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"Quem escolhe a desonra a fim de evitar o confronto, a conseguirá de pronto, e terá o confronto na sequência."
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quarta-feira, 2 de abril de 2014

Busca de alvos na artilharia de campanha do Exército Brasileiro: um começo 092



 
Cezar Augusto Rodrigues Lima Junior
Capitão de artilharia
1. INTRODUÇÃO
           
A história da busca de alvos remonta a própria origem dos conflitos armados, quando eram levantados pontos sensíveis que deveriam ser neutralizados para facilitar o sucesso nas empreitadas belicosas. A maneira como se atacava esses “alvos” sofreu considerável evolução com o advento da neurobalística e posteriormente da pirobalística. Passou-se a lançar engenhos cada vez mais destruidores e precisos e os fogos também passaram a ser mais profundos.

Grande salto tecnológico foi dado com o aprimoramento do tiro indireto, visto que os fogos passaram a ser feitos de locais protegidos das vistas do inimigo, bem atrás da linha de frente. A própria evolução da artilharia de campanha levou a um consequente aprimoramento da busca por alvos. Passando pelos informes da inteligência, olhos do observador, emprego de observadores aéreos e posterior utilização de radares e veículos aéreos não tripulados, a maneira como são levantados objetivos para artilharia deu impressionante salto no século XX.

Hoje os países mais avançados militarmente já trabalham com conceitos que abrangem não mais apenas a artilharia de campanha, mas integram diversas atividades permitindo ao comando possuir uma visão sistêmica do combate na área de busca de alvos. Um desses conceitos é o ISTAR (Intelligence Surveillance Target Acquisiton and Reconnaissance), que é o processo que integra a inteligência, vigilância, aquisição de alvos e reconhecimento de uma maneira que permite ao comandante possuir uma consciência situacional do campo de batalha para poder tomar melhores decisões.


A figura 1 exemplifica a complexidade do controle que o comando deve ter sobre os aspectos relativos ao sistema operacional apoio de fogo no campo de batalha.


 Figura 1 - Consciência situacional no sistema apoio de fogo (Fonte: Cel Emílio Monteiro e Cap Cezar)

Dentro desse contexto, o papel da artilharia de campanha é definido com o conceito STA “Surveillance and Target Acquisition”(Vigilância e Aquisição de Alvos). Essa tarefa é cumprida por unidades que empregam na sua generalidade radares de tiro e de vigilância terrestre, bem como sensores acústicos e aeronaves remotamente pilotadas.

O Exército Brasileiro aprovou em portaria de 28 de novembro de 1978 o Manual de Campanha C 6-121 – A BUSCA DE ALVOS NA ARTILHARIA DE CAMPANHA, contudo até hoje pouco foi feito relativo a esse tema. As nossas artilharias divisionárias não possuem suas baterias de busca de alvos previstas na doutrina e, por conseguinte, ficam dificultadas de realizar suas principais missões que são realizar fogos de contrabateria e aprofundar o combate.

O presente artigo tem por objetivo apresentar uma solução para o preenchimento dessa lacuna. Foram utilizadas como fontes de consulta manuais de campanha brasileiros e estrangeiros e artigos da internet. Serão apresentados alguns materiais utilizados mundialmente na busca de alvos, as organizações de unidades STA de alguns países, uma proposta para organização da especialidade na artilharia de campanha e, por fim, uma breve conclusão.


2. BUSCA DE ALVOS NA ARTILHARIA DE CAMPANHA ESTRANGEIRA
            Diversos países empregam tecnologias modernas na atividade de busca de alvos além de organizarem suas unidades de maneira similar, fato comum entre os países integrantes da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).

O Reino Unido possui duas unidades de artilharia nível regimento responsáveis pelo levantamento de objetivos. O 5th Regiment Royal Artillery tem por tarefa operar radares de tiro e sensores acústicos, bem como fornecer equipes de “observadores especiais” para as tropas da manobra designadas no campo de batalha. Devido às características especiais dos seus meios e apesar de possuir uma organização de regimento, suas baterias são empregadas de forma descentralizada, visando atender às necessidades específicas da manobra e possuindo para isso uma organização flexível e modular.

32nd Regiment Royal Artillery é a unidade responsável por operar aeronaves remotamente pilotadas sendo equipado com o SANT (Sistema Aéreo Não Tripulado) Hermes 450 e Watchkeeper 450 possuindo para a execução dessa tarefa 8 baterias espalhadas pelos territórios britânicos.

Ambas as unidades foram regimentos de artilharia mobiliados com obuseiros no passado que, com a modernização do exército britânico, foram transformadas em unidades STA.

O exército australiano possui o 20th Surveillance and Target Acquisition Regiment (Royal Australian Artillery) que ,diferentemente do modelo britânico, emprega uma organização mista de baterias. Possui uma fração de comando, uma bateria similar a nossa bateria de comando, e duas baterias de busca de alvos, uma que emprega radares de tiro, de vigilância do campo de batalha e sensores acústicos, e outra que emprega aeronaves remotamente pilotadas.

De uma maneira geral os exércitos dividem a busca de alvos na artilharia de campanha em frações de radares e sensores acústicos e frações de aeronaves remotamente pilotadas, como também fazem os exércitos italiano e alemão.

Um caso a ser estudado separadamente é o dos Estados Unidos. A capacidade tecnológica que este país possui é tamanha que todos os seus sistemas de combate atuam de forma perfeitamente integrada enviando dados para o escalão decisório e, por conseguinte, permitindo que o comando tenha um real conhecimento de tudo que acontece no campo de batalha.

Parte desse sucesso pode ser creditada a uma excelente capacidade de comando e controle, material humano altamente especializado e equipamentos militares de última geração que, aliados à presença permanente de suas tropas em combate, permitem que os Estados Unidos sejam polo difusor de conhecimentos e doutrina militar. 

No capítulo seguinte abordaremos, de maneira resumida, algumas características que tornam o país norte-americano referência no assunto busca de alvos.


3. A BUSCA DE ALVOS NO EXÉRCITO DOS ESTADOS UNIDOS
3.1 TARGET ACQUISITION BATTERY
 

            O FM 6-121 (US Army, 1990) (Field Manual 6-121 - Tactics, Techniques, and Procedures for Field Artillery Target Acquisition), em seu primeiro capítulo, define a importância da aquisição de alvos pela artilharia de campanha: “Field Artillery target acquisition plays a key role in the targeting process. Without accurate targeting data, indirect fire weapons (such as mortars, cannons, rockets, and naval guns) are of limited value”.

            Para cumprir esse “papel chave”, o exército dos Estados Unidos emprega baterias de aquisição de alvos nas suas grandes unidades em apoio às divisões, mas também nos grupos que integram os times de combate das diversas brigadas. A localização de alvos nessas organizações militares é feita empregando dois tipos de radares: os Weapons-locating Radars (Radares de localização de armas) e os Moving-target-locating Radars(Radares de localização de alvos-móveis).

            Os radares de localização de armas, também conhecidos como radares de contrabateria/morteiro, detectam e localizam trajetórias de morteiros, artilharias e foguetes inimigos rápido o suficiente para o imediato engajamento da contrabateria amiga. Também podem ser utilizados para realizar correções de tiros da artilharia amiga.

Figura 2 - AN-TPQ 37 Radar de localização de armas (Fonte: Wikipédia)

Os radares de localização de alvos-móveis, também denominados radares de vigilância terrestre, detectam, identificam, localizam e rastreiam objetivos terrestres. Eles permitem que a aquisição de alvos móveis em território inimigo. Além de veículos e tropas a pé, também é capaz de detectar helicópteros e aeronaves de asa fixa que estejam voando a velocidades e altitudes baixas.

Figura 3 – MSTAR – Man-portable Surveillance and Target Acquisition Radar (Reino Unido) (Fonte: Wikipédia)

O papel das baterias de aquisição de alvos é detectar, identificar e localizar forças inimigas na área de operações da divisão ou na área de interesse com suficiente precisão para a execução do ataque por unidades amigas. Para cumprir essa missão, sua organização é composta pelos seguintes elementos: comando, pelotão de vigilância, seção de processamento de alvos e um pelotão de radares.


3.2 SISTEMAS DE AERONAVES NÃO TRIPULADAS
            Os UAS Unmanned Aircraft Systems são componentes do conceito ISTAR no Exército dos Estados Unidos. Podem ser definidos em português como Sistemas de Aeronaves Não Tripuladas. 

A figura 5, tirada doU.S. Army RoadMap for UAS 2010-2035, expõe quais são os elementos que compõe esse sistema:


 Figura 5 - Elementos componentes de um UAS (Fonte: U.S. Army RoadMap for UAS 2010-2035)

            Os UAS são utilizados por todos os ramos do exército estadunidense e em diversos tipos de missões. Dentro desse conceito, os sistemas são divididos em cinco níveis ou grupos:
- Grupo I: de pequeno porte, normalmente lançados pelas mãos do operador, são utilizados em proveito de pequenas frações e na segurança de instalações. Operam a um teto de 1200 pés e possuem limitado controle e autonomia. Transportam radares de abertura sintética, sensores eletro-óticos e infravermelhos.

Figura 6 - RAVEN UAS – Grupo I (Fonte: Wikipédia)

- Grupo II: de tamanho médio, normalmente lançados por catapulta, apoiam o nível brigada e atendem aos requisitos ISTAR nesse nível, podendo apoiar escalões superiores de maneira limitada. Operam a até 3500 pés e possuem uma capacidade de carga maior que os sistemas do Grupo I, transportando telêmetros e designadores laser. 

Também transportam radares de abertura sintética, sensores eletro-óticos e infravermelhos. Exigem uma capacidade logística maior em relação ao Grupo I.

Figura 7 - Shadow 200 UAS - Grupo II (Fonte: Wikipédia)

- Grupo III: são sistemas maiores que os do grupo I e II. Operam a altitudes médias e possuem de médio a longo alcance. Seu “payload” (carga-útil) inclui um indicador de alvos móveis, detector de explosivos, detector de agentes QBN, telêmetro e designador laser etc. Também transportam radares de abertura sintética, sensores eletro-óticos e infravermelhos. Alguns podem carregar armas. Podem decolar de pistas não pavimentadas.

- Grupo IV: sistemas grandes que operam de grandes altitudes, tendo alcance e duração de voos maiores que os grupos anteriores. Seus “payloads” incluem sensores eletro-óticos e infravermelhos, radares, “lasers”, relay de comunicações, SIGINT (signals intelligence), Sistema de Identificação Automatizada (SAI) e armas. Podem carregar mais armas que o Grupo III sem sacrificar a sua autonomia. Necessitam pistas pavimentadas para decolagem e pouso e possuem logística similar a de aeronaves pilotadas.

- Grupo V: sistemas que operam em ambiente de altas altitudes e possuem maiores autonomia, alcance e velocidade. São tipicamente utilizados para vigilância de vastas áreas e para realização de ataques especializados. Sua carga-útil é similar a do Grupo IV acrescentando a capacidade de levar suprimentos. Normalmente operam sem a necessidade de visada direta para o voo (BLOS – Beyond line-of-sight), mas a perda de sinal de satélite pode fazer com que seja necessária a operação com visada direta (LOS).

Figura 8 - MQ-1C ERMP (Multi Propósito Alcance Estendido) (Fonte: Wikipédia)

Os UAS são empregados em todos os escalões, contudo os sistemas de maior alcance, já a partir do Grupo II, são empregados em sua maioria nas unidades de aviação e batalhões de inteligência. A visão de futuro deles é que os SUAS (Small Unmanned Aircraft Systems), sistemas de Grupo I, forneçam capacidade de reconhecimento ao restante das unidades de combate.


 Figura 9 - SUAS nas HBCT (Heavy Brigade Combat Team) (Fonte: U.S. Army RoadMap for UAS 2010-2035)

            Um exemplo do pessoal necessário para operar um sistema Grupo II, como o Shadow 200 está exposto na figura 10.


 Figura 10 - Pessoal necessário para operação do SANT Grupo II Shadow 200 (Fonte: U.S. Army RoadMap for UAS 2010-2035)

Pode-se constatar que todas as unidades que compõe a brigada pesada exposta possuem SUAS na sua organização. Já as unidades de aviação, por operarem UAS de categorias superiores a II inclusive, necessitam uma organização mais dedicada à missão, sendo que para isso incluem seções de operações, de lançamento, de controle de solo, de manutenção e reparos etc. O organograma das subunidades que operam o MQ-1C “Grey Eagle” demonstra a complexidade da operação deste tipo de aeronave e quantidade de homens empregada (128 especialistas).


 Figura 11 - MQ-1C ERMP – Subunidade de Aviação (Fonte: U.S. Army RoadMap for UAS 2010-2035)

Já a companhia de reconhecimento aéreo que opera os SANT Hunter possui uma organização menor, devido também a menor capacidade do sistema (47homens).


 Figura 12 - Hunter Aerial Reconaissance Company (Fonte: U.S. Army RoadMap for UAS 2010-2035)

No futuro serão empregados NANO UAS que permitirão às pequenas frações e tropas especiais possuírem a capacidade de reconhecimento “over the Hill” e “around the corner”, de modo que antes da entrada em uma edificação, por exemplo, uma equipe tática poderá enviar esses NANO UAS e ter um real conhecimento do que se passa por trás das paredes antes que os soldados adentrem essas estruturas.


Figura 13 - Operação de um NANO UAS (Fonte: U.S. Army RoadMap for UAS 2010-2035)


4. PROPOSTA PARA ORGANIZAÇÃO DA BUSCA DE ALVOS NA ARTILHARIA DE CAMPANHA DO EXÉRCITO BRASILEIRO

            Observando todas as informações expostas nos itens anteriores, é possível propor, de maneira simples, uma organização para iniciarmos o subsistema busca de alvos na artilharia de campanha do Exército Brasileiro.

Cabe ressaltar que vivemos uma realidade diferente da estadunidense, pois este país possui Forças Armadas extremamente superiores e com recursos financeiros muito maiores que o Brasil. Por conta disso, devemos buscar uma solução mais afeta à nossa realidade.

4.1 A BUSCA DE ALVOS NO BRASIL: UMA PROPOSTA

            A doutrina brasileira prevê a bateria de busca de alvos como orgânica das artilharias divisionárias. O Exército Brasileiro passa por um processo de transformação no qual alguns tipos de organizações serão criadas e outras suprimidas. Por conseguinte, a bateria de busca de alvos não deve então se restringir a uma organização existente hoje, mas sim na maneira como podem ser mais bem cumpridas as missões.

            Foi visto que os equipamentos básicos para dotarmos o nosso subsistema busca de alvos são os radares de localização de alvos, radares e sistemas de vigilância do campo de batalha e os sistemas de aeronaves não tripuladas. 

Dentro desses materiais, nota-se uma grande diferença de emprego dos radares e sistemas de vigilância dos SANT. Isso é evidenciado na organização das diversas unidades STA ao redor do mundo. Os SANT e os radares geralmente são empregados em frações diferentes.

A ideia então é possuirmos uma bateria de busca de alvos mobiliada com radares realizando a vigilância do campo de batalha e rastreando trajetórias de armas inimigas e outra bateria contando apenas com sistemas de aeronaves não tripuladas. 

Ao exemplo do exército australiano, poderíamos possuir um grupo de busca de alvos com uma bateria de radares e outra de SANT ou poderíamos possuir duas unidades distintas, um grupo somente com SANT e um grupo somente com radares, como é o caso do exército britânico.

            O mais importante é que essas subunidades tenham mobilidade, flexibilidade de emprego e principalmente independência para poderem atuar isoladamente no campo de batalha, caso sejam cedidas em apoio a algum escalão da Força Terrestre Componente.


 Figura 14 - Exemplo de organograma de um GBA (Fonte: Cap Cezar)

             Seguindo a visão de um grupo com baterias mistas, raciocinando que cada subunidade deve ser capaz de atuar de forma independente do grupo e utilizando como exemplo as subunidades estadunidenses, a organização de cada subunidade poderia ser feita da seguinte maneira:
- Bateria de Comando: contando com uma seção de comando, seção de administração, seção de reconhecimento e segurança, seção de inteligência, seção de comando e controle e guerra eletrônica e uma seção de manutenção.
- Bateria de Aquisição de Alvos: seção de comando (comando e controle, manutenção e trens da subunidade), seção de processamento de alvos, seção de vigilância, seção de radares, seção de manutenção de eletrônicos.

- Bateria SANT: seção de comando (comando e controle, manutenção e trens da subunidade), seção de controle de solo e operações, seção de lançamento e recuperação de aeronaves, seção de processamento de alvos e seção de manutenção SANT.

            No caso da Bateria SANT é importante ressaltar que os sistemas que a mobiliariam seriam os de Grupo II, de acordo com a classificação estadunidense aqui exposta, e ela se assemelharia a duas Companhias de Reconhecimento Aéreo Hunter somadas. O motivo de basearmos essa estrutura nos sistemas de Grupo II é que este se adéqua mais as missões STA da artilharia de campanha, mas próximas ao nível tático.

            As missões ISTAR e demais missões que empregassem sistemas de Grupo III em diante seriam mais bem cumpridas caso fossem criadas unidades de aviação a semelhança das unidades ERMP do exército dos Estados Unidos. Elas pertenceriam à Aviação do Exército e seu foco seria no âmbito estratégico/estratégico-operacional.


 4.2 O EMPREGO DA BUSCA DE ALVOS EM OPERAÇÕES DE NÃO GUERRA
            Os meios de busca de alvos como radares de vigilância terrestre e sistemas de aeronaves não tripuladas possuem características que lhes permitem ser empregados não só no combate, mas também na vigilância das fronteiras, operações de resgate em calamidades, proteção de instalações, segurança pública etc.


Figura 15- SANT orientando a chegada do resgate em uma calamidade (Fonte: U.S. Army RoadMap for UAS 2010-2035)

O Brasil possui milhares de quilômetros de fronteiras terrestres que atravessam florestas, montanhas, rios e campos, sendo praticamente inviável a vigilância de toda essa extensão com a presença humana. Os criminosos transnacionais utilizam o país como rota e destino de drogas e armas, bem como de pirataria de produtos industrializados, animais e plantas.

O Exército, pela Lei Complementar Nº 136 de 25/08/2010, no seu Art. 16-A, é responsável por ações preventivas e repressivas na faixa de fronteira terrestre do território nacional, realizando com frequência inúmeras operações para conter diversos tipos de delito nessas regiões. Uma maneira eficiente de vigiar essas fronteiras é empregando sistemas aéreos não tripulados com sensores de monitoramento e rastreamento, bem como radares de vigilância terrestre espalhados em pontos críticos do território, como nas fronteiras secas.

Se possuíssemos unidades de busca de alvos, essas organizações poderiam muito bem empregar os seus meios nessas missões, aumentando o controle e a eficiência das operações. O uso das aeronaves e sensores também seria muito útil para realização da vigilância de instalações estratégicas para a nação, como de usinas nucleares, parques industriais e prédios públicos importantes.

Um exemplo do uso de SANT na vigilância das fronteiras seria o deslocamento desses sistemas para os Pelotões Especiais de Fronteira e aproveitando-se das suas pistas de pouso, realizar o reconhecimento de fronteira à distância, ou simplesmente apoiar as operações desse tipo de missão com “olhos no céu”. Isso aumentaria a eficiência e a segurança das tarefas executadas nessas unidades.


 
Figura 16 - Campo de pouso e decolagem de SANT nos EUA (Fonte: U.S. Army RoadMap for UAS 2010-2035)

Além disso, com a aproximação de grandes eventos, como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, e a responsabilidade de coordenação e segurança recém-assumida pelas Forças Armadas através da Portaria nº 221 do Ministério da Defesa, publicada no DOU de 21/08/2012, a Força Terrestre necessita estar preparada para enfrentar as ameaças que podem advir desse tipo de empreitada, principalmente as terroristas. Dessa forma, a capacidade de vigilância aproximada que os SANT e sensores permitem, também seria de vital importância para o sucesso da missão.

            Podemos ressaltar que as operações de resgate em calamidades que costumeiramente contam com a participação das Forças Armadas, seriam mais bem coordenadas com a utilização de SANT, pois permitiriam ao comando ter uma real situação dos danos infligidos, bem como iniciar a busca por vítimas sem ter que enviar homens para áreas onde não há feridos, podendo assim concentrar melhor os esforços e poupar as aeronaves de asas rotativas para que façam apenas transporte de feridos e evitar a exposição de meios humanos de resgate a situações perigosas.

            Dois importantes projetos do Exército poderiam utilizar essa capacidade de busca de alvos. O SISFRON, que visa à vigilância das fronteiras brasileiras, e o PROTEGER, que tem por objetivo a segurança de instalações estratégicas para o país. De fato, as discussões do sistema apoio de fogo no Fórum de Doutrina Militar Terrestre do Departamento de Educação e Cultura do Exército, já haviam levantado a possibilidade de uma unidade de busca de alvos da artilharia de campanha integrar esses projetos.

            Por fim, se possuirmos unidades de busca de alvos, como o grupo de busca de alvos, poderemos empregá-las nessas atividades supracitadas tendo assim maior êxito nesse tipo de operações de não guerra.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Operações em Áreas Fortificadas 087



Áreas fortificadas são áreas que se caracterizam por um grande número de trabalhos de engenharia de combate efetuados no terreno em largura e profundidade, de forma organizada e com seus dispositivos proporcionando proteção mútua uns aos outros, com finalidade defensiva.

Assim podemos ter por exemplo, campos minados para proteção anticarro com minas antipessoal para evitar que sapadores desarmem as minas anticarro. Este campo por sua vez pode ter ao fundo posições de metralhadoras dentro de espaldões protegidos por sacos de areia alvejando qualquer indivíduo que ouse tentar seu desarme. Adjacente a este campo podem ser montados fossos anticarro, ou ainda ser desdobrado imediatamente na margem oposta de um curso d’ água de grande porte. A retaguarda podem ser posicionadas baterias de artilharia de alcance superior para fogo de contrabateria, afim de impedir que a artilharia inimiga provoque a abertura de uma brecha neste campo “a bala”.

Raramente se desdobra uma posição constituída por um único elemento.



Estas áreas proporcionam aos defensores proteção eficaz com grande economia de forças, pois qualquer tentativa de rompimento se constitui num grande esforço de engenharia de combate feito sob fogo cerrado com duvidosas chances de sucesso, dependendo é claro dos meios do invasor e da sofisticação da posição defensiva. 

Fortificações de campanha podem ter caráter permanente contando com casamatas de concreto e instalações sofisticadas ou disporem apenas de meios de campanha para rápido abandono em caso de rompimento. Devem contar com postos de vigilância, malha viária para rápida alocação de tropas, comunicações eficazes e reservas altamente moveis localizadas em posições centrais com acesso rápido aos pontos onde se fizer necessária. 

Todos os elementos de uma posição fortificada devem contar com meios de cobertura mútua, seja no combate ao seu rompimento, seja no seu deslocamento interno. É de suma importância que estas áreas sejam desdobradas de tal forma que seu cerco seja pouco provável, pois o rompimento de suas linhas de comunicações pode resultar no isolamento de suas forças com conseqüente comprometimento do poder de combate por falta de munição e víveres, pessoal e equipamento caso não seja possível seu ressuprimento.



As forças em geral tendem a evitar combater nestas áreas, sendo elas especialmente adequadas a proteção de áreas de retaguarda e desdobramento logístico. Quando o combate é inevitável, as forças tendem a fixar estas posições com forças menores, dirigindo o esforço principal para áreas mais distantes e decisivas. A forma mais adequada de engajar estas áreas é através de um cerco e incisões pelos flancos e retaguarda.

O ataque a uma área fortificada geralmente obriga o inimigo a emassar-se e constituir-se em alvo de grandes proporções, adequado, por exemplo a ataques aéreos pela aviação dos defensores. Este ataque demanda esforços de grande proporções provocando o enfraquecimento dos atacantes e tornando-os vulneráveis a contra-ataques. Por outro lado o inimigo pode bater estas áreas com sua artilharia ou aviação de ataque e bombardeio, ou ainda desbordá-las e preocupar-se com elas no futuro.

Estas posições permitem economia de forças nas áreas avançadas, disponibilizando  reservas proporcionalmente maiores para contra-ataques por forças altamente móveis e agressivas.

Vale lembrar que as grande fortificações estáticas de segunda grande guerra, como a linha Maginot ou a muralha do atlantico tornaram-se obsoletas com o advento da táticas e armas de guerra de movimento.


domingo, 21 de abril de 2013

A Vantagem das Aeronaves ‘Stealth’ em Operações de Bombardeio 082


penetration 1

Publicado no site Poder Aéreo em 02/02/20120 por Alexandre Galante
No gráfico acima, uma operação típica de ataque de penetração com bombardeiros B-1B. A primeira barreira é o AWACS inimigo que poderá detectar os bombardeiros e alertar as defesas. Se conseguirem passar pelo AWACS sem alertá-lo, os B-1B ainda terão que passar pelos radares terrestres e de direção de tiro dos mísseis antiaéreos (SAM). Fatalmente alguns bombardeiros serão abatidos.
No gráfico abaixo, o mesmo cenário tático, mas com bombardeiros “stealth” B-2. Graças à sua baixíssima RCS, o alcance dos radares inimigos fica bastante diminuído, possibilitando aos B-2 evadirem-se do AWACS e penetrarem nos buracos criados nas defesas. Os B-2 passam entre os SAM para atingirem seus alvos.
penetration 2

sábado, 2 de março de 2013

A Batalha de Kursk - Parte 3 073


Por Reinaldo V. Theodoro

04/07/43 - PRELIMINARES:


Na véspera do início da “Cidadela”, Hoth lançou uma série de ataques contra postos avançados soviéticos. Na frente do 48º Corpo Panzer, o objetivo era uma série de cristas, de onde observadores soviéticos poderiam vigiar a concentração das forças alemãs para o ataque principal. O ataque começou às 14:45 h, precedido por um ataque de 100 aviões (na maioria Stukas) e pesada preparação de artilharia. 

Embora houvesse ordens proibindo o uso de tanques, os panzergrenadieren das três divisões blindadas do Corpo tiveram o apoio de canhões de assalto, o que fez os russos informarem estar sendo atacados por tanques. Apesar da chuva e dos extensos campos minados, os objetivos foram conquistados. Os defensores da 71ª Divisão de Fuzileiros de Guardas haviam oferecido uma resistência irresoluta e recuado para as suas linhas de defesa principais. 

O 52º Corpo e o 2º Corpo Panzer SS, respectivamente à esquerda e à direita do 48º, também realizaram ataques limitados em suas frentes. Apesar da considerável melhoria na situação tática, os alemães haviam destruído qualquer esperança de obter surpresa no dia seguinte. 



05/07/43 - COMEÇA A “CIDADELA”: 

Os comandantes soviéticos estavam informados de que os alemães atacariam entre 3 e 6 de julho e colocaram as suas forças em alerta. Para acabar de vez com a possibilidade de surpresa, os soviéticos foram alertados por prisioneiros e desertores quanto ao horário do ataque. No norte, os soviéticos prepararam uma calorosa recepção para os atacantes. Pouco antes do início programado da preparação de artilharia alemã, às 3:30 h, a artilharia soviética bombardeou as posições das baterias alemãs, desorganizando unidades e arruinando a programação original. De fato, os comandos locais recearam que o bombardeio fosse o prelúdio de um ataque russo.

Com isso, a artilharia alemã só conseguiu abrir fogo às 4:30 h, com uma hora de atraso. O 41º Corpo Panzer e o 23º Corpo começaram seus ataques às 5:30 h, mas os 46º e 47º Corpos Panzer só partiram uma hora depois. Oito divisões de infantaria e uma Panzer atacaram numa frente de 40 km, defendida pelos 13º e 70º Exércitos. A 20ª Divisão Panzer e as 6ª e 292ª Divisões de Infantaria, apoiadas por tanques “Tigre”, canhões “Ferdinand” e Stukas, se abateram sobre as 15ª e 81ª Divisões de Fuzileiros soviéticas, obrigando os russos a recuar cerca de 7 km.

Porém, em Alexandrovka, na frente da 292ª Divisão, os “Ferdinand” atravessaram as linhas inimigas, enquanto a sua infantaria era detida e teve que abrir caminho à força para se reunir a eles. No flanco esquerdo, as 86ª, 78ª e 216ª Divisões de Infantaria exerceram forte pressão contra as 294ª, 148ª e 8ª Divisões soviéticas (a última pertencente ao 48º Exército), fazendo-a recuar cerca de 6 km, mas um contra-ataque blindado deteve os alemães, frustrando o avanço destes para Maloarkhangesk. 

Na frente do 70º Exército, a 132ª Divisão também recuou cerca de 2 km. Ao fim do dia, o 9º Exército havia conseguido um avanço de 6,5 km, ao custo de pesadas baixas (mais de 100 blindados só no primeiro dia). Porém, embora tivessem conseguido penetrar o primeiro cinturão de defesas numa frente de 42 km, os germânicos haviam apenas atingido o segundo. 

Do lado soviético, Rokossovsky compreendeu que as principais forças blindadas alemãs ainda não haviam sido empenhadas e que a maltratada 15ª Divisão de Fuzileiros oferecia a melhor oportunidade de uma penetração. Ele ordenou então a transferência de reservas para o setor ameaçado, à espera de um maciço ataque blindado para o dia seguinte. Um tanque “Tigre” da Das Reich e infantaria avançam. 

Vai começar a batalha. Ao sul, Vatutin também recebeu informes referentes ao início do ataque alemão e ordenou uma barragem de artilharia de 600 canhões contra as posições alemãs às 2:30 h. Diferente do bombardeio no norte, que visou principalmente às posições da artilharia alemã, essa barragem visou os locais previstos de concentração das forças atacantes, mas elas ainda não haviam chegado a esses pontos e o bombardeio acabou causando poucas baixas, embora causasse sérios problemas de  organização. 

Contudo, não alterou a programação alemã, que iniciou a sua própria preparação, como planejado, às 4:00 h, com um pesado ataque aéreo, seguido de um violento bombardeio de artilharia (durante 50 minutos, foram disparadas mais granadas de artilharia na frente do Grupo-de-Exércitos Sul do que nas campanhas da Polônia e da França juntas). 

Os soviéticos ainda deram um grande azar, pois um violento ataque aéreo, cuidadosamente planejado para pegar os aviões alemães se armando e abastecendo ainda nos aeródromos, foi frustrado pelo uso de um equipamento Freya (um radar primitivo), que alertou os alemães e permitiu que eles lançassem grande quantidade de caças para interceptá-lo. No que provavelmente foi a maior batalha aérea do front russo de toda a guerra, mais de 500 aviões se enfrentaram. As perdas de aviões soviéticos foram muito pesadas e, com isso, os alemães desfrutaram de uma temporária superioridade aérea local.

Apesar da chuva que caíra à noite e que transformara o terreno em um lamaçal, as forças de Manstein partiram às 5:00 h e tiveram melhor êxito que seus compatriotas no norte. A maciça concentração de blindados (cerca de 1.000 tanques e 350 canhões de assalto), as deficiências do reconhecimento aéreo soviético naquele setor e a existência de duas massas blindadas independentes (o 4º Exército Panzer e o Destacamento Kempf) fizeram com que Vatutin tivesse muito mais dificuldades que Rokossovsky.

Hoth, no comando do 4º Exército, tinha a tarefa principal de romper a linha russa e travar contato com o 9º Exército em Kursk. O eixo mais curto seria através de Oboyan, mas Hoth estava ciente de que o 1º Exército de Tanques soviético estava postado exatamente ali para barrá-lo. Portanto, decidiu rumar para Prokhorovka, de onde ele poderia atacar separadamente o 1º Exército de Tanques ou quaisquer reservas que viessem do leste, que teriam que passar por aquela cidade.

O 48º Corpo Panzer avançou na direção de Cherkasskoye, confiando no poderio da Divisão Grossdeutschland e dos “Panteras" da 10ª Brigada Panzer. Porém, mal iniciaram o ataque, os “Panteras" caíram em um enorme campo minado, perdendo 36 tanques. A Grossdeutschland, porém, conseguiu penetrar a frente da 67ª Divisão de Fuzileiros de Guardas, o mesmo fazendo a 11ª Panzer à sua direita. Após uma luta de inaudita ferocidade, os alemães ocuparam a localidade e os poucos defensores sobreviventes tiveram que recuar. À esquerda, a 3ª Panzer e a 332ª Divisão de Infantaria avançaram, a despeito do terreno e das minas, contra forte oposição da 71ª Divisão de Fuzileiros de Guardas e, ao fim do dia, haviam chegado ao rio Pena, a 6 km do ponto de partida.

O 2º Corpo Panzer SS lançou-se contra a veterana 52ª Divisão de Fuzileiros de Guardas e a 375ª Divisão de Fuzileiros. No início o avanço foi relativamente rápido, com as cunhas blindadas atravessando as trilhas que haviam sido limpas de minas pelos sapadores na véspera. Mas logo a resistência recrudesceu e, numa luta que durou todo o dia, os SS lograram romper as defesas soviéticas e avançar cerca de 15 km, mas não sem pesadas baixas.

O Destacamento Kempf cruzou o rio Donets buscando atingir Korocha, com a missão de cobrir o flanco direito do 4º Exército Panzer, mas, apesar de conquistar terreno, não logrou romper a frente do 7º Exército de Guardas (antigo 64º Exército, veterano de Stalingrado) e seu avanço, em conseqüência, foi muito mais lento. À sua esquerda, a 168ª Divisão de Infantaria, com o apoio de tanques da 6ª Divisão Panzer, partiu da cabeça-de-ponte de Belgorod e só conseguiu avançar 3 km, contra tenaz oposição da 81ª Divisão de Infantaria de Guardas. 

No centro, as 7ª e 19ª Divisões Panzer, com apoio dos “Tigres" do 503º schwere Panzer Abteilung (sPzAbt), conseguiram atravessar o Donets, mas enquanto a 7ª Panzer, à direita, conseguiu romper a primeira linha de defesa da 78ª Divisão de Fuzileiros de Guardas, a 19ª não conseguiu ultrapassar o perímetro da cabeça-de-ponte, em função da resistência encontrada e dos intermináveis campos minados. 

À direita, as 106ª e 320ª Divisões de Infantaria também atravessaram o Donets, mas não conseguiram penetrar as linhas de defesa principais e se limitaram a estabelecer posições de proteção de flanco. Durante a noite, o comandante do 3º Corpo Panzer (a ponta-de-lança do Destacamento Kempf) decidiu retirar a 6ª Divisão Panzer da cabeça-deponte de Belgorod e fazê-la atravessar o Donets na cabeça-de-ponte da 7ª Panzer. Embora ele estivesse reforçando o ponto de maior sucesso, isso permitiu que um saliente soviético se mantivesse entre o Destacamento Kempf e o 2º Corpo Panzer SS, propiciando uma base para o lançamento de ataques contra o flanco dos SS, o que obrigou a Totenkopf a proporcionar uma guarda de flanco para o corpo.

Os campos minados haviam infernizado a vida dos atacantes, causando atrasos e baixas (incluindo o General Schäfer, comandante da 332ª Divisão de Infantaria). Mas, o primeiro cinturão de defesas da Frente de Voronezh havia sido rompido em dois lugares, criando uma situação muito grave. As reservas de Vatutin foram logo aspiradas para a frente, mas, diante de Hoth, haviam sido forçadas a recuar para o segundo cinturão.

Pelo fim do primeiro dia de batalha, ambos os lados haviam sofrido baixas muito pesadas, mas enquanto os soviéticos se permitiam a isso, desde que causasse danos e atrasos ao inimigo, os alemães estavam perdendo material valioso e soldados que seriam cada vez mais difíceis de substituir.

Nos céus, a batalha foi tão encarniçada quanto em terra. Só no primeiro dia da operação, a Luftwaffe anunciou a derrubada de 432 aviões inimigos (certamente um exagero).



06/07/43:

No dia seguinte, a batalha cresceu de intensidade. Model continuou empurrando suas forças à frente, mas as tropas alemãs descobriram, desconcertadas, que durante a noite os soviéticos haviam trazido canhões e tanques para substituir os que haviam sido destruídos na véspera, obrigando os alemães a conquistar novamente posições que já haviam sido neutralizadas. 

A 18ª Divisão de Fuzileiros de Guardas foi trazida da Frente Oeste para reforçar a defesa de Maloarkhangelsk, o 3º Corpo de Tanques foi postado ao sul de Ponyri, o 17º Corpo de Fuzileiros de Guardas reforçou a frente ameaçada do 13º Exército e dois Corpos de Tanques (16º e 19º) foram concentrados na região de Olkhovatka. 

Os soviéticos então efetuaram uma série de contra-ataques em toda a linha. O mais sério deles foi o executado pelo 16º Corpo, nas primeiras horas da manhã, com cerca de 100 tanques (T-34 e T-70), chocando-se frontalmente com a 2ª Divisão Panzer, que se aproximava para atacar, sendo facilmente rechaçado após avançar cerca de 2 km. 

Nas frentes da 86ª e da 292ª Divisões, a 12ª Divisão Panzer e a 10ª  anzergrenadier tiveram que intervir, apesar de Model ter destacado previamente essas duas divisões para a prevista ruptura. Os alemães então avançaram para Olkhovatka e para a cota 274. Ambos os comandantes sabiam que a conquista daquela posição abriria uma brecha no dispositivo soviético, o que permitiria a arremetida do 9º Exército na direção de Kursk.

Porém, Rokossovsky havia dado atenção especial àquele setor, de forma que aquela era uma área extensamente fortificada. Model havia lançado o 47º Corpo Panzer (2ª e 9ª Divisões Panzer, reforçadas com os “Tigres" do 505º sPzAbt) exatamente contra esse ponto. Pelo meio-dia, mais de 900 blindados estavam em ação em toda a frente do 9º Exército, mas sem obter qualquer sucesso. Os alemães estavam “quebrando os dentes” em Olkhovatka. No flanco esquerdo, o renovado ataque contra Maloarkhangesk também não deu resultado algum. 

Ao fim do segundo dia de batalha, Model havia penetrado apenas 10 km, ao custo de pesadas baixas em homens e blindados. Pior ainda, o 47º Corpo Panzer estava perigosamente exposto e detido diante de Olkhovatka. A grande frustração: um “Ferdinand” destruído. 

No sul, o 4º Exército Panzer retomou o ataque. O 48º Corpo Panzer perdeu mais tempo devido à lama e às minas do que lutando. Nos combates do dia, ele avançou até cerca de 10 km da linha de partida, repelindo as 71ª, 67ª e 52ª Divisões de Fuzileiros de Guardas para trás do rio Pena. Na frente do 2º Corpo Panzer SS, a Leibstandarte destroçou as defesas da 52ª Divisão de Fuzileiros de Guardas, arrebanhando cerca de 1.600 prisioneiros.

Mais adiante, na região de Yakovlevo, chocou-se com a 1ª Brigada de Tanques de Guardas, que foi repelida deixando uma dúzia de T-34 em chamas no terreno. A Das Reich, por seu lado, havia atingido a aldeia de Luchki pelo meio-dia, onde encontrou os tanques Churchill do 48º Regimento de Tanques Pesados. A Totenkopf, porém, não realizou nenhum progresso, tendo ficado ocupada todo o dia detendo contra-ataques russos. Mas o avanço dos SS representavam uma séria ameaça de ruptura na frente do 6º Exército de Guardas. Ao fim do dia, o 2º Corpo Panzer SS, contando com forte apoio aéreo, conseguiu penetrar 20 km desde o início da ofensiva, rompendo o segundo cinturão de defesa soviético.

Contudo, o Destacamento “Kempf” estava muito atrasado, o que deixava o flanco do Corpo SS vulnerável. Devido a isso, ao fim do dia, mais  de 30% dos blindados de Manstein estavam cumprindo tarefas de guarda de flanco, o que enfraquecia o esforço principal.

Embora no plano original o Destacamento Kempf visasse Korocha, o comandante do 3º Corpo Panzer concluiu que ele perderia tempo demais para superar as defesas postadas ali e preferiu rumar para o norte, tentando cumprir a tarefa mais importante de proteger o flanco do 4º Exército Panzer. 

Ele havia terminado o primeiro dia ainda com o grosso de seus blindados atrás do rio Donets, mas, ao amanhecer do dia 6, as 7ª e 19ª Divisões Panzer iniciaram a marcha para Rzhavets, apoiadas pela 168ª Divisão de Infantaria.

Elas colidiram com um contra-ataque inimigo, o qual foi repelido, e então conseguiram romper a linha soviética, permitindo à 6ª Panzer se inserir entre ambas. Ao fim do dia, as vanguardas alemãs haviam chegado a Yastrebovo.

No fim do dia 6, Vatutin, por telefone, informou a Stalin que suas tropas já haviam destruído 332 blindados inimigos. A Leibstandarte então já havia sofrido perdas de infantaria da ordem de 10% de seu efetivo original.



07/07/43:

Na frente do 13º Exército, os tanques do 19º Corpo de Tanques receberam ordem de se enterrar e assim mantiveram a linha durante os furiosos combates dos dias subsequentes. Contra eles, Model lançou quatro divisões Panzer (2ª, 9ª, 18ª e 20ª). Atacando em dois eixos, contra Teploye e Olkhovatka, os alemães conseguiram penetrar as defesas em Samodurovka. 

Em Ponyri, os alemães retomaram o ataque, trazendo elementos das 9ª e 18ª Divisões Panzer para reforçar as três divisões de infantaria que desde o dia 5 batiam cabeça contra a localidade. Um feroz combate de casa em casa rugiu nos dias subsequentes, dando a Ponyri o título de “Pequena Stalingrado”. Em três dias de combate, Model havia sofrido mais de 10.000 baixas em homens. As perdas de blindados também haviam sido muito pesadas, a ponto do 653º Batalhão de “Ferdinands" não ter um único veículo operacional ao fim desse dia.

No sul, o 4º Exército Panzer forçou os soviéticos a empenhar mais reservas na tentativa de deter a ofensiva alemã. No flanco esquerdo, as 3ª e 11ª Divisões Panzer e a Grossdeutschland atacaram o 31º Corpo de Tanques e o 3º Corpo Mecanizado, componentes do 1º Exército de Tanques. A Grossdeutschland capturou a aldeia de Dubrova e rechaçou o 3º Corpo Mecanizado para trás do rio Pena, última posição defensiva antes de Oboyan.

Ao fim do dia, a 10ª Brigada Panzer tinha apenas 40 “Panteras" operacionais. O 1º Exército de Tanques soviético havia sido bastante maltratado e seu comandante, General Katukov, ordenou que os tanques sobreviventes fossem enterrados como casamatas. 

A Leibstandarte e a Das Reich, com forte apoio aéreo, prosseguiram rumo a Oboyan, se envolvendo em violento combate na aldeia de Teterevino, defendido pela 29ª Brigada Anti-Tanque. O 5º Corpo de Tanques de Guardas e os 2º e 31º Corpos de Tanques realizaram diversos contra-ataques, mas, ao fim do dia, os SS haviam tomado a vila e capturado todo o Estado-Maior de uma brigada de fuzileiros, além de destruir 117 tanques inimigos. Estava aberto o caminho para a última linha de defesa no rio Psel.

O 6º Exército de Guardas começava a apresentar sinais de colapso, com unidades recuando desordenadamente.

Além disso, o Destacamento Kempf também havia conseguido algum progresso no dia, levando a Frente de Voronezh a um princípio de crise. Mais reservas foram trazidas para a frente do 1º Exército de Tanques e do 6º Exército de Guardas (inclusive retiradas do sossegado 40º Exército). 

Enquanto isso, os soviéticos aproximavam da frente o 10º Corpo de Tanques e o Stavka ordenava que o 5º Exército de Guardas e o 5º Exército de Tanques de Guardas deixassem a Frente da Estepe e rumassem para a área de Prokhorovka. Para dramatizar ainda mais a situação, Vatutin baixou uma ordem categórica de que “em nenhuma hipótese os alemães poderiam atingir Oboyan”.



08/07/43:

Model lançou a sua última reserva blindada, a 4ª Divisão Panzer, contra a aldeia fortificada de Teploye, juntamente com elementos de outras três divisões Panzer (2ª, 9ª e 20ª), apoiados pela 6ª Divisão de Infantaria e forte artilharia. 

Model também foi reforçado com a transferência do sul de diversas unidades aéreas. Nos três dias de furiosos combates que se seguiram, o 33º Regimento Panzergrenadier (parte da 4ª Divisão Panzer) capturou as cristas por três vezes e por três vezes foi repelido. A 3ª Brigada Anti-Tanques soviética foi praticamente aniquilada, mas os soviéticos continuaram senhores do terreno e as perdas alemãs foram pesadas. 

Em Olkhovatka, os alemães conseguiram romper as defesas antitanques, mas foram detidos diante da Cota 274, que continuou em poder dos soviéticos, a despeito dos repetidos ataques feitos pela 6ª Divisão de Infantaria.

Rokossovsky passou então a retirar tropas de setores mais calmos, nas áreas dos 60º e 65º Exércitos, para reforçar o sofrido 13º. Na frente do 48º Corpo Panzer, os soviéticos realizaram uma série de contra-ataques. A 3ª Divisão Panzer teve que lidar com ataques de mais de 100 tanques da 112ª Brigada de Tanques e das 1ª e 10ª Brigadas Mecanizadas. A 11ª Divisão Panzer e a Grossdeutschland, a despeito de também sofrerem violentos contra-ataques, avançaram ombro-a-ombro.

O ataque no sul O 2º Corpo Panzer SS teve um dia bastante agitado. Às 9:20 h, a Leibstandarte chocou-se com as 31ª e 192ª Brigadas de Tanques, a 29ª Brigada Anti-Tanque e elementos da 51ª Divisão de Fuzileiros de Guardas. Uma coluna soviética atingiu as posições da artilharia da divisão, causando um caos na retaguarda alemã, forçando o Corpo SS a utilizar todas as suas reservas, inclusive o batalhão de reconhecimento da Totenkopf (praticamente toda essa divisão estava então imobilizada, cumprindo a tarefa de guarda de flanco).

Apesar de tudo, o corpo avançou cerca de 10 km, destruiu 183 tanques e capturou 2.192 prisioneiros – a maior quantidade arrebanhada em um único dia durante a ofensiva.

Um grande ataque de tanques e infantaria efetuado pelo 2º Corpo de Tanques de Guardas (vindo da reserva da Frente Sudoeste) contra o flanco do 2º Corpo Panzer SS foi detectado e devastado por uma força de Hs-129 e Fw 190 do Schlachtgeschwader 1, perdendo os soviéticos 50 tanques.

Foi uma das raras ocasiões na história em que uma força blindada havia sido destruída exclusivamente por unidades aéreas.

À direita, o Destacamento Kempf abria caminho à força, tentando desesperadamente alcançar o ponto de onde ele apoiaria o ataque do 4º Exército Panzer contra Prokhorovka. O 3º Corpo Panzer lançou um ataque coordenado contra as 92ª e 94ª Divisões de Infantaria de Guardas. A linha soviética foi rompida e os alemães atingiram um ponto 20 km além da linha de contato de 5 de julho.

Contudo, a 7ª Divisão Panzer passou a se dedicar mais a proporcionar uma guarda de flanco para que a 6ª pudesse avançar. O 7º Exército de Guardas estava se assanhando em efetuar contra-ataques limitados contra o flanco estendido e isso estava atraindo cada vez mais a atenção dos comandos alemães. Nos combates do dia, a 19ª Panzer perdeu seu comandante, o general Gustav Schmidt.

Por um lado, este foi um dia de sucessos para os alemães, com avanços maiores, objetivos alcançados e maior número de tanques inimigos destruídos e prisioneiros arrebanhados. Contudo, as baixas haviam reduzido bastante o poderio das divisões alemãs, enquanto as inesgotáveis reservas soviéticas não paravam de chegar. Era cada vez mais óbvio que o objetivo de romper rapidamente a frente e cercar o grosso dos exércitos soviéticos antes da chegada de reforços já estava baldado. Além disso, em nenhum ponto a penetração havia ido muito além de 20 km e ainda faltavam 100 para chegar a Kursk, aonde o 9º Exército aparentemente não chegaria nunca.



09/07/43:

No norte, Model continuava buscando uma ruptura, sem sucesso. Em Ponyri, o 508º Regimento de Infantaria (parte da 292ª Divisão), apoiado por um punhado de “Ferdinands", conseguiu tomar a cota 253.3, mas não conseguiu ir além. Model gastou a maior parte do dia reorganizando suas forças para as batalhas decisivas do dia seguinte.

Também nesse dia, a 167ª Divisão de Infantaria substituiu a Totenkopf na missão de guarda de flanco, permitindo a essa divisão reunir-se ao restante do Corpo Panzer SS para o prosseguimento do avanço para Prokhorovka.

Após um duro combate na aldeia fortificada de Syrtsevo, o batalhão de reconhecimento da Grossdeutschland realizou um ousado avanço e penetrou na aldeia de Verkhopenye e, mais importante, capturou a sua ponte sobre o rio Pena, que os engenheiros rapidamente prepararam para a travessia de equipamento pesado. Os soviéticos contra-atacaram com uma força mista de T-34 e M3 “Lee”, deixando para trás 35 máquinas destruídas.

Na frente do Corpo SS, ataques e contra-ataques sucediam-se, enquanto os alemães consolidavam o terreno conquistado e procuravam avançar mais para o norte. As baixas haviam sido pesadas para ambos os lados, mas os soviéticos conseguiram retardar o avanço dos alemães, os quais estavam ainda a cerca de 20 km de Oboyan.

O 3º Corpo Panzer continuou avançando no dia detida por violento contra-ataque soviético.

No fim do dia, Manstein ordenou que o 24º Corpo Panzer (5ª Divisão Panzergrenadier SS Wiking e 23ª Divisão Panzer) se deslocasse para Kharkov, visando utilizá-lo no avanço para Kursk. As divisões desse corpo, porém, estavam com seus efetivos muito reduzidos e o OKH, preocupado com os informes de concentrações soviéticas em outros pontos, nunca autorizou Manstein a utilizálas no ataque a Kursk.

Nessa altura, porém, os soviéticos estavam cientes de que a situação na Frente de Voronezh era bastante séria. O 5º Exército de Guardas e o 5º Exército de Tanques dos Guardas já estavam se deslocando para a área ameaçada e planejou-se um ataque coordenado entre os quatro exércitos envolvidos (os dois citados, mais o 1º de Tanques e o 6º de Guardas). 

Porém, antes que as forças vindas da Frente da Estepe chegassem ao seu ponto de reunião, na noite de 09/07/43, o 1º de Tanques e o 6º de Guardas haviam recuado novamente sob a pressão do 48º Corpo Panzer e não tinham condições de atacar. Mesmo assim, o ataque foi marcado para a manhã de 12/07/43.

As perdas de tanques soviéticos aumentam. Mas, o que os soviéticos não sabiam é que Hoth havia optado por um avanço na direção de Prokhorovka, onde o seu Corpo SS se encontraria com o 3º Corpo Panzer do Destacamento Kempf para enfrentar as reservas soviéticas vindas do leste. Sem saber disso, os soviéticos praticamente imobilizaram o 1º Exército de Tanques e o 6º Exército de Guardas (ou o que restara deles) diante de Oboyan. Porém, havia uma falha no plano de Hoth: o Destacamento Kempf não havia conseguido avançar tanto quanto suas forças e o flanco do Corpo SS continuava exposto. Porém, o Destacamento Kempf conseguira romper as defesas entre Melikhovo e Sasnoye e tinha agora o caminho livre para Prokhorovka.

Enquanto isso, a Totenkopf, que havia sido liberada de sua missão de guarda de flanco, conseguiu uma pequena cabeça-de-ponte sobre o rio Psel, última barreira natural entre os alemães e Kursk. A poderosa linha de defesa soviética havia sido rompida.



10/07/43:

Pelo dia 10/07/43, o avanço de Model contra Rokossovsky chegara a um impasse. Para quebrá-lo, foram renovados os ataques às cristas de Olkhovatka. Precedidos por uma impressionante preparação de artilharia e forte apoio de Stukas e bombardeiros He 111, 300 blindados das 2ª e 4ª Divisões Panzer avançaram contra as defesas inimigas, inexpugnáveis como de costume. Apesar de alguns ganhos locais, o dia terminou com nova derrota para os germânicos, com pesadas baixas, principalmente em blindados.

Na noite de 10 para 11/07/43, Model lançou a 10ª Divisão Panzergrenadier e a 31ª Divisão de Infantaria, suas últimas reservas, contra Ponyri, numa derradeira tentativa de romper o impasse em sua frente. Em vão. Embora boa parte da aldeia caísse em mãos alemãs, as baixas haviam sido assustadoras e a tão necessária ruptura não havia se realizado. O ataque ao norte havia falhado, após avançar meros 15 km. E o seu fracasso pareceu tão óbvio aos soviéticos que, na véspera, Zhukov e Stalin já haviam acertado o início do ataque contra o Bolsão de Orel para o dia 12/07/43.

No sul, o 69º Exército assumiu o setor da frente à direita do 7º Exército de Guardas e praticamente ficou com a missão de deter o Destacamento Kempf. Ele agora contava com 9 divisões de fuzileiros, o 2º Corpo de Tanques de Guardas, uma brigada de tanques, outra de destruidores de tanques, um regimento de tanques pesados (Churchill), dois de destruidores de tanques, uma brigada de artilharia e outra de foguetes. 

Os 27º e 53º Exércitos estavam agora também se aproximando da frente (da mesma forma que reservas vindas da Frente Central) e o 2º Exército Aéreo recebeu ordens de priorizar os combates na estrada de Oboyan.

Debaixo de chuva, a 3ª Panzer mais uma vez passou o dia rechaçando contra-ataques soviéticos, enquanto a Grossdeutschland se envolvia em pesado combate de tanques ao norte de Verkhopenye, onde o Regimento Panzer perdeu seu comandante, o Coronel Conde von Strachwicz.

Enquanto isso, a 11ª Panzer continuou avançando para Oboyan contra feroz resistência da 309ª Divisão de Fuzileiros. Também foi mais um dia de duros combates para o Corpo SS, com poucos ganhos e muitos contra-ataques.

O Destacamento Kempf beneficiou-se de uma retirada dos soviéticos, ameaçados de cerco pelos SS, e conseguiu progredir alguns quilômetros.

Porém, as 7ª e 19ª Divisões Panzer passaram o dia se defendendo de contra-ataques e somente a 6ª efetivamente avançou.

A Luftwaffe e a Força Aérea Vermelha pouco intervieram nos combates do dia, devido ao mau tempo. O ímpeto dos atacantes estava começando a se abater. As perdas em homens e material haviam sido assombrosas. Somente no ombro sul, os soviéticos estimaram que os alemães já haviam perdido, até 10/07/43, 230 blindados e quase 11.000 mortos. 

A Grossdeutschland, que começara a batalha com 181 blindados, tinha agora menos de 100 (dos quais, operacionais, havia apenas 3 “Tigres", 6 “Panteras" e cerca de 10 Panzer III e IV de cano longo). As perdas nas outras unidades eram igualmente incapacitadoras. 

A 6ª Panzer e o 503º sPzAbt tinham apenas 22 tanques cada. A 10ª Brigada Panzer tinha apenas 38 tanques operacionais dos 200 com que começara a batalha, embora muitos estivessem fora de serviço por problemas mecânicos.

Para piorar as coisas, o ataque no norte ia de mau a pior. Model não havia conseguido romper as defesas inimigas e estava ainda a mais de 140 km da vanguarda da pinça sul. Com isso, reservas originalmente destinadas para a Frente Central tornavam-se disponíveis para reforçar a Frente de Voronezh.



11/07/43:

No norte, os soviéticos começaram a fazer tímidos ataques contra o 2º Exército Panzer (que defendia a face norte do Bolsão de Orel). No dia seguinte, Kluge ordenou a transferência da 12ª Divisão Panzer e da 36ª Divisão de Infantaria do 9º Exército para o 2º Panzer. A 20ª Panzer seguiu-as no dia 13. Para todos os efeitos, o ataque de Model ao ombro norte havia terminado.

No sul, após seis dias de pesados combates, os alemães mal haviam avançado 30 km. A chuva que caíra durante alguns dias da batalha servira para retardar mais ainda o movimento dos atacantes e agora prejudicava o transporte de abastecimento para a frente (algumas unidades de artilharia não tinham mais munição devido a isso).

O 48º Corpo passou o dia eliminando focos de resistência. A única divisão que prosseguiu atacando para o norte foi a 11ª Panzer, mas esbarrou em forte resistência, lama, chuva e falta de apoio aéreo e praticamente não avançou. Para piorar, os soviéticos retomaram uma crista no seu flanco direito, que havia sido tomada na véspera.

O 2º Corpo Panzer SS renovou a sua ofensiva após uma pausa para reagrupamento. As forças alemãs atingiram as imediações da pequena cidadede Prokhorovka, onde se chocaram com as recém-chegadas tropas do 5º Exército de Guardas.

O feroz combate se estendeu por todo o dia, com a Luftwaffe se superando no apoio, apesar do mau tempo. O Tenente-General P. A. Rotmistrov, comandante do 5º Exército de Tanques de Guardas, se viu forçado a empenhar duas de suas brigadas de tanques para evitar a queda da cidade naquele dia.

O Destacamento Kempf continuou avançando do sul, conseguindo avanços da ordem de 15 km.

Contudo, apenas a 6ª Panzer podia se concentrar em atacar, pois as 19ª e 7ª tiveram que guardar ambos os flancos do corpo.

Os campos minados haviam cobrado pesado tributo aos veículos alemães. Entre 5 e 11/07/43, os soviéticos estimaram as perdas alemãs em 335 tanques (incluindo 29 “Tigres"), 30 canhões de assalto, 60 caminhões e 7 veículos blindados de transporte de pessoal. Como muitos desses pudessem ser reparados, é certo que a maioria deles foi posta novamente em serviço pelo excelente serviço de recuperação alemão, mas não deixava de ser um pesado dreno de recursos alemães num momento crítico.

O 5º Exército de Tanques de Guardas, nesse ínterim, já estava a postos para realizar o planejado ataque do dia seguinte. Estava preparado o cenário para a maior batalha de blindados de todos os tempos.



12/07/43 - A BATALHA DE PROKHOROVKA:

Rotmistrov tinha ordens de atacar ao longo da linha Prokhorovka-Yakovlevo e deter o que estava se transformando numa ruptura. Ele instalou seu posto de comando no alto de uma pequena crista, de onde ele podia ver toda a planície que seria palco da batalha, bem ao estilo de um general da era napoleônica.

As ações do dia começaram por volta das 8:30 h, com um violento ataque da Luftwaffe. Pouco depois, o 2º Corpo Panzer SS apareceu no horizonte, decidido a conquistar Prokhorovka. À esquerda vinha a Totenkopf, à direita, a Das Reich e, ao centro, a Leibstandarte. As primeiras levas de tanques alemães foram recebidas por intensa barragem de artilharia e Katyushas. Logo em seguida, os tanques soviéticos rolaram para a frente.

Cerca de 900 blindados (cerca de 700 soviéticos – na grande maioria T-34 – e 200 alemães – dos quais, apenas 14 “Tigres") chocaram-se numa área restrita. Os tanques soviéticos lançaram-se sobre o inimigo numa louca arremetida, literalmente atravessando as primeiras linhas de tanques alemães. O que se seguiu só pode ser definido como uma orgia de destruição. A tática russa, de se misturar numa confusa batalha com o inimigo, anulou a vantagem técnica dos canhões alemães, pois à queima-roupa o canhão russo de 76,2 mm era capaz de penetrar a blindagem do “Tigre”, com resultados catastróficos.

A batalha logo degenerou em duelos de pequenos grupos de tanques, num cenário de céu nublado e dominado pela fumaça negra de inúmeros tanques em chamas.

A História Oficial soviética registra um incidente que bem demonstra o encarniçamento da luta. O tanque do comandante do 2º Batalhão da 181ª Brigada do 18º Corpo de Tanques, Capitão P. A. Skripkin, foi atingido após destruir dois tanques inimigos e o capitão foi ferido. A sua tripulação abandonou o tanque em chamas e buscou abrigo numa cratera de bomba. Porém, quando o mecânico Alexander Nikolayev viu que um tanque inimigo estava indo na direção deles, retornou ao seu T-34, ligou o motor e avançou como uma bola de fogo, colidindo com o tanque inimigo a grande velocidade e provocando uma enorme explosão.

No ar, ambas as forças aéreas engalfinharam-se, no afã de apoiar suas forças de terra. 

Enquanto isso, os soviéticos haviam desviado forças substanciais (o equivalente a um corpo mecanizado reforçado) para deter o Destacamento Kempf a qualquer custo. Este, em sua tentativa de abrir caminho para se unir ao 4º Exército Panzer, usou de um ardil: com um T-34 capturado à testa, a 6ª Divisão Panzer avançou com os faróis ligados, à noite, através das linhas soviéticas, e capturaram a ponte sobre o rio Donets em Rzhavets.

Mas os soviéticos logo perceberam que estavam sendo feitos de otários e revidaram, detendo outros avanços. O 2º Corpo Panzer SS teria que lutar sozinho. Na extremidade oeste da frente, os 52º e 48º Corpos enfrentaram violentos e bem coordenados ataques ao longo de toda a frente. Embora todos os ataques acabassem repelidos, não sem dificuldade, o 48º Corpo Panzer não avançou um centímetro nesse dia.

Pouco antes do pôr do sol, o 5º Exército de Guardas lançou um forte ataque contra a Totenkopf, que se viu tendo que passar para uma postura defensiva.

Ao anoitecer, uma forte chuva caiu sobre o campo de batalha, mas a luta continuou pelas primeiras horas de escuridão. Ao fim do dia, o 2º Corpo Panzer SS havia perdido cerca de 150 tanques e Rotmistrov, cerca de 250. E embora ainda houvesse combates nessa área até o dia 15, era óbvio que a ofensiva alemã fracassara. Não é à toa que esse ataque ficou conhecido entre os alemães como “Corrida da Morte do 4º Exército Panzer” e, entre os soviéticos, “Massacre de Prokhorovka”.



OS SOVIÉTICOS PASSAM À OFENSIVA:

No dia 13/07/43, Hitler decidiu suspender a “Cidadela”. Os aliados ocidentais haviam desembarcado na Sicília em 10/07/43 e uma de suas providências foi enviar a Leibstandarte para a Itália. No mesmo dia em que os blindados de Rotmistrov e de Hoth se encontravam em Prokhorovka, as Frentes de Bryansk e Ocidental lançaram suas ofensivas contra o 2º Exército Panzer, no Grupo de-Exércitos Centro. Os atacantes dirigiram-se para Orel e contra a retaguarda do 9º Exército, que, a 17/07/43, teve que abandonar o território conquistado à custa de tanto sangue derramado.

Era o início da planejada ofensiva soviética. Apesar disso, Manstein insistiu na continuação da ofensiva, alegando que a pressão que ele estava exercendo estava atraindo as unidades blindadas soviéticas que, se liberadas, poderiam ser utilizadas ofensivamente alhures. Além disso, argumentava que faltava muito pouco para obter uma grande vitória no sul e que virar as costas a isso naquele momento seria um grande erro. Mas a operação foi definitivamente suspensa e os soviéticos atacaram logo depois, utilizando tropas frescas.

Nada menos que sete exércitos estavam atrás do bolsão de Kursk, imediatamente disponíveis e prontos para atacar (os 27º, 47º, 53º e 4º de Guardas da Frente da Estepe e os 11º, 3º de Tanques de Guardas e 4º de Tanques). Manstein, dessa vez, estava redondamente enganado.

Porém, ele obteve permissão de continuar atacando no sul. No dia 13/07/43, o reagrupado 2º Corpo Panzer SS lançou a Das Reich contra o 18º Corpo de Tanques, a leste de Prokhorovka, conseguindo romper as defesas soviéticas, apenas para serem contra-atacados em outra confusa batalha por duas brigadas de Guardas (10ª Mecanizada e 24ª de Tanques).

Nos dias subsequentes, os alemães conseguiram fechar a brecha entre o Corpo Panzer SS e o Destacamento Kempf, criando sérios problemas para a Frente da Estepe, que então ocupava a linha com apenas três exércitos (7º de Guardas, 53º e 69º), dos quais o 53º era o único que ainda não havia sido sangrado. A Frente da Estepe, que originalmente se destinara a realizar uma ofensiva, agora mal se agüentava em pé.

Mas isso não mudava em nada o resultado da batalha. À medida que os exércitos das Frentes Oeste e de Bryansk avançavam para erradicar o bolsão de Orel e Hitler começava a transferir suas tropas para a Itália, já devia ser evidente que não havia mais nada a se ganhar em Kursk.

A 16/07/43, para piorar os pesadelos dos alemães, as Frentes Sul, Sudoeste e Norte do Cáucaso iniciaram suas próprias ofensivas, na Ucrânia e no Cáucaso. O 4º Exército Panzer iniciou sua retirada para uma linha mais defensável na noite de 17 para 18/07/43. A 23/07/43, Vatutin estava de volta à linha que ocupava antes da “Cidadela” e, um mês depois, as tropas soviéticas entravam em Kharkov, agora definitivamente. As ofensivas soviéticas agora se sucediam como um boxeador que alterna os golpes, deixando o oponente desorientado. E elas só cessariam em Berlim, em maio de 1945.

O PREÇO: 

É uma tarefa difícil determinar as perdas de ambos os lados na Batalha de Kursk. Em primeiro lugar, os soviéticos iniciaram a sua ofensiva no bolsão de Orel ainda durante o desenrolar da batalha, sendo quase impossível discriminar as baixas em uma ou outra ação. No sul, Manstein continuou atacando mesmo após o cancelamento da “Cidadela” e depois sofreu baixas na retirada em combate que foi obrigado a realizar. 

Some-se a isso também a tendência que ambos os lados tinham de exagerar suas vitórias. Contudo, não é exagero afirmar que, apenas nas batalhas relacionadas à “Cidadela”, as perdas alemãs chegaram a mais de 800 tanques e canhões de assalto (só Model perdeu mais de 400), e mais de 100.000 baixas (50.000 só no 9º Exército).

Quanto às baixas soviéticas, estatísticas liberadas recentemente dão conta de quase 180.000 baixas, além de 1.614 blindados destruídos. Contudo, as perdas alemãs eram irrecuperáveis, as soviéticas, não. Kursk havia custado mais do que homens e material aos alemães: havia custado a iniciativa na guerra.



CONCLUSÕES:

Em vários aspectos, a Batalha de Kursk pode ser considerada uma batalha decisiva. Essa descomunal batalha demonstrou que os dias da Blitzkrieg estavam acabados. O sucesso dos primeiros anos da guerra baseava-se na surpresa, velocidade e rapidez de concentração de meios em um Schwerpunkt (ponto-chave), obtendo a superioridade material em um ponto específico da linha. Em Kursk, nada disso aconteceu.

Os soviéticos estavam estratégica e taticamente avisados quanto ao ataque; os alemães nunca conseguiram desenvolver velocidade, tendo que abrir caminho lentamente entre as intermináveis linhas defensivas e campos minados e, finalmente, em momento algum teve superioridade numérica.

E mesmo a superioridade técnica das máquinas e tripulações alemãs foi anulada pelo tipo de combate cerrado, de atrito, que os soviéticos realizaram magistralmente. Além disso, a superioridade aérea, outro ingrediente importante da Blitzkrieg, praticamente não existiu.

Também demonstrou que o outrora incompetente (e quase amador) Exército Vermelho amadurecera e se profissionalizara, a ponto de desafiar os alemães em qualquer condição de tempo e de terreno. Marcaria também, daí para sempre, o declínio do Exército alemão e a ascensão do Exército Soviético como a mais poderosa força terrestre do mundo pelas décadas seguintes.

Kursk também marcou o fim de uma elite. As melhores tropas e os melhores equipamentos germânicos foram lançados no caldeirão de Kursk apenas para sempre destruídos, privando o Exército alemão de forças de que necessitaria cada vez mais nos meses e anos seguintes. De fato, a derrota em Kursk não só decretou o fim das esperanças alemãs de uma vitória no leste, como exauriu o Exército que deveria defender não só a Alemanha, mas toda a Europa Oriental da ocupação comunista. A Alemanha não poderia mais vencer a guerra após Stalingrado e sua derrota estava selada após o “Dia-D”, mas, em Kursk, os alemães desperdiçaram a sua última chance de manter qualquer iniciativa estratégica.

Um oficial alemão de blindados declarou posteriormente: “O Exército alemão jogou fora todas as suas vantagens em guerra móvel e enfrentou os russos em terreno de sua própria escolha. O Comando alemão podia pensar em coisa melhor do que lançar nossas magníficas divisões panzer contra a mais poderosa fortaleza do mundo...”

Parte 2