FRASE

"Quem escolhe a desonra a fim de evitar o confronto, a conseguirá de pronto, e terá o confronto na sequência."
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sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

O Emprego de Veículos no Combate de Infantaria *225


Veículos de Combate de Infantaria

A Segunda Guerra Mundial demonstrou a necessidade de embarcar a infantaria em veículos dedicados, seja para cobrir as distâncias necessárias dentro do teatro de operações, acompanhar os carros de combate sem sacrificar sua alta mobilidade ou combater a partir de uma base de fogo móvel. A combinação de infantaria com veículos armados resultou em efeitos complementares com vantagens significativas, potencializando o poder de combate de ambos. A combinação do veículo com a infantaria proporciona um incremento mútuo no poder de fogo, mobilidade, proteção, capacidade no trânsito de informações e maior presteza na operação em terrenos difíceis. Além de servir como base de fogo encouraçada e transportadores de tropas, os veículos também servem como plataformas de suprimento e de evacuação médica.

Podem operar com a infantaria uma variedade de veículos, cada qual com características distintas, porem todos operam sob os mesmos princípios. Os veículos mais comumente usados junto a tropa de infantaria são o carro de combate (MBT/CC); o veículo de combate de infantaria (IFV/VCIM), a viatura blindada de transporte de pessoal (APC/VBTP) e os veículos sobre rodas multiuso de alta mobilidade.


Princípios 

O binômio infantaria x veículo de combate obedece a 3 princípios de emprego básicos que norteiam sua atuação no campo de batalha. O primeiro é que o veículo deve potencializar o poder da infantaria servindo de base de fogo móvel à tropa desembarcada, apoiando sua ação com suas armas orgânicas e suas outras características de poder de combate. O segundo é que a infantaria apoiará a manobra do veículo quando este for protagonista da ação, principalmente pela supressão de armas anticarro; e o terceiro e último princípio reza que veículos nunca operam sozinhos, assim como os soldados, contando sempre com a proteção mútua de outro veículo. 

A primeira e mais óbvia vantagem que os veículos proporcionam a infantaria é o incremento em sua mobilidade. Eles transportam os infantes em distâncias maiores e os desembarcam para combater, rompendo obstáculos como “bunkers” e edificações. A potência de fogo do veículo, que pode contar com canhões e armas automáticas de vários calibres, aliada à sua mobilidade, resulta em um efeito de choque que ajuda os infantes a alcançarem o rápido desfecho de sua ação. O veículo pode atirar com fogo letal e preciso, mesmo em movimento se contar com armas estabilizadas, em apoio ao assalto. Pode ainda prover a supressão de atiradores identificados (snipers), destruir outros veículos e posições fortificadas, evacuar feridos, oferecer cobertura em locais abertos, auxiliar na aquisição de alvos se dispor de optrônicos e imageadores, prover neblina com seus fumígenos, entre outras possibilidades.

O infante também proporciona ao veículo sua parcela de proteção, atuando principalmente na supressão de armas anticarro, na designação de alvos, na remoção de obstáculos ao seu deslocamento, no fogo contra ameaças blindadas, na exploração de pontos cegos que podem esconder ameaças, entre outras.


Características dos Veículos

Os comandantes da infantaria devem ter uma compreensão clara das capacidades e limitações de seus equipamentos. O CC, o VCIM, o VBTP e o veículo de alta mobilidade sobre rodas possuem seus próprios recursos, limitações, características e requisitos logísticos. Mesmo que seu papel para a infantaria seja praticamente o mesmo, esses veículos fornecem suporte de maneiras diferentes.


Potência de Fogo

Armas e munições são projetadas para bater alvos específicos, embora muitas sejam de múltiplos propósitos. Um líder de infantaria que tenha uma compreensão básica dessas armas e dos tipos de munição, será capaz de empregar melhor suas unidades veiculares em proveito de sua ação.

A arma principal de um carro de combate moderno (MBT/CC) é extremamente precisa e letal, com alcances 2 a 4 mil metros, com calibres de 90 a 125 mm, mais comuns. Os modelos mais recentes e sofisticados contam com canhões principais estabilizados que podem disparar efetivamente mesmo quando se deslocam em alta velocidade. O carro de combate continua a ser a melhor arma anticarro da atualidade e suas várias metralhadoras fornecem um grande volume de fogos de apoio para a infantaria. As capacidades de aquisição de alvos dos carro de combate excedem em capacidade todos os sistemas disponíveis para a  infantaria. Os sistemas de visão térmica fornecem uma capacidade significativa para observação e reconhecimento, e podem ser usados inclusive durante o dia para identificar radiação IR mesmo através de vegetação. O telêmetro laser proporciona capacidade superior para medição de distâncias e estabelecimento de procedimentos de controle de fogo. Sua munição básica são os perfuradores APDS com núcleos duros. Essa munição não é eficaz contra veículos leves blindados ou com rodas, “bunkers”, linhas de trincheiras, edificações ou pessoal. Eles também apresentam um problema de segurança quando disparam sobre as cabeças dos infantes, devido às partes descartáveis liberadas em cada disparo. A munição HE proporciona melhores efeitos destrutivos sobre os alvos mencionados, exceto contra pessoal, onde as metralhadoras são mais eficazes. O reabastecimento é difícil e requer apoio logístico sofisticado. Alguns canhões podem ter problemas de elevação, seja positiva ou negativa em terrenos restritos, como áreas urbanas.

A arma principal do VCIM normalmente consiste de um canhão de tiro rápido de 20, 25 ou 30 mm, que dispara granadas incendiárias altamente explosivas, dotadas ou não de dispositivo traçante. Estas armas são extremamente precisas e letais contra veículos levemente blindados, bunkers, linhas de trincheiras e pessoal em distancias de até 2 mil metros. Se estabilizadas, permitem fogos precisos mesmo quando se deslocam. As ATGW permitem destruir os carros de combate inimigos ou outros alvos pontuais em alcances de 3 a 4 mil metros. Metralhadoras coaxiais fornecem um alto volume de fogo supressivos para defesa pessoal e apoio à infantaria em alcances superiores a 500 metros. A combinação de armas estabilizadas, visão térmica, alto volume de fogo e os efeitos reforçadores de armas e munições, fazem do VCIM um excelente recurso de apoio para assaltos de infantaria. Tal qual os  carro de combate, podem contar com avançados sistemas de visualização e aquisição de alvos como imageadores térmicos e telêmetros laser. O reabastecimento de munição é difícil e requer apoio logístico externo. Os VBTPs geralmente são armados com mísseis anticarro (ATGW) ou metralhadoras 12,7 ou 7,62 mm, ou ambos, e podem apoiar a infantaria contra alvos “macios”, não sendo efetivos contra carro de combate ou VCIMs, a não ser que  estejam armados com as ATGWs. Os veículos de alta mobilidade sobre rodas são mais leves e geralmente embarcam apenas 1 sistema de armas, semelhantes aos usados nos VBTP.


Mobilidade

Os carros de combate combinam sua massa elevada e potência de motor para romper pequenos obstáculos como árvores e pequenas obstruções, permitindo-lhe mover-se em alta velocidade na estrada ou fora dela, atravessar rios rasos e trincheiras, e com preparação rios mais profundos. Consomem grandes quantidades de combustível e o uso constante de eletrônicos com o carro desligado consome rapidamente as baterias, exigindo que sejam ligados periodicamente, principalmente em climas muito frios, cuja baixa temperatura produz efeitos indesejáveis no motor. Produzem muito ruído, fumaça e poeira, e dependendo do terreno, o que dificulta o acompanhamento dos infantes. O M1 Abrams norteamericano produz gases de escape muito quentes (motor a turbina), o que inviabiliza que os infantes se aproximem dele, não se adequando a doutrina de exércitos, como o brasileiro, onde os infantes acompanham de perto o carro de combate. O canhão pode restringir o giro da torre em terreno restrito. Uma perda de tensão nas lagartas pode levar a um “descarrilamento”, cujo reparo pode ser demorado. Veículos muito pesados podem não ser suportados por pontes menos resistentes ou terrenos muito fofos (neste caso veículos com alta pressão sobre o solo), exigindo suporte da engenharia. Os VCIMs montados sobre lagartas partilham destas mesmas características, porém podem acomodar a infantaria em seu interior. São mais leves, e exceção daqueles baseados em chassis de MBTs, como o VCIM israelense Namer. Os VCIMs sobre rodas e VBTTs são rápidos e tem maior mobilidade estratégica, podendo rodar grandes distâncias em estradas, prescindindo de pranchas de transporte. Ambos fornecem proteção aos soldados desembarcados e podem colocá-los rapidamente em posições chaves do campo de batalha. Os pneus podem ser inflados ou esvaziados conforme o terreno, seja lama ou terreno duro. Areia, lama ou neve são melhor enfrentadas por lagartas, e pneus vazios por mais que 8 km pode incendiar o pneu. Os veículos de alta mobilidade sobre rodas tem as mesmas características de mobilidade que os VBTTs e VCIM s/ rodas.


Proteção

Geralmente, a blindagem de um carro de combate oferece excelente proteção para a tripulação. Através de um arco frontal de 60 graus, é impenetrável a todas as armas, exceto as ATGW mais potentes ou às armas principais de outros carros de combate. Ao operar com as escotilhas fechadas, a tripulação está protegida dos disparos de armas menos potentes, estilhaços de artilharia e minas AP; porém a capacidade de adquirir e engajar alvos, principalmente de infantaria próximos, fica reduzida. Os lançadores de fumígenos a bordo proporcionam uma ocultação rápida, exceto a observação térmica. As partes superior, laterais e traseira do carro de combate são vulneráveis a ATGWs mais leves. A parte superior é vulnerável a projéteis de artilharia guiados (de precisão). Minas AC podem imobilizar o veículo. Os VCIM geralmente contam com proteção contra projéteis leves como estilhaços e armas leves, além de minas AP. Os VBTT e veículos de alta mobilidade contam com proteção semelhante, porém são alvos menores e mais difíceis de engajar. Dependendo do modelo pode ser penetrado por projéteis de 12,7 mm se não contar com proteção adicional.


Informação

Nem todos os veículos são equipados com sistemas digitalmente aprimorados. Além disso, a consciência situacional e a situação do inimigo podem não ser facilmente compartilhadas com unidades de infantaria no solo. Os veículos geralmente contam com sistema táticos de situação e consciência situacional, acoplados a sistemas GPS ou similares e INS (sistema de navegação inercial), permitindo atingir locais designados com rapidez e precisão. Sistemas rádio digitais com datalink integram as diversas unidades compartilhando dados em tempo real, além de agilizarem o recebimento de ordens. Sistemas óticos integrados possibilitam a aquisição de alvos e seu compartilhamento com outras unidades. Dispõem ainda de sistemas IR para obtenção de alvos. O pessoal dentro do veículo pode ter dificuldades de visualizar a infantaria próxima e deve ser informado de sua posição, sendo desejável que sejam acompanhados, quando em velocidade reduzida, pela infantaria amiga a pé.


Tamanho e peso

Deve-se considerar sempre o tamanho e o peso dos veículos de combate que estão operando antes de empreender qualquer operação. O terreno que suporta o movimento de infantaria pode ou não suportar o movimento de veículos de combate. Estruturas como pontes, viadutos e bueiros devem ser avaliados com atenção, já que falhas estruturais podem ser mortais para os soldados nas proximidades. Muitas pontes são marcadas com sinais que indicam as capacidades de carga da estrutura, outras não, e outras podem ter marcação incorreta feita pelo inimigo. Em outras áreas, os soldados de infantaria devem confiar nas sobreposições de reconhecimento de rotas que mostram as capacidades de transporte das rotas que estão sendo usadas, porém deve-se sempre usar de cautela e evitar infraestruturas suspeitas.

Conclusão

Os veículos de combate de infantaria se prestam ao apoio do combatente de infantaria multiplicando seu poder de combate, e a acompanhar os carros de combate principais, proporcionando a estes proteção contra a infantaria inimiga. Serve ao mesmo tempo como "táxi" de combate e unidade de apoio, garantindo que os infantes tenham velocidade quando necessitam acompanhar os blindados principais e poder de fogo superior em embates contra infantaria inimiga. 




quarta-feira, 21 de julho de 2021

A Evolução dos Carros de Combate nas Guerras Mundiais *218

O Carro de Combate (MBT)

João Matheus Mainardi Riffel

Antes de iniciar a Primeira Guerra Mundial, a Cavalaria se valia do uso de cavalos, empregando armas de fogo leves, lanças e espadas, cumprindo missões tanto de reconhecimento quanto de combate, sendo responsável por realizar a carga em momentos e posições decisivas para o êxito do engajamento, tornando-se peça de manobra nobre à disposição dos comandantes militares. Com a evolução tecnológica, principalmente das armas de fogo de repetição e as metralhas da artilharia, que aumentando seu alcance e realizando tiros indiretos sobre as posições inimigas, transformou o combate em linhas de trincheiras estáticas, pautado na defesa.

Desse modo, a Cavalaria tornou-se obsoleta devido a sua ineficácia em atacar posições inimigas. Durante a “Grande Guerra” (Primeira Guerra Mundial), o Reino Unido iniciou projetos para criar um veículo blindado sobre lagarta visando romper o sistema defensivo inimigo, as linhas de trincheiras, auxiliando na progressão da Infantaria. Assim, surgiram os primeiros carros de combate, conhecidos como “tanques” que, apesar de suas grandes limitações, mostraram-se eficazes meios de combate, despertando o interesse de vários países no seu aperfeiçoamento e desenvolvimento no período entre guerras. Todavia, nem todos os países lhes deram a importância devida. Enquanto ingleses e franceses procuravam desenvolver seus carros para assim facilitar a progressão da Infantaria, minimizando o poder das metralhadoras, a Alemanha focou-se em desenvolver armas químicas. Após terminada a guerra, um dos principais fatores apontados por oficiais do Alto Comando alemão responsável pela derrota, foi a insuficiente e prematura tropa blindada do país. Com destaque para Heinz Wilhelm Guderian, idealizador da doutrina Blitzkrieg, os carros de combate alteraram de forma profunda as táticas de guerra. Aliando mobilidade, potência de fogo, ação de choque, proteção blindada e comunicações amplas e flexíveis, os tanques tornaram-se peças fundamentais no combate. Portanto, procurar-se-á evidenciar uma das teorias que ampara essa pesquisa: a de que as inovações tecnológicas, aqui focadas nos carros de combate, alteram profundamente as táticas empregadas nas batalhas, tendo que se adaptar às novas capacidades dos materiais.

Combater sobre Plataformas – AKVA

A história do homem sempre esteve ligada a conflitos. Inicialmente, a luta era por suprir necessidades básicas, como fome, frio e sede. Com o passar dos anos e o desenvolvimento do homem e das sociedades, as quais ficaram mais complexas, essas lutas passaram a ser entre os próprios homens, os quais defendiam a soberania de seu povo, seus costumes e suas crenças. Tendo em vista a incansável busca por combater em superioridade, os homens perceberam a necessidade de criar plataformas móveis em associação a animais de grande porte, obtendo assim vantagem no combate, como mobilidade e ação de choque. A este avanço denominou-se “akva”, termo de origem sânscrito, e que posteriormente originaria a palavra cavalaria. O cavalo foi o animal que melhor enquadrou-se nessa forma de combater. Com sua velocidade, as tropas passaram a percorrer distâncias maiores em períodos mais curtos, além de poderem carregar mais peso. De forma tática, os animais proporcionavam uma ação de choque não obtida antes apenas pelo emprego do homem a pé. Tornou-se meio nobre de batalha, podendo exercer com velocidade, missões de reconhecimento, ligação e ataque, além do efeito psicológico que o cavalo infringe às tropas a pé, ainda hoje observado em manifestações em que uma tropa hipomóvel é empregada em operações de controle de distúrbios (GLO). Destaca-se Napoleão Bonaparte, o qual venceu diversas batalhas ao longo de sua carreira militar empregando a cavalaria em missões como “reconhecer, cobrir, retardar, envolver e perseguir”, como ainda hoje é utilizada em exércitos do mundo inteiro. Desse modo, a cavalaria tornou-se uma arma decisiva, atuando em momentos oportunos, em que se aproveitando de superioridade momentânea no combate ou da deficiência no dispositivo inimigo, ataca com velocidade e ação de choque, arrasando assim o inimigo. Diante das novas tecnologias e materiais, principalmente da metralhadora, a cavalaria hipomóvel perdeu espaço na guerra. Se avançar contra uma posição de metralhadoras a pé já era suicídio, montado a cavalo era pior ainda, pois, o alvo tornava-se maior, facilitando-se assim a pontaria. Portanto, a cavalaria teve de se reinventar e não tardou muito para essa mudança acontecer.

Durante a mesma guerra, viu-se a necessidade de romper as linhas de trincheiras. A “Grande Guerra” tornara-se estática e monótona, ficando cada lado do conflito em sua trincheira, chegando a transcorrerem dias sem ocorrer um disparo sequer. Dessa ideia, surgiram os primeiros carros de combate, os quais iniciaram a mudança na forma de pensar a guerra. Todavia, as capacidades desse novo conceito só viria a ser realmente utilizada durante a Segunda Guerra Mundial. Nela, a proteção blindada dos carros, sua mobilidade, potência de fogo e ação de choque mostraram-se decisivas, potencializando a eficiência dos exércitos.


A “Grande Guerra

A Primeira Guerra Mundial foi um conflito de amplitude global, centrado na Europa durante os anos de 1914 a 1918. Evidenciou-se em  duas fases bem definidas: a primeira e mais curta, entre agosto e novembro de 1914, destacava-se a grande movimentação dos exércitos e um combate com bastante flexibilidade e fluidez.

Dominada a área fortificada da fronteira, Os exércitos alemães prosseguiram pela Bélgica e pelo norte da França até as proximidades de Paris. No sul, em agosto de 1914, Os exércitos franceses cruzaram a fronteira na direção de Sarreburgo, com os alemães recuando e passando à contraofensiva. Foi a chamada Batalha das Fronteiras, um desastre francês. Os alemães, porém, não conseguiram com suas duas alas fechar a pinça que representaria o êxito do Plano Schlieffen.

Com o início da segunda fase, o conflito tornou-se estático e monótono, ficando conhecido como “Guerra de Trincheiras”. Fazia-se necessário, algo inovador que acabasse com a ineficácia das ações ofensivas, a fim de romper a linha de trincheiras inimigas e conquistar novas posições.

A respeito dessa fase do conflito Heinz Guderian afirmou: Nessa forma de combate, entretanto, as metralhadoras e a artilharia mostraram-se capazes de deter os ataques de uma numerosa massa de soldados; a chuva de projetis das armas modernas acabou com as cargas dos lanceiros alemães em agosto, e, agora, fazia o mesmo com os ataques à baioneta de outubro e de novembro.

Revolucionando a guerra, entraram em ação os primeiros carros de combate. O Mark I foi o primeiro carro de combate sobre lagartas a ser criado, sendo apresentado pelos ingleses em 6 de setembro de 1915, quando ainda não possuía um nome. Inicialmente nomeado de “Thins thing” (“essa coisa”, em inglês), devido a sua semelhança com um tanque d’água, o veículo ficou conhecido como tanque, além de funcionar como mecanismo para enganar os inimigos quanto a sua real função. Era tripulado por uma guarnição de 8 integrantes, tinha 4,11 de largura; 2,64 m de altura 8,05 m de comprimento. Pesava 27 ton pronto para o combate, propulsionado por um motor de 150 cv e com velocidade de campo de 6 km/h em terreno favorável, com autonomia de 38 km e blindagem de 6 a 12 mm.

Originário de um trator agrícola, o qual foi acrescentado blindagem nas laterais, a função desse veículo era, basicamente, auxiliar na progressão da Infantaria. A sua forma em losango visava facilitar a transposição de trincheiras, porém, em sua primeira versão, não possuía tamanho suficiente para realiza-la, sendo substituído por sua versão definitiva, mais longa e com nova configuração das lagartas. Construído em 2 modelos, a versão “male” (“macho” em inglês), que era equipado com 2 canhões de 57 mm instalados um de cada lado nas laterais do veículo, de modo a realizar o apoio pesado no deslocamento da Infantaria; e a versão “female” (“fêmea” em inglês), a qual era equipada com metralhadoras destinadas a destruir pequenas posições inimigas e casamatas. Apesar de sua reduzida velocidade e limitações quanto a manobra do veículo, suas lagartas conferiam ao veículo boa adequabilidade em qualquer terreno. Por ser algo inovador nos campos de batalha, aliando características como proteção blindada, potência de fogo, tamanho e barulho, sua presença provocava terror psicológico aos seus inimigos. Em contrapartida, os aliados sentiam-se mais seguros e inspirava-lhes confiança ao avançarem contra as posições inimigas ao lado de um “tanque”.

Com a missão de suprir a necessidade francesa de atravessar as trincheiras inimigas acompanhado de poder de fogo, nasceu um dos principais carros de combate da Primeira Guerra Mundial: o Renault FT 17 que foi um dos mais bem sucedidos carros de combate da Primeira Guerra Mundial. Foi o primeiro projeto clássico de tanque com recursos montados diretamente sobre o casco e uma torre com giro horizontal de 360 graus. Os veículos foram encomendados em grandes quantidades (mais de 3,000 durante a Primeira Guerra Mundial) e assim precisavam ser, por terem sido projetados visando pouca manutenção e reparos, como resultado, ficavam muitas vezes fora de ação. Uma versão de canhão autopropulsado e uma equipada com rádio estavam entre as variantes produzidas. Em ação, eles eram usados em formação cerrada. Por exemplo, 480 foram utilizados sozinhos em um contra-ataque perto de Sissons em julho de 1918. Os veículos permaneceram em serviço até 1944, quando os alemães capturaram FT 17 para combate nas ruas de Paris. Na época, sem dúvida, estavam irremediavelmente obsoletos. Tinham uma guarnição de 2 homens, mediam 1,71 m de largura, 2,133 de altura e 5,0 m comprimento com barra de sustentação. Sua autonomia era de 35,4 km e sua blindagem de 16 mm. Contavam com um armamento composto de 1 canhão de 37 mm ou 1 metralhadora e pesavam 6,6 ton, com 1 motor a gasolina de 4 cilindros que lhe permitia uma velocidade máxima em estrada 7,7 km/h.

A7V foi o único carro de combate produzido pela Alemanha durante a Primeira Guerra Mundial, durante a fase final do combate. Apenas 20 unidades foram fabricadas, estando em combate apenas entre março e outubro de 1918, não possuindo assim, grande relevância para o conflito. Até então, o país utilizava-se de blindados capturados de países inimigos, que estivessem pelo menos em razoáveis condições operacionais. Entre as deficiências do A7V, a principal encontra-se em sua baixa altura em relação ao solo, apresentando uma distância de apenas 4 cm. Com isso, o blindado apenas podia locomover-se através de estradas, mesmo possuindo lagartas. Essas eram pequenas para o veículo, o qual, devido a sua baixa velocidade, não conseguia acompanhar o deslocamento da Infantaria. Porém, motivo de orgulho destaca-se a sua blindagem que, em certos pontos, chegava a atingir a espessura de 30 mm, deixando para trás os demais carros de combate de seu tempo, como os blindados britânicos da família Mark, que possuíam blindagem máxima de 14 mm. Devido ao seu elevado espaço interno, conseguia transportar até 12 homens com seus equipamentos individuais e suas metralhadoras, permitindo assim que a Infantaria alcançasse as linhas amigas com proteção blindada, reduzindo o número de baixas. A7V “STURM PANZER WAGEN” tinha uma tripulação de 18 a 20 integrantes. Media 8 m de comprimento, 3,06 m de Largura e 3,3 m de altura. Pesava vazio 31 ton e pronto para o combate 33,5 ton. Era tracionado por 2 motores Daimler Benz que lhes proporcionavam uma velocidade máxima de 13 km/h e autonomia de 35 km. Tinha um canhão 57 mm e 6 metralhadoras de 7,9 mm.

Período entre Guerras

Os carros de combate empregados durante a Primeira Guerra Mundial possuíam diversas limitações e, principalmente, não existia ainda uma doutrina que balizasse o seu uso. Ao longo da “Grande Guerra”, os carros de combate eram empregados apenas como meios auxiliares para a progressão da Infantaria. Essa visão não perduraria por muito tempo, pois, apesar de pouco empregados, o potencial desses veículos criou ambiente fértil na imaginação de diversos líderes militares da época, que viram no blindado o futuro dos campos de batalha. Entre esses pensadores, destaca-se o General alemão Heinz Wilhelm Guderian, um dos principais teóricos sobre o emprego da Cavalaria moderna. Acompanhado de outros militares alemães, iniciou estudos detalhados sobre o emprego dos carros de combate durante o último conflito. Enquanto isso, países vencedores da Primeira Guerra, principalmente a França, apesar de fabricarem novos blindados, acomodaram-se em sua situação de vencedores, não desenvolvendo doutrinas para o emprego dessas tropas, ficando seus exércitos, praticamente, “estacionados” no tempo. Com isso, países que antes eram hegemonicos na produção de veículos blindados, como França e Grã-Bretanha, perderam seus postos para Alemanha e Rússia, principalmente nas décadas de 1920 e 1930.

O progresso nos carros de combate abordou tanto o interior quanto o exterior dos carros, oferecendo maior segurança à sua tripulação, maior independência em relação aos transportes especiais, como ferrovias, que faziam grande parte do trajeto, conduzindo os tanques de um ponto ao outro. O “design” gerou veículos dotados de maior “fluidez”, simples e funcionais, tornando-os mais eficientes. Proporcionando maior estabilidade ao tiro, as suspensões apresentaram notável desenvolvimento. Os motores tornaram-se mais potentes, como exemplificado pelo modelo Mark V britânico, o qual possuía um motor de 150 cavalos, e o modelo Vickers Independent, com peso similar ao Mk V, mas com motor de 350 cavalos, dando às tropas blindadas maior agilidade e velocidade. Assim, uma das principais deficiências dos blindados durante a Primeira Guerra, responsável por “irem por terra” diversos esquemas de manobra, estava sanada, abrindo horizontes ao desenvolvimento tático mais amplo das forças blindadas. A proteção blindada dos carros também evoluiu, aumentando a espessura, composição e qualidade do aço. Os carros de combate passaram a oferecer proteção contra a maioria dos pequenos canhões anticarro e contra o fogo das armas leves. O armamento teve sua ênfase na eficácia das armas, em sua adaptabilidade em relação ao espaço disponível e forma como poderiam ser montadas, deixando de lado o número de armas com que o carro poderia ser equipado. A visibilidade, longe da ideal, estava ao menos muito melhor que antes, graças ao aparelho ótico para os motoristas e as reformas nas seteiras, a fim de evitarem a entrada de estilhaços de granadas e ricochetes. Tudo isso proporcionava à guarnição melhor proteção. A maioria dos carros de combate maiores agora apresentava cúpulas de comando especiais que tiravam do comandante do carro a tarefa de operar o canhão e permitia-lhe o efetivo controle – especialmente nas unidades maiores – em razão da possibilidade de ver todo o veículo e ter campo de vista em 360°, independente para onde a torre principal do carro estava voltada. O uso generalizado da proteção móvel (anteparo) assegurou o necessário campo de visão ao comandante do carro; periscópios ofereceram a mesma possibilidade aos carros menores que não possuíam as cúpulas para o comandante. O desenvolvimento da parte de comando e controle foi fundamental, principalmente em maiores formações de carros. Durante a “Guerra das Guerras”, os comandantes de companhia corriam à frente de seus blindados a cavalo ou a pé, como figuras do passado. Agora, a comunicação entre a guarnição era feita por luzes, telefones internos e tubos de comunicação, enquanto a comunicação externa era realizada por radiotransmissores e receptores.

Desenvolvimentos Táticos

Com o pós-guerra, numerosas e divergentes ideias sobre o emprego das tropas blindadas surgiram por toda a Europa, sendo essas diferentes em cada país. Assim, surgiram a maior sorte de veículos blindados e táticas no período durante as duas Guerras Mundiais. Nesse processo, as três grandes potências militares da Europa, Inglaterra, França e Rússia, países vencedores da Primeira Guerra, seguiram caminhos distintos no aperfeiçoamento de suas tropas.

Inglaterra

Com o fim da guerra, os britânicos retiraram-se para sua ilha e reduziram seu exército, vendendo e desmontando a maior parte de seus veículos de combate, ficando apenas com os modelos mais recentes. Isso visava uma modernização de suas forças, buscando um exército pequeno, mas com grande mobilidade e ação de choque, coerente com a capacidade industrial da ilha. Nesse novo exército, as tropas blindadas possuiriam papel fundamental. A produção dos carros focou-se em veículos compactos e ágeis, meios eficazes de comando e controle e capacidade para realizar ataques decisivos, valendo-se da surpresa. Atrelado a isso, a exploração adequada do terreno e o emprego de cortinas de fumaça, esperava-se reduzir os danos das armas anticarro e aumentar o sucesso do ataque.

Então, chegou-se à conclusão inevitável de que o ataque de blindados deveria ser separado do ataque da infantaria, se não de forma imediata, mas ao menos totalmente na fase inicial de um ataque conjunto. Porém, ainda havia dúvidas na forma de emprego das tropas blindadas. De um lado, empregar os carros de forma independente, explorando sua velocidade e ação de choque, podendo obter uma vitória rápida que, pelas características do material, conseguiria maior extensão e profundidade; de outro, quais seriam as desvantagens em separar os carros de combate da infantaria, a qual é responsável por realizar a efetiva conquista e manutenção do terreno. Solucionando essas questões, o General Fuller, Martel, Lidell Hart e outros defenderam a ideia de reforçar as unidades de carros com elementos de infantaria, artilharia, engenharia, comunicações e logística transportados em veículos mecanizados, de modo a poderem acompanhar o deslocamento dos tanques. Como resultado, criou-se a Divisão Móvel Mecanizada. A “Divisão Móvel Mecanizada” compreendia duas brigadas de cavalaria mecanizada, cada uma com um regimento de reconhecimento mecanizado, um regimento de cavalaria (fuzileiros) motorizado e um regimento de cavalaria de carros de combate leves, reunidos a já existente brigada de carros a quatro batalhões de carros e a um número correspondente de baterias de artilharia e serviços de apoio. Os tanques tornaram-se independentes do apoio de artilharia, a qual acompanhava o ataque até onde conseguia observar e garantia o apoio de fogo aos veículos leves e médios quando engajados. Os britânicos pretendiam empregar suas forças blindadas em missões profundas na retaguarda do inimigo.

França

Diferente da Inglaterra, a França escolheu trilhar outro caminho para suas forças armadas. Para garantir suas políticas de defesa externa, os franceses mantiveram boa parte dos armamentos utilizados durante a Primeira Guerra Mundial. Com isso, a capacidade de seu exército em alcançar objetivos operacionais ficou restringida a grande quantidade de equipamentos restantes da 1ªGM e suas características técnicas. Como exemplo, as tropas blindadas mantiveram o carro Renault leve como principal carro de combate, destinado ao apoio a infantaria, muito aquém dos demais carros que estavam sendo construídos durante o pós-guerra. Consideravam os carros de combate como armas defensivas. Uma vulnerabilidade imediata devia-se ao fato do Renault ter limitações quanto à capacidade de transpor taludes, obstáculos e vaus, tornando-se inadequado, portanto, para atacar posições em terrenos difíceis. Durante vários anos, a divisão de cavalaria francesa operou com o cavalo ao lado da máquina, o que mostrou inadequado com o realizar de diversos exercícios no terreno, tendo em vista que o elemento motorizado após conquistar o terreno necessitava esperar durante longo tempo até que as unidades à cavalo chegassem ao local. Tempo esse que na guerra seria precioso, podendo custar a perda de vidas e materiais. Com isso, em 1933, criou-se a Divisão Mecanizada Ligeira, integrada inteiramente por elementos mecanizados, incluindo cerca de 250 blindados, dos quais apenas 90 eram carros de combate. Pode-se concluir que a Divisão focava-se na cavalaria como elemento apenas de reconhecimento, deixando de lado seu potencial de combate, mantendo raízes na origem da cavalaria. Os franceses estavam certos de que venceriam um confronto mesmo que atacassem de forma lenta, com sua progressão regulada pelo deslocamento da infantaria a pé. Porém, o rearmamento da Alemanha tornou-se realidade, mudando toda a situação para os franceses, os quais não possuíam mais a superioridade dos tanques e iriam enfrentar uma sólida defesa anticarro, além de aprimoradas forças blindadas e grandes formações motorizadas e mecanizadas. Acabava-se assim, a ideia do carro de combate ter sua função apenas no apoio a progressão da infantaria. Passava-se, agora, a concentrar carros de combate e maior blindagem e poder de fogo em divisões blindadas pesadas, as “Division de choc”.

Rússia

Durante a Primeira Guerra, o imenso exército russo não possuía nenhum blindado, nem mesmo uma indústria que proporcionasse a construção de carros de combate e, devido ao seu isolamento geográfico, tornou-se difícil importar tanques de países aliados. Porém, a situação mudou após a guerra civil, e a Rússia viu-se com necessidade urgente de criar uma indústria bélica nacional. De modo a produzir seu próprio carro de combate, os russos passaram a comprar e testar os melhores tanques estrangeiros, produzindo então similares, porém com modificações que abrangessem suas necessidades. Apesar de estar atrás das demais nações quanto as tropas blindadas no pós-guerra, essa mesma falta de tradição e preconceitos nesse setor impediu que a Rússia ficasse presa ao passado, como países como a França, que custou em transformar suas unidades de cavalaria a cavalo em unidades de cavalaria mecanizada. Em resumo, o que há para se dizer da maneira como os russos organizaram suas forças blindadas é o seguinte: carros de combate velozes e com grande raio de ação para atuar em profundidade; carros pesados com canhões também pesados para travar combate com os carros de combate, armas anticarro e artilharia do inimigo no ataque principal; carros leves, a maioria com metralhadoras para limpar a zona de combate para a infantaria. Por outro lado, a tripla classificação das missões pede toda gama de carros especializados, com todas as desvantagens que isso acarreta. Portanto, ao final do período entre Guerras Mundiais, a Rússia possuía um dos mais poderosos exércitos do mundo, tanto em efetivo quanto em equipamento e armamento. O tempo em que os russos não possuíam pendor para a tecnologia ficara para trás, pois, agora possuíam uma crescente indústria nacional bélica, além de contar com riqueza de recursos naturais.

A 2ª Guerra Mundial

Em 1 de setembro de 1939 iniciava-se o maior conflito da história da humanidade, abrangendo proporções globais e envolvendo as principais potências mundiais, as quais dedicaram todos seus meios disponíveis para a conquista da vitória. De um lado do conflito estava os Aliados, formados por, principalmente, URSS, Reino Unido, França e Estados Unidos, além de outras nações de menor relevância. Do outro lado encontravam-se as potências do Eixo, lideradas pela Alemanha nazista durante todo o período da guerra. Revolucionando as táticas de guerra, a Alemanha inicia a guerra com sucessivas vitórias. Os aliados não estavam preparados para a guerra proposta pelos nazistas, “presos” às táticas e métodos utilizados durante a Primeira Guerra Mundial. A Denominada Blitzkrieg, ou “Guerra Relâmpago”, era a tática militar empregada pelos alemães, que consistia em utilizar o emprego conjunto de forças em um ataque rápido e de surpresa, com destaque para as tropas blindadas, uma espécie de doutrina de guerra aeroterrestre do US Army. Dessa forma, o conflito estático da Grande Guerra transformou-se em uma guerra de movimento durante a nova Guerra Mundial, em que o roncar dos motores dos carros de combate proporcionando velocidade, aliados a potência de fogo de seus canhões, as comunicações amplas e flexíveis, e a ação de choque desses “monstros de aço” determinavam o êxito das operações.

Carro de Combate PANZER IV

Espinha dorsal da divisão Panzer da Wehrmacht, o Panzer IV foi o único tanque alemão produzido continuamente durante todo o desenrolar da guerra, sendo produzidas cerca de 9000 unidades e alcançando sua versão final, o Ausf J, em março de 1944. Inicialmente projetado para possuir um canhão KwK de 75 mm e cano curto, além de não poder ultrapassar as 24 toneladas, os alemães viram, em 1939, sem nenhuma entrega ter sido feita, o modelo já estar em sua versão D. Essa, por sua vez, foi empregada nas campanhas da Polônia e França, encontrando seu fim durante a campanha na Rússia, em que seus defeitos não puderam mais serem ignorados, evidenciando a necessidade de um novo carro. O modelo D era ligeiramente maior que o PzKpfw III, mas tinha o mesmo formato delgado do casco e a mesma forma geral. Havia 3 compartimentos para a tripulação, com o piloto e o operador de rádio à frente, com a metralhadora do casco no lado direito e em posição ligeiramente posterior à do piloto. No compartimento de combate, a torre abrigava o comandante, o artilheiro e o municiador. O movimento de deriva da torre era impulsionado em um motor elétrico. Para o comandante havia uma cúpula proeminente, situada na parte posterior da torre, com uma boa visão circular e também escotilhas de fuga nas laterais da torre. As mudanças não pararam na versão D. Visando aumentar a proteção blindada do carro, surgiu a versão E, que possuía uma blindagem mais espessa na torre e na frente, além de uma nova cúpula. Não tardou, criou-se a versão F, pretendendo-se que fosse a última. Esse modelo é o que foi construído em maiores quantidades, trazendo de inovação um canhão 75 mm cano longo, o qual permitiu ao Panzer IV cumprir missões que antes somente eram designadas ao Panzer III, a partir de 1941.

O veículo ainda passaria por outras versões, entre elas a versão G que modificou a parte externa do tanque, acrescentado chapas adicionais na torre, uma blindagem mais espessa e saias laterais com a função de detonar projéteis HEAT prematuramente, impedindo que eles afetassem a blindagem principal. Também aperfeiçoou-se o canhão, com a instalação do canhão KwK 40 L/48 de 75 mm, permitindo ao Panzer enfrentar qualquer carro de combate no mundo. Por fim, chegou-se a versão J, lançada no final da guerra, em 1944, a qual contava com cerca de 8000 unidades. A família Panzer IV, apesar de não ser a melhor linha de carros de combate fabricada pelos alemães durante a Segunda Guerra Mundial, merece destaque, pois, foi a mais fabricada durante todo o período da guerra. Com esse veículo, a Alemanha participou de combates nos mais diversos tipos de terrenos, ajudando assim, a consolidar com êxito o esforço empreendido pelos alemães em desenvolver, adaptar e construir uma excelente tropa blindada.

Este carro (modelo D) era dotado de um canhão KwK L/24 de 75 mm; uma metralhadora MG 34 de 7,92 mm coaxial; uma metralhadora MG 34 no casco e uma metralhadora MG 34 antiaérea opcional no alto da torre. A Blindagem variava de 20 a 90 mm. Media 5,91 m de comprimento; 2,92 m de largura e 2,59 m de altura. Pesava 19,7 ton, exercendo uma pressão sobre o solo de 0,75 kg/cm². O motor Maybach HL 120 TRM V-12 com 12 cilindros em linha a diesel, desenvolvia 300 cv a 3000 rpm conferindo uma relação potência/peso de 15,22 cv/t. Alcançava uma velocidade na estrada de 40 km/h; em terreno acidentado de 20 km/h com uma autonomia de 200 km. Podia transpor obstáculos verticais de 0,6 m; valas de 2,3 m e vaus de 0,8 m. Sua rampas de até 30° e foi usado também pela Espanha, Itália e Turquia, e foi usado pela última vez pela Síria em 1967.


Carro de Combate PANTHER

Até a invasão da União Soviética com  Operação Barbarossa iniciada em 22 de junho de 1941, o Panzer IV era o mais pesado carro de combate da Alemanha, cumprindo seu papel de forma satisfatória. Porém, quando os nazistas depararam-se com o tanque T-34 dos russos, encontraram um carro completamente superior ao seu, tornando o PzKpfw IV obsoleto. A blindagem inclinada, a velocidade e a manobrabilidade do T-34 provocaram uma profunda mudança de opinião por parte dos alemães e uma nova especificação foi esboçada às pressas. Inicialmente, para economizar tempo, pensou-se em copiar inteiramente o T-34, mas o orgulho nacional impediu essa abordagem e a especificação, publicada em janeiro de 1942, simplesmente incorporava todas as características do T-34. Construído pela MAN e pela Daimler-Benz, os primeiros modelos de testes foram apresentados em setembro de 1942, porém, apenas recebendo seu batismo de fogo na Batalha de Kursk, a maior batalha de blindados da história.

Nessa ocasião, por insistência de Hitler, o carro entrou em ação pela primeira vez e seu resultado foi um completo fracasso. Não demonstrando ser confiável, o veículo apresentava problemas no motor, na suspensão e na transmissão, sendo que alguns apresentaram problemas, inviabilizando seu uso, antes mesmo de ser empregado. Havia muitas dificuldades: o motor e a suspensão eram sobrecarregados pelo excesso de peso, a refrigeração era inadequada, os motores incendiavam e as bordas das rodas apresentavam problemas. A maioria enguiçou na viagem da estrada de ferro até à frente e poucos sobreviveram ao primeiro dia. O que se pôde salvar foi mandado de volta à fábrica para ser reconstruído. Entretanto, assim que as falhas foram resolvidas, o “Panther” tornou-se um veículo de qualidade e, para muitos, é considerado o melhor carro de combate da Segunda Guerra Mundial, sendo superior ao T-34/76 e conquistando a confiança de seus tripulantes. Mais para o final da guerra, o Pantera apenas foi derrotado pela supremacia aérea e pela produção em massa de carros de combate pelos Aliados. O carro possuía um casco tradicional alemão, apresentando uma grande couraça na parte da frente, fundida em uma única peça, assim como a torre, a qual apresentava apenas dois orifícios, um para a metralhadora coaxial e outro para a visão do artilheiro. Desse modo, a proteção frontal do carro era excepcional. A suspensão, apesar de ser a melhor fabricada pelos alemães durante a guerra, que consistia em rodas intercaladas apoiadas em barras de torção, apresentava o problema de congelar quando o carro atolava na neve durante o rigoroso inverno russo. Além disso, a manutenção era complicada, devido à necessidade de se retirar as rodas externas para ter acesso às rodas internas.

Era tripulado por 5 integrantes. Estava dotado de um canhão KwK 42 L/70 de 75 mm; duas metralhadoras MG 34 de 7,92 mm; uma metralhadora MG 34 AA opcional no alto da torre. A Blindagem variava de 20 a 120 mm, e media 6,68 m de comprimento, 3,3 m de largura e 2,95 m de altura. Pesava  44,8 ton exercendo uma pressão sobre o solo de 0,88 kg/cm². O Motor Maybach HL 230 P 30 V-12 a gasolina, refrigerado a água, desenvia 700 cv a 3000 rpm, conferindo uma relação potência/peso de 15,62 cv. Atingia 46 km/h na estrada e 24 km/h em terreno acidentado; com uma autonomia de 177 km. Superava obstáculos verticais de 0,9 m; valas de 1,9 m; e vaus de 1,4 m; com ângulo máximo de rampa de 35°.

Carro de Combate TIGER II

Conhecido pelas alcunhas de “Tigre Rei” ou “Tigre Real” pelos Aliados, o Tiger II foi um projeto ousado dos alemães em construir um blindado superior em poder de fogo e proteção blindada a qualquer outro carro que pudesse ser construído pelos demais países. Entrando em ação em 1944, sendo distribuído em grupos de quatro ou cinco carros, era o carro de combate mais pesado, mais bem protegido e mais fortemente armado da Segunda Guerra Mundial. O longo e poderoso canhão de 88 mm podia superar o alcance do armamento principal de praticamente todos os tanques aliados, o que permitia ao Tiger II escolher e atacar seus alvos a seu bel-prazer. Porém, a elevada proteção blindada cobrava um preço a se pagar. O grande peso e tamanho do carro sobrecarregava o motor e a suspensão, tornando-se difícil ocultá-lo no terreno e ocasionava um baixo desempenho, deixando-o lento e, por conta disso, era, muitas vezes, deixado para trás em operações ofensivas. Além disso, a pressão sobre o solo era tamanha que não raramente o carro atolava no terreno, inviabilizando a viatura. Aliado a essas deficiências técnicas, a péssima situação alemã na guerra influenciou no êxito do emprego desses blindados durante a guerra. Quer pela complexidade do veículo ou pela deterioração do parque industrial alemão e falta de matérias-primas, a produção do veículo não abrangeu o efetivo necessário e, em face aos demais blindados dos Aliados, mesmo sendo inferiores, porém produzidos em “massa” e a perda da supremacia do espaço aéreo pelos nazistas, o “Tigre Rei” não teve grande influência durante o conflito.

Era tripulado por 5 integrantes. Seu armamento consistia de um canhão KwK 43 L/71 de 88 mm; 2 ou 3 metralhadoras MG 34 de 7,92 mm (casco coaxial e AA opcional). A Blindagem variava de 40 a 185 mm; e suas dimensões eram de 7,25 m de comprimento; 4,27 m de largura e 3,27 m de altura. Pesava 69,4 ton e exercia uma pressão sobre o solo de 1,07 kg/cm². Seu motor era um Maybach HL 230 P 30 V-12 em linha, a gasolina, refrigerado a água, desenvolvendo 600 cv a 3000 rpm que conferia uma relação potência/peso de 8,64 cv/t. Desenvolvia uma velocidade em estrada de 38 km/h e 17 km/h em terreno acidentado. Sua autonomia era de 110 km, superava obstáculos verticais de 0,85 m, valas de 2,5 m, e vaus de 1,6 m; com ângulo máximo de rampa de 35°.


Carro de Combate T-34

M. I. Koshkin, em 1936, foi incumbido de ser o projetista-chefe de uma família de tanques visando suprir a deficiência do Exército Vermelho em carros de combate e também modernizar o exército para fazer frente a um conflito, que era questão de tempo para se desencadear. No princípio de 1937 a fábrica foi incumbida de projetar um novo tanque médio, também com a configuração lagartas-e-rodas, designado A-20. O A-20, de 18 ton, era armado com um canhão de 45 mm, foi o primeiro da série apelidada “veículos à prova de granadas”, que tinham a blindagem muito inclinada, uma característica do T-34, surgido depois.

Porém, Koshkin logo percebeu que a versão com rodas e lagartas seria um erro, deixando o projeto com excesso de peso e tornando-o mais complexo. Como resultado, o projetista propôs um modelo que usasse apenas lagartas, o A-32 (futuramente nomeado T-32). Após passar por diversos testes, o modelo foi aprovado, porém, teria que aumentar sua blindagem e adotar um armamento mais potente. Como resultado dessas melhorias, surgiu o T-34 que, em 1939, começou a mobiliar as tropas blindadas do Exército Russo. O T-34 se fez notar pelo excelente formato de sua blindagem, que aumentava consideravelmente sua resistência à penetração de granadas antitanque. O armamento, um canhão de cano longo e alta velocidade de 76,2 mm, era também uma inovação para os tanques desta classe. O uso do motor a diesel V-2 de 500 cv (também usado no tanque BT-7 M) reduzia o perigo de incêndio e aumentava muito a autonomia do veículo. A suspensão Christie modificada, permitia altas velocidades, mesmo em terreno acidentado, e amplas lagartas reduziam a pressão sobre o solo ao mínimo. O projeto geral do tanque facilitava sua rápida produção em massa e simplificava sua manutenção e reparos no campo. O veículo logo mostrou-se confiável, apresentando elevado desempenho no teatro de operações, representando duas décadas de experimentações dos soviéticos em estudar e reproduzir as melhores ideias estrangeiras. Seu potente canhão e sua elevada blindagem, inovadora para a época, mostraram-se temíveis adversários dos nazistas, sendo um dos principais responsáveis pela retirada das tropas alemãs do território russo. Não à toa que é por muitos considerado o carro de combate mais decisivo da Segunda Guerra Mundial.

Tripulado por 5 integrantes, estava armado com um canhão M1944 Z1S S53 L/51 de 85 mm (T-34-85) e 2 metralhadoras DT de 7,62 mm. Sua blindagem variava de 18 a 60 mm. Media 7,5 m de comprimento (com o canhão); 2,92 de largura e 2,39 m de altura; com um peso de 32 ton, exercendo uma pressão sobre o solo de 0,8 kg/cm². O motor V-2-34 de 12 cilindros, a diesel, refrigerado a água, desenvolvia 500 cv a 1800 rpm, conferindo uma relação potência/peso de 15,62 cv/t. Desempenhava uma velocidade em estrada de 50 km/h, com um alcance de travessia de 300 km. Superava obstáculos verticais de 0,79 m; valas de 2,49 m; e tinha ângulo máximo de rampa de 32°.


Carro de Combate M4 SHERMAN

Inicialmente denominado T6, o M4 foi um projeto desenvolvido em 1940 com a finalidade de se produzir um tanque médio com canhão 75 mm e torre com giro de 360°, aproveitando-se o máximo de componentes da versão anterior, o M3, para assim facilitar a reposição de peças. Esse veículo ainda passaria por diversas modificações ao longo da guerra, sendo construídos cerca de 49230 Shermans dos mais variados modelos e empregados em diversas frentes de batalha. Essas, focaram-se no armamento, na armazenagem de munição e na suspensão do veículo. Uma das deficiências desse carro era seu canhão M3 de 75 mm, o qual disparava um projétil com velocidade inicial de 619 m/s, mostrando-se pouco eficaz frente a evolução sofrida pelas blindagens dos demais tanques. Para solucionar o problema, adaptou-se a torre do tanque médio T23, dotada de um canhão 76 mm, ao casco do Sherman, aumentando-se assim o poder de fogo do blindado. Outra deficiência notória dos primeiros Shermans era o fato de explodirem ao serem engajados por munição anticarro. Assim, diversos equipamentos foram testados no intuito de protegerem a munição armazenada no interior do carro. Colocaram-se prateleiras de munição no casco inferior, envolvidas por câmaras d’água e protegida por uma blindagem. Em maio de 1945 acrescentou-se o sufixo wet (molhado) à nomenclatura para distinguir os tanques com paiol protegido por câmaras d’água.

Ao contrário de outros carros como o Panther e o T-34 que possuíam blindagem inclinada, característica marcante desse último, a qual aumentava consideravelmente o nível de proteção do carro, os Sherman foram produzidos com laterais “retas”, as quais resultavam em uma fraca proteção. Dentre os modelos produzidos do Sherman, destaca-se o M4A3 Sherman “Firefly”, uma das variantes mais produzidas durante a Segunda Guerra Mundial, sendo o modelo preferido pelos EUA. Os alemães perceberam a superioridade desses modelos frente as demais versões do Sherman, que apresentavam canhões inferiores aos 76 mm, como o Sherman M4 Standard que possuía um canhão de 57 mm. Por conta disso, o Firefly, que possuía um cano mais longo e com maior poder de fogo, era prioridade de alvos dos nazistas em relação aos demais carros de combate das versões Sherman.

Era tripulado por 5 integrantes. Seu armamento consistia de um canhão M3 de 75 mm; uma metralhadora M1919A4 calibre .30 pol (7,62 mm) coaxial; uma metralhadora M1919A4 em uma instalação esférica na frente do casco; uma metralhadora M2 calibre .50 pol. (12,7 mm) no alto da torre e um morteiro fumígeno M3 de 2 pol. (50,8 mm) no alto da torre. Sua blindagem variava de 15 a 100 mm. Media 6,27 m de comprimento; 2,67 m de largura 3,37 m de altura. Pesava em combate: 31,6 ton com resultante pressão sobre o solo de 1 kg/cm². O motor Ford GAA V-8 em linha, a gasolina, refrigerado a água, desenvolvendo 500 cv a 2600 rpm, conferia uma relação potência/peso de 15,8 cv/t. Desempenhava 42 km/h na estrada com uma autonomia de 160 km. Podia transpor obstáculos verticais de 0,61 m; valas de 2,29 m e vaus de 0,91 m; com ângulo máximo de rampa de 31°. Entrou em serviço em 1942 e foi amplamente usado pelos Estados Unidos e pela maioria de seus aliados durante e após a segunda guerra. Também usado na Coréia e no Oriente Médio e ainda em serviço em alguns exércitos.

Consequências – Mudança Tática

Conforme os avanços tecnológicos e militares ocorrem, a tática empregada sofre mudanças. Uma tática bem-sucedida em determinado combate, muito provavelmente, estará obsoleta em um conflito posterior, devido aos avanços no armamento e equipamento. Durante o início da Primeira Guerra Mundial ainda se empregavam conceitos de ataque do século passado, apesar das metralhadoras mostrarem suas qualidades defensivas em conflitos como a Guerra Russo-Japonesa. Essas armas conseguiam suplantar um ataque inimigo a pé e, mais facilmente ainda, uma carga de cavalaria hipomóvel. Com isso, a “Grande Guerra” tornou-se uma guerra estática. Limitava-se em uma guerra de trincheiras, em que os avanços no terreno quase não existiam e, quando haviam, eram pequenas faixas de terreno. A tática empregada durante a maior parte da guerra era a de saturar a linha de trincheiras inimigas com fogos de artilharia, com o objetivo de desgastar o inimigo e abrir brechas em seu sistema defensivo. Contudo, o inimigo poderia conseguir restaurar seu sistema defensivo antes que o outro obtivesse êxito em seu ataque e assim contra-atacá-lo. Isso acarretava uma grande demora por parte de ambos os lados em conseguirem visualizar resultados em suas frentes de batalha, tornando a guerra monótona. Nesse período, a Cavalaria praticamente inexistiu, sendo a velocidade e audácia de cavalo e cavaleiro vencidas pelas centenas de tiros por minuto disparado por uma metralhadora. Porém, a necessidade de avançar às linhas defensivas inimigas com ação de choque, proteção blindada e poder de fogo fez o homem inventar os primeiros carros de combate.

Inicialmente, a tática empregada para esses “monstros de aço” era de apenas apoio a progressão da infantaria. Apesar do papel secundário durante a Primeira Guerra, já se notava que esses carros, apesar de ainda muito limitados, iniciaram a transformação da guerra estática para um conflito mais dinâmico. Dessa forma, a Cavalaria viu-se ressurgir no mesmo conflito em que parecia ser seu fim. As quatro patas de um cavalo, que tanto pelejaram durante séculos trazendo vitórias a seus exércitos em decisivas cargas, viram nas lagartas de um blindado, o seu futuro. Os tanques, como inicialmente foram chamados, não apenas facilitaram a transposição da linha de trincheiras, fazendo dessas e das metralhadoras agora inimigos não tão letais quanto antes. Esses “gigantes de aço” causavam terror aos inimigos entrincheirados, muitas vezes fazendo a formação inimiga dispersar-se, facilitando o ataque. O carro-de-combate foi originalmente desenhado como uma arma especial para resolver uma situação tática não usual: a questão das trincheiras. Potencialmente, os primeiros carros-de-combate podiam trazer o poder de fogo da artilharia e das metralhadoras através da imprevisível terra de ninguém e ofereciam mais proteção do que uma unidade de infantaria. Além disso, o propósito esperado dessa arma era apoiar a Infantaria a fim de criar uma brecha nas posições defensivas para que a Cavalaria, que estava esperando pela oportunidade desde 1914, pudesse explorar o êxito e atingir a retaguarda alemã.

Na prática, no entanto, os carros-de-combate estavam limitados a ajudar a Infantaria a penetrar no cinturão defensivo inimigo, em vez de atravessá-lo e explorar o êxito, alcançando a retaguarda inimiga. Aos poucos, os tanques conquistaram a confiança de seus usuários, os quais sentiam-se mais confiantes e protegidos para realizar um ataque e, por consequência, as missões em que esses veículos eram empregados cresceram de forma exponencial. Porém, nem tudo eram flores. Se por um lado os exércitos viram nesses carros a esperança de acabar de forma mais rápida com o conflito, por outro ainda tinham que lidar com as diversas limitações dos blindados, principalmente referente a sua mobilidade, a qual era ainda mais difícil em terrenos acidentados, ficando o carro muitas vezes reduzido em sua capacidade de manobrar e, por vezes, impedido de prosseguir em combate. Destaca-se, nesse período, a Batalha de Cambrai, ocorrida em 20 de novembro a 7 de dezembro de 1917. Considera-se essa a primeira batalha a utilizar carros de combate em massa em conjunto com demais forças, como infantaria e artilharia. Apesar do sucesso inicial do tanque Mark IV, as defesas alemãs, principalmente a artilharia, revelaram as deficiências desses carros, deixando-os inoperantes após o primeiro dia. Os carros de combate operavam em seções de 3: um usava fogo de metralhadoras buscando suprir as defesas de infantaria, e outros dois carros acompanhados pela Infantaria britânica cruzavam as trincheiras. Essas táticas funcionaram muito bem, exceto em Flesquieres Ridge, no centro do setor de Cambrai. Aqui o comandante da 51ª Divisão Hightlands, acreditando que o fogo alemão seria dirigido à blindagem, proibiu que a Infantaria se aproximasse mais que 100 jardas de seus carros de combate. Os carros de combate britânicos estavam sem apoio quando, lentamente, subiram a elevação e, um por um, atingiram o topo. O fogo direto alemão destruiu em poucos minutos 60 carros, impossibilitados de manobra. Apesar do grande número de blindados utilizados em combate, cerca de 400 pelo Reino Unido, ainda não havia uma doutrina para esses veículos, não possuíam uma tática definida de emprego, limitando-se apenas em apoiar a progressão da infantaria.

Os alemães, durante a guerra, pouco empregaram tanques, sendo o seu carro mais conhecido o A7V. Centralizaram seus esforços em táticas de infantaria e artilharia, empregando armamentos anticarro e guerra química. Ao final da 1ª GM, a derrotada Alemanha via-se sob rígidas sanções impostas pelo Tratado de Versalhes, o qual incumbia aos germânicos a responsabilidade de causar a guerra. Essas imposições abrangiam desde perda de territórios aos países fronteiriços, bem como de todas as suas colônias sobre os oceanos e no Continente Africano, até restrições ao tamanho de seu exército e indenizações financeiras em virtude dos prejuízos causados durante a guerra. Assim, o antes poderoso exército alemão agora encontrava-se sucateado e o pouco de material que sobrara fora distribuído entre os ganhadores. Mesmo que quisesse, a Alemanha não seria capaz de reproduzir os exércitos em massa e defesas estáticas de 1914-18. Em 1919, o Tratado de Versalhes limitou o Exército alemão a 100 mil combatentes profissionais permanentes, sem reservistas, exceto para forças policiais paramilitares. O mesmo tratado proibia que a Alemanha possuísse carros-de-combate, gás venenoso, aeronaves de combate e artilharia pesada. Paradoxalmente, para os alemães, essa proibição pode ter sido uma vantagem disfarçada. O orçamento de defesa e as táticas alemãs eram menos restritivas do que a dos outros exércitos, à tecnologia da era de 1918, ou dependente dela. Esses termos do Tratado causaram choque e humilhação ao orgulhoso povo alemão, contribuindo assim para a queda da República de Weimar, em 1933, e a ascensão de um ex-cabo do exército alemão durante a 1ª GM, cuja enérgica oratória encantava todos por onde passava: Adolf Hitler. A Alemanha do pós-guerra encontrava-se mergulhada em um colapso econômico e monárquico, em que filosofias extremistas encontraram terreno fértil para o seu crescimento, desde ideias comunistas a ideais ultra-nacionalistas. Hitler, ao assumir o poder, conseguiu unir o povo alemão em torno de seus ideais, reascendendo o orgulho das pessoas através de sentimentos nacionalistas. Também a economia tornou a crescer, voltando a Alemanha a figurar entre as potências europeias. Na parte militar, o país voltou a se militarizar, ignorando as normas do Tratado de Versalhes. Uma das estratégias para iniciar essa militarização foi designar alguns militares do alto escalão alemão para estudar o conflito que passara e compreender o que o país havia feito de errado, para assim melhorar o exército e prepará-lo para um futuro conflito. Dentre esses militares, destacou-se o General Hans von Seeckt. O General Hans von Seeckt, o homem que reconstruiu o Exército alemão após sua derrota, dirigiu uma completa revisão do método de guerrear alemão. Baseado em sua experiência na luta contra os russos durante a Primeira Guerra Mundial, Seeckt acreditava que um exército móvel e bem treinado era capaz de superar um exército de muito maior efetivo, mas sem mobilidade. Sob sua direção, os planejadores alemães estudaram conceitos e desenvolveram a organização e os equipamentos para realizá-los. A doutrina levou a avanços tecnológicos, ao contrário do que aconteceu em outros exércitos.

Outro pensador alemão, um dos mais brilhantes e influentes de todo o exército, Heinz Guderian, membro da Inspetoria de Tropas Mecanizadas, logo identificou uma das principais deficiências da Alemanha durante a 1ª GM que resultara em sua derrota. Ficou claro que o carro de combate era uma arma decisiva quando empregado em massa, como em Cambrai, e, em 1918, os alemães precisavam contar com o aparecimento de muitos mais e de melhores modelos. Havia duas coisas que poderiam ser feitas: realizar todo esforço para aumentar o poder defensivo da tropa ou criar nossa própria força blindada, especialmente se quiséssemos passar a ofensiva. Na verdade, deveríamos considerar ambas as alternativas, disse Guderian. Portanto, ficou claro que a falta de carros de combate foi um fator chave no insucesso alemão na Primeira Guerra. Para isso, a Alemanha iniciou seus projetos de modernização de seu exército com a construção de seus blindados, dessa forma renovando toda a sua frota. Os alemães, ao contrário, foram desprovidos de suas armas pelo Tratado de Versalhes de 1919 e puderam começar de novo. Até certo ponto, o sucesso tático alemão de 1939-42 não foi apenas pela superioridade na qualidade ou quantidade de equipamento, mas pelo fato de que os carros de combate e outros veículos alemães foram produzidos a tempo de permitir uma extensiva experimentação e treinamento antes da guerra.

Diferente disso, os britânicos e franceses possuíam poucas armas modernas, com as quais treinaram até a deflagração da Segunda Guerra Mundial; só então eles produziram em massa, em um volume enorme. Nesse período, a Alemanha passava por uma profunda transformação em sua doutrina, alterando taticamente a forma com que pensava e executava a guerra. Surge então a Blitzkrieg (guerra-relâmpago), a qual deixou o exército germânico um passo a frente dos demais exércitos, os quais ainda estavam confortáveis em suas situações de vencedores e “presos”, em grande parte, às táticas utilizadas no conflito passado, a “Grande Guerra”. Entre 1936 e 1939 ocorria na Espanha a Guerra Civil Espanhola, conflito em que os nazistas e os comunistas viram como oportunidade perfeita para testar seus equipamentos, armamentos, pessoal e, sobretudo, seus novos carros de combate. De um lado do conflito, a Alemanha apoiando a Espanha Nacionalista com seus Panzer I e II; de outro, a Rússia apoiando a República Espanhola com seu carro de combate T-26. Esse mostrou-se superior aos outros dois carros alemães, tornando-se oponente difícil de ser abatido no campo de batalha. Essa vantagem devia-se muito pelo fato do Panzer I ser dotado apenas de metralhadoras, enquanto o T-26 já possuía canhões nas versões de 37 e 45 mm. Frente a esse resultado, os alemães melhoraram seus carros de combate, criando assim o Panzer III e IV. Esses carros possuíam uma melhor relação potência/peso e lagartas compatíveis com o seu tamanho e tipo de terreno, operando com maior velocidade e ação de choque que os blindados anteriores, resultando em uma capacidade ofensiva nunca antes vista. Durante os períodos de 1939 a 1941, as unidades convencionais de infantaria encontravam-se despreparadas psicológica e tecnologicamente para derrotar um inimigo blindado que se movimenta com rapidez, especialmente quando surgia nas áreas de retaguarda e rompia as comunicações normalmente rígidas e as posições defensivas organizadas no estilo da Primeira Guerra Mundial. Para facilitar a coordenação e controle das complicadas manobras de integração de diversos elementos das Forças Armadas Alemãs, os alemães focaram-se no desenvolvimento de rádios. Na época em que Hitler começou a expandir seu exército, na metade da década de 1930, os alemães haviam desenvolvido uma família inteira de rádios altamente potentes e de baixa frequência capazes de conectar divisões e quartéis-generais superiores. Apesar de não ser uma ideia unânime até futuramente a invasão da Polônia, a importância do carro de combate mostrava-se fundamental na nova tática de guerra da Alemanha. Assim, os tanques transformaram-se de apenas elementos de apoio a Infantaria para elementos de manobra, primordiais ao ataque, não apenas empregados para realizar a perseguição e desbordamento dos inimigos, mas também para destruí-los através da ação de choque e poder de fogo. Após, em 1 de setembro de 1939, a Alemanha invadir a Polônia, ocasiona subsequentes declarações de guerra e, por fim, eclodindo na 2ª Guerra Mundial, na qual os países dividiram-se em duas alianças: os países membros do Eixo e os Aliados. Em poucas semanas, a invasão da Polônia havia sido um sucesso. Aliado ao fato dos alemães estarem com um exército bem treinado e equipado, os poloneses facilitaram a sua rápida derrota ao ainda adotarem táticas obsoletas no campo de batalha. Durante a invasão, os alemães testaram várias táticas de batalha. A primeira era a formação em cunha, a qual era formada por 3 companhias de blindados leves (Panzer I e II), sendo que uma ia à frente para abrir caminho e as outras duas nos flancos para proteger a formação. No centro, iam os tanques médios (Panzer III) e à retaguarda, complementando a formação, a infantaria motorizada para neutralizar possíveis focos de resistência durante a progressão. Também utilizou-se muito pelos alemães a formação em “V”. Ao contrário da anterior, essa era menor, não possuindo a companhia de blindados leves que progredia à frente do dispositivo. Outra formação empregada foi a formação em linha. Apesar de não proporcionar boa segurança nos flancos, como a formação em cunha e em “V”, além de dificultar a coordenação pelo líder da fração, a formação em linha proporcionava o maior poder de fogo à frente, sendo comumente utilizada durante o assalto às posições defensivas inimigas.

Menos de um ano após a invasão da Polônia, em 10 de maio de 1940, ocorria a Batalha da França, ou também conhecida como Queda da França, a qual consistiu na invasão alemã da França e dos Países Baixos. Considerando ser intransponível a região de Ardenas, área essa povoada por florestas densas e muito acidentada, os franceses concentraram seus esforços em uma faixa estreita em uma larga frente, ficando conhecida como Linha Maginot. A estrutura de comando francesa, em particular, estava montada para uma guerra de posição, mas precisava de forças para criar uma verdadeira defesa em profundidade no modelo da Primeira Guerra Mundial. Avançando rapidamente pela Floresta das Ardenas, o ataque principal alemão rompeu esta defesa linear em um de seus pontos mais fracos. No quinto dia da campanha (14 de maio de 1940), as forças móveis alemãs conduziam o tipo de exploração profunda prevista por muitos teóricos durante a década de 1930. Tais penetrações eram psicologicamente enervantes para os defensores, que, de repente, encontravam-se combatendo forças importantes do inimigo na própria retaguarda. Para realizar essa operação, a Alemanha dividiu seu exército em três Grupos de Exércitos. Ao norte, liderado pelo General Fedor von Bock, encontrava-se o Grupo de Exército B que tinha por missão invadir a Bélgica e atrair as forças francesas e britânicas. Mais ao sul estava a principal força alemã, o Grupo de Exércitos A, incumbido da missão de romper a linha francesa no rio Meuse e então atacar, dividindo as forças inimigas. Por último, mas não menos importante, o Grupo de Exércitos C com o objetivo de atacar a Linha Maginot. Como resultado, em pouco mais de 30 dias os nazistas haviam invadido os Países Baixos, a França e a Bélgica. Isso evidenciava ainda mais a importância das formações de ataque utilizando a coordenação de diversos elementos, como aviação e tropas mecanizadas, em um ataque rápido e surpreendente, ou seja, a Guerra relâmpago. A situação Aliada apenas começou a mudar quando chegaram os tanques Sherman que, apesar de inferiores à família de blindados Panzer, possuíam velocidade em torno de 35 km/h em terreno irregular, razoável blindagem e potência de fogo capaz de destruir blindados nazistas. O início da derrota alemã apenas veio acontecer em Stalingrado, na Rússia, e como último esforço alemão para retomar a iniciativa do ataque na frente Oriental ocorreu a derrota alemã na Batalha de Kursk, também ocorrida em solo russo. Essa batalha é considerada a maior batalha de blindados da história, sendo empregados cerca de 5000 veículos blindados russos, em oposição a 3000 carros alemães. Nesse combate a Guerra relâmpago não alcançou a eficiência tática esperada, muito devido pelo fato de não haver o efeito surpresa, porque os russos já estavam esperando o ataque, preparando o terreno com minas e fossos anticarro. Também destaca-se como fator fundamental para a derrota nazista o tanque T-34 russo. O Panzer IV, que até então havia cumprido bem seu papel durante todas as missões em que fora empregado, sendo o principal carro de combate alemão até então, frente ao T-34 mostrou-se um carro obsoleto. Durante a investida na Rússia, fora desenvolvida pelos nazistas a formação “Panzerkeil” (cunha blindada), utilizando conceitos da formação clássica em “V”. Essa formação possibilitava que os blindados se apoiassem mutuamente e avançassem para flanquear e explorar as fragilidades existentes nas defesas inimigas. Os tanques mais potentes encontravam-se na vanguarda (Tiger e Panzer IV) enquanto os mais leves (Panzer II e III) ficavam protegidos ao centro e, por fim, os granadeiros faziam a retaguarda da formação.

Essa formação foi desenvolvida com o objetivo de dificultar a pontaria das armas anticarro russas que tinham que ajustar as baterias várias vezes devido à velocidade e profundidade da cunha blindada. A Frente Leste de 1941/1942 foi travada entre alemães e russos. Enquanto os alemães atacavam no verão, para assim haver um solo seco que permitisse o uso dos carros de combate, os russos atacavam durante o inverno, pois, o soldado nazista não se encontrava preparado para um inverno tão rigoroso. Somado a essa espera por condições climáticas melhor, os nazistas também adiaram 41 várias vezes seus ataques por esperarem a chegada dos novos carros de combate, os Panther, superiores aos Panzer IV e que podiam fazer frente aos tanques T-34 da Rússia. Com isso, deu-se tempo necessário para o Exército Vermelho transformar Kursk em um dos lugares mais bem protegidos da Rússia. Também infringia um dos preceitos básicos da doutrina Blitzkrieg: evitar atacar um ponto forte. O desbordamento de posições defensivas ferrenhas com objetivo de cercá-las para enfraquecê-las e então atacar, ou mesmo atingir as linhas de suprimento desse local eram táticas comuns dos alemães. O número de carros utilizados durante esse combate foi tão grande que a aviação de ambos os lados, praticamente, não realizou ataque por causa dos pilotos não conseguirem distinguir os tanques devido ao seu número, a poeira e fumaça dos carros destruídos. Por fim, após imenso esforço de ambos os lados em defenderem e conquistarem posições, os alemães foram obrigados a retirarem-se da Rússia. Em 23 de julho, os russos detiveram uma ofensiva alemã e iniciaram uma contraofensiva, obrigando-os a retornarem às posições iniciais antes da batalha. Um mês depois, em agosto, uma grande ofensiva do Exército russo obrigou os alemães a se evadirem de Kursk o que, em pouco tempo, aconteceria em toda a Frente Leste. Ignorada pelos alemães, a surpresa agora estava do lado russo.

domingo, 30 de junho de 2019

Como uma Brigada Blindada Conquistou Bagdá *171



Alex Alexandre de Mesquita


ANTECEDENTES

A conquista de Bagdá foi a última etapa da Operação Iraq Freedom conduzida pelos EUA durante o primeiro semestre de 2003, operação esta que tinha por objetivo depor Saddam Hussein do governo. 

A Operação Iraq Freedom iniciou-se em 20 de março com uma ação ofensiva terrestre a partir do Kuwait, conduzida por uma coalizão entre EUA e Inglaterra, principalmente. Sincronizada com a ofensiva terrestre, ocorreram  uma série de ataques aéreos com mísseis e bombas a Bagdá e arredores. 

Os efetivos, assim como os meios materiais do exército iraquiano, haviam sofrido forte deterioração, desde a Guerra do Golfo (1991), e Saddam contava agora com 17 divisões do exército regular (contra as 40 que possuía na guerra de 1991), além das seis divisões da Guarda Republicana.

Diferentemente de 1991, em março de 2003 as forças da coalisão eram bem menores em número total de homens e meios, porém eram ainda mais qualificadas e acabaram enfrentando um exército iraquiano degradado pelo isolamento de suas fontes estrangeiras de suprimento, sem lideranças expressivas e com o moral depreciado.

O Exército Iraquiano era formado pela Guarda Republicana (constituída pela Divisão Mecanizada Adnan, Divisão de Infantaria Bagdá, Divisão de Infantaria Abed, Divisão Blindada Medina, Divisão de Infantaria Nabucodonossor e a Divisão Mecanizada Hamurabe), pelo Exército Regular (constituído por cinco corpos de exército que incluíam Div Mec, Div Inf e Div Bld) e por unidades especiais como a Unidade 999, o Serviço de Segurança Militar e o Exército do Povo. 

A Força Aérea Iraquiana (FAI) e a Marinha eram pouco expressivas e apresentavam um baixo índice de disponibilidade, o que reduzia o poder de combate daquele país.

Além das chamadas forças regulares, Saddam Hussein contava ainda com um efetivo de tropas irregulares, combatentes muito mais dedicados do que aqueles que integravam as forças regulares. Conhecidos como fedayins (mártires), esses combatentes eram na sua maioria oriundos de outros  países árabes disposto a combater a guerra santa contra os EUA. Por conta da sua organização e pela permeabilidade que possuíam para entrar e sair do país, era muito difícil identificar e calcular o efetivo total desses mártires.

Por outro lado, as forças da Coalizão contavam com um poder de combate cujo principal ponto de desequilíbrio estava na qualidade dos militares e na tecnologia envolvida. Coube ao Comando Central (CENTCOM) a condução da ação militar, enquadrando forças norte-americanas da Marinha, dos fuzileiros Navais, do Exército e da Força Aérea. As forças terrestres do CENTCOM estavam subdivididas em duas grandes estruturas, sendo uma delas constituída exclusivamente por organizações do Exército enquadradas pelo 5º Corpo de Exército, e a outra liderada pela 1ª Força Expedicionária de Fuzileiros que enquadrou a 1ª Divisão Blindada inglesa, entre outros grupamentos de forças.

No dia 20 de março de 2003 iniciou-se a ofensiva terrestre com o 1º Batalhão do 7º Regimento de Fuzileiros Navais a partir do Kwait. Além do 1º /7º Regimento, mais de 50 unidades valor batalhão também romperam a linha de partida com o objetivo de conquistar os campos petrolíferos iraquianos para que não fossem destruídos, o que poderia causar um grande desastre ambiental.




Estimava-se que o inimigo combateria as forças de coalizão com oito divisões, mas já se tinha a informação de que boa parte de suas forças havia desertado e retornado à vida civil. Isso aconteceu principalmente em função da violenta ofensiva a partir do Kwait, da campanha aérea contra Bagdá e das ações de operações psicológicas conduzidas antes da ação bélica propriamente dita.

Até a conquista da capital iraquiana havia a necessidade de assegurar a uma importante passagem sobre o rio Eufrates próximo à pequena cidade de Nasiriyah e o corredor de Karbala, por onde passava a Rodovia 8, porta de entrada dos subúrbios da cidade. Em Bagdá, outro objetivo era o Aeroporto Internacional de Bagdá, que tinha grande valor simbólico para o regime e alto valor militar para a coalisão, pois permitiria a ligação aérea com o exterior.

Em 2 de abril, a 3ª Divisão de Infantaria começou a se preparar para cruzar o rio Eufrates, cujas pontes não haviam sido destruídas, como muitas outras no decorrer dos combates. Nessa mesma data carros de combate norte-americanos começaram a cruzar o rio e tropas iraquianas tentaram impedi-los, mas sem sucesso. Estavam criadas as condições para o avanço à Bagdá pela 3ª Divisão de Infantaria Mecanizada, ação esta que se  iniciou com a conquista do Aeroporto Sadam Hussein e do centro de Bagdá pela a “2nd Brigade Combat Team”. 

A seguir, será analisada a ação dessa brigada investindo em Bagdá, realizando o que ficou conhecido como “Thunder  Run”




A AÇÃO NORTE-AMERICANA

Até a chegada aos subúrbios de Bagdá a ofensiva da coalizão estava sendo conduzida com uma extraordinária velocidade e os comandantes não pretendiam interromper ou reduzir esse ímpeto, agora que estavam prestes a investir contra a capital iraquiana. Entretanto, as lembranças dos combates em Mogadíscio ainda estavam vivas na memória de todos os combatentes desdobrados no Iraque.

O general Tommy Franks, comandante do V Exército Norte Americano, estava convencido de que os oponentes haviam perdido os meios para uma defesa organizada em Bagdá e desta forma deu liberdade para que ações de reconhecimento em força fossem realizadas pelos seus elementos subordinados.

Sua intenção era a levantar o dispositivo, a composição e valor do inimigo que possivelmente estivesse no interior da cidade. Essa autorização está relacionada às estimativas referentes ao valor do inimigo. Era possível conceber que incursões relâmpago ao centro da cidade pudessem ser bem sucedidas, pois funcionariam como  demonstrações de força e ação de choque.

Isso fez com que em 5 de abril a 3ª Divisão de Infantaria Mecanizada realizasse uma operação de reconhecimento em força que ficou conhecida como Thunder Run.

Para cumprir essa missão, foi designado o 1º Batalhão do 64º Regimento Blindado, que a partir das suas posições localizadas nos subúrbios de Bagdá seguiu rumo à região do Distrito Governamental, onde se localizava o Palácio Presidencial e os ministérios. Sabia-se que o centro da cidade estava repleto de  fedayins,  de elementos remanescentes da Guarda Republicana, de remanescentes do Exército regular e de fanáticos estrangeiros e o avanço do 1º/64º Regimento Blindado acabou por levantar importantes informações a esse respeito. 

O sucesso dessa operação contribuiu para assegurar  que os iraquianos estavam realmente debilitados e não tinham condições de conduzir uma defesa organizada. Na realidade o que se apresentava era uma resistência descontínua, onde não havia unidade de comando, por conta da campanha aérea ter reduzido a um mínimo a capacidade de comando e controle de Saddam e de seus generais.

Em 7 de abril o comandante de 3ª Divisão de Infantaria, general Blount concluiu que poderia mais uma vez se valer da ação  de choque de seus meios blindados para, de uma forma decisiva, conquistar o centro da capital do Iraque.

Para isso, ele decidiu empregar a 2ª Brigada, então comandada pelo coronel Perkins, para realizar um segundo Thunder Run, agora com a missão de conquistar e manter a região dos palácios, que foi designada como objetivo DIANE.

A 2ª Brigada estava composta pelas unidades:
  • 3º Batalhão do 15º Regimento de Infantaria, dotado de VBC Fuz Bradley;
  • 1º e 4º Batalhões do 64º Regimento Blindado, dotados de CC Abrams
  • Esquadrão E do 9º Regimento de Cavalaria Blindado, dotado de CC Abrams e VBC Fuz Bradley 
  • 1º Batalhão do 9º Regimento de Artilharia de Campanha, com VBC Obus M 109. 
Com essa organização, é possível identificar que a brigada tinha forte componente de carros de combate.

O acompanhamento de inteligência identificou e informou que a missão não seria tão fácil quanto a executada no dia 5 de abril. As forças inimigas começaram a estabelecer posições de bloqueio na região dos entroncamentos principais da cidade, empregando áreas minadas e construindo obstáculos com escombros para impedir qualquer movimento. A rodovia 8, principal via de acesso em direção à cidade estava toda minada.




A operação foi planejada de modo que a FT 1º/64º Regimento Blindado conquistasse e mantivesse o objetivo DIANE, enquanto a FT 4º/64º Regimento Blindado  conquistaria dois outros palácios próximos ao rio  Tigre, objetivos designados como WOOD WEST e WOOD EAST. Desataca-se que ambas as FT eram fortes em carros de combate e dessa forma pouco aptas a manter o terreno.

A terceira unidade, a FT 3ª/15 Regimento de Infantaria , forte em fuzileiros, ficou com a missão de manter a posição inicial da brigada, objetivo SAINTS, com parte de seu efetivo, estabelecer uma linha de comunicação e suprimento desse ponto até os objetivos WOOD e bloquear a rodovia 8, devendo conquistar e manter as três maiores interseções ao longo da rodovia. Esses objetivos receberam os nomes de a CURLEY, LARRY e MOE.

O Cel Perkins já havia percebido que a principal tática dos iraquianos era atacar as forças norte-americanas quando estas estavam estacionadas, por isso foi tomada a decisão de manter a brigada sempre em movimento. A FT 1º/64º Regimento Blindado, que liderou o movimento não deveria parar sob hipótese alguma, qualquer viatura danificada deveria ser ultrapassada, seus integrantes socorridos e no menor espaço de tempo dever-se-ia destruí-la ou inutilizá-la.  O ataque iniciou às 05h38min, mas teve que inicialmente vencer uma área minada, o que levou cerca de 20 minutos e às 06h00min a brigada iniciava o seu Thunder Run. 

Por volta das 06h11min a subunidade testa estabeleceu contato com o inimigo, sofrendo fogos de armas automáticas, RPG e morteiros, danificando um CC que foi deixado para trás e sua guarnição socorrida, como havia determinado o coronel Perkins.

Contudo essa resistência, mais uma vez desorganizada não foi suficiente para deter o avanço da brigada. Verificava-se que embora os iraquianos tivessem tido tempo de preparar posições defensivas eficientes isso não ocorreu. Não havia integração entre o fogo e a manobra, as posições e  as áreas de obstáculos não eram batidas por fogos. Na verdade, mais e mais se confirmava que o inimigo conduzia uma resistência descontínua.

Às 07h56min a FT 4º/64º Regimento Blindado informou que havia conquistado seus objetivos e os mesmos já haviam sido vasculhados, entretanto essa informação não reduziu um sério problema ocorrido às 07h00min, quando o Centro de Operações Táticas (COT) da brigada foi atingido por um míssil ou foguete.

Esse fato retirou do comandante a capacidade de coordenar a manobra e o apoio de fogo, o que poderia comprometer toda a missão. Somente às 09h00min é que o COT voltou a funcionar em plenas condições.

O combate continuou intenso até o dia 8, mas a maioria do inimigo era formada por  fedayins, que embora não possuíssem formação militar de combate mostravam-se bastante determinados em cumprir a sua missão pela causa árabe. Assim, eles desfechavam ataques suicidas com carros bombas e homens bombas, além de disparos a curta distância com RPG. O único local em que se apresentaram elementos da Guarda Republicana foi próximo ao centro de Bagdá. Próximo ao objetivo MOE onde os iraquianos atacaram com uma FT de T-72 e BMP-1 e empregaram também armas antiaéreas realizando o fogo direto.

No dia 8 de abril, pela manhã a 2ª Brigada sofreu um contra-ataque vindo de leste do rio Tigre. Os iraquianos formavam pequenos grupos de 10 a 20 homens com RPG e armas automáticas. Muitos usavam roupas civis, mas alguns foram identificados como integrantes da Guarda Republicana. A ação foi rechaçada e enfim a posição da 2ª Brigada se estabilizou e a linha de comunicação e suprimento havia sido estabelecida.

Isso permitiu que a 3ª Divisão de Infantaria Mecanizada determinasse que a 3ª Brigada atacasse Bagdá pela Rodovia Nr1 em 9 de  abril, ligando-se com a 2ª Brigada. No dia seguinte a 1ª Brigada realizou a limpeza da Rodovia Nr 8, desde o aeroporto, vindo por fim a ligar-se com 2ª Brigada no centro de Bagdá. Não foram contabilizadas todas as perdas iraquianas, mas com certeza chegaram à casa do milhar e mais de cem veículos foram destruídos. Não houve prisioneiros de guerra, aqueles que se rendiam eram desuniformizados e liberados, pois os únicos iraquianos que os norte-americanos queriam prender eram os assessores de Sadam e o próprio presidente.  

O emprego de meios predominantemente blindados na conquista de Bagdá surpreendeu muitos especialistas militares que previam uma derrota fragorosa da coalizão combatendo em ambiente urbano. Entretanto a lembrança de Mogadíscio, onde tropas leves foram cercadas e quase destruídas por somalis ainda persistia na mente dos comandantes norte-americanos, como registra Zucchino : “Blout e Perkins não queriam repetir Mogadísico. [...] A coluna blindada tem distintas vantagens sobre as forças leves de Rangers e Delta Forces que conduziram o ataque em Mogadíscio”.

Além disso, era senso comum que os blindados dentro de Bagdá seriam alvos fáceis para os iraquianos e que, assim como em Grozny, o resultado seria desfavorável ao atacante. Os próprios comandantes norte-americanos temiam pelo sucesso da missão, mas ao final tudo se transformou em sucesso.



A MISSÃO

A missão da 2nd Brigade Combat Team era conquistar a região do distrito governamental onde se localizava o Palácio Presidencial e os demais edifícios ministeriais do governo iraquiano, de modo a contribuir com a missão da 3ª Divisão de Infantaria de conquistar Bagdá. O comando da 3ª Divisão, ouvido o comandante da 2ª  Brigada, resolveu empregar a sua grande unidade com maior quantidade em carros de combate e veículos blindados. 

Isso foi decorrente do fato de que a missão compreendia a conquista de objetivos específicos, que não demandariam, obrigatoriamente, a necessidade de vasculhamento. Isso justifica emprego de uma Bda Bld e a utilização da técnica de investimento seletivo. Tanto o coronel Perkins, comandante da brigada como o general Blount, comandante da divisão não aceitavam o consenso convencional de que empregar blindados em ambiente urbano é uma desvantagem. Para eles, os blindados não só podiam combater em ambiente urbano, como também prevalecer.



O INIMIGO

Após os combates conduzidos desde o dia 20 de março as forças terrestres iraquianas estavam desorganizadas, com efetivos incompletos por baixas e deserções e com equipamento e armamento parcialmente destruído ou obsoleto, Saddam Hussein ainda comandava seu exército e determinou que a defesa de Bagdá fosse realizada a todo custo. O centro de Bagdá ainda estava repleto de combatentes da Guarda Republicana, do Exército Regular e dos fedayins. Segundo fontes do sistema de inteligência norte-americano, Saddam dispunha em Bagdá de duas brigadas da Guarda Republicana e 15.000 fedayins. 

Dessa forma ainda havia em Bagdá carros de combate em número ignorado, viaturas blindadas de diversos tipos, artilharia de campanha e antiaérea, dentre outros componentes dos diversos sistemas operacionais.

Próximas ao centro de Bagdá estavam concentradas as forças regulares iraquianas que incluíam uma combinação de elementos a pé e mecanizados pertencentes à Guarda Republicana.

Esse inimigo em particular tinha condições de atacar com CC T-72 e VBC Fuz BMP-1 (Foto 3) e armamento antiaéreo empregado para o fogo direto. Havia somente uma posição defensiva organizada com trincheiras e tocas e outras posições preparadas nos edifícios que dominavam os entroncamentos rodoviários.

Nesse momento, as forças convencionais ainda atuavam enquadradas por comando superiores. Particularmente a Guarda Republicana e o comando geral estavam sob responsabilidade dos filhos do presidente, que nada conheciam a respeito do emprego rápido de forças militares e não dispunham de meios de comando e controle para coordenarem suas ações. Esses fatores contribuíram para que a resistência iraquiana não respondesse de forma rápida e eficaz a investida das tropas da coalizão.

As forças militares iraquianas apresentavam uma vulnerabilidade peculiar, que era o seu sistema de informações públicas. O ministro da Informação Ali Mohamed Said al-Sahhf insistia em repetir que o combate estava sendo vencido pelas forças do Iraque e que os norte-americanos estavam sofrendo pesadas baixas, o que não era verdade. Essa prática foi determinante para que as forças iraquianas em Bagdá não esperassem o investimento dos norte-americanos, não se preparando para a defesa efetiva da cidade. Isso contribuiu para reduzir o seu poder de combate.

Em verdade somente os fedayns continuavam lutando tenazmente, mas por conta de suas múltiplas origens e procedências esses combatentes não possuíam uma unidade de comando convencional. Os  fedayins também não estavam habilitados a operar os equipamentos militares mais complexos, como os carros de combate de origem russa. Assim, a resistência iraquiana ficou reduzida a grupos armados com armas automáticas e RPG que não chegaram a causar danos consideráveis aos blindados das forças dos EUA e nem baixas aos soldados. Ao concentrar o poder em suas mãos e centralizar todas as decisões Saddam Hussein pode ter contribuído para que houvesse reduzida resistência em Bagdá. 

Os seus comandantes subordinados, nos diversos níveis, não puderam se valer da iniciativa para tomar decisões que poderiam contribuir para a defesa da cidade, como por exemplo, preparar as edificações como posições defensivas, preparar túneis para auxiliar na movimentação entre os edifícios ou preparar destruições em obras de arte diversas.

Outra característica importante é que não havia um sistema de defesa organizado na cidade, embora Saddam tenha dito que um anel de aço protegia Bagdá. Isso pode ter sido resultado do desgaste sofrido durante a campanha no deserto desde a fronteira com o Kwait. Como até a chegada a Bagdá havia predominado o combate convencional e muitas das forças em Bagdá eram compostas por militares que haviam se retirado do deserto, não houve tempo nem coordenação para a execução de uma defesa eficiente.

Ao se observar as ações dos fedayins é possível identificar o início de um combate irregular, principalmente por meio da utilização de técnicas de emboscada. Também começava a ficar difícil identificar o inimigo, pois este começou a atuar desuniformizado  e empregando até mesmo veículos civis, como, por exemplo, o que os norte-americanos chamam "techinicall". Essa mudança de atitude começou a configurar um combate assimétrico e os valores numéricos relativos ao poder de combate do inimigo, já não representavam fielmente as possibilidades do inimigo.




Foram empregados também muitos IEDs e também se registrou a ocorrência de homens-bomba, mas em algumas regiões de Bagdá predominaram as minas terrestres em ruas e avenidas. As minas tinham o objetivo de reduzir a velocidade de progressão dos militares norte-americanos, enquanto que os dispositivos explosivos e homens bombas eram empregados para causarem baixas.

Ainda sobre os fedayins, a sua principal motivação para o combate vinha da crença e fanatismo religioso. A crença de que tinham a missão de derrotar o grande Satã e de que estavam lutando uma guerra santa. Isso era um fator moral positivo para os defensores de Bagdá, mas nem todos agiam ou pensavam como eles.

O fato de Saddam Hussein ter sido um ditador violento e vingativo fez com que as diversas etnias por ele perseguidas e rivais entre si não apoiassem as ações em Bagdá, recusando-se a combater, elevando o número de deserções e dificultando o homizio dos combatentes no seio da população. Os militares do
exército do Iraque simplesmente despiam seus uniformes e se transformavam em cidadãos normais, não contribuindo mais para o esforço de guerra.

Resumindo, o inimigo enfrentado pelos norte-americanos em Bagdá não tinha condições de defender a cidade de forma organizada, mas tão somente apresentar resistências descontínuas. Esse fato muito se deve à aversão que a população iraquiana sentia por Saddam Hussein, negando-se a combater e perder a vida por um ditador violento, vingativo e sanguinário. Embora o ambiente urbano pudesse contribuir para desequilibrar o poder de combate em favor dos iraquianos, não houve uma preparação prévia de posições defensivas, linhas de comunicações e suprimento ou  mesmo delegação de competência para que os pequenos grupos adotassem ações que impedissem o avanço da coalizão.

Somente os  fedayins se mostraram resistentes, passando a empregar técnicas de guerra irregular contra as forças da 3ª Divisão de Infantaria. Entretanto essas ações se aproximaram mais do martírio advindo do fanatismo religioso do que propriamente uma resistência militarmente organizada.

Por fim, ao passar de um combate tipicamente convencional em largas frentes e profundidades, como no deserto, para um combate assimétrico em ambiente urbano os iraquianos não souberam se adaptar para tirar o máximo proveito da cidade de Bagdá, das suas características e das limitações que ela poderia apresentar ao emprego de grandes formações  blindadas e motorizadas norte-americanas.

Foi graças a esse inimigo e a esse modus operandi que a 2ª Brigada pôde realizar o seu Thuder Run, não se preocupando em vasculhar as regiões ultrapassadas, mas somente progredir de forma rápida e potente para o seu objetivo. E foi essa agressividade, somente possível por meio do emprego de meios blindados, que causou a surpresa ao inimigo e a sua conseqüente derrota.




O TERRENO

A capital iraquiana possui uma área de aproximadamente 400 km2 e em 2002 abrigava uma população de cerca de 5.000.000 de habitantes, mas que se reduziu com o conflito em 2003, não havendo dados disponíveis a respeito. A cidade é cortada de sudeste para sudoeste pelo rio Tigre, pelo Canal do Exército e pelo rio Diyala. Além disso, havia pelo menos cinco importantes ramais ferroviários e diversas rodovias e auto-estradas que chegam à cidade.

Isso fazia com que a cidade fosse dividida em setores segmentados. Essa segmentação era interligada por pontes, viadutos, passagens de nível e nós rodos-ferroviários que passaram a ter grande importância para as operações, pois permitiam controlar cada setor. Essa configuração segmentada dificultou o apoio mútuo entre os elementos de manobra da 2ª Brigada. Embora seja uma das cidades mais antigas do mundo, Bagdá passou por uma grande modernização. Essa modernização lhe conferiu uma configuração bastante regular no que se refere à disposição das ruas, com largas avenidas, em quarteirões organizados e grandes espaços abertos, como a região dos palácios.

Essa organização facilitava a marcação de limites e o emprego de meios blindados, mecanizados e motorizados em grandes formações de combate. A observação e os campos de tiro também foram favorecidos pelos espaços amplos e as largas avenidas principalmente no Distrito Governamental.

As edificações em Bagdá seguiam o seguinte padrão: nos subúrbios casas e prédios de pequena a média altura. As casas normalmente construídas em tijolos e os prédios em concreto. Havia também grandes áreas industriais, principalmente petroquímicas próximas ao leito do rio Tigre. No centro da cidade já predominavam os prédios de grande altura, com mais de 15 andares, como hotéis e prédios governamentais, construídos em concreto. Além disso, havia a região dos palácios, com uma arquitetura toda peculiar. 

Por ser a capital do Iraque, Bagdá possuía uma boa infra-estrutura. Havia o Aeroporto Saddam Hussein, a Estação Ferroviária Central, hospitais, a sede administrativa do governo. Havia ainda estações de rádio e televisão, subestações elétricas e uma rede de transporte estruturada. Logicamente, após campanha aérea houve muitos danos a essa infra-estrutura, mesmo com a política de redução de danos e o emprego maciço de armas inteligentes.

O tamanho da cidade facilitava em muito a instalação de um sistema defensivo eficiente, permitia a observação do alto dos principais edifícios e a utilização da infra-estrutura que ainda estivesse intacta para apoiar as operações militares. Para os norte-americanos, o fato de investir contra uma metrópole com cerca de 5.000.000 de habitantes era um desafio extremamente difícil e complexo. Assim como em outros conflitos em ambiente urbano, a existência de prédios altos dificultava a realização de fogos indiretos, pois as granadas de artilharia e morteiro encontravam altos edifícios em suas trajetórias não atingindo o alvo selecionado. 

Isso além de reduzir a eficiência do tiro ia de encontro à política de redução de danos e por vezes contra as regras de engajamento. Mesmo utilizando munições inteligentes, os norte-americanos causaram muitos danos às obras de arte em geral e dessa forma algumas ruas ficaram cobertas de escombros. Para o inimigo isso foi favorável por que limitava o movimento dos veículos e tropas do oponente. Além disso, esses mesmos escombros eram utilizados na construção da proteção das posições defensivas. 

A existência de túneis diversos, como os de esgoto, facilitava a progressão, aumentando a mobilidade tática dos iraquianos, principalmente dos fedayins. Entretanto não houve uma preparação minuciosa da cidade, com a construção de túneis de interligação entre as diversas posições defensivas e dessa forma essa vantagem não pode ser explorada na plenitude.

Em resumo, essas eram as principais características do terreno em que os norte-americanos da 2ª Brigada combateram as forças iraquianas em Bagdá. Por haver muitas áreas abertas, permitindo a observação e o emprego do armamento principal dos CC foi possível o seu emprego e de viaturas blindadas de combate de fuzileiro. Soma-se a isso o fato de que a cidade não havia sido preparada defensivamente para a ofensiva dos Estados Unidos.




OS MEIOS BLINDADOS

A 2nd Brigade Combat Team é na verdade uma grande unidade blindada com CC Abrams, artilharia SPG e fuzileiros embarcados em VBC Fuz Bradley.

O carro de combate M1A1 Abrams é uma modernização do seu original o M1, cujo desenvolvimento é da década de 1980. Essa  versão recebeu um novo canhão de 120 mm, sistemas de proteção químicos, biológicos e nucleares e um pacote de robustecimento da blindagem. O carro é dotado dos seguintes armamentos, além do canhão: uma metralhadora coaxial de 7,62 milímetros, duas metralhadoras antiaéreas de .50 polegadas e 7,62 mm e seis lançadores de granadas fumígenas.

Como todo carro de combate, o M1A1 foi desenvolvido para o combate em ambientes com amplas frentes e grandes profundidades, seu canhão tem a capacidade de engajar alvos a até 4.000 metros com munição APFSDS e graças aos seus sistemas de direção e controle de tiro a probabilidade de acerto desses alvos é próxima aos 100%, evitando o risco de fratricídio. Além da munição cinética o canhão também tem condições de disparar munições químicas  explosivas e de cabeça esmagável (HESH). Essas características tornam o Abrams um dos melhores CC do mundo. A sua guarnição é de 4 militares, como a maioria dos CC em operação no mundo, com o comandante do carro, o atirador, o  auxiliar do atirador e o motorista. 

O comandante do carro conta com seis periscópios que permitem observar o ambiente externo, mas o seu principal instrumento ótico é o visor termal independente que proporciona uma visão de 360º, estabilizada, dia e noite, com busca e travamento de alvo selecionado que envia a  informação diretamente ao atirador. Além disso, o comandante, por meio de um  punho de prioridade de tiro pode engajar o alvo desabilitando o atirador. Essas peculiaridades permitem um engajamento rápido e preciso do inimigo.




O carro conta ainda com um computador digital que processa as diversas variáveis envolvidas no tiro, quer sejam ambientais (vento, temperatura, etc), situacionais (velocidade do carro, posição do carro em aclive ou declive, inclinação lateral, tipo de munição, etc) e do alvo (distância, medida por telemetria laser, velocidade do alvo, etc). O motorista, cuja posição é no centro do carro, tem periscópios que permitem monitorar o ambiente em um ângulo de 120º. Um desses equipamentos é um intensificador de luz que garante a condução do carro à noite, ou com reduzida luminosidade.

A composição da blindagem é confidencial, mas há evidência de que contenha urânio empobrecido, tornando-a bastante resistente, no seu arco frontal, a armas anticarro portáteis do tipo AT-4 e algumas versões de RPG, além do tiro de munições explosivas de outros carros de combate. Essas características garantem um alto grau de sobrevivência.

Como todo CC, a maior proteção está no arco frontal e vai decrescendo para a retaguarda. A parte superior da torre também é bastante vulnerável, bem como a parte inferior do CC, com destaque para as lagartas.

Durante a operação Iraq Freedom o Abrams se comportou muito bem, progredindo pelo deserto, como já havia acontecido na Guerra do Golfo. Entretanto, havia a preocupação relativa ao seu emprego em ambiente urbano. Essa preocupação era pelo fato de que os sistemas de armas ficariam comprometidos pela diminuição da largura e profundidade dos campos de tiro, dificuldade de engajamento de alvos em locais altos ou muito baixos, por conta da elevação e depressão do canhão, existência de espaços estreitos, escombros e pelo uso de armas anticarro pelo inimigo.

Apesar disso, o Abrams mostrou-se extremamente eficiente, resistindo aos fogos anticarro do inimigo, graças à sua blindagem; engajando alvos a grandes distâncias, em função da topografia de Bagdá e da configuração das ruas e quarteirões, causando a ação de choque desejável ao combate, por meio do seu poder de fogo e mobilidade. O resultado é que nenhum carro foi destruído e uns poucos foram postos fora de ação, sendo que nenhuma guarnição foi perdida. Essas características foram determinantes para o emprego do carro dentro da localidade.

Isto é, a sua capacidade de sobrevivência era compatível com a ameaça inimiga. Para que fosse formado o binômio carro/fuzileiro  havia disponível na 2ª Brigada as VBC Fuz Bradley. A missão do Bradley é proporcionar transporte protegido e poder de fogo às frações de fuzileiros ou às frações de cavalaria, tais como os exploradores.

Para isso, o carro possui uma grande mobilidade através campo, por ser um veículo sobre lagarta. A sua blindagem em grande parte de alumínio, com reforço em determinadas partes do carro como arco frontal onde também possui blindagem em aço, protege os ocupantes contra fogos de artilharia, algumas armas anticarro, fogos de .50 e de armamento leve de todo o tipo.

O seu armamento principal é um canhão de 25 mm, que pode disparar munições cinéticas e explosivas a uma distância de até 2000 m. Coaxial ao canhão, há ainda uma metralhadora de 7,62 mm. Sua torre é estabilizada com sistemas de condução de tiro computadorizado e com capacidade de atuação de dia e de noite, graças ao seu sistema de imagem termal.  O canhão permite ainda a realização de rajadas de até 200 tiros por minuto.

Com esse armamento o Bradley tem a capacidade de derrotar ou causar danos na maioria das viaturas blindadas existentes, incluindo alguns CC mais antigos. Outro armamento de relevo no Bradley é o míssil TOW, montado na lateral do carro em dois lançadores, que ficam prontos para serem empregados, entretanto o carro necessita parar para efetuar os disparos. 

O TOW é um míssil guiado, com alcance aproximado de 4.000 m, sendo capaz de destruir qualquer blindado existente na atualidade ou destruir posições fortificadas. O Bradley tem uma grande capacidade de sobrevivência no campo de batalha graças ao seu armamento e a sua proteção blindada, transportando a guarnição de três homens e um grupo de combate de 6 militares com grande segurança. Durante o investimento a Bagdá, o Bradley mostrou-se extremamente eficiente na proteção aproximada dos Abrams realizando fogos com seu canhão nos andares mais altos dos edifícios, onde os CC não podiam atirar, por conta da deficiência em elevação. Graças à sua capacidade de sobrevivência não houve a perda de nenhum grupo de combate ou guarnição, possibilitando a progressão embarcada, mesmo quando recebendo fogos de RPG.

Não resta dúvida de que a vantagem proporcionada por essas duas viaturas foi determinante para que se decidisse combater com esses meios blindados no interior de Bagdá. A sua capacidade de sobrevivência aliada à ação de choque foi o diferencial para o sucesso da conquista da região dos palácios na capital do Iraque, possibilitando a conquista de objetivos específicos sem a realização de ações de vasculhamento.




ENSINAMENTOS

A Operação Iraq Freedom demonstrou, sem sombra de dúvida, o poder militar dos Estados Unidos, não só em termos tecnológicos, como também na qualidade de seus recursos humanos. Isso ficou provado nos combates na ampla planície desértica e principalmente nas confinadas ruas de Bagdá.

Nesse contexto, o feito da  2nd Brigade Combate Team registrou-se na história militar como uma decisão audaciosa e surpreendente, quando cerca de 1000 militares receberam a missão de capturar uma cidade de 5 milhões de habitantes.  Não há registro da proporção exata de forças envolvidas nessa batalha, principalmente por que do lado iraquiano houve muitas deserções e o combate foi conduzido por remanescente, guerrilheiros estrangeiros e os aguerridos  fedayins. 

Contudo, o fato de Bagdá possuir esta população indicava que pela doutrina tradicional haveria a necessidade de  um grande efetivo com uma grande quantidade de fuzileiros para realizar o investimento e o vasculhamento. Entretanto o Exército dos EUA identificou que era importante se entender o componente humano, a sociedade iraquiana, de modo a atuar em suas fraquezas para que a ação militar fosse um sucesso. Uma dessas vulnerabilidades era o fato de que nem todos apoiavam Saddam Hussein e dessa forma contribuíram para a ofensiva da coalizão. Poucos foram aqueles que apoiaram os soldados iraquianos e muitos informaram sobre locais de homizio das forças e lideranças.

Essa relativa afeição também foi fruto da preocupação com a redução de danos durante o início dos combates e do bombardeio da capital. Isso foi possível por conta do uso de armas inteligentes. A redução de danos também contribuiu para que as ruas ficassem menos restritas ao movimento dos veículos, pois foram reduzidas as ocorrências de escombros.

Os norte-americanos exploraram ao máximo seus conceitos ofensivos de ataques preventivos, velocidade das ações, manobra, exploração das vantagens técnicas e superioridade de comando e controle, emprego de armas combinadas, liderança, exploração da surpresa. Tudo isso foi alcançado quando a 2ª Brigada penetrou de forma veloz e poderosa rumo ao coração da cidade. Por isso é que mesmo atuando em ambiente urbano, onde as ações são mais próprias para elementos a pé, o exército manteve o foco no emprego de meios blindados.




Essa técnica se mostrou eficiente principalmente por que os meios blindados norte-americanos eram muitos superiores aos iraquianos e às armas anticarro em presença. Esse pode ser apontado como  um dos fatores mais importantes que contribuíram para o sucesso do “Thunder Run”. A capacidade de sobrevivência e a potência de fogo dos Abrams e dos Bradleys permitiram que o combate fosse conduzido embarcado todo o tempo, sendo que nenhum carro foi destruído. Mesmo assim, após a guerra modificações foram propostas para que o Abrams se tornasse mais eficiente em localidade, surgindo um protótipo dedicado.

As atividades logísticas poderiam ter comprometido toda a missão, pois o consumo de munição e combustível foi muito grande apesar da brigada percorrer somente 20 quilômetros e o inimigo ser relativamente fraco. Assim, deve ser prevista a limpeza da futura Estrada Principal de Suprimento (EPS) o mais rápido possível de modo a garantir o ressuprimento e a evacuação de pessoal e material.

Em termos de comando e controle, a principal dificuldade ocorreu quando o COT da brigada foi bombardeado, mas a missão não foi comprometida, pois os comandos subordinados sabiam qual era a intenção do comandante e assim mantiveram a impulsão do ataque conquistando objetivos importantes com WOODY EAST e WOODY WEST.

O estudo de situação de inteligência foi primordial para o sucesso da operação. Ciente das fraquezas do inimigo, o Cel Perkins foi capaz de organizar a sua brigada e investir de forma rápida e agressiva contra pequenos e desorganizados efetivos inimigos. O sucesso do Thunder Run também está diretamente ligado à fragilidade do inimigo, que em momento algum apresentou uma defesa organizada que impusesse obstáculos expressivos ao movimento dos blindados da 2ª Brigada.

Além disso, foram selecionados objetivos específicos, o distrito governamental e os três entroncamentos. As ações foram direcionadas para a conquista desses objetivos, sem a preocupação de realizar a limpeza da área ultrapassada, buscando aproveitar a velocidade proporcionada pela ação de choque dos blindados. A limpeza foi realizada posteriormente por outra tropa, a 1ª Brigada. Dessa maneira a 3ª Divisão de Infantaria compôs uma força com a missão específica de atacar e conquistar os objetivos e outra com a missão específica de limpar o terreno ultrapassado.

A 2ª Brigada também privilegiou organização de FT valor batalhão com meios suficientes para que estas organizassem subunidades autônomas, principalmente com apoio de engenharia. O reforço de engenharia se mostrou extremamente eficaz no interior da cidade, onde os obstáculos foram superados com facilidade. 




Além disso, na fase da manutenção foi possível se aproveitar de escombros e áreas destruídas para as ações de contramobilidade e proteção. Ainda no que se refere à organização para o combate, o comandante da brigada e seu estado-maior levaram em consideração primordialmente as informações sobre o inimigo. Não foi feita nenhuma consideração a respeito da proporção entre quantidade de quarteirões a serem conquistados e pelotões disponíveis, mas sim, qual o valor do inimigo, suas características possibilidades e limitações.

Somente assim foi possível conceber que a ação de uma brigada blindada, forte em carros de combate, poderia conquistar Bagdá. Ficou evidenciado que a 2ª Brigada valorizou os princípios de guerra do objetivo, pois estava perfeitamente definido que a missão era conquistar o distrito governamental; da ofensiva por meio da execução do  próprio  Thunder Run; da manobra, ao empregar seus batalhões para conquistar diversos objetivos simultaneamente, negando ao inimigo uma reação organizada e colocando-o em posição desvantajosa.

Ao par disso, no que se refere aos fundamentos das operações ofensivas, a todo o momento era buscado o contato com inimigo, quer seja pela ação de tropas, quer seja pelo monitoramento por outros meios e exploração das suas vulnerabilidades, dois fundamentos importantes das  operações ofensivas. 

conquista dos objetivos LARRY, MOE e CURLY, importantes entroncamentos rodoviários contribuíram para evidenciar outro importante fundamento das operações ofensivas que é o controle de acidentes capitais, neutralizando a capacidade de reação do inimigo.

Ao empregar unidades blindadas foi possível manter  a impulsão, principalmente por conta da conjunção do fogo e do movimento, concentrando o poder de combate no momento e local desejados. Todas essas considerações também vão ao encontro dos fundamentos das operações ofensivas.

Pode-se dizer que a organização de elementos de combate fortes em CC contribuiu para o sucesso do ataque da 2ª Brigada. Isso por que os CC proporcionaram ação de choque e efeito psicológico. Soma-se a isso a sua capacidade de manter a velocidade e o ritmo do combate; a proteção blindada que oferecem, em função da sua blindagem ter sido modernizada para suportar as principais armas anticarros portáteis existentes e os sistemas de armas embarcados que garantem apoio de fogo imediato e preciso, de dia e de noite, e com uma grande variedade de calibres.



CONCLUSÃO 

A ação da 2ª Brigada foi inovadora por que mostrou que não só é possível empregar meios blindados em localidade, como também eles serão responsáveis por desequilibrar o poder de combate em favor de quem os emprega. 

Mais ainda, na operação quem liderava o movimento eram batalhões de carros de combate. Os seus elementos testa eram FT subunidades de carros de combate, tudo isso vai de encontro ao consenso geral de que quem deve liderar o movimento são os fuzileiros embarcados. Os fuzileiros das FT, pelo contrário, permaneciam embarcados, somente deixando a proteção de seus veículos quando o fogo inimigo se tornava intenso ou quando necessitavam manter o terreno conquistado.

Outro fator importante refere-se ao componente humano: militares adestrados, conhecedores do equipamento e do armamento e das suas interações com o do ambiente, confiantes no seu conhecimento e em suas capacidades. Esse fator, reunido sob o comando de lideranças bem preparadas e sistemas de informação eficientes, torna qualquer sistema bélico eficaz, diferentemente do Exército do Iraque.

O sucesso norte-americano se deveu também à débil resistência inimiga, indicando que ações rápidas levam a surpresa ao inimigo. Isso é possível com a conquista de objetivos específicos sem a preocupação de realizar a limpeza do terreno ultrapassado, a não ser para a sua própria segurança. A técnica do  Thunder Run se apresentou como bastante eficiente, entretanto para a realização de ações dessa natureza é importante C2 bem estruturado, comunicações amplas e flexíveis, constante adestramento, iniciativa e liderança em todos os níveis, flexibilidade na organização dos elementos de combate formando conjuntos de armas combinadas e material de emprego militar compatível com o ambiente urbano. 

Por fim, vale o ensinamento de considerar o modus operandi dos norte-americanos, analisando de forma bastante atenta o desencadear das ações, as condições ambientais, materiais, pessoais, de preparo e adestramento e principalmente os ensinamentos advindos da prática nos campos de batalha do Iraque.