FRASE

"Quem escolhe a desonra a fim de evitar o confronto, a conseguirá de pronto, e terá o confronto na sequência."

sábado, 18 de maio de 2019

Fundamentos das Operações Militares *170



A guerra é a resolução de um conflito por meio da força, situação onde se esgotou o poder da palavra e da negociação. Ela se faz através de uma sequência de operações militares planejadas no tempo, no espaço e na finalidade, de magnitudes diversas e correlacionadas, onde cada lado procurar adquirir a superioridade estratégica sobre seu oponente, através da aplicação do poder militar, até se chegar a um ponto onde a situação tende a se tornar irreversível, configurando a vitória de um dos contendores.

Uma operação militar é um conjunto de ações empreendidas por forças e meios militares, seguindo um plano de ação previamente elaborado e buscando cumprir um objetivo bem definido, que pode ser o objetivo do conflito em si, ou um objetivo intermediário que vise a criar condições para que outro objetivo maior seja buscado. Ela pode ser executada por uma única força em situações limitadas, ou por várias forças operando combinadas em situações de maior amplitude.

O emprego de uma força armada deve ser baseado em princípios e fundamentos que rejam sua atuação, condicionando seu emprego em bases de racionalidade e cautela, a fim de evitar abusos e perdas desnecessárias, que podem comprometer o próprio sucesso das operações. São 5 os principais fundamentos das operações militares: a doutrina, os fatores da decisão militar, o fator militar, os princípios da guerra e os elementos do poder de combate.

Doutrina Militar

O primeiro destes fundamentos é a doutrina militar, que rege o preparo da força na condução de seu adestramento e instrução, na sua organização, no tipo e quantidade do equipamento a ser empregado e na forma como ela é empregada; além de definir as bases de sua orientação moral e ética. A doutrina militar é o conjunto de normas e preceitos que deverão ser obedecidos para a elaboração de todas as demais instruções e orientações da força, delineando a emissão de ordens e elaboração de manuais de campanha.




Fatores da Decisão Militar

O segundo fundamento operacional tange os fatores da decisão militar, que são as variáveis a serem consideradas quando do planejamento e condução de uma operação militar. Prestam-se tanto a gestão das operações em curso, quanto ao estudo de operações passadas e história militar. Qualquer decisão militar é fruto de uma análise lógica desses fatores, no clássico Estudo de Situação, que é conduzido analisando 5 fatores distintos: A missão, o terreno, o inimigo, os meios disponíveis e o tempo a ser cumprido.

  • A Missão que nada mais é do que um objetivo a ser alcançado. Ao receber uma missão, o comandante militar deverá reunir em um plano de ação factível, baseado no bom senso, preceitos de doutrina, conhecimentos e treinamento que possui, sempre consultando os manuais de campanha afins, tudo aquilo que for necessário para cumpri-la.
  • Para buscar a melhor forma de cumprir a missão recebida, o comandante procede a análise do Terreno onde será executada. Leva em consideração todos seus aspectos topo-táticos, como observação e campos de tiro, cobertas e abrigos, obstáculos, vias de acesso, acidentes capitais, condições meteorológicas, assuntos civis e outros; identificando nele seus objetivos.
  • Uma vez familiarizado com o terreno onde irá desdobrar seus meios, o comandante da operação passa a estudar o Inimigo, analisando suas capacidades e limitações, organização, equipamento, instrução e forças morais, concluindo sobre suas deficiências, vulnerabilidades e possibilidades.
  • O quarto aspecto que será levado em consideração serão os Meios disponíveis, onde o comandante e seus estado maior farão um estudo crítico da própria situação, sobre o mesmo enfoque anterior, para concluir sobre suas deficiências, vulnerabilidades, pontos fortes e possibilidades reais.
  • Após tomar pé de toda a situação, passa-se então a coadunar as principais idéias formuladas dentro do Tempo em que deverá ser concluída a missão. Toda operação deve ser viabilizada em tempo hábil e com suas diversas operações devidamente sincronizadas, de forma a não permitir que o inimigo consolide sua situação e que o elemento surpresa possa ser explorado ao máximo. Ações subsequentes poderão depender do sucesso de sua missão, e em alguns casos o não cumprimento do prazo poderá inviabilizar as ações que seguirão, parcial ou totalmente.

Baseado nesta pré-análise, o comandante decidirá sua linha de ação, sempre procurando explorar seus pontos fortes contra as vulnerabilidades do inimigo, e adotando medidas de segurança para impedir que ele faça o mesmo. Sempre assessorado por seu Estado Maior, a linha de ação adotada será detalhada no plano de ação, fruto de trabalho minucioso, baseado nas informações disponíveis e em outras que deverão ser buscadas. A decisão resultante de um Estudo de Situação, sempre traz em seu bojo a aplicação dos princípios universais de guerra.





O terceiro fundamento é a consideração das inúmeras variáveis que influem no desempenho de uma força militar. O comandante deve avaliá-las de forma a tirar o máximo de proveito da situação, corrigir falhas e viabilizar um estratégia viável e bem sucedida. Ao conjunto destes elementos denominamos Fator Militar. São eles: logística, comando, estado-maior, tropa, equipamento, terreno, condições meteorológicas, imponderáveis da guerra, incerteza da situação, confusão no combate, aplicação dos fundamentos da arte da guerra, grau de operacionalidade, moral, pensamento militar e tecnologia. 

São variáveis sempre presentes que influenciam a missão, e que interagem sempre. O Fator Militar é composto de duas ordens de forças: As materiais e as morais. As últimas assumem relevância nos exércitos menos abastados.

Os princípios da guerra são um conjunto de conceitos que representam a base das operações militares modernas, e não um roteiro ou sequência a ser seguida. São o ensinamento colhido ao longo dos tempos e da história, nas inúmeras campanhas, batalhas e conflitos travados e que refletem o bom senso militar em qualquer situação (veja no link para maiores detalhes).




O poder de uma força militar é definido pela balanceamento de 5 fatores que o comandante deve lançar mão no campo de batalha. Sua utilização é vital e necessária a consecução bem sucedida das operações. São eles: A Manobra, O Poder de Fogo, A Liderança, A Proteção e a Informação. 


sexta-feira, 10 de maio de 2019

O Carro de Combate (MBT) *169


O carro de combate (MBT - Main Battle Tank) é o principal sistema de armas do campo de batalha terrestre atual, e atua como o núcleo de um amplo e bem dimensionado sistema de armas combinadas, em proveito da manobra de todos os principais exércitos do mundo. Esteio da moderna cavalaria, o carro de combate representa o principal elemento de choque do combate terrestre, e agrega poder de fogo superior junto e uma couraça pesada (blindagem), sobre um trem de alta mobilidade, que lhe confere uma capacidade de manobra da qual não se pode prescindir.

Eles desempenham em suas versões pesadas as funções de choque, engajando diretamente outros carros de combate em uma disputa de fogo, couraça, mobilidade e perspicácia, onde a tecnologia superior leva nítida vantagem, que porém de nada vale sem a habilidade das tripulações, a experiência dos comandantes e o apoio dos diversos escalões de campo, na moderna manobra de armas combinadas.

Nascido ainda de forma muito rudimentar na Primeira Guerra Mundial, onde ajudou a resolver o impasse da estática guerra de trincheiras, este sistema de armas imprimiu dinamismo às operações, e atingiu sua maturidade na Segunda Guerra Mundial quando os alemães lançaram sua blitzkrieg contra seus inimigos com grande sucesso.

O sistema das armas carro de combate está baseado no tripé mobilidade, proteção blindada e poder de fogo. Ele atua investindo a alta velocidade em direção a seus alvos, imprimindo-lhes o poder de fogo de sua arma principal tendo sua sobrevivência assegurada pela capacidade de sua couraça em resistir ao impacto dos projéteis que o atingem, sejam disparados por outros carros de combate, canhões diversos ou os mais lentos ATGWs. Um carro de combate parado em local não previsto é um alvo fácil, sendo a técnica de atingir a lagarta, uma das mais usadas pela infantaria para imobiliza-los com suas armas anticarro portáteis.

Durante a segunda grande guerra diversos modelos foram desenvolvidos, desde aqueles mais pesados que priorizavam a potência de fogo em detrimento da mobilidade até aqueles mais ágeis com armas mais leves e proteção inferior. O desenvolvimento tecnológico pós-guerra trouxe trens de forças mais capazes, sistemas de suspensão mais eficientes e blindagens de alta tecnologia que permitiram agregar canhões muito potentes no corpo de um sistemas de armas adequado, onde se alcançou o equilíbrio entre estes 3 quesitos. Organizados em unidades blindadas onde atuam emassados e contando com a proteção mútua proporcionada pelos outros carros de combate, infantaria, artilharia, engenharia de combate e helicópteros; o carro de combate moderno cumpre sua função inserido em uma complexa rede de informações eletrônicas (NCW) e contando com modernos sistemas embarcados de todos os tipos.




História e Evolução


A Primeira Guerra Mundial trouxe a luz os primeiros carros de combate, que como já foi dito, surgiu como uma solução ao impasse das trincheiras. Modelos classificados pelo seu peso em leves, médios e pesados; foram concebidos ora priorizando a mobilidade ou o poder de fogo, com nítidas limitações dos quesitos não priorizados. As limitações tecnológicas da época não permitiam que os trens de força desenvolvessem a potência desejada, e ou se tinha um veículo veloz ou dotado de uma arma potente.

Durante o período entre-guerras desenvolveu-se a doutrina de carros velozes que penetrariam as linhas inimigas a fim de desorganizar sua retaguarda e impedir que reforços chegassem a frente, cabendo aos modelos mais pesados, com maior couraça e poder de fogo, apoiar a infantaria no rompimento destas linhas e criando brechas para a cavalaria ligeira.

Surgiram então os tanques cruzadores, blindados de alta velocidade e couraças leves que penetravam as brechas criadas e avançavam sem o apoio da infantaria  com a intenção de atrasar o recompletamento, frustrar a logística inimiga, bem como sua estrutura de C2, minando desta forma a capacidade combativa das primeiras linhas. Em contraponto os chamados tanques de infantaria ou tanques pesados, ou ainda tanques de assalto, eram construídos com pesadas blindagens e armas mais potentes, e como deveriam acompanhar o combatente a pé não precisavam ser velozes. Seus trens de força eram vocacionados a mover lentamente pesadas armaduras sob as quais eram montadas armas potentes, tudo apoiado em lagartas largas capazes de transpor terrenos difíceis.

A Segunda Guerra Mundial apresentou a oportunidade para se testar um campo de batalha altamente móvel, onde batalhas foram travadas em centenas de quilômetros. Os conceitos táticos vigentes foram rapidamente superados e os carros de combates existentes se tornaram obsoletos. Os modelos pesados ficaram para trás não podendo acompanhar a velocidade das colunas vetoradas por aqueles mais leves e ágeis e consequentemente de blindagem inferior, que se tornaram presas fáceis para armas anticarro. Surgiram então os tanques médios, apresentando um melhor equilíbrio entre mobilidade e couraça, relegando os modelos leves à função de reconhecimento. Esta nova condição forçou a uma evolução das armas anticarro que passaram a ter que lidar com veículos mais bem protegidos. Modelos como o T-34 soviético, o Panzer IV alemão e o Sherman dos EUA personificaram esse novo conceito com motores de 300 a 500 hps, canhões de 75 a 85 mm e massa total em torno de 25 a 30 toneladas. O T-34 marcou a evolução desta arma como um modelo simples e eficiente, de produção barata e portanto fácil de repor, garantindo um contínuo ressuprimento de perdas. Foi o esteio das forças da URSS no confronto com os invasores germânicos na Segunda Guerra Mundial, e o carro de combate mais notável deste conflito.

Os engenheiros de sua majestade lançaram-se no desenvolvimento do tanque universal, que combinaria armadura e alta velocidade, tendo nos motores aeronáuticos da Rolls-Royce uma inovação que duplicou a potência disponível para estes veículos. Tanques de infantaria e tanques cruzadores passaram a competir nas pranchetas dos projetistas com o este novo conceito, sendo que os tanques leves deram seu lugar aos veículos de reconhecimento. O tanque universal viria para substituir simultaneamente os dois modelos, mas seu conceito logo tornou-se inadequado.  O tanque cruzador Cromwell foi o primeiro modelo a beneficiar-se do aumento de potência proporcionado pelos motores aeronáuticos, e seu desenvolvimento resultou no Centurion no pós-guerra, um tanque diferente de tudo o que existia. Este modelo era dotado de armadura resistente às armas anticarro existentes, que permitia desempenhar a função de tanque de infantaria, e ao mesto tempo contando com uma arma potente capaz de fazer frente a qualquer outro carro de combate existente, superando a mobilidade de todos os modelos leves, de infantaria, médios e cruzadores. Entrou em serviço logo depois do fim da Segunda Guerra lançando um novo conceito de carro de combate, o "Main Battle Tank" (MBT) ou tanque de batalha principal, sendo considerado o primeiro desta categoria, compondo as fileiras do British Army como seu equipamento principal, assim como a de outros exércitos amigos da Grã-Bretanha.

O fim da Segunda Guerra resultou em uma grande quantidade de carros de combate excedentes, retardando o desenvolvimento de novos modelos. A década de 50 trouxe a carga moldada (Ogiva HESH), tornando estes modelos disponíveis em grandes quantidades obsoletos, ensejando o surgimento de novos projetos para atender as demandas da Guerra Fria que se iniciava. Percebeu-se que os modelos médios poderiam portar canhões com calibres de entre 90 mm até 105 mm, capazes de sobrepujar qualquer armadura da época e longa distância. O conceito de tanque pesado vindo da guerra recém encerrada mostrou-se logo inadequado pois eram modelos caros e vulneráveis, além de não serem suportados pelas pontes existentes, e os dotados de armaduras leves e armas pouco potentes tinham papel limitado, não sendo a velocidade suficiente para substituir a armadura e o poder de fogo.




Novas armas anticarro surgiram, a possibilidade de guerra nuclear tornou-se uma realidade, e os carros de combate passaram a exigir armaduras mais resistentes. Armaduras mais espessas levaram ao desenvolvimento de canhões mais poderosos, e um veículo balanceado nas 3 características modernas surgiu, equilibrando poder de fogo, mobilidade e couraça, sendo o Centurion britânico seu primeiro representante. Eficientes e baratos o suficiente, logo vieram o T-54/55 e T-62 como tanques médios e o T-64 como MBT pelo lado do soviéticos, e o M-47/48 como tanques médios e o M-60 como MBT pelo lado dos EUA.

Na década de 70 China, França, Suíça, Suécia, Alemanha Ocidental, EUA, URSS, Japão, Itália, Índia e Reino Unido já fabricavam seus MBTs. As armas anticarro evoluíram rapidamente, podendo na década de 60 vencer 1 metro de aço. As armaduras laminadas com chapas homogêneas não mais eram satisfatórias. Os britânicos desenvolveram então a blindagem Chobham, uma armadura composta com camadas de cerâmica e outros materiais que foi adotada pelos países alinhados que oferecia proteção contra as ogivas HEAT. O advento do fogo anticarro  a partir de helicóptero forçou a distribuição da blindagem, antes concentrada na parte frontal. Esta distribuição também contribuiu para a proteção dos tripulantes em ambiente nuclear.

A  URSS baseou toda a sua doutrina no emprego do MBT. Desenvolveram carregadores automáticos que possibilitaram uma redução na altura do carro, mísseis anticarro (ATGWs) que estendiam o alcance para engajamentos; e constituíram numerosas unidades de tanques médios, baratos e fáceis de construir e repor. Os EUA enfrentaram a superioridade soviética apostando no uso do helicóptero de ataque, baseados em sua experiência no Vietnam. As guerras no oriente médio fizeram amplo uso dos MBTs, que por sua vez sofreram muito com o assédio dos helicópteros de ataque, com muitos analistas declarando-o obsoleto. Dispositivos explosivos improvisados (IEDs) tem se mostrado uma grande ameaça, com modelos especialmente sendo construídos para contrapô-las, em ambientes de guerra assimétrica.



Americanos e britânicos usaram seus MBTs com grande aproveitamento na guerra urbana do Iraque.  Eles apresentaram alta vulnerabilidade aos IEDs e tiveram suas retaguardas modificadas, contrapondo um tipo de mina remotamente detonada com capacidade de penetração. Na Segunda Batalha de Fallujah empregou-se os M1 Abrams com notável sucesso.

Outro avanço que estes combates assimétricos trouxeram foram as metralhadoras em torretas montadas na cúpula das torres, remotamente manejadas que permitiam que seus operadores se alojassem no interior do casco, reduzindo sua vulnerabilidade. As novas armaduras da atualidade não tornaram os carros invulneráveis, mas aumentaram a capacidade de sobrevivência da tripulação. Apesar das previsões sobre a falta de função para os MBTs no cenários futuros ele tem se mantido como principal meio dos exército modernos e mesmo em forças sem inimigos elencáveis como o Japão tem sido renovados.




Características

Um carro de combate moderno é basicamente um veículo fortemente blindado capaz de resistir a um alto estresse em combate, montado sobre um trem de força que lhe proporciona altíssima mobilidade mesmo em terreno "off-road", capaz de transpor obstáculos de todos os tipos dentro de suas especificações, como fossos e degraus, capaz de disparar projéteis de altíssima velocidade com seus canhões de alta pressão, e não projetado para transportar outros que não a sua tripulação.

Pode transpor terrenos de variados tipos como lama ou areia, pois são dotados de um par de lagartas que fazem com que rodem sobre seu próprio terreno. Estas lagartas devem ser projetadas para fazerem pouca pressão sobre o terreno, permitindo a transposição de terrenos macios. Lagartas são, na prática, um trilho que se estende a frente do veículo para que este possa passar sem dificuldades, facilitando a mobilidade com um custo de desgaste das mesma superior aos carros que rodam sobre pneus, sendo menos adequadas à estradas que estes e por este motivo requerem transporte para longas distâncias sobre pranchas rodoviárias ou trilhos ferroviários. São dotados de motores muito potentes, da ordem de 1.000 a 1.500 hps, que lhes permitem desenvolver velocidades acima dos 70 km/h, apesar de seu peso que pode chegar a 70 ton, podendo cobrir percursos de até 500 km sem reabastecimento. A carcaça é construída de forma estaque, para que possa submergir totalmente e cruzar rios rasos, apenas com um snorkel garantindo o suprimento de oxigênio ao motor. Esta estanqueidade também protege de resíduos químicos e biológicos porventura existentes no espaço de batalha, com admissão de ar atmosférico protegido por filtros, além de precipitação nuclear. Rios mais profundos exigem apoio da engenharia para serem transpostos, pois seu peso inviabiliza sua flutuabilidade.

O fator peso afeta a mobilidade dos MBTs também quanto a trafegabilidade, pois são mais lentos que o tráfego normal e provocam congestionamentos em determinados lugares que não podem evitar; danificam o pavimento devido a alta pressão que exercem e muitas pontes não estão em condições de suportá-los, requerendo análise prévia pelos engenheiros. No Iraque um M1 Abrams caiu no rio Eufrates devido a ponte não o suportá-lo, pois não houve possibilidade de reconhecimento prévio de engenharia, devido ao ritmo do combate. Condições de lama extrema também podem imobilizar um MBT, apesar das lagartas.

Os sistemas de controle de fogo sofisticados e a transmissão capaz de suportar os esforços de um motor muito potente deslocando um peso enorme a velocidades altas, aliado a baixa escala de produção dos trens de força, são os principais responsáveis pelos preços elevados de cada unidade.




Outro óbice à mobilidade é a dificuldade de transporta-los por via aérea, que requer aeronaves pesadas como os C-5 e C-17 da USAF ou An-124 russo, só disponíveis a pouca forças aéreas. A intervenção em locais distantes como a dos EUA no Iraque, requer que estejam pré-posicionados ou sejam transportados por navio em um tempo longo, pois mesmo dispondo das aeronaves, uma campanha requer que estas aeronaves transportem outras cargas e um número significativo de MBTs, priorizando-se aí o que é mais importante. Requerem ainda o apoio de viaturas de reabastecimento, como todas as outras viaturas.

Os primeiros MBTs contavam com armaduras espessas na parte dianteira constituídas por camadas de aço laminado. Depois vieram as blindagens compostas, porém os penetradores evoluíram sempre à frente sendo os mais potentes da atualidade aqueles que usam energia cinética (APFSDS) e que requerem canhões de alta pressão. Para reforçar a couraça contra os penetradores ATGW HEAT (carga oca) e HESH, foi criada a blindagem adicional ERA (blindagem reativa) por Israel nos anos 1980 que atua direcionando um jato explosivo contrário ao jato do projétil. Esta blindagem é montada sobre a blindagem principal e atua como reforço. A detonação da blindagem ERA oferece perigo ao infante que estiver próximo apoiando o MBT. Mísseis ATGW com cargas em tandem vieram para contrapor a blindagem ERA.

A blindagem Chobham foi desenvolvida usando uma composição de materiais cerâmicos e ligas metálicas de alta tecnologia, usada primeiramente no M1 Abrams e em seguida no Challenger 2 e provou-se eficaz nos conflitos do Iraque no início dos anos 2000 com numerosos impactos de rojões RPGs com danos insignificantes. Modelos posteriores destes rojões com cargas em tandem mudaram este cenário penetrando neste conflito a blindagem frontal do MBT britânico. Numa operação na guerra da Chechênia em 1994, fuzileiros russo perderam cerca de 100 carros de combate (T-72 e T-80) e um número parecido de outros blindados para o RPG-7 V2 em poucos dias de combate. Alguns MBTs utilizam chapas de urânio empobrecido, que combinada com outros tipos resistem a um primeiro impacto APFSDS, utilizando recursos de deformação, porém num segundo impacto sempre é inevitável seu rompimento, daí a importância do atacante efetuar disparos sucessivos na mesma pontaria.

Estão sendo incorporados aos MBTs mais modernos como o russo T-14 Armata tecnologias furtivas com intuito de reduzir assinatura radar e térmica, com camuflagens avançadas (RAM) que reduzem a assinatura térmica. Sistemas de proteção ativa (APS) vem sendo cada vez mais adotados para proteção dos MBTs. Eles visam detectar o projétil em trajetória de impacto e neutralizá-lo antes de atingir a blindagem, fazendo desta um segundo recurso, e se eficientes constituem valioso meio de sobrevivência.

As armas de um MBT são o seu canhão principal, de 120 mm nos modelos ocidentais e 125 mm nos russos, e ainda 105 mm em modelos mais antigos como o Leopard I, e sua metralhadora para fogo contra pessoal e antiaéreo, geralmente de 7,62 mm ou 12,7 mm. Canhões de alta pressão podem disparar projéteis cinéticos APFSDS deste 90 mm a 130 mm. Podem engajar outros MBTs, fortificações, edificações, pessoal e veículos leves, apenas trocando o tipo de munição. São montados na torres e atuam em conjunto com esta que lhe direciona em azimute, acompanhado dos eletrônicos de direção de tiro e mecanismo de recarga. São estabilizados para permanecerem sempre na horizontal e permitirem que sejam disparados quando o carro está em movimento. Os sistemas de controle de fogo incluem computador balístico, sensores meteorológicos e telêmetro laser para avaliação de distâncias, tudo funcionando com fusão de dados. Canhões que disparam ATGWs foram desenvolvidos e continuam sendo estudados como forma de aumentar os tradicionais 4 km de alcance, mas até o momento não foram adotados em massa, aumentando a dependência do apoio de artilharia. Os norte-americanos já o usaram e os russos os mantem em alguns regimentos. O fogo preciso do carro de combate é particularmente útil em combates urbanos onde os efeitos colaterais da artilharia causa danos desnecessários.

Estes canhões usam munição APFSDS que são penetradores de alta energia e velocidade com efeitos cinéticos para romper armaduras muito duras a longa distância, de HE com fragmentação ou não para fogo antipessoal e anti-edificação, de submunição contra pessoal, de carga moldada (HESH) contra armaduras mais leves e edificações, e HEAT (carga oca) contra blindagens mais resistentes, podendo ainda levar projéteis fumígenos. Armazenam de 30 a 50 disparos em compartimento separados para proteger a tripulação.

O principal papel do MBT é combater outro MBT, sendo usado nas tarefas de reconhecimento em força, onde o combate será inevitável. Nos ambientes de guerra assimétrica os MBTs atuam em apoio a infantaria e disparam a curta distância, carecendo do apoio desta. Na guerra urbana  fornecem cobertura ao avanço da infantaria através de sua blindagem e alvejam pontos fortes e paredes, abrindo caminho para os soldados a pé.

Emprego Tático do Carro de Combate
O Moderno Combate Blindado


A Manobra Americana no Vietnam *168



Guerra na Paz

Os três primeiros anos de envolvimento americano no Vietnam foram tão decisivos quantos cheios de hesitação. Foi necessário todo esse tempo para que a máquina de guerra americana funcionasse a todo vapor e aperfeiçoasse as suas táticas. Mas então veio a ofensiva norte-vietnamita do Tet (Ano Novo Lunar) de 1968 e o início do recuo das forças americanas, que não conseguiram se adaptar com rapidez suficiente às necessidades da guerra na selva, e tiveram que pagar um alto preço por isso.

Na verdade, a situação não deveria ter causado maior impacto nos comandantes americanos responsáveis pela criação, equipamento e treinamento do ESV (Exército sul-vietnamita), que tinham acompanhado suas operações e visto de perto seus êxitos e fracassos. Já em 1963 os sul-vietnamitas mostraram sua incapacidade de empreender uma manobra efetiva de cerco e aniquilamento. Naquela ocasião os vietcongues escaparam sem grandes dificuldades às "malhas da rede", após castigar duramente , repedidas vezes, os sul-vietnamitas que os atacaram.

Os americanos também haviam adquirido ampla compreensão teórica da luta anti-insurrecional durante a guinada estratégica do governo Kennedy. No âmbito da nova doutrina de "reação flexível", o Pentágono realizara uma série de estudos e cursos de treinamento organizados a partir da experiência britânica na Malásia e da francesa na indochina (nome do Vietnam no período colonial).

Analisando as lições da indochina, os americanos chegaram a conclusão de que veículos terrestres franceses, inclusive os blindados, ficavam retidos nas estradas, tornando-se vulneráveis à emboscadas. Por isso decidiram enviar aos Vietnam um vasto parque de helicópteros, cerca de 4.000, quase cem vezes mais que os 42 aparelhos dos franceses. Só que estes helicópteros também ficaram retidos em seus campos de pouso e a escassez de blindados, veículos de enorme valia para deslocamentos em terreno irregular e combates a curta distância, representou uma séria falha na logística americana, que só começou a ser corrigida em 1968.

Outra lição da Indochina foi bem assimilada, tendo em vista o exemplo de Dien Bien Phu: a importância de assegurar suprimentos e proteção pelo ar às bases fortificadas. Foi esse um dos pontos-chave da atuação militar dos EUA no Vietnam.



Em geral, uma base de apoio consistia num perímetro circular de trincheiras individuais, destinadas a abrigar uma companhia de infantaria que podia cobrir com suas armas várias centenas de metros em terreno aberto. Essa área ficava cercadas por minas e arame farpado. Os alcances de tiro e prováveis trilhas de aproximação eram observados cuidadosamente. A potência de fogo imediata da companhia consistia em fuzis de assalto, lança-granadas, metralhadoras, foguetes anticarro e morteiros. Por si mesmas, estas armas podiam normalmente deter qualquer ataque, mas havia muito mais.

Em geral, o armamento da base de apoio incluía uma ou mais baterias de artilharia pesada (por exemplo, obuseiros de 105 mm e de 155 mm), que podiam cobrir um raio de 15 km; em certos casos, peças de artilharia mais potentes alcançavam 30 km e a proximidade das bases permitia que seus arsenais se somasse na defesa de um perímetro ameaçado.



Além disso, haviam os fartos recursos proporcionados pela aviação, tais como foguetes aéreos colocados em helicópteros Huey, aparelhos de carga equipados com lança-chamas e mini-canhões; Cessna A-37 e outras aeronaves de baixa velocidade; aviões mais velozes, como o Douglas A-4 e o Fairchild F-105. Atuavam ainda o helicóptero experimental Chinook CH-47 ou "couraçado aéreo", o bombardeiro F-111 TFX; e acima de tudo a confiável "fortaleza voadora" B-52, que podia se aproximar a alta velocidade sem ser ouvida e devastar 1 km² com seus 40.000 kg de bombas metálicas (com 3 aparelhos voando juntos em arco).



Por um momento, o Pentágono acreditou que essa enorme capacidade de fogo bastaria para ganhar a guerra. Em diversas ocasiões, centenas de vietcongues foram abatidos em ataques noturnos por apenas alguma dúzias de soldados. Tais êxitos entusiasmavam os militares americanos partidários do body count, a estratégia da contagem de corpos como prova material de que a guerrilha estava sendo dizimada.

De fato, algumas bases de apoio nada sofreram enquanto foram defendidas por tropas dos EUA, e de qualquer modo poderiam ser rapidamente reconstruídas. O que os estrategistas não perceberam é que, nesses combates, era o vietcongue que definia seu próprio body count. Os guerrilheiros norte-vietnamitas só atacavam quando sabiam quantas vidas poderiam sacrificar sem perder a guerra. Surgiu desse modo uma situação de equilíbrio, na qual sua incapacidade para atingir as bases dos americanos era compensada pela extrema dificuldade destes em se apoderar das bases adversárias. Os ataques a "santuários" da guerrilha no Laos e no Camboja eram fonte de problemas políticos e mesmo com uma potência de fogo imensamente superior subsistiam obstáculos táticos.

A unidade fundamental de manobra dos EUA no Vietnam era a companhia de infantaria, com força nominal de uns 180 homens, mas que na prática não operava com mais de 120. Essas companhias encontravam grande dificuldade em mover-se na selva: seguindo em coluna por uma trilha, os soldados cobriam mais de 1 km de terreno. Isso tornava a "reação flexível" um objetivo remoto. Ainda menos viável eram a prática de cerco e aniquilamento, a ponto de um estrategista americano declarar: " a selva zomba de nossas manobras".



A Blindagem Vegetal

Quando os guerrilheiros eram encontrados  numa incursão americana, a luta ficava bem mais equilibrada. Em geral, a vegetação fazia mais do que esconder os vietcongues entrincheirados. Os projéteis mais leves fracassavam na penetração das casamatas ou dos grossos troncos de árvore, enquanto os obuses de 105 mm explodiam na mata fechada, cobrindo o solo de estilhaços, mas raramente ferindo vietcongues. A utilização de peças de maior calibre  era dificultada pela curta distância entre os combatentes, de algumas dezenas de metros. Por vezes, para abrir espaço à artilharia, os soldados americanos recuavam deliberadamente, mas isso criava oportunidades para contra-ataques.

Outra dificuldade era o fato de, em suas incursões, as colunas dos EUA avançarem a pé e não em veículos blindados, tornando-se vulneráveis ao fogo inimigo em terreno aberto. Imobilizados, os soldados não conseguiam aplicar a tática de "atirar e manobrar" preconizada em seu manual, com vistas a um assalto final.

Na verdade, os americanos logo verificaram que, sem o uso de blindados, tais assaltos finais cobravam um elevado preço em vidas e que, numa guerra de atrito, essas perdas eram inaceitáveis. "Cada vez que faço um homem manobrar", declarou um sargento americano, "ele leva um tiro. Ao diabo com a manobra".

Em 1967, os americanos tinham criado um novo manual tático, segundo o qual a infantaria "desblindada" deixava de ser uma força de assalto, assumindo o papel de simples patrulha de reconhecimento. Ela deveria avançar até uma área onde existissem bases inimigas, envolver-se em troca de fogo e identificar alvos a serem destruídos pelo armamento pesado. Tal tipo de ação era complementado pela atividade dos esclarecedores, grupos de infantaria leve especializados em infiltrar-se secretamente através das linhas do inimigo. Esses peritos deviam orientar o fogo de artilharia contra alvos promissores, recuando em seguida. Nos ares, o mesmo faziam os Loaches (Light Observation Helicopters - helicópteros leves de observação), capazes de localizar o inimigo e fustigá-lo a seguir com seus próprios minicanhões, sendo auxiliados por helicópteros de ataque ou por forças terrestres. Só que o ruído dos motores alertava os guerrilheiros e mais uma vez havia alto body count sem danos consideráveis a suas forças.

O que as novas as novas táticas americanas não poderiam fazer era substituir o papel da infantaria, isto é, acercar-se do inimigo e destruir suas formações num combate corpo a corpo. Ao reservar a função destrutiva à potência de fogo, o US Army parecia aceitar a derrota numa guerra impopular e oficialmente definida como "limitada".


sábado, 4 de maio de 2019

O Tiro de Artilharia *167



A Artilharia de Campanha é caracterizada pela sua grande potência de fogo. Partindo de posições relativamente distantes das linhas de contato, os fogos de artilharia cruzam o espaço aéreo dos campos de batalha em busca de seus alvos, batendo áreas poucos metros a frente da tropa amiga, em proveito desta e com trajetórias por sobre suas cabeças, que conta com o indispensável apoio da arma que é a responsável pela maioria das baixas em combate e facilitadora do trabalho das armas-base.

A artilharia não cerra sobre o inimigo, mas aloca seus fogos em profundidade junto às suas fileiras, desorganizado seu dispositivo e enfraquecendo seu poder combativo, proporcionando tanto a cavalaria como a infantaria oponentes desorganizados e debilitados, mais fáceis de serem suplantados. Dotada de alta flexibilidade em alcance e direção, os fogos de artilharia são deslocados quase que instantaneamente de um alvo a outro a partir de posições dispersas e temporárias.


A arma do fogo apoia os elementos de combate neutralizando ou destruindo os alvos que lhes são designados, aprofunda o combate com fogos de contrabateria (contra a artilharia inimiga) e de isolamento (aqueles que restringem a mobilidade inimiga), desarticulando instalações a serviço do inimigo e frustando sua manobra.

Estes efeitos de combate são conseguidos através do impacto de uma considerável quantidade de projéteis (granadas de artilharia) atingindo seus alvos no tempo adequado com a munição (granadas e espoletas de vários tipos) apropriada.


A técnica de tiro de artilharia, eficazmente aplicada a direção de tiro junto às baterias de obuses e lançadores múltiplos de foguetes é que assegura os efeitos desejados da arma junto aos seus alvos. Estas baterias, convenientemente inseridas em grandes malhas de tiro de várias delas e integradas por comandos de grande escalão, são capazes de efeitos devastadores, pois podem concentrar de forma imediata o impacto de um grande número de bocas de fogo em um só alvo, e no momento seguinte direcionar o fogo de cada uma a alvos distintos, voltando seus impactos a reunir-se, parcial ou totalmente onde forem necessários, sem que qualquer das baterias, separadas por quilômetros, precise mudar de posição, embora o façam a fim de evitar a contrabateria inimiga.



Observadores avançados (OAs) e oficiais de ligação (OLigs) atuam juntos às armas-base a fim de atenderem as necessidades de apoio de fogo destas e traduzirem estas necessidades em comando de tiro válidos. Estes observadores atuam também isolados em posições de observação cuidadosamente escolhidas a fim de orientarem os cálculos das centrais de tiro e observarem os impactos, corrigindo através de orientações a estas centrais a trajetória dos projéteis e seus pontos de impacto no terreno a fim de obter eficiência máxima.


O tiro de artilharia pode atender um grande número de demandas podendo destruir ou neutralizar através de impactos de alto explosivo com sopro e estilhaçamento de granada de metal. Estes impactos poderão ser detonados pelo contato com o alvo ou através do tempo voo, com arrebentamentos em altitude, dependendo do efeito desejado. Podem espalhar fumaça ou munições especiais (como as ogivas químicas, biológicas e mesmo nucleares), buscar alvos móveis como carros de combate ou atingir comboios ao longo de uma estrada. Causam efeitos de inquietação, impedindo ao inimigo  momentos de relaxamento e provocando sua fadiga, de iluminação do campo de batalha, de propaganda e balizamento, de sinalização e interdição do terreno, impedindo sua utilização.

De natureza eminentemente técnica, a execução do tiro de artilharia requer profissionais altamente treinados seja em sua observação, cálculo ou linha de fogo.




O Problema Técnico Fundamental da Artilharia


Posicionada a certa distância das linhas de contato, a artilharia de campanha tem a sua frente, entre sua posição de tiro e as posições do inimigo que lhe servirão de alvo, não só a tropa apoiada, mas também as dobras do terreno. Esta distância pode variar muito de acordo com o alcance do material, geralmente indo de 3 a 30 quilômetros em material de tubo em apoio a arma-base; e muito mais que isso se tratando de lançadores múltiplos de foguetes.

Com tantos obstáculos não é possível a realização do tiro direto, fato complementado pela necessidade das baterias em posicionar-se em locais ocultos a observação inimiga e ao fogo de suas armas de tiro tenso, fundamental para sua própria segurança, já que a artilharia não conta com a blindagem nem a mobilidade imediata dos carros de combate.





Para resolver este problema os artilheiros desenvolveram o técnica de tiro de artilharia  de campanha, que viabiliza a realização do tiro indireto, ou seja, utilizando-se de trajetória balística e aproveitando as características da força da gravidade, dispara seus projéteis para o alto por sobre as elevações e cabeças da tropa amiga. Estes disparos acabam por impactar nas áreas-alvo, sempre observados pelos artilheiros de vanguarda, os observadores avançados (OAs), que retornam suas observações do tiro em execução para os calculadores nas centrais de tiro, corrigindo e ajustando-o para que atinja eficiência máxima.


Uma bateria de tiro ao posicionar-se, direciona suas bocas de fogo para uma direção geral de tiro previamente definida. Quando da execução da missão de tiro, os calculadores "plotam" em uma prancheta um ângulo de tiro medido em relação a um ponto conhecido como o norte magnético por exemplo e uma distância da bateria até o alvo. Baseado em tabelas já existentes, definem um ângulo vertical (chamado elevação) de tiro com base nas leis balísticas e uma carga de projeção apropriada, para que a bateria possa efetuar seus disparos. A este ângulo deverá ser acrescido (ou decrescido) de outro que compense a diferença de altitude da bateria em relação ao alvo, conforme ela esteja abaixo ou acima dele, denominado ângulo de sítio mais um fator compensador de trajetória conhecido como correção complementar de sítio, que visa compensar a maior influência da força gravitacional (sítio total).





Podendo este cálculo ser manual, como na Segunda Guerra Mundial, ou contando com meios modernos como calculadores balísticos digitais que consultam sistemas como o GPS para medir a distância até o alvo e o ângulo de sítio, radares medidores de velocidade inicial, enlaces de dados (data-link) e outros meios modernos, a técnica de tiro de artilharia de campanha garante a eficácia desta arma em batalha, apoio sempre bem-vindo por infantes e cavalarianos no cumprimento de suas missões, e garantidora de seu sucesso.




Modalidades de Tiro de Artilharia

O tiro de artilharia pode assumir um variado número de modalidades, de acordo com o efeito que se busca junto às fileiras inimigas. Em sua missão de apoio de fogo, a artilharia de campanha não visa apenas a destruição do inimigo, mas a alocação de fogos oportunos a cada situação tática, atuando em proveito das necessidades da arma apoiada e do escalão a que está subordinada.

Estes tiros são classificados quanto ao resultado que buscam alcançar, sendo o mais conhecido o efeito de neutralização. A neutralização é alcançada quando o tiro cai diretamente sobre a posição do inimigo visada, causando-lhe baixas e forçando-o a abrigar-se. Este tiro tem o poder de desorganiza-lo, diminuindo sua eficiência em combate, e devem chegar ao alvo de forma repentina e intensa a fim de destruir ou inviabilizar o maior número de meios e desdobramentos que o inimigo tenha feito naquela posição. É o tiro que apoia diretamente a arma-base, que pode avançar sobre as posições batidas de forma eficaz e segura.

O tiro de destruição busca não à "amaciar" o terreno para o avanço dos combatentes de infantaria ou cavalaria, mas sim a destruição até o fim de alvos específicos. É dirigido contra alvos materiais e atinge maior eficiência quando efetuado por disparo direto e com materiais de maior calibre possível. Exige observação apurada, precisão dos disparos e implica em grande consumo de munição, pois só cessa quando o alvo for considerado destruído.

O tiro de interdição, como o próprio nome diz exige menos dos artilheiros, seja em precisão ou consumo de munição, e sua finalidade é impedir a utilização da área de impactos pelo inimigo. Este tipo de tiro é dirigido a nós rodoviários, acesso a pontes, estreitos e gargantas, passos e desfiladeiros. Não visa alvos humanos nem materiais, mas sim efeitos temporários de inacessibilidade a determinado ponto.



Os tiros de inquietação visam a abater o moral do inimigo, através de bombardeios intermitentes a fim de impedir que busque alguma sensação de segurança em determinado momento. De baixa intensidade, visam a "esquentar" momentos de relativa tranquilidade, impedindo que o inimigo durma bem ou relaxe, atrapalhe seus movimentos, cause alguma baixa e mine sua capacidade de combate.

O tiro iluminativo é realizado com munição especial, de queda retardada e visa a proporcionar alguma iluminação através de pirotecnia para operações noturnas. Este tipo de tiro perdeu parte de sua importância com o advento de novas tecnologias como os intensificadores noturnos e dispositivos termográficos. Pode porém ser empregado em algumas situações, principalmente de grande envergadura onde muitos combatentes não dispõem destes equipamentos.

O tiro fumígeno também é realizado com munição especial e visa a sinalização e balizamento do campo de batalha, bem como a ocultação da vista do inimigo de movimentos e outras situações que não se deseja que ele veja, como por exemplo uma transposição de curso d'água. É particularmente útil  para frustrar a missões dos OAs inimigos com impactos imediatamente no seu campo de observação.



Os tiros de contrabateria são aqueles alocados contra a artilharia inimiga, valendo-se de sua localização imediata. São tiros de difícil execução, tendo em vista que as baterias atiram a mudam imediatamente de posição para evitá-los. Determinar a posição de uma bateria não era tarefa fácil até o advento dos radares de campo ou radares de contrabateria, que medem a trajetória balística dos projéteis e calculam a posição da bateria. Nesta prática tem-se que ser extremamente rápido, pois após o radar determinar eletronicamente a posição da bateria inimiga, deve-se passá-la a central de tiro que calculará os elementos de tiro e os comandará às baterias, que terão que apontar e disparar antes que a bateria inimiga mude de posição. Processos automatizados de tiro são mais adequados a conseguir algum sucesso neste tipo de tiro.

Outro tipo de tiro frequentemente realizado e que não visa ações de combate é o tiro de regulação, cuja finalidade é ajustar os elementos de tiro às condições locais (temperatura, pressão do ar, ventos, etc...). Estes tiros são efetuados contra alvos auxiliares (uma árvore por exemplo) e buscam uma maior precisão nos disparos subsequentes, em missão operacional. São uma espécie de calibragem do tiro na adaptação as condições do momento (temperatura, umidade, vento, pressão atmosférica, etc...).

Outros tipos de tiro podem ser empreendidos com finalidades especiais. Tiros de propaganda podem dispersar panfletos por exemplo, junto ao inimigo tentado convencer os combatentes a rendição; tiros com munições especiais de precisão podem atingir alvos móveis como carros de combate em movimento e requerem dispositivos de orientação. No Vietnam os americanos utilizaram a artilharia para "plantar" sensores de trilha que detectavam a vibração no solo e alertavam para o movimento naquela região. Pode-se ainda disparar granadas químicas, biológicas e nucleares, estas de forma pouco usual.

Os tiros previstos são àqueles previamente preparados e locações precisamente determinadas enquanto os inopinados dependem do transporte a partir de um alvo auxiliar e ajustagem prévia, determinados anteriormente pelos tiros de regulação.

Os tiros podem ainda ser observados ou não. Os primeiros demandam menor quantidade de munição e são mais precisos, enquanto os segundos só devem ser empreendidos contra alvos precisamente determinados ou a partir de alvos auxiliares já regulados.

Temos ainda a classificação dos tiros quanto a sua forma. Os tiros de concentração são aqueles que impactam de forma emassada sobre um terreno limitado. Os tiros hora-no-alvo são uma modalidade de concentração onde se ajusta o tempo de disparo de cada boca de fogo de acordo com sua distância do alvo a fim de que todos os disparos atinjam o alvo exatamente no mesmo instante. Os tiros de barragem são uma forma de tiro que visam criar uma barreira no campo de batalha com impactos caindo linearmente. Esta forma de tiro visa a compartimentar temporariamente o espaço desautorizando acessos pelo fogo. O tiro por peça é aquele dirigido por uma única peça a um alvo previamente determinado e pontaria já pronta.


O Comando de Linha de Fogo

A bateria de artilharia de campanha é a menor fração de tropa dessa arma capaz de cumprir missões de tiro de forma autônoma, e mesmo operando dentro de um sistema de apoio de fogo amplo, pode operar independentemente em apoio a uma determinada tropa se assim for designada. Enquanto seu comandante cumpre as tarefas de coordenação tática-operacional de sua subunidade, seja na missão em que está atuando ou em ligação junto aos escalões superiores, e orienta as sempre necessárias e onipresentes demandas administrativas operacionais; delega a um oficial subalterno o comando de sua linha de fogo, que atua como seu auxiliar e se encarrega de fazer funcionar o principal elemento da bateria.



O Comandante de Linha de Fogo ou CLF, é o oficial encarregado de fazer o elemento operativo da bateria atuar, ou seja, fazer com que as missões de tiro que lhes forem passadas se transformem em impactos junto aos alvos designados. Cabe a ele providenciar para que a linha de fogo (LF) da bateria se desloque até as posições de tiro designadas por seu comando e lá desdobra-la colocando-se em condições de cumprir sua missão. 

Comanda aos seus artilheiros o desdobramento do material de artilharia para colocar-se em condições de executar o tiro indicando a direção geral de tiro (DGT) e certificando-se que todas as rotinas necessárias foram cumpridas, executa a pontaria inicial de sua bateria, determina a elevação mínima e os limites de tiro e segurança que suas peças poderão operar a fim de que não atinjam obstáculos a sua frente como elevações ou edificações, repassa a central de tiro (CTir) de seu grupo todas as informações relevantes à posição que acabou de ocupar, comanda às suas peças as missões de tiro que lhes forem imputadas com a necessária e singular adequação de pontaria que cada missão demande, e em caso da bateria estar atuando de forma isolada acumula as funções de comandante e operador de central de tiro. O CLF determina ainda os limites máximos de segurança para o caso de execução do tiro vertical (acima de 45º).

O CLF pode ainda auxiliar o comandante de bateria e o estado maior do grupo nas rotinas de reconhecimento e escolha de posições de bateria e posições de troca. Pode atuar também como subcomandante de bateria se assim for designado e assumir na ausência do comandante suas funções, bem como assumir outras funções dentro da bateria que lhes forem julgadas convenientes e estejam dentro de suas possibilidades, porém que em hipótese alguma prejudiquem a execução do tiro, razão de ser da bateria de artilharia.