O carro de combate é a essência da cavalaria moderna, termo este que não deriva da palavra “cavalo” como muitos pensam, e sim da
capacidade de uma tropa combater em condições de superioridade, como o faziam aqueles que entravam em combate montados, seja em cavalos, camelos ou
elefantes.
O combatente de cavalaria nos tempos passados combatia
contra a infantaria a pé valendo-se de sua posição mais elevada ou em
superioridade de altura, de onde fica mais fácil desferir um golpe de cima para
baixo, e utilizando a velocidade do
animal para potencializar o choque contra aqueles, seja de suas lâminas ou do
próprio corpo de sua montaria.
A cavalaria tem na mobilidade e velocidade seus grandes
trunfos, de onde seus integrantes podem explorar a iniciativa do combate. Seu
poder de manobra, devido a suas características intrínsecas, lhe permite
imprimir flexibilidade ao combate ao reconfigurar rapidamente a disposição
espacial da tropa no terreno, sempre buscando em tempo mínimo através de
manobras de flanqueamento, atingir o inimigo em seus pontos mais vulneráveis,
penetrando seu dispositivo e desorganizando sua composição tática.
Uma tropa de cavalaria pode, por exemplo, isolar uma frente
de combate de sua cauda logística com a conseqüente degradação de seu poder
combativo, manobra que exige velocidade de penetração antes que a chegada de
reforços à inviabilize, e deslocamento a fim de encontrar o melhor ponto de
inserção. Uma composição tática baseada no carro de combate pode solucionar uma
situação de impasse, ou bater de frente com outra força de poderio semelhante
em batalhas de ruptura, devido a sua capacidade de absorção de atrito e poder
de fogo potente.
Os carros de combate são empregados de forma concentrada
seguindo o princípio militar da massa em ações de grande vulto, ou em ações
mais “suaves” em apoio ao avanço da infantaria em formações menos emassadas,
desembaraçando pontos fortes. Outro uso freqüente das unidades de carros de
combate é serem mantidas em reserva a fim de explorarem situações que se
configurem, de forma a estarem incólumes quando o momento surgir.
Já amplamente citada, a tríade que caracteriza um carro de
combate são a mobilidade, a proteção blindada e o poder de fogo.
A mobilidade consiste na capacidade de movimentar-se de
forma ágil, seja para cobrir distâncias em tempos mínimos ou manobrar em
terrenos menores, sejam eles difíceis ou não, a fim de evitar o fogo inimigo ou
buscar o melhor posicionamento para disparar. Terrenos que tendem a imobilizar
outros veículos, devem ser transpostos pelas lagartas dos blindados, e fazê-lo
de forma ágil a fim de não dar tempo ao inimigo de reorganizar-se. Engajar e
desengajar de combate com facilidade, fazendo uso do elemento surpresa e
provocando o estresse da resistência inimiga. A mobilidade é potencializada
quando apoiada pela engenharia de combate, com suas pontes de campanha e obras
que visam “amaciar” obstáculos existentes, naturais ou instalados.
A couraça de um carro de combate permite absorver o fogo inimigo
e conseqüentemente sobreviver em um ambiente altamente hostil, onde petardos
explosivos e penetradores de couraça são amplamente empregados, para poder
manobrar e atirar novamente. E por fim, depois de alcançar o inimigo ou fugir
temporariamente dele e sobreviver ao seus disparos, o poder de fogo lhes
confere a capacidade de fazer fogo com velocidade, precisão e projéteis capazes
de causar o efeito desejado.
A potência de fogo demanda que estes veículo possuam armas
de grosso e leve calibre, com munição adequada para a neutralização de alvos de
diversas naturezas, bem como ser capaz de estocar internamente uma grande
quantidade desta munição. O uso de carros de combate em conjunto proporciona ao
grupo utilizar esse poder de fogo para proteção de seus flancos ao mesmo tempo
em que manobram em ação ofensiva.
A combinação bem empregada da manobra com o poder de fogo
resulta na ação de choque, que provoca no inimigo estresse imediato em seu
dispositivo e procura criar brechas por onde as colunas blindadas podem
penetrar e permear sua organização no terreno. Os veículos devem agir em
conjunto, na forma de unidades concisas, reunindo alto poder de fogo e impacto
para sobrepujar o inimigo, de preferência utilizando-se do elemento
surpresa.
Operar estes poderosos sistemas de campo demanda sistemas de
comunicação amplos e flexíveis, interligado em redes NCW nos tempos modernos,
que permitem eficazes ligações de comando e controle. Os carros de combate devem
possuir uma variedade de sistemas de comunicação, tanto internos quanto
externos. Internamente, o ambiente barulhento e restrito dos veículos durante o
combate impede que seus tripulantes possam se comunicar de forma clara utilizando
apenas a voz; de forma que intercomunicadores são necessários para que haja
clareza e harmonia nas comunicações entre a tripulação. Externamente, devido ao
fato de que os carros de combate devem agir em grupos e também estar em
constante contato com o comando na retaguarda, devem contar com equipamentos de
rádio de alta capacidade.
Antes de fazer contato com o inimigo, os carros de combate
são empregados à frente do dispositivo para proporcionar segurança ao grosso da
tropa. Durante uma ação, realizarão manobras desbordantes e de envolvimento
para dispersar e destruir contingentes inimigos separadamente. Se a manobra não
for possível, deverão realizar a ruptura da posição inimiga por ação de choque
e, quando esta for desbaratada, devem perseguir o inimigo e destruí-lo. Num
cenário defensivo, os carros de combate atuam como reserva móvel apta a agir
prontamente para conter avanços inimigos em qualquer setor do dispositivo, com
vistas a sustar seu ímpeto de ataque.
Sendo assim, para cumprir as missões básicas da arma, os
carros de combate podem realizar reconhecimento e vigilância de vastas áreas,
realizar segurança cobrindo ou protegendo as demais forças terrestres, e
engajar-se em combate, seja de natureza ofensiva ou defensiva.
O Reconhecimento de Combate
Operações militares exigem dos comandantes a utilização racional
dos recursos disponíveis, a fim de poupar forças e infligir o maior dano
possível ao inimigo. Esta administração tática depende da coleta de informações de combate
sobre as forças inimigas e a situação geral: Ações de reconhecimento armado visam
levantar estas informações sobre o inimigo como seu efetivo, capacidades, posições
e outras.
Embora frequentemente realizada pela cavalaria ligeira,
mecanizada, missões de reconhecimento podem também ser realizadas por carros de
combate caso o comandante assim o deseje. Essas missões têm por objetivo obter
informações do inimigo e/ou da área de operações, e afetam diretamente a
formulação de planos de ação.
O reconhecimento pode ser dividido em três categorias: eixo,
zona e área. O reconhecimento de eixo visa à obtenção de informações sobre um
determinado eixo (ex: estrada ou via de aproximação) e terrenos a ele
adjacentes; o reconhecimento de zona prescreve a busca de dados sobre uma zona
de operações ao longo de uma faixa de terreno; e o reconhecimento de área tem
por objetivo coletar dados sobre o inimigo e o terreno dentro de um perímetro
específico.
Ao contrário das missões de segurança, no reconhecimento os
carros de combate devem preservar plenamente suas capacidades de manobra,
orientando-se pelas posições inimigas, construções e acidentes de terreno, com
o objetivo de conseguir a melhor visão e obter a maior quantidade de dados
sobre as forças contrárias. Todos os dados coletados devem ser, o mais rápido
possível, transmitidos aos escalões superiores para averiguação e
processamento. Embora o contato com o inimigo deva ser estabelecido o quanto
antes – e nunca rompido voluntariamente sem a devida autorização do comando
superior – os carros de combate devem evitar o engajamento definitivo com o
inimigo em missões de reconhecimento.
Os dados coletados pelos elementos atuantes numa missão de
reconhecimento são prontamente utilizados pelo comandante para tomar decisões
de suma importância, como a pertinência de realizar um ataque direto ou desbordar
a força inimiga.
Segurança do Dispositivo
Um dispositivo de combate deve sempre preservar-se da
provocação, observação e ataques-surpresa do inimigo, e para tanto deve
detectar ameaças com antecipação e manobrar com rapidez para evitar armadilhas.
Garantir essa capacidade é função das forças de segurança, geralmente compostas
por carros de combate. Tais forças devem ser suficientemente fortes e
apropriadas para garantir o tempo adequado de reação ao grosso da tropa
segurada, reagindo ao inimigo de forma rápida e agressiva quando este é
detectado em ação ofensiva.
As ações de segurança podem se enquadrar em três categorias,
dependendo do objetivo e posicionamento de seus elementos:
- Cobertura: os elementos de segurança se posicionam de forma espalhada e distante da força protegida, sempre com face para o inimigo, de forma a interceptá-lo em seu curso e retardar seu avanço.
- Proteção: os elementos de segurança se posicionam das extremidades imediatas da força protegida, seja por flanco, frente ou retaguarda, com o objetivo de proteger a força do fogo direto do inimigo fazendo uso de sua pesada blindagem protetora. É importante que uma força de proteção opere dentro do alcance de fogos da força protegida, para que ambas possam, em conjunto, maximizar a potência de fogo de reação.
- Vigilância: os elementos de segurança montam uma série de postos de observação pela área de operações, procurando detectar a presença do inimigo tão logo ele se aproxime do perímetro.
Forças de segurança devem proporcionar alerta sobre
localização e movimentos do inimigo que possam constituir ameaça ao seu
dispositivo, garantindo alerta antecipado para que a força protegida possa
manobrar. Seu deslocamento sempre obedece ao deslocamento da força protegida, e
a segurança realiza reconhecimento contínuo e agressivo, mantendo contato com o
inimigo até que o mesmo não mais constitua uma ameaça.
Operações Ofensivas
As operações ofensivas são as que mais tiram proveito do
potencial dos carros de combate, valendo-se de sua blindagem, velocidade e
poder de fogo. São operações que têm por objetivo o confronto e a destruição
das forças inimigas, de forma parcial ou definitiva. Antes do ataque principal,
uma força blindada pode realizar um reconhecimento em força, isto é, realizar
uma operação de objetivo limitado com um contingente considerável, para entrar
em contato com o inimigo e revelar e medir suas possibilidades. Geralmente num
reconhecimento em força os carros de combates são auxiliados pela engenharia,
artilharia e recebem apoio aéreo.
A ação de ataque, que visa destruir e neutralizar o inimigo,
pode ser de oportunidade ou coordenada. Num ataque de oportunidade, os carros
de combate se pautam pela rapidez de suas ações buscando sempre preservar a
iniciativa, mirando um ponto vulnerável do dispositivo inimigo e realizando
manobras de desbordamento e fixação do oponente. Já num ataque coordenado –
geralmente executado contra posições defensivas inimigas – todas as forças, em
conjunto com os carros de combate, são combinadas para cerrar de forma poderosa
sobre o inimigo. Este tipo de ataque demanda grande planejamento e capacidade
de coordenação de meios.
Após realizarem uma bem-sucedida ação de ataque – seja ela
por desbordamento ou ataque frontal – os carros de combate devem prosseguir para
o aproveitamento do êxito. Esta fase caracteriza-se pelo aproveitamento da
incapacidade do inimigo em manter suas posições, quando a força atacante deve
então enviar reforços para anular a defesa do oponente bem como sua capacidade
de realizar uma retirada organizada. Um dos objetivos do aproveitamento do
êxito é cortar as vias de fuga e desorganizar suas instalações de comando e
controle. Por fim, os carros de combate devem realizar a perseguição ao inimigo
batido. Nesta última fase das ações de ataque, deve-se cercar e destruir a
formação inimiga em fuga. Completa-se a destruição da força oponente sem se
preocupar com objetivos no terreno: apenas a força inimiga em si é o objetivo.
Pressão deve ser mantida até a rendição ou destruição completa do adversário.
Operações Defensivas
Carros de combate estão aptos a realizar missões de defesa
tanto em posição quanto em movimento. Essas missões visam proteger a força
principal de ataques inimigos numa situação de desvantagem tática. Numa defesa
de posição, os carros de combate passam a integrar forças de segurança em
defesa avançada ou na reserva, para agir de forma decisiva quando o comando
necessitar de sua atuação.
Já na defesa móvel, os carros de combate participam da
defesa avançada e das forças de proteção, além da reserva. Geralmente as
operações de defesa envolvem movimentos retrógrados, ou recuos. Os carros de
combate são bastante adequados à realização dessas funções, pois são capazes de
retardar o inimigo com seu poder de fogo combinado com mobilidade, permitindo
tempo e espaço de fuga para a força principal. Esses movimentos são escalonados
e possuem três classificações.
Inicialmente existe a ação retardadora, na qual os carros de
combate trocam espaço por tempo, procurando atrasar o inimigo ao máximo através
de ações descentralizadas em posições sucessivas e/ou alternadas. Nesse tipo de
ação, a manobrabilidade do carro de combate torna-se um fator de sucesso
essencial, pois visa saturar a capacidade de ataque inimiga, mantendo-o em
constante contato enquanto permite a fuga da força protegida. Embora faça uso
de ações descentralizadas, é necessária uma coordenação central desses
esforços.
Em seguida à ação retardadora acontece o retraimento, que é
o momento em que o grosso da força rompe contato com o inimigo. Apesar disso os
carros de combate nas forças de defesa continuam a manter o contato com o
inimigo para proporcionar segurança e dissimulação.
Por fim, as operações defensivas resultam na retirada. Essa
fase se caracteriza pelo recuo da força principal através de um planejamento
bem definido, objetivando evitar um combate decisivo nas circunstâncias postas.
A retirada acontece quando as forças principais e de segurança conseguem
desengajar-se com sucesso do inimigo e prosseguem para uma área segura,
buscando resguardar-se para futuras operações de combate em condições mais
favoráveis.
Ola,gostei muito do blog poderia me recomendar alguns livros sobre estrategia militar? ou pelo menos as fontes primarias de onde você tira tanta informação?
ResponderExcluiragradeço dês de já
Ola Romanov. obrigado pelos seus comentários. fontes de informação estão em todos os lugares, na internet, nos sebos, etc... não costumo me ater a este ou aquele livro. tudo o que escrevo ou transcrevo, é fruto de mais de 30 anos de arquivo sobre este assunto que considero tão interessante. Depois de tanto ler sejam livros ou artigos criei uma cultura militar que embasa meus artigos. É um empreitada construída tijolo por tijolo. Um abraço.
ExcluirParabéns Sr Johnie. Muito instrutivo. Ao Sr Romanov podemos indicar as coleções da BIBLIEX. Com certeza irá satizfazer o intetesse dele em se aprofundar no assunto. Também recomendável a Military Review.
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