FRASE

"Quem escolhe a desonra a fim de evitar o confronto, a conseguirá de pronto, e terá o confronto na sequência."

sábado, 31 de julho de 2021

A Batalha de Mogadíscio - Operação "Gothic Serpent" *219

 

Hugo Alvarenga

Esta operação foi dramatizada no filme "Black Hawk Down", que embora não sendo 100% fidedigno aos fatos, está bem próximo deles e serve perfeitamente para ilustrar este episódio. A maioria das imagens aqui exibidas são fotografias deste filme.

A localização geográfica da Somália entre o continente Africano e o continente Asiático, dominando geograficamente o acesso ao Mar Vermelho e a sua proximidade com os campos petrolíferos da Arábia Saudita, faz com que esta região seja desde o tempo da Civilização Egípcia uma zona do globo com valor estratégico. Embora o povo de etnia Somali estenda o seu domínio territorial por grande parte do “chife da África”, não o faz de uma forma politicamente organizada, pois os diferentes clãs étnicos encontram-se divididos pelo território, atendendo às diferentes atividades econômicas que desenvolvem. A população de etnia Somali ronda os 5 a 6 milhões de pessoas, sendo certo que aproximadamente 3,5 milhões vivem na República da Somália, 2 milhões na República da Etiópia, 240 mil na região norte do Quénia e 200 mil na República do Djibuti .

Os confrontos entre os diversos clãs são inúmeros ao longo da história, como a Guerra de Ogaden que envolveu a Somália e a Etiópia (1977-1978), e na qual a Etiópia, com o apoio do Bloco Soviético, se sagrou vencedora, tendo conquistado os territórios por si pretendidos. Ora, como consequência desta derrota militar, o poder instituído na Somália, uma ditadura militar então liderada pelo General Siyaad Barre, torna-se alvo de contestação. Em consequência, procurando controlar as inúmeras tentativas de golpes de estado, o General Siyaad Barre concentra o seu poder militar na cidade de Mogadíscio. Assim, e uma vez que o governo não permitia que o povo ou mesmo os representantes dos diferentes clãs exprimissem as suas opiniões, estes começaram a organizar-se em grupos armados, entre os quais se conta, a Frente de Salvação Nacional (SSF), que por diversas vezes entrou em disputas territoriais com as forças governamentais. Razão pela qual, na tentativa de fragilizar os seus adversários, o governo promoveu um conjunto de políticas instigadoras aos conflitos entre os diversos clãs. Pelo que, inevitavelmente, durante a década de 80 do século XX, todos os clãs guerrearam entre si.

Neste escopo, o governo optou por colocar em segundo plano a tarefa de manutenção da ordem, passando, em consequência, a dar primazia à preocupação de manutenção do poder. Assim, em 1989, após duas décadas de políticas opressivas encetadas pelo regime, cada vez mais regiões da Somália começaram a sair do seu controle, atingindo um ponto sem retorno no momento em que o controle passou a incidir apenas sobre a cidade de Mogadíscio. Desta forma, procurando garantir a sua própria segurança, o General Siyaad Barre nomeou o seu filho General Maslah Mahamed Siyaad, chefe de segurança de Mogadíscio e o seu genro General Mahamed Said Morgan, Ministro da Defesa. Ora, esta troca de nomes na chefia do regime em nada fez alterar as políticas por este praticadas, e se mantiveram os atos de violência contra a população civil. Num ato de pilhagem no distrito de Wardhigley, membros da guarda pessoal do General Siyaad Barre pilharam uma loja, e elementos do clã de Hawiye, que eram os principais apoiantes do United Somali Congress (USC), iniciam um levante popular, o qual se tornou impossível de controlar por parte das forças do regime. Tal situação obrigou o General Barre a abandonar o poder e a fugir para a região Gedo, no sul da Somália.

No dia 27 de Janeiro de 1991, as forças do USC, que já dominavam os arredores da capital, passam, por sua vez também, a controlar Mogadíscio. No calor da revolta popular e sem qualquer tipo de consulta à população ou a outra facção política, em 29 de Janeiro de 1991 a USC determina que o próximo presidente da Somália seria Ali Mahadi Mahamed. Sucede que, esta nomeação não foi bem aceita por outros membros da USC, nomeadamente pelo General Mahamed Farah Aidid, o que originou uma guerra de clãs e, consequentemente, determinou uma divisão de Mogadíscio e a divisão do USC em 2 partidos: o que apoiava o General Aidid denominado Aliança Nacional da Somália (ANS) e o que apoiava Mahamed. Originando uma guerra civil, onde se estima que tenha causado cerca de 14 mil baixas fatais e o dobro ou o triplo de feridos, entre civis e forças combatentes e quase a total destruição da cidade de Mogadíscio.

Assim, perante este cenário, durante as Conferências de Djibut patrocinadas pela ONU, foi tentada uma saída política. Contudo, apesar das recomendações da mesma resultarem do consenso de 7 dos 11 grupos que se opunham na Somália, a verdade é que a capacidade para se implementar tal acordo revelou-se, simplesmente inexistente, tendo continuado a existir conflitos na capital, bem como em todo o país. Gera-se, deste modo, uma verdadeira situação de anarquia e em consequência, de fome generalizada.

Ora o fato do país se encontrar sujeito ao controle de diversos clãs dificultava sobremaneira a tarefa de garantir a segurança dos elementos das Organizações não Governamentais (ONG) e da ONU que tentavam minimizar a crise humanitária que alastrava por todo o território. De fato, os poucos elementos destas organizações que se encontravam no país tinham, inclusive, que pagar para garantir a sua segurança, bem como a segurança das colunas de viaturas que transportavam mantimentos. Ainda assim, devido ao elevado grau de insegurança existente, mesmo efetuando os referidos pagamentos, não era seguro que os alimentos chegassem ao seu destino. No início do ano de 1992, já mais de meio milhão de Somalis tinham morrido de fome. Nesta altura a comunidade internacional começou a perceber a crise humanitária que tinha em mãos. No entanto, neste momento já muitos países ocidentais tinham fechado as suas embaixadas em Mogadíscio, situação que levou a que os EUA não estivessem corretamente informados em relação à situação da Somália.

Não obstante, a comunicação social que já desde 1991 chamava a atenção para a crise no “Chifre da África”, em meados de 1992, começam a colocar este assunto em foco. Esta atenção dos agentes de comunicação social revelou-se fundamental para que a comunidade internacional se consciencializasse do problema em causa e decidisse agir e, assim, aumentar a ajuda humanitária na Somália. Nesta sequência, o Secretário-Geral da ONU, Boutros-Ghali, depois de ter exposto à Assembleia das Nações Unidas a crise que estava a devastar aquela parte do planeta, tentou obter a aprovação pelo Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (CSONU) de uma resolução que aprovou a intervenção da ONU na Somália, tendo sido aprovada por unanimidade a resolução 733 que visava o aumento da ajuda humanitária àquele país.

Em Abril de 1992 o CSONU aprova a resolução nº 751 que autoriza uma missão da ONU na Somália (UNOSOM) com um efetivo de 50 elementos. Esta missão de carácter humanitário visava a distribuição de alimentos, porém os meios empregados nesta missão simplesmente não estavam corretamente dimensionados para a crise que se propunham resolver.

De igual modo, e apesar de em Março do mesmo ano a ONU ter conseguido que 2 dos principais clãs que combatiam pelo controle de Mogadíscio assinassem um acordo de paz, o certo é que mesmo assim os membros das Nações Unidas que se encontravam no terreno não conseguiam fazer chegar os alimentos às populações necessitadas. Nesta altura a própria comida que era distribuída como ajuda humanitária passou a ser utilizada como uma arma e como elemento de extorsão, com os clãs a exigirem pagamentos para garantir a sua distribuição.

Em Agosto de 1992 o Presidente Norte-americano George W. Bush autoriza voos de apoio humanitário, dando, assim, origem à Operação “Provide Relife”, que determinou um acréscimo significativo da entrada de alimentos no país. No entanto, esta operação, à semelhança da UNOSOM, atingia os seus limites de sucesso uma vez que os bens alimentares desembarcavam dos respectivos cargueiros. Com efeito, continuava a ser impossível fazer circular os alimentos no terreno até às populações necessitadas. E mesmo existindo diversos reforços às forças que constituíam a UNOSOM, a segurança no país não melhorava. Exemplo desta insegurança é o ataque, a um navio de transporte de mantimentos, não tendo, este conseguido aportar e, consequentemente, descarregar os bens vitais que transportava.

No dia 3 de Dezembro é aprovada pelo CSONU a resolução nº 794. No dia seguinte o Presidente dos EUA, durante um discurso à nação, anuncia o início da Operação “Restore Hope”. Esta operação tinha 2 objetivos bem definidos, o primeiro dos quais consistia em proporcionar ajuda humanitária, sendo que o segundo se pautava pelo estabelecimento da ordem e paz no sul da Somália. Para esse efeito, foi constituída uma aliança internacional (UNITAF), através da qual os EUA iriam fornecer forças militares e assegurar o comando da força internacional. Com efeito, a intenção era conseguir uma rápida estabilização da situação para que depois o comando das operações pudesse passar para alçada da ONU.

A Operação “Restore Hope” era constituída por 21 países, num total de 38 mil homens, dos quais 30 mil pertenciam às forças armadas norte-americanas. Desta forma a UNITAF disponha de uma força suficientemente musculada que conseguiu garantir a segurança do porto e aeroporto de Mogadíscio. Da mesma forma, foram feitas inúmeras apreensões de armamento, numa tentativa de desarmar os clãs, nesta altura a ajuda humanitária começa a chegar às populações.

Neste panorama, com a melhoria das condições de segurança no sul da Somália, já era possível fazer uma transição de poderes da UNITAF para o comando da ONU. De qualquer forma o Secretário – geral da ONU, Boutros-Ghali, alertou para o fato de que tal transição só devia ser feita quando as partes responsáveis pela guerra civil e os inúmeros grupos armados tivessem sido desarmados. Contudo, no dia 26 de Março de 1993, segundo a resolução nº 814 do CSONU, dá-se início à UNOSOM II. Pela primeira vez uma operação da ONU é baseada no Capítulo VII da Carta das Nações Unidas. Porém, este mandato visava atingir objetivos muito maiores, pois além de ter como objetivo garantir um ambiente seguro, este mandado pretendia ainda que fossem tomadas medidas destinadas à reconstrução das instituições políticas e econômicas da Somália. O Comando desta força foi atribuído ao Tenente General Turco Cevik Bir, constituindo, por sua vez, o Almirante da Marinha Norte-Americana Jonathan How como Representante Especial do Secretário – geral da ONU. Desta vez os EUA desempenhariam um papel de apoio logístico, sendo certo que 3.000 homens dos 4.500 que estavam no terreno desempenhavam este tipo de missão e os restantes 1.150 homens constituíam a Força de Reação Rápida (FRR) da ONUSOM II. Esta força era constituída por elementos do 2º Batalhão do 14ª Regimento da 10ª Divisão de Montanha do US Army e era comandada pelo Major General Thomas M. Montgomery, proveniente do exército norte-americano.

A operação de imposição de paz que estava sendo levada a cabo pelas forças internacionais começou a afetar as bases de poder dos clãs. De fato, estes já não conseguiam confiscar os bens alimentares que seguiam nas colunas, para mais tarde distribuírem conforme os seus interesses e, por outro lado, o facto das ONG´s já não terem de pagar para garantir a sua segurança, eliminava outra fonte de receita para os clãs. Agora existia uma força internacional capaz de proceder ao desarmamento dos grupos somalis, em conformidade com o previsto na resolução da ONU que legitimava a sua presença e atuação.

O partido político/grupo armado ANS, liderado pelo General Aidid era constituído principalmente por membros do clã Hawive. Este demonstrou ser o mais hostil perante as forças internacionais. O ANS, além de ter realizado diversas emboscadas às forças internacionais, utilizava uma rádio-pirata como forma de difundir propaganda. Nesta rádio por várias vezes foi incentivada a violência contra as forças internacionais. Por esta razão, o Tenente General Cevik Bir atribuiu à Brigada Mecanizada Ligeira Paquistanesa a missão de fechar a rádio e pôr fim às suas transmissões. No dia 5 de Junho de 1993, quando a força paquistanesa se preparava para executar a missão atribuída, foi emboscada, alegadamente por membros da ANS. A força internacional sofreu 24 baixas e 50 feridos. No dia seguinte o CSONU aprova a resolução nº 837, na qual é autorizado o emprego dos meios necessários à captura dos responsáveis pelo ataque aos militares paquistaneses.

O principal objetivo das forças da ONU passou a ser a captura do General Aidid e pôr um fim às ações do ANS. Uma vez que a missão da Força internacional tinha sido alterada, os comandantes da FRR e da ONUSOM II avaliam a situação e, para garantirem um maior poder de fogo, pedem a alocação de aeronaves AC-130H Spectre, sendo-lhes, em resposta, destacadas 4 unidades. As forças internacionais cumprem, assim, o seu novo mandato, terminando com as transmissões rádio, desarmando a ANS, destruindo os seus postos de comando e armazéns de armamento. Não obstante, apesar das operações das forças internacionais estarem tendo sucesso, seus objetivos ainda não tinham sido atingidos. A verdade é que o General Aidid ainda se encontrava no comando. Assim, por decisão do Almirante Jonathan Howe, foram dispersados pela cidade de Mogadíscio panfletos oferecendo uma recompensa de 25 mil dólares a quem entregasse o General Aidid. As operações da força internacional obrigaram a ANS a se desmobilizar. Perante o sentimento de que a ameaça já não era tão agressiva e numa tentativa de atingir uma solução política eficaz, o Almirante Jonathan Howe decide prescindir da 4 aeronaves AC-130H Spectre que tinha ao seu dispor, reenviando-os para a sua base de origem na Itália. Numa demonstração de poder, as forças da ANS realizaram ataques com granadas de morteiro, tanto ao aeroporto de Mogadíscio como ao heliporto da FRR.

Considerando a capacidade militar demonstrada pela ANS nos últimos ataques e revelando-se incapazes de cumprir o objetivo da sua missão, o Comandante da FRR e o Representante do Secretário – geral da ONU, solicitam que lhes seja alocado um batalhão de Operações Especiais. Após ter sido autorizado o reforço com este tipo de unidade, foi criada a Task Force Ranger (TFR), constituída por elementos do 1º Destacamento de Operações Especiais Delta, elementos do 3º Batalhão do 75º Regimento Ranger, apoio aéreo com uma unidade proveniente do 160º Regimento de Aviação Especial e uma equipe de informações com ligações à Central Inteligence Agency (CIA). A TFR, ficou acantonada no Aeroporto de Mogadíscio e era comandada pelo Major General William F. Garrinson. O nome de código atribuído à operação de captura do General Aidid, foi Operação “Gothic Serpent”.

Uma vez que as informações relativas ao paradeiro do General Aidid eram fragmentárias e pouco precisas, nos 5 Raids que a TFR executou, nunca conseguiu capturar o líder da ANS. Por outro lado, a ANS, em mais uma demonstração de força, realizou várias emboscadas às forças da UNOSOM II e da FRR, tendo conseguido, nomeadamente, abater um MH-60 Blackhawk, com um Rockt-Propellded Grenade (RPG) de origem russa, assim como realizou ataques ao aeroporto de Mogadíscio com granadas de morteiro. O Major General Thomas M. Montgomery, apercebendo-se da escalada de violência e da incapacidade da sua FRR de fazer face à ameaça, pede para ser reforçado com meios blindados, nomeadamente, por Viaturas de Combate de Infantaria Bradley. Tal pedido não foi aceito pelo Secretário da Defesa Norte-Americano Les Aspin, afirmando este que a introdução de blindados poderia por si só originar um aumento da violência . Apesar de todos estes condicionamentos, a TFR mantinha-se confiante de que iria capturar o General Aidid.


A Batalha de Mogadíscio

No dia 3 de Outubro de 1993, aproximadamente às 15:00 horas, o Comandante da Task Force Ranger (TFR) foi informado de que elementos importantes dentro da cadeia de comando da ANS iriam estar reunidos num edifício localizado no Mercado de Bakara perto do Hotel Olyimpic.

A modalidade de ação seria em tudo semelhante à previamente executada nas 5 missões anteriores. Para tal, a TFR seria dividida em 3 grupos: o grupo de assalto, constituído pela equipe Delta; o grupo de segurança com 2 pelotões divididos em 4 equipes de combate denominadas chalks, da Companhia Bravo do 3º Batalhão Ranger; e o grupo de exfiltração, constituído por elementos da Companhia Bravo do 3º Batalhão Ranger. O grupo de assalto e o grupo de segurança seriam infiltrados por meios aéreos enquanto o grupo de exfiltração utilizaria viaturas motorizadas ligeiras.

A ação consistiria no grupo de segurança garantindo a segurança na área do objetivo; o grupo de assalto entrando dentro do edifício alvo e capturando os elementos da ANS que aí se encontrassem. Quando o grupo de assalto tivesse cumprido a sua tarefa, o grupo de exfiltração deslocar-se-ia de uma posição de espera até ao edifício alvo, onde os prisioneiros seriam embarcados nas viaturas. Este grupo de exfiltração também serviria de meio de transporte para a retirada do grupo de assalto e do grupo de segurança.

Às 15:40 horas os grupos de assalto e de segurança já se encontravam prontos para serem infiltrados através da técnica de “fast rope” nos respectivos locais. Assim que foram infiltrados, o grupo de assalto deslocou-se para dentro do edifício efetuando a limpeza do mesmo e capturando os elementos da ANS que se encontravam no seu interior. Por outro lado, o grupo de segurança, dividido em 4 equipes, deslocou-se para os respectivos pontos de isolamento, a fim de garantir a segurança da área do objetivo.

Durante toda a operação, os 2 grupos que estavam a atuar no terreno contavam com o apoio proveniente dos helicópteros da TFR, nomeadamente dos MH-60 e AH-6. Nos primeiros momentos da operação tanto o grupo de segurança como os helicópteros estiveram sujeitos a fogos provenientes de armas ligeiras. Porém, com o passar do tempo, os chalks e os helicópteros passaram a estar cada vez mais expostos a um maior volume de fogos.

Assim que o grupo de assalto limpou o edifício e rendeu os elementos da ANS, chamou o grupo de exfiltração para se iniciar a última fase da operação, a retirada. O embarque dos prisioneiros nas viaturas demorou aproximadamente 30 minutos e, esta altura, todos os grupos da TFR que se encontravam no solo e no ar estavam sob fogo de armas leves. O grupo de exfiltração estava sendo apoiado por dois MH (Super61 e Super62). Para tal, estes helicópteros tinham que voar a uma altitude relativamente baixa, cerca de 50 metros. Uma vez que o armamento principal destes helicópteros (duas metralhadoras pesadas M-134 minigun) se encontra colocado lateralmente, os pilotos tinham que colocar as aeronaves de lado, para os atiradores poderem apoiar as forças terrestres. Porém, este tipo de manobra expõe mais as aeronaves aos fogos hostis. Nesta fase, a intensidade dos fogos já tinha aumentado bastante, estando as diferentes forças sujeitas a fogos provenientes de RPGs. Com a finalidade de melhor conseguir apoiar o grupo de exfiltração, o piloto do Super 61 coloca o mesmo perpendicularmente ao fogo inimigo, e como consequência desta manobra é atingido com uma granada de RPG no rotor traseiro do seu helicóptero. O Super61 acabaria por cair na cidade a cerca 275 m a oeste do edifício alvo.

Devido à queda do aparelho, o chalk que se encontrava no ponto de isolamento nº 2, que era o mais próximo do local da queda, dirigiu-se para o local. Quando lá chegaram, um AH-6 (Barber 51) estava decolando depois de ter conseguido socorrer 2 elementos da tripulação do Super61. A equipe de CSAR, que se encontrava no Super67 foi enviada para o local, mas quando chegou os membros da ANS já estavam lá, e o Super67 foi atingido com uma granada de RPG, o que obrigou seu piloto a realizar uma aterragem de emergência perto do aeroporto. O chalk 2 e a equipe de CSAR conseguiram criar um perímetro de segurança à volta do helicóptero caído. Os elementos restantes da TFR que se encontravam no solo, receberam ordens para se dirigirem para o local da queda. Todavia estes também estavam sendo batidos por fogos e com grande dificuldade para manobrar. O grupo de exfiltração por 2 vezes caiu em emboscadas, tendo sofrido várias baixas, sendo obrigado a regressar ao aeroporto.

Por outro lado, os restantes chalks e o grupo de assalto que estavam manobrando para chegarem ao local da queda do Super61, tiveram que montar um perímetro de segurança quando estavam a aproximadamente a 2 quarteirões deste local. Devido ao número de baixas não mais conseguiam avançar.

Numa tentativa de dar um maior apoio ao grupo de exfiltração, foi dada a missão ao MH-60 Super64, que se encontrava numa zona de espera, para avançar e dar apoio à coluna de viaturas. Assim que o Super64 chegou perto da coluna de viaturas, foi também atingido por uma granada de RPG. E acabou caindo aproximadamente a 3 km do edifício alvo. Na tentativa de conseguir isolar o local da queda do Super64, uma equipe de 2 snipers foi desembarcada próxima ao mesmo, assim como foi dada ordem ao MH-60 Super62 para apoiar os elementos infiltrados. Porém, o Super62 acabou por ter de realizar uma aterragem de emergência junto ao porto de Mogadíscio por ter sido atingido com uma granada de RPG. Foi uma questão de tempo para que a ANS acabasse por conquistar o local da queda do Super64, capturando todo o pessoal e material que se encontravam no mesmo.

Constatando que a TFR já não disponha de mais forças para conseguir reforçar as forças já empenhadas, é dada a ordem à Companhia da FRR que estava de reserva para se dirigir imediatamente para o aeroporto de Mogadíscio. Quando lá chegou foi-lhe atribuída a missão de criar um perímetro de segurança no local da queda do Super64. Assim que a Companhia da FRR entra dentro da zona de Mogadíscio controlada pela ANS, cai numa emboscada. Depois de terem conseguido se desdobrar, as forças da FRR foram obrigadas a regressar ao aeroporto devido ao elevado número de baixas e de feridos.

Nesta altura o Comandante da TFR percebe que iria ser necessário um maior potencial relativo de combate para conseguir retirar as suas forças da cidade de Mogadíscio. O Major General Montgomery começa a coordenar com as forças Paquistanesas e Malaias uma missão conjunta. Os Paquistaneses levaram para a Somália um Pelotão de Carros de Combate M-48, e a Malásia levou, com o seu contingente, Viaturas Blindadas de Transporte de Pessoal (VBTP) Condor. Depois das coordenações necessárias, ficou decidido o plano de atuação: a coluna de marcha seguiria até um ponto de fragmentação, onde a mesma se dividiria em 2, e cada uma das frações seguiria para os respectivos locais onde estariam os helicópteros caídos. A coluna era constituída por um pelotão de Carros de Combate, 2 Companhias da FRR que se encontravam embarcadas em 32 VBTP´s, e contavam com o apoio aéreo dos helicópteros de ataque AH-1F/Cobra, provenientes da 10ª Divisão de Montanha.

Por volta das 23:30, a coluna de viaturas saiu da zona do porto de Mogadíscio, dirigindo-se para o ponto de fragmentação determinado pelo Comandante de Batalhão da FRR, tendo lá chegado por volta das 00:00 do dia 4 de Outubro. Quando se deu a separação das forças, uma Companhia de Atiradores dirigiu-se para o local da queda do Super64, enquanto a outra Companhia de Atiradores e o Pelotão de Carros de Combate se dirigiram para o local da queda do Super61. Quando as forças internacionais chegaram ao Super64, não encontraram mais nenhum militar lá, nem o material dos mesmos. No local estava apenas a carcaça do helicóptero caído.

Não havendo mais nada a fazer, a Companhia destruiu aquilo que restava do Super64, e retirou-se para o ponto de fragmentação que agora se transformara em ponto de reunião. Porém, devido à dificuldade de comunicação entre o comandante da companhia e os condutores Malaios, estes levaram seus VBTPs em direção ao Estádio de Futebol, onde estava o grosso das forças Paquistanesas. A segunda coluna, depois de ter tido alguma dificuldade para encontrar o local da queda do Super61, chegou ao mesmo por volta das 02:00 horas, entrando em contato com os elementos da TFR que aí se encontravam. Depois de terem estabelecido um novo perímetro de segurança em torno do helicóptero caído e de terem embarcado todos os militares feridos e mortos nas VBTPs, a única coisa que prendia a TFR e a FRR no local era a dificuldade de retirar o corpo do piloto do Super61 que estava preso no cockpit da aeronave. Quando finalmente este foi retirado, a coluna de viaturas começou a sair do local, mas não havia espaço para todos os militares embarcarem nas viaturas. Os elementos da TFR que não se encontravam feridos viram-se obrigados a seguir as viaturas a pé, correndo. Devido ao fogo a que a coluna de viaturas estava sujeita, os condutores começaram a acelerar, e mais uma vez não pararam no ponto de reunião. Por ordem do Comandante do Batalhão ainda algumas viaturas voltaram à retaguarda para apoiarem a retirada dos elementos desembarcados. Por fim a coluna de viaturas e os elementos desembarcados atingiram o estádio de futebol onde as forças da TFR e FRR começaram o processo de reorganização e deslocamento para suas respectivas bases avançadas.


Análise dos Antecedentes

Os acontecimentos de dia 3 de Outubro de 1993 enquadram-se dentro de uma operação de apoio à paz caracterizada pela falta de consentimento para a presença das forças internacionais. Pela primeira vez na história da ONU, uma resolução do Conselho de Segurança tinha por base o Capítulo VII da carta da ONU. As forças no terreno estavam executando uma operação de Imposição da Paz. A resolução nº 814 do CS da ONU é bem explícita ao indicar que o Secretário-Geral encontra-se autorizado a utilizar todas as medidas necessárias para estabelecer a autoridade da UNOSOM II na Somália, assim como garantir o inquérito, instrução, julgamento e sentença dos responsáveis pelos ataques às forças da UNOSOM II. Todavia a UNOSOM II não possuía a estrutura policial e jurídica para garantir o correto cumprimento da resolução nº 814. Este facto leva o Representante do Secretário-Geral para a Somália, o Almirante Jonathan Howe, que com base em informações locais, conclui que o responsável era o General Aidid, tendo-se passado para a fase da sentença sem antes ter existido uma investigação apropriada.

Desta forma os objetivos da intervenção da ONU na Somália que inicialmente eram garantir o apoio humanitário à população, passaram a ser de combate com a introdução da TFR no TO. Depois do ataque de 5 de Junho de 1993 estes objetivos passaram a ser a captura do General Aidid e a desarticulação da ANS, passando a existir um Inimigo. Com a alteração dos objecivos a atingir, a UNOSOM II deixou ser capaz de manter a imparcialidade.

A surpresa, que devia ser um dos princípios fundamentais para a Operação Gothic Serpent, foi comprometida quando o General Garrison, a ONU e o Almirante Howe anunciaram que o General Aidid era o objetivo da TFR. Como consequência desta revelação pública, o General Aidid desapareceu, privando a  TFR da surpresa estratégica.Todas as informações relativas ao seu paradeiro eram suposições. A perda da surpresa operacional ocorreu quando a TFR, com base nas informações disponíveis realiza o primeiro raid na tentativa de capturar o General Aidid.

Embora a fase da execução do primeiro raid tenha decorrido sem erros, o alvo pretendido não foi capturado. Em vez disso, os 8 homens que se encontravam no edifício alvo e que acabaram por ser capturados eram funcionários da ONU. As missões seguintes levadas a cabo pela TFR, utilizando sempre o mesmo modus operandi e sempre com informações pouco precisas, não conseguiram capturar o General Aidid. Ao fim de 5 missões, a ANS já tinham percebido a forma como a TFR atuava, limitando desta forma a surpresa táctica.

Uma das poucas fontes de informação fidedignas que o General Garrison dispunha, era o histórico, ou seja a análise sobre os acontecimentos passados, que envolviam as forças da UNOSOM II e a ANS. E mesmo assim, esta fonte de informações foi ignorada. Uma vez que uns meses antes da TFR ter entrado no TO, a ANS tinha utilizado o RPGs como armas antiaéreas. Claramente que durante a operação de 3 de Outubro esta ameaça não foi levada a sério.

Outra decisão que claramente comprometeu o sucesso da Operação do dia 3 de Outubro, foi a decisão tomada pelo Almirante Howe e pelo General Montgomery de enviar os 4 aviões AC-130H Spectre de volta para Itália, perdendo assim o comando operacional que tinham sobre estes. Esta decisão foi tomada como medida de desanuviamento propício à resolução do conflito pela via diplomática.

Porém tal não aconteceu, tendo-se registado exatamente o contrário - as operações da ANS tornaram-se mais agressivas. Nesta altura o General Montgomery deveria ter voltado a pedir o Comando Operacional sobre os aviões AC- 130H Spectre. Caso estas aeronaves se encontrassem na Somália a 3 de Outubro, certamente que o seu sistema de armas teria conseguido apoiar as forças da TFR e FRR de forma eficaz, sem ter que se expor aos fogos provenientes do solo.

A estrutura de comando criada para a UNOSOM II, era ambígua e não permitia que as forças do Exército Norte-Americano na Somália atuassem segundo a metáfora do General Gorge S. Paton, uma orquestra onde cada instrumento completa outro numa sinfonia de violência. Esta estrutura de comando fazia com que as forças presentes no terreno obedecessem a vários “maestros”. O comandante da UNOSOM II, General Bir, não tinha relações de comando com todas as forças internacionais que estavam na Somália. O Tenente General Montgomery, desempenhava duas funções dentro da mesma cadeia de comando, era o Representante do Secretário-geral da ONU, e o de comandante das Forças Norte-Americanas na Somália. Enquanto Representante do Secretário-geral da ONU, estava subordinado, ao General Bir. Porém enquanto comandante da Forças norte-americanas o Tenente General Montgomery passava a responder perante o General Hoart. Contudo o Tenente General Montgomery, não tinha comando completo sobre todas as forças norte-americanas na Somália. Tendo apenas controle tático sobre a FRR e não tinha qualquer relação de comando com a TFR, estando esta apenas subordinada ao CENTCOM.

A duplicidade de comando que existia nas forças norte-americanas também existia nas outras forças internacionais. Durante a Batalha de Mogadíscio, quando foi necessária a utilização das unidades paquistanesas e malaias, estas não tinham relações de comando quer com o Tenente General Montgomery ou com o General Bir. As unidades Paquistanesas e as Unidades Malaias encontravam-se apenas sobre o comando das suas chefias militares nacionais. Este fato dificultou a coordenação entre as forças e o tipo de tarefas que lhes podia ser atribuído.

Ao nível do poder político, a decisão tomada pelo Secretário da Defesa Les Aspin, a quem o Tenente General Montgomery, através do General Hoar, emite um pedido para que lhe fossem atribuídos meios blindados nomeadamente Viaturas de Combate de Infantaria Bradley. Este pedido foi negado, tendo o Secretário da Defesa alegado que não iria atribuir meios blindados à força norte-americana na Somália, pois receava que tal pudesse causar uma escalada da violência. Esta decisão foi uma das que mais condicionou a forma como decorreu a Batalha de Mogadíscio.


Análise da Batalha de Mogadíscio

Como resultado direto da Batalha de Mogadíscio, a TFR e a FRR, tiveram 18 baixas, um militar desaparecido e 84 feridos. Por sua vez as forças da Malásia tiveram uma baixa, enquanto as forças Paquistanesas tiveram 2 feridos. No tocante a material, foram destruídos 2 helicópteros, 4 ficaram em fora de operação, várias VBTP´s foram destruídas, assim como jipes HMMWV e camiões M-35 .

Devido às características e objetivos da operação que a TFR executou, esta é definida segundo a doutrina do Exército Norte-Americano como sendo um Raid. Segundo a definição de raid apresentada no FM 3-21.71, a execução deste tipo de operação pode ter como objetivo entre outros, a captura de prisioneiros, contudo não é esta a característica que garante o encaixe da operação da TFR nos parâmetros de um raid. A grande diferença entre um raid e as restantes operações ofensivas de ataque, é o fato de existir uma retirada das forças assim que os objetivos da operação são atingidos. No plano para a operação da TFR existia claramente isso, ou seja, assim que o grupo de assalto tivesse o edifício limpo e os prisioneiros sob seu controle, todos os elementos da TFR, seriam retirados da zona do objetivo pelo grupo de exfiltração.

O tempo que o Comandante da TFR dispôs para planejar, preparar e iniciar a operação foi de aproximadamente 30 minutos. Tal só foi possível porque a TFR tinha 2 planos de operações já elaborados. Um para quando os seus objetivos se encontravam em deslocamento, e outro para quando estes estavam no interior de um edifício. A TFR colocou em prática o plano que previa que os seus objetivos estariam no interior de um edifício, o que resultou num “modus operandi” que repetida as operações precedentes. Se por um lado esta repetição das modalidades de ação reduzia o tempo gasto na fase de planejamento e treinos, por outro lado permitia que a ANS reagisse a tempo, pois já sabia como é que a TFR iria atuar.

A velocidade de execução era um dos pilares onde a operação da TFR se baseava. Pretendiam surpreender os elementos da ANS e garantir que não tivessem tempo para reagir. Por mais rápido que a operação fosse executada, a TFR não iria conseguiria surpreender a ANS. Segundo o Coronel da ANS Ali Aden “ If you use a tactic twice, you should not use it a third time, the next time we would make the Yankees pay”. Esta afirmação proferida por um oficial da ANS demonstra que eram conhecedores dos elementos que caracterizavam uma operação da TFR o que justifica a pronta capacidade de reação das ANS. Mal se aperceberam do aproximar dos helicópteros, já sabiam o que iria acontecer tendo conseguido roubar o elemento de surpresa que a TFR tentou incutir na sua operação.

Além da perda do elemento de surpresa a ação desenvolvida pela TFR, apresentou outra falha, que era a existência de somente de uma equipa de CSAR. Quando da queda do Super61, a TFR ainda teve a capacidade de reagir, e conseguiu garantir um perímetro de segurança em torno do helicóptero caído. O mesmo já não aconteceu quando o Super64 foi atingido. Nessa altura a TFR, já não tinha mais elementos que conseguissem manobrar a fim de garantir um perímetro de segurança à volta do Super64. Consequentemente, a TFR, perdeu flexibilidade, não conseguindo mais reagir de forma adequada, passando a ter todas as suas subunidades empenhadas.

Outro aspecto que teve um papel importante no desenrolar dos acontecimentos foi o fato de mais nenhuma unidade das forças internacionais ter sido notificada que a TFR iria desenvolver uma operação em Mogadíscio nesse dia. Quando a TFR necessitou do apoio destas forças, foi necessário realizar coordenações que atrasaram as operações de resgate.

No caso da FRR, as únicas coordenações que tinham sido feitas com esta unidade é que esta devia ter uma Companhia pronta para intervir, caso fosse necessário, não lhe tendo sido fornecidas mais informações. Quando foi necessário empregar a Companhia Charlie da FRR para tentar isolar o local da queda do Super64, estes tiveram que se deslocar da Universidade para o Aeroporto de Mogadíscio. Este deslocamento, para receberem indicações sobre qual era a sua missão, demorou cerca de uma hora. Só depois é que se iniciou o deslocamento para o local da queda do Super64, acabando por nunca lá chegar, devido às emboscadas que sofreram no itinerário. Caso tivesse existido coordenações, e a FRR tivesse a par da operação que a TFR iria desenvolver, a Companhia Charlie estaria aproximadamente a 15 minutos do local da queda do Super67.

As restantes forças da UNOSOM II também não receberam qualquer tipo de comunicado, relativo à operação da TFR. Nomeadamente as forças da Malásia e do Paquistão, as únicas com meios blindados em Mogadíscio, e só após 3 horas depois do início da operação, é que tomaram ciência dos confrontos que estavam ocorrendo na zona do Mercado de Bakara, entre a ANS e a TFR. E mesmo assim, a possibilidade de que a TFR necessitasse de apoio não foi sequer equacionada. Quando o inesperado pedido de apoio foi feito por parte do comandante da TFR, estas forças demoraram 5 horas para terem os seus meios no local determinado pelo comandante da TFR. Se somarmos mais 3 horas que foram necessárias para planejar e preparar a segunda operação de resgate entre todas as forças envolvidas, denota-se que os elementos que se encontravam em combate esperaram 8 horas. Tempo que podia ter sido reduzido substancialmente, se certas coordenações tivessem sido feitas.

No que se refere ao armamento utilizado durante a operação, as regras de engajamento da força não permitiam o emprego de material explosivo, nomeadamente lança granadas. Assim, armamento como o lança granadas de 40 mm M–203 e o lança granadas automático MK-19, que fazem parte dos quadros orgânicos das unidades constituintes da TFR, não foram empregues no raid inicial. A razão para tal deve-se ao facto deste tipo de armamento causar danos colaterais. Contudo, com o desenrolar dos acontecimentos, constatou-se que existia a necessidade de aumentar o poder de fogo das forças que estavam a resgatar os elementos já engajados. Mesmo assim a Companhia Charlie, na sua tentativa de montar um perímetro de segurança ao Super64, não foi armada com este material e mesmo quando da operação conjunta, onde foram incluídos Carros de Combate e VBTP, este armamento também não foi incluído.

O emprego dos helicópteros MH–60, pode ser analisado em duas fases: O transporte do grupo de assalto e do grupo de segurança para as respectivas posições e o apoio que estes prestaram aos elementos da TFR que estavam no solo. Durante a primeira fase não existiram problemas maiores, apenas a fumaça proveniente dos pneus queimados que servia de sistema de alerta da ANS e o pó que os próprios helicópteros levantavam do solo.

Se o primeiro não apresentou dificuldade à TFR, o fato do solo de Mogadíscio ser de terra batida, fez com que com as correntes de ar causadas pelos rotores dos helicópteros, levantassem grandes quantidades de poeira, o que dificultava a pilotagem dos mesmos aparelhos. No caso do Super67 quando este se aproximou da posição de infiltração do chalk4, o pó levantado era tanto que este foi obrigado a deixar a equipe Ranger a 2 quarteirões do local planejado.

Na segunda fase, o emprego dos MH-60 como base de apoio aos elementos que se encontravam no solo, não conseguiu ter o sucesso desejado. Quando o Super61 foi atingido com uma granada RPG, estava hoverando a uma altitude de aproximadamente 50 m. Considerando que o RPG tem um alcance de 300 m para alvos em movimento e 500 m para alvos estacionários,  e considerando o fato do Mercado de Bakara ser constituído majoritariamente por edifícios com 2 e 3 andares, a altitude a que os helicópteros estavam não lhe conferia segurança.

O posicionamento do principal sistema de armas dos MH-60, as metralhadoras pesadas M-134 Minigun na lateral das aeronaves, faz com que a mesma se tenha de colocar perpendicularmente aos fogos inimigos para conseguir adquirir seus alvos. Este posicionamento do helicóptero aumenta a área exposta. Mas a razão que justifica a baixa altitude a que os helicópteros estavam colocados quando apoiavam os elementos no solo justifica-se pela existência de uma equipe Sniper proveniente do 1º Destacamento Delta a bordo de cada MH-60, o que obrigou a posicionar os helicópteros abaixo dos 500 m para os atiradores conseguirem fazer fogo não só por uma questão de alcance (pois os fuzis M-21 utilizados por estas equipes Sniper tem um alcance superior a 690 metros) mas também devido às ROE e ao fato de, por vezes, junto a um atirador da ANS estarem não combatentes. Os atiradores que estavam prestando apoio nas aeronaves tinham que garantir que não causariam danos colaterais.

Nas anteriores 6 operações da TFR, a exfiltração era garantida pelos MH-60. Nesta operação, pelo fato de não existir uma zona de aterragem para os MH-60 próxima do Mercado de Bakara, obrigou a que a exfiltração fosse com viaturas. As viaturas que constituíam o grupo de exfiltração demonstraram não ter uma blindagem adequada à operação. Desde o momento que o grupo de exfiltração iniciou a seu deslocamento do local de espera para junto do edifício alvo, a proteção balística das suas viaturas demonstrou ser insuficiente para fazer face à ameaça. Nos primeiros momentos da operação o grupo de exfiltração teve logo uma baixa devido à fraca proteção balística do M1044 e um caminhão M35 foi destruído. Até ao momento em que o grupo de exfiltração voltou ao aeroporto o número de feridos devido à não existência de blindagem nas viaturas foi aumentando cada vez que a coluna sofria uma emboscada.



Conclusões

Podemos concluir respondendo a questões fundamentais que envolveram esta operação. O que levou à intervenção da ONU na Somália? O que levou ao planejamento e execução da Operação “Gothic Serpent”? Qual a tipologia doutrinária da Batalha de Mogadíscio? Quais os objetivos e os meios disponíveis desta batalha?

Para responder a estas questões foi necessário compreender quais as razões históricas que estiveram na origem da intervenção da ONU na Somália, os motivos que conduziram à Operação Gothic Serpent que culminou nesta operação.

A Batalha de Mogadíscio não foi uma batalha planejada; começou por ser um raid para capturar elementos da ANS e obter informações sobre o paradeiro do General Aidid. Devido à queda de um helicóptero em terreno hostil, transformou-se na maior batalha urbana a envolver forças norte-americanas desde a guerra do Vietnam.

De todos os aspectos políticos que acabaram por determinar a forma como a batalha decorreu, a não existência de meios blindados disponíveis foi a que mais condicionou a operação. A dificuldade que a TFR tinha em manobrar nas ruas de Mogadíscio não ficou devendo somente ao fato das ruas serem pouco largas ou de existirem obstáculos. A principal razão foram as inúmeras emboscadas que as colunas de viaturas sofreram ao longo das ruas. Caso tivessem existido viaturas blindadas, essas emboscadas, realizadas principalmente com armas ligeiras e RPG, teriam tido menos eficácia.


A decisão de empregar helicópteros numa área urbana e dentro do alcance dos sistemas de armas do inimigo colocou a TFR em desvantagem e sem capacidade para reagir. Se o helicóptero MH-60 Super61 não tivesse caído na parte da cidade controlada pela ANS, a TFR, possivelmente, teria conseguido cumprir a ação planejada pelo Major General Garrison. Mas, assim que a TFR necessitou pôr em prática medidas para fazer face às contingências que surgiam, começou a perder a iniciativa, capacidade de manobra e flexibilidade.

O fato da TFR repetir, ao longo das missões realizadas, a mesma modalidade de ação, também foi um condicionador para o sucesso da operação. Neste âmbito é importante referir que a ANS já tinha conhecimento da forma como a TFR dispunha as suas forças no terreno. Contudo, é de salientar que parte do sucesso que a TFR atingia em suas operações, era devido ao treino que os seus elementos tinham. A modalidade de ação empregada já tinha sido treinada inúmeras vezes e cada elemento da TFR sabia qual era a sua função.

Estudando a operação pode-se propor um plano alternativo para esta situação, acreditando ser possível atingir os objetivos a que o raid inicial da TFR se propunha. A principal razão pela qual as modalidades de ação aqui apresentadas não podem ser completamente distintas da executada naquele dia, deve-se ao fato de a TFR estar treinada para executar o raid de determinada forma. Esta alteração da forma de agir iria obrigar a um maior dispêndio de tempo na fase de planejamento e treino. Tempo este que a TFR não dispunha.

Esta análise é baseada em princípios, capacidades da TFR e na forma como a ANS agiu. Assim sendo propoem-se a seguinte modalidade de ação com o seguinte enunciado:

Finalidade da Operação:

A TFR realizará um raid com o objetivo de capturar os elementos da ANS, que se encontrem no edifício alvo.

Operação decisiva:

Uma Unidade de Operações Especiais limpa o edifício alvo a fim de capturar os elementos da ANS que se encontrem dentro do mesmo.

Operações de Moldagem:

Manobra:

Uma unidade de escalão pelotão reforçado com equipas sniper isola o edifício alvo, a fim de criar condições para a limpeza do edifício alvo.

Uma unidade de escalão companhia isola o quarteirão do edifício alvo a fim de criar condições para a limpeza do edifício alvo.

Uma unidade de escalão secção garante que após a realização da operação decisiva a TFR e os prisioneiros sejam exfiltrados do local.

Uma unidade de escalão secção apoia pelo fogo a fim de garantir a flexibilidade da TFR.

Uma unidade de escalão companhia apoia pelo fogo a fim de garantir a flexibilidade da TFR.

Fogos:

Uma unidade de Aviação Especial apoia pelo fogo as unidades das TFR através de missões de apoio aéreo próximo (CAS). A fim de criar condições para a limpeza do edifício alvo.

Conclusão da Operação:

A TFR e os elementos da ANS capturados regressam ao aeroporto de Mogadíscio.

A modalidade de ação apresentada visa garantir a surpresa, a velocidade de execução e a segurança. O fato de existirem dois grupos de segurança com o objetivo de limitar o número de elementos da ANS junto ao edifício alvo, facilita a exfiltração tanto das forças da TFR como dos prisioneiros capturados. A transferência das equipas sniper do grupo de apoio para o grupo de segurança 2 permite, não só que este grupo tenha maior poder de fogo, como consiga selecionar melhor os seus alvos diminuindo a possibilidade de existirem danos colaterais e violações das ROE.

O fato de na modalidade de ação proposta, o grupo de apoio não ser utilizado como plataforma de infiltração, não só garante uma maior capacidade de CAS, visto não estarem empenhados em outras missões, como diminui a probabilidade dos helicópteros serem atingidos por fogos provenientes do solo. O único helicóptero do grupo de apoio que tem outra missão atribuída é o helicóptero que transporta a equipa de CSAR e, aí sim, é assumido o risco de ter que infiltrar forças na área de operações.

A razão de somente existir uma equipa de CSAR dentro do grupo de apoio deve-se à especificidade da missão que estes elementos executam. Embora no desenrolar da ação, se tenha constatado que a TFR devia ter mais do que uma equipa de CSAR pronta para atuar, não seria lógico desenvolver uma modalidade de ação onde tal existisse. A equipa de CSAR da TFR, desde que chegou à Somália, treinou as suas tarefas específicas. Ora, como não existia mais nenhuma equipe Ranger ou Delta com este tipo de treino na TFR, não fazia sentido atribuir missões a forças que não se encontravam preparadas para tal. Como forma de garantir mais flexibilidade à TFR, foi atribuída à FRR a missão de apoio de fogo. Embora não esteja preconizado na modalidade de ação, seria necessário existir coordenações entre a TFR, o CENTCOM e a FRR, para que a FRR tivesse uma unidade de escalão companhia sobre o controle operacional da TFR.

A velocidade de execução seria garantida, principalmente, pelo fato de a TFR atingir o edifício alvo como um todo, ou seja, assim que o grupo de segurança tivesse em posição, o grupo de assalto iniciava a limpeza do edifício alvo, não existindo, desta forma, um compasso de espera entre uma fase da operação e a outra.

A surpresa que se constitui como um outro aspecto vital para que a TFR conseguisse executar a missão com sucesso, seria conseguida na modalidade de ação apresentada através do emprego de viaturas motorizadas para a infiltração das forças na zona da operação. A ANS espera que a TFR inicie as suas operações com helicópteros pelo que, com o afastamento dos mesmos da zona do objetivo, a TFR consegue que os grupos de segurança e o grupo de assalto consigam iniciar a operação sem que a ANS mobilize as suas forças para o local do objetivo.



quarta-feira, 21 de julho de 2021

A Evolução dos Carros de Combate nas Guerras Mundiais *218

O Carro de Combate (MBT)

João Matheus Mainardi Riffel

Antes de iniciar a Primeira Guerra Mundial, a Cavalaria se valia do uso de cavalos, empregando armas de fogo leves, lanças e espadas, cumprindo missões tanto de reconhecimento quanto de combate, sendo responsável por realizar a carga em momentos e posições decisivas para o êxito do engajamento, tornando-se peça de manobra nobre à disposição dos comandantes militares. Com a evolução tecnológica, principalmente das armas de fogo de repetição e as metralhas da artilharia, que aumentando seu alcance e realizando tiros indiretos sobre as posições inimigas, transformou o combate em linhas de trincheiras estáticas, pautado na defesa.

Desse modo, a Cavalaria tornou-se obsoleta devido a sua ineficácia em atacar posições inimigas. Durante a “Grande Guerra” (Primeira Guerra Mundial), o Reino Unido iniciou projetos para criar um veículo blindado sobre lagarta visando romper o sistema defensivo inimigo, as linhas de trincheiras, auxiliando na progressão da Infantaria. Assim, surgiram os primeiros carros de combate, conhecidos como “tanques” que, apesar de suas grandes limitações, mostraram-se eficazes meios de combate, despertando o interesse de vários países no seu aperfeiçoamento e desenvolvimento no período entre guerras. Todavia, nem todos os países lhes deram a importância devida. Enquanto ingleses e franceses procuravam desenvolver seus carros para assim facilitar a progressão da Infantaria, minimizando o poder das metralhadoras, a Alemanha focou-se em desenvolver armas químicas. Após terminada a guerra, um dos principais fatores apontados por oficiais do Alto Comando alemão responsável pela derrota, foi a insuficiente e prematura tropa blindada do país. Com destaque para Heinz Wilhelm Guderian, idealizador da doutrina Blitzkrieg, os carros de combate alteraram de forma profunda as táticas de guerra. Aliando mobilidade, potência de fogo, ação de choque, proteção blindada e comunicações amplas e flexíveis, os tanques tornaram-se peças fundamentais no combate. Portanto, procurar-se-á evidenciar uma das teorias que ampara essa pesquisa: a de que as inovações tecnológicas, aqui focadas nos carros de combate, alteram profundamente as táticas empregadas nas batalhas, tendo que se adaptar às novas capacidades dos materiais.

Combater sobre Plataformas – AKVA

A história do homem sempre esteve ligada a conflitos. Inicialmente, a luta era por suprir necessidades básicas, como fome, frio e sede. Com o passar dos anos e o desenvolvimento do homem e das sociedades, as quais ficaram mais complexas, essas lutas passaram a ser entre os próprios homens, os quais defendiam a soberania de seu povo, seus costumes e suas crenças. Tendo em vista a incansável busca por combater em superioridade, os homens perceberam a necessidade de criar plataformas móveis em associação a animais de grande porte, obtendo assim vantagem no combate, como mobilidade e ação de choque. A este avanço denominou-se “akva”, termo de origem sânscrito, e que posteriormente originaria a palavra cavalaria. O cavalo foi o animal que melhor enquadrou-se nessa forma de combater. Com sua velocidade, as tropas passaram a percorrer distâncias maiores em períodos mais curtos, além de poderem carregar mais peso. De forma tática, os animais proporcionavam uma ação de choque não obtida antes apenas pelo emprego do homem a pé. Tornou-se meio nobre de batalha, podendo exercer com velocidade, missões de reconhecimento, ligação e ataque, além do efeito psicológico que o cavalo infringe às tropas a pé, ainda hoje observado em manifestações em que uma tropa hipomóvel é empregada em operações de controle de distúrbios (GLO). Destaca-se Napoleão Bonaparte, o qual venceu diversas batalhas ao longo de sua carreira militar empregando a cavalaria em missões como “reconhecer, cobrir, retardar, envolver e perseguir”, como ainda hoje é utilizada em exércitos do mundo inteiro. Desse modo, a cavalaria tornou-se uma arma decisiva, atuando em momentos oportunos, em que se aproveitando de superioridade momentânea no combate ou da deficiência no dispositivo inimigo, ataca com velocidade e ação de choque, arrasando assim o inimigo. Diante das novas tecnologias e materiais, principalmente da metralhadora, a cavalaria hipomóvel perdeu espaço na guerra. Se avançar contra uma posição de metralhadoras a pé já era suicídio, montado a cavalo era pior ainda, pois, o alvo tornava-se maior, facilitando-se assim a pontaria. Portanto, a cavalaria teve de se reinventar e não tardou muito para essa mudança acontecer.

Durante a mesma guerra, viu-se a necessidade de romper as linhas de trincheiras. A “Grande Guerra” tornara-se estática e monótona, ficando cada lado do conflito em sua trincheira, chegando a transcorrerem dias sem ocorrer um disparo sequer. Dessa ideia, surgiram os primeiros carros de combate, os quais iniciaram a mudança na forma de pensar a guerra. Todavia, as capacidades desse novo conceito só viria a ser realmente utilizada durante a Segunda Guerra Mundial. Nela, a proteção blindada dos carros, sua mobilidade, potência de fogo e ação de choque mostraram-se decisivas, potencializando a eficiência dos exércitos.


A “Grande Guerra

A Primeira Guerra Mundial foi um conflito de amplitude global, centrado na Europa durante os anos de 1914 a 1918. Evidenciou-se em  duas fases bem definidas: a primeira e mais curta, entre agosto e novembro de 1914, destacava-se a grande movimentação dos exércitos e um combate com bastante flexibilidade e fluidez.

Dominada a área fortificada da fronteira, Os exércitos alemães prosseguiram pela Bélgica e pelo norte da França até as proximidades de Paris. No sul, em agosto de 1914, Os exércitos franceses cruzaram a fronteira na direção de Sarreburgo, com os alemães recuando e passando à contraofensiva. Foi a chamada Batalha das Fronteiras, um desastre francês. Os alemães, porém, não conseguiram com suas duas alas fechar a pinça que representaria o êxito do Plano Schlieffen.

Com o início da segunda fase, o conflito tornou-se estático e monótono, ficando conhecido como “Guerra de Trincheiras”. Fazia-se necessário, algo inovador que acabasse com a ineficácia das ações ofensivas, a fim de romper a linha de trincheiras inimigas e conquistar novas posições.

A respeito dessa fase do conflito Heinz Guderian afirmou: Nessa forma de combate, entretanto, as metralhadoras e a artilharia mostraram-se capazes de deter os ataques de uma numerosa massa de soldados; a chuva de projetis das armas modernas acabou com as cargas dos lanceiros alemães em agosto, e, agora, fazia o mesmo com os ataques à baioneta de outubro e de novembro.

Revolucionando a guerra, entraram em ação os primeiros carros de combate. O Mark I foi o primeiro carro de combate sobre lagartas a ser criado, sendo apresentado pelos ingleses em 6 de setembro de 1915, quando ainda não possuía um nome. Inicialmente nomeado de “Thins thing” (“essa coisa”, em inglês), devido a sua semelhança com um tanque d’água, o veículo ficou conhecido como tanque, além de funcionar como mecanismo para enganar os inimigos quanto a sua real função. Era tripulado por uma guarnição de 8 integrantes, tinha 4,11 de largura; 2,64 m de altura 8,05 m de comprimento. Pesava 27 ton pronto para o combate, propulsionado por um motor de 150 cv e com velocidade de campo de 6 km/h em terreno favorável, com autonomia de 38 km e blindagem de 6 a 12 mm.

Originário de um trator agrícola, o qual foi acrescentado blindagem nas laterais, a função desse veículo era, basicamente, auxiliar na progressão da Infantaria. A sua forma em losango visava facilitar a transposição de trincheiras, porém, em sua primeira versão, não possuía tamanho suficiente para realiza-la, sendo substituído por sua versão definitiva, mais longa e com nova configuração das lagartas. Construído em 2 modelos, a versão “male” (“macho” em inglês), que era equipado com 2 canhões de 57 mm instalados um de cada lado nas laterais do veículo, de modo a realizar o apoio pesado no deslocamento da Infantaria; e a versão “female” (“fêmea” em inglês), a qual era equipada com metralhadoras destinadas a destruir pequenas posições inimigas e casamatas. Apesar de sua reduzida velocidade e limitações quanto a manobra do veículo, suas lagartas conferiam ao veículo boa adequabilidade em qualquer terreno. Por ser algo inovador nos campos de batalha, aliando características como proteção blindada, potência de fogo, tamanho e barulho, sua presença provocava terror psicológico aos seus inimigos. Em contrapartida, os aliados sentiam-se mais seguros e inspirava-lhes confiança ao avançarem contra as posições inimigas ao lado de um “tanque”.

Com a missão de suprir a necessidade francesa de atravessar as trincheiras inimigas acompanhado de poder de fogo, nasceu um dos principais carros de combate da Primeira Guerra Mundial: o Renault FT 17 que foi um dos mais bem sucedidos carros de combate da Primeira Guerra Mundial. Foi o primeiro projeto clássico de tanque com recursos montados diretamente sobre o casco e uma torre com giro horizontal de 360 graus. Os veículos foram encomendados em grandes quantidades (mais de 3,000 durante a Primeira Guerra Mundial) e assim precisavam ser, por terem sido projetados visando pouca manutenção e reparos, como resultado, ficavam muitas vezes fora de ação. Uma versão de canhão autopropulsado e uma equipada com rádio estavam entre as variantes produzidas. Em ação, eles eram usados em formação cerrada. Por exemplo, 480 foram utilizados sozinhos em um contra-ataque perto de Sissons em julho de 1918. Os veículos permaneceram em serviço até 1944, quando os alemães capturaram FT 17 para combate nas ruas de Paris. Na época, sem dúvida, estavam irremediavelmente obsoletos. Tinham uma guarnição de 2 homens, mediam 1,71 m de largura, 2,133 de altura e 5,0 m comprimento com barra de sustentação. Sua autonomia era de 35,4 km e sua blindagem de 16 mm. Contavam com um armamento composto de 1 canhão de 37 mm ou 1 metralhadora e pesavam 6,6 ton, com 1 motor a gasolina de 4 cilindros que lhe permitia uma velocidade máxima em estrada 7,7 km/h.

A7V foi o único carro de combate produzido pela Alemanha durante a Primeira Guerra Mundial, durante a fase final do combate. Apenas 20 unidades foram fabricadas, estando em combate apenas entre março e outubro de 1918, não possuindo assim, grande relevância para o conflito. Até então, o país utilizava-se de blindados capturados de países inimigos, que estivessem pelo menos em razoáveis condições operacionais. Entre as deficiências do A7V, a principal encontra-se em sua baixa altura em relação ao solo, apresentando uma distância de apenas 4 cm. Com isso, o blindado apenas podia locomover-se através de estradas, mesmo possuindo lagartas. Essas eram pequenas para o veículo, o qual, devido a sua baixa velocidade, não conseguia acompanhar o deslocamento da Infantaria. Porém, motivo de orgulho destaca-se a sua blindagem que, em certos pontos, chegava a atingir a espessura de 30 mm, deixando para trás os demais carros de combate de seu tempo, como os blindados britânicos da família Mark, que possuíam blindagem máxima de 14 mm. Devido ao seu elevado espaço interno, conseguia transportar até 12 homens com seus equipamentos individuais e suas metralhadoras, permitindo assim que a Infantaria alcançasse as linhas amigas com proteção blindada, reduzindo o número de baixas. A7V “STURM PANZER WAGEN” tinha uma tripulação de 18 a 20 integrantes. Media 8 m de comprimento, 3,06 m de Largura e 3,3 m de altura. Pesava vazio 31 ton e pronto para o combate 33,5 ton. Era tracionado por 2 motores Daimler Benz que lhes proporcionavam uma velocidade máxima de 13 km/h e autonomia de 35 km. Tinha um canhão 57 mm e 6 metralhadoras de 7,9 mm.

Período entre Guerras

Os carros de combate empregados durante a Primeira Guerra Mundial possuíam diversas limitações e, principalmente, não existia ainda uma doutrina que balizasse o seu uso. Ao longo da “Grande Guerra”, os carros de combate eram empregados apenas como meios auxiliares para a progressão da Infantaria. Essa visão não perduraria por muito tempo, pois, apesar de pouco empregados, o potencial desses veículos criou ambiente fértil na imaginação de diversos líderes militares da época, que viram no blindado o futuro dos campos de batalha. Entre esses pensadores, destaca-se o General alemão Heinz Wilhelm Guderian, um dos principais teóricos sobre o emprego da Cavalaria moderna. Acompanhado de outros militares alemães, iniciou estudos detalhados sobre o emprego dos carros de combate durante o último conflito. Enquanto isso, países vencedores da Primeira Guerra, principalmente a França, apesar de fabricarem novos blindados, acomodaram-se em sua situação de vencedores, não desenvolvendo doutrinas para o emprego dessas tropas, ficando seus exércitos, praticamente, “estacionados” no tempo. Com isso, países que antes eram hegemonicos na produção de veículos blindados, como França e Grã-Bretanha, perderam seus postos para Alemanha e Rússia, principalmente nas décadas de 1920 e 1930.

O progresso nos carros de combate abordou tanto o interior quanto o exterior dos carros, oferecendo maior segurança à sua tripulação, maior independência em relação aos transportes especiais, como ferrovias, que faziam grande parte do trajeto, conduzindo os tanques de um ponto ao outro. O “design” gerou veículos dotados de maior “fluidez”, simples e funcionais, tornando-os mais eficientes. Proporcionando maior estabilidade ao tiro, as suspensões apresentaram notável desenvolvimento. Os motores tornaram-se mais potentes, como exemplificado pelo modelo Mark V britânico, o qual possuía um motor de 150 cavalos, e o modelo Vickers Independent, com peso similar ao Mk V, mas com motor de 350 cavalos, dando às tropas blindadas maior agilidade e velocidade. Assim, uma das principais deficiências dos blindados durante a Primeira Guerra, responsável por “irem por terra” diversos esquemas de manobra, estava sanada, abrindo horizontes ao desenvolvimento tático mais amplo das forças blindadas. A proteção blindada dos carros também evoluiu, aumentando a espessura, composição e qualidade do aço. Os carros de combate passaram a oferecer proteção contra a maioria dos pequenos canhões anticarro e contra o fogo das armas leves. O armamento teve sua ênfase na eficácia das armas, em sua adaptabilidade em relação ao espaço disponível e forma como poderiam ser montadas, deixando de lado o número de armas com que o carro poderia ser equipado. A visibilidade, longe da ideal, estava ao menos muito melhor que antes, graças ao aparelho ótico para os motoristas e as reformas nas seteiras, a fim de evitarem a entrada de estilhaços de granadas e ricochetes. Tudo isso proporcionava à guarnição melhor proteção. A maioria dos carros de combate maiores agora apresentava cúpulas de comando especiais que tiravam do comandante do carro a tarefa de operar o canhão e permitia-lhe o efetivo controle – especialmente nas unidades maiores – em razão da possibilidade de ver todo o veículo e ter campo de vista em 360°, independente para onde a torre principal do carro estava voltada. O uso generalizado da proteção móvel (anteparo) assegurou o necessário campo de visão ao comandante do carro; periscópios ofereceram a mesma possibilidade aos carros menores que não possuíam as cúpulas para o comandante. O desenvolvimento da parte de comando e controle foi fundamental, principalmente em maiores formações de carros. Durante a “Guerra das Guerras”, os comandantes de companhia corriam à frente de seus blindados a cavalo ou a pé, como figuras do passado. Agora, a comunicação entre a guarnição era feita por luzes, telefones internos e tubos de comunicação, enquanto a comunicação externa era realizada por radiotransmissores e receptores.

Desenvolvimentos Táticos

Com o pós-guerra, numerosas e divergentes ideias sobre o emprego das tropas blindadas surgiram por toda a Europa, sendo essas diferentes em cada país. Assim, surgiram a maior sorte de veículos blindados e táticas no período durante as duas Guerras Mundiais. Nesse processo, as três grandes potências militares da Europa, Inglaterra, França e Rússia, países vencedores da Primeira Guerra, seguiram caminhos distintos no aperfeiçoamento de suas tropas.

Inglaterra

Com o fim da guerra, os britânicos retiraram-se para sua ilha e reduziram seu exército, vendendo e desmontando a maior parte de seus veículos de combate, ficando apenas com os modelos mais recentes. Isso visava uma modernização de suas forças, buscando um exército pequeno, mas com grande mobilidade e ação de choque, coerente com a capacidade industrial da ilha. Nesse novo exército, as tropas blindadas possuiriam papel fundamental. A produção dos carros focou-se em veículos compactos e ágeis, meios eficazes de comando e controle e capacidade para realizar ataques decisivos, valendo-se da surpresa. Atrelado a isso, a exploração adequada do terreno e o emprego de cortinas de fumaça, esperava-se reduzir os danos das armas anticarro e aumentar o sucesso do ataque.

Então, chegou-se à conclusão inevitável de que o ataque de blindados deveria ser separado do ataque da infantaria, se não de forma imediata, mas ao menos totalmente na fase inicial de um ataque conjunto. Porém, ainda havia dúvidas na forma de emprego das tropas blindadas. De um lado, empregar os carros de forma independente, explorando sua velocidade e ação de choque, podendo obter uma vitória rápida que, pelas características do material, conseguiria maior extensão e profundidade; de outro, quais seriam as desvantagens em separar os carros de combate da infantaria, a qual é responsável por realizar a efetiva conquista e manutenção do terreno. Solucionando essas questões, o General Fuller, Martel, Lidell Hart e outros defenderam a ideia de reforçar as unidades de carros com elementos de infantaria, artilharia, engenharia, comunicações e logística transportados em veículos mecanizados, de modo a poderem acompanhar o deslocamento dos tanques. Como resultado, criou-se a Divisão Móvel Mecanizada. A “Divisão Móvel Mecanizada” compreendia duas brigadas de cavalaria mecanizada, cada uma com um regimento de reconhecimento mecanizado, um regimento de cavalaria (fuzileiros) motorizado e um regimento de cavalaria de carros de combate leves, reunidos a já existente brigada de carros a quatro batalhões de carros e a um número correspondente de baterias de artilharia e serviços de apoio. Os tanques tornaram-se independentes do apoio de artilharia, a qual acompanhava o ataque até onde conseguia observar e garantia o apoio de fogo aos veículos leves e médios quando engajados. Os britânicos pretendiam empregar suas forças blindadas em missões profundas na retaguarda do inimigo.

França

Diferente da Inglaterra, a França escolheu trilhar outro caminho para suas forças armadas. Para garantir suas políticas de defesa externa, os franceses mantiveram boa parte dos armamentos utilizados durante a Primeira Guerra Mundial. Com isso, a capacidade de seu exército em alcançar objetivos operacionais ficou restringida a grande quantidade de equipamentos restantes da 1ªGM e suas características técnicas. Como exemplo, as tropas blindadas mantiveram o carro Renault leve como principal carro de combate, destinado ao apoio a infantaria, muito aquém dos demais carros que estavam sendo construídos durante o pós-guerra. Consideravam os carros de combate como armas defensivas. Uma vulnerabilidade imediata devia-se ao fato do Renault ter limitações quanto à capacidade de transpor taludes, obstáculos e vaus, tornando-se inadequado, portanto, para atacar posições em terrenos difíceis. Durante vários anos, a divisão de cavalaria francesa operou com o cavalo ao lado da máquina, o que mostrou inadequado com o realizar de diversos exercícios no terreno, tendo em vista que o elemento motorizado após conquistar o terreno necessitava esperar durante longo tempo até que as unidades à cavalo chegassem ao local. Tempo esse que na guerra seria precioso, podendo custar a perda de vidas e materiais. Com isso, em 1933, criou-se a Divisão Mecanizada Ligeira, integrada inteiramente por elementos mecanizados, incluindo cerca de 250 blindados, dos quais apenas 90 eram carros de combate. Pode-se concluir que a Divisão focava-se na cavalaria como elemento apenas de reconhecimento, deixando de lado seu potencial de combate, mantendo raízes na origem da cavalaria. Os franceses estavam certos de que venceriam um confronto mesmo que atacassem de forma lenta, com sua progressão regulada pelo deslocamento da infantaria a pé. Porém, o rearmamento da Alemanha tornou-se realidade, mudando toda a situação para os franceses, os quais não possuíam mais a superioridade dos tanques e iriam enfrentar uma sólida defesa anticarro, além de aprimoradas forças blindadas e grandes formações motorizadas e mecanizadas. Acabava-se assim, a ideia do carro de combate ter sua função apenas no apoio a progressão da infantaria. Passava-se, agora, a concentrar carros de combate e maior blindagem e poder de fogo em divisões blindadas pesadas, as “Division de choc”.

Rússia

Durante a Primeira Guerra, o imenso exército russo não possuía nenhum blindado, nem mesmo uma indústria que proporcionasse a construção de carros de combate e, devido ao seu isolamento geográfico, tornou-se difícil importar tanques de países aliados. Porém, a situação mudou após a guerra civil, e a Rússia viu-se com necessidade urgente de criar uma indústria bélica nacional. De modo a produzir seu próprio carro de combate, os russos passaram a comprar e testar os melhores tanques estrangeiros, produzindo então similares, porém com modificações que abrangessem suas necessidades. Apesar de estar atrás das demais nações quanto as tropas blindadas no pós-guerra, essa mesma falta de tradição e preconceitos nesse setor impediu que a Rússia ficasse presa ao passado, como países como a França, que custou em transformar suas unidades de cavalaria a cavalo em unidades de cavalaria mecanizada. Em resumo, o que há para se dizer da maneira como os russos organizaram suas forças blindadas é o seguinte: carros de combate velozes e com grande raio de ação para atuar em profundidade; carros pesados com canhões também pesados para travar combate com os carros de combate, armas anticarro e artilharia do inimigo no ataque principal; carros leves, a maioria com metralhadoras para limpar a zona de combate para a infantaria. Por outro lado, a tripla classificação das missões pede toda gama de carros especializados, com todas as desvantagens que isso acarreta. Portanto, ao final do período entre Guerras Mundiais, a Rússia possuía um dos mais poderosos exércitos do mundo, tanto em efetivo quanto em equipamento e armamento. O tempo em que os russos não possuíam pendor para a tecnologia ficara para trás, pois, agora possuíam uma crescente indústria nacional bélica, além de contar com riqueza de recursos naturais.

A 2ª Guerra Mundial

Em 1 de setembro de 1939 iniciava-se o maior conflito da história da humanidade, abrangendo proporções globais e envolvendo as principais potências mundiais, as quais dedicaram todos seus meios disponíveis para a conquista da vitória. De um lado do conflito estava os Aliados, formados por, principalmente, URSS, Reino Unido, França e Estados Unidos, além de outras nações de menor relevância. Do outro lado encontravam-se as potências do Eixo, lideradas pela Alemanha nazista durante todo o período da guerra. Revolucionando as táticas de guerra, a Alemanha inicia a guerra com sucessivas vitórias. Os aliados não estavam preparados para a guerra proposta pelos nazistas, “presos” às táticas e métodos utilizados durante a Primeira Guerra Mundial. A Denominada Blitzkrieg, ou “Guerra Relâmpago”, era a tática militar empregada pelos alemães, que consistia em utilizar o emprego conjunto de forças em um ataque rápido e de surpresa, com destaque para as tropas blindadas, uma espécie de doutrina de guerra aeroterrestre do US Army. Dessa forma, o conflito estático da Grande Guerra transformou-se em uma guerra de movimento durante a nova Guerra Mundial, em que o roncar dos motores dos carros de combate proporcionando velocidade, aliados a potência de fogo de seus canhões, as comunicações amplas e flexíveis, e a ação de choque desses “monstros de aço” determinavam o êxito das operações.

Carro de Combate PANZER IV

Espinha dorsal da divisão Panzer da Wehrmacht, o Panzer IV foi o único tanque alemão produzido continuamente durante todo o desenrolar da guerra, sendo produzidas cerca de 9000 unidades e alcançando sua versão final, o Ausf J, em março de 1944. Inicialmente projetado para possuir um canhão KwK de 75 mm e cano curto, além de não poder ultrapassar as 24 toneladas, os alemães viram, em 1939, sem nenhuma entrega ter sido feita, o modelo já estar em sua versão D. Essa, por sua vez, foi empregada nas campanhas da Polônia e França, encontrando seu fim durante a campanha na Rússia, em que seus defeitos não puderam mais serem ignorados, evidenciando a necessidade de um novo carro. O modelo D era ligeiramente maior que o PzKpfw III, mas tinha o mesmo formato delgado do casco e a mesma forma geral. Havia 3 compartimentos para a tripulação, com o piloto e o operador de rádio à frente, com a metralhadora do casco no lado direito e em posição ligeiramente posterior à do piloto. No compartimento de combate, a torre abrigava o comandante, o artilheiro e o municiador. O movimento de deriva da torre era impulsionado em um motor elétrico. Para o comandante havia uma cúpula proeminente, situada na parte posterior da torre, com uma boa visão circular e também escotilhas de fuga nas laterais da torre. As mudanças não pararam na versão D. Visando aumentar a proteção blindada do carro, surgiu a versão E, que possuía uma blindagem mais espessa na torre e na frente, além de uma nova cúpula. Não tardou, criou-se a versão F, pretendendo-se que fosse a última. Esse modelo é o que foi construído em maiores quantidades, trazendo de inovação um canhão 75 mm cano longo, o qual permitiu ao Panzer IV cumprir missões que antes somente eram designadas ao Panzer III, a partir de 1941.

O veículo ainda passaria por outras versões, entre elas a versão G que modificou a parte externa do tanque, acrescentado chapas adicionais na torre, uma blindagem mais espessa e saias laterais com a função de detonar projéteis HEAT prematuramente, impedindo que eles afetassem a blindagem principal. Também aperfeiçoou-se o canhão, com a instalação do canhão KwK 40 L/48 de 75 mm, permitindo ao Panzer enfrentar qualquer carro de combate no mundo. Por fim, chegou-se a versão J, lançada no final da guerra, em 1944, a qual contava com cerca de 8000 unidades. A família Panzer IV, apesar de não ser a melhor linha de carros de combate fabricada pelos alemães durante a Segunda Guerra Mundial, merece destaque, pois, foi a mais fabricada durante todo o período da guerra. Com esse veículo, a Alemanha participou de combates nos mais diversos tipos de terrenos, ajudando assim, a consolidar com êxito o esforço empreendido pelos alemães em desenvolver, adaptar e construir uma excelente tropa blindada.

Este carro (modelo D) era dotado de um canhão KwK L/24 de 75 mm; uma metralhadora MG 34 de 7,92 mm coaxial; uma metralhadora MG 34 no casco e uma metralhadora MG 34 antiaérea opcional no alto da torre. A Blindagem variava de 20 a 90 mm. Media 5,91 m de comprimento; 2,92 m de largura e 2,59 m de altura. Pesava 19,7 ton, exercendo uma pressão sobre o solo de 0,75 kg/cm². O motor Maybach HL 120 TRM V-12 com 12 cilindros em linha a diesel, desenvolvia 300 cv a 3000 rpm conferindo uma relação potência/peso de 15,22 cv/t. Alcançava uma velocidade na estrada de 40 km/h; em terreno acidentado de 20 km/h com uma autonomia de 200 km. Podia transpor obstáculos verticais de 0,6 m; valas de 2,3 m e vaus de 0,8 m. Sua rampas de até 30° e foi usado também pela Espanha, Itália e Turquia, e foi usado pela última vez pela Síria em 1967.


Carro de Combate PANTHER

Até a invasão da União Soviética com  Operação Barbarossa iniciada em 22 de junho de 1941, o Panzer IV era o mais pesado carro de combate da Alemanha, cumprindo seu papel de forma satisfatória. Porém, quando os nazistas depararam-se com o tanque T-34 dos russos, encontraram um carro completamente superior ao seu, tornando o PzKpfw IV obsoleto. A blindagem inclinada, a velocidade e a manobrabilidade do T-34 provocaram uma profunda mudança de opinião por parte dos alemães e uma nova especificação foi esboçada às pressas. Inicialmente, para economizar tempo, pensou-se em copiar inteiramente o T-34, mas o orgulho nacional impediu essa abordagem e a especificação, publicada em janeiro de 1942, simplesmente incorporava todas as características do T-34. Construído pela MAN e pela Daimler-Benz, os primeiros modelos de testes foram apresentados em setembro de 1942, porém, apenas recebendo seu batismo de fogo na Batalha de Kursk, a maior batalha de blindados da história.

Nessa ocasião, por insistência de Hitler, o carro entrou em ação pela primeira vez e seu resultado foi um completo fracasso. Não demonstrando ser confiável, o veículo apresentava problemas no motor, na suspensão e na transmissão, sendo que alguns apresentaram problemas, inviabilizando seu uso, antes mesmo de ser empregado. Havia muitas dificuldades: o motor e a suspensão eram sobrecarregados pelo excesso de peso, a refrigeração era inadequada, os motores incendiavam e as bordas das rodas apresentavam problemas. A maioria enguiçou na viagem da estrada de ferro até à frente e poucos sobreviveram ao primeiro dia. O que se pôde salvar foi mandado de volta à fábrica para ser reconstruído. Entretanto, assim que as falhas foram resolvidas, o “Panther” tornou-se um veículo de qualidade e, para muitos, é considerado o melhor carro de combate da Segunda Guerra Mundial, sendo superior ao T-34/76 e conquistando a confiança de seus tripulantes. Mais para o final da guerra, o Pantera apenas foi derrotado pela supremacia aérea e pela produção em massa de carros de combate pelos Aliados. O carro possuía um casco tradicional alemão, apresentando uma grande couraça na parte da frente, fundida em uma única peça, assim como a torre, a qual apresentava apenas dois orifícios, um para a metralhadora coaxial e outro para a visão do artilheiro. Desse modo, a proteção frontal do carro era excepcional. A suspensão, apesar de ser a melhor fabricada pelos alemães durante a guerra, que consistia em rodas intercaladas apoiadas em barras de torção, apresentava o problema de congelar quando o carro atolava na neve durante o rigoroso inverno russo. Além disso, a manutenção era complicada, devido à necessidade de se retirar as rodas externas para ter acesso às rodas internas.

Era tripulado por 5 integrantes. Estava dotado de um canhão KwK 42 L/70 de 75 mm; duas metralhadoras MG 34 de 7,92 mm; uma metralhadora MG 34 AA opcional no alto da torre. A Blindagem variava de 20 a 120 mm, e media 6,68 m de comprimento, 3,3 m de largura e 2,95 m de altura. Pesava  44,8 ton exercendo uma pressão sobre o solo de 0,88 kg/cm². O Motor Maybach HL 230 P 30 V-12 a gasolina, refrigerado a água, desenvia 700 cv a 3000 rpm, conferindo uma relação potência/peso de 15,62 cv. Atingia 46 km/h na estrada e 24 km/h em terreno acidentado; com uma autonomia de 177 km. Superava obstáculos verticais de 0,9 m; valas de 1,9 m; e vaus de 1,4 m; com ângulo máximo de rampa de 35°.

Carro de Combate TIGER II

Conhecido pelas alcunhas de “Tigre Rei” ou “Tigre Real” pelos Aliados, o Tiger II foi um projeto ousado dos alemães em construir um blindado superior em poder de fogo e proteção blindada a qualquer outro carro que pudesse ser construído pelos demais países. Entrando em ação em 1944, sendo distribuído em grupos de quatro ou cinco carros, era o carro de combate mais pesado, mais bem protegido e mais fortemente armado da Segunda Guerra Mundial. O longo e poderoso canhão de 88 mm podia superar o alcance do armamento principal de praticamente todos os tanques aliados, o que permitia ao Tiger II escolher e atacar seus alvos a seu bel-prazer. Porém, a elevada proteção blindada cobrava um preço a se pagar. O grande peso e tamanho do carro sobrecarregava o motor e a suspensão, tornando-se difícil ocultá-lo no terreno e ocasionava um baixo desempenho, deixando-o lento e, por conta disso, era, muitas vezes, deixado para trás em operações ofensivas. Além disso, a pressão sobre o solo era tamanha que não raramente o carro atolava no terreno, inviabilizando a viatura. Aliado a essas deficiências técnicas, a péssima situação alemã na guerra influenciou no êxito do emprego desses blindados durante a guerra. Quer pela complexidade do veículo ou pela deterioração do parque industrial alemão e falta de matérias-primas, a produção do veículo não abrangeu o efetivo necessário e, em face aos demais blindados dos Aliados, mesmo sendo inferiores, porém produzidos em “massa” e a perda da supremacia do espaço aéreo pelos nazistas, o “Tigre Rei” não teve grande influência durante o conflito.

Era tripulado por 5 integrantes. Seu armamento consistia de um canhão KwK 43 L/71 de 88 mm; 2 ou 3 metralhadoras MG 34 de 7,92 mm (casco coaxial e AA opcional). A Blindagem variava de 40 a 185 mm; e suas dimensões eram de 7,25 m de comprimento; 4,27 m de largura e 3,27 m de altura. Pesava 69,4 ton e exercia uma pressão sobre o solo de 1,07 kg/cm². Seu motor era um Maybach HL 230 P 30 V-12 em linha, a gasolina, refrigerado a água, desenvolvendo 600 cv a 3000 rpm que conferia uma relação potência/peso de 8,64 cv/t. Desenvolvia uma velocidade em estrada de 38 km/h e 17 km/h em terreno acidentado. Sua autonomia era de 110 km, superava obstáculos verticais de 0,85 m, valas de 2,5 m, e vaus de 1,6 m; com ângulo máximo de rampa de 35°.


Carro de Combate T-34

M. I. Koshkin, em 1936, foi incumbido de ser o projetista-chefe de uma família de tanques visando suprir a deficiência do Exército Vermelho em carros de combate e também modernizar o exército para fazer frente a um conflito, que era questão de tempo para se desencadear. No princípio de 1937 a fábrica foi incumbida de projetar um novo tanque médio, também com a configuração lagartas-e-rodas, designado A-20. O A-20, de 18 ton, era armado com um canhão de 45 mm, foi o primeiro da série apelidada “veículos à prova de granadas”, que tinham a blindagem muito inclinada, uma característica do T-34, surgido depois.

Porém, Koshkin logo percebeu que a versão com rodas e lagartas seria um erro, deixando o projeto com excesso de peso e tornando-o mais complexo. Como resultado, o projetista propôs um modelo que usasse apenas lagartas, o A-32 (futuramente nomeado T-32). Após passar por diversos testes, o modelo foi aprovado, porém, teria que aumentar sua blindagem e adotar um armamento mais potente. Como resultado dessas melhorias, surgiu o T-34 que, em 1939, começou a mobiliar as tropas blindadas do Exército Russo. O T-34 se fez notar pelo excelente formato de sua blindagem, que aumentava consideravelmente sua resistência à penetração de granadas antitanque. O armamento, um canhão de cano longo e alta velocidade de 76,2 mm, era também uma inovação para os tanques desta classe. O uso do motor a diesel V-2 de 500 cv (também usado no tanque BT-7 M) reduzia o perigo de incêndio e aumentava muito a autonomia do veículo. A suspensão Christie modificada, permitia altas velocidades, mesmo em terreno acidentado, e amplas lagartas reduziam a pressão sobre o solo ao mínimo. O projeto geral do tanque facilitava sua rápida produção em massa e simplificava sua manutenção e reparos no campo. O veículo logo mostrou-se confiável, apresentando elevado desempenho no teatro de operações, representando duas décadas de experimentações dos soviéticos em estudar e reproduzir as melhores ideias estrangeiras. Seu potente canhão e sua elevada blindagem, inovadora para a época, mostraram-se temíveis adversários dos nazistas, sendo um dos principais responsáveis pela retirada das tropas alemãs do território russo. Não à toa que é por muitos considerado o carro de combate mais decisivo da Segunda Guerra Mundial.

Tripulado por 5 integrantes, estava armado com um canhão M1944 Z1S S53 L/51 de 85 mm (T-34-85) e 2 metralhadoras DT de 7,62 mm. Sua blindagem variava de 18 a 60 mm. Media 7,5 m de comprimento (com o canhão); 2,92 de largura e 2,39 m de altura; com um peso de 32 ton, exercendo uma pressão sobre o solo de 0,8 kg/cm². O motor V-2-34 de 12 cilindros, a diesel, refrigerado a água, desenvolvia 500 cv a 1800 rpm, conferindo uma relação potência/peso de 15,62 cv/t. Desempenhava uma velocidade em estrada de 50 km/h, com um alcance de travessia de 300 km. Superava obstáculos verticais de 0,79 m; valas de 2,49 m; e tinha ângulo máximo de rampa de 32°.


Carro de Combate M4 SHERMAN

Inicialmente denominado T6, o M4 foi um projeto desenvolvido em 1940 com a finalidade de se produzir um tanque médio com canhão 75 mm e torre com giro de 360°, aproveitando-se o máximo de componentes da versão anterior, o M3, para assim facilitar a reposição de peças. Esse veículo ainda passaria por diversas modificações ao longo da guerra, sendo construídos cerca de 49230 Shermans dos mais variados modelos e empregados em diversas frentes de batalha. Essas, focaram-se no armamento, na armazenagem de munição e na suspensão do veículo. Uma das deficiências desse carro era seu canhão M3 de 75 mm, o qual disparava um projétil com velocidade inicial de 619 m/s, mostrando-se pouco eficaz frente a evolução sofrida pelas blindagens dos demais tanques. Para solucionar o problema, adaptou-se a torre do tanque médio T23, dotada de um canhão 76 mm, ao casco do Sherman, aumentando-se assim o poder de fogo do blindado. Outra deficiência notória dos primeiros Shermans era o fato de explodirem ao serem engajados por munição anticarro. Assim, diversos equipamentos foram testados no intuito de protegerem a munição armazenada no interior do carro. Colocaram-se prateleiras de munição no casco inferior, envolvidas por câmaras d’água e protegida por uma blindagem. Em maio de 1945 acrescentou-se o sufixo wet (molhado) à nomenclatura para distinguir os tanques com paiol protegido por câmaras d’água.

Ao contrário de outros carros como o Panther e o T-34 que possuíam blindagem inclinada, característica marcante desse último, a qual aumentava consideravelmente o nível de proteção do carro, os Sherman foram produzidos com laterais “retas”, as quais resultavam em uma fraca proteção. Dentre os modelos produzidos do Sherman, destaca-se o M4A3 Sherman “Firefly”, uma das variantes mais produzidas durante a Segunda Guerra Mundial, sendo o modelo preferido pelos EUA. Os alemães perceberam a superioridade desses modelos frente as demais versões do Sherman, que apresentavam canhões inferiores aos 76 mm, como o Sherman M4 Standard que possuía um canhão de 57 mm. Por conta disso, o Firefly, que possuía um cano mais longo e com maior poder de fogo, era prioridade de alvos dos nazistas em relação aos demais carros de combate das versões Sherman.

Era tripulado por 5 integrantes. Seu armamento consistia de um canhão M3 de 75 mm; uma metralhadora M1919A4 calibre .30 pol (7,62 mm) coaxial; uma metralhadora M1919A4 em uma instalação esférica na frente do casco; uma metralhadora M2 calibre .50 pol. (12,7 mm) no alto da torre e um morteiro fumígeno M3 de 2 pol. (50,8 mm) no alto da torre. Sua blindagem variava de 15 a 100 mm. Media 6,27 m de comprimento; 2,67 m de largura 3,37 m de altura. Pesava em combate: 31,6 ton com resultante pressão sobre o solo de 1 kg/cm². O motor Ford GAA V-8 em linha, a gasolina, refrigerado a água, desenvolvendo 500 cv a 2600 rpm, conferia uma relação potência/peso de 15,8 cv/t. Desempenhava 42 km/h na estrada com uma autonomia de 160 km. Podia transpor obstáculos verticais de 0,61 m; valas de 2,29 m e vaus de 0,91 m; com ângulo máximo de rampa de 31°. Entrou em serviço em 1942 e foi amplamente usado pelos Estados Unidos e pela maioria de seus aliados durante e após a segunda guerra. Também usado na Coréia e no Oriente Médio e ainda em serviço em alguns exércitos.

Consequências – Mudança Tática

Conforme os avanços tecnológicos e militares ocorrem, a tática empregada sofre mudanças. Uma tática bem-sucedida em determinado combate, muito provavelmente, estará obsoleta em um conflito posterior, devido aos avanços no armamento e equipamento. Durante o início da Primeira Guerra Mundial ainda se empregavam conceitos de ataque do século passado, apesar das metralhadoras mostrarem suas qualidades defensivas em conflitos como a Guerra Russo-Japonesa. Essas armas conseguiam suplantar um ataque inimigo a pé e, mais facilmente ainda, uma carga de cavalaria hipomóvel. Com isso, a “Grande Guerra” tornou-se uma guerra estática. Limitava-se em uma guerra de trincheiras, em que os avanços no terreno quase não existiam e, quando haviam, eram pequenas faixas de terreno. A tática empregada durante a maior parte da guerra era a de saturar a linha de trincheiras inimigas com fogos de artilharia, com o objetivo de desgastar o inimigo e abrir brechas em seu sistema defensivo. Contudo, o inimigo poderia conseguir restaurar seu sistema defensivo antes que o outro obtivesse êxito em seu ataque e assim contra-atacá-lo. Isso acarretava uma grande demora por parte de ambos os lados em conseguirem visualizar resultados em suas frentes de batalha, tornando a guerra monótona. Nesse período, a Cavalaria praticamente inexistiu, sendo a velocidade e audácia de cavalo e cavaleiro vencidas pelas centenas de tiros por minuto disparado por uma metralhadora. Porém, a necessidade de avançar às linhas defensivas inimigas com ação de choque, proteção blindada e poder de fogo fez o homem inventar os primeiros carros de combate.

Inicialmente, a tática empregada para esses “monstros de aço” era de apenas apoio a progressão da infantaria. Apesar do papel secundário durante a Primeira Guerra, já se notava que esses carros, apesar de ainda muito limitados, iniciaram a transformação da guerra estática para um conflito mais dinâmico. Dessa forma, a Cavalaria viu-se ressurgir no mesmo conflito em que parecia ser seu fim. As quatro patas de um cavalo, que tanto pelejaram durante séculos trazendo vitórias a seus exércitos em decisivas cargas, viram nas lagartas de um blindado, o seu futuro. Os tanques, como inicialmente foram chamados, não apenas facilitaram a transposição da linha de trincheiras, fazendo dessas e das metralhadoras agora inimigos não tão letais quanto antes. Esses “gigantes de aço” causavam terror aos inimigos entrincheirados, muitas vezes fazendo a formação inimiga dispersar-se, facilitando o ataque. O carro-de-combate foi originalmente desenhado como uma arma especial para resolver uma situação tática não usual: a questão das trincheiras. Potencialmente, os primeiros carros-de-combate podiam trazer o poder de fogo da artilharia e das metralhadoras através da imprevisível terra de ninguém e ofereciam mais proteção do que uma unidade de infantaria. Além disso, o propósito esperado dessa arma era apoiar a Infantaria a fim de criar uma brecha nas posições defensivas para que a Cavalaria, que estava esperando pela oportunidade desde 1914, pudesse explorar o êxito e atingir a retaguarda alemã.

Na prática, no entanto, os carros-de-combate estavam limitados a ajudar a Infantaria a penetrar no cinturão defensivo inimigo, em vez de atravessá-lo e explorar o êxito, alcançando a retaguarda inimiga. Aos poucos, os tanques conquistaram a confiança de seus usuários, os quais sentiam-se mais confiantes e protegidos para realizar um ataque e, por consequência, as missões em que esses veículos eram empregados cresceram de forma exponencial. Porém, nem tudo eram flores. Se por um lado os exércitos viram nesses carros a esperança de acabar de forma mais rápida com o conflito, por outro ainda tinham que lidar com as diversas limitações dos blindados, principalmente referente a sua mobilidade, a qual era ainda mais difícil em terrenos acidentados, ficando o carro muitas vezes reduzido em sua capacidade de manobrar e, por vezes, impedido de prosseguir em combate. Destaca-se, nesse período, a Batalha de Cambrai, ocorrida em 20 de novembro a 7 de dezembro de 1917. Considera-se essa a primeira batalha a utilizar carros de combate em massa em conjunto com demais forças, como infantaria e artilharia. Apesar do sucesso inicial do tanque Mark IV, as defesas alemãs, principalmente a artilharia, revelaram as deficiências desses carros, deixando-os inoperantes após o primeiro dia. Os carros de combate operavam em seções de 3: um usava fogo de metralhadoras buscando suprir as defesas de infantaria, e outros dois carros acompanhados pela Infantaria britânica cruzavam as trincheiras. Essas táticas funcionaram muito bem, exceto em Flesquieres Ridge, no centro do setor de Cambrai. Aqui o comandante da 51ª Divisão Hightlands, acreditando que o fogo alemão seria dirigido à blindagem, proibiu que a Infantaria se aproximasse mais que 100 jardas de seus carros de combate. Os carros de combate britânicos estavam sem apoio quando, lentamente, subiram a elevação e, um por um, atingiram o topo. O fogo direto alemão destruiu em poucos minutos 60 carros, impossibilitados de manobra. Apesar do grande número de blindados utilizados em combate, cerca de 400 pelo Reino Unido, ainda não havia uma doutrina para esses veículos, não possuíam uma tática definida de emprego, limitando-se apenas em apoiar a progressão da infantaria.

Os alemães, durante a guerra, pouco empregaram tanques, sendo o seu carro mais conhecido o A7V. Centralizaram seus esforços em táticas de infantaria e artilharia, empregando armamentos anticarro e guerra química. Ao final da 1ª GM, a derrotada Alemanha via-se sob rígidas sanções impostas pelo Tratado de Versalhes, o qual incumbia aos germânicos a responsabilidade de causar a guerra. Essas imposições abrangiam desde perda de territórios aos países fronteiriços, bem como de todas as suas colônias sobre os oceanos e no Continente Africano, até restrições ao tamanho de seu exército e indenizações financeiras em virtude dos prejuízos causados durante a guerra. Assim, o antes poderoso exército alemão agora encontrava-se sucateado e o pouco de material que sobrara fora distribuído entre os ganhadores. Mesmo que quisesse, a Alemanha não seria capaz de reproduzir os exércitos em massa e defesas estáticas de 1914-18. Em 1919, o Tratado de Versalhes limitou o Exército alemão a 100 mil combatentes profissionais permanentes, sem reservistas, exceto para forças policiais paramilitares. O mesmo tratado proibia que a Alemanha possuísse carros-de-combate, gás venenoso, aeronaves de combate e artilharia pesada. Paradoxalmente, para os alemães, essa proibição pode ter sido uma vantagem disfarçada. O orçamento de defesa e as táticas alemãs eram menos restritivas do que a dos outros exércitos, à tecnologia da era de 1918, ou dependente dela. Esses termos do Tratado causaram choque e humilhação ao orgulhoso povo alemão, contribuindo assim para a queda da República de Weimar, em 1933, e a ascensão de um ex-cabo do exército alemão durante a 1ª GM, cuja enérgica oratória encantava todos por onde passava: Adolf Hitler. A Alemanha do pós-guerra encontrava-se mergulhada em um colapso econômico e monárquico, em que filosofias extremistas encontraram terreno fértil para o seu crescimento, desde ideias comunistas a ideais ultra-nacionalistas. Hitler, ao assumir o poder, conseguiu unir o povo alemão em torno de seus ideais, reascendendo o orgulho das pessoas através de sentimentos nacionalistas. Também a economia tornou a crescer, voltando a Alemanha a figurar entre as potências europeias. Na parte militar, o país voltou a se militarizar, ignorando as normas do Tratado de Versalhes. Uma das estratégias para iniciar essa militarização foi designar alguns militares do alto escalão alemão para estudar o conflito que passara e compreender o que o país havia feito de errado, para assim melhorar o exército e prepará-lo para um futuro conflito. Dentre esses militares, destacou-se o General Hans von Seeckt. O General Hans von Seeckt, o homem que reconstruiu o Exército alemão após sua derrota, dirigiu uma completa revisão do método de guerrear alemão. Baseado em sua experiência na luta contra os russos durante a Primeira Guerra Mundial, Seeckt acreditava que um exército móvel e bem treinado era capaz de superar um exército de muito maior efetivo, mas sem mobilidade. Sob sua direção, os planejadores alemães estudaram conceitos e desenvolveram a organização e os equipamentos para realizá-los. A doutrina levou a avanços tecnológicos, ao contrário do que aconteceu em outros exércitos.

Outro pensador alemão, um dos mais brilhantes e influentes de todo o exército, Heinz Guderian, membro da Inspetoria de Tropas Mecanizadas, logo identificou uma das principais deficiências da Alemanha durante a 1ª GM que resultara em sua derrota. Ficou claro que o carro de combate era uma arma decisiva quando empregado em massa, como em Cambrai, e, em 1918, os alemães precisavam contar com o aparecimento de muitos mais e de melhores modelos. Havia duas coisas que poderiam ser feitas: realizar todo esforço para aumentar o poder defensivo da tropa ou criar nossa própria força blindada, especialmente se quiséssemos passar a ofensiva. Na verdade, deveríamos considerar ambas as alternativas, disse Guderian. Portanto, ficou claro que a falta de carros de combate foi um fator chave no insucesso alemão na Primeira Guerra. Para isso, a Alemanha iniciou seus projetos de modernização de seu exército com a construção de seus blindados, dessa forma renovando toda a sua frota. Os alemães, ao contrário, foram desprovidos de suas armas pelo Tratado de Versalhes de 1919 e puderam começar de novo. Até certo ponto, o sucesso tático alemão de 1939-42 não foi apenas pela superioridade na qualidade ou quantidade de equipamento, mas pelo fato de que os carros de combate e outros veículos alemães foram produzidos a tempo de permitir uma extensiva experimentação e treinamento antes da guerra.

Diferente disso, os britânicos e franceses possuíam poucas armas modernas, com as quais treinaram até a deflagração da Segunda Guerra Mundial; só então eles produziram em massa, em um volume enorme. Nesse período, a Alemanha passava por uma profunda transformação em sua doutrina, alterando taticamente a forma com que pensava e executava a guerra. Surge então a Blitzkrieg (guerra-relâmpago), a qual deixou o exército germânico um passo a frente dos demais exércitos, os quais ainda estavam confortáveis em suas situações de vencedores e “presos”, em grande parte, às táticas utilizadas no conflito passado, a “Grande Guerra”. Entre 1936 e 1939 ocorria na Espanha a Guerra Civil Espanhola, conflito em que os nazistas e os comunistas viram como oportunidade perfeita para testar seus equipamentos, armamentos, pessoal e, sobretudo, seus novos carros de combate. De um lado do conflito, a Alemanha apoiando a Espanha Nacionalista com seus Panzer I e II; de outro, a Rússia apoiando a República Espanhola com seu carro de combate T-26. Esse mostrou-se superior aos outros dois carros alemães, tornando-se oponente difícil de ser abatido no campo de batalha. Essa vantagem devia-se muito pelo fato do Panzer I ser dotado apenas de metralhadoras, enquanto o T-26 já possuía canhões nas versões de 37 e 45 mm. Frente a esse resultado, os alemães melhoraram seus carros de combate, criando assim o Panzer III e IV. Esses carros possuíam uma melhor relação potência/peso e lagartas compatíveis com o seu tamanho e tipo de terreno, operando com maior velocidade e ação de choque que os blindados anteriores, resultando em uma capacidade ofensiva nunca antes vista. Durante os períodos de 1939 a 1941, as unidades convencionais de infantaria encontravam-se despreparadas psicológica e tecnologicamente para derrotar um inimigo blindado que se movimenta com rapidez, especialmente quando surgia nas áreas de retaguarda e rompia as comunicações normalmente rígidas e as posições defensivas organizadas no estilo da Primeira Guerra Mundial. Para facilitar a coordenação e controle das complicadas manobras de integração de diversos elementos das Forças Armadas Alemãs, os alemães focaram-se no desenvolvimento de rádios. Na época em que Hitler começou a expandir seu exército, na metade da década de 1930, os alemães haviam desenvolvido uma família inteira de rádios altamente potentes e de baixa frequência capazes de conectar divisões e quartéis-generais superiores. Apesar de não ser uma ideia unânime até futuramente a invasão da Polônia, a importância do carro de combate mostrava-se fundamental na nova tática de guerra da Alemanha. Assim, os tanques transformaram-se de apenas elementos de apoio a Infantaria para elementos de manobra, primordiais ao ataque, não apenas empregados para realizar a perseguição e desbordamento dos inimigos, mas também para destruí-los através da ação de choque e poder de fogo. Após, em 1 de setembro de 1939, a Alemanha invadir a Polônia, ocasiona subsequentes declarações de guerra e, por fim, eclodindo na 2ª Guerra Mundial, na qual os países dividiram-se em duas alianças: os países membros do Eixo e os Aliados. Em poucas semanas, a invasão da Polônia havia sido um sucesso. Aliado ao fato dos alemães estarem com um exército bem treinado e equipado, os poloneses facilitaram a sua rápida derrota ao ainda adotarem táticas obsoletas no campo de batalha. Durante a invasão, os alemães testaram várias táticas de batalha. A primeira era a formação em cunha, a qual era formada por 3 companhias de blindados leves (Panzer I e II), sendo que uma ia à frente para abrir caminho e as outras duas nos flancos para proteger a formação. No centro, iam os tanques médios (Panzer III) e à retaguarda, complementando a formação, a infantaria motorizada para neutralizar possíveis focos de resistência durante a progressão. Também utilizou-se muito pelos alemães a formação em “V”. Ao contrário da anterior, essa era menor, não possuindo a companhia de blindados leves que progredia à frente do dispositivo. Outra formação empregada foi a formação em linha. Apesar de não proporcionar boa segurança nos flancos, como a formação em cunha e em “V”, além de dificultar a coordenação pelo líder da fração, a formação em linha proporcionava o maior poder de fogo à frente, sendo comumente utilizada durante o assalto às posições defensivas inimigas.

Menos de um ano após a invasão da Polônia, em 10 de maio de 1940, ocorria a Batalha da França, ou também conhecida como Queda da França, a qual consistiu na invasão alemã da França e dos Países Baixos. Considerando ser intransponível a região de Ardenas, área essa povoada por florestas densas e muito acidentada, os franceses concentraram seus esforços em uma faixa estreita em uma larga frente, ficando conhecida como Linha Maginot. A estrutura de comando francesa, em particular, estava montada para uma guerra de posição, mas precisava de forças para criar uma verdadeira defesa em profundidade no modelo da Primeira Guerra Mundial. Avançando rapidamente pela Floresta das Ardenas, o ataque principal alemão rompeu esta defesa linear em um de seus pontos mais fracos. No quinto dia da campanha (14 de maio de 1940), as forças móveis alemãs conduziam o tipo de exploração profunda prevista por muitos teóricos durante a década de 1930. Tais penetrações eram psicologicamente enervantes para os defensores, que, de repente, encontravam-se combatendo forças importantes do inimigo na própria retaguarda. Para realizar essa operação, a Alemanha dividiu seu exército em três Grupos de Exércitos. Ao norte, liderado pelo General Fedor von Bock, encontrava-se o Grupo de Exército B que tinha por missão invadir a Bélgica e atrair as forças francesas e britânicas. Mais ao sul estava a principal força alemã, o Grupo de Exércitos A, incumbido da missão de romper a linha francesa no rio Meuse e então atacar, dividindo as forças inimigas. Por último, mas não menos importante, o Grupo de Exércitos C com o objetivo de atacar a Linha Maginot. Como resultado, em pouco mais de 30 dias os nazistas haviam invadido os Países Baixos, a França e a Bélgica. Isso evidenciava ainda mais a importância das formações de ataque utilizando a coordenação de diversos elementos, como aviação e tropas mecanizadas, em um ataque rápido e surpreendente, ou seja, a Guerra relâmpago. A situação Aliada apenas começou a mudar quando chegaram os tanques Sherman que, apesar de inferiores à família de blindados Panzer, possuíam velocidade em torno de 35 km/h em terreno irregular, razoável blindagem e potência de fogo capaz de destruir blindados nazistas. O início da derrota alemã apenas veio acontecer em Stalingrado, na Rússia, e como último esforço alemão para retomar a iniciativa do ataque na frente Oriental ocorreu a derrota alemã na Batalha de Kursk, também ocorrida em solo russo. Essa batalha é considerada a maior batalha de blindados da história, sendo empregados cerca de 5000 veículos blindados russos, em oposição a 3000 carros alemães. Nesse combate a Guerra relâmpago não alcançou a eficiência tática esperada, muito devido pelo fato de não haver o efeito surpresa, porque os russos já estavam esperando o ataque, preparando o terreno com minas e fossos anticarro. Também destaca-se como fator fundamental para a derrota nazista o tanque T-34 russo. O Panzer IV, que até então havia cumprido bem seu papel durante todas as missões em que fora empregado, sendo o principal carro de combate alemão até então, frente ao T-34 mostrou-se um carro obsoleto. Durante a investida na Rússia, fora desenvolvida pelos nazistas a formação “Panzerkeil” (cunha blindada), utilizando conceitos da formação clássica em “V”. Essa formação possibilitava que os blindados se apoiassem mutuamente e avançassem para flanquear e explorar as fragilidades existentes nas defesas inimigas. Os tanques mais potentes encontravam-se na vanguarda (Tiger e Panzer IV) enquanto os mais leves (Panzer II e III) ficavam protegidos ao centro e, por fim, os granadeiros faziam a retaguarda da formação.

Essa formação foi desenvolvida com o objetivo de dificultar a pontaria das armas anticarro russas que tinham que ajustar as baterias várias vezes devido à velocidade e profundidade da cunha blindada. A Frente Leste de 1941/1942 foi travada entre alemães e russos. Enquanto os alemães atacavam no verão, para assim haver um solo seco que permitisse o uso dos carros de combate, os russos atacavam durante o inverno, pois, o soldado nazista não se encontrava preparado para um inverno tão rigoroso. Somado a essa espera por condições climáticas melhor, os nazistas também adiaram 41 várias vezes seus ataques por esperarem a chegada dos novos carros de combate, os Panther, superiores aos Panzer IV e que podiam fazer frente aos tanques T-34 da Rússia. Com isso, deu-se tempo necessário para o Exército Vermelho transformar Kursk em um dos lugares mais bem protegidos da Rússia. Também infringia um dos preceitos básicos da doutrina Blitzkrieg: evitar atacar um ponto forte. O desbordamento de posições defensivas ferrenhas com objetivo de cercá-las para enfraquecê-las e então atacar, ou mesmo atingir as linhas de suprimento desse local eram táticas comuns dos alemães. O número de carros utilizados durante esse combate foi tão grande que a aviação de ambos os lados, praticamente, não realizou ataque por causa dos pilotos não conseguirem distinguir os tanques devido ao seu número, a poeira e fumaça dos carros destruídos. Por fim, após imenso esforço de ambos os lados em defenderem e conquistarem posições, os alemães foram obrigados a retirarem-se da Rússia. Em 23 de julho, os russos detiveram uma ofensiva alemã e iniciaram uma contraofensiva, obrigando-os a retornarem às posições iniciais antes da batalha. Um mês depois, em agosto, uma grande ofensiva do Exército russo obrigou os alemães a se evadirem de Kursk o que, em pouco tempo, aconteceria em toda a Frente Leste. Ignorada pelos alemães, a surpresa agora estava do lado russo.