Um Conceito de Operações Combinadas:
Tratamento de Guerra Anti-Submarino para a
Defesa Antimísseis de Teatro de Operações
JAMES J. WIRTZ
O presente artigo descreve de modo resumido como a filosofia que orienta as operações de guerra anti-submarino (ASW) da Marinha dos EUA pode ser utilizada para organizar uma campanha de defesa antimísseis de teatro de operações (TMD). Trata a TMD como uma operação fundamentalmente combinada e descreve como essa filosofia de ASW pode integrar capacidades das respectivas forças singulares em uma defesa extremamente eficaz contra a ameaça dos mísseis balísticos.
Para sustentar este argumento, o artigo apresenta, em rápidas pinceladas, os fundamentos das operações ASW e os aplica ao problema de localizar e destruir mísseis móveis antes que eles possam ser lançados. Em seguida, explica por que cada uma das Forças deve desempenhar um papel em uma estratégia TMD inspirada pela ASW. Sugere, também, qual comandante-em-chefe (CINC) deve assumir a responsabilidade, ao menos em tempo de paz, pela promoção do esforço TMD. O artigo se conclui com algumas observações sobre o papel de idéias na guerra combinada.
Durante a Guerra do Golfo, tornou-se crescentemente evidente que as forças dos EUA não haviam conseguido destruir os Scuds iraquianos em terra antes que eles pudessem ser lançados contra alvos em Israel e na Arábia Saudita. A despeito do grande número de surtidas dedicadas à eliminação da ameaça imposta pelos Scud, o “datum flamejante” utilizado para atacar lançadores móveis de mísseis provou-se ineficaz. Embora as aeronaves penetrassem a área de uma plataforma de mísseis apenas poucos minutos depois de um míssil ter sido lançado, as guarnições dos Scud dispunham de tempo suficiente para evadir-se apressadamente para áreas de ocultamento predeterminadas, antes da chegada de aeronaves americanas ao local.
Desde o conflito do Golfo, continua uma prioridade aprimorar a capacidade das unidades americanas de defenderem-se contra mísseis balísticos. A política de contra-proliferação da administração Clinton enfatizou a defesa antimísseis de teatro, especialmente a defesa contra mísseis armados com armas de destruição de massa (WMD). A administração tem-se concentrado no desenvolvimento de defesas ativas como, por exemplo, o aperfeiçoamento do sistema de mísseis Patriot do Exército e o aprimoramento do sistema de comando, controle, comunicações e inteligência (C3I) para enfrentar a ameaça de mísseis regionais.
Ainda assim, defesas ativas aperfeiçoadas e C3I são apenas duas facetas de uma TMD eficaz. Para ter êxito, a TMD exige tanto defesas passivas quanto a capacidade de ataque a objetivos militares. De algum modo, as forças singulares devem melhorar o desempenho haurido contra os Scuds iraquianos durante a Guerra do Golfo, mediante a integração dos quatro elementos principais da TMD — C3I, defesas ativas, defesas passivas e ataque a objetivos militares — em uma estratégia de campanha geral.
Existe um método comprovado de destruir alvos que dependam de mobilidade e stealth para melhorar sua capacidade de sobrevivência: a guerra anti-submarino (ASW).
Muitas questões políticas complicam a contraproliferação e a TMD. Projetar um tratamento combinado de C3I e de operações de ar, terra e mar multiforças singulares, contudo, apresenta seu próprio conjunto especial de problemas militares. Em termos de organização e doutrina, a TMD é difícil por se tratar de “uma missão intrinsecamente combinada”. Como assinalam os autores do JP3-01.5, Doctrine for Joint Theater Missile Defense, “Os componentes da força combinada que apóiam os CINC e as capacidades TMD de uma força multinacional têm de ser integrados com vistas à consecução do objetivo comum de neutralizar ou destruir a capacidade dos mísseis de TO inimigos.” A obtenção dessa integração, no entanto, não é tarefa pequena. Hardware e software novos, ou uma nova arma isolada, não irão solucionar milagrosamente o problema da TMD.
O que é preciso é uma “idéia melhor” para organizar C3I multiforças singulares, defesas ativas, defesa passiva e capacidade de ataque a objetivos militares em uma estratégia de TMD eficaz. Caso se disponha a buscar esse princípio organizador em lugares inesperados, então já existe um método comprovado de destruir alvos que dependam de mobilidade e stealth para melhorar sua capacidade de sobrevivência: a guerra anti-submarino (ASW).
Por mais estranho que isso possa soar, uma arquitetura de TMD baseada em uma filosofia de ASW propicia uma maneira de integrar as diversas capacidades das Forças em um plano coerente para impedir que mísseis balísticos inimigos alcancem seus alvos. Aplicar princípios ASW à TMD também representa um desenvolvimento inédito na guerra combinada. Pode-se obter estratégia combinada mediante o uso do tratamento que uma força singular dedica à solução de um problema específico como princípio integrador em uma operação multiforças. Neste caso, um tratamento de ASW permite que cada uma das Forças integrem o que melhor fazem a uma campanha combinada geral.
Para apoiar este argumento, o presente artigo esboça ligeiramente os fundamentos das operações ASW e os aplica ao problema de localizar e destruir mísseis móveis antes que possam ser lançados. Explica, em seguida, por que cada uma das forças singulares deve desempenhar um papel em uma estratégia TMD inspirada na ASW. Também sugere qual dos CINCs deve assumir, ao menos em tempo de paz, a responsabilidade pela promoção do esforço TMD. E conclui com algumas observações sobre o papel das idéias na guerra combinada.
Guerra Anti-Submarino
À primeira vista, parece mais fácil achar uma agulha em um palheiro do que localizar um submarino nas vastas extensões do oceano. Mas a Marinha dos EUA pode detectar, rastrear, selecionar como alvo e destruir submarinos em operação em oceano aberto. Em teoria, a mesma filosofia de ASW utilizada para organizar e conduzir ataques contra submarinos deveria mostrar-se eficaz contra lançadores de mísseis que também dependem de mobilidade e stealth para melhorar sua capacidade de sobrevivência antes e após o lançamento.
Os procedimentos da ASW são com freqüência divididos em cinco categorias:
- Coleta e análise contínuas de informações;
- Monitoramento contínuo de prováveis áreas de lançamento;
- Emissão de alerta quando plataformas específicas se deslocam para uma posição de lançamento;
- Localização de sistemas específicos e
- Ataque.
Já que uma estratégia inspirada na ASW não depende do “datum flamejante” —o real disparo de um míssil — para localizar uma arma oponente, ela se torna provavelmente o tratamento mais eficaz contra forças militares.
Coleta de Informações
As informações, elemento crítico de todo o esforço contra forças militares, podem ser obtidas através das coleta e análise ininterruptas de dados sobre todos os mísseis móveis conhecidos — a primeira fase do processo ASW.
Quando se rastreiam submarinos, o equipamento inimigo é acompanhado pelo número do casco [hull number]. Esforços similares teriam de ser envidados para rastrear transportadores-elevadores-lançadores (TEL) de mísseis. Os centros de produção, armazenamento e reparo de mísseis teriam de ser monitorados para levar a efeito a coleta dessas informações sobre o dispositivo de batalha.
Esse trabalho fundamental de informações provavelmente forneceria o benefício adicional de desmascarar instalações clandestinas na infra-estrutura de mísseis fixos inimiga. Isto deveria produzir informações sobre o efetivo, a prontidão no dia-a-dia e a capacidade máxima de emprego (emissão de alerta) dos sistemas inimigos. Ciclos de treinamento, exercícios, atividades de viaturas de apoio, entrada e saída de bases e o movimento por “pontos de estrangulamento” (estradas bem cuidadas, pontes de alta resistência, terminais ferroviários) também seriam monitorados.
Tais esforços devem produzir uma estimativa útil da localização geral dos mísseis móveis do oponente, criando uma linha-mestra para avaliar desvios nos procedimentos operacionais padronizados do adversário. Com efeito, a fase um cria uma linha-mestra de indicadores e alerta.
À diferença de seus homólogos da Força Aérea, os aviadores navais não tendem a pensar em termos de bombardeio estratégico, mas sim em termos de destruir alvos militares específicos.
Vigilância e Monitoramento
A vigilância de todas as prováveis áreas de lançamento, o segundo passo no processo ASW, depende das informações coletadas sobre a capacidade geral dos mísseis inimigos: indicações de quando e onde buscar mísseis móveis são produzidas nas análises da primeira fase.
Nas operações da segunda fase, sinais visuais de áreas de interesse seriam comparados regularmente, em busca de mudanças (danos a plantas, marcas deixadas por pneus ou a presença dos próprios sistemas de armas).
Similarmente, sinais acústicos, sísmicos, de radar e comunicações poderiam ser comparados ao longo do tempo. De especial importância seriam as “atividades de apoio à vida”, a cauda logística que poderia conduzir diretamente a um TEL no campo. Especial atenção seria dada a prováveis áreas de operações, e a busca de informações negativas (indicadores de que as características do terreno tornam certas áreas impróprias para operações Scud) seria utilizada para desenvolver um histórico operacional dos TELs inimigos.
Estas informações poderiam permitir que o “rastreio” em tempo real dos TELs desdobrados fosse monitorado pelo maior tempo possível; assim, poder-se-ia ter conhecimento operacional da localização de todos os TELs em áreas de lançamento ou próximos a elas.
O Alerta
O alerta, o terceiro passo no processo ASW, é caracterizado por esforços intensivos voltados à execução de um rastreio mais preciso e detalhado de um sistema de armas específico. Ele ocorre tipicamente quando um TEL é detectado em uma área de lançamento, ou quando mudanças nas atividades ou nos níveis de atividade indicam estarem em andamento preparativos para o lançamento de um míssil.
Essas informações poderiam emanar de uma variedade de fontes. As análises da primeira fase poderiam produzir indicadores de mudanças na atividade ou na localização geral de um sistema específico. A vigilância da segunda fase também poderia detectar sinais acústicos, de comunicações ou de radiação quando os TELs são colocados em condições de disparo.
O alerta, no entanto, deve ser visto como um passo de transição nos esforços de ataque a mísseis móveis; relaciona-se com a decisão, seja das autoridades dos EUA, seja das do inimigo, de se colocarem em pé de guerra. O alerta destina-se a produzir o rastreamento detalhado de um alvo potencial, informação que permitiria a rápida condução de um ataque.
Localização de Sistemas Específicos
A decisão de se empenhar na localização (identificação do local exato do alvo) dos TELs indicados pelo alerta, que constitui a quarta fase da operação contra forças militares, será provavelmente tomada pelas Autoridades do Comando Nacional. Embora as atividades de busca relacionadas com o alerta possam exigir sobrevôos no território inimigo, a localização exigirá que aeronaves armadas ou veículos aéreos não-tripulados adentrem o espaço aéreo do oponente, o que é um ato de guerra.
Aeronaves pilotadas que atuem na localização de TELs inimigos devem possuir meios de supressão de defesas. A localização começa de um ponto de partida identificado pelas informações coletadas e analisadas nas três fases precedentes do processo ASW; pode-se então utilizar uma ampla variedade de sensores para gerar rastreamentos oportunos e detalhados do alvo por causa dos curtos alcances envolvidos.
A coordenação das plataformas envolvidas e a fusão (recebimento, análise e exposição) dos dados produzidos por uma variedade de sensores desempenha um papel crucial na localização do alvo.
Ao longo dos anos, a Marinha também descobriu que a prática facilita os esforços de localização. A Marinha teve sorte porque os soviéticos por muitos anos haviam oferecido oportunidades de localizar alvos reais no oceano aberto. Em outras palavras, oficiais e formuladores de política não podem esperar que as habilidades, a experiência, o hardware e as arquiteturas de comunicação (fusão) necessários à localização de um alvo possam ser improvisados instantaneamente.
O Ataque - Neutralizando dos Lançadores
O passo final no processo ASW é atacar o alvo. O ideal seria que o sistema de armas atacante tivesse seu próprio sensor de localização. A Marinha jamais executou esse último passo durante a guerra fria, mas os exercícios revelaram que a coordenação e a prática aumentavam a probabilidade de ataques bem sucedidos.
Seria também importante comprovar, após um ataque, que o sistema de armas inimigo foi, de fato, destruído. Os sistemas danificados poderiam ser reparados e subseqüentemente disparados. Isto seria especialmente importante se os mísseis móveis atacados estivessem armados com WMD.
Forças terrestres teriam de ser infiltradas em profundidade à retaguarda das linhas inimigas para inspecionar plataformas danificadas ou veículos de lançamento. Tais forças deveriam ser instruídas a localizar e remover ogivas de mísseis intactas, ou avaliar a extensão dos riscos de contaminação nuclear, biológica, ou química criados por ataques bem sucedidos a forças militares inimigas.
Embora ogivas e sistemas de lançamento danificados não tenham valor militar, os materiais nocivos que eles contêm seriam, ainda assim, de algum valor para terroristas ou para criminosos aventureiros, interessados em lucros inesperados no mercado negro. De fato, dada a extrema sensibilidade política criada pela ameaça de ataque com WMD, os líderes políticos americanos irão provavelmente exigir certeza total quando se trata da avaliação de danos a plataformas de WMD — um tipo de certeza que historicamente exigiu a presença de forças terrestres.
Em resumo, diversos aspectos do tratamento de ASW ao ataque a forças militares inimigas tornam-no atrativo como uma moldura para a destruição de TELs antes do lançamento de mísseis.
Um tratamento de ASW exige o monitoramento contínuo da situação e das atividades das forças militares oponentes. Isto não só produziria informações sobre a ordem de batalha e a infra-estrutura, mas também forneceria a base para indicadores e estimativas de alerta. Um tratamento de ASW também aumenta o problema defensivo a que faz frente o inimigo. Em vez de contar com a capacidade de “fogo e manobra”, os adversários devem considerar que suas forças estão sendo caçadas.
Em uma situação em que qualquer emissão eletrônica, sísmica ou acústica perdida pode ser usada para atacar um TEL, as guarnições de mísseis se concentrariam na tarefa defensiva de proteger os seus mísseis. Talvez não poderiam ser capazes de disparar com os “caçadores” em seu rastro. Além disso, já que uma estratégia inspirada na ASW não depende do “datum flamejante” — o real disparo de um míssil — para localizar uma arma oponente, ela se torna provavelmente o tratamento mais eficaz contra forças militares. É a única estratégia que sugere ser possível localizar e destruir mísseis após terem sido eles deslocados para o campo, mas antes de que possam ser disparados.
TMD como Guerra Combinada
É improvável que qualquer uma das forças singulares possa empreender, com êxito, todos os quatro elementos — C3I, defesas ativas, defesa passiva e ataque a forças militares inimigas — incorporados na defesa antimísseis de teatro de operações.
Para ser bem sucedido, um tratamento de ASW para a TMD teria de recorrer aos recursos disponíveis dentro de toda a comunidade de defesa e de inteligência dos EUA. De fato, o tratamento de ASW para o ataque a forças militares ressalta o fato de que a TMD é primariamente um exercício de coleta e análise de informações em tempo de paz.
A doutrina combinada existente também reconhece o importante papel desempenhado pelos meios nacionais utilizados pelo Comando Espacial dos EUA (USSPACECOM), por exemplo, em uma campanha TMD combinada.
Um tratamento de ASW poderia ajudar, contudo, a conduzir tal coleta e análise em tempo de paz mediante o desenvolvimento de um conjunto altamente específico de exigências de informações. Novos sensores também poderiam ser desenvolvidos para facilitar o monitoramento dia após dia de operações de mísseis móveis de oponentes em potencial.
O mais importante é que o trabalho poderia começar a melhorar o C3I entre os meios nacionais de informações e os componentes das Forças que necessitarão de informações em tempo real para engajar-se na caçada aos mísseis móveis.
Ocasionalmente, [durante a guerra fria] um força singular endossava uma idéia por outro promovida, para capitalizar interesses políticos em uma estratégia ou capacidade vitoriosa — mas essa tática freqüentemente saiu pela culatra. O relutante reconhecimento pela Marinha da importância do bombardeio estratégico durante o debate sobre os B-36... não salvou o seu supernavio-aeródromo.
O Papel das Forças Singulares
Cada uma das forças singulares também tem um papel específico a desempenhar no tratamento de ASW para a TMD. Aos oficiais da Força Aérea, pela sua especialização na condução de bombardeio estratégico, deve ser atribuída a responsabilidade de identificar e selecionar como alvo a infra-estrutura que apóia as operações de mísseis móveis de um oponente.
Para eliminar a possibilidade de operações sustentadas, a Força Aérea deve trabalhar no sentido de destruir a cauda logística e industrial que apóia a força de mísseis desdobrada pelo inimigo. A experiência da Força Aérea no gerenciamento de uma campanha aérea como um todo sugeriria ser ela a Força de escolha para lidar com os problemas associados ao C3I e à alocação de meios inerentes a um esforço de TMD maciço.
Oficiais da Marinha têm mais do que apenas especialização em operações ASW para contribuir com a TMD. À diferença de seus homólogos da Força Aérea, os aviadores navais não tendem a pensar em termos de bombardeio estratégico, mas sim em termos de destruir alvos militares específicos. Deve-se atribuir à Marinha a missão de destruir mísseis já desdobrados.
Um grupo de batalha de navio-aeródromo da Marinha poderia também servir como um tipo de força anti-TMD de “emergência” porque o sistema Aegis da Marinha em breve apresentará capacidades limitadas contra mísseis balísticos. A aviação naval poderia conduzir ataques contra alguns sistemas militares ofensivos particularmente ameaçadores, enquanto navios equipados com o sistema Aegis protegeriam alvos altamente compensadores na costa.
Como Força que opera a única defesa ativa comprovada — o sistema de mísseis Patriot — contra mísseis balísticos, o Exército tem um papel óbvio a desempenhar na TMD. Outros têm-se apressado em identificar o sistema de Mísseis Táticos do Exército, com um alcance de 40 quilômetros e submunições antipessoal/antimaterial, bem como o helicóptero de ataque Apache, com um alcance superior a 200 quilômetros, como armas ideais de ataque a forças militares.
Menos óbvio, contudo, é o importante papel que as forças terrestres desempenham no tratamento de ASW para a TMD. As forças terrestres, notadamente as forças especiais, prefeririam exercer sua capacidade de atacar e destruir instalações e armas em profundidade à retaguarda das linhas inimigas. Mas sua maior contribuição ao esforço de TMD irá assumir provavelmente a forma menos glamourosa de “policiar o campo de batalha”.
Em outras palavras, as forças terrestres provavelmente terão de conduzir um grande número de operações após terem o que se suspeita serem plataformas de mísseis sido submetidas a ataque. Pequenos grupos podem garantir que os lançadores e mísseis danificados por ataques aéreos não tenham sido apenas temporariamente tornados inoperantes, mas antes que tenham sido destruídos de fato.
Abrigos de armazenamento rudimentares, difíceis de serem identificados do ar, poderiam também ser localizados pelas forças terrestres que rapidamente inspecionassem uma plataforma de mísseis danificada. O que é mais importante, será preciso assegurar a posse das ogivas de WMD — sejam as já instaladas sejam as desdobradas à frente, junto às plataformas de mísseis.
Mesmo se lançadores ou mísseis houverem sido destruídos por ataque aéreo, ogivas de mísseis operáveis podem ser ainda utilizadas por um oponente, ou podem encontrar o caminho até o mercado negro. As forças dos EUA seriam também beneficiadas por uma avaliação rápida do risco radioativo ou químico criado pelas ogivas danificadas em seguimento a um ataque bem sucedido contra forças militares inimigas.
Quem deveria ser encarregado de uma campanha TMD influenciada por uma filosofia de ASW? Várias considerações dão forma à resposta a essa questão.
- Primeira, a TMD é, em sua maior parte, uma atividade de inteligência de tempo de paz.
- Segunda, a TMD exige a coordenação contínua de capacidades ofensivas e defensivas que todas as forças singulares possuem.
- Terceira, a exigência de TMD não se confina a uma região específica do globo. Os CINCs regionais têm de planejar a TMD, mas pode ser mais eficiente se um comando independente preparar dispositivos de TMD constituídos de capacidades multiforças singulares C3I, de defesa ativa, de defesa passiva e de ataque a meios militares para infiltração em determinada região.
Diante de tais considerações, o Comando Estratégico dos EUA (STRATCOM) seria uma boa escolha para dirigir uma campanha TMD. O Projeto Livro de Prata (Project Silver Book) do STRATCOM, um esforço em tempo de paz no sentido de compilar uma lista de alvos militares para a TMD, poderia servir como um passo inicial em uma estratégia de TMD inspirada na ASW.
Em sua encarnação anterior como o Comando Aéreo Estratégico, o STRATCOM também tem muita experiência no planejamento de maciças campanhas aéreas multiforças que contam em parte com a coleta e a análise de informações em tempo real e em nível nacional.
Comandado alternadamente por oficiais da Força Aérea e da Marinha, o STRATCOM também reúne uma combinação única de talentos necessários para tornar realidade uma estratégia de TMD baseada em princípios ASW:
- histórico de planejamento de ataques combinados a forças militares inimigas;
- ênfase em operações aéreas de grande vulto;
- grande familiaridade com a ASW;
- coleta sustentada de informações e coleta e avaliação de informações em tempo real;
- familiaridade com operações de forças especiais contra alvos WMD; e
- tradição como o comando principal de operações nucleares dos EUA.
Quando aplicada ao problema da defesa contra mísseis de teatro de operações, uma filosofia de ASW oferece uma idéia unificadora que identifica metas e tarefas específicas. Propicia, também, a todos os interessados uma imagem de todo o processo, baseada na extensa experiência da Marinha, experiência que pode ser utilizada para avaliar o quanto iniciativas específicas de uma única Força Singular podem contribuir para uma campanha TMD global.
Para os que se interessam em desempenhar o grande número de tarefas inter-relacionadas identificadas na Doutrina de Defesa Combinada Antimísseis de Teatro de Operações, o conceito de ASW pode oferecer um “ponto de partida”: ele especifica como se pode começar a organizar uma TMD multiforças eficaz, com as capacidades existentes. Em certo sentido, uma filosofia de ASW poderia servir como um paradigma — aqui tomamos emprestado um termo da filosofia da ciência — para a TMD:
- ela identifica problemas-chave que estão carentes de solução,
- especifica como se deve prosseguir no sentido de superar esses obstáculos-chave,
- aloca responsabilidades para resolução de partes específicas do problema e
- explica de que modo o desempenho de pequenas tarefas específicas pode produzir uma sinergia que supere um problema extraordinariamente complexo.
Como um paradigma para a TMD, porém, a guerra anti-submarino apresenta uma grande desvantagem: o termo se encontra para sempre ligado à Marinha como uma de suas áreas de missões tradicionais e muito importantes.
Durante a guerra fria, uma sugestão de que uma única força singular detinha a chave da segurança americana iria provavelmente provocar a explosão de rivalidade interforças. Ocasionalmente, um força singular endossava uma idéia promovida por outra, para capitalizar interesses políticos em uma estratégia ou capacidade vitoriosa — mas essa tática freqüentemente saiu pela culatra.
O relutante reconhecimento pela Marinha da importância do bombardeio estratégico durante o debate sobre os B-36, por exemplo, não salvou o seu supernavio-aeródromo. Assim sendo, um tratamento de ASW para a TMD poderia ser mal interpretado como um esforço de desenvolvimento de uma estratégia para uma única força singular, uma estratégia que parece permitir que uma só Força ganhe sozinha a próxima guerra.
O fato de uma idéia originar-se justamente em uma força singular não significa que deva ela ser banida para sempre do esforço de promoção de uma estratégia combinada.
Diferentemente das doutrinas de cada Força, contudo, uma filosofia de ASW não é um paradigma excludente. De modo muito similar ao que a antiga estratégia marítima usava para organizar todas as forças disponíveis à Marinha em uma campanha coerente, no caso de uma guerra ao longo do Central Front, uma filosofia de ASW também permite que cada uma das Forças contribua com o que faz de melhor para resolver o problema de uma defesa antimísseis de teatro de operações.
Em seu âmago, um tratamento de ASW para a TMD é uma estratégia combinada: seu postulado central é o de que somente se trabalharem em conjunto poderão as forças singulares defender os aliados dos EUA ou forças dos EUA baseadas no exterior da ameaça imposta por mísseis móveis.
Acresce ainda que seria um erro subestimar o impacto da rivalidade interforças e intraforça, a despeito da renovada ênfase que o Congresso faz incidir no estímulo a respostas combinadas a ameaças contra a segurança. O Projeto Livro de Prata do STRATCOM, por exemplo, foi substituído por uma nova iniciativa, o Documento de Apoio ao Planejamento de Teatro de Operações.
O Projeto Livro de Prata foi abandonado, aparentemente depois de outros CINCs objetarem ao que entendiam ser um esforço por parte do STRATCOM de monopolizar o planejamento de ataques a forças militares em apoio da TMD. Numa época de orçamentos estáveis ou minguantes, qualquer esforço no sentido de despender um esforço combinado e, neste caso, potencialmente integrado, irá provavelmente enfrentar grande resistência oriunda de alguma parte do setor de defesa.
Conclusão
Ao adotarem um paradigma de ASW para a TMD, as forças singulares estariam iniciando uma nova forma de guerra combinada. Ao invés de reinventar a roda, uma idéia usada com eficácia por uma Força poderia ser tomada emprestada para tratar de um problema complexo multiforças.
De fato, romper o tabu contra tomar emprestadas idéias por outros utilizadas abre um inteiro domínio de possibilidades. Sempre existe o perigo de que alguns possam escolher imitar de modo cego as capacidades hauridas por outras forças singulares, mesmo sendo provável que o tamanho dos orçamentos de defesa pós-guerra fria reduziria enormemente a eficácia dessa tática orçamentária.
Mas o fato de uma idéia originar-se justamente em uma força singular não significa que deva ela ser banida para sempre do esforço de promoção de uma estratégia combinada.