FRASE

"Quem escolhe a desonra a fim de evitar o confronto, a conseguirá de pronto, e terá o confronto na sequência."

segunda-feira, 13 de junho de 2022

Princípios de Guerra *231



Os princípios de guerra são normas consagradas pelo tempo, não aplicáveis em uma sequência definida, e que devem ser internalizadas pelos comandantes militares de todos os escalões, a fim de nortearem suas decisões. Sua aplicação deve ser adaptada a cada situação de forma flexível, sempre precedida pelo bom senso e constituem-se na base de toda operação militar.

Eles formam a base das operações militares convencionais modernas e foram forjados pela experiência adquirida ao longo dos tempos, sendo enunciados sistematicamente no início do século XX. Variam de acordo com a doutrina de cada força em número e semântica, mas todos convergem para uma mesma conclusão, enfatizando as vocações singulares. Podem variar ainda com o tempo, refletindo a evolução da tecnologia e do pensamento militar.

As forças armadas modernas os adotam como parte da sua doutrina e preconizam que devem ser aplicados independentemente de se estar operando nos níveis estratégico, operacional ou tático. Sua aplicação não segue uma lista de conferência com um ordem pré-definida, e se aplicam simultaneamente e da mesma maneira a todas as situações. Quando usados no estudo de campanhas passadas, são poderosas ferramentas de análise, assim como devem ser considerados como premissas no Processo de Planejamento Militar (PPM).

Cada força armada adota seu próprio conjunto de princípios, estando aqui listados 9 deles: Objetivo, Iniciativa, Concentração de Meios, Economia de meios, Manobra, Unidade de Comando, Segurança, Surpresa, Simplicidade (Padrão da doutrina do EB).

Objetivo

Toda operação militar deve buscar um objetivo definido, decisivo e tangível. Para se chegar a ele, frequentemente será necessário conquistar outros objetivos intermediários de menor importância, que igualmente deverão ser claros e tangíveis, sendo que a conquista de cada objetivo secundário deverá contribuir para se chegar ao objetivo estratégico ou principal. Também deverá estar claro o acoplamento entre eles, e a importância da conquista de cada um. Toda e qualquer ação desnecessária a consecução dos objetivos deverá ser evitada. O objetivo a ser atingido e os limites a serem observados são ditados pelo comando, sendo que a linha de ação adotada deve ser preferencialmente uma prerrogativa do executor, salvo orientação contrária. Nenhuma ação deve ser posta em prática sem que um plano adequado tenha sido elaborado para norteá-la.

Iniciativa

A iniciativa deve ser buscada a todo momento, de forma a forçar o inimigo a reagir a um plano já traçado, evitando que este venha a seguir um plano próprio. Quem detém a iniciativa comanda o combate e decide seus rumos, seja tanto em operações defensivas como em ofensivas. Na guerra é necessário ser agressivo e violento de forma a frustrar qualquer esforço de organização por parte do inimigo, evitando que ele decida quando, onde e como combater. Agarrar, reter e explorar a iniciativa é uma das chaves do sucesso.

Concentração ou Massa

O poder de uma força de combate está na eficiente composição desta. Elementos adequados, alocados nos pontos onde produzem seus maiores efeitos, agindo de modo sincronizado e desfrutando de proteção mútua, maximizam o efeito sobre o inimigo com um mínimo de baixas. Não se bate no inimigo com a ponta do dedo de uma mão aberta, e sim com um punho fechado (violenta e decisivamente), visando esmagar seu poder de combate. Uma unidade inimiga vencida será desarmada e presa, a fim de evitar que venha a combater novamente (O cativeiro deverá ser em local longe do risco de resgate). O engajamento procurará o momento em que o inimigo estiver numericamente inferior, seja em pessoal ou meios. Manobras que visam fracionar suas forças são desejáveis e devem ser implementadas a fim de facilitar contatos com contingentes reduzidos (quanto menor o efetivo inimigo maior o efeito de concentração ou massa). Quando se está numericamente inferior, deve-se buscar compensar com meios multiplicadores do poder de combate a fim buscar a vantagem do engajamento, e caso isso não seja possível, o contato deverá ser evitado até que tal situação se configure. Não se engaja o inimigo em inferioridade tática.

Economia de Meios

Todo e qualquer engajamento empregará o poder de combate necessário ao cumprimento da missão, de forma a concluí-la do modo mais efetivo possível, sempre levando-se em consideração a integridade das tropas e procurando preservar no que for possível a disponibilidade do equipamento e recursos logísticos. Não se empregam recursos que podem ser poupados e não se poupam recursos que possam comprometer a missão e os meios de combate. Esforços secundários devem ser limitados ao mínimo, de forma a preservar os sempre escassos recursos disponíveis. Estas considerações revestem-se de maior ou menor importância de acordo com os recursos que as forças dispõem, e como na guerra eles podem ser extremamente limitados, seja pela limitada capacidade de reposição de meios ou deficiências na estrutura logística, seja por infortúnios causados pelo inimigo. A ausência desse ou daquele item em momentos decisivos, pode decidir uma batalha ou mesmo uma campanha. Operações militares demandam esforços logísticos de grande monta e todo alívio e racionalização desta estrutura de apoio é sempre desejável.

Manobra ou Mobilidade

Colocar o inimigo em uma posição de desvantagem pela aplicação inteligente e flexível do poder de combate é o objetivo da manobra. Manobra é o movimento de forças em relação ao inimigo para ganhar vantagem posicional em relação a este. Uma manobra efetiva, evita que o inimigo assuma posições vantajosas e protege as forças aliadas. É usada para explorar sucessos, preservar a liberdade de ação e reduzir a vulnerabilidade. Ela traz continuamente problemas novos para o inimigo fazendo suas ações ineficazes devido a impossibilidade de organização e o lançamento de ações coordenadas. Em todos os níveis a aplicação da manobra requer agilidade de pensamento, planejamento, operatividade, organização, designação de objetivos, aplicação dos princípios de concentração e economia de meios. Ao nível operacional, manobra é quando se decide onde e quando lutar, através da fixação de condições de batalha ou tirando proveito de ações táticas. A manobra é uma forma dinâmica de lutar que rejeita padrões previsíveis no desenrolar das operações.


O comando de qualquer operação deve ser vertical, único e sem paralelismos, em todos os escalões. Forças operando paralelas em uma mesma campanha tendem a duplicar esforços e demandarem mais recursos. A unidade de comando facilita a coordenação, sincronização de ações e a unificação de esforços, além de evitar sobremaneira o chamado “fogo amigo” ou fratricídio. Este princípio deve ser observado mesmo quando forças tiverem comandos distintos, as quais deverão operar de forma combinada.

Segurança

A segurança das forças em combate deve ser prioridade. O risco é inerente a guerra, porém àquele que corre riscos desnecessários, seja por negligência ou por desconhecimento dos fatores que afetam os campos de batalha, com certeza colherá frutos amargos. Conhecer as intenções inimigas de uma forma abrangente e detalhada é vital; bem como suas táticas, doutrina e tecnologias, a fim de evitar surpresas desagradáveis, permitir antecipar seus movimentos e frustrar seu planejamento. A tropa que opera em segurança pode se dar ao luxo de fazer experiências e testar o inimigo de um modo coordenado, estudando sua reação sem que este adquira vantagens inesperadas. A segurança aumenta a liberdade de ação e reduz a vulnerabilidade. Toda operação militar lançada de bases não seguras, sejam físicas ou doutrinárias, está exposta a um grau de risco que se convenientemente explorado pelo inimigo, pode comprometer tanto a si própria, como ao bojo das operações.


Agir onde e quando o inimigo não espera, de uma forma inusitada e criativa pode alterar decisivamente o equilíbrio de um combate. Avanços crescentes da tecnologia, especialmente nos campos das comunicações e vigilância tornaram a surpresa cada vez mais difícil de se alcançar. Fatores que influenciam efetivamente na surpresa são a mobilidade, a efetividade dos sistemas de C3I (comando, controle, comunicações e informações), a capacidade de guerra eletrônica (EW), a variação no modo de agir que impede o inimigo de prever ações, etc... A surpresa pode estar ainda no uso do tempo, na utilização da força e tecnologia, na direção de um avanço, ou na manipulação de qualquer outro fator inesperado pelo inimigo. É um multiplicador de combate poderoso, porém temporário. Não é essencial, se bem que desejável, apanhar o inimigo completamente desavisado; muitas vezes se faz suficiente que ele se dê conta muito tarde para reagir efetivamente. Fatores que contribuem para surpreender incluem velocidade, superioridade de informação e assimetria.

Simplicidade

Todo planejamento deverá basear-se em planos claros e descomplicados, além de ordens objetivas, de forma a assegurar compreensão completa, sem margem a dúvidas ou dupla interpretação. Planos simples propiciam assimilação intuitiva e difíceis de esquecer, e ordens objetivas minimizam o engano e a confusão. A simplicidade é especialmente valiosa quando os soldados e seus comandantes estão cansados, onde avaliações equivocadas podem resultar em graves consequências e detalhes são facilmente esquecidos. Quanto mais simples uma operação se apresentar, maiores as chances de obter êxito. Os planos devem ser simples, porém o planejamento deve ser minucioso.

A Marinha do Brasil adota ainda os princípios da Moral, Exploração e Prontidão em complemento aos já enunciados, e a FAB o da Cooperação, que exprimem a vontade de alcançar o objetivo aceitando os revezes inerentes ao ofício da guerra; a constante prática do esclarecimento visando a ciência da situação; a máxima do "sempre alerta" a fim de não ser pego desprevenido e o implemento do espírito de corpo entre os operadores, respectivamente.

2 comentários:

  1. podes dizer o significado de "C3I"?

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    1. Significa "Comando, controle, comunicações e informações". Significa na prática a descrição dos sistemas de comando e controle lastreados em sistemas informatizados interligados por enlace de dados.

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