FRASE

"Quem escolhe a desonra a fim de evitar o confronto, a conseguirá de pronto, e terá o confronto na sequência."

domingo, 26 de junho de 2022

Planejamento Militar - Diretivas e Controle da Ação (Parte 5) *233


Planejamento Militar - O plano de ação  (Parte 4)

Diretivas

Uma diretiva é um conjunto de instruções para execução de um plano. O objetivo do PPM é a construção de um plano de ação visando o cumprimento da missão designada. Uma vez que este plano está consolidado, emitem-se as diretivas, que são documentos contendo instruções a respeito do plano.

A cada operador pode ser emitida uma diretiva diferente, dentro do mesmo plano, uma vez que cada um terá uma tarefa diferente a cumprir. As diretivas não estão condicionadas à formas rígidas, e devem ser tão sucintas quanto possível, expondo de forma clara, simples e concisa, a L Aç selecionada a quem deve executá-la. Deve limitar-se a conter as informações necessárias para que os comandos subordinados a compreendam de forma inequívoca, servindo de base para a preparação de planos e ordens destes. Um plano é o registro de uma intenção complexa e sistemática, enquanto que uma ordem é a designação para uma ação imediata e que deverá ser cumprida no prazo designado.

Como exemplos mais comuns de diretivas temos as cartas de Instrução; planos de campanha; planos de operação; plano de contingência; plano preliminares; ordens de operação; ordens de movimentação; ordens preparatórias e de instrução; planos complementares; etc...

Uma carta de instrução ou diretriz inicial é uma diretiva expedida para fins de orientação do planejamento dos comandos subordinados. Expõe a situação e indica a missão e a decisão do expedidor, as tarefas atribuídas, as relações de comando e a área de operações. Também transmite instruções especiais, tais como as relativas às comunicações, adjudica meios, define responsabilidades e especifica os relatórios a serem elaborados, que permitem o controle da ação planejada.

Um plano de campanha é uma diretiva formulada pelo comandante de um teatro de operações para expressar a sua decisão, em termos de operações específicas a serem planejadas, realizadas durante um período de tempo definido para a conquista e manutenção de objetivos estratégicos estabelecidos para a hipótese de emprego. Ele especifica operações de grande envergadura, indica os meios necessários, para a fase inicial da campanha, adjudica as forças, organiza os comandos, atribui as tarefas e estabelece as normas básicas para sua coordenação.

Um plano de operação é um tipo de diretiva relativa a operações a serem realizadas em futuro não imediato, envolvendo tempo e espaço consideráveis. O plano de operação é expedido por um comandante de força para transmitir orientações aos comandos subordinados para o preparo de seus planos ou ordens dela decorrentes. Pode destinar-se a uma única operação ou a uma série de operações relacionadas, a serem executadas simultânea ou sucessivamente. Pode ser usado para fins de adestramento, desde que expresse a solução dada pelo comandante a um problema militar, concebido com aquela finalidade, representando uma simulação de operações de guerra. Nesta circunstância, deve ser claramente mencionada a sua condição de documento de exercício.

Um plano de contingência é um plano expedido por um comandante de força, que estabelece o procedimento a ser seguido, caso não se confirme a suposição acerca de uma situação existente, determinada ocorrência ou condição prevista ou pressuposta (hipótese básica) formulada no seu plano de operações distribuído pela referida autoridade.

Um plano preliminar é um esboço geral antecipado de um determinado plano, apresentando os pontos primordiais que devem orientar a elaboração do plano a que se refere. Em uma operação anfíbia, por exemplo, é uma diretiva que marca a passagem da sua fase do planejamento preliminar, onde são tomadas as decisões fundamentais, para a fase do planejamento detalhado. Conterá as informações necessárias ao início do planejamento formal dos elementos subordinados, desta forma viabilizando que estes analisem as tarefas e meios recebidos e possam concluir pela sua capacidade de cumpri-las ou pela necessidade de meios adicionais, a qual será repassada, analisada e consolidada pelos comandos superiores.

Uma ordem de operação é uma diretiva expedida, com a finalidade de determinar a execução coordenada de uma operação específica a ser realizada imediatamente ou em futuro próximo. Trata-se de uma ordem efetiva para a realização de determinada operação, não devendo, portanto, conter hipóteses básicas. Uma ordem de operação pode ser elaborada para complementar um plano de operação já distribuído ou, ainda, para determinar sua execução. Ocasionalmente, ao serem completados todos os preparativos para uma operação, um comandante pode substituir um plano por uma ordem de operação. Esta diretiva pode ser utilizada para fim de adestramento, desde que expresse a solução a um problema militar, concebido com aquela finalidade, representando uma simulação de operações de guerra.

Uma ordem de movimentação é uma diretiva usada para determinar a movimentação de forças ou unidades quando não se justifique o emprego de outro tipo de Diretiva.

Uma ordem preparatória ou de instrução é uma diretiva que se destina a alertar os comandantes subordinados sobre operações iminentes, transmitindo-lhes informações já disponíveis e orientações iniciais, além das orientações quanto ao preparo que a tropa deve possuir, e se for o caso, as providências já encaminhadas para que este preparo seja alcançado. Possibilita que medidas preparatórias sejam tomadas, visando a facilitar futuras ações e que estudos e estimativas preliminares sejam iniciados.

Um plano complementar é uma diretiva que complementa um diretiva inicial, à qual normalmente, é anexado. Destina-se a detalhar ações, a orientar a execução ou a estabelecer normas de operações ou serviços específicos mencionados na diretiva básica. A inclusão de alguns assuntos em planos complementares, além de evitar que a diretiva básica fique sobrecarregada com particularidades excessivas, permite também maior flexibilidade no tratamento de matérias que devam ter divulgação mais restrita. Um plano complementar, de acordo com a sua natureza, poderá ter, entre outras, as seguintes denominações: plano de movimento, plano de comunicações, plano de guerra eletrônica (EW), plano de inteligência, plano logístico, plano de minagem e contraminagem, plano de apoio de fogo, plano de ações aéreas, plano administrativo, plano de ação de superfície, plano de ação de submarinos, plano de emprego de aeronaves, plano de embarque, etc...

Uma Diretiva deve interpretar fielmente o pensamento, a decisão e a determinação do comandante que a expedir e ser bem compreendida pelos que a receberem. Para que isso seja possível, é essencial que atenda a requisitos que a façam um documento claro, conciso, completo e que expresse incisivamente a determinação e transmita objetivamente suas intenções e vontade.

A estrutura de uma diretiva depende de seu tipo, que está associado à finalidade. Porém, de um modo geral, as diretivas constam de um documento básico e partes complementares (Anexos). O documento básico, ou corpo da diretiva, normalmente apresenta, além da organização por tarefas, a missão, as ordens e instruções necessárias para dar uma sucinta e clara ideia da situação, da execução e de outras informações essenciais. As partes complementares, por outro lado, contêm procedimentos particularizados e informações mais completas, que ampliam e complementam o contido no corpo da diretiva, e podem ser de interesse específico. As partes complementares poderão ser planos complementares ou conter outros assuntos que, devido à sua complexidade e amplitude, não convém que constem do documento básico, como, por exemplo, um conceito da operação ou uma organização por tarefas muito extensos ou detalhado.



3ª Etapa

O Controle da Ação Planejada

Toda operação deve ser controlada durante sua execução e seus rumos devidamente corrigidos sempre que necessário. Este controle deve ser planejado antes da operação iniciar e realizado durante a sua execução, em processo contínuo.

O Planejamento

O planejamento deste controle é um processo contínuo que se inicia nas primeiras fases do exame da situação e prossegue até o fim da 2ª Etapa. Nas primeiras fases do exame da situação, será verificado quais as informações serão repassadas ao escalão superior na avaliação do progresso da operação por este comando. Os conteúdos não devem ser insuficientes nem excessivos, evitando-se o mascaramento de informações importantes. Na fase 7 da etapa anterior, os relatos desejáveis serão especificados no parágrafo "COMANDO E CONTROLE" da diretiva, e tratarão das informações necessárias a serem repassadas para o controle da operação em tempo real e cumprimento da missão. Esta informação é vital para o sucesso do plano e deve ser formatada especificamente a cada operação, pois relatos padronizados ou de rotina podem não satisfazer. Para conseguir um fluxo de informações eficaz, o conteúdo deve ser ajustado de acordo com cada missão em curso e os seus efeitos desejados em cada tarefa atribuída.

O Controle

Na realização do controle da operação, o comandante acompanha se a ação se desenrola conforme foi planejada. Segundo o estrategista prussiano do século XIX Helmuth von Moltke “Nenhum plano de batalha sobrevive ao contato com o inimigo", e é baseado nessa premissa que se evidencia a importância do seu acompanhamento. Utilizando-se das informações fornecidas através dos relatórios dos comandos subordinados, monitora-se o desenrolar da operação à luz do plano de ação escolhido. 

Caso isso não esteja ocorrendo, o que acontece frequentemente, deve-se identificar as causas das discrepâncias entre a operação planejada e sua execução, para se aplicar o corretivo adequado. Dentre essas causas, podemos citar: alterações imprevistas nos fatores nos quais o plano se tenha baseado; erros de julgamento; perdas ou ganhos inesperados; e alterações na diretiva recebida do escalão superior. Após identifica-las, por meio de um planejamento contínuo e cíclico, deve-se implementar os ajustes necessários, até o cumprimento da missão.

5 perguntas básicas ajudam o acompanhamento da operação:

  • a operação desenvolve-se de acordo com o plano?
  • o resultado atende ao efeito desejado?
  • há necessidade de alteração do plano?
  • há alteração no exame da situação?
  • e a situação foi bem avaliada?

Se a resposta às 2 primeiras perguntas for sim, apenas continua-se o controle da ação em curso para cumprir a missão. Da mesma forma, a resposta não à primeira e à terceira implica apenas prosseguir a operação sem a necessidade de alterar o plano em vigor. As respostas às 2 últimas perguntas definem a extensão de qualquer modificação no plano e, por conseguinte, devem ser cuidadosamente determinadas.

O exame da situação contém os elementos que serviram de base para a escolha da L Aç que serviu como decisão. Dependendo da alteração ocorrida no exame da situação, como o estabelecimento de uma nova relação de comando, mudança nas limitações ao planejamento ou em qualquer outro elemento significativo do problema, o ponto de entrada para a revisão pode estar nas Fases 1, 2, 3 ou 4. O perfeito conhecimento dessas alterações e a familiaridade com o PPM indicam o ponto mais conveniente para iniciar a modificação no planejamento, que poderá conduzir à revisão da decisão. O tempo perdido na reconsideração de um fator alterado, antes de modificar o plano, pode ser mais do que compensado pela confiança em um novo plano, por estar perfeitamente baseado na metodologia do PPM e permitir que os esforços sejam concentrados na obtenção do efeito desejado.

Não existe um padrão para se realizar o exame corrente da situação, e as discrepâncias entre a operação planejada e sua execução podem requerer medidas de complexidade variável. O emprego de sistemas de processamento de dados aumenta a velocidade, o volume, e a precisão e facilidade de interpretação das informações manipuladas no exercício do C2 da ação planejada. Equipes bem adestradas nos COCs (Centros de Operações de Combate) ou PCs (Postos de Comando) são importantíssimas para a manutenção de um quadro atualizado, preciso e nítido do desenrolar das ações. Uma eficiente estrutura de C2 + comunicações eficazes (C3) será de fundamental importância para um bom controle operacional.

O Exame de Situação Abreviado (Parte 6)

terça-feira, 14 de junho de 2022

Planejamento Militar - O Plano de Ação (Parte 4) *232


Planejamento Militar - O Exame da Situação Fase 4 (parte 3)

2ª - Etapa

Desenvolvimento do Plano de Ação e Elaboração da Diretiva Operacional

Uma vez tomada a decisão sobre a L Aç a ser adotada, cabe ao comandante botá-la em prática, ou implementá-la. Nesta fase deverá ser reestudada com maior critério e profundidade a decisão tomada, de modo a viabilizar que as várias tarefas que deverão ser executadas sejam convenientemente implementadas de forma a eliminar possíveis erros presentes em análises precipitadas.

Neste momento será estabelecida com precisão como a decisão será implementada, quem a executará, e de forma facultativa, onde e quando. Serão determinadas as instruções aos envolvidos na missão, a organização das unidades e meios, confeccionados e divulgados os documentos contendo instruções, orientações e informações pertinentes. 9 fases orientam e permitem fazer esta organização de forma lógica:

Fase 1 - Reexame da Decisão

Primeiro se procede um reexame da decisão tomada e se monta o conceito inicial da operação, reavaliam-se as hipóteses básicas que embasaram a decisão para checar sua validade, elencam-se as tarefas componentes e de apoio a serem realizadas e quem às executará, determinam-se como cada tarefa componente deverá ser executada, procedem-se a organização das unidades que participarão da missão e o que cada uma fará, tabulam-se as tarefas de cada unidade participante e determina-se seu adestramento específico, identificando-se os gargalos logístico-administrativos e de comando e encaminhando-se sua solução, prepara-se a distribuição de informações a quem interessar e por fim emitem-se as diversas diretivas operacionais aos operadores de todos os níveis.

O detalhamento do plano de ação poderá ensejar a modificação de tarefas já definidas, uma vez que o processo é cíclico. A diretiva operacional é o documento que estabelecerá a instrução de execução de cada tarefa e fornecerá as informações relevantes ou onde encontrá-las aos operadores envolvidos.

Na fase de reexame da operação, os planejadores irão reexaminar a L Aç escolhida de forma mais focada, pois na sua formulação muitas ideias estavam tramitando em suas mentes, não muito bem concatenadas. Ao se formular o conceito preliminar da operação (CPO) buscam-se bases mais sólidas para o planejamento.

Para tanto, busca-se garantir um plano preliminar lógico e consistente, examinando os seguintes aspectos de forma objetiva: 

  • Reexamina-se o enunciado da missão e a decisão tomada; 
  • listam-se os efeitos desejados e os objetivos principais e acessórios, se houverem; 
  • relacionam-se os fatores de fraqueza do inimigo com os fatores de força próprios;
  • relacionam-se os fatores de fraqueza próprios com os pontos fortes do inimigo e busca-se como evitá-los; avalia-se as formas de exploração do princípio fator surpresa;
  • avaliam-se as limitações e facilitadores relativos às operações de apoio no que tangem à comando e comunicações, logística, inteligência, segurança e proteção, mobilidade e outros que se façam necessários. 
Deste reexame resultará um documento interno (CPO), que é um sumário e com ideias mais consistentes, que norteará as fases seguinte do planejamento. Sendo o planejamento um processo cíclico, o CPO poderá ser continuamente modificado no decorrer das fases seguintes.

Fase 2 - Reavaliação da Hipóteses Básicas

A próxima fase consiste em reavaliar as hipóteses básicas (HB), verificando sua validade. As HB devem ser reduzidas ou eliminadas se possível, conferindo mais flexibilidade ao plano, evitando que fique amarrado à condições cujas informações podem ser insuficientes e/ou deficitárias. Para as HB mantidas, deve-se elaborar planos acessórios, reiniciando-se todo o processo já descrito, desta vez de forma focada nas HB em questão. Se for necessário emitir a diretiva imediatamente devido a exiguidade de tempo para execução da operação, as HB não analisadas deverão ser omitidas.

Fase 3 - As Tarefas Componentes

A fase 3 tratará das tarefas componentes. Serão elencadas as operações necessárias para que o plano de ação seja implementado. Todos os requisitos relacionados à L Aç escolhida serão revistos, e identificadas as tarefas necessárias para atendê-los. Primeiramente relacionam-se todos os requisitos (ofensivos, logísticos, defensivos, inteligência e de mobilidade constantes da CPO) com suas respectivas tarefas, quem as executará, meios necessários, etc... em uma matriz auxiliar. Analisam-se as tarefas inerentes a cada requisito, seus meios necessários e que unidades a irão cumprir, bem como a formação de agrupamentos (sub-forças-tarefa). Caso a unidade envolvida não seja orgânica, pertencendo a outro comando ou mesmo outra força amiga, sua disponibilidade deverá ser previamente consultada, bem com sua capacidade de cumprir a tarefa.

Não devem ser elencadas tarefas previamente preconizadas, como por exemplo a defesa antiaérea de um navio feita pelo próprio navio ou a segurança de um estacionamento feita pela unidade estacionada, já que se trata de um procedimento padrão e de execução lógica. Ao final do preenchimento da matriz, deve-se atentar para o surgimento de conflitos, onde uma unidade esteja envolvida em mais de uma tarefa, e encaminhar sua solução. Embora estas tarefas previamente preconizadas pela doutrina sejam problema dos operadores em seus respectivos estudos de situação, o comandante deverá certificar-se que seus subordinados (operadores) terão os meios necessários ao cumprimento destas tarefas. Assim, a análise do Comandante precisa ser conduzida até o ponto em que ele julgue ter essa certeza.

Fase 4 - Formas de Execução de Cada Tarefa

A fase 4 estabelece como cada tarefa componente será executada. Serão determinadas a composição de cada sub-força-tarefa, as possibilidades de apoio mútuo e as medidas necessárias de C2.

Ao se destacar cada sub-força-tarefa e determinar sua composição, deve-se examinar com a máxima precisão quais serão os requisitos de cada tarefa. Este procedimento garantirá que cada operador contará com os meios necessários ao seu cumprimento. Para a situação que se elenca um pequeno número de tarefas a técnica mais adequada é a de se analisar cada uma das tarefas, permitindo visualizar os aspectos de apoio mútuo e coordenação. Quando as tarefas elencadas forem em número grande a técnica mais adequada é estudar as sub-forças-tarefas, individualizando como cada força destacada as executará.

A seguir se relacionam os tipos e o número de meios necessários para a execução de cada tarefa. Portanto, somente agora deve-se desmembrar os meios, relacionados na tabela elaborada na fase anterior, para compor cada grupo, embora sem identificá-los ainda.

Na sequência estabelecem-se as instruções de apoio mútuo e C2 com todas as forças componentes (operadores). Quando o operador for uma força amiga, não subordinada, deve ser verificado se ela está capacitada a cumprir a tarefa que lhe será solicitada e como será feita a coordenação (C2). No quesito coordenação (C2) elaboram-se as instruções relativas a datas e horas, movimentos, pontos de encontro, áreas de operações e outros assuntos referentes às tarefas elencadas, evitando interferências mútuas. Os operadores também poderão elaborar instruções e planos para preencher possíveis lacunas existentes nas diretivas emitidas, bem como para atender às doutrinas e procedimentos padrões em vigor. Sempre que for conveniente, devem ser empregados planos e formaturas doutrinárias.

O comandante tem melhores condições de determinar as necessidades de apoio mútuo na força sob seu comando, ou seja, o apoio de um grupo (sub-força-tarefa) a outro, pois ele tem uma visão global da operação e da participação nela de cada grupamento em particular. Além disso, stá investido da autoridade para ordenar o apoio mútuo. Desse modo, caso julgue essencial, pode atribuir tarefas de apoio, em aditamento às já estabelecidas na fase anterior. Da mesma forma, ele deve considerar a conveniência da coordenação de esforços entre 2 ou mais grupos, pois a coordenação (C2) tem importância vital para uma operação, especialmente naquelas de mais difícil execução como por exemplo assaltos anfíbios ou aeroterrestres e de apoio logístico. O comandante tem a responsabilidade de estabelecer as instruções para a coordenação, uma vez que é ele o superior dos grupos formados e o responsável pela determinação do auxílio a ser solicitado às forças amigas. Quando a operação estiver interrelacionada com as operações de escalões superiores ou do mesmo escalão, o comandante deverá determinar as medidas cabíveis necessárias à coordenação.

Completando a fase 4, devem ser listadas as demais instruções, cuja necessidade tenham aparecido no decorrer da análise efetuada nesta fase. Essas instruções constarão do próprio corpo da diretiva ou de planos complementares específicos, incluídos como anexos, tais como: plano de inteligência, conceito da operação (instruções sobre como serão executadas as tarefas elencadas), plano logístico, plano de comunicações, plano de guerra eletrônica (EW), e outros que se mostrem necessários. Poderá ocorrer ainda a necessidade de estabelecer instruções sobre o adestramento e ensaio necessários para assegurar um estado de prontidão satisfatório para as forças; instruções sobre os dados a serem encaminhados pelos comandos subordinados, necessários ao controle durante a fase preparatória da operação e durante o controle da ação planejada etc.

As instruções deverão estar de acordo com as diretrizes estabelecidas pelos escalões superiores, nas cadeias de comando operativa e administrativa. No que se refere às instruções sobre necessidades logísticas, é importante considerar sempre o tempo morto entre a determinação das necessidades e a obtenção de material, especialmente aquele julgado crítico para a operação. Nem todos os aspectos indicados como pertinentes a esta fase devem ou podem ser completados antes de se passar para as fases subsequentes.

Fase 5 - Organização por Tarefas

A próxima fase ou fase 5 tem a finalidade de estabelecer formalmente a estrutura de comando e distribuir os meios que constituirão cada força componente, designando agora elementos específicos para compor a organização por tarefas. A organização por tarefas deve atentar para que todos os grupos criados na fase 3, constem com sua(s) respectiva(s) tarefa(s) atribuída(s); deixando a organização das tarefas nas respectivas subdivisões por conta de seus respectivos comandantes subordinados. Entretanto, para assegurar a eficiência do controle, pode ser preferível estabelecer logo uma cadeia de comando mais complexa, com a indicação dos comandos intermediários; sendo que o número de grupos variará de acordo com o escalão do comandante e a complexidade da missão que lhe foi atribuída.

Inicialmente, prepara-se um organograma da força, o qual servirá de base para a organização por tarefas final da força que executará a missão. Este organograma deve basear-se na subdivisão da força concebida na Fase 3, e procurar conter os tópicos coordenação (cada subcomando com suas tarefas, evitando-se duplicidade), amplitude de controle (cada grupo com número de subordinados compatíveis com sua estrutura de C2), homogeneidade (composição do grupos por tarefas e meios similares) e delegação de autoridade (autoridade dos subcomandantes compatível com suas responsabilidades).

No organograma constarão os nomes ou codinomes dos grupos, do mesmo modo que aparecerão na diretiva. Os títulos, normalmente, fazem referência à tarefa principal que o grupamento executará, ou não, dependendo do grau de sigilo requerido. Todos os grupos criados na Fase 3 devem constar do organograma. Naquela ocasião não se havia ainda definido se seriam grupos, unidades ou elementos-tarefa; agora, eles serão assim especificados, em função da posição que ocuparão no organograma.

Deve-se relacionar as unidades que deverão compor cada grupo operativo. Pode ser vantajoso manter no mesmo grupo meios que possuam características semelhantes, tais como: limitação de velocidade, atividade atual, grau de aprestamento, localização física ou fazer parte da mesma organização administrativa (batalhão, esquadrão, base, etc...). Em seguida devem ser designados os comandantes subordinados. Exceto nos altos escalões de comando, ou sob circunstâncias especiais, esta designação deve considerar a precedência hierárquica entre esses comandantes.

Para redigir a organização por tarefas, listam-se os grupos (sub-forças-tarefa) em sequência, precedendo-os por um designativo (a,b,c; 1,2,3). A cada grupo-tarefa é atribuído um número designativo e um título descritivo. O posto e o nome do comandante podem ser mencionados, abreviadamente, ao lado do título. Imediatamente abaixo do título deve constar a sua composição. Indica-se os componentes de cada grupo-tarefa, quando apropriado, pelo uso de títulos abreviados das organizações administrativas, quando seus comandantes estiverem presentes. Também pode-se fazer a indicação por meio do nome da unidade. Quando a organização por tarefas for extensa, é recomendável relacionar, no corpo da diretiva, somente o título dos grupos principais e preparar um anexo, com uma organização por tarefas detalhada.

Fase 6 - Tarefas e Instruções

Na Fase 6 as tarefas e instruções para os subordinados serão formalmente redigidas. Assim, os parágrafos “EXECUÇÃO”, “ADMINISTRAÇÃO” e “LOGÍSTICA", da diretiva, serão completados nesta fase. Além disso, outras instruções ou planos, iniciados na Fase 4, deverão ser concluídos nesta parte do planejamento.

As tarefas dos grupos-tarefa são transcritas mantendo-se a sequência e os indicativos que os precedem na organização por tarefas, preparada na fase anterior. Abaixo de cada grupo relacionam-se as tarefas correspondentes e as instruções individuais, quando necessárias, para prover cooperação ou evitar interferência com outro grupo. Cada um dos grupos com as suas tarefas, na forma e sequência mencionadas, constitui, na diretiva, um subparágrafo do parágrafo "EXECUÇÃO".

As tarefas devem ser redigidas em linguagem formal, nos termos que deverão constar da diretiva, isto é, com o emprego do verbo no infinitivo, ao invés de no futuro, exprimindo uma ordem. Elas devem ser enunciadas de modo claro, conciso e preciso, a fim de evitar falhas de interpretação. Todos os grupos operativos criados devem ter, pelo menos, uma tarefa. Subdividir-se um grupo em grupos menores e atribuir tarefas apenas para o grupo maior é um erro. Isso demonstra que houve um erro na fase 3, quando se dividiu a força em grupos componentes sem que a esses fosse atribuída, pelo menos, uma tarefa.

As tarefas a serem executadas por 2 ou mais grupamentos são relacionadas às instruções gerais, de natureza operativa, serão posteriormente transcritas no subparágrafo "Instruções para Coordenação", da diretiva. Normalmente são instruções relativas à segurança; apoio; horários e duração de eventos; cooperação entre dois ou mais grupos; instruções quanto à entrada em vigor da diretiva e sua saída e, se for o caso, data de cancelamento e a autorização para destruí-la; instruções táticas; e momentos de ativação e desativação de grupos, etc.

É importante que não haja ambiguidade ou dúvida quanto aos grupos a que essas instruções se referem. Se houver necessidade de transmitir instruções mais detalhadas, é conveniente não incluí-las no corpo da diretiva. Evita-se, assim, torná-la extensa, com o acréscimo de pormenores que, via de regra, não são do interesse geral. Essas instruções deverão constar da diretiva como anexos, tais como: Plano de Batalha, Plano de Defesa, Plano de Mobilidade, que deverão ser concluídos nesta fase. Na diretiva, a referência a eles é feita no subparágrafo "Instruções para Coordenação".

As instruções de coordenação necessárias à direção e ao controle do apoio administrativo e logístico constarão do ítem "Administração e Logística". No qual deverão ser estabelecidas as normas e procedimentos de caráter administrativo e logístico, indicando suprimentos, facilidades e serviços existentes, assim como o responsável por provê-los, quando e onde estarão disponíveis. Caso os subordinados tenham recebido essas informações, por meio do plano logístico do superior ou de qualquer outra fonte, basta uma referência a essa fonte. Pelas razões expostas anteriormente, sendo as informações e instruções de logística extensas e detalhadas, elas deverão constituir um anexo à diretiva, denominado "Plano Logístico", ao qual será feita referência no parágrafo "Administração e Logística" da diretiva.

A seguir, inicia-se a elaboração do conceito da operação, que é um documento, sem formatação rígida, a ser divulgado para os subordinados e que contém, basicamente, a ideia de manobra do comandante, abordando detalhes não evidentes nas tarefas atribuídas aos subordinados, tais como: intenções do comandante; duração de eventos; limitações e prazos a respeitar; orientação para a execução de tarefas; e fases da operação, se houverem etc.

A existência de um anexo contendo o conceito da operação deverá ser mencionada no parágrafo após a redação da decisão e antes dos subparágrafos que contêm as tarefas de cada grupo. Caso esse anexo não seja confeccionado, uma sucinta exposição do conceito da operação poderá ser incluída no próprio parágrafo da diretiva, servindo como uma extensão da decisão. Na atribuição de tarefas, deve-se permitir aos subordinados imediatos a máxima liberdade de decisão compatível com a necessidade de coordenar as operações correlatas. Assim, as instruções sobre como cumprir uma tarefa devem ser dadas apenas no grau suficiente à total compreensão e à efetiva coordenação entre os subordinados. Se o comandante desejar transmitir uma orientação, quanto à sua preferência na maneira de executar determinada fase de uma operação, sem pretender atribuir tarefas detalhadas para cada ação concebível, poderá fazê-lo no conceito da operação.

Fase 7 - Informações de Comando e Controle

No parágrafo “Comando e Controle” da diretiva, lista-se os aspectos de comando pertinentes à operação que está sendo planejada. Nesse ítem listam-se o nome do substituto eventual do comandante (subcomandante), a localização do comandante (seu posto de comando e de seu eventual) e as instruções de comunicações que serão constadas em um anexo, se forem extensas. Este parágrafo também poderá conter instruções sobre relatórios que os comandantes subordinados deverão enviar na forma de informações operativas, tais como detecções, resultados de engajamentos, consumos de combustível e de munição, avarias, baixas e outras consideradas relevantes, que permitirão avaliar se a operação está se processando de acordo com os planos e se estes de fato estão conduzindo ao cumprimento da missão, ou seja, possibilitarão o controle da ação planejada. Tais relatórios devem levar consideração a missão de cada comando subordinado e os efeitos desejados a serem obtidos em cada tarefa atribuída.

Outros anexos pertinentes a esta fase, tais como o Plano de Guerra Eletrônica (EW), por exemplo, caso sejam confeccionados, deverão estar concluídos antes de iniciar o estudo da próxima Fase. Outras instruções poderão ser acrescentadas, além das sugeridas nos itens acima, como por exemplo, as relativas à autoridade dos subordinados quanto ao emprego de armamento de elevado poder de destruição, referências especiais a regras de engajamento, etc...

Fase 8 - Informações aos Comandantes Subordinados

O parágrafo “Situação” trará uma descrição sumária e objetiva da situação, situando os comandantes subordinados dentro do problema militar a ser enfrentado. Este parágrafo discorrerá sobre a situação geral, as forças inimigas e amigas, as incorporações e destaques e as hipóteses básicas.

Este deve conter apenas as informações essenciais para o seu perfeito entendimento, porém, pode ocorrer dessas informações serem extensas. Nesse caso, elas devem ser incluídas no anexo "plano de inteligência", fazendo constar neste parágrafo apenas uma referência quanto à existência desse anexo.

Primeiramente se apresenta uma descrição sumária e objetiva da situação geral, com as missões deste comando e do escalão superior, se disponíveis e autorizadas. Detalhes já conhecidos podem ser omitidos. Deve-se neste ítem analisar, selecionar e completar, com critério, as informações contidas no parágrafo correspondente da diretiva do escalão superior. Caso esta diretiva não esteja disponível à todos, deve-se citar as informações relevantes e não apenas fazer referência à elas, de forma que sirvam (sejam úteis) ao planejamento de todos.

As forças inimigas relacionadas à operação e não mais que isso, devem ser descritas, bem como as forças que poderão vir a ter influência. Cada grupo conhecido de forças inimigas deve constar de um item numerado; incluindo forças navais, aéreas e terrestres e contendo a composição, localização e dispositivos caso sejam conhecidos e de forma sucinta. Conhecimentos mais detalhados, se existentes, deverão constar de um anexo "Plano de Inteligência", o qual deverá ser referenciado.

Sobre forças amigas deve-se dispor informações sobre forças navais, aéreas e terrestres que não estão na organização por tarefas, mas que irão contribuir para o cumprimento de sua missão. Deve-se informar sua disposição e como poderão contribuir, de forma suscinta e restritas ao necessário. Devem ser informadas em itens numerados, começando pelo escalão mais elevado e descendo.

Nas incorporações e destaques devem ser indicadas as unidades incorporadas ou destacadas à força no decorrer da operação, especificando a ocasião em que tais incorporações e destaques devem ocorrer. Devem constar apenas as unidades que participam da operação por um determinado período de tempo, ou seja, entrando para a subordinação do comandante que assina a diretiva, vindo de outra; ou saindo da desta subordinação e indo para outra. Nas incorporações e desincorporações, a mudança de subordinação é definitiva, enquanto que nos destaques é temporária. Quando não houver nada previsto, a palavra "Nenhuma" deverá constar deste subparágrafo. Quando forem em grande número, é conveniente que sejam constadas em um anexo bem como seus eventos, citando a existência desse anexo no subparágrafo.

As hipóteses básicas somente constarão dos planos de operações (nunca nas ordens de operação), relacionam-se àquelas conservadas na Fase 2 ou indicadas pela palavra "Nenhuma" se não houverem.

Ao chegar ao final desta fase, é conveniente que se reveja mais uma vez o planejamento, de modo a elucidar pontos ainda pouco claros e eliminar o que for desnecessário, aprimorando o produto de cada fase. Também se for constatado a necessidade de algum apoio externo ainda não previsto, deve-se tomar logo as primeiras providências para que esse apoio esteja disponível quando necessário.

Fase 9 - A Diretiva Operacional

O plano de ação final é exposto em um documento (diretiva) para divulgação aos comandantes subordinados, que deverá seguir um formato padrão familiar a todos. Todo o material necessário para compor o corpo da diretiva e seus anexos estará disponível como fruto do trabalho das fases anteriores.

A diretiva será um documento básico com as informações principais e seus anexos (planos), que conterão informações complementares e detalhadas sobre os tópicos do documento principal, evitando que este fique muito extenso. Os tópicos básicos da diretiva podem ser a situação, missão, execução, logística e C3 (comando, controle e comunicações), contendo ainda a organização da força e outros itens como conteúdos introdutórios e conclusivos, e é claro os anexos.

A leitura dos anexos pode não interessar a todos, já a do corpo principal sim, pois contém instruções de interesse geral, tais como um panorama sucinto e claro da situação, missão, decisão, tarefas atribuídas aos comandantes subordinados etc. Os anexos conterão procedimentos detalhados e informações adicionais que ampliam as informações de caráter geral constantes do corpo da diretiva, e são de interesse específicos daqueles que trabalharão naqueles detalhes. Entre os anexos mais comuns temos: conceito da operação, organização por tarefas detalhada, plano de batalha, plano de comunicações, plano de guerra antiaérea e defesa aérea, plano de guerra anti-submarino, plano logístico, plano de mobilidade, plano de controle de espaço aéreo, plano de desembarque, plano de organização para o combate e outros.


Diretivas e o Controle da Ação Planejada (Parte 5)

segunda-feira, 13 de junho de 2022

Princípios de Guerra *231



Os princípios de guerra são normas consagradas pelo tempo, não aplicáveis em uma sequência definida, e que devem ser internalizadas pelos comandantes militares de todos os escalões, a fim de nortearem suas decisões. Sua aplicação deve ser adaptada a cada situação de forma flexível, sempre precedida pelo bom senso e constituem-se na base de toda operação militar.

Eles formam a base das operações militares convencionais modernas e foram forjados pela experiência adquirida ao longo dos tempos, sendo enunciados sistematicamente no início do século XX. Variam de acordo com a doutrina de cada força em número e semântica, mas todos convergem para uma mesma conclusão, enfatizando as vocações singulares. Podem variar ainda com o tempo, refletindo a evolução da tecnologia e do pensamento militar.

As forças armadas modernas os adotam como parte da sua doutrina e preconizam que devem ser aplicados independentemente de se estar operando nos níveis estratégico, operacional ou tático. Sua aplicação não segue uma lista de conferência com um ordem pré-definida, e se aplicam simultaneamente e da mesma maneira a todas as situações. Quando usados no estudo de campanhas passadas, são poderosas ferramentas de análise, assim como devem ser considerados como premissas no Processo de Planejamento Militar (PPM).

Cada força armada adota seu próprio conjunto de princípios, estando aqui listados 9 deles: Objetivo, Iniciativa, Concentração de Meios, Economia de meios, Manobra, Unidade de Comando, Segurança, Surpresa, Simplicidade (Padrão da doutrina do EB).

Objetivo

Toda operação militar deve buscar um objetivo definido, decisivo e tangível. Para se chegar a ele, frequentemente será necessário conquistar outros objetivos intermediários de menor importância, que igualmente deverão ser claros e tangíveis, sendo que a conquista de cada objetivo secundário deverá contribuir para se chegar ao objetivo estratégico ou principal. Também deverá estar claro o acoplamento entre eles, e a importância da conquista de cada um. Toda e qualquer ação desnecessária a consecução dos objetivos deverá ser evitada. O objetivo a ser atingido e os limites a serem observados são ditados pelo comando, sendo que a linha de ação adotada deve ser preferencialmente uma prerrogativa do executor, salvo orientação contrária. Nenhuma ação deve ser posta em prática sem que um plano adequado tenha sido elaborado para norteá-la.

Iniciativa

A iniciativa deve ser buscada a todo momento, de forma a forçar o inimigo a reagir a um plano já traçado, evitando que este venha a seguir um plano próprio. Quem detém a iniciativa comanda o combate e decide seus rumos, seja tanto em operações defensivas como em ofensivas. Na guerra é necessário ser agressivo e violento de forma a frustrar qualquer esforço de organização por parte do inimigo, evitando que ele decida quando, onde e como combater. Agarrar, reter e explorar a iniciativa é uma das chaves do sucesso.

Concentração ou Massa

O poder de uma força de combate está na eficiente composição desta. Elementos adequados, alocados nos pontos onde produzem seus maiores efeitos, agindo de modo sincronizado e desfrutando de proteção mútua, maximizam o efeito sobre o inimigo com um mínimo de baixas. Não se bate no inimigo com a ponta do dedo de uma mão aberta, e sim com um punho fechado (violenta e decisivamente), visando esmagar seu poder de combate. Uma unidade inimiga vencida será desarmada e presa, a fim de evitar que venha a combater novamente (O cativeiro deverá ser em local longe do risco de resgate). O engajamento procurará o momento em que o inimigo estiver numericamente inferior, seja em pessoal ou meios. Manobras que visam fracionar suas forças são desejáveis e devem ser implementadas a fim de facilitar contatos com contingentes reduzidos (quanto menor o efetivo inimigo maior o efeito de concentração ou massa). Quando se está numericamente inferior, deve-se buscar compensar com meios multiplicadores do poder de combate a fim buscar a vantagem do engajamento, e caso isso não seja possível, o contato deverá ser evitado até que tal situação se configure. Não se engaja o inimigo em inferioridade tática.

Economia de Meios

Todo e qualquer engajamento empregará o poder de combate necessário ao cumprimento da missão, de forma a concluí-la do modo mais efetivo possível, sempre levando-se em consideração a integridade das tropas e procurando preservar no que for possível a disponibilidade do equipamento e recursos logísticos. Não se empregam recursos que podem ser poupados e não se poupam recursos que possam comprometer a missão e os meios de combate. Esforços secundários devem ser limitados ao mínimo, de forma a preservar os sempre escassos recursos disponíveis. Estas considerações revestem-se de maior ou menor importância de acordo com os recursos que as forças dispõem, e como na guerra eles podem ser extremamente limitados, seja pela limitada capacidade de reposição de meios ou deficiências na estrutura logística, seja por infortúnios causados pelo inimigo. A ausência desse ou daquele item em momentos decisivos, pode decidir uma batalha ou mesmo uma campanha. Operações militares demandam esforços logísticos de grande monta e todo alívio e racionalização desta estrutura de apoio é sempre desejável.

Manobra ou Mobilidade

Colocar o inimigo em uma posição de desvantagem pela aplicação inteligente e flexível do poder de combate é o objetivo da manobra. Manobra é o movimento de forças em relação ao inimigo para ganhar vantagem posicional em relação a este. Uma manobra efetiva, evita que o inimigo assuma posições vantajosas e protege as forças aliadas. É usada para explorar sucessos, preservar a liberdade de ação e reduzir a vulnerabilidade. Ela traz continuamente problemas novos para o inimigo fazendo suas ações ineficazes devido a impossibilidade de organização e o lançamento de ações coordenadas. Em todos os níveis a aplicação da manobra requer agilidade de pensamento, planejamento, operatividade, organização, designação de objetivos, aplicação dos princípios de concentração e economia de meios. Ao nível operacional, manobra é quando se decide onde e quando lutar, através da fixação de condições de batalha ou tirando proveito de ações táticas. A manobra é uma forma dinâmica de lutar que rejeita padrões previsíveis no desenrolar das operações.


O comando de qualquer operação deve ser vertical, único e sem paralelismos, em todos os escalões. Forças operando paralelas em uma mesma campanha tendem a duplicar esforços e demandarem mais recursos. A unidade de comando facilita a coordenação, sincronização de ações e a unificação de esforços, além de evitar sobremaneira o chamado “fogo amigo” ou fratricídio. Este princípio deve ser observado mesmo quando forças tiverem comandos distintos, as quais deverão operar de forma combinada.

Segurança

A segurança das forças em combate deve ser prioridade. O risco é inerente a guerra, porém àquele que corre riscos desnecessários, seja por negligência ou por desconhecimento dos fatores que afetam os campos de batalha, com certeza colherá frutos amargos. Conhecer as intenções inimigas de uma forma abrangente e detalhada é vital; bem como suas táticas, doutrina e tecnologias, a fim de evitar surpresas desagradáveis, permitir antecipar seus movimentos e frustrar seu planejamento. A tropa que opera em segurança pode se dar ao luxo de fazer experiências e testar o inimigo de um modo coordenado, estudando sua reação sem que este adquira vantagens inesperadas. A segurança aumenta a liberdade de ação e reduz a vulnerabilidade. Toda operação militar lançada de bases não seguras, sejam físicas ou doutrinárias, está exposta a um grau de risco que se convenientemente explorado pelo inimigo, pode comprometer tanto a si própria, como ao bojo das operações.


Agir onde e quando o inimigo não espera, de uma forma inusitada e criativa pode alterar decisivamente o equilíbrio de um combate. Avanços crescentes da tecnologia, especialmente nos campos das comunicações e vigilância tornaram a surpresa cada vez mais difícil de se alcançar. Fatores que influenciam efetivamente na surpresa são a mobilidade, a efetividade dos sistemas de C3I (comando, controle, comunicações e informações), a capacidade de guerra eletrônica (EW), a variação no modo de agir que impede o inimigo de prever ações, etc... A surpresa pode estar ainda no uso do tempo, na utilização da força e tecnologia, na direção de um avanço, ou na manipulação de qualquer outro fator inesperado pelo inimigo. É um multiplicador de combate poderoso, porém temporário. Não é essencial, se bem que desejável, apanhar o inimigo completamente desavisado; muitas vezes se faz suficiente que ele se dê conta muito tarde para reagir efetivamente. Fatores que contribuem para surpreender incluem velocidade, superioridade de informação e assimetria.

Simplicidade

Todo planejamento deverá basear-se em planos claros e descomplicados, além de ordens objetivas, de forma a assegurar compreensão completa, sem margem a dúvidas ou dupla interpretação. Planos simples propiciam assimilação intuitiva e difíceis de esquecer, e ordens objetivas minimizam o engano e a confusão. A simplicidade é especialmente valiosa quando os soldados e seus comandantes estão cansados, onde avaliações equivocadas podem resultar em graves consequências e detalhes são facilmente esquecidos. Quanto mais simples uma operação se apresentar, maiores as chances de obter êxito. Os planos devem ser simples, porém o planejamento deve ser minucioso.

A Marinha do Brasil adota ainda os princípios da Moral, Exploração e Prontidão em complemento aos já enunciados, e a FAB o da Cooperação, que exprimem a vontade de alcançar o objetivo aceitando os revezes inerentes ao ofício da guerra; a constante prática do esclarecimento visando a ciência da situação; a máxima do "sempre alerta" a fim de não ser pego desprevenido e o implemento do espírito de corpo entre os operadores, respectivamente.

segunda-feira, 23 de maio de 2022

Planejamento Militar - O Exame da Situação (Parte 3) *230

 


Parte 2- O exame da situação

Fase 3 – Linhas de Ação x Possibilidades do Inimigo

Cada Linha de Ação (LA) a ser adotada deve ser comparada com as Possibilidades do Inimigo (PI) em relação a esta linha de ação. Nesta fase, o comandante já dispõem das informações necessárias a respeito de sua missão. Ao final deste estudo serão elencadas as LA Provisórias que tenham as melhores chances de alcançar os objetivos definidos. É importante que sejam sugeridas propostas de LA sem qualquer restrição prévia, dando-se “asas à imaginação”, desde que não se desvie dos objetivos da missão. Ideias rejeitadas previamente podem conter fragmentos úteis, que podem ser encaixados com sucesso em proposições mais pragmáticas, tornando estas mais robustas. O planejamento é um processo cíclico, onde as ideias são refinadas paulatinamente, e ideias pouco ortodoxas podem contribuir para o refinamento daquelas mais factíveis.

Possibilidades do Inimigo (PI)

As PI são as linhas de ação que inimigo pode adotar para contrapor uma LA planejada. Elas devem ser compatíveis com os meios que o inimigo tem sua disposição e serem capazes de interferir no cumprimento da missão. A seção de informações da unidade (S/2 ou outra conforme a força) é a principal fonte das informações a cerca das PI, que são supostas ações amplas, que podem ser empreendidas dentro de determinas condições aceitáveis ao inimigo.

Valendo-se das conclusões da análise prévia da fase I, o órgão de informação (S/2) a disposição do comandante, listará todos os prováveis e possíveis objetivos que o inimigo buscará para frustrar a missão ora em planejamento, e em seguida identificará de que forma estas supostas ações poderão influir. Dessa forma se definirão as ações adequadas a evitar esta interferência. Deverão ainda ser tabuladas em ordem decrescente de possibilidade de adoção, cada uma das ações inimigas prováveis. É importante ressaltar que cada  ação provável do inimigo listada deverá ser considerada nos critérios de factibilidade de execução e se afetará a missão de forma importante. Ações não factíveis devem ser desconsideradas após análise, porém desfazer-se de ações relativamente improváveis mas factíveis, pode resultar em surpresas desagradáveis, podendo o inimigo adotá-las se levar em consideração que foram desprezadas.

Uma PI que deve sempre ser considerada é a de frustração da mobilidade das forças que irão executar a missão. O inimigo pode ser capaz de realizar simultaneamente múltiplas ações combinadas, que afetarão de modos particulares o cumprimento da missão. As PI elencadas devem especificar claramente essas múltiplas ações, sob pena de conclusões incorretas acerca da capacidade de cumprimento da missão. A avaliação das PI não é um processo estático, devendo prosseguir durante as 3 Etapas do Planejamento.

Em seguida se analisa, apenas com as PIs consideradas, a ordem de probabilidade de sua adoção pelo inimigo. Prioriza-se as PIs que ofereçam maiores vantagens ao inimigo, com menores riscos; após as que oferecem um melhor aproveitamento das características da área de operações, associadas às deficiências e vulnerabilidades das forças amigas e por último as ações atualmente sendo executadas pelo inimigo (histórico recente). Ao comandante caberá a palavra final desta análise.

Linhas de Ação (LA)

Uma Linha de Ação é um plano factível capaz de cumprir a missão. Ela será construída como resultado nos dados e conclusões da fase 2. Deve exprimir o que deve ser feito para o cumprimento da missão e de que forma (que ações serão tomadas), impondo, se for o caso, os limites a serem observados (regras de engajamento), sempre em linguagem simples e clara, evitando interpretações.

Como exemplo de LA corretamente redigidas podemos citar: “Destruir a ponte sobre o Rio das Correntes usando explosivos plantados”, ou “Ocupar a subestação do Bairro Formiga em Rio das Algas sem danificá-la severamente, e estabelecer lá um ponto forte”. A ação poderá ser omitida quando seu enunciado causar redundância. Num enunciado “Prover o bombardeio da Área Alfa em preparação ao assalto pela infantaria em D+1 às 0500 pelo Grupo de Artilharia”, pode ser omitido a unidade que irá realizar, pois a missão já é implícita, considerando o grupo de artilharia orgânico da grande unidade que está executando a missão. Se o bombardeio tivesse que ser executado pela aviação tática, aí sim seria importante enunciar a unidade executora.

Após enunciar uma LA o comandante deve rever seu entendimento da situação quantas vezes achar necessário, de forma a ter certeza que a LA escolhida é a mais adequada. Devem pesar a capacidade da LA de cumprir com os efeitos desejados e se as suas forças destacadas para esta missão tem a capacidade de cumprir de forma eficaz com suas comissões. Múltiplas LA preliminares podem ser elaboradas para se chegar a uma linha LA de ação definitiva, pois quase sempre haverá mais de um modo de executar uma ação e com o emprego de mais de um sistema de combate.

Muitas ações devem ser executadas para a consecução de uma LA, e a estas denominamos requisitos, que podem ser classificados quanto a sua importância em imprescindíveis (se não for cumprido a LA não será exitosa), importantes (aumentam em muito a possibilidade de sucesso da LA) e desejáveis (se possíveis, facilitam a tarefa a ser executada). Também podemos dividir os requisitos quanto a sua natureza em ofensivos (finalidade de LA), defensivos (garantem a execução), logísticos (suportam a execução), de inteligência (orientam a execução), de movimento (mobilidade da execução), de adestramento (preparo da execução) e de apoio (ações multiplicadoras de força e facilitadoras). A ênfase em cada requisito dependerá da natureza de cada LA. Outros tipos de requisitos poderão se fazer presentes em situações particulares, e cada um destes poderá ser desdobrado em 2 ou mais. Os requisitos devem ser compostos pelo "o que", "como" e "onde", quais as forças envolvidas e por quanto tempo cada ação deve perdurar.

Adequabilidade, Exequibilidade e Aceitabilidade de uma LA Provisória

Uma LA é adequada se puder, por si própria, cumprir a missão. Seus efeitos devem ser compatíveis com a essência e magnitude da missão e capaz de ser executada dentro do tempo máximo suportável para a situação. Se uma LA parecer apenas parcialmente adequada, deve-se agregar a ela as ações necessárias a satisfazer a condição desejada, ou então ser abandonada. Também não poderá ser mais ou menos adequada do que outra, uma vez que, ou ela cumpre ou não cumpre a missão, o que a faz objetiva e absoluta.

Uma LA é exequível se puder ser implementada com as forças e tecnologia disponíveis e dentro do tempo máximo suportado para a situação, e ainda capaz de suportar a pressão que o inimigo envidará para frustá-la. Avaliar se uma LA é exequível ou inexequível, em face da oposição do inimigo, é subjetivo. Isso significa que pode haver diferentes opiniões quanto ao julgamento da possibilidade de êxito. Uma vez definida a possibilidade de êxito, a LA não poderá ser mais ou menos exequível que outra, uma vez que ela é possível ou não de ser implementada, o que a faz subjetiva e absoluta.

Uma LA é aceitável se os resultados compensarem os custos decorrentes. Perdas prováveis, determinadas pela prova de exequibilidade, servirão de base para esta análise, devendo ser considerados os quesitos pessoal, material, tempo e posição. Deve-se evitar inclinar-se a um otimismo exagerado e o comandante deve aceitar a inevitabilidade de perdas na sua força, desde que esta perda obedeça a certos limites. Os ganhos numa interação com o inimigo devem ser confrontados com a capacidade da própria força continuar operacionalmente significativa. Podem haver opiniões divergentes quanto à aceitabilidade de uma LA, dependendo de quem a esteja avaliando. Além disso, ela poderá ser mais ou menos aceitável do que outra. Isso significa que, para cada LA provisória formulada, poderá haver uma "probabilidade de êxito" diferente, o que a faz subjetiva e relativa.

Todas as LA Provisórias devem ser testadas nestes critérios o quanto antes e se não os cumprirem, imediatamente abandonadas ou alteradas.

O julgamento da exequibilidade e da aceitabilidade de uma LA Provisória requer uma análise extensa, e no que se refere à adequabilidade, essa análise é mais simples e pode ser feita antes das demais. A prova preliminar de adequabilidade e e de exequibilidade são inicialmente aplicadas após a formulação e, posteriormente a qualquer momento sempre que o conceito da operação sofra modificações ou mudem as forças à disposição. A prova final será aplicada na Fase 4 desta Etapa, após o levantamento das Vantagens e Desvantagens das LA.

Pode ser conveniente combinar 2 ou mais LA Provisórias para formar outras mais refinadas, caso as primeiras se tenham mostrado parcialmente válidas. Nesta situação deve-se retornar aos subitens anteriores, onde as novas LA serão relacionadas, formulados os seus conceitos sumários, e submetidas à prova, para que sejam verificadas as suas validades. Assim, mais uma vez, a natureza cíclica do processo possibilita o aperfeiçoamento do planejamento. Cabe ressaltar que uma LA se distingue de outra, basicamente, por meio de diferenças em pelo menos um dos seus seguintes aspectos de efeitos desejados, operações e/ou meios empregados.

Confronto LA x PI

Neste tópico se confronta as LA Provisórias com cada PI. É uma análise dinâmica, na qual cada ação é considerada como uma variável independente interagindo com outras, simultânea ou sucessivamente. Dessa forma se elenca as várias ações que as forças destacadas terão que empreender para executar a LA, revendo e ampliando os conceitos, através da inclusão de alguns detalhes, e de maneira semelhante, considera as ações detalhadas de cada PI, inclusive como seriam implementadas.

Em cada confronto analisado, conclui-se quanto às capacidades do inimigo em se opor a cada LA, às perdas prováveis, à necessidade de subdividir as forças, às ações alternativas convenientes, o grau de eficiência estimado da LA na medida em que ela cumpre a missão, os aspectos relacionados com o tempo, etc. É um jogo de guerra mental.

Cada LA é confrontada com cada PI, observando-se os seguintes subitens:

As ações que o Inimigo pode executar para realizar a PI. Descreve-se como seriam implementadas as ações pelo inimigo, que possam interferir com a LA a ser confrontada. São especificados como, quando e onde o inimigo pode atuar, para obter o efeito desejado da PI considerada.

As ações que devem ser executadas para realizar a LA, em face da oposição dessa PI, que devem ser expandidas e detalhadas em face da PI a ser confrontada. Assim, da mesma forma que no item anterior, especifica-se como, quando e onde pode ser disposta a força destacada.

Fase 4 - Comparação e Escolha das Linhas de Ação

Após as LA terem passado pela prova AEA (adequabilidade, exequibilidade e aceitabilidade) elas devem ser comparadas para que uma seja a escolhida.

Em primeiro lugar deve-se confrontá-las, comparando suas vantagens e desvantagens, de forma a escolher a melhor delas. Um pequeno roteiro facilita esta comparação utilizando os quesitos: mais ofensiva ou defensiva, maior liberdade de ação, maior concentração de forças, melhor unidade de comando, maior surpresa, maior simplicidade, menos necessidade de informações, menos dependência da área de operações, maior favorecimento de operações futuras e maior economia de meios.

Estes conceitos dependem de julgamento pessoal e, portanto, 2 ou mais comandantes poderiam chegar a conclusões divergentes. Assim, uma determinada LA pode parecer perfeitamente exeqüível para um comandante ousado e agressivo, mas inexeqüível para outro mais cauteloso. Além disso, geralmente há um certo grau de aceitabilidade associada a cada LA, estabelecendo, desta forma, o que se pode denominar de uma aceitabilidade relativa. Para determinar a aceitabilidade relativa, são importantes os resultados esperados pela execução com sucesso da LA.

Antes de selecionar uma das LA para a decisão, deve-se submeter todas elas à uma prova final, na qual a riqueza de detalhes dependerá das provas já realizadas e dos resultados de análises posteriores complementares, efetuadas nas fases anteriores. Ao considerar a aceitabilidade da LA, deve-se enfrentar realisticamente a possibilidade de insucesso. Se for considerada que uma LA é aceitável sem levar em consideração uma margem de segurança, qualquer imprevisto poderá facilmente invalidar esta LA na prática e comprometer a operação.

Após a análise final, pode-se concluir que nenhuma das LA em pauta atende as condições que se busca. Nesse caso, deve-se novamente buscar a combinação das LA existentes, reiniciando o processo. Caso mesmo assim as conclusões sejam insatisfatórias, os resultados devem ser encaminhados ao escalão superior para decisão final, onde se assume o ônus de sua adoção ou se busca alternativas. O escalão superior pode ter uma visão diferente das análises feitas e decidir pela sua adoção ou não. Somente quando há condições impostas pelas autoridades superiores, o comandante pode ser parcialmente relevado da responsabilidade quanto à sua decisão, sempre no mesmo nível do que for condicionado. Uma matriz de decisão com os critérios já citados (logística, operações futuras, maior surpresa, etc...) pode auxiliar nesta comparação.

Fase 5 - Decisão sobre a LA escolhida

Após a decisão tomada, esta deve ser expressada como um “Plano de Ação”, trazendo informações do que fazer e como fazer, podendo ainda dizer como e onde. Pode ainda trazer as restrições que forem necessárias. Se a LA for pré-determinada, a própria tarefa será a decisão elencada. A decisão deverá ser clara, objetiva e concisa, prezando pela simplicidade; de forma que todos a compreendam de forma inequívoca. Ao “Staff” da unidade designada, caberá o detalhamento da operação, seja uma divisão ou um grupo de combate, salvo se for decidido de outra forma.

2ª Etapa - O Plano de Ação e Emissão de Diretiva




quinta-feira, 24 de março de 2022

Impacto de um Míssil Antinavio - Como Reagir *229


Capitão-Tenente RHUAN TOLEDO GURGEL

Introdução

A defesa antimíssil é uma parte importante da guerra no mar e deve cobrir preparação, táticas e ações quando sob este tipo de ataque. A melhor defesa contra o ataque de mísseis é a neutralização da plataforma atacante, antes do míssil ser lançado. Uma vez que uma unidade de superfície é engajada por um míssil, pouco resta a fazer – e este é o ponto nevrálgico.

O conteúdo deste artigo tem por objetivo comentar este “pouco” que resta a fazer. Tal assunto raramente é abordado em adestramentos e manuais técnicos, mas pode ser decisivo para a sobrevivência do navio e de sua tripulação. Relacionando alguns dos principais acontecimentos conhecidos no passado e, explorando as tecnicidades em uma linguagem descomplicada e objetiva, serão desmistificados conceitos e apresentados procedimentos de combate a incêndio simples, porém eficazes, que podem ser implementados em treinamentos das tripulações dos navios.

Como Chegamos Até Aqui

Na Segunda Guerra Mundial, alguns navios atingidos por bombas, armas antecessoras dos mísseis, sofreram sérios danos por explosões localizadas sem ocorrência de um grande incêndio a bordo.

Em contrapartida, há registros históricos mostrando que, se um navio for atingido por mísseis, além da explosão causada pela detonação da “cabeça de combate”, múltiplas avarias e focos secundários de incêndio podem ocorrer por causa do propelente do míssil não consumido na trajetória até o impacto.

Autores como Ian Inskip e Harold Lee Wise relataram em seus livros o pânico vivenciado pelas tripulações do HMS “Glamorgan”, um Contratorpedeiro britânico que foi atingido por um míssil antinavio Exocet durante a Guerra das Falklands/Malvinas, e da USS “Stark”, uma Fragata dos EUA da Classe Oliver Hazard Perry, que estava em patrulha no Golfo Pérsico quando foi atingida por 2 mísseis antinavio Exocet disparados de uma aeronave iraquiana durante a Guerra Irã-Iraque.

Os navios não afundaram, mas vivenciaram, em momentos distintos, o desespero de se tentar combater, ao mesmo tempo, diversas avarias, fumaça densa tomando todo o navio, temperaturas elevadíssimas e acidentes com múltiplas vítimas.

Não tiveram a mesma “sorte” o HMS “Sheffield”, um Contratorpedeiro do Reino Unido Tipo 42, que foi afundado após ter sido atingido por um míssil MAS Exocet, disparado de uma aeronave argentina durante o confronto nas Malvinas, e nem o INS “Eilat”, um Contratorpedeiro israelense, que fora emboscado por duas embarcações egípcias nas proximidades de Port-Said e afundou após ser atacado por quatro mísseis Styx SS-N-2, em 1967.

O acontecimento mais recente ocorreu em julho de 2015, quando uma Fragata egípcia foi atingida por ATGWs supostamente disparados por militantes do ISIS, próximo à cidade de Rafah, o que resultou em um grande incêndio no navio logo após sofrer o impacto do míssil.


A Maior Ameaça

Durante o voo, o propulsor do míssil libera altas temperaturas e a chama produzida pela queima do propelente atinge a faixa dos 2.000°C. Além disso, quando se trata de combustível sólido, as chamas têm longa duração e podem, após o impacto com o alvo, se espalhar aleatoriamente por vários compartimentos do navio.

Isso foi observado a bordo da USS “Stark”. O primeiro míssil não explodiu, mas perfurou o costado de bombordo e espalhou propelente em chamas por vários compartimentos. O segundo míssil atingiu um pouco mais à vante, porém a cabeça de combate foi detonada. O incêndio durou quase 24 horas e propagou fumaça por todo o navio. O propelente do míssil gerou incêndios com temperaturas superiores a 1.900°C, inflamando quase que instantaneamente todos os materiais de bordo.

Já o HMS “Glamorgan” guinou, impedindo que o míssil o atingisse perpendicularmente, porém teve a parte de ré do seu costado de bombordo tangenciada pelo míssil. A cabeça de combate explodiu no convoo causando um rombo no piso por onde foi derramado todo o propelente em chamas que iniciou um grande incêndio na cozinha.

Observando o que ocorreu nos navios citados, constata-se que, logo após o impacto do míssil, o propelente em chamas cria focos de incêndio que podem inicialmente queimar materiais espalhados como papel, papelão, MDM e MDF. Em seguida, o incêndio se desenvolve e é sustentado por madeirame, massame, colchões, rouparia, isolamento de cabos elétricos e condutores.

Quando a temperatura do incêndio se eleva até um ponto crítico, mostrado no gráfico a seguir, pode ocorrer a pirólise dos materiais combustíveis ali contidos. O material consumido pelas chamas se transforma em matéria gasosa e se concentra na parte superior do compartimento, junto com a fumaça, até que ocorra a combustão dessa mistura. A energia irradiada em forma de calor é tão violenta que provoca um incêndio generalizado em todo o ambiente confinado. Este fenômeno é chamado de flashover .

O incêndio causado por propelente de mísseis pode evoluir rapidamente da fase inicial para o flashover e se agravar ainda mais nos casos em que compartimentos com material inflamável, tanques ou redes de combustível são avariados, a exemplo do que ocorreu com o HMS “Sheffield” e o INS “Eilat”.


O HMS “Sheffield” fora atingido por apenas um míssil Exocet no costado de boreste, alguns metros acima da linha de água, atravessando duas Praças de Máquinas e espalhando propelente por diversos outros compartimentos. O incêndio se alastrou e o navio se encheu de fumaça, avariando gravemente o sistema de distribuição de energia e rompendo o anel principal da rede de incêndio, o que dificultou severamente a atuação do Controle de Avarias (CAv) e impediu que a tripulação reagisse adequadamente.

Já o INS “Eilat”, mesmo abrindo fogo sobre o primeiro Styx lançado contra ele, foi atingido por um míssil. 2 minutos depois, outro míssil atingiu o costado de bombordo, causando grandes danos. O incêndio causou uma explosão a meia-nau que quase partiu o navio ao meio. A propulsão foi avariada, as comunicações foram desabilitadas, e os botes salva-vidas foram destruídos. O terceiro míssil atingiu a popa do “Eilat”, explodindo um paiol de munições, e o quarto míssil foi disparado quando grande parte da tripulação já estava na água.

Quando e Como Reagir

A quantidade de propelente residual no míssil que atinge o alvo está relacionada à distância de engajamento e, consequentemente, ao volume consumido na trajetória. Isto posto, há quatro possibilidades ilustradas pela matriz abaixo:


No primeiro quadrante, não haverá incêndio, apenas avarias estruturais cuja gravidade dependerá apenas do local atingido.

No segundo quadrante, haverá avarias estruturais graves devido às ondas de choque e aos estilhaços. É provável que não ocorra incêndio residual, pois o calor liberado pela explosão da cabeça de combate não é suficiente para elevar a temperatura de materiais combustíveis acima do ponto de ignição.

No terceiro quadrante, o propelente em chamas será difundido por uma área reduzida, ainda assim é provável que ocorra um incêndio. A velocidade com que o incêndio se desenvolverá, até que ocorra o flashover, dependerá da distância de engajamento, da disposição e quantidade de material no compartimento atingido, e da admissão de ar para combustão.

Já no quarto quadrante, é provável que haja incêndios múltiplos. A energia da explosão de uma cabeça de combate de sopro causará diversas cavidades ao longo da estrutura avariada, espalhamento de material (armários, mobília, quadros e prateleiras) e, principalmente, inúmeras passagens de ar. A dispersão do combustível não gasto, por entre esses amplos espaços arejados criados, queimará por tempo suficiente para inflamar materiais combustíveis.

Segundo relatos do Capitão-Tenente Art Conklin, que foi Assistente de CAv da USS “Stark” na época em que houve o ataque, mesmo sem ter ocorrido a detonação da cabeça de combate, o cheiro do combustível do míssil se espalhou rapidamente por todo o navio e, tendo em vista a distância que foi lançado (apenas 22 milhas náuticas), Conklin estimou que havia bastante propelente espalhado pelo navio.

Nesse contexto, convém ressaltar que os propelentes sólidos, e alguns líquidos, podem queimar mesmo em atmosfera abafada pois contém comburente em sua composição. A intensa queima produz grandes quantidades de subprodutos gasosos que acarreta 2 consequências diretas: reduz o oxigênio do local e cria uma sobrepressão temporária no ambiente.

Essa pressurização pode durar algum tempo, dependendo das características do compartimento avariado. Além disso, a falta de oxigênio impedirá a combustão do material na área afetada, apesar das altas temperaturas. Todavia, quando a sobrepressão cessa, há readmissão de ar fresco que, se ocorrer antes que os materiais combustíveis esfriem abaixo da temperatura de ignição, ocorrerá um flashover mais rápido que o usual.

O ponto nevrálgico é agir na única oportunidade que se abre por apenas alguns minutos. A ação coordenada do Reparo será apresentada a seguir, dividida em 2 movimentos. Relembra-se, contudo, a necessidade de preparação individual técnica e física dos componentes do reparo e, ainda assim, a probabilidade de se evitar o flashover será inversamente proporcional à quantidade de propelente residual no míssil.

1º MOVIMENTO: inibir o flashover

Logo após o impacto do míssil, o efeito da sobrepressão irá impedir a admissão de ar fresco na área e, também, a combustão secundária. Esse é o tempo exato para que a turma de incêndio possa impedir o flashover e minimizar os danos colaterais. Esse breve período é chamado de “calmaria”, ou “lull period”.

O combate ao incêndio deve ser feito com lançamento de espuma e por uma turma utilizando aparelho de respiração autônoma, devido à alta toxicidade dos gases. Visto que não é possível impedir a queima do propelente sólido, a meta é impedir a ocorrência do flashover e, para tal, é fundamental velocidade nas ações.

Alguns manuais citam que, pelo fato de propelentes sólidos serem higroscópicos, tais substâncias podem ser decompostas com a presença de umidade – o que é verdade – e, por isso, o fogo poderia ser extinto com água ou espuma. Entretanto, na prática, é muito provável que o propelente seja completamente consumido bem antes da turma de incêndio chegar, principalmente se for do tipo queima irrestrita, na qual várias superfícies se inflamam conjuntamente.

A turma deve empregar o máximo esforço para extinguir todos os pequenos focos de incêndios residuais. Mas toda cautela deve ser levada em conta para suprimir ao máximo o fluxo de ar fresco. Deve-se lembrar que, diferentemente de outras doutrinas, como a francesa em que se prioriza a visualização do foco de incêndio em detrimento do abafamento, neste tipo de incêndio, evitar o flashover tem que ser a prioridade, caso contrário, será impossível acessar a cena de ação.

Se a turma não conseguir agir no tempo exato, não será possível evitar o flashover. Neste caso, deverá evacuar, isolar o compartimento, e intensificar as contenções. Somente recorrendo-se às técnicas de combate indireto será possível recuperar o compartimento.

2º MOVIMENTO: contenção das avarias

Enquanto a turma de incêndio combate os focos primários, uma turma de contenção deve ser rapidamente distribuída em torno da área afetada. Esse arranjo visa 2 aspectos teóricos fundamentais: garantir o isolamento e resfriar o entorno da área afetada.

É impossível efetuar um isolamento mecânico completo, haja vista a forma como o míssil atinge o alvo, causando avarias estruturais e comunicação com o exterior do navio, isto é, rombo no costado ou convés, e perfuração de anteparas.

No que tange a resfriar os compartimentos adjacentes, os paióis de munições e paióis de materiais inflamáveis são o maior risco para o navio durante um combate. Temperaturas elevadíssimas são atingidas rapidamente e podem fazer componentes estruturais como chapas, vaus, sicordas e longarinas cederem facilmente. Nesse aspecto, a turma de contenção deve garantir que não haverá focos de incêndios inesperados.

No caso da USS “Stark”, 30 segundos após o primeiro impacto, o segundo míssil atingiu o navio. A detonação da cabeça de combate ocorreu pouco depois de atravessar o casco, resultando em boa parte do efeito de sopro ter se dissipado para área externa. Mas durante o incêndio, o Tenente Conklin relatou que a maior preocupação era estabelecer a contenção dos paióis de munições, pois uma explosão afundaria a Fragata.

Do ponto de vista do CAv, os esforços envidados devem ser direcionados ao monitoramento, alagamento ou alijamento do paiol de munições afetado. Tais atitudes transcendem o nível decisório da Estação Central do CAv, cabendo somente ao Comando do navio, de acordo com suas prioridades, ordenar o que deve ser feito. Destarte, estudos da Universidade de Lund indicam que um incêndio próximo a um paiol de munições constitui alto risco de afundamento do navio.

Direto ao Ponto: Ações a Empreender

Segundo o relatório do Ministério da Defesa britânico sobre o HMS “Sheffield”, nos esforços de combate ao incêndio, faltou coordenação das equipes, as bombas de incêndio falharam e foi constatado que os acessórios de escape eram pequenos demais para as pessoas que usavam aparelhos de respiração autônoma. A tripulação não pôde controlar o incêndio e, por isso, foi dada a ordem de abandonar o navio.

Nesse contexto, as particularidades de um incêndio causado por um engajamento de míssil requerem mais perícia e agilidade das equipes envolvidas para realizar alguns procedimentos. Com efeito, pequenas adequações na condução do processo podem fazer toda a diferença no resultado, a saber:

1) Reação rápida: o período do impacto até o flashover é crucial e pode levar de 5 a 10 minutos para atingir condições extremas. É possível que navios em Postos de Combate consigam debelar um incêndio assim, desde que os Reparos de CAv realizem patrulhas constantes. Em guarnecimento de Cruzeiro de Guerra, a implementação de uma Turma de Ataque Rápido (TAR) robusta e bem treinada, constituída por componentes advindos de diferentes estações do navio, permite uma reação adequada.

2) Investigação agressiva: a maioria dos navios prevê apenas um investigador na cena de ação. Mas, experimentos da Marinha Australiana mostraram que explosões decorrentes do impacto do míssil conseguiam abrir escotilhas de conveses acima dos compartimentos afetados. Também constataram que algumas escadas de acesso aos conveses acima simplesmente derreteram em virtude das altas temperaturas. Situações como essas requerem um militar adicional para auxiliar o investigador nos conveses acima e assegurar o estabelecimento das contenções.

3) Supressão de ar: o impacto do míssil causará alterações estruturais imprevisíveis no navio e impedirá o estabelecimento total da condição ZULU de fechamento do material. Contudo, alguns testes mostraram que a duração do incêndio depende mais das propriedades do compartimento e da ventilação do que do combustível que está sendo consumido, o que torna qualquer restrição de ar, de certa forma, vantajosa.

Decerto que, nas ações de defesa aeroespacial, o sucesso da defesa antiaérea depende da rapidez e simplicidade desde o nível tático de coordenação das reações ZIPPO até o nível dos Reparos de CAv, estes últimos atuando principalmente em isolar e investigar eficazmente a área avariada, e eliminar os focos de incêndio.

O Que Esperar

Apesar de pouco se conhecer a eficácia dos sistemas de defesa contra um ataque de mísseis, é contínua a evolução da tecnologia e de recursos que exigem arquitetura aprimorada de enlace de dados, sensores otimizados e armas de autodefesa eficazes. A concepção de mísseis cada vez mais rápidos reduz a janela de detecção e o tempo de reação para empregar medidas defensivas. Pesquisas apontam que essas armas têm alcançado uma probabilidade cada vez maior de sobrepujar as defesas dos navios.

Limitar-se a praticar adestramentos simples sobre incêndios em lavanderias, escritórios e cobertas resume-se a um perigo epistemológico. Sugere-se que, nas preparações das tripulações, sejam elaborados treinamentos nos quais se faz necessário a interação entre vários Controles e Estações, abrangendo múltiplos compartimentos, que vislumbre problemas e soluções complexos e, principalmente, permutando os indivíduos entre as diversas funções, pois, após uma grande explosão, nunca se sabe qual equipe estará pronta para ser empregada.