lado da rotação.

Sendo armas de curto alcance, são dotação orgânica das unidades de infantaria e cavalaria nos calibres leves e médios, e das unidades de artilharia leve (paraquedistas, montanha, selva e aeromóveis) nos calibres pesados (120mm ou mais). É a artilharia pessoal de que dispõem o comandante-fuzileiro, permitindo-lhes que aloque fogos de apoio com rapidez aos seus comandados, sem depender das unidades especializadas. Morteiros leves e médios são portáteis e servem de apoio de fogo aos pelotões de infantaria. Sua vantagem sobre as armas da artilharia reside em sua flexibilidade, sua mobilidade superior e a capacidade de engajar alvos rapidamente em cobertura ao combate aproximado por estar diretamente junto a este. Podem disparar de dentro de trincheiras e ser rapidamente mudados de posição em acompanhamento ao avanço, não necessitando da complexa cauda logística que a artilharia requer.

Quanto maior o ângulo de disparo, menor será o alcance, porém mais alta será a trajetória e a capacidade de superar obstáculos verticais atingindo alvos próximos a obstáculos, do outro lado de elevações íngremes e edificações, tarefa impossível à artilharia, salvo se operando no modo de tiro vertical e curto alcance. Isso também possibilita lançar ataques de posições inferiores ao alvo (Por exemplo, a artilharia de longo alcance não poderia atingir um alvo a 1 km de distância e 30 metros acima, um alvo facilmente acessível a um morteiro). Devido a natureza da trajetória vertical, os projéteis lançados por morteiros atingem o solo em ângulos mais próximos a perpendicular, sendo menos direcionais que àqueles lançados pela baterias de artilharia. Estes deixam o tubo em velocidades mais altas, atingem maiores alcances e arcos mais amplos, são carregados pela culatra e podem fazer uso do fogo direto, se necessário. O morteiro não pode fazer uso do tiro direto (tenso).





São armas de curto alcance e, muitas vezes, mais eficazes que a artilharia para muitos propósitos mormente dentro de seu alcance mais curto. São adequados ao uso de posições ocultas, como as escarpas naturais em encostas ou de bosques, especialmente se observadores avançados (OAs) estão sendo empregados em posições estratégicas para direcionar fogo, um arranjo onde a morteiro está relativamente próxima a seu OA e seu alvo, permitindo que o fogo seja rápido e precisamente entregue com efeito letal.

Em sua grande maioria podem ser helitransportados ou rebocados por viaturas leves (3/4 ton), ou ainda serem embarcados nestas mesmas viaturas e em veículos blindados. Também podem, nos modelos médios e leves, serem transportados a pé pela sua guarnição. Não se comparam à peças de artilharia de 155 mm, mas podem nos modelos mais modernos substituir os obuseiros de 105 mm, em determinados empregos. Sua principal desvantagem é o alcance mais curto, por atirarem de ângulos superiores (tiro vertical), porém esta desvantagem é compensada pelo custo muito inferior, leveza e simplicidade.

Podem usar munições de vários tipos como as tradicionais HE para efeitos de fragmentação e sopro, iluminativas visíveis e IR; de fósforo vermelho ou branco para efeitos fumígenos, incendiários e sinaleiros.

Modelos mais recentes com submunições e munições inteligentes, guiadas a laser e GPS, são usados para fogo de precisão e para atingir veículos blindados em movimento, provendo apoio às tropas no combate antitanque, atingindo a blindagem superior, menos resistente. Existem granadas propulsadas por foguetes que podem potencializar o alcance nos modelos de maior calibre (120 mm).

O modelo Picatinny M395 (munição) de 120 mm foi fornecido para as tropas americanas no Afeganistão, guiado por GPS demonstrou ter um CEP de 10 m. Antes deste, os fogos eram lançados em voleios para o efeito desejado devido a precisão inerente, porém esta munição permite o mesmo efeito com uma ou duas rodadas. O CEP dos morteiros comuns deste calibre é de 138 m, e me modelos mais eficientes de 76 m. Em áreas onde existem civis ou mesmo próximo às tropas amigas esta munição de precisão é extremamente útil. Pode-se desta forma, aliviar o esforço logístico e a fadiga dos soldados, além de permitir-se a bater um número maior de alvos no mesmo espaço de tempo.

Os morteiros são classificados em 3 tipos principais:
  • Morteiros ligeiros: com peso de até 18 kg e calibres de até 60 mm. alcance de até 1.900 m. São usados por tropas leves de deslocamento rápido e forças especiais.
  • Morteiros médios: com peso entre 19 kg e 70 kg, calibres acima de 60 mm até 100 mm, e alcance de até 6.000 m, amplamente empregado pela infantaria convencional.
  • Morteiros pesados: com pesos superiores a 70 kg de calibres acima de 100 mm, existindo modelos russos e israelense de até 160 mm e 240 mm. Empregados por baterias de artilharia, sendo alguns modelos montados em veículos blindados com amplo emprego na guerra mecanizada.
Características do modelo L16 A2 de 81 mm do British Army

  • Calibre: 81 mm
  • Peso: 35,3 kg (em combate)
  • Tubo: 1280 mm (15,8 calibres)
  • Velocidade de boca: 225 m/s
  • Alcance máximo: 5.650 m (granada HE)
  • Cadência de tiro: 15 tpm
  • Munição (HE): 4,2 kg





8 comentários:

  1. Muito bom, amei! Me ajudou muito para meu trabalho! Obrigada pessoal :)

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  2. Gostei. Sabia muito pouco sobre esta arma. Agora, posso entender melhor as notícias relativas ao uso de morteiros.

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  3. É a arma "Morteiro" vai ser minha namorada no campo de qualificação.. Precisamente o Mtr. 60mm (Leve).. Vai ser uma experiência muito foda, apesar de que eu vou carregar o tripé a placa base, mais mochila e sim meu FAL.. Dúvidas do peso?! kkk To lascado, mas como dizemos na canção do meu batalhão.. Avante, infantes.. Audazes guerreiros, soldados vibrantes.. Irmãos brasileiros." #Brasil

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  4. Que matéria linda! As informações do blog estão me ajudando bastante. Grata

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