Navios-aeródromo
ou porta-aviões são os maiores navios de guerra da atualidade e destinam-se a
servir de bases aéreas móveis para a moderna guerra aeronaval. O advento destes
navios no século XX, tornou os principais navios de guerra de até então, os grandes
encouraçados, em personagens da história. O valor militar destes pesados vasos
de guerra baseava-se nas suas grandes baterias de grosso calibre, cujos
alcances (cerca de 30 a 37 km) não foram páreo para as aeronaves embarcadas que surgiam nos cenários
de operações. A ameaça aérea viera para ficar, tanto nos teatros terrestres
como navais. O cenário bélico atual é dominado pela aviação de caça e ataque, e
qualquer força de superfície moderna, seja terrestre ou naval, deve ser
planejada levando em consideração esta componente de alto valor militar. A
Segunda Guerra Mundial fez dos grandes encouraçados, até então senhores dos
mares, grandes alvos móveis, como experimentaram os britânicos no sudeste
asiático. Um único navio capaz de lançar e recolher aeronaves, pode projetar
seu poder à distância do alcance de cada uma delas, algo em torno de 300 ou 500
km, mantendo-se sempre em uma posição segura a retaguarda da área de operações,
dispensando desta forma, as blindagens características daqueles pesados e até
hoje imponentes vasos de guerra. São a peça central de qualquer esquadra que os
possui, que opera em função deles e constituem ao lado dos submarinos de ataque
os principais meios de dissuasão destas forças.
Devido à
proximidade dos principais centros populacionais com o mar, as forças navais
podem influenciar significativamente os eventos mundiais, e os meios de
projeção de poder e ataque naval são parte integrante da estratégia militar
nacional das grandes potências. A capacidade de controlar desde as rotas
marítimas até o terreno costeiro, penetrando profundamente no interior, é
necessária para estabelecer uma zona segura de desembarque para as forças
anfíbias de intervenção. Dessa maneira, as marinhas de guerra e seus
fuzileiros navais são a força vocacionada para estabelecer nestas locações as
chamadas “cabeças de praia”, ocupando portos e aeródromos seguros e abrindo
caminho para ações posteriores de forças mais volumosas do exército. Dispor de
uma base aérea móvel, capaz de ser posicionada rapidamente em qualquer lugar do
planeta é vital para que estas manobras sejam possíveis, fornecendo apoio aéreo
para fogo de supressão ou para o lançamento de helicópteros com tropas e
suprimentos.
A Evolução do Navio-Aeródromo
A história destas
notáveis e poderosas naves de guerra se iniciou em novembro de 1910, quando um
aviador chamado Eugene "George" Ely voou a partir do convés do
cruzador USS Birmingham, e em janeiro de 1911, vindo de uma pista em
terra, desembarcou no cruzador USS Pennsylvania, cujo “deck” foi
parcialmente coberto por um convés temporário, e depois decolou novamente do
mesmo convés. Os oficiais navais que acompanharam estes experimentos logo
entenderam que aeronaves trariam novos horizontes às operações navais, e dariam
aos comandantes de frota uma visão muito mais ampla de seus cenários, que até
então se limitava ao alcance de seus binóculos. No entanto, os decks de
pouso e decolagem nas duas extremidades de um navio eram vistos como demasiado
extensos, e o ônus decorrente de tal configuração era excessivo. Partiu-se
para a ideia de uma catapulta, cuja pista fixa cobriria as armas posteriores de
um grande cruzador. Vários navios foram modificados, carregando grandes
hidroaviões que pousariam no mar quando retornassem e seriam recolhidos por
gruas.
Os britânicos
também passaram a avaliar o conceito na mesma época, e converteram navios
mercantes em navios-aeródromo primitivos durante a Primeira Guerra Mundial.
Eles demonstraram que a aviação naval se tornaria uma parte indispensável das
frotas dali em diante. A Royal Navy decidiu concluir um novo navio de
guerra originalmente concebido como um super “Dreadnought” para a Marinha do
Chile e confiscado por ocasião da Primeira Guerra Mundial, no HMS Eagle,
um navio porta-aeronaves. O cruzador leve "HMS Furious” recebeu
um convés de decolagem no lugar de uma de suas duas armas de 18
polegadas. Ele protagonizou o primeiro pouso britânico em um navio, em
1917, mas o turbilhão de ar em torno de sua superestrutura causou sérios
problemas, resultando em uma morte. O HMS Hermes, do tamanho de um
cruzador, foi o primeiro navio a ser projetado originalmente para ser uma nave
porta-aeronaves, mostrando sua importância para a Marinha Real, na medida em
que o dispêndio de recursos era o mesmo de um cruzador pesado. Ao mesmo
tempo, todos os navios capitais britânicos passaram a ser equipados com
infraestrutura de voo.
A aviação naval
assumia claramente seu lugar nas operações. Os alemães usavam Zepelins
para as tarefas de esclarecimento; em agosto de 1916, um alerta vindo do
Zeppelin evitou que sua frota em alto mar fosse engajada por uma força da Royal
Navy. Os britânicos logo viram a importância de mandar caças para abater
os Zeppelins, que estavam fora do alcance das armas de superfície. Os
britânicos não demoraram a internalizar o potencial ofensivo de suas aeronaves
navais. Em 1918, parecia claro que a frota alemã permaneceria no porto,
impedindo os britânicos de usar seu poder naval ofensivamente. As
aeronaves ofereciam uma maneira única de chegar aos alemães que não tinham disposição
para zarpar de seus atracadouros. Em 1916, os britânicos começaram a
desenvolver torpedeiros, e em 1918 eles tinham naves porta-aeronaves
suficientes, prontas ou em fase de apronto, para planejar um ataque aeronaval à
frota alemã no porto. Eles repetiram a fórmula quando executaram
exatamente o mesmo ataque contra a base de Taranto onde estava a frota
italiana, em novembro de 1940, sendo que este ataque pode ter inspirado o
ataque japonês a Pearl Harbor. Os oficiais norte-americanos ligados à Royal
Navy também acompanhavam a evolução deste novo tipo de navio de
guerra. Durante a Primeira Guerra Mundial, um construtor naval britânico
chamado Stanley Goodall trouxe à US Navy planos destes navios. Como várias
outras marinhas, a US Navy estava determinada a experimentar esta nova
possibilidade de poder marítimo.
A primeira
experiência dos EUA no campo da aviação naval foi converter um grande navio
mineiro chamado Júpiter em um navio-aeródromo experimental. Foi
comissionado como USS Langley em 1922. O Langley era lento
e possuía capacidade limitada de hangar. Após a Primeira Guerra Mundial,
os EUA e o Japão lançaram-se na renovação de seus meios navais. Em 1921 o
governo dos EUA convocou uma conferência de desarmamento naval a fim de frear a
corrida armamentista que estava acontecendo. O Tratado de Washington
resultante, cancelou a maioria dos novos navios de guerra e cruzadores de
batalha então planejados, e permitiu a conversão deles de 2 navios-aeródromo
para cada signatário. Como os cascos que estavam sendo construídos eram
muito grandes, os navios resultantes eram muito maiores e muito mais espaçosos
do que qualquer navios-aeródromo que poderia ter sido projetado naquele
momento, quando a aviação naval ainda engatinhava. O mesmo tratado permitiu a cada
uma das grandes marinhas o que poderia parecer uma tonelagem
extraordinariamente grande, dado que esses navios ainda eram
experimentais. Os britânicos exigiram essa tonelagem alta porque sua
experiência mostrou que a frota demandaria um grande braço aéreo e eles
acreditavam que nenhum navio poderia operar muitas aeronaves. Esta
cláusula tornou possível aos americanos e japoneses construir navios poderosos
para dominar os primeiros meses da Guerra do Pacífico. Ironicamente, os
britânicos se viram com excesso de navios experimentais que haviam começado
durante a Primeira Guerra Mundial. Embora soubessem que esses navios eram
obsoletos, duvidavam que o Gabinete os substituísse de bom grado. Assim, a
Royal Navy não pôde iniciar seu próprio programa de construção de navios
porta-aeronaves até que a limitação geral da tonelagem expirasse em 1937, sendo
tarde demais e para se equiparem para o grande conflito mundial que se
seguiria.
Sem qualquer
excesso de tonelagem obsoleta, os EUA construíram o USS Ranger como a
primeira de 5 belonaves. Originalmente se pensava que navios menores
seriam mais práticos, e de fato, antes de serem concluídos, os
grandes Lexington pareciam ser elefantes brancos. Acabaram sendo
adequados, mas em parte porque a US Navy concluiu erroneamente que teriam que
operar individualmente, e o Ranger acabou sendo pequeno demais. Os
designers americanos passaram a trabalhar em um novo navio cerca de 50% maior,
o Yorktown . Ele e sua nave irmã Enterprise, foram
seguidas por uma terceira melhorada, o Hornet , depois que a
limitação entre guerras terminou. Foram navios muito bem sucedidos. O
Enterprise lutou em todas as batalhas do Pacífico, sobrevivendo à
guerra. Os outros foram afundados em 1942, mas somente depois de terem
ajudado a destruir a força de navios-aeródromo japonesa em Midway. O
Hornet demonstrou o alcance do poder aéreo embarcado quando lançou
bombardeiros do Exército B-25 para atacar Tóquio em abril de 1942, de forma
improvisada. Embora os danos fossem mínimos, este ataque foi muito bem sucedido
por convencer os japoneses de que eles tinham que destruir os navios
sobreviventes da US Navy, resultando na Batalha de Midway - que se
mostrou fatal para 4 navios. Além disso, a capacidade industrial dos EUA
poderia mais do que substituir os 4 navios perdidos em 1942, não se podendo
dizer o mesmo do Japão. Os navios de guerra americanos recém-construídos
dominaram a Guerra do Pacífico a partir de 1943.
A US Navy, ao
contrário dos britânicos, testou seus conceitos no campo de jogos de guerra do
Naval War College e não apenas no mar. Assim, os navios e aeronaves
envolvidos puderam adotar quaisquer características que parecessem relevantes
para a guerra futura. Os oficiais puderam estimar o que as aeronaves do
futuro, pois as do momento eram muito limitadas, poderiam contribuir para uma
batalha naval. Os jogos mostraram o quão eficaz seriam as aeronaves quando
empregadas em grandes formações. O então capitão Joseph Reeves levou essa
lição com ele quando assumiu o comando da força aeronaval, que na época era de
poucas unidades designadas para o USS Langley. Os aviadores navais
dos EUA seguiam a prática britânica de guardar cada avião que pousava no
hangar, antes que o próximo pousasse, da mesma forma que aeronaves em terra
eram deslocadas para liberar a pista. Isso resultava num circuito lento de
operação. Reeves entendeu que ele precisava encontrar uma maneira de
potencializar o poder aéreo do pequeno Langley . Chegou à
conclusão que não era necessário todo o convés para pousar. Ao invés de
serem hangarados numa faina lenta, as aeronaves poderiam simplesmente ser
empurradas à frente, protegidas das aeronaves que pousavam por uma barreira de
cabos metálicos. Dessa maneira poderiam ser recolhidas com muito mais
rapidez, e ser agrupadas mais facilmente para o lançamento. O
Langley passou a operar 4 vezes mais aeronaves do que antes da chegada de
Reeves.
O contraste entre
a visão de Reeves e a da Royal Navy resultou desta ter entregue suas aeronaves
à nascente RAF em 1918. Quando foram executados testes para ver quantas
aeronaves um navios-aeródromo poderia operar, valeram-se de conceitos de
operação em bases terrestres, e com pilotos sem experiência no meio naval, que
naturalmente tinham pouco interesse em correr o risco de colidir com aeronaves estacionadas
no restrito espaço de um navio-aeródromo, enquanto pousavam. A RAF também
não estava interessada em fornecer a massa de aeronaves que um comandante da
frota poderia querer. Reeves tinha uma visão muito mais ampla. Ele
precisava de muitas aeronaves pilotadas por oficiais navais, com os instintos
de piloto sobrepujados pelos instintos de marinheiro. Operar aeronaves a
bordo exigia disciplina rígida e controle cuidadoso; não foi por acaso que
oficiais dos EUA que visitavam os navios-aeródromo britânicos na década de 1930
ficaram impressionados com a pouca disciplina de segurança destes. O
aviadores navais dos EUA entenderam de imediato que o negócio deles era muito
perigoso, ao contrário dos britânicos, cuja visão era bem diferente.
A bordo dos navios
americanos, o número de aeronaves dependia do tamanho do convés de voo, no qual
todas elas estariam estacionadas antes da decolagem ou após o pouso. A US
Navy, portanto, optou por decks de voo maiores. Os hangares eram vistos
como locais onde as aeronaves poderiam ser reparadas. Os britânicos, por
outro lado enfatizavam a funcionalidade do hangar, e quando não conseguiam
espaço suficiente com um casco relativamente curto, eles desenvolviam hangares
de 2 níveis e antes da Segunda Guerra Mundial, eles se interessavam em proteger
as aeronaves dentro do hangar. Os navios norte-americanos não poderiam ter
um grau de proteção semelhante, com a teoria de que seus decks de madeira leves
poderiam simplesmente ser reparados no mar. Quando os navios de ambas as marinhas
sofreram os golpes provocados pelos pilotos Kamikaze em 1945, muitos oficiais
americanos ficaram impressionados com os projetos britânicos, comentando que
simplesmente retiravam o que restava do Kamikaze e retomavam as
operações. Eles não perceberam o preço pago pelos britânicos. Durante
o grande conflito, os marinheiros reais foram obrigados a adotar pois seus
decks eram limitados. Os decks de voo mais curtos faziam com que muitas
aeronaves perdessem os cabos de retenção e esbarrassem nas barreiras, com o
saldo de muitos pilotos mortos. Os navios dos EUA não eram tão perigosos.
Com as alterações
implementadas por Reeves, os 2 maiores navios operavam 100 aeronaves
cada. Estes números permitiam demonstrar todo o potencial da aviação
embarcada, em uma escala muito além dos conceitos britânicos, que foram
pioneiros. Por exemplo, durante seu primeiro exercício de grande escala em
1929, o Saratoga fez um ataque surpresa ao Canal do Panamá, mostrando
que os navios-aeródromo podiam estender o alcance da frota muito além da
realidade de até então, e mesmo atacar outras frotas. A estratégia em
evolução nos EUA para uma guerra contra o Japão, considerado o inimigo mais
provável, envolveu a captura de ilhas para servir de bases à medida que a frota
se movia para o oeste. As aeronaves navais podiam fornecer aos Marines a
vantagem de que precisavam ao desembarcar. Todos os caças navais de 1929
dos EUA foram projetados para carregar bombas, pois os estrategistas
norte-americanos entendiam o quão importante estas bases aéreas flutuantes
seriam em uma guerra, e começaram a discutir a conversão de navios mercantes,
para aumentar o seu número.
As grandes
capacidades demonstradas pela aviação embarcada justificaram a construção de um
grande braço aeronaval, com considerável efeito na indústria aeronáutica dos
EUA. Os oficiais navais perceberam que os navios-aeródromo e a aviação
naval tinham um futuro brilhante à frente. No final da década de 1930, o
Conselho Geral da Marinha, responsável por aconselhar o Secretário da Marinha e
formular políticas de construção de navios de guerra dos EUA, estava se
perguntando quando a tecnologia aeronáutica amadureceria a ponto das armadas
reconfigurarem suas frotas. Naquela época, o principal freio na construção
de navios-aeródromo nos EUA era a estrutura do tratado do
entre-guerras. Isso porque, apesar de o Tratado de Washington ter expirado
em 1936, a construção naval dos EUA antes da Segunda Guerra Mundial foi baseado
no requisito de manter uma frota moderna do tamanho imposto pelo tratado.
A muito
bem-sucedida classe Essex com 24 unidades construídas, da época da
Segunda Guerra, era na verdade uma versão ampliada do Yorktown do
pré-guerra, que era incomumente grande para a época porque o
Lexington e o Saratoga demonstraram o valor de um grande número
de aeronaves a bordo de cada navio. Quando os EUA se aproximaram da guerra em
1941, começaram os trabalhos de conversão de navios mercantes em navios de
escolta, inspirados em certa medida pela experiência britânica. Quando a
guerra começou, parecia urgente converter navios de guerra em construção em
navios-aeródromo. Projetos foram considerados, rejeitados, mas no entanto,
9 novos cruzadores leves se tornaram os navios-aeródromo leves da
classe Independência, rápidos o suficiente para servir ao lado
dos Essex maiores. Nem a Grã-Bretanha nem o Japão conseguiram
construir nesse ritmo. A enorme infraestrutura aeronaval dos EUA de antes da
guerra podia ser expandida para treinar novos pilotos e outras pessoas, e
também oficiais seniores para comandar uma frota desta natureza muito
expandida. No final da guerra, a US Navy possuía mais de 100 navios, em
comparação com a pequena frota de 1941. A maioria era de conversões
rápidas e relativamente ineficientes de cascos de navios e cruzeiros mercantes,
mas forneciam o apoio aéreo necessário no Atlântico e no Pacífico.
Demonstrou-se o
quão flexível a aviação naval poderia ser. Antes da Segunda Guerra
Mundial, o principal papel das aeronaves navais era derrotar a frota do
inimigo. Os exercícios do pré-guerra mostraram potenciais valiosos como
apoiar desembarques anfíbios e atacar instalações em terra. Em 1945, com a
frota japonesa praticamente destruída, estes navios assediaram alvos japoneses,
incluindo a própria Tóquio. A equipe da Marinha apontou que os
navios-aeródromo podiam montar ataques estratégicos comparáveis em volume ao
que a Força Aérea do Exército que usava seus bombardeiros pesados. No
Atlântico, estes navios se mostraram inestimáveis no combate aos
submarinos alemães. No final da guerra, a Marinha encomendou o primeiro de
3 grandes navios da classe Midway. Comparados com o Essex, eles eram mais
longos e tinham decks de voo blindados, mas pretendiam operar o mesmo tipo de
aeronave.
Os grandes
navios-aeródromo modernos como USS George H W Bush foram concebidos
após a Segunda Guerra Mundial. Com a derrota do Japão, parecia improvável
que os EUA voltassem a enfrentar uma grande potência marítima. Ao que tudo
indicava a URSS seria o próximo inimigo. Qual seria o papel da marinha em
uma guerra contra esse poder terrestre? Os soviéticos tinham a maior frota
submarina do mundo em 1941, e muitos argumentaram que o principal papel naval
futuro seria simplesmente combater uma futura batalha do Atlântico. Os
grandes navios-aeródromo seriam válidos neste cenário? A nova USAF, criada
em 1947, mas claramente já atuante em 1945, argumentou que eles seriam
inúteis. Seus estrategistas sustentavam que o futuro da guerra pertencia
aos bombardeiros de longo alcance armados com armas nucleares. O principal
papel da US Navy nesta guerra potencial seria o de combater os submarinos
soviéticos que ameaçariam o suprimento às bases além-mar destes
bombardeiros. A US Navy contra-argumentou que se os soviéticos adotassem
os novos tipos de submarinos que os alemães estavam introduzindo no final da
guerra, a melhor contramedida seria lançar ataques aéreos em suas bases a
partir de seus navios.
Mesmo antes do
final da Segunda Guerra Mundial, a US Navy reuniu oficiais experientes para
refletir sobre o futuro dos navios-aeródromo, que agora considerava sua
principal arma. Eles logo concluíram que o principal valor de um futuro
navio-aeródromo estaria em sua capacidade de entregar bombardeio pesado, por
exemplo, para destruir bases submarinas inimigas. Muitos também devem ter
lembrado o enorme impacto do ataque de 1942 ao Japão. Ao contrário dos
bombardeiros terrestres que voam de bases fixas cuja localização é conhecia, os
aviões navais podiam vir de quase qualquer direção ou lugar. Por exemplo,
a ameaça de tais ataques forçaria os soviéticos a espalhar suas defesas aéreas
com um custo muito maior por qualquer nível de defesa que desejassem. Esse
tipo de alavancagem reduziria os recursos disponíveis para qualquer ataque, por
exemplo, na Europa Ocidental. Eisenhower comparou a Europa Ocidental a uma
península na qual um exército soviético poderia invadir, com a marinha apoiando
pelos seus flancos. Ao longo de sua presidência, ele viu a mobilidade do
poder marítimo dos EUA como o melhor contraponto à mão-de-obra em massa que os
soviéticos e os chineses poderiam empregar.
Um bombardeiro
pesado baseado em navios-aeródromo também poderia lançar bombas nucleares, mas
isso não parece ter sido a principal consideração em 1945-46. Como as
bombas em questão eram cerca de 4 ou 5 vezes mais pesadas que as transportadas
por bombardeiros baseados nos navios-aeródromo existentes, o navios-aeródromo
do futuro teria que operar aeronaves muito maiores. Em 1948, um novo
navio-aeródromo, com mais do dobro do tamanho do Essex da época da
guerra, foi projetado. Embora sua quilha tenha sido lançada em 1949, ela
foi congelada quase que imediatamente, vítima de financiamento restrito e uma
campanha da USAF para preservar seu monopólio em bombardeios pesados. No
entanto, a US Navy já havia recebido autorização para usar essas armas em
combate e, em 1949, estava próxima de ter uma capacidade de bombardeio nuclear
a bordo dos navios-aeródromo da classe Midway, na forma de grandes aviões de
patrulha como o Neptune, normalmente baseados em terra. Enquanto isso,
começaram a ser modificados os navios-aeródromo existentes da classe Essex para
operar jatos, coma instalação de novas catapultas e provisão para combustível
de aviação. No entanto, os primeiros caças a jato navais já podiam operar
mesmo a partir de navios não modificados ainda em serviço em 1950.
A US Navy sempre
argumentou que o valor de um navio-aeródromo residia em sua
flexibilidade. Isso foi dramaticamente demonstrado em junho de 1950,
quando navios-aeródromo americanos e britânicos forneceram grande parte do
apoio aéreo por conta da ocupação dos aeródromos sul-coreanos pelos seus
vizinhos do norte. Jatos que operavam com os navios-aeródromo americanos
desafiaram os MiG-15 fornecidos pela Rússia, operados pelos chineses e os norte-coreanos. O
projeto de um grande navio-aeródromo foi ressuscitado nos EUA, embora, pelo
menos em teoria, fosse uma ferramenta flexível de guerra limitada e não uma
arma estratégica. O primeiro dos navios deste tipo do pós-guerra, o
USS Forrestal, foi uma versão ligeiramente reduzida do projeto abortado em
1949. As tentativas até então de reduzir a frota de navios-aeródromo foram
revertidas, e os navios-aeródromo da classe Essex, construídos
durante a guerra, foram devolvidos ao serviço e modernizados especificamente
para operar jatos.
Além disso, em
1954, as armas nucleares já eram pequenas o suficiente para serem transportadas
pela aviação embarcada, e não havia mais dúvida de que as aeronaves dos EUA
lançadas do mar no entorno da Eurásia poderiam devastar a URSS e seus
aliados. Elas compunham uma parte importante de qualquer ofensiva nuclear
que os EUA viessem a implementar. Ao assumir em 1953, o governo Eisenhower
via os navios-aeródromo de dissuasão como potenciais ferramentas para emprego
pelos americanos em locais sensíveis como o Vietnã. Assim, quando os
franceses foram derrotados lá (em Dien Bien Phu), o único apoio dos EUA
considerado foi um ataque aéreo de navio-aeródromo, não realizado. Dado o
valor que as navios-aeródromo demonstraram na Coréia, um novo projeto foi
autorizado entre 1952 e 1958, culminando no primeiro navio movido a energia
nuclear, o USS Enterprise que deixou recentemente o serviço ativo. Dada
sua condição de protótipo, foi seguido pelo USS América não nuclear e
o terceiro da Classe Kitty Hawk. Outro navio com esta propulsão seria
autorizado quando se adquirisse experiência suficiente. Depois que a
construção deste navio-pioneiro foi concluída, destinaram-se as verbas ao
programa de submarinos estratégicos de mísseis, que assumiram a missão nuclear
estratégica na US Navy, mas não sua missão de apoio às operações dos EUA em
áreas de crise em todo o mundo.
Dada a
experiência dos navios-aeródromo no Vietnã, o secretário de Defesa Robert S.
McNamara, um cético, sentiu-se compelido a aprovar uma nova geração de
navios-aeródromo, pois como a US Navy postulou imediatamente após a
Segunda Guerra Mundial, que simplesmente expandindo a área de onde os ataques
poderiam surgir, a defesa antiaérea do inimigo se complicaria sobremaneira. No
final da Guerra do Vietnã houve a missão de resgate do navio mercante
americano Mayaguez, que havia sido sequestrado por cambojanos. Como
naquela época, os EUA não tinham mais bases aéreas na área, coube a aviação
naval a tarefa. Administração após administração, descobriu-se que a cada
crise os navios-aeródromo eram as únicas bases aéreas disponíveis.
Os novos
navios-aeródromo e os navios reconstruídos da
classe Essex e Midway se mostraram viáveis devidos às
modernas inovações adotadas pelos britânicos, como a catapulta a vapor e o
convés em ângulo. É por isso que o novo USS Forrestal pode
permanecer na linha de frente ao longo da vida de várias gerações de aeronaves
navais de crescente sofisticação e desempenho. Ele e seus navios irmãos
definiram o projeto de ilha para controle de voo, que ainda vemos no USS Gerald
Ford, mais de 60 anos depois.
Os
navios-aeródromo foram bem-sucedidos por serem os primeiros navios de guerra
modulares: podiam operar gerações sucessivas de aeronaves navais sem precisar
de reconstrução radical a cada mudança. Os limites externos de tamanho,
velocidade de pouso e decolagem estabelecidos pelos bombardeiros nucleares do
pós-guerra, foram suficientes para comportar as aeronaves posteriores, como o
caça Grumman F-14 Tomcat e o bombardeiro Grumman A-6 Intruder. O atual
F/A-18 Hornet é menor que aqueles e o Lockheed Martin F-35 Lightning II se
mantém dentro desses limites. Em um sentido amplo, uma navio-aeródromo é
um amplo convés ou um hangar aberto, pronto para operar com qualquer aeronave
que possa lançar e recolher. Ele ainda precisa transportar equipamento de
suporte especializado para cada novo avião, mas isso exige muito menos esforço
do que a reconstrução de navios de guerra de superfície convencionais para
acomodar novas armas. A mudança interna mais importante que ocorreu para
acomodar uma nova geração de aeronaves foi a instalação de sistemas
operacionais computadorizados iniciada na década de 1960. Estas inovações
mudaram radicalmente a capacidade do navio-aeródromo/grupo aéreo, mas de forma
relativamente fácil de ser acomodada do ponto de vista físico. O mesmo
navio suportou várias gerações de armas aéreas, armas de autodefesa começando
com canhões de 5 polegadas até os atuais mísseis de curto alcance e radares. Assim,
o mesmo navio ofereceu capacidades dramaticamente diferentes ao longo dos anos.
Os maiores
navios-aeródromo da atualidade pertencem a US Navy e embarcam mais de 80
aeronaves de combate e 2.000 marinheiros, sendo que além do RU os operam a
França, a Itália, a Espanha, a Rússia, o Brasil, O Japão a China, a Índia e a
Tailândia. Brasil e Japão operam navios porta-helicópteros. Na US Navy, os
esquadrões ali designados voam diferentes tipos diferentes de aeronaves como os
caças multifuncionais F/A-18 Hornets e F-35B, helicópteros anti-submarino SH-60 Seahawks, aeronaves AEW E-2C Hawkeyes
entre outras. Estes navios com cerca de 50 aeronaves de ataque podem realizar
mais de 150 ataques por dia contra alvos costeiros, porém mantendo-se à
distância para evitar de serem atacados.
O fato do USS
Gerald Ford se assemelhar ao USS Forrestal de meio século atrás
não reflete um pensamento conservador, mas funcional. A US Navy sempre
experimentou alternativas. Diferentes arranjos no convés de voo,
navios-aeródromo menores para aeronaves STOVL (decolagem curta e aterrissagem
vertical), foram construídos para apoio a operações anfíbias. Quando o
primeiro navios-aeródromo nuclear, USS Enterprise, estava sendo projetado,
um arranjo semelhante ao USS Forrestal foi considerado mas não
adotado, com 2 decks de voo e a ilha (com um convés angular de cada
lado). O convés de voo foi modificado ao longo dos anos, com a ilha
empurrada para trás, porém essas mudanças parecem ser apenas cosméticas e de
importância menor. A Classe Gerald Ford e a Classe Nimitz diferem do
USS Forrestal por serem nucleares. Os navios-aeródromo eram uma
possibilidade óbvia quando a US Navy adotou a energia nuclear, começando com 8
reatores no USS Enterprise , concluído em 1962. Eles ofereceram
enormes vantagens, mas a um preço alto. Assim, o primeiro navio-aeródromo
a ser construído após a conclusão do USS Enterprise , o USS John
F. Kennedy , voltou à propulsão à vapor convencional. Enquanto o
navio estava sendo construído, O projeto do reator nuclear naval se aperfeiçoou,
com USS Nimitz sendo equipado com apenas 2 reatores, demandando muito
menos pessoal para sua operação e um design geral mais simples.
O USS George
H W Bush é uma última unidade da classe Nimitz e sua versão mais
refinada. As 3 primeiras unidades desta classe foram sucedidas por mais 6
outras modificadas iniciando no USS Theodore Roosevelt e depois pela
última que é o USS George H W Bush. A melhoria mais óbvia do casco é um
longo arco bulboso, introduzido no USS Ronald Reagan, construído imediatamente
antes do “Bush” e provavelmente, a mudança mais importante foi a introdução de
um novo sistema de combate (ASDS), concebido original e ironicamente para a
autodefesa de navios menores. O novo navio possui ilha e mastro reprojetados
para comportar equipamentos futuros. As melhorias no projeto reduziram a
tripulação de 3227 para 2900 e o complemento aéreo de 2865 para 2700, pois o
custo do pessoal embarcado é alto.
Navios-aeródromo
são naves caras, e de tempos em tempos sugere-se que unidades menores sejam
construídas. Tais propostas invariavelmente falham por várias razões. Primeiro,
qualquer navio-aeródromo precisa de certos equipamentos básicos, como seu
sistema de operações de combate e seus radares, sendo o casco relativamente
barato seja qual for o tamanho. Diminuir um navio-aeródromo economiza
surpreendentemente pouco. Cascos menores operam menos aeronaves, e o custo por
aeronave pode aumentar drasticamente. É imprudente reduzir o número de
aeronaves que eles podem acomodar, e um convés de voo com menos densidade
proporciona uma rotação mais rápida de aeronaves pousando e decolando e,
portanto, mais missões por dia e mais alvos atingidos, e também a capacidade de
se fazer um ataque mais concentrado com mais aeronaves ao mesmo tempo, o que é
impossível em uma navio-aeródromo menor. A questão agora na US Navy é se o
casco básico adotado 3 décadas atrás na classe Nimitz deve ser
aumentado ou não.
Periodicamente,
sugere-se também que o futuro esteja realmente com navios-aeródromo que operem
(menores) aeronaves STOVL. Outras marinhas estão seguindo este caminho, mais
por impossibilidade de ter o padrão da US Navy do que por qualquer outro
motivo. Esta opção parece ter sido sugerida pela primeira vez em 1955, em
conexão com um caça STOVL que poderia operar tanto de navios-aeródromo quanto
de grandes navios de superfície e, portanto, poderia ser distribuído por uma
frota. Isso permitiria aos navios-aeródromo se concentrar a atacar aeronaves,
que na época pareciam não exigir muito em termos de catapultas e decks de voo,
com as missões de bombardeio nucleares e convencionais de longo alcance a cargo
de mísseis. A tecnologia, porém, se desenvolveu em outra direção. O STOVL então
nunca se materializou até então na US Navy, a não ser nas unidades de apoio anfíbio.
RU, Itália, Espanha, Índia e Tailândia, além dos US Marines operam estas
aeronaves.
A ideia do STOVL
retornou por volta de 1970, inspirada no sucesso do Harrier britânico. A US
Navy considerou seriamente a construção de um pequeno navio-aeródromo chamado
Navio de Controle Marítimo, que foi concebida como um substituto mais acessível
para grandes navios-aeródromo e um meio de lidar com submarinos no meio do
oceano. A principal questão era se um STOVL de desempenho suficientemente alto
poderia ser construído e a resposta na época foi negativa. A Espanha construiu
um navio de controle marítimo, mas a US Navy não. O atual F-35B oferece alto
desempenho STOVL, mas nenhum navio de controle marítimo foi ressuscitado ou
proposto. Pode ser verdade que um pequeno navio possa suportar alguns
F-35Bs, mas alguns desses aviões oferecem relativamente pouca potência
agregada. Quanto menor o navio, menos ele fornece a cada avião em termos
de armas e capacidade de manutenção. Para fornecer tanta força de ataque
quanto um único grande navio-aeródromo é capaz, a US Navy teria que construir
muitas mais pequenas unidades e o custo total seria muito maior. O mesmo
ocorreria com a vulnerabilidade: é preciso um casco grande para absorver os
danos.
Emprego
Operacional
Um navio-aeródromo
serve de base aérea flutuante a uma força aérea embarcada, capaz de aplicar seu
poder militar a centenas de quilômetros do navio, que por se manter em
constante movimento não pode ter sua posição determinada com precisão pelo
inimigo, tornando incerta as direções prováveis de ameaça aérea, obrigado-o a
desdobrar seus sistemas antiaéreos e de cobertura aérea em uma área muito
grande, onerando seus meios de defesa e permitindo que inúmeras brechas se
formem, pois não se pode dar cobertura aérea o tempo todo em áreas demasiado
extensas, mesmo com abundância de meios. Em um confronto contra um inimigo que
conte com estes navios, neutraliza-los o quanto antes é desejável, o que faz do
navio-aeródromo um alvo prioritário.
Uma forma de
saber a posição de um navio-aeródromo é monitorá-lo 24 horas por dia, seja por
aeronaves de patrulha ou seguindo-o com submarinos. Para isso será necessário
se manter incógnito e driblar seus meios de cobertura, que podem ser
representados por caças de alto desempenho, submarinos de propulsão nuclear e
aeronaves AEW, tarefa difícil e perigosa. A primeira modalidade de guerra a ser
travada em qualquer tipo de conflito “high-tech” é a guerra eletrônica (EW),
onde os contendores empregam todos os seus meios de busca e inteligência para
detectar e identificar os meios do inimigo, procurando mapear sua “ordem de
batalha”. Radares, sonares e sensores EW passam a esquadrinhar diuturnamente o
espaço de batalha, radiogoniômetros procuram triangular e plotar a posição dos
emissores e dar aos comandantes suas primeiras informações de combate. Quem
detecta antes dispara primeiro, se desloca e vence a embate, passando
imediatamente para uma posição de cobertura ou mesmo desconhecida, garantindo
sua sobrevivência. Fogo e movimento são a chave da vitória, porém só se atinge
o que se consegue “enxergar”.
O “espaço de
batalha” de uma força naval é o círculo ao seu entorno onde esta consegue
detectar, rastrear, envolver e engajar ameaças destruindo-as, fazendo isto
antes que estas ameaças façam o mesmo. O alto-mar ou as “águas-azuis” são o
habitat preferido das forças nucleadas em navios-aeródromo, devido a imensidão
do oceano. A presença de acidentes topográficos das áreas terrestres próximas a
costa limita a capacidade defensiva e a liberdade táticas das forças navais,
dificultando a detecção de forças inimigas, situação agravada pela crescente
presença de “águas rasas” onde a detecção de submarinos, mesmo os
não-nucleares, fica prejudicada e as minas navais podem se fazer presentes.
Um
navio-aeródromo normalmente é guarnecido por uma composição variável de
aeronaves, configurada de acordo com a situação tática. Ele pode levar caças de
superioridade aérea e caças bombardeiros, ou caças multifuncionais para
desempenhar ambas as missões, aeronaves de alerta aéreo (AEW), helicópteros e
aeronaves convencionais de combate antisubmarino (ASW) e de apoio a operações
anfíbias, entre outros. Enfrentará 2 tipos de ameaças: a submarina,
caracterizada pelo “impacto” de torpedos, e a aérea, caracterizada pelas
aeronaves de ataque e/ou mísseis antinavio (estes mais prováveis), podendo
(provavelmente) estes serem lançados em ataque de saturação forçando as defesas
ao seu limite. Estas ameaças poderiam ser lançadas por meios diversos como
navios de superfície e submarinos, aeronaves de caça-bombardeio e de patrulha
marítima e mesmo de posições em terra, podendo cada uma delas vir de um ou mais
eixos de ameaça distintos.
Uma defesa
efetiva requer uma ampla composição de cobertura escalonada em várias camadas,
proporcionada por escoltas especializadas ou não, em número que varia de acordo
com a ameaça, sendo um grupo de batalha nucleado em navio-aeródromo sempre
integrado por pelo menos 10 navios, entre escoltas e logísticos. Navios
piquetes vão à frente do grupo, normalmente submarinos operando a mais de 180
km ou mesmo naves de superfície para vigilância de espaço aéreo, tarefa esta
que pode mais adequadamente ser desempenhada por aeronaves AEW na detecção
acima da superfície, deixando para os submersíveis o monitoramento da
superfície e das profundesas. As escoltas operam entre 20 a 50 km do núcleo, e
as unidades mais próximas se encarregam dos vetores que “furarem” esta malha
protetora das unidades de alto valor (núcleo do grupo), os navios-aeródromo e logísticos.
As escoltas mais afastadas tem por missão detectar e engajar as ameaças que
ultrapassarem os piquetes, e devem ser integradas por unidades multifuncionais
com ênfase no combate ASW, pois este tipo de combate requer o máximo de
silêncio para detecção passiva, motivo pelo qual navegam afastados. Meios de
guerra antiaérea (AAW) protegem a operação destas escoltas ASW, procurando
atacar as ameaças antes que atinjam seus pontos de lançamento. Unidades com
sonar rebocado vão e vem, sendo mais eficientes quando no retorno. As unidades
mais próximas, tem ênfase na AAW com seu armamento de defesa de ponto, com SAMs
de curto alcance e canhões de tiro rápido, ambos com capacidade antimíssil,
onde a taxa de fogo se faz de suma importância (O filme “Furia em Alto Mar”
mostra a interceptação de mísseis antinavio por um canhão CIWS de um destróier
russo – muito interessante). Quanto maior a cadência de tiro, mais alvos, que
certamente serão mísseis, serão abatidos. Os meios ASW próximos operarão com
sonares ativos, normalmente a partir de helicópteros ASW com sonares de
imersão, permanentemente no ar. Por serem o núcleo da esquadra e base do poder
ofensivo, os navios-aeródromo são um alvo de alto valor e devem ser
adequadamente defendidos, uma tarefa complexa e cara.
As medidas de EW
são vitais às ações de guerra naval. Para se manter em vigilância um comandante
deve estar atento a toda e qualquer emissão eletromagnética em seu espaço de
batalha, evitando sempre que possível emitir, pois o inimigo detectará sua presença.
O mesmo vale para o ambiente submerso, onde o som é o fator a ser considerado.
Porém sensores como os radares de vigilância só cumpre seu papel a partir de
suas emissões, que podem ser detectadas passivamente muito além da distância
útil ao emissor, sejam elas inimigas ou não. A situação tática ditará qual a
melhor postura a ser tomada. Aeronaves AEW podem emitir de forma mais segura
que as naves de superfície, além de terem um horizonte-radar muito mais amplo.
As aeronaves são
a ponta de lança do poder ofensivo dos navios-aeródromo, e podem levar poder de
fogo a alcances extremamente superiores a qualquer arma orgânica de navios
convencionais. O alcance de uma aeronave pode alvejar uma frota ou um navio de
alto valor à milhares de quilômetros da nave lançadora, bem como penetrar terra
adentro por distâncias semelhantes, sempre contando que o inimigo não sabe de
que direção o ataque surgirá. Navios-aeródromo podem, portanto, entregar poder
de fogo poderoso a distâncias consideráveis. Os tempos modernos trouxeram o
míssil de cruzeiro que rivaliza diretamente com os navios-aeródromo quando a
missão é o bombardeio (sem o ônus de possibilidade de perder o piloto ou ter
que resgatá-lo), seja terrestre ou antinavio, porém só o navio-aeródromo pode
proporcionar cobertura aérea de longo alcance à frota em pontos além do alcance
das bases em terra. Além de levar seu poder militar aos alvos além da praia,
aprofundando o combate e realizando o bombardeio estratégico, são um meio de
altíssimo valor no apoio aos fuzileiros navais em suas manobras anfíbias,
apoiando pelo fogo o desembarque e servindo de base de partida para os próprios
fuzileiros por meios helitransportados.
Tipos
Os
navios-aeródromo podem operar de 5 formas distintas: por decolagem assistida por
lançadeira (catapulta) que pode funcionar a vapor ou mais recentemente no novo
USS Gerald Ford da US Navy com tecnologia eletromagnética, e recolhimento por
aterrisagem enganchada, denominado CATOBAR. Este é o sistema convencional e
atualmente é empregado pelos navios-aeródromo da US Navy e pelo Charles de
Gaulle da marinha francesa, e permite a operação de aeronaves mais pesadas.
O
segundo método é o STOVL onde as aeronaves decolam por seus próprios meios e
são “ajudados” por uma rampa “sky-jump” que permite que a corrida de decolagem
se incline para cima fazendo a aeronave “saltar” no ar. É mais barato que o
anterior por dispensar as lançadeiras, porém as aeronaves são mais leves como o
Harrier britânico (AV-8 nos US Marines). O pouso é vertical como um helicóptero
e é usado pelos ingleses (F-35B, porém já usaram os Harriers nos navios Classe
Invencible e Hermes), italianos, espanhóis e tailandeses. Apesar de poder
decolar na vertical, o Harrier pode levar uma carga muito maior se usar a rampa
de decolagem.
O terceiro método é denominado STOBAR, e consiste na decolagem
como o segundo método, porém o pouso se dá como o primeiro, valendo-se de cabos
de retenção. Opera aeronaves mais pesadas como o Su-33 russo e é usado pela
Índia, China e Rússia.
O quarto método é o mais antigo e consiste na decolagem
não assistida, como usado nos navios-aeródromo da Segunda Guerra Mundial, porém
com meios de parada orgânicos do navio, como os citados cabos e redes. É
importante frisar que durante um processo de lançamento de aeronaves o navio
aeródromo pode colocar seus motores em velocidade máxima e navegar contra o
vento, criando desta forma um vento relativo que facilita a decolagem, seja
qual for o método de operação que utilize, facilitando a operação de decolagem.
Os navios de operação STOL operam normalmente helicópteros, podendo operar
também com limitações aeronaves do tipo do Harrier, Yak-38 (já fora de serviço
e operados nos cruzadores da era soviética Classe Kiev) e F35B. Para operar
estes jatos o convés deve ter a capacidade de suportar o intenso calor gerado
pelos motores direcionais durante o pouso.
Características
Os
navios-aeródromo são basicamente um grande convés plano (flight deck) para
movimentação e operação de aeronaves, tal qual um pátio de manobra de uma base
aérea com dimensões muito reduzidas, com uma ou mais superestruturas montadas
nas laterais, que servem de ponte de comando e torre de controle. Abaixo deste
convés existem o hangar onde são feitas a manutenção de serviço e a manutenção
técnica das aeronaves, subindo ao convés apenas as aeronaves que estão
operando. Nos modelos atuais é montado um convés em ângulo de forma que as
aeronaves que retornam, tenham sua linha de pouso desenfiada dos locais onde
estão as aeronaves a serem lançadas, evitando desta forma que ocorram colisões
se houverem contratempos no enganchamento. Elevadores transportam as aeronaves
do hangar até sua linha de voo e vice versa.
As catapultas
ou lançadeiras, nos navios que as possuem (CATOBAR), são as responsáveis pela
aceleração das aeronaves durante o lançamento. As catapultas (a vapor) têm
cerca de 100 m de comprimento e consistem em um grande pistão embaixo do
convés. Acima do convés, apenas uma pequena conexão traciona a aeronaves,
geralmente por ligação com o trem de pouso. Quando as aeronaves vão ser
lançadas, os operadores a guiam até o ponto de engate e a conectam. Após
uma verificação final, o piloto coloca seus motores em potência máxima e a
lançadeira é acionada, levando a aeronave a 300 km/h em menos de 2 segundos. A
força aplicada a catapulta depende do peso, potência e velocidade de decolagem
de cada aeronave. Um conjunto de cabos e polias puxa a lançadeira de volta
pela catapulta para o próximo lançamento.
As aeronaves são
recuperadas a bordo em um processo conhecido como pouso enganchado (aeronaves com capacidade de pouso vertical não possuem estes ganchos e pousam verticalmente como o Harrier, F-35B e Yak-38). O
objetivo é que um gancho de cauda engate um dos 4 cabos de retenção transpostos
a retaguarda do convés. Esses cabos são conectados a dispositivos
hidráulico-mecânicos que absorvem a energia do pouso, parando a aeronave em
poucos metros. No voo de aproximação, a velocidade da aeronave é mantida
ligeiramente acima da velocidade de estol, com seu combustível e armamento
remanescente descartado para diminuir o peso e a energia da
aeronave. Quando a aeronave toca o convés, o piloto aplica potência máxima
aos seus motores, caso não “enganche” e tenha que decolar novamente. Dessa
forma, a aeronave tem energia suficiente para um novo circuito. Sinalizadores
luminosos ajudam o piloto a saber se está alto ou baixo em relação a trajetória
ideal de pouso. No centro, há luzes âmbar e vermelhas com lentes
Fresnel. Embora todas estejam sempre acesas, a lente Fresnel faz apenas
uma cor de cada vez ser visível ao piloto, e à medida que a o ângulo de pouso
varia ele vê uma configuração diferente. Se as luzes aparecerem acima de
uma barra horizontal verde, o piloto está muito alto ou vice-versa. Se as
luzes estiverem vermelhas, o piloto estará muito baixo.
Nos navios
chineses, russos, espanhóis, italianos, ingleses e indianos e no navio-aeródromo
HTMS Chakri Naruebet da Tailândia as aeronaves são lançadas por meios
próprios com auxilio de uma rampa “sky-jump” (STOBAR). O navio-aeródromo
francês Charles de Gaulle opera como os da US Navy (CATOBAR), inclusive
contando com propulsão nuclear, tal qual.
O design das
aeronaves navais começa com o reforço da estrutura da aeronave e do trem de
pouso, pois estes devem suportar um tremendo choque cada vez que a aeronave é
lançada ou pousa, comparado a uma queda controlada. Cada aeronave possui
na cauda um gancho que ao pousar deve engatar em um dos cabos (geralmente 4)
de aço esticados pelo convés, fazendo o avião desacelerar muito
rapidamente até parar (aeronaves vstol não os tem). Os cabos estão
configurados para parar cada aeronave no mesmo local no convés,
independentemente do tamanho ou peso do avião. Cabos de aço com 35 m e
espessura de 5 a 13 cm acima do convés, dispostos em intervalos de cerca de 10
m ou um pouco mais, se conectam a um cilindro hidráulico que funciona como um
amortecedor gigante. À medida que uma aeronave se aproxima, todos os cabos
são ajustados para acomodar o peso dessa aeronave. Quando o gancho de
retenção da aeronave engata, puxa um pistão dentro de uma câmara cheia de
fluido. À medida que o pistão é puxado para baixo do cilindro, o fluido
hidráulico é forçado através dos pequenos orifícios na extremidade do cilindro,
absorvendo assim a energia da aeronave e travando-a até parar. Um destes
cabos pode frear uma aeronave de 25 ton com velocidade de cerca de 240 km/h em
uma distância inferior a 75 m. Quando a aeronave libera o cabo, o pistão é
retraído e preparado para recuperar outra aeronave em 45 segundos (US Navy).
Um navio
aeródromo deve levar além de sua guarnição aérea, combustível para mover o
navio e abastecer suas aeronaves, armamento para uso das aeronaves, equipamento
e peças para manutenção das mesmas, além de uma tripulação do elemento aéreo
que poder ser igual ou superior a própria tripulação do navio, chegando nos
grandes navios da classe Nimitz a mais de 5600 integrantes, somadas. Estes
navios da US Navy são propulsados por energia nuclear, dispensando o
armazenamento de combustível líquido, com autonomia teoricamente infinita.
Deslocam cerca de 100.000 ton os da Classe Nimitz, 42.500 ton o navio francês e
65.000 ton os novos navios-aeródromo ingleses. Geralmente contam com sistemas
antiaéreos de defesa de ponto para último recurso, sendo a sua segurança
responsabilidade de suas escoltas.
A velocidade é
uma característica importante para os navios-aeródromo, pois eles devem
deslocar-se prontamente para os locais onde são requisitados e devem ser
rápidos o suficiente para evitar a detecção e o direcionamento pelas forças
inimigas, sendo a navio capital das frotas que o possuem. Para evitar
submarinos nucleares por exemplo, eles devem desenvolver mais que 56 km/(30
nós). Um navio-aeródromo moderno deve ser capaz de executar um conjunto de
missões cada vez mais diversificado: diplomacia, projeção de força, resposta
rápida a crises, ataque terrestre a partir do mar, base marítima para forças de
asas rotativas e apoia a ataques anfíbios, guerra anti-superfície (ASUW),
defesa antiaérea e ajuda humanitária para desastres (HADR), são algumas das
missões que um navio-aeródromo deve realizar. Um navio-aeródromo deve ser capaz
de operar com eficiência um grupo de combate aéreo. Isso significa que ele deve
lidar com jatos de asa fixa e helicópteros. É um navio caro de obter e operar,
sendo restrito à marinhas mais abastadas, com a US Navy mantendo mais de 10
unidades, a Royal Navy com 2 unidades e as demais marinhas que os possuem com 1
ou 2 unidades, estando a China em processo de expansão e deverá ultrapassar
esta marca.
Vale ressaltar
que quando se tem apenas uma unidade, o inimigo pode planejar seu ataque para o
período em que esta unidade estiver inoperante para manutenção periódica. “Quem
tem duas tem uma, quem tem uma não tem nenhuma”.