FRASE

"Quem escolhe a desonra a fim de evitar o confronto, a conseguirá de pronto, e terá o confronto na sequência."

domingo, 16 de junho de 2024

Planejamento Militar - Exame de Situação Abreviado (ESA) - (Parte 6) *240



A aplicação do PPM é o caminho natural para a solução, em nível de C2, dos problemas militares que se apresentam. Porém se lançar mão do PPM para cada situação pode não ser viável, uma vez que este pode demandar um tempo demasiado longo para seu cumprimento até se chegar ao plano de ação desejado. Existirão situações, e não serão poucas, que o comandante deverá tomar uma decisão em tempo mínimo, e uma ferramenta mais “ágil” deverá ser utilizada.

Normalmente estas situações ocorrem durante a execução de uma operação já planejada, ou não em alguns casos, onde situações novas, não previstas no planejamento inicial se tornam realidade, ou quando durante a fase de controle de uma ação em curso, fatos pertinentes anteriormente considerados apresentam-se com alterações que demandam a necessidade de revisão do exame da situação.

Solucionar problemas em tempo mínimo, portanto, demandarão a utilização de um método que permita atender a estas demandas de forma satisfatória, sejam elas militares ou não militares, permitindo dar solução de emprego eficiente dos meios que foram adjudicados à situação.

O Exame de Situação Abreviado (ESA) é empregado, normalmente, durante o desenrolar da 3ª Etapa do PPM – o Controle da Ação Planejada. Esse método é utilizado para a tomada de decisões rápidas, e consiste basicamente, de uma simplificação da primeira Etapa do PPM – o Exame da Situação.

Considerações Gerais Sobre o Método ESA

Neste contexto, serão analisados apenas os aspectos mais relevantes da situação, visando a identificar as ações necessárias à solução do problema apresentado. A decisão tomada será divulgada, normalmente, por meio de mensagens ou ordens verbais, que deverão conter instruções concisas e específicas.

O ESA também seguirá os preceitos fundamentais do método PPM, quais sejam: apresentação do problema, sua análise específica, síntese dos fatores relevantes e enumeração. Neste último preceito, a enumeração, temos a principal diferença entre o PPM e o ESA.

Enquanto no primeiro, a maior quantidade possível de fatos pertinentes deve ser analisada, no ESA serão considerados, tão somente, os fatos de “maior importância relativa”, ou seja, aqueles que mais afetem o Problema existente. O ESA foi concebido para ser realizado mentalmente. Contudo, caso haja disponibilidade de tempo, deve ser documentado e sistematizado.

Fases do Exame da Situação Abreviado

O ESA é realizado em 5 Fases:

- Missão;
- Fatores da Situação;
- Possibilidades do Inimigo (PI) e/ou Restrições Fundamentais (RF);
- Linhas de Ação (LA); e
- Decisão.

Cada uma das Fases acima citadas corresponde, em linhas gerais, a uma Fase do Exame da Situação estudado no PPM completo, sendo que, desta feita, o estudo é conduzido de forma simplificada, visando a possibilitar sua execução em curto espaço de tempo.

1ª Fase – Missão

O PPM visa a auxiliar o Comandante a conceber, detalhar e planejar a melhor maneira (Linha de Ação) de cumprir a missão que lhe foi atribuída, a qual se denomina Missão Básica. Todavia, quando da execução da operação previamente planejada, podem surgir fatos ou circunstâncias que não estavam presentes ou não foram previstos no planejamento inicial.

Para avaliar essa nova situação, à luz do método do ESA, o seguinte procedimento deve ser adotado:

1º - enunciar a Missão Básica;
2º - identificar os fatos que geraram a nova situação (missão complementar), analisando o seu inter-relacionamento com a Missão Básica, de modo a determinar a necessidade, ou não, de assumir uma nova Missão; e
3º - estudar o problema, de modo a decidir a melhor maneira de solucioná-lo.

Basicamente, as seguintes perguntas devem ser respondidas:

· A nova situação está diretamente relacionada com a missão básica?

· A nova situação interfere, de algum modo, com o efeito desejado no cumprimento da Missão Básica?

Caso as respostas a essas perguntas sejam negativas, a nova situação deverá ser ignorada, por não se constituir em um problema para o Comandante.

Cabe ressaltar que a missão complementar assumida pelo Comandante deve ser compatível com os meios de que dispõe e não se constituir em uma solução prévia para o problema, a qual somente será obtida ao final do ESA. Além disso, é preciso ter sempre em mente que a missão complementar deve ser cumprida sem que a Missão Básica seja abandonada.

Normalmente, o propósito será o mesmo propósito da Missão Básica, tendo em vista que seu cumprimento contribuirá para os efeitos desejados do escalão superior. Todavia, poderá haver casos em que o propósito da missão complementar venha a ser diferente do estabelecido na Missão Básica. É o que ocorre quando a nova situação apresentada não está relacionada diretamente com a Missão Básica e nem interfere com os efeitos desejados do escalão superior, mas, mesmo assim, constitui-se num problema que não pode ser ignorado. Como, por exemplo, ações a serem desenvolvidas por razões humanitárias, decorrentes de dispositivos previstos no Direito Internacional Público, ou mesmo ações decorrentes de preceitos legais prévios. Nesses casos, assume-se uma nova Missão.

Em resumo, esta fase do ESA deve ser cumprida observando a seguinte seqüência:

1º- Missão – enunciar a Missão Básica;

2º- Fatos que geraram o problema – identificar os fatos pertinentes que geraram a nova situação a ser enfrentada, analisando o seu “impacto” sobre a Missão Básica e concluindo sobre a necessidade ou não de assumir uma nova missão, em face das respostas às duas perguntas orientadoras; e

3º- Missão Complementar – redigir a Missão Complementar, se for o caso, tomando o cuidado para que ela não represente uma decisão prematura.


2ª Fase - Fatores da Situação

Os Fatores da Situação são os fatos pertinentes ao problema e as conclusões decorrentes.

Nesta fase, é fundamental que seja feita uma criteriosa seleção dos fatos pertinentes a serem analisados, tendo em vista que, normalmente, não se disporá do tempo necessário para enunciar todas as evidências disponíveis.

Assim, percebe-se que as conclusões advindas dos fatos pertinentes devem ser claras e precisas e servirão de base para a escolha da LA que solucionará o problema, mostrando ao comandante opções de procedimentos a serem seguidos.

Os fatos a serem analisados deverão ser aqueles de maior relevância para o Problema, o que depende, fundamentalmente, da situação específica.

Todavia, a título de orientação, vale lembrar que, em uma situação que constitua um Problema Militar, os fatos relacionados às limitações impostas pelo escalão superior, às características da área de operações, à comparação de poderes combatentes e ao tempo e distância serão, normalmente, de grande importância para a solução, tendo em vista que possibilitarão ao comandante identificar o que ele e o inimigo poderão fazer, em face da mútua oposição e das oportunidades oferecidas pelo ambiente, sem contrariar as condicionantes impostas pelo escalão superior.

Como visto, esta fase do ESA é, em essência, um resumo da segunda Fase da primeira Etapa do PPM – Entendimento da Situação.

3ª Fase - Possibilidades do Inimigo e/ou Restrições Fundamentais

O conceito de PI empregado no ESA é o mesmo do processo completo do PPM. Entretanto, esse método abreviado – o ESA – pode ser empregado para resolver problemas de qualquer tipo, mesmo aqueles em que o inimigo não intervenha, ou seja, problemas não militares.

Assim, o termo PI poderá ser substituído por Restrições Fundamentais (RF), as quais têm origem em fatores adversos que se oponham às possíveis soluções a serem empreendidas pelo Comandante.

Deve-se cumprir os seguintes passos:

- deduzir os efeitos desejados do inimigo (em princípio, a antítese dos efeitos desejados do comandante);
- identificar os possíveis objetivos do inimigo; e
- visualizar as ações específicas que permitam ao inimigo a obtenção dos seus efeitos desejados e interfiram ou afetem o cumprimento da missão básica e da missão complementar, se houver.

Essas ações constituir-se-ão nas PI. Para a formulação das RF, cumpre-se o mesmo procedimento acima descrito, substituindo-se o inimigo pelo agente capaz de gerar óbices à obtenção do efeito desejado do comandante, os quais constituir-se-ão nas RF.

Por exemplo, se o Comandante assume uma tarefa cujo efeito desejado é o socorro a um náufrago em uma área onde existam tubarões, enunciar-se-á, como efeito desejado do agente oponente, a morte do náufrago. Nesse caso, o objetivo desse agente oponente será o próprio náufrago. Por sua vez, os óbices ao efeito desejado do comandante que poderão surgir em relação a esse objetivo, e que se constituirão nas RF, serão o “ataque ao náufrago, pelos tubarões” e o “afogamento do náufrago, pela perda natural de sua resistência física”.

Cabe ressaltar que, em determinadas situações, poderão coexistir PI e RF. Seria o caso, por exemplo, em que o socorro acima mencionado estivesse sendo prestado em uma área sob ameaça, também, de submarinos inimigos. Além das RF apresentadas, seriam formuladas PI abordando as ações desses submarinos sobre a unidade envolvida na prestação de socorro.

Visando à obtenção da maior clareza possível, neste processo abreviado, as PI e/ou RF podem ser enunciadas tanto em termos de efeito desejado como de ação a empreender. De qualquer modo, porém, é conveniente que contenham detalhes que facilitem a posterior realização do confronto, tais como “quando”, “onde” e “com que magnitude” o inimigo ou o agente oponente poderá atuar.

Por exemplo, formular uma PI dizendo, simplesmente, que a força naval poderá ser atacada pela aviação inimiga não ajudará tanto quanto incluir, nessa PI, o momento preciso a partir do qual a força poderá sofrer esse ataque, o tipo dos aviões capazes de realizá-lo e o armamento que poderão empregar. Como complemento, pode-se acrescentar ainda os reforços com que o inimigo poderá eventualmente contar, especificando-se, também, o tipo de meios, a quantidade e o armamento que esses reforços poderão empregar.

Vale lembrar que, independentemente de ter sido assumida ou não uma nova missão, as PI e/ou RF consideradas no planejamento inicial permanecerão válidas, uma vez que afetam a missão básica, a qual, sob hipótese alguma, pode ser abandonada. Novas PI e/ou RF, entretanto, poderão ser formuladas, em acréscimo às primeiras, em decorrência da nova situação surgida.

4ª Fase – Linhas de Ação

As LA são formuladas, como já visto, com base nas conclusões da Fase 2. O procedimento a ser adotado também é semelhante ao do processo completo do PPM. Entretanto, as LA devem conter, no seu enunciado, um detalhamento que permita visualizar de que forma o comandante pretende implementá-las. Assim, visando a facilitar a realização do Confronto e das provas de adequabilidade, exeqüibilidade e aceitabilidade (AEA), é conveniente que os enunciados das LA possam responder ao maior número possível das perguntas “o que fazer?”, “como fazer ?”, “quando ?”, “onde ?” e “com que meios ?”. Ou seja, é como se representassem o conceito sumário da LA.

Após o enunciado das LA, ainda nesta Fase, é feito o Confronto LA x PI, simultaneamente com as provas de exeqüibilidade e de aceitabilidade.
O planejador deve, tão cedo quanto possível, descartar as LA claramente inadequadas ou inexeqüíveis.

Na prova de adequabilidade, deve-se verificar se a LA atinge um efeito compatível, em essência, magnitude e tempo, com o efeito desejado do comandante, ou seja, verificar se a LA cumpre a missão complementar, caso exista, sem impedir o cumprimento da missão básica.

A prova de exeqüibilidade é realizada como no processo completo do PPM, verificando se há condições e meios de cumprir o que se propõe, sem tornar inexeqüível a missão básica. Percebe-se que essa prova, na verdade, visa a verificar a possibilidade de sucesso de cada LA.

Na prova de aceitabilidade, deve-se analisar as vantagens e riscos decorrentes da adoção de cada uma das LA, inclusive com relação à missão básica. É avaliado, portanto, se as possíveis perdas decorrentes da adoção de cada LA compensam os ganhos que poderão ser obtidos para os efeitos desejados do comandante, ou mesmo do Superior. Acrescenta-se ainda a aceitabilidade relativa de cada LA em relação às demais. Em suma, nessa prova verifica-se a probabilidade de sucesso de cada LA.

Ao final desta Fase, o comandante selecionará uma LA para a sua Decisão.

5ª Fase - Decisão

O comandante enunciará a LA selecionada para a decisão, da maneira mais detalhada possível, de modo a estabelecer a sua ideia geral de manobra – o conceito da operação. Em seguida, deverá listar todas as ações necessárias à sua implementação, sob o título “Ações Decorrentes”. Essas ações equivalem, em verdade, à Diretiva de execução da Decisão.