segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

Características dos Conflitos Modernos *210



baseado nas IP 100-1 do EB Doutrina Delta 

Os conflitos modernos apresentam características que devem ser observadas por políticos e comandantes militares, sob pena de fracasso nas operações, e mal-estar político perante a comunidade internacional, como experimentaram nas últimas décadas àqueles que se envolveram em ações militares mal ou pouco preparadas, sejam do ponto de vista logístico ou doutrinário, sejam sob a ótica do politicamente correto. Exemplos deste último é a sucessiva queda de ditadores que ainda insistem em manter-se em seus "Reinos Encantados", como ocorreu no Iraque, Líbia e Egito.




A Opinião Pública

Com o avanço da tecnologia e a crescente divulgação pela mídia do que acontece em zonas de conflito, tudo acaba sendo divulgado de uma forma ou de outra, na maior parte das vezes de forma equivocada, feita por pessoal não especializado em busca de notícias sensacionalistas dirigindo a notícia para que o público acredite no eles acham conveniente. Por pressão dessa visibilidade os governos democráticos veem-se cada vez mais obrigados a manterem sua vigilância sobre o mundo como um todo, coibindo de forma ou outra o abuso de direitos humanos e a repressão dos povos, mesmo que sob esse discurso estejam camuflados interesses menos nobres. Realidades de países de pouca expressão tendem a ter repercussão mundial, gerando ações militares difíceis de serem previstas pelos estrategistas dos países mais fortes, pois a nuances sócio-políticas de muitas regiões são extremamente complexas. A interferência política nos conflitos também induz os governos a tolherem a ação dos estrategistas, muitas vezes os prolongando desnecessariamente.



A Tecnologia

Novos sistemas de armas, cada vez mais sofisticados e letais, surgem a todo momento. Redes de inteligência altamente competentes e dotadas de tecnologia de ponta tornam cada vez mais difícil a negação de informações aos sistemas inimigos. Sistemas de localização e identificação de alvos cada vez mais capazes demandam contramedidas operacionais de ordem tecnológica e doutrinária mais sofisticadas. Sistemas com alcance cada vez maiores, engajando alvos a grandes distâncias com precisão estão tornando a vida dos defensores mais difícil. A permanente atualização das unidades militares para fazer frente as novas ameaças, sejam tecnológicas ou não, deve ser uma constante sob pena de invalidar a utilidade desta unidade. A tecnologia dita a doutrina, e está em constante evolução, não podendo ser negligenciada.



Novas Dimensões do Campo de Batalha

A superioridade aérea é hoje condição fundamental a condução de qualquer campanha militar, e sua obtenção é condição definitiva de desequilíbrio, valorizando sobremaneira a presença dos meios aéreos e antiaéreos. Helicópteros capazes de desdobrar forças em qualquer lugar do campo de batalha, estão acabando com a antiga forma de combate linear e dando as forças terrestres significativo aumento na mobilidade tática, permitindo a estas ações em profundidade até então impossíveis ou suicidas. Meios eletrônicos capazes de monitorar e interferir no espaço eletromagnético proporcionam um multiplicador de combate valioso e que não pode ser negligenciado por qualquer força. A informação é o fator decisivo na guerra moderna e quem a domina conta com significativa vantagem em qualquer disputa. Sistemas de guerra centrada em redes (NCW) desequilibram a balança do poder nos campos de batalha para aqueles que não os possuem, fazendo da informação a arma mais letal.



Fluidez das Operações

Operações militares modernas tendem a ser o mais intensas e breves possíveis, com a busca dos objetivos estratégicos em tempo reduzido, resultando em menores custos humanos e materiais. Ações decisivas devem ser implementadas sempre que possível a fim de atender pressões de toda ordem. Destruir ou neutralizar o inimigo o mais rápido se faz necessário em busca da superioridade estratégica que define o desfecho dos conflitos, ou pelo menos pelo arrefecimento das operações com violência de grande escala.



Eficiência Total no Comando e Controle das Operações

Todos os meios de combate envolvidos devem ser tempestivamente sincronizados no tempo e no espaço, procurando total sinergia entre as suas capacidades, exigindo processos de comando e controle altamente eficientes e meios tecnológicos adequados. Estes sistemas precisam ser confiáveis, seguros, abrangentes e flexíveis, capazes de se adaptarem rapidamente a um dinâmico quadro de situação. Sistemas de guerra eletrônica, comunicações e busca de inteligência fazem parte da base de qualquer sistema de comando e controle moderno. Não existe mais espaço na atualidade para generais que disputam prestígio e poder através das operações, como se viu na Segunda Guerra Mundial entre Patton e Montgomery na corrida para Berlim.



Objetividade e Iniciativa

Objetivos claros e bem definidos sendo buscado por uma manobra estratégica igualmente clara e bem planejada, com meios suficientemente alocados e plena consciência do todo por todos os níveis de comando. Manobras tática-operacionais implementadas eficazmente por comandantes sintonizados com a manobra estratégica, tendo esta como objetivo final. Fomento da liderança e da iniciativa junto aos comandantes dos escalões inferiores, para que estes possam alterar a manobra planejada diante de fatores novos e não previstos, sempre que identificarem maneiras mais eficientes de atingirem os objetivos previamente definidos, porém nunca fugindo destes.

“Guerreiros vitoriosos vencem primeiro e, em seguida, vão para a guerra, enquanto guerreiros derrotados vão à guerra em primeiro lugar para depois buscarem a vitória.” Sun Tzu 


Operações Combinadas

A integração entre as forças armadas próprias e de países aliados, além de agências civis e forças policiais é fator multiplicador do poder de combate. Esta integração deve ser planejada e praticada em tempos de paz, para ser eficientemente explorada em tempos de guerra e deve envolver doutrina, sistemas informatizados capazes de comunicar-se de forma natural, comandos unificados e formas de pensar comuns.

Todos estes fatores são condicionantes do sucesso nos conflitos modernos e não devem ser negligenciados, sob pena de se cair em um "buraco-negro" político-operacional que poderá resultar no fracasso de qualquer operação.


sábado, 26 de dezembro de 2020

Conflitos *209




Conflitos

Introdução:

Conflito é a materialização de uma situação de antagonismo entre partes de expressão internacional, que podem ser duas ou mais nações ou grupos não governamentais na tentativa de conquista do poder, seja em relação a um estado estabelecido ou na defesa de seus interesses conflitantes com os do estado. Os conflitos podem ser resolvidos de diversas maneiras, sendo a guerra o grau máximo a que um conflito pode atingir.

Devido a pluralidade do mundo e aos desencontros de interesse constantes, com cada nação procurando suprir suas necessidades, seja por recursos, influência ou domínio; muitas vezes de forma totalmente ilegítima, os conflitos por vezes resultam em escaladas onde a violência pode se materializar, seja de forma moderada com alguns atritos localizados ou na forma de guerra aberta, e consequências mais graves. Evitar que nações se agridam quando as tensões chegam em níveis mais exacerbados é por vezes extremamente complexo, devido às características heterogêneas do “Status Quo” mundial. 

Algumas características políticas perenes quando se trata de relações internacionais nos ajudam a entender este cenário:

  • Os países são heterogêneos em sua construção cultural, com povos historicamente mais pendentes a resolução pacífica de questões complexas, e outros mais radicais em suas posições políticas, onde a habilidade diplomática tem que atingir níveis altíssimos e por vezes impossíveis, cuja solução passa por concessões improváveis.
  • Escassez de recursos naturais importantes e insumos em determinadas regiões e abundância em outras, que resultem na ameaça a manutenção dos interesses políticos ou econômicos de determinados grupos.
  • O advento de armas de poder superior, como os artefatos de tecnologia nuclear, exerce um peso que desequilibra a balança nas mesas de negociações, favorecendo os países que as possuem.
  • Nações detentoras de conhecimentos e tecnologia mais avançadas, bem como parques industriais mais sofisticados detêm maiores argumentos nas mesas de negociação e maior poder efetivo em ações ondem prevalecem as vias de fato.
  • Desejo de potências emergentes de estabelecer influência em áreas outrora exclusivas de outra potência, seja ameaçando os interesses desta ou diretamente seu território.
  • Surgimento de organizações não governamentais motivadas por motivos religiosos ou ideológicos ou outros, que tentam desestabilizar estados constituídos e ameaçam a existência destes.
  • Elevado nível de interdependência entre as diversas regiões do planeta por recursos diversos na manutenção de seus modos de vida.
  • Desejo de determinadas nações de ascenderem a um nível de poder não desejado por outras nações que se sintam ameaçadas com a materialização desta situação.


Conflito Armado

Um conflito armado é um enfrentamento intencional entre duas partes antagônicas, predispostas a lançarem mão de meios violentos para sua resolução. Ocorre entre estados ou estados e grupos armados com algum poder militar. Dificilmente acontece de repente, sendo na esmagadora maioria das vezes resultado de uma escalada de tensões não resolvidas.


Paz

A paz é a situação onde as nações convivem dentro de uma condição de normalidade, mantendo suas relações comerciais, humanas, políticas, científicas e outras; de forma contínua e desejável por todos, obedecendo a legislações e tratados internacionais. Pequenos conflitos internos e externos não comprometem os interesses nacionais e são resolvidos pelos tribunais e pela negociação direta.


Crise

As situações de crise são um agravamento de possíveis tensões entre as partes, originadas em problemas complexos e de difícil resolução. São tratadas no campo diplomático, muitas vezes com a mediação de outros atores de índole neutra na situação. Estas situações podem se intensificar e resultar em consequências mais graves e pouco previsíveis.


Guerra

A guerra é um confronto armado entre dois ou mais grupos que disputam interesses em comum. Resulta do fracasso da resolução pacífica de uma crise e sua escalada às vias de fato. Pode ocorrer entre países ou não, e seu desfecho é imprevisível. Invariavelmente o mais forte causa o maior estrago, seja em vidas humanas e destruição material, porém este nem sempre acaba como vencedo. Vence uma guerra quem alcança seus objetivos estratégicos, e não necessariamente quem mata ou destrói mais.

“O melhor general é aquele que vence a guerra sem disparar nenhum tiro”

A guerra causa toda a ordem de desgraças e prejuízos, sempre dependendo de sua escala. Interfere diretamente na vida da população, causando mortes, separação entre afins, destruição da infraestrutura econômica e civil, fome, facilita a propagação de doenças e oportuniza às pessoas de moral mais frágil a mostrarem seu lado mais obscuro, que frequentemente cometem abusos de toda ordem sob uma sensação de impunidade. Algumas guerras, principalmente aquelas mais prolongadas, geram a migração de parte da população para outras áreas, configurando problemas para os habitantes e governos locais e caos social entre os migrantes, com crises humanitárias e grande números de refugiados.

O envolvimento em uma guerra deve ser minuciosamente analisado e evitado a todo custo. Se for inevitável, no entanto, deve-se canalizar todos os esforços para uma vitória rápida, pois os recursos necessários são gigantescos e as consequências terríveis, e quanto mais longa se mostrar, mais traumática será, seja tanto sob o aspecto econômico como humano.


Cenários de Guerra

A guerra pode se dar em dois locais distintos: Dentro do próprio território ou em território estrangeiro.


Dentro do próprio território

A guerra dentro do próprio território ou guerra de defesa. conta com a infraestrutura militar do país para pronto emprego, facilitando em muito os esforços de mobilização. As forças defensoras poderão contar com bases operacionais e recursos relativamente abundantes para fazer frente a situação. Todo o pessoal militar e de apoio tenderá a envolver-se imediatamente na situação e uma situação de pronto emprego se configurará rapidamente. Como ponto negativo podemos citar a vulnerabilidade desta infraestrutura às ações inimigas, que se eficazmente atingida poderá comprometer rapidamente a capacidade de combate das forças defensoras. Outro ponto negativo são os efeitos da situação na população civil, que invariavelmente é afetada pela atividade militar dos atacantes. A facilidade logística desta campanha é contraposta pela vulnerabilidade da infraestrutura que a sustentará e ações bem articuladas podem garantir superioridade estratégica irreversível.


Em território estrangeiro

Também conhecida como guerra expedicionária, as operações em território estrangeiro possuem as características inversas àquelas dentro do próprio território. Bases de operações deverão ser estabelecidas próximas ao teatro de operações, nem sempre disponíveis por fatores geográficos ou políticos. Bases intermediárias podem se fazer necessárias se as operações se derem em locais muito distantes. Forças tem que ser mobilizadas especialmente e um grande esforço logístico se fará necessário, envolvendo portos e aeródromos, navios e aeronaves civis, auxílio de países amigos, além de que parte das forças de defesa do país terão que ausentar-se, debilitando as que permanecerem. Como ponto positivo temos que as estruturas militares e produtivas do país estarão relativamente seguras pela distância que as separa das áreas de operações, além de que os efeitos na população civil são reduzidos. Mesmo operando além fronteiras, a segurança deverá ser reforçada no território pátrio, pois ações subterrâneas contra estas poderão acontecer, bem como manifestações de insatisfação da população quanto ao conflito.


Causas da guerra

A causa de uma guerra é quase sempre pela disputa de um território, podendo esta se mostrar de formas variadas. Os motivos podem ser religiosos, étnicos, econômicos, ideológicos, pessoais, etc..; mas a disputa territorial está sempre presente e sua solução tende a finalizar o conflito, pois uma vez que se obtenha pleno domínio do terreno, as questões que deflagraram a contenda tendem a ser equalizadas, podendo é claro, gerar situações não resolvidas e serem estopim para conflitos futuros.

terça-feira, 22 de dezembro de 2020

Política, Estratégia e Poder *208


Introdução

Os estados, através de seus governos buscam a consolidação de seus interesses nacionais. Quanto mais rico e evoluído o estado for, maior e mais complexa será esta teia de interesses, e por consequência a constituição dos instrumentos e a formulação de políticas para persegui-los. O estado mais poderoso da atualidade são os EUA, que por exemplo, mantém bases militares no mundo todo, pois seus interesses se estendem sobre todo o globo, sejam econômicos ou de segurança.

Estes interesses nacionais das diversas nações, especialmente as mais abastadas e poderosas, podem ser legítimos ou não, e por vezes podem se sobrepor aos interesses de outros estados, gerando os conflitos. Podemos citar o expansionismo nazista na primeira metade do século XX, principalmente sobre o território russo que era visto como um “espaço vital” para que a pretensa “Grande Alemanha” pudesse ser suprida com sua crescente necessidade de recursos naturais.

As nações do mundo, no intuito de defender os interesses nacionais de cada estado de uma forma harmônica entre todos, criaram a Organização das Nações Unidas (ONU), órgão supranacional que agrega vários sub órgãos subordinados, que cuidam de áreas específicas, como a UNESCO, o UNICEF, Conselho de Segurança, a OMC, etc... Estas organizações atuam criando mecanismos legais que se aplicam aos países signatários, que funcionam como leis internacionais, e na maior parte das vezes são capazes de resolver os conflitos que não raro surgem nas relações entre as nações do mundo. Pelo menos este é o objetivo, porém a ONU e suas subdivisões, é uma organização contaminada pelos interesses supremos, e muitas vezes tende a atender interesses específicos e subterrâneos, infelizmente.

Estes mecanismos, entre outras funções, procuram disciplinar o uso do mar que é considerado um território internacional, impor políticas quanto as armas de destruição em massa como as nucleares por exemplo, auxiliar a zonas de calamidade e desarranjo social, traçar políticas no sentido da preservação do meio ambiente global, resolver e minimizar no menor espaço de tempo possível as situações de conflito armado e outras situações que representem a quebra da normalidade ou constituam ameaças internacionais, disciplinar o comércio internacional, preservar o patrimônio cultural e outras questões necessárias.

Segundo a ONU, existem cerca de 194 países no mundo, detentores de diferentes realidades econômicas, sócio-culturais, de recursos naturais e de localização geopolítica. A disparidade destas realidades é muito grande, seja no tamanho de seus territórios ou seus pesos sócio-econômicos. Cada qual, teoricamente, é guardião de sua soberania e garantidor da própria segurança. Como esta condição, tal qual afirmada, está bem longe da realidade, os estados formam alianças regionais e mundiais, que garante que a soberania relativa de cada um seja respeitada, pelo menos de forma aparente. A ONU representa a maior destas alianças, e de uma forma ainda imperfeita, garante uma certa ordem jurídica em um mundo altamente desigual. Relações comerciais e interesses de toda ordem contribuem para que os mais poderosos, mesmo que informalmente, abriguem os mais fracos sob seus “guarda-chuvas” protetores, formando as chamadas “esferas de influência”.

Estas “esferas” são formadas por interesses em comum, principalmente comerciais, mas também pela identidade cultural entre os povos. Assim existem fortes laços entre norte-americanos e britânicos, portugueses e brasileiros, alemães e austríacos, entre outros. Antigas colônias possuem tratados com suas metrópoles de outrora. Seguindo os EUA como potência hegemônica, Rússia e China vêm logo atrás, assim como outras potências nucleares como Reino Unido e França. Armas nucleares são um grande trunfo no balanço do poder militar mundial. Ciência e tecnologia fazem a diferença no poder destas potências, e organizações não estatais como o Taliban no Afeganistão e o Estado Islâmico no Oriente Médio também exercem sua influência regional, impondo seus interesses. Um único porta-aviões dos mais de 10 que os EUA tem, é mais poderoso que a maioria da forças aéreas do mundo, tal a discrepância no balanço do poder mundial.

Assim as nações ensejam ter acesso à água potável, à terras férteis, à rotas para que seu comércio possa fluir com saídas para o mar, à recursos naturais como minérios por exemplo, à licenças para expansão de suas fronteiras econômicas, à áreas de pesca, etc...

Vale frisar também que as medidas adotadas pelos acordos internacionais, especialmente no âmbito da ONU, carregam consigo um grande peso imposto pela vontade dos países mais poderosos, porém estes nem sempre conseguem impor suas vontades e por vezes a união dos países de menor expressão ou maioria fica valendo. Devido a uma estrutura anômala criada quando da sua fundação, os EUA, A Rússia, A China, a França e o Reino Unido tem poder de veto no Conselho de Segurança, não por acaso os vencedores da Segunda Grande Guerra, influenciando todas as decisões neste sentido à revelia dos outros países ou nações, que votam como membros temporários sob o risco de serem vetados por estes países dominadores.


Política, Estratégia e Poder


Política

A Política é o instrumento de relacionamento entre as pessoas e por consequência entre as nações. Através dela os governos formulam os objetivos que pretendem alcançar e definem os rumos que a estratégia deverá seguir.



Estratégia

A Estratégia é o instrumento que a política usa para definir os caminhos a serem seguidos na busca dos objetivos traçados. Cabe a estratégia definir opções, considerar recursos, riscos e prioridades. É o conjunto de procedimentos adotados na busca da solução de um determinado problema. Enquanto a política é subjetiva e depende muito da visão do estadista, a estratégia segue uma metodologia mais objetiva e um roteiro mais rigoroso de planejamento e aplicação do poder em proveito dos objetivos políticos. Embora a fronteira entre política e estratégia seja nebulosa, pois muitas vezes uma invade o campo da outra, a estratégia sempre é subordinada à política, e nunca o contrário.

Os problemas em questão podem ser temporários e pontuais, ou poderão ser permanentes, de longa duração. A estratégia definida dependerá destes fatores, dos recursos a disposição, das consequências do emprego de cada recurso e da velocidade a ser empreendida na consecução do objetivo.


Poder

O Poder é a base para que a estratégia seja aplicada, é a capacidade de uma nação impor sua vontade, seja de que forma for. Ele pode ser exercido pela força econômica, pela vontade das maiorias, pela ação das armas, pelas conveniências geográficas, pela informação e desenvolvimento tecnológico, e em um nível mais raro pelo engodo e pela propaganda. A aplicação do poder é resultado da atitude, ou seja, a disposição em alcançar um objetivo aliado a existência de meios necessários para tal.


Estratégia Nacional

A Estratégia Nacional é a aplicação do conceito de estratégia a fim de alcançar os objetivos nacionais, ou objetivos de um país, definidos nos planos de metas de cada governo. A estratégia nacional pode envolver todos os setores da vida nacional. Ela engloba todas as áreas de poder, incluindo o militar, a fim de alcançar os objetivos de uma nação, sejam econômicos, sociais, ambientais, culturais, etc..


Estratégia Militar Geral

estratégia militar geral é o conjunto de procedimentos a serem seguidos a fim de cumprir os objetivos de um país no que concerne a suas atividades militares, ou seja seus objetivos nacionais. Pode ser dividida em vários níveis ou compartimentos, ditando a gestão das forças armadas em tempos de paz, os recursos do país para uso em tempos de guerra, a conduta de uma campanha específica ou outra qualquer situação de cunho militar que se apresente. A estratégia militar dita, por exemplo, a quantidade de tropas mantidas ativas por uma força armada, em que locais, a especialização destas tropas, o equipamento destinado a elas, a base industrial para mantê-las, etc....

Em uma campanha a estratégia militar estabelece os objetivos intermediários a serem buscados, a fim de se obter êxito final que é a busca do objetivo estratégico da campanha.


Estratégia Militar de Guerra

A estratégia militar de guerra pode ser definida como o próprio plano de ação de cada campanha, e deve ser conduzida com conhecimento e cautela. Uma campanha militar deverá aplicar o poder militar de uma nação na medida do necessário, e não a qualquer custo. O objetivo de um conflito armado é alcançar a paz, e não a vitória por ela mesma, com a aplicação de poder desmedido e desnecessário. Vencer um conflito significa sair dele em superioridade estratégica e não simplesmente aniquilar seu inimigo, o que só é desejável por déspotas e sádicos.


Estratégia X Tática x Técnica

Estes conceitos são comumente confundidos e sua linha divisória nem sempre é clara.

A estratégia é o conceito que dita o que deve ser feito ou norteia o início da resolução de um problema, sendo definida a partir do objetivo a ser alcançado.

A tática é o conceito que define como as orientações estratégicas devem ser implementadas, em que momento, com quais recursos, e que técnicas devem ser aplicadas, buscando um enfoque mais objetivo de cada desafio em particular.

A estratégia dos aliados de abrir uma segunda frente na Normandia, por exemplo, foi implementada pela tática de realizar um desembarque anfíbio tendo como cobertura o lançamento de forças paraquedistas que garantiram a integridade de algumas pontes e barraram a chegada de reforços para contrapor o desembarque, usando a técnica do assalto anfíbio e do lançamento aeroterrestre.

A técnica é um modo padronizado de se executar uma tarefa específica. É um procedimento de pouca variabilidade, ao contrário da estratégia e da tática que podem variar segundo cada situação. Temos como exemplo de técnica os procedimentos a serem observados para se efetuar o tiro de uma arma, a forma de se transpor um obstáculo com determinado recurso, como ocupar uma posição em combate, etc...

A tática é aplicada pela implementação sucessiva de várias técnicas militares e operacionais. A técnica pode variar pela evolução do pensamento e da tecnologia, resultado da boa prática e pelo seu sucessivo aperfeiçoamento, e uma vez aperfeiçoada, dificilmente retornará à situação anterior.


Doutrina Militar

É o conjunto de ensinamentos consagrados ao longo dos tempos,  pela experiência adquirida nas diversas empreitadas militares, da aplicação das diversas estratégias, táticas e técnicas desenvolvidas. A doutrina pode mudar com a evolução do pensamento militar e com o avanço tecnológico.

Um exemplo clássico é a evolução da guerra de trincheiras na 1ª Guerra Mundial para a guerra de movimento proporcionada pela implementação da guerra mecanizada, já na 2ª Guerra Mundial. A doutrina militar atual está fundamentada nos Princípios de Guerra, preconizado nos manuais modernos.

A moderna doutrina militar está detalhada nos manuais de campanha, e embora em constante evolução, concilia o tradicional com o contemporâneo, adaptando àquele a evolução da tecnologia, e tornando a arte militar cada vez mais eficiente, permitindo que os conflitos sem deem em espaços de tempo menores, ao custo de menos vidas e de menor destruição da infraestrutura.

Um exemplo é a precisão do bombardeio aéreo moderno, que permite que uma única aeronave atinja resultados mais eficazes que esquadrões inteiros da II Guerra Mundial, com reflexos logísticos, de comando e civis muito diferentes.

Se ainda existem conflitos intermináveis como a guerra civil da Síria, é porque a tecnologia e a evolução da guerra não se fazem presentes na medida que deveriam, fato que reflete a disparidade da evolução dos povos.

Conflitos



quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

Segurança de Bases Militares *207



Toda operação militar deve ser lançada de uma base segura, de onde as unidades em operação possam partir com cobertura e depois de cumprida a missão, retornar para tratar de seus feridos, bem como recompor seu equipamento, descansar, alimentar-se e ficar pronta para a próxima operação. Uma unidade não pode entrar em combate se não tiver para onde voltar após sua conclusão, quem a reabasteça e lhe dê suporte. Todas as bases, sejam fixas ou temporárias, devem ter suas linhas de comunicação físicas e eletrônicas com o escalão superior e de suporte logístico asseguradas, assim como com suas unidades adjacentes e operacionalmente vinculadas. Uma unidade ou base isolada das demais não pode ser reabastecida e recompletada, e seu colapso é uma questão de tempo.

Não foi por acaso que o Alte. Woodward posicionou sua frota a leste das ilhas Falklands/Malvinas onde a aviação argentina não podia chegar, pois ela era a base de operações que dispunha, mesmo a custa da autonomia de seus Harriers que tinham que voar por longas distâncias até as ilhas e permanecer em combate por curtos períodos.

A segurança é fundamental em qualquer operação militar, dada a natureza intrinsicamente arriscada desta atividade. Militares devem estar em constante vigilância, quer contra inimigos em potencial, inimigos iminentes ou declarados e sabotadores ocasionais.


A segurança das instalações militares é atividade que deve ser desempenhada com especial presteza, notadamente em períodos de maior tensão ou de beligerância declarada ou iminente, não devendo ser negligenciada em tempos de bonança. As instalações militares são o sustentáculo das operações e devem manter-se íntegras. A constituem o conjunto de medidas de caráter ativo e passivo que vise a integridade destas instalações e do material ali presente, seu pessoal, de sua organização e todo o acervo de informações administrativas e operacionais de caráter reservado ou sigiloso. 

As medidas de segurança podem ser de caráter interno ou externo. As medidas internas visam prevenir quaisquer quebras de segurança decorrentes do pessoal da base que por qualquer motivo se desvie de suas obrigações, seja por má intenção ou não, evitar que indivíduos infiltrados tenham acesso ao que procuram. 

As de caráter externo são as atividades relacionadas com a proteção contra ameaças que venham de fora, exceto infiltrados, e devem ser tratados como defesa das instalações ou defesa da base. Vigilância e observação constante, seja física pela guarnição ou de alto nível envolvendo serviços de inteligência deve ser mantida com a finalidade de alertar quanto à intensões de potenciais inimigos ou qualquer outra ameaça, seja humana ou circunstancial.

Devido ao inevitável tráfego de pessoal e equipamento que acontece diariamente entre as bases militares e seu exterior, com constantes deslocamentos para fora de seus portões, muitas vezes em áreas extensas e espaço aéreo e aquático, a segurança perfeita ou absoluta é um objetivo desejável, porém inatingível. Não há objeto ou informação tão bem protegidos que não possam ser roubados, danificados, destruídos ou observados por pessoal não autorizado. Tornar o acesso não autorizado tão difícil quanto possível é o propósito das operações de segurança, de forma que qualquer incursão desta natureza seja penosa, de alto risco e se alcançada seja às custas de um retardo insustentável ou comprometedor, desestimulando o invasor de suas pretensões.

O comandante da base é o responsável por sua segurança, devendo destacar um oficial experiente como seu encarregado, o qual deverá implementar todas as medidas previstas em normativos e outras mais que julgar necessárias a consecução deste objetivo. Este Oficial será o responsável pelo planejamento, execução e acompanhamento da Segurança das Instalações da OM, e deve ser, preferencialmente, um oficial da arma de Infantaria, se disponível. O dispositivo deverá ser montado em profundidade, de forma que o rompimento dos primeiros obstáculos ao invasor não represente o colapso da segurança como um todo. É uma tarefa complexa devido ao grande número de variáveis a considerar. Uma segurança de altíssimo nível é onerosa, em termos financeiros e operacionais, e deverá ser implementada de acordo com o nível de vulnerabilidade e importância de cada instalação. Deve-se sempre avaliar o efeito da perda ou dano a instalação e seu conteúdo no contexto geral do sistema de defesa para saber o quanto a instalação ou base é importante, e implementar um dispositivo que equilibre um bom nível de segurança a um custo aceitável. 



O binômio importância e vulnerabilidade relativas definirá o nível de segurança a ser implementado. Se a locação puder ser facilmente danificada, destruída ou neutralizada em sua missão, sua vulnerabilidade relativa é alta. Se sua inoperância acarretar em grande revés ao esforço militar como um todo, sua importância relativa é alta. Importância e vulnerabilidade relativas determinarão o dispositivo a ser adotado, de acordo com os recursos disponíveis. Devido a impossibilidade de estabelecimento do dispositivo de segurança perfeito, deve-se focar nas áreas, dentro da base militar que sejam mais sensíveis que as outras. Àquelas mais importantes e vulneráveis devem ser contempladas com sistemas de proteção mais elaborados e as de menor importância com dispositivos mais simples. Os setores considerados altamente importantes são aqueles cuja perda total ou parcial reduzirá ou eliminará a possibilidade da organização desempenhar com eficácia sua missão, por um período inaceitável de tempo. No bombardeio a Pearl Harbour os japoneses cometeram um grande erro, que foi o de não destruir os depósitos de combustível da base naval, o que possibilitou aos navios não danificados continuarem operando normalmente. Em seu esforço de tornar a frota americana inoperante, os japoneses focaram nos navios ancorados e esqueceram os que estavam no mar, neste caso específico todos os navios-aeródromo, que eram as unidades mais valiosas. O setor mais importante da base ficou intacto, frustrando o objetivo principal dos atacantes. Porém foi um erro dos atacantes e não um mérito da segurança da base, mas serve de lição.

Várias são as ameaças contra a segurança de uma base militar, entre elas destacamos: o acesso indevido a informações não ostensivas, atentados diversos a vida dos indivíduos e instalações, perda da operacionalidade da organização por motivos variados como bloqueios no acesso ou “blackout” no sistema de energia, entre outros. Podem ser de origem humana ou por fatores incidentais ou aleatórios como prejuízos causados por forças climáticas e tectônicas ou acidentes involuntários. Na missão brasileira no Haiti o maior número de baixas foi provocado por um terremoto que atingiu militares que estavam dormindo, sendo as baixas em operação quase inexistentes. As ameaças de origem humana incluem negligência, imperícia ou imprudência nas lidas diárias que resulte em acidentes; que devem prevenidos com treinamento adequado e disciplina rígida nas práticas, principalmente nas mais sensíveis. Incluem também atos de hostilidade por terceiros, deslealdade, subversão, sabotagem, espionagem e furto, que devem ser tratados no plano de segurança da base.

A sabotagem é um método de combate antigo e sua identificação é sempre difícil, podendo ser praticada por pessoal da base em ação de subversão, pessoal infiltrado junto ao pessoal da base, ou por grupos armados em ação de escaramuça. Pode ser feita para se parecer com um acidente e ter suas evidências mascaradas.  O objetivo da sabotagem é frustrar a operacionalidade da organização prejudicando seu poder de combate. Seus métodos são a sabotagem por fogo ou incêndio, utilização de dispositivos explosivos, mecânicos, químicos e por ações psicológicas. 


A sabotagem por fogo resulta na maior parte das vezes na destruição das evidências juntamente com o objetivo. Utilizando um dispositivo de retardo, o sabotador dispõe do tempo necessário para deixar a área e estabelecer um álibi. Quando se utiliza de explosivos, visa-se à destruição imediata do alvo. Os alvos principais são as usinas de geração de energia e a infraestrutura de transportes. Os dispositivos explosivos e os incendiários, destinados à sabotagem, são construídos de modo semelhante. Ambos são constituídos de um iniciador, um mecanismo de retardo e uma carga principal. A sabotagem mecânica se dá pela quebra de um mecanismo, sua abrasão, contaminação, adulteração de combustível, substituição de insumos e matérias primas, ou omissão como deixar de lubrificar uma máquina ou não recompletar a água em um sistema de refrigeração.

A sabotagem química e biológica pode se dar com a disseminação de vírus ou bactérias, causando algum tipo de doença. Por esse motivo, qualquer anormalidade sanitária merece uma investigação por pessoal especializado e comunicação e uma comunicação aos serviços de inteligência. Agentes químicos podem ser disseminados através do sistema de climatização ambiental e da rede de abastecimento d’água, por exemplo. A sabotagem psicológica visa quebrar o moral de uma organização. Ela procura colocar as pessoas contra a organização, criando uma situação de antagonismo. São levadas a agir, quer seja por ação (quebra-quebra, piquetes, etc) ou por omissão. Uma ação deste tipo pode ser desencadeada a partir de um indivíduo determinado, exercendo influência sobre os outros. A melhor defesa contra a estas práticas é a existência uma liderança efetiva. Homens esclarecidos e que acreditam em seus chefes, dificilmente se deixam dominar por elementos com maus propósitos.


Principais alvos presentes nas bases militares

Aeronaves e navios, principalmente navios aeródromo e submarinos nucleares, são os alvos muito importantes presentes nas bases militares, pois são de difícil reposição e sua destruição pode determinar a interrupção imediata total ou parcial da atividade fim da base, no caso se for uma base aérea que abriga unidades aéreas, ou uma base naval de alto valor. 

Todo tipo de ameaça pode ser direcionado às aeronaves; desde a sabotagem até o furto. Devem ser adotadas medidas especiais de segurança visando à sua proteção, devendo serem posicionadas sentinelas específicas junto a elas. Aeronaves em visita a uma base qualquer também devem ser vigiadas de perto pela segurança da base anfitriã.

Navios e submarinos atracados ou em movimento de chegada e saída podem ser alvos de ações de sabotagem, roubo ou mesmo de ataques externos. Durante a Segunda Guerra Mundial os aliados abalroaram um dique seco na base de submarinos nazistas de Saint Nazaire, na França ocupada. O dique permaneceu inoperante por toda a guerra causando enormes prejuízos aos esforços navais alemães.


Armamento em geral que poderá ser alvo de furto por grupos criminosos ou terroristas a fim de abastecerem-se destes. Os arsenais deverão ser reforçados para evitar que invasores se apoderem, principalmente de armamento leve.

Material nuclear são um alvo cobiçado por muitas organizações terroristas, e as bases que os contem deverão tê-los trancados em locais de difícil acesso, bem como manter vigilância constante e bem treinada na sua guarda.

Pistas de pouso e decolagem são alvos também de grande importância, principalmente nas bases aéreas, pois a destruição ou interdição de uma pista, praticamente torna inoperante as atividades aéreas. A forma mais usual de bloquear pistas é por bombardeio aéreo, e a presença de artilharia antiaérea orgânica em algumas bases pode ser necessária.


Combustíveis são o sangue que movimenta as unidades militares em operação. A destruição de depósitos de combustíveis, geralmente, se concretiza através de sabotagem por fogo ou por material explosivo; podendo ainda ser objeto de furto sistemático. A perda de combustível é consideravelmente prejudicial e torna impraticáveis as operações nas unidades que o utilizam como de forças mecanizadas, bases navais e aéreas. 

Paióis de munição são extremamente vulneráveis. A destruição de paióis é um golpe muito forte ao sistema de segurança de uma unidade, bem como nas suas operações, em virtude da perda dos elementos necessários à concepção dos objetivos de ataque e defesa.


As comunicações são um auxílio importantíssimo às operações. A destruição das redes de comunicação não acarreta o cancelamento ou interrupção das operações, porém as tornam muito mais difíceis e perigosas, pois estará ausente os necessários enlaces de comando e de logística. Existem também medidas passivas específicas referentes à segurança das comunicações como a criptografia, a disciplina na sua transmissão, a autenticação de mensagens e a utilização de equipamento de tecnologia que proporciona segurança. A destruição ou neutralização física de equipamentos de comunicação também certamente trará efeitos sobre a operacionalidade da base e suas unidades e deve ser considerada. 

Armazéns são locais onde estão estocados materiais diversos e indispensáveis para o cumprimento da missão da Unidade, sejam alimentos, material bélico ou administrativo e outros. O ataque aos armazéns, e a consequente perda do material acarretará prejuízos à operacionalidade da base. O material estocado em armazéns pode ser também alvo de furtos. 

Os geradores são fontes suplementares de energia que não permitem a interrupção das comunicações e outros sistemas de funcionamento elétrico quando ocorre interrupção em seu fornecimento. Interromper o suprimento de energia é uma das primeiras ações do inimigo em um ataque. Assim ocorrendo, os geradores serão alvos de grande importância e que devem ser definidos contra sabotagem. 

O suprimento d’água é alvo ideal para sabotagem química e biológica. A contaminação de um depósito de água poderá resultar na inoperância de toda uma tropa sem que nenhum tiro seja disparado. As bases em geral postam sentinelas em suas fontes de água potável. Suprimento de víveres devem ser igualmente protegidos em virtude de os mesmos serem alvos de sabotagem como a sua contaminação e furto.

Os EUA possuem bases exclusivas com silos de mísseis ICBM, que por sua construção por si só, em ambiente subterrâneo, já lhe proporciona alto nível de segurança, porém mesmo nestas instalações há de se tomar o máximo de cautela com infiltrados, principalmente devido a sensibilidade do material nuclear ali presente e a possibilidade de seu lançamento não autorizado, caso não existissem protocolos de lançamentos super seguros. Mesmo assim um acesso não autorizado de um técnico poderia iniciar o lançamento ou a detonação, se a segurança fosse negligenciada. Outros países como a Rússia possuem ICBM fixos e móveis, que também devem seguir rígidos protocolos de segurança, seja de seus operadores, seja dos militares que lhe fazem a segurança.



Medidas de Segurança mais usuais adotadas em bases militares

Sentinelas

Manutenção de sentinelas em locais previamente escolhidos. Podem ser fixos ou volantes. Estas sentinelas devem ser postadas, preferencialmente, onde possam ser vigiadas por outras sentinelas, constituindo uma corrente circular, de forma que o silenciamento de uma seja imediatamente percebido pela outra. O estabelecimento de rondas periódicas ou contínuas assegura que as sentinelas estejam sempre atentas, evitando distrações como o uso de telefones celulares, dormir durante seu turno ou abandonarem seus postos por outros motivos. A aproximação do militar em ronda deve ser tratada pela sentinela como se fosse um invasor, até que o mesmo seja identificado, em procedimento específicos e com a utilização de senha e contra-senha. Bases navais devem contar com patrulhas embarcadas prevenindo o acesso a partir do meio aquático.


Controle de acessos

O acesso ao interior das bases deverá ser permitido apenas ao pessoal autorizado, devidamente identificados nos portões, preferencialmente e se possível por meios eletrônicos. O conteúdo que os indivíduos carregam também deverá ser checado na entrada e na saída. Os acessos deverão ter obstáculos contra a invasão de veículos como acesso em ângulo, cavaletes anticarro, correntes, perfuradores de pneus, posições de armas automáticas, guaritas fortificadas e outros. As sentinelas destes locais também deverão estar informadas sobre os veículos autorizados a entra e a sair naquele determinado momento, bem como a chegada de militares estranhos à unidade. Uma aeronave ou navio não autorizados pode pousar ou atracar em uma base militar contendo explosivo ou contaminantes, ou ainda militares hostis, e seu acesso deve ser rigidamente monitorados e impedido se necessário. Apesar de não ser uma base, podemos exemplificar o raid israelense em Uganda, onde aeronaves C-130 Hércules de Israel pousaram furtivamente no aeroporto de Entebbe e resgataram cidadãos israelense feitos reféns, nas barbas do ditador Idi Amin Dada. O aeroporto estava guarnecido por soldados ugandenses que foram prontamente neutralizados.

Instalação de sensores

Sensores eletrônicos instalados por todo o perímetro da base poderão alertar sobre invasores. Radares de alerta antecipado e sonares de fundo também pode alertar de aproximações. Bases navais podem ser localizadas em baías restritas, com a implementação de sensores submersos e armadilhas como áreas minadas nos canais de acesso.


Obstáculos Físicos

Obstáculos diversos contribuem em muito para a segurança das bases. Cavaletes de metal, dispositivos destinados furar pneus, acesso aos portões em diagonal e com rampa negativa e obstáculos forçando o zigue-zague, cercas, que podem ser duplas, eletrificadas, ladeadas por campos minados, concertinas alocadas onde não deve haver tráfego e no topo das cercas, cercas altas podendo ser guarnecidas por animais como cães, posições de armas automáticas com cobertura em setores específicos, redes submersas em bases navais prevenindo a incursão de mergulhadores e a transposição de torpedos, e outros.

Inteligência

Identificação pela inteligência e tomada de medidas preventivas de possíveis ou potenciais intenções contra a base, antecipando-se ao inimigo. Uma medida interessante que foi adotada na guerra contra o Iraque foi o posicionamento de aves em gaiolas a fim de dar o alerta de um ataque químico.


Artilharia antiaérea

Bases especialmente visadas pelo assédio aéreo inimigo, como as bases aéreas e navais, deverão contar com estes sistemas. Cobertura aérea por caça e aeronaves AEW podem ser implementadas em casos especiais de alta vulnerabilidade, que atuaram em proveito de áreas mais extensas.

Brigadas de incêndio

Bases devem prever a formação de brigadas de combate a incêndio, principalmente bases aéreas e navais, onde o risco é maior. Quanto maior a base mais especializada deve ser esta tropa, que poderá ser constituída por militares que atuam em outras funções como a infantaria de guarda da base, como por pessoal especialmente dedicado.

Setorização

Restrição de acesso a determinados setores apenas a pessoal autorizado, com rígido controle em área mais sensíveis. Áreas de operação de serviços de inteligência, de estocagem de material perigoso ou muito visado, subestações de força, áreas de comando e controle, etc... Outra medida de setorização pode ser feita no âmbito externo com o estabelecimento de zonas militares restritas no entorno das bases, com postos de controle de veículos e pessoas nas proximidades, além de outras medidas.


Localização Criteriosa

Uma base pode ser alocada em um terreno que favoreça sua defesa, como uma ilha, um local distante de aglomerados urbanos, próxima a contrafortes, em ambiente subterrâneo, oculta entre outras instalações periféricas, locais de afunilamento rodoviário que direcionem o fluxo de veículos de forma a facilitar seu controle, etc... A Base naval da Ilha da Madeira em Itaguaí, por exemplo, foi construída em local privilegiado contra o acesso por mar e por terra de forças inimigas.

Escoltas Armadas

Algumas bases de submarinos nucleares pelo mundo contam com escoltas de superfície que atuam na proteção destas naves no vulnerável momento em que deixam seus atracadouros rumo ao mar aberto e no momento em que retornam de suas patrulhas, enquanto não estiverem submersos ou em profundidade segura.

Existem ainda outras medidas que podem ser adotadas, sendo que cada base possui as suas particularidades, e cada força pode lançar mão de recursos diversos.


quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Observação do Tiro de Artilharia por Combatente de Qualquer Arma *206

A IMPORTÂNCIA DA OBSERVAÇÃO DO TIRO DE ARTILHARIA E DE MORTEIRO PESADO POR COMBATENTE DE QUALQUER ARMA

Augusto Ravanello Duque



A Artilharia de Campanha tem como missão principal apoiar a força pelo fogo. Considerando os aspectos táticos ela realiza fogos de apoio aos elementos de manobra, fogos de contrabateria e de aprofundamento do combate como medidas para cumprir sua tarefa.

Na execução do apoio de fogo em qualquer situação a Artilharia deve proporcionar volume e potência de fogo, nos locais e nos momentos necessários ao combate. Para seu funcionamento, vale-se da execução e da integração de seus subsistemas, os quais são: linha de fogo, topografia, central de tiro, observação, meteorologia, busca de alvos e comunicações. Nessa integração, cabe ao subsistema observação conduzir e ajustar tiros sobre alvos de interesse para o cumprimento da missão das tropas apoiadas. Para executar seu propósito, este subsistema utiliza os Observadores Avançados (OA), que tem como incumbência servir como elementos responsáveis por levantar alvos e informações sobre o inimigo, acompanhar o combate junto aos comandantes de subunidade, serem os elementos mais próximos à linha de contato com o inimigo, formar uma rede de informações e servir como elemento de ligação da artilharia com a tropa apoiada.

Os OA de artilharia são fornecidos pela unidade de artilharia orgânica daquela Grande Unidade, sendo que cada SU recebe um OA. No caso dos OA de Morteiro Pesado 120mm (Mrt P) cabe a própria tropa apoiada fornecê-los. Dessa forma, serão militares oriundos das armas de Infantaria e Cavalaria, e terão as mesmas atividades e responsabilidades dos OA de artilharia.



Durante o desenrolar das operações, existem uma infinidade de situações que influenciam no trabalho dos OA, tais como: postos de observação que não possuem grande amplitude de observação, limitação das comunicações ou baixas na equipe de observação. Dessa maneira, é imprescindível que existam militares em contato visual com os alvos e que estejam aptos a conduzir o tiro e, para isso, os mesmos devem saber os procedimentos e técnicas mínimos para a correta condução do tiro, pois devem analisar os alvos, corrigir os disparos e avaliar os danos.

O desconhecimento da técnica de observação pelos militares de primeiro escalão, durante o combate, impossibilita um Ap F preciso, oportuno e eficaz em proveito da arma-base, além de dificultar o controle de danos.

No caso particular do Pelotão de Exploradores cresce de importância que todos os militares estejam aptos a conduzir os tiros. Apesar de não ter por missão precípua se engajar decisivamente com o inimigo, deve reconhecer, explorar e esclarecer, monitorando sempre a atividade inimiga no terreno. Além disso, opera em uma área mais à frente de sua Unidade em até 2 km e nessa situação não haverá OAs em condições de conduzir os fogos, pois os mesmos estarão acompanhando a manobra da subunidade em apoio que está mais a retaguarda. Nesse contexto, pode em algum momento necessitar do Apoio de Fogo, o que torna necessário a existência de militares com conhecimento técnico da condução.

Durante a instrução dos Pelotões de Exploradores de infantaria, os militares integrantes da fração realizam exercícios de condução de fogos em ambiente simulado, abrangendo diversos contextos táticos, para que tomem conhecimento das ligações existentes e para se adestrarem nos procedimentos da condução.



Outro caso que necessita de atenção é o relacionado ao combate em áreas habitadas que por se tratarem de locais com maior densidade populacional e a maior presença de edificações tem efeitos colaterais de maior amplitude. Nessas áreas a compartimentação no terreno limita sobremaneira a visibilidade, em muitas vezes a tropa só terá vistas no quarteirão ou na rua que estiver atuando, dessa forma haverá necessidade de todas as tropas empregadas estarem em condições de conduzir os tiros em proveito de sua missão. Tendo em vista evitar danos desnecessários, tanto aos civis como as tropas amigas, os fogos devem ser muito mais precisos e nesse contexto somente com munições inteligentes ou com elementos junto ao objetivo orientando os disparos essa situação será possível.



Se analisarmos os combates do passado em relação aos da atualidade, veremos o crescimento da importância da observação dos fogos durante as operações como fator preponderante para o sucesso ou para a derrota. Os fogos utilizados adequadamente podem decidir o combate, mas, para isso, é necessário que a rede de observação se estenda por toda a frente de combate através dos OA e dos militares em contato com o inimigo. Além da amplitude da rede de observação, as habilidades e os conhecimentos de condução devem ser treinadas e manutenidas por todos os elementos de manobra, para que os fogos em apoio nunca sejam interrompidos.

segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Planejamento Militar - O Exame da Situação (Parte 2) *205



Parte 1 - Generalidades

1ª Etapa - Exame da Situação

O exame da situação é a base de todo o processo de planejamento militar. O comandante concebe as linhas mestras daquilo que será executado. Se dá em 5 fases: 

1. Recebimento da missão e sua análise (reconhecimento do problema),

2. Entendimento da situação e sua compreensão (coleta e análise das restrições e suas relações com o problema),

3. Identificação das possibilidades do inimigo com suas possíveis linhas de ação (comparação das restrições e sugestão de possíveis soluções),

4. Comparação das linhas de ação propostas com àquelas que o inimigo possivelmente adotará (comparação entre as possíveis soluções) e

5. Tomada de decisão (escolha da solução).


Fase 1 - Análise da Missão (reconhecimento do problema)

Ao receber a missão o comando designado partirá para o seu entendimento, buscando conformar-se à intenção de seus superiores e aos problemas que desafiarão cada um de seus subordinados.

Neste momento procura-se formar uma ideia clara e completa do problema militar, compreendendo a situação que seu comandante busca e seus efeitos desejados, tanto do comando como os seus próprios. A partir da origem da missão a primeira linha que o comandante escreverá será o enunciado de sua tarefa e deduzirá o seu propósito, sempre de modo claro e preciso; enunciado este que poderá conter mais de uma tarefa e mais de um propósito, porém sempre unidos por uma única expressão “a fim de”, o que caracteriza uma única missão com um só planejamento. Cada missão tem seu processo específico. O comandante deverá procurar entender de forma abrangente a missão de seu superior e, se possível, a dos escalões mais elevados, formando um quadro abrangente do problema militar no maior nível possível, que resulte em conclusões amplas em que se possa identificar eventuais desvios para fora das diretivas recebidas e limitações que poderão afetar o planejamento.

Ao analisar a própria missão, o comandante deverá evitar análises vagas com pouca objetividade e que levem a planejamentos volumosos e confusos, com o enunciado da missão e seus propósitos sempre em vista. 

Um pequeno roteiro pode auxiliar em um resultado mais desejável:

1. Identificação dos efeitos desejados: Uma meta específica, realista e clara

2. Identificação dos objetivos principais e eventuais:

3. Contribuição para o efeito desejado pelo comando superior: Compara sua missão às dos outros comandantes de mesmo escalão, identificando se está realizando o esforço principal ou de apoio; Compara se sua linha de ação pode interferir na ação de outras unidades e toma medidas para corrigir a interferência; e por fim identifica as possibilidades de sua ação contribuir marginalmente para o esforço principal, e potencializa, se possível, esta contribuição

 4. Verifica se os objetivos eventuais contribuirão para a obtenção do efeito desejado do escalão superior, e se é conveniente executá-los;

5. Identifica se sua tarefa consiste em uma linha de ação pré-definida. Por exemplo: Uma patrulha de defesa aérea está lá para garantir a defesa de um determinado espaço aéreo em uma situação de conflito aberto, e se houver aeronaves inimigas, os caças em CAP deverão destruir estas aeronaves com seus mísseis (ação pré-definida).

6. Dados importantes relativos ao problema: São condicionantes impostas pelo superior com influência sobre o planejamento.

7. Limitações sobre o planejamento: A violação das limitações impostas ou existentes tornará a linha de ação inadequada.

8. Tempo: urgência e grau de prioridade da operação; tempo disponível para o planejamento e duração da operação, além de horário limite para o início;

9. Se a tarefa é estratégica, operacional ou tática, ofensiva, defensiva ou de apoio;

10. Quais as forças disponíveis, sua disponibilidade e grau de prontidão, onde estão e se devem ser deslocadas.

11. Regras de engajamento.

12. Relação da operação com outras em andamento.

13. Outras limitações impostas pelo comandante. Este deverá procurar impor o menor número de restrições possíveis, evitando reduzir a flexibilidade e amplitude das soluções.

14. Hipóteses Básicas (HB) são situações que podem se materializar ou não, das quais não se pode ter certeza devido à informações não consistentes. São formuladas pelo comandante, que fará suposições a respeito da operação futura e da situação presente. Quanto maior for o escalão, maiores serão os prazos de execução e a necessidade de hipóteses básicas. As hipóteses básicas do escalão superior serão tratadas como fatos pelo planejador subordinado. O comandante planejador formulará suas hipóteses baseadas em suas impressões, experiência e conhecimento. Estas hipóteses tomarão o lugar de um conhecimento imprescindível que não está disponível, e são fundamentais para que se complete a análise. A consideração da hipótese básica poderá ser desconsiderada se o planejamento levar em conta a situação mais desfavorável possível.

Para cada possibilidade existirá uma HB, e para cada uma deverá ser elaborado um plano de contingência (“plano B”). Estas hipóteses só deverão ser formuladas se estritamente necessárias, evitando-se esforços demasiados com planos desnecessários. A regra para validar uma hipótese básica é a possibilidade de interferência de forma significativa no plano que está sendo montado, caso se concretize ou não, e caso seja negativa deve ser descartada. Um plano abrangente e bem elaborado pode reduzir, ou mesmo eliminar o número de hipóteses básicas.

A formulação de uma hipótese básica requer conhecimento profundo da situação, experiência e conhecimentos profissionais, sendo que sua redação deverá descrever precisamente a situação que envolve o planejamento em curso.

Relação da missão com as de outros comandantes, suas interferências e possibilidades de sinergia;

15. Os efeitos desejados pelo inimigo devem ser considerados como o oposto dos efeitos desejados pelo comandante. É comum considerar-se que o inimigo possa fazer tudo o que de pior possa realizar dentro de suas limitações. Qualquer consideração mais branda deverá estar baseada em dados de alta confiabilidade.

16. Um resumo dos tópicos mais importantes já analisados facilitará consultas posteriores, visto que as missões são cíclicas e contínuas.


Fase 2 – Entendimento da Situação

Nesta fase o Comandante e seu Estado Maior, analisarão a Área de Operações e os meios e forças disponíveis, relacionando-os aos fatos já elencados. As conclusões desta análise servirão de lastro para a tomada de decisão.

O pequeno roteiro a seguir mostra de forma sintética o caminho para a tomada de decisão:

O Esboço da Situação

Faz-se um esboço da situação, listando todos os fatores considerados relevantes para a tomada de decisão. Este memento será elaborado pela seção ou turma de informações à disposição do comandante, e depois de ser aprovado, será distribuído às demais seções do EM.

Relatórios complementares a este memento sobre forças amigas e inimigas serão elaborados pela Seções de Inteligência (S2), e pelas Seções de Logística (S4) e de Operações (S3) e outras seções se houverem, apontando o parecer de cada uma dessas seções em suas áreas específicas. Serão gerados relatórios diversos sobre as forças amigas, o inimigo, aspectos logísticos, comunicações, guerra eletrônica, mobilidade e contramobilidade, ameaça aérea, aviação de apoio, apoio de fogo, guerra submarina, assuntos civis, etc....

O Esboço da Situação servirá ao EM como ponto de partida para seus esforços de coleta de dados, limitando seu campo de trabalho ao que realmente interessa ao cumprimento da missão do Comandante.

Posteriormente todos estes pareceres e dados coletados serão integrados pela seção de operações (S3) em um único documento de Exame da Situação feito pelo comandante.

A Área de Operações

Veja Valor Militar do Terreno

A análise da área de operações identificará sua influência na missão e que medidas afins deverão serem tomadas. Deve-se ater somente aos fatores relevantes à missão. Um processo específico de Integração Missão-Inimigo-Terreno-Condições Meteorológicas-Tempo-Tropas Disponíveis e Assuntos Civis (METT-TC no USArmy) será útil nesta compreensão, pois resulta numa série de mapas e gráficos envolvendo estas variáveis.

Fatos Pertinentes (FP) são dados ou acontecimentos, evidentes ou comprováveis, que estarão diretamente relacionados com a Missão do Comandante, ou exercerão influência sobre ela. Consequências são os desdobramentos de um FP. Estes desdobramentos nada mais são do que uma dedução possível do FP inicial, tornando-se um novo FP, que será novamente analisado até que se esgote, resultando em alguma conclusão que será considerada ou descartada como irrelevante. Poderá ser considerado isoladamente ou ser agregado ao FP inicial.

A Conclusão é um resultado desta análise pela qual, com base em FP(s): As vantagens e/ou desvantagens; limitações e possibilidades das forças do comandante e do inimigo; e os procedimentos que poderão ser implementados durante a operação.

Os tópicos mais relevantes concluídos na análise da Missão na Fase 1, serão àqueles utilizados pelo EM e se constituirão nos FP(s) ao Problema Militar que está sendo analisado. Deve-se tomar cuidado para não se apresentar como conclusão um fato já conhecido, lembrando de que fato é aquilo que já é real, que não pode ser mudado e conclusão é o resultado de uma análise, algo ainda não concretizado e poderá variar.

Ao final um estudo das Características da Área de Operações deve-se apresentar os FP(s), e a partir destes se fazer uma análise de como eles poderão influenciar a operação, resultando em conclusões que apontem as vantagens e desvantagens, possibilidades, limitações ou procedimentos. Um único FP pode gerar diversas Conclusões; diversos FP(s) podem gerar uma única Conclusão; ou um FP pode não gerar Conclusão alguma porque indica, por si só, um procedimento a seguir.

“Checklist” das Características da Área de Operações

Fatores Gerais

Os fatores gerais são tão mais relevantes quanto maior for o escalão de planejamento. São agrupados em fatores Políticos, Econômicos, Sociais e Tecnológicos.

Fatores Gerais: Políticos

São os fatores que definem o cenário político da área de operações e que poderão influenciar na missão. Podemos listar alguns fatores, porém outros poderão se fazer relevantes. Temos como exemplo deste tópico o nível de estabilidade política interna, atividades subversivas e seu controle; o nível de oposição interna ao governo local; os acordos políticos e alianças militares; as relações exteriores e o nível de interesse externo na situação local; reivindicações territoriais e marítimas; aspectos referentes ao  direito internacional; ideologias políticas: partidos políticos, facções, grupos paramilitares, associações sindicais, organizações não-governamentais (ONG), movimentos populares, lobbies, etc.

Por exemplo: o uso de uma base aérea em um país amigo para viabilizar as operações pode ser condição fundamental a estas, porém este país, apesar de amigo, pode não cedê-la para não se envolver politicamente no conflito. O FP é a neutralidade política e a consequência a não cessão das bases.

Fatores Gerais: Econômicos

Aspectos econômicos são de suma importância em uma operação militar. Eles podem influenciar de forma significativa muitas das decisões sobre uma missão. Temos por exemplo o nível de industrialização; a capacidade de mobilização da indústria, para apoio às hostilidades; a disponibilidade de recursos humanos e materiais; as fontes de matérias-primas; a localização dos principais parques industriais e centros financeiros e comerciais; o nível de dependência externa para a manutenção do esforço de guerra; a capacidade de produção agropecuária e segurança alimentar; as capacidades e localização das fontes de energia, a integração energética do território; os acordos econômicos, etc...

Por exemplo: Na área de operações passa um importante oleoduto que abastece uma importante região do planeta, e a interrupção de sua operação poderá provocar um desequilíbrio que trará sérias consequências. O FP é que a operação do oleoduto terá que ser garantida e a consequência é que sua interrupção poderá provocar questões com países neutros, não desejáveis.

Fatores Gerais: Sociais

São os fatores pertinentes à população da área de operações onde a missão se desenvolverá. Temos como exemplo a influência da mídia sobre a população; o nível sócio-econômico da população como a escolaridade, a renda “per capta”, desemprego, distribuição de renda, etc...; etnias; idiomas; religiões e seus desdobramentos; conflitos latentes; raças; valores; sensibilidades; humor em relação ao governo; aspirações; moral; empatia com as forças armadas; situação das forças armadas locais considerando adestramento, condição geral e fidelidade ao comando. Estes fatores normalmente estão presentes em todas as situações, e devem ser considerados com atenção especial, podendo ser explorados em benefício da missão ou ser um obstáculo.

Por exemplo: A área de operações abriga várias tribos antagônicas entre si há vários séculos e da mesma forma hostis ao governo local. Esta situação poderá provocar reações destas tribos contra nossas próprias tropas.

Fatores Gerais: Tecnologia

Estes são fatores pertinentes ao nível de desenvolvimento da região. Como exemplo temos: A sofisticação do armamento das forças locais e dos meios instalados; centros de pesquisa e desenvolvimento; meios industriais; instalações nucleares, químicas e biológicas; tecnologias de sensoriamento como satélites; redes de dados; usinas de força; etc...

Por exemplo: As forças inimigas contam com infraestrutura de sensoriamento por satélite e dificilmente será possível iniciar a operação sem que seja percebida.

Fatores Físicos

São as características físicas da Área de Operações que influenciarão mais diretamente a missão, oferecendo possibilidades e limitações.

Fatores Físicos – Hidrografia

Incluiu todos as variáveis pertinentes à operação de meios aquáticos como meios anfíbios, submarinos e afins. Considera profundidades e gradientes; correntes marítimas; marés; navegabilidade; facilitadores e dificultadores como obstáculos naturais ou não, faróis, etc...; condições de propagação do som, incluindo salinidade e camadas de propagação; arrebentação; etc...

Por exemplo: A praia escolhida para o desembarque apresenta uma barreira de arrecifes de forma parcial, que pode provocar encalhes e danos às embarcações, sendo que sua trajetória deverá ser minuciosamente planejada e conduzida.

Fatores Físicos – Topografia

O terreno onde uma tropa atuará apresenta uma série de particularidades que influenciarão sobremaneira todo o desenrolar da operação. Suas características podem constituir obstáculos ou facilitadores, e devem ser analisadas criteriosamente, procurando fazer cada ponto como um aliado quando possível. Deve-se considerar a vegetação; o relevo; as linhas de costas; os cursos d’água e suas possibilidades de travessia; praias, consistência do terreno para suportar tráfego, etc...

Por exemplo: A única linha de progressão possível sobre a área Foxtrot constitui-se da estrada 45, construída sobre um aterro feito para ela, em uma grande área pantanosa. Não é possível de ser desviada, o que constituí fator de grande vulnerabilidade às colunas que ali trafegam. Uma manobra de segurança de flancos deverá ser previamente implementada antes de sua travessia.

Fatores Físicos – Meteorologia e Fatores Climáticos

Os fatores climáticos influem diretamente nas operações. Chuvas e neve podem provocar alagamentos e prejudicar a trafegabilidade; frio intenso afeta diretamente o moral do combatente e pode provocar mal funcionamento do equipamento, provocar ulcerações e hipotermia; Neblina, chuva e tempestades afetam ou mesmo inviabilizam operações aéreas. Um bom planejamento deve levar os fatores climáticos em conta considerando incidência de ventos, chuva e neve; visibilidade; temperatura do ar e da água; radiação solar; neblina; condições de navegação marítima e aérea; temperaturas; etc...

Por exemplo: A única linha de progressão possível sobre a área Foxtrot constitui-se da estrada 45, construída sobre um aterro feito para ela, em uma grande área pantanosa. Não é possível de ser desviada, o que constituí fator de grande vulnerabilidade às colunas que ali trafegam. Há previsão de chuvas intensas o que pode provocar seu alagamento e possível intransitabilidade, tornando as tropas que ali estiverem extremamente vulneráveis pela imobilidade e falta de condições de abrigo.

Fatores Físicos – Períodos

São os fatores decorrentes do ciclo dia-noite e suas implicações como os períodos de claridade e escuridão, fases lunares e eclipses. É importante que sejam tabuladas as horas do nascer e pôr do sol e da lua, os períodos de claridade e escuridão, a duração do crepúsculo e as fases da lua.

Por exemplo: Durante os dias x e y haverá lua cheia, o que permitirá uma maior visibilidade para as marchas noturnas programadas, não sendo necessários equipamentos de visão noturna para os motoristas.

Fatores Físicos – Pontos Notáveis

Todos os fatores físicos do terreno que podem prejudicar ou potencializar a missão. Estradas; bases militares, instalações de apoio, fábricas, pontes, posições de tropas e armas, áreas de estacionamento, depósitos, etc... Estas posições deverão ter suas distâncias aéreas, terrestres e marítimas plotadas nas cartas, bem como suas características relevantes. Estes pontos considerados são de natureza estática, não devendo ser confundidos com os fatores de tempo e distância da missão, que serão vistos nos planejamentos propriamente ditos, relacionados ao tempo e a velocidade dos operadores e das forças inimigas.

Por exemplo: O destacamento Delta fará um marcha motorizada de Alfa 1 até Alfa 2 cuja distância supera em muito a autonomia dos veículos. No entanto, ao longo do itinerário existem 3 postos de controle com capacidade de reabastecimento, não sendo necessário o acompanhamento de viatura com combustível para reabastecimento destas colunas.

Fatores Físicos – Linhas de Comunicações

Estes fatores dizem respeito a todas as linhas de comunicações que podem servir para a execução da missão, seu apoio e seu suporte logístico. Considera-se aqui as rotas terrestres rodoviárias e ferroviárias; as rotas marítimas, fluviais e de águas interiores, tais como lagos, baías, canais e rios; rotas aéreas e respectivos aeródromos; linhas de transmissão de energia e de telefonia; gasodutos, oleodutos, aquedutos etc. Devem ser identificados pontos sensíveis que se explorados pelas nossas forças ou do inimigo, poderão interromper ou atingir alguma das linhas de transporte ou de suprimento, além de colocarem nossas forças ou as do inimigo em posição de vulnerabilidade.

Por exemplo: Após a marcha motorizada com término em Alfa 2, o destacamento Delta se reunirá no aeródromo local e embarcará nas aeronaves do destacamento 32 da força aérea do país Azul, que apoiará a transposição por via aérea da cordilheira Vagalume até o aeródromo de Alfa 3. Se as condições meteorológicas não permitirem a decolagem, o destacamento deverá permanecer em Alfa 2 até que seja possível, pois as rotas terrestres através desta cordilheira estão ocupadas por forças subterrâneas hostis, e as colunas de marcha estarão sujeitas a emboscadas.

Fatores Físicos – Fatores Médico-Sanitários

Devem ser considerados os aspectos que possam afetar a saúde das nossas forças, do inimigo e da população levando em conta: condições climáticas capazes de afetar a saúde como o frio intenso; a qualidade da água e alimentos; as doenças endêmicas, como aquelas transmitidas por mosquitos, por exemplo; as facilidades médicas e de pessoal especializado disponíveis na área, etc...

Por exemplo: A área Mike-November onde se localiza o aeródromo de Alfa 3 é uma região endêmica da febre-amarela com grande quantidade de mosquitos presentes, sendo necessária a vacinação com antecedência da tropa que lá desembarcará, conforme os protocolos médicos.

Fatores Físicos – Fatores Operativos

Se refere ao estudo e conhecimento de meios e instalações de interesse operativo, tais como bases diversas, aeródromos, posições de artilharia de costa e antiaérea, redes radar e de AEW, dispositivos defensivos de ponto forte, postos de controle, etc... É importante em alguns casos identificar os recursos ou características especiais de uma base ou instalação de grande valor ao inimigo e verificar a possibilidade de que estes lhes sejam negados.

Por exemplo: A rota Charlie foi minada em ambos os lados em pontos alternados, com cobertura de fogo supressivo destes pontos e armas ATGW dificultando sua varredura e canalizando o tráfego em pontos específicos. Se faz necessário um reconhecimento de engenharia a fim de prover rotas seguras a esta travessia, bem como a neutralização dos pontos de fogo supressivo por destacamentos de assalto a ponto forte.

Fatores Físicos – Meios de Comunicações Eletrônicas

Devem ser relacionados todos os meios de comunicação eletrônica disponíveis na área da missão, que possam ser usados para facilitá-la ou que possam ser usados pelo inimigo para frustrá-la, tais como: estações de rádio civis e militares, Centro de C2, redes de radiogoniometria, redes telefônicas e de telefonia celular, instalações de apoio ao tráfego aéreo e marítimo, sistemas militares de comunicações, cabos submarinos, linhas telegráficas, estações de SATCOM, etc... Estes meios de comunicações considerados não se referem aos meios orgânicos, mas os presentes na área de operações. Devem ser analisadas também a capacidade de interferência eletrônica do inimigo em nossos meios e vice-versa.

Por exemplo: O destacamento de assalto a instalação Foxtrot deverá certificar-se de que a guarnição deste ponto forte não alerte seu comando, neutralizando as torres de telefonia celular da área, bem como cortando a energia do local em ação preliminar ao assalto.

Fatores Físicos – Sistemas e Recursos Presentes no Local

Deve-se analisar a presença de sistemas de armas de alto poder e sistemas e recursos de apoio como mísseis, artilharia, aviação aerotática, engenharia de combate, forças locais amigas (partisans que podem fornecer inteligência de combate) e outros que possam interferir na missão, seja em apoio ou como força de resistência, e a possibilidade de emprega-las em proveito da missão ou de sua neutralização.

Por exemplo: O assalto a instalação foxtrot utilizará uma rota de acesso que transporá uma área de segurança em torno da instalação que poderá conter minas. A Força Golf presente na área possui uma unidade de engenharia de combate que poderá disponibilizar um destacamento para apoiar a transposição deste segmento.

Comparação de Meios Disponíveis

Esta análise visa construir um paralelo entre o poder combatente do inimigo e o das nossas forças, estabelecendo um comparativo de capacidades e deficiências de forma a mensurar os meios necessários para sobrepujar as forças inimigas no cumprimento da missão. Como no item anterior (A Área de Operações) deverá elencar vantagens e desvantagens, limitações e possibilidades das forças em questão, a fim de identificar fatores de força e fraqueza, e possibilitar a formulação da linha de ação (L Aç).

Esta comparação se dá analisando as forças combatentes (próprias, amigas e inimigas), sua competência de comando e controle (C2) pela análise de suas capacidades de comunicações e meios eletrônicos, sua capacidade logística e os fatores que envolvem tempo e distância.

As forças combatentes devem ser comparadas em amplo aspecto dentro do envelope de influência na missão, considerando forças navais, aéreas, terrestres, capacidade de fogo e adestramento. Devem ser analisados suas diversas características como velocidades, autonomia, alcance dos sistemas de armas, radares e sensores, aeronaves, resistência e condições do equipamento, localização, sistemas de controle, suscetibilidade a contramedidas, nível de instrução, moral, capacidades de liderança, experiência, doutrina, resiliência e adaptação ao terreno, estruturas de logística e suprimentos disponíveis, meios navais e outros.

Por exemplo: A Força-Tarefa 21 dispõem de mísseis antinavio Saturno helitransportados a partir de suas escoltas de superfície com alcance de 50 km, superiores em alcance aos mísseis SAM Mercúrio das fragatas inimigas com alcance de 30 km. Dessa forma o assédio a estes navios pelos helicópteros Matador e seus mísseis Saturno é recomendado. Trata-se de uma recomendação ao comandante e não um procedimento já definido. Vale salientar que a comparação deve ser feita sempre entre sistemas que se opõem (helicóptero e seu míssil x míssil SAM) e não entre sistemas paralelos (míssil SAM próprio x míssil SAM inimigo).

A comparação deve considerar os meios e não o contexto, pois a intenção é possibilitar que o Comandante e seu EM tirem conclusões das capacidades relativas para o cumprimento da sua Missão. Na análise de interações é que se levará em consideração as LAs e seus desdobramentos, abordando o aspecto dinâmico das capacidades, considerando-se um possível apoio que poderá ser recebido, o ambiente da ação e os fatores de tempo e distância.

O Comando e o Controle (C2) da operação se dará utilizando-se as ferramentas de comunicações e EW (guerra eletrônica) e um exame das características dos equipamentos disponíveis e sua doutrina, de ambos, determinarão quais recursos poderão ser empregados e com que proficiência.

Os meios logísticos definirão o alcance operacional da missão e a capacidade de resistência do inimigo. Deve-se listar todos os meios fixos e móveis que poderão ter influência na missão como bases (com sua localização e meios de acesso), capacidade de transporte e disponibilidade de suprimentos como combustível, munição e outros que se façam importantes.

Por exemplo: O bombardeio de um grande depósito de combustível poderá manter um frota no porto e inviabilizar seu emprego numa ação de resistência, podendo ser mais proveitoso e eficiente que bombardear a frota propriamente dita. O bombardeio a Pearl Harbour na Segunda Guerra Mundial visou a frota no porto e deixou de lado os grandes depósitos de combustível dessa frota. Como parte dela estava no mar com todos os seus navios-aeródromo, a capacidade da frota continuou existindo quase que totalmente e seu poder de reação permaneceu intacto, servindo o bombardeio apenas como ato de provocação. Foi um grande erro dos japoneses. A Logística sempre será um fator relevante em todas as operações, seja de quais tipo forem. A estimativa de logística deverá conter informações o mais minuciosas possíveis, cobrindo todos os aspectos da operação.

Os fatores que envolvem tempo e distância são o início do estudo da dinâmica da missão. Eles possibilitam a visualização das possíveis linhas de ação própria e do inimigo e devem ser considerados em todos os estágios do planejamento e em qualquer tipo de operação.

Devem ser analisados o tempo necessário ao planejamento, a mobilização, de adestramento específico das forças, ao desdobramento e posicionamento de meios, os tempos limites para execução da missão, os períodos de vulnerabilidade a ameaça como a aérea e submarina, o tempo necessário a reabastecimentos de todos os tipos, os limitares a atividade aérea e naval como as tempestades e o período noturno, os tempos de carga e descarga, o tempo de recomposição de forças pós-atrito, o tempo para chegada de reforço e outros que se façam necessários. A análise das distâncias está intimamente ligada ao fator tempo pela velocidade das ações.

Pontos a Considerar no PPM

Depois de analisar os dados disponíveis e enumerar as hipóteses sobre aquilo que não se sabe ainda, o comandante deverá reavaliar suas conclusões e rever os aspectos mais importantes e que merecem uma revisão.

  • Deficiência de informações:

Muitos aspectos importantes a uma missão não são totalmente conhecidos, e embora muitas vezes seja possível deduzir de forma bem provável que se deem de determinada maneira, esta dedução poderá não ser totalmente condizente com a realidade. Dessa forma, sempre que possível, deve-se lançar mão de maneiras de obter estas informações faltantes, sejam através de missões de reconhecimento, dados de informantes colhidos nos locais respectivos, missões de sensoriamento, etc... Estes elementos de inteligência que comporão o “quebra-cabeças” do planejamento e que ainda não estão disponíveis, deverão ser listados e sua obtenção demandada, cabendo à unidade de inteligência do comando executante da missão determinar a melhor forma de obtê-los.

Por exemplo: Uma brigada de paraquedistas será lançada junto a ponte de Arnhem na Holanda (Operação Market-Garden, Segunda Guerra Mundial) para garantir o domínio desta ponte até que as colunas blindadas aliadas possam transpô-la. Acredita-se que a forças alemãs no local sejam pouco potentes e a brigada às dominará sem muita dificuldade. Existem rumores, porém, que uma divisão panzer da SS está “descansando” neste local, e embora sejam apenas rumores, um reconhecimento aerofotográfico será de grande valor para uma melhor avaliação das forças ali estacionadas.

  • Disciplina de Informações visando a Segurança

A disciplina de informações deverá igualmente ser tratada com o máximo de cautela, pois o vazamento de informações a respeito do que se está planejando poderá fazer com que o inimigo tome precauções que poderão vir a inviabilizar a missão ou dificultá-la, cobrando um custo maior a sua execução. Desta forma deve-se restringir ao mínimo os conhecedores de intenções e planejamentos, bem como se adotar uma disciplina de tráfego de informações que dificultem ao máximo sua interceptação, usando criptografia, equipamentos dotados de ECCM eficientes e outras medidas como o controle de emissões visando frustrar os esforços de COMINT inimigos.

Por exemplo: o conhecimento pelo inimigo da simples demanda do reconhecimento aéreo de uma determinada área, obtida através da interceptação da mensagem pedindo este reconhecimento, pode induzi-lo a reforçar a guarnição e as medidas de segurança deste local, inviabilizando a missão.

  • Fatores de Força e Fraqueza

Os fatores de força e fraqueza, capacidade e incapacidade, de ambos os contendores, na obtenção dos efeitos desejados, devem ser listados e comparados em forma de síntese que expressem as conclusões obtidas e levem a correção daquilo que for avaliado como necessário ao cumprimento da missão.

Por exemplo: O assalto a cota 312 necessitará a transposição de um corredor que está coberto por 3 posições de metralhadoras, que inviabilizam sua utilização, sendo que as mesmas encontram-se bem fortificadas em casamatas de concreto, dificultando sua neutralização. Recomenda-se que sejam neutralizadas através de bombardeio dirigido aos seus pontos fracos, pois um bombardeio convencional de saturação poderá não produzir os efeitos desejados. Não é uma determinação que assim seja feito, mas uma orientação do que pode ser o melhor a se implementar, cabendo a decisão ao comandante.

Não se deve considerar como fatores de força ou fraqueza fatos, e sim conclusões. Relacionar como fator de força, por exemplo, algo que se tem, mas que não se pode usar em uma missão específica será irrelevante. Por exemplo: Em uma missão de varredura de minas em um canal que dá acesso a um porto, não é um fator de força relacionar que se tem um navio de desembarque anfíbio à disposição fundeado ali perto. Não é fator de fraqueza aquilo que não se dispõem, nem fator de força aquilo que se dispõem (organicamente), a não ser que esta relação seja importante. Não se deve relacionar como fator de força aquilo que já tenha sido relacionado como fator de fraqueza do oponente, e vice-versa. Pode-se relacionar como fator de força ou fraqueza um mesmo fator para ambos os contendores, desde que não se oponham. Por exemplo: poderá ser solicitado o apoio de um pelotão com mísseis anticarro de uma unidade amiga, sendo que o inimigo conta com um pelotão semelhante, porém não será fator de fraqueza do inimigo seus carros de combate serem vulneráveis a estes mesmos mísseis. Os fatores de força devem ser explorados ao máximo, bem como os de fraqueza evitados, procurando se contornar com outras soluções, e vice versa.

  • Determinação da Composição da Missão

O comandante já está em condições de fazer a composição inicial da missão neste momento, sabendo do que necessita para cumpri-la com sucesso e das vulnerabilidades do inimigo, que deverá explorar. As linhas gerais de ação já podem ser definidas e usadas como base do planejamento detalhado da operação.