FRASE

"Quem escolhe a desonra a fim de evitar o confronto, a conseguirá de pronto, e terá o confronto na sequência."

domingo, 23 de setembro de 2012

Apoio Logístico na Guerra do Golfo *046



INTRODUÇÃO 

O teatro de Operações (TO) do Golfo Pérsico englobava o Iraque, o Kuwait e o norte da Arábia Saudita - cerca de 1,5 milhões de km2 - equivalente ao Estado do Amazonas, com sua maior parte sendo de deserto desabitado. Os extremos climáticos da área tornam a região inóspita para a tropa e equipamentos, ampliando em grande escala a problemática da logística exigida para operações de grande porte. 

A Arábia Saudita ocupa uma posição central na região, possuindo diversos portos e aeroportos, utilizados para o desembarque das tropas norte-americanas. Embora os portos e aeroportos fossem modernos, os sauditas não possuíam um sistema rodoviário nem infra-estrutura logística necessários ao apoio às tropas dos E.U.A. Além disso, existiam poucas ferrovias e nenhuma que pudesse ser utilizada para levar suprimentos para as posições avançadas.

O deslocamento rápido e antecipado das tropas para o interior do território saudita significava a necessidade de coordenar simultaneamente a recepção e o apoio das unidades recém-chegadas - desde bases localizadas nos EUA, Europa e outras localidades ao redor do mundo para a Arábia Saudita - estabelecendo bases logísticas além dos terminais de desembarque. 

Na solução desta problemática foi criado um comando Logístico no Teatro de Operações, centralizando a coordenação das ações logísticas, preparando o recebimento de quantidades maciças de tropas e equipamento que chegavam no sudeste da Ásia e apoiando o deslocamento das forças na região. 


CRIAÇÃO DO 22 COMANDO LOGÍSTICO (COLOG)

No dia 10 de agosto de 1990 foi ativado o 22 COLOG, em Dhahran, assumindo a responsabilidade logística do Teatro de Operações. Sua missão abrangia a coordenação da chegada das principais unidades e o apoio logístico a ser fornecido pelos aliados e pela nação anfitriã. 

A criação do 22 COLOG reduziu a necessidade de transferir diversas unidades do Exército Norte-Americano, estabelecendo a infra-estrutura logística necessária para alimentar, alojar e suprir o grande número de tropas que chegavam à Arábia Saudita. 

As missões do 22 COLOG durante as fases iniciais da Operação Escudo do Deserto foram: 
  1. Coordenar e organizar o apoio prestado pelo país anfitrião no recebimento e deslocamento das tropas que chegavam no TO;
  2. Auxiliar no melhoramento da infra-estrutura de apoio da Arábia Saudita;
  3. Coordenar a contratação de serviços e mão-de-obra civis, diminuindo os efetivos de militares, particularmente os especializados ;
  4. Desenvolver a base do COLOG, utilizando as unidades e pessoal recém-chegados, em conjunto com elementos sauditas, para formar a estrutura de apoio “Estados Unidos - Arábia Saudita”. 
  5. Estender o apoio logístico por todo o Teatro de Operações, englobando a recepção, desdobramento e manutenção das forças aliadas. 
Ao final de agosto de 1990, os mecanismos já estavam ajustados, fornecendo a logística necessária para receber o XVIII Corpo de Exército com seu equipamento pesado. 

Nos fins de setembro de 1990, 72.000 homens tinham sido apoiados; no dia 30 de outubro do mesmo ano já haviam chegado 97.000 homens do XVIII Corpo de Exército. 

A partir de novembro, com o deslocamento do VII Corpo de Exército, sediado na Europa, foi iniciado o planejamento logístico para as operações ofensivas. Isso exigiu uma restruturação das unidades e das provisões do 22 COLOG para o recebimento do VII Corpo e de seu material.

PLANEJAMENTO LOGÍSTICO PARA AS OPERAÇÕES TERRESTRES 

O 22 COLOG formulou um planejamento logístico com o objetivo de apoiar as unidades deslocadas dos XVIII e VII Corpos de Exército durante a Operação Escudo do Deserto e, simultaneamente, preparar-se logisticamente para as futuras operações de combate - Operação Tempestade no Deserto. Este plano foi implementado em seis fases.



AS FASES DA GUERRA


1a FASE - PREPARAÇÃO E PRÉ-POSICIONAMENTO 

Nesta fase um grande sistema de bases de apoio foi estabelecido ao longo das principais estradas fornecendo suprimento contínuo de água, ração, combustível, munição e outros itens essenciais para o desdobramento. Isso exigiu o pré-posicionamento de estoques e suprimentos desde as imediações de Dahahran e Jubail até as bases logísticas avançadas, ao longo da principal estrada, Estrada Principal de Suprimentos (EPS) Dodge e da estrada norte-sul EPS Nash ou Sultan. Simultaneamente, o 22 COLOG recebia e deslocava o VII Corpo de Exército para sua área de concentração.


Para obter melhor coordenação e controle o 22 COLOG foi dividido, destacando um COLOG avançado para a Cidade Militar Rei Khaled. Suas missões eram idênticas, exceto quanto aos pedidos formais, elaborados em Dhahran. 

As bases logísticas estabelecidas foram denominadas de Alfa, Bravo, Charlie, Delta e Echo. Nelas foram armazenadas todas as classes de suprimentos para apoiar o deslocamento dos XVIII e VII Corpos de Exército. 

Esta fase perdurou até o início dos combates, em 17 de janeiro de 1991.




2a FASE - DESLOCAMENTO DOS XVIII E VII CORPOS DE EXÉRCITO 

Nesta fase o apoio logístico no TO envolvia a coordenação do transporte pesado e o estabelecimento das principais bases logísticas avançadas - Charlie e Echo, para o XVIII e VII Corpo de Exército, respectivamente.

Para não comprometer a segurança operacional os deslocamentos deveriam ser executados com maior intensidade à noite, após o início do bombardeio aéreo. A movimentação dos Corpos de Exércitos foi executada ininterruptamente, de 17 de janeiro a 03 de fevereiro de 1991, das bases iniciais para próximo das respectivas aéreas de atuação.

O XVIII Corpo de Exército deslocou-se pela EPS Dodge ao norte e pela EPS Nash ao sul, em distâncias superiores a 800 km, o VII Corpo de Exército deslocou-se pelas EPS Dodge ao norte, cobrindo distâncias acima de 550 km.

O apoio para esse deslocamento abrangia o embarque e transporte de milhares de viaturas sobre largatas (SL) e o controle de dezenas de milhares de viaturas sobre rodas (SR). Apenas o VII Corpo de Exército tinha cerca de 7.000 viaturas SL e mais de 40.000 viaturas SR. De acordo com o planejamento, o controle do deslocamento foi coordenado pela 318 Agência de Controle de Movimento.

O principal problema no processo do deslocamento era a insuficiência de viaturas de transporte de equipamento pesado (“Heavy Equipment Transporter” - HET) no Exército Norte-Americano, para transportar o equipamento, principalmente blindados, da área dos terminais de desembarque até as áreas de concentração no deserto. Como consequência, houve um grande acúmulo de equipamento nos terminais de desembarque.

Os meios orgânicos dos Corpos de Exército e das Divisões não satisfizeram as necessidades deste deslocamento maciço. Uma Divisão Blindada (que possui 350 carros de combate M1A1) do Exército Norte-Americano possuia apenas 24 HET orgânicos. Uma Companhia de Viaturas Pesadas, que atende a mais de uma Divisão do Corpo do Exército possuia apenas 36 HET. 

A necessidade de HET para o deslocamento foi tão grande que a evacuação e reposição de viaturas de combate danificadas passou a ser uma missão secundária.

Para compensar esse limitado número de HET os governos dos países da colisão anti-Saddam e integrantes do Pacto de Varsóvia (a Tchecoslováquia e diversos integrantes menores do Pacto de Varsóvia tinham centenas de HET disponíveis, uma vez que não eram mais necessárias para a União Soviética na Europa) forneceram centenas destas viaturas, mediante contrato, satisfazendo as necessidades de apoio ao deslocamento. Estes veículos foram operados, na maioria, por motoristas contratados do Paquistão, Bangladeshi e de outros países pequenos, próximos ao TO.

O emprego das HET no transporte de blindados comprovou sua eficácia, pela redução de panes por falhas mecânicas nos blindados e assegurando a chegada das guarnições nas posições de ataque, descansadas e prontas para as operações. 


3a FASE - OFENSIVA TERRESTRE

Enquanto as forças aéreas da Coalizão bombardeavam implacavelmente as forças iraquianas, os XVIII e VII Corpos de Exército deslocavam-se para suas respectivas posições de ataque, ocupando-as no dia 20 de fevereiro de 1991.

A 3a fase correspondeu ao apoio prestado pela estrutura logística do TO à ofensiva terrestre, regulando o fluxo logístico de todas as classes de suprimento, principalmente os de classe I, III e V (munição), bem como os serviços técnicos. Teve início em 24 de fevereiro de 1991 (Dia G).

Como inovação, antecipando-se aos elementos de combate, foi realizada uma manobra logística, instalando-se bases à frente, no interior do território iraquiano - Oscar, Romeo, November, Hotel e Cobra.

Esta fase encerrou-se ao final da ofensiva terrestre, 100 horas após o início dos combates.


4a FASE - DEFESA DO KUWAIT 

 A defesa do Kuwait teve início logo após sua libertação pelas forças aliadas. 

Não obstante a vitória e o final abrupto da guerra terrestre, o esforço logístico, com exceção da grande redução no consumo de munição, continuou inalterado. O enfoque logístico foi transferido para o suporte das forças de combate encarregadas de remover o inimigo do Kuwait; foram intensificadas atividades relacionadas com o campo de assuntos civis, particularmente as áreas de serviço público e economia. 


5a FASE - RETORNO DA TROPA 

Esta fase do planejamento detalhou as atividades logísticas necessárias ao retorno progressivo das tropas norte-americanas. 

O processo começou com o XVIII Corpo de Exército, seguido pelo VII. A operação envolvia o retorno do pessoal e de seu equipamento para os portos e aeroportos de embarque e o deslocamento para suas sedes de origem, principalmente nos E.U. A e Europa. 

Durante a preparação foram estabelecidas áreas de estacionamento e de limpeza, inclusive do equipamento, em Dammam, Dhahran, Jubail e Cidade Militar Rei Khaled. 

Artigos para recreação, bem-estar e conforto da tropa foram providenciados nestas localidades. 

O deslocamento de volta às sedes começou no dia 10 de março, dia R (Retorno). No final de maio, a maioria do pessoal dos XVIII e VII Corpos de Exército, cerca de 365.000 soldados, havia sido evacuado do TO. Em torno de 5.000 soldados foram embarcados diariamente, num prazo de menos de 80 dias.


6a FASE - RECONSTRUÇÃO DO KUWAIT 

Esta foi a fase final do planejamento do 22 COLOG, abrangendo os esforços para a restauração dos serviços no Kuwait liberado, concomitantemente com a defesa e retorno das tropas às suas sedes. 

Operações de auxílio e de reconstrução foram iniciadas, sendo designados elementos do 22 COLOG para a Força-Tarefa Freedom (FT Liberdade) com a missão de coordenar os trabalhos. 

O envio humanitário de alimentos foi aumentado, envolvendo os campos de refugiados no sul do Iraque e em apoio aos Curdos do norte do Iraque e Turquia. Foi também prestada assistência aos 60.000 prisioneiros de guerra, mantidos em 04 campos, que após processados foram postos sob controle saudita. 




OFENSIVA TERRESTRE 

APOIO LOGÍSTICO NA OFENSIVA TERRESTRE 

Em 13 de fevereiro de 1991 os Corpos de Exército completaram a ocupação de suas posições iniciais de ataque, ainda em território saudita. A 24 de fevereiro, a Coalizão iniciou a ofensiva terrestre às 0400h, hora local. Vale ressaltar que o ataque foi extremamente facilitado quando os aliados obtiveram a superioridade aérea no TO. 

O estabelecimento contínuo de bases logísticas comprovou ser muito adequado no apoio às operações terrestres. As principais bases logísticas nesta fase foram a Charlie e a Echo, apoiando o XVIII e VII Corpos de Exército, respectivamente. 

O apoio logístico foi realizado pelo processo de distribuição na unidade, das bases logísticas na Arábia Saudita até as bases logísticas avançadas dentro do território iraquiano. Estas últimas foram sendo estabelecidas à medida que as unidades de combate progrediam. O helitransporte de suprimentos foi largamente empregado no apoio à batalha terrestre, antecipando-se por diversas vezes às tropas de combate e permitindo o deslocamento ininterrupto. 

Em virtude da ofensiva terrestre ter sido muito profunda, rápida e de curta duração (100 horas), essas bases logísticas avançadas não foram completamente instaladas. As EPS se estenderam em vez de diminuírem e havia premência para entrega de suprimentos nas unidades mais avançadas.

O avanço dos suprimentos para as principais bases logísticas no território saudita e o movimento até as bases avançadas - Oscar, Romeo, Hotel, November e Cobra - na área de cada corpo de Exército, pode ser bem entendida na esquematização da figura a seguir.

Uma grande preocupação na ofensiva terrestre foi o suprimento Classe III - Combustível. As distâncias de apoio ficaram alongadas, com tendência a aumentar à medida que as tropas avançavam. Devido a previsão de alto consumo e da urgência de transporte de grandes volumes foi decidido construir a Linha de Oleodutos no Deserto, “Pipe Line Over the Desert” - PLOD. Este oleoduto cobriu uma distância de 100 km, fornecendo 130.000 litros por hora. Cerca de 900 caminhões - cisternas, com capacidade de 18.000 litros, distribuíam diariamente 16,2 milhões de litros de combustível.

Outro problema sério foram as altas demandas de transporte de suprimento Classe V - munição, devido às necessidades diárias exigirem um adicional de 11 Companhias de Transporte. 

Caso a operação terrestre se prolongasse, o baixo estoque de suprimentos nas bases logísticas torna-se-ia crítico. A tabela abaixo indica o estoque de suprimento no dia da Ofensiva terrestre.


TABELA: Estoque de Suprimentos no Dia da Ofensiva Terrestre


SUPRIMENTO                             SUPRIMENTO EM ESTOQUE (em dias) 
Classe I (comida e água)                                           29,0 
Classe III (combustível)                                              5,2 
Classe V (munição)                                                   45,0


A manutenção desses níveis de suprimento por um período longo era impossível, pela dificuldade de reabastecer as bases avançadas com rapidez suficiente a partir dos distantes portos da Arábia Saudita (Jubail e Dhahran). Previu-se a construção de estradas à retaguarda dos Corpos de Exército e o uso dos portos do Kuwait. A curta duração da ofensiva terrestre dispensou a execução destes planos.



ESTABELECIMENTO DA BASE LOGÍSTICA COBRA 

O XVIII Corpo de Exército realizava seu ataque pelo norte do Iraque, numa manobra de grande envergadura e rapidez. Havia, portanto, necessidade de um apoio logístico contínuo e eficaz, para que o Grande Comando prosseguisse seu movimento com o máximo de impulsão. Foi então estabelecida a Base Logística Cobra no interior do Iraque, antecipando-se ao avanço da tropa combatente. 

A instalação desta base foi precedida por uma Operação Aeromóvel realizada pela 101 Divisão Paraquedista. Quatro Batalhões de Infantaria realizaram um deslocamento helitransportado, entricheiraram-se numa área circular de 32 km de diâmetro, recebendo um setor de defesa. 

Uma grande estrutura logística foi montada no interior desta área, onde toneladas de combustível, ração, água, munição e outros suprimentos foram armazenados para apoiar o ataque do XVIII Corpo de Exército.

Este fato marcou a Guerra do Golfo, pois pela primeira vez na história a “logística” precedeu a “tática” no campo de batalha.


PRINCIPAIS UNIDADES DE APOIO LOGÍSTICO 

As unidades de manobra foram apoiadas por unidades de serviço ao combate, além de uma estrutura logística envolvendo as unidades das Divisões de Exército, dos Corpos de Exército e do Comando do TO.

No escalão Divisão de Exército, as necessidades imediatas de manutenção, de suprimento e de apoio logístico foram atendidas pelos seus comandos orgânicos.

No escalão Corpo de Exército um Comando de Apoio Administrativo de Corpo de Exército (CAACEx) fornecia um Grupamento Logístico Avançado em apoio direto a cada Divisão de Exército. Cada Grupamento Logístico Avançado era composto de um Batalhão de Manutenção, um Batalhão de Suprimento e Serviço e de um Batalhão de Transporte. Além disso, cada Corpo do Exército recebia o apoio de um Grupamento Logístico Recuado.

As unidades de logística das Divisões e dos Corpos de Exército foram sucessivamente apoiados pelos Grupamentos Logísticos de COLOG e organizações funcionais do escalão TO, fornecendo munição, combustível, peças sobressalentes e transporte.

O apoio logístico nos escalões TO e o Corpo de Exército enfatizava a armazenagem suficiente de suprimentos, particularmente água, ração, combustível e munição, para garantir a sustentação das operações de combate, durante o tempo que fosse necessário.

INTERRUPÇÃO DO APOIO LOGÍSTICO IRAQUIANO 

O indiscutível êxito alcançado pelas Forças Aliadas ao derrotarem as Forças do Iraque só foi possível porque conseguiram, com maior sucesso ainda, imobilizar a estrutura de apoio logístico iraquiano.

O embargo internacional impediu a continuidade de apoio (reposição e manutenção) do material importado utilizado no Iraque. Para piorar ainda mais a situação, os técnicos estrangeiros que prestavam serviço no território iraquiano evadiram-se com o agravamento da situação e o início do conflito.

A atuação da Força Aérea Aliada praticamente impediu que o fluxo logístico inimigo fosse mantido, concorrendo para o acentuado declínio do poder de combate das unidades iraquianas de primeiro escalão, com reflexos desastrosos sobre o moral de seus soldados.



O APOIO LOGÍSTICO 

A LOGÍSTICA 

A Guerra do Golfo Pérsico representou o maior desdobramento de tropas e suprimentos desde a II Guerra Mundial. O recente conflito trouxe uma fonte imensamente rica de ensinamentos de suma importância e profunda reflexão, no campo da logística, a partir de então a Logística ganhou espaço de destaque nas preocupações dos especialistas e pensadores militares, particularmente pela pouca atenção que recebe nos exercícios no terreno, em detrimento da estratégica e da tática. 

No dia 06 de agosto de 1990 os E.U.A desencadearam uma verdadeira máquina logística para o Golfo Pérsico, foram cerca de 2,5 milhões de toneladas de carga para o Teatro de Operações do Oriente Médio, distante cerca de 12.000 km dos E.U.A, num período de aproximadamente 6 meses. Este foi um marco histórico de um desdobramento militar complexo, para uma área operacional com características extremamente difíceis. 

Os aspectos estratégicos do apoio logístico exigiram a preparação e o deslocamento do pessoal e material dos E.U.A , da Europa e de outras bases mundiais para a Arábia Saudita Operação Escudo do Deserto - além do apoio ao XVIII e VII Corpos de Exército na Batalha Terrestre - Operação Tempestade do Deserto. 

O exército norte americano realizou um desdobramento de grandes proporções, deslocando pessoal, equipamento e suprimento cinco vezes mais rápido do que a primeira grande fase da escalada do Vietnã. O apoio logístico montado para operação Tempestade no Deserto envolveu toda a previsão e provisão de meios materiais e serviços necessários não somente aos E.U.A, mas ao conjunto das Forças Aliadas. Para assegurar o desdobramento Logístico maciço foram necessários todos os recursos do Exército, componentes da reserva e da ativa e civis do Exército. 

Torna-se oportuno, na presente exposição, citar as cinco atividades da logística, quais sejam: 
  1. Transporte 
  2. Suprimento 
  3. Saúde 
  4. Manutenção 
  5. Pessoal
Dentro de cada uma delas assinala-se o que de mais importante foi desenvolvido. 




ATIVIDADE LOGÍSTICA DE TRANSPORTE 

A atividade de transporte foi bastante desenvolvida e explorada e correspondeu a um fator decisivo para o eficiente desdobramento das tropas em território Saudita, bem como também no envio de reforço, ocasionando a correta e constante manutenção do poder de fogo aliado. 

A grande maioria da tropa foi transportada para o território saudita por meio aéreo, e normalmente, chegavam em 48 horas. 

Os equipamentos e suprimentos do Exército foram transportados para o Golfo Pérsico, na sua maioria, por via marítima. A grande tonelagem e a rapidez do deslocamento refletem os enormes avanços nas capacidades de transporte aéreo e marítimo, bem como, no planejamento e preparação. 

Na tabela a seguir, visualiza-se as contribuições referentes ao transporte do pessoal e da carga para a Arábia Saudita, na Operação Escudo do Deserto.


TABELA: Transporte Aéreo e Marítimo do Pessoal e da Carga


 MEIO DE TRANSPORTE  PESSOAL      CARGA 
 QTIDADE  %    TONELADAS  %
 Aéreo     293.000        99,05           175.000           7,68
 Marítimo       2.800           0,95         2.105.000        92,32
 Total   295.800      100,00       2.280.000      100,00

Diversos contratos de transporte aéreos e navais - tanto com estrangeiros, quanto com norte-americanos - foram efetuados, para completar as necessidades do Comando Militar de Transporte Aéreo (“Military Airlift Command” - MAC) e do Comando Militar de Transporte Marítimo (“Military Sealift Command” - MSC).




1. Transporte Aéreo

Durante a concentração das forças foram empregados os meios de transporte da Força Aérea e as aeronaves da Frota Aérea da Reserva Civil (CRAF).

A CRAF fazia parte de um programa em que as linhas aéreas comerciais participavam do transporte com suas aeronaves disponíveis, por solicitação do MAC.

No dia 18 de agosto de 1990 o MAC ativou a 1a etapa da CRAF, quando as necessidades de transporte aéreo militar e transporte aéreo civil voluntário. Esta etapa envolveu 38 aeronaves de grande capacidade de carga e de passageiros, disponíveis 24 horas após sua ativação. 

No dia 17 de janeiro de 1991, a Secretaria da Defesa dos E.U.A ativou a 2a etapa da CRAF, colocando a disposição do MAC mais 187 aeronaves. A combinação da CRAF e das aeronaves militares possibilitou o transporte aéreo de 5.000 homens por dia.

As aeronaves civis e militares realizaram 15.400 vôos, sob coordenação do MAC nas operações Escudo do Deserto e Tempestade no Deserto. Foram transportados mais de 484.000 homens e mais de 524.000 toneladas de carga. Da costa leste dos E.U.A as aeronaves voaram cerca de 12.000 km até os aeroportos sauditas. A partir da costa oeste a rota aérea aumentava em cerca de 4.000 km.

A CRAF e o transporte aéreo civil voluntário transportaram 22% da carga aérea e 69% dos passageiros, enquanto que as aeronaves do MAC encarregaram-se do restante. A tabela  a seguir descreve como foi realizado o transporte aéreo.

Números do transporte aéreo:

  • Pessoal
    • Inicial
      •  186.179
    • Reforço
      • 283.510
    • Média de Saídas Diárias:
      • 15 C - 5, 30 C - 141 e 10 Aeronaves Civis 
  • Carga (ton)
    • Inicial
      • 155.481
    • Reforço
      • 275.430
    • Média de Saídas Diárias:
      • 15 C-5, 30 C-141 e 06 Aeronaves Civis 

2. Transporte Marítimo 

O equivalente a oito divisões, em equipamentos, foram embarcados para o Golfo Pérsico, sendo 86 % dessa carga transportada pelo mar, empenhando cerca de 500 navios. 

Foram utilizados no transporte marítimo os navios pré-posicionados, os de transporte rápido, os da Força da Reserva de Prontidão e os navios comerciais contratados. 


(1) Navios Pré-Posicionados 

 Os navios pré-posicionados foram estabelecidos há muitos anos pelos E.U.A, inseridos numa estratégia de intervenção oportuna em qualquer parte do mundo onde haja ameaça dos interesses norte-americanos. 

Estas embarcações foram as primeiras a chegarem ao TO. Quatro destes, provenientes de Diego Garcia, no Oceano Indico e de GUAM, no Oceano Pacífico, chegaram dez dias após o alerta, ressaltando-se a importância deste recurso no apoio inicial às operações. Um dos navios enviados o “American Cormorant”, continha containeres, barcaças, rebocadores, guindastes, pás carregadeiras e outros equipamentos para apoiar as operações de desembarque. 

Outros três navios pré-posicionados, à disposição do Exército, funcionavam como depósitos flutuantes e continham suprimentos necessários para apoiar a tropa, até que a cadeia de suprimento fosse estabelecida. Os itens a bordo incluíam rações, produtos embalados, arame farpado para obstáculos, munições e material de saúde. 

(2) Navios de Transporte Rápido (“Fast Sealight Ships” - FSS) 

Os FSS eram embarcações que permitiam transportar rapidamente materiais pesados quatro dias após o recebimento da ordem de deslocamento, operando a uma velocidade de 30 nós. A velocidade combinada a facilidade de descarga pelo uso de rampas de rolamento tipo RO/RO (possui rapidez na carga e descarga), permitia a chegada aos portos sauditas entre 12 a 15 dias após a saída dos E.U.A .

Oito FSS partiram de diversos portos norte-americanos em 22 de agosto de 1990, levando pessoal e equipamento de apoio ao combate. Devido a problemas técnicos, apenas sete FSS chegaram ao destino. Apesar disso, os FSS confirmaram o seu grande valor, transportando quase 13% do equipamento do Exército Norte-Americano, principalmente os blindados.

(3 ) Navios da Força da Reserva Imediata (“Readly Reserve Force” - RRF) 

A RRF fazia parte da frota que devia ser mantida em condições de entrar rapidamente em operação, quando acionada. 

A falta de FSS para atender às crescentes necessidades forçou a mobilização dos navios da RRF. Embora com alta taxa de confiabilidade, carregavam bastante menos carga que os RO/RO da FSS, desenvolvendo velocidades mais baixas e levando mais tempo nas operações de carga e descarga. Foram postos à disposição navios-tanques e graneleiros, considerados muito seguros dentro de suas classes. 

Existiam 96 navios da RRF, com uma média de 20 anos de uso, mantidos em regime de prontidão para 5,10 ou 20 dias de ativação. 79 deles foram usados para completar o transporte de carga dos navios comerciais e os dos navios da Marinha dos E.U.A, responsabilizando-se por 28 % da carga norte-americana.

(4) Navios Comerciais Contratados

Os navios comerciais contratados, norte-americanos e estrangeiros, transportaram 37% de todo o equipamento das unidades (15% pelos navios norte-americanos e os 22 % restantes pelos navios estrangeiros). Grande parte da Frota Mercante Norte-Americana respondeu voluntariamente, com navios disponíveis para afretamento. Apesar disto, grande parte destes navios não possuíam a capacidade RO/RO, obrigando o frete de navios estrangeiros com esta finalidade.

(5) Algumas deficiências observadas 

Caso não tivessem sido utilizados os navios mercantes e os recursos do MSC não conseguissem um bom desempenho, grande parte das forças de combate e respectivos apoios poderiam ter chegado após o início dos combates, se o Iraque tivesse decidido atacar logo nos primeiros dias do conflito (seu exército chegou a ficar posicionado ao longo da fronteira saudita em condições de invadi-la). Além disso, se o CENTCOM decidisse desdobrar, simultaneamente, unidades logísticas e de combate, seria necessário um maior número de navios RO/RO para o transporte. 

O planejamento do transporte do equipamento operacional foi realizado segundo normas administrativas civis, em desacordo com o conceito tático de carregamento militar de material de combate. Sob esse prisma, foi permitido desmonte de parte do equipamento, para maximizar o uso do espaço. O carregamento em moldes militares do material de combate asseguraria que os itens de primeira necessidade teriam prioridade no carregamento e na descarga, em condições de emprego imediato no local de destino. 

Ocorreram acréscimos de carga além do planejado, particularmente de combustível, munições e peças de reposição, julgados necessários para o uso logo após o desembarque por algumas unidades do exército. Em termos práticos, isto representava para um carro de combate M1A1, de 60 toneladas, um acréscimo de mais de 11 toneladas. Os planejadores não levaram em conta esta carga residual, o que aumentou as necessidades de transporte. 

De fato, foi o maior desdobramento do exército americano já realizado. A tabela  a seguir apresenta uma retrospectiva histórica de guerras anteriores. 

Pode-se afirmar ainda que: 

As forças foram deslocadas cinco vezes mais rápido do que a primeira escalada do Vietnã, observe a retrospectiva histórica dada na tabela abaixo.

Foi deslocado o equivalente à cidade brasileira de São José dos Campos, com todos os seus habitantes, alimentos, veículos, água e bens domésticos.

3. Principais Lições Aprendidas 

Não deve deixar de ser mencionado as principais lições aprendidas sobre o deslocamento, que são descritas a seguir: 

  • o êxito se deve principalmente ao programa de exercícios do Estado Maior das Forças Conjuntas;
  • as atividades de simulação durante estes exercícios antes citados originaram um expectativa por demais otimista na hipóteses de planejamento;
  • as propostas retromencionadas terão que ser revisadas e validadas com base na experiência atual da “Escudo/Tempestade no Deserto”; 
  • os exercícios futuros deverão incluir o mínimo possível de atividades de simulação;
  • o número de aviões para deslocar e sustentar é insuficiente para responde rapidamente pela projeção do poder global;
  • o Exército pode preparar mais unidades, equipamentos e suprimentos para deslocar que o Comando de Transporte pode movimentar; 
  • as forças preposicionadas no mar (principalmente os Fuzileiros Navais) são importantíssimas; 
  • o conceito de uma frota de reserva pronta foi válida, mas tem que ser revista as condições dos barcos, como idade, os tipos, disponibilidade da tripulação e treinamento;
  • existe a necessidade de procedimentos que possibilitem o aumento dos meios de embarque dos E.U.A. com os meios dos aliados e planejar para as necessidades dos aliados, usando os meios americanos; 
  • Barcos e aviões têm que ser carregados de maneira que permitam as unidades chegarem preparadas para combater; 
  • as normas de preparação para deslocamento extracontinental reforçarão a necessidade de ter atualizado:
    • os testamentos e procurações 
    • equipamentos e suprimentos apropriados ao meio (uniformes para combate no deserto). 
  • a força deslocada não foi a força programada;
  • a sequência das unidades mudaram por causa da ameaça e necessidades do Combate do Teatro; 
  • o apoio da nação anfitriã foi diferente do planejado;
  • deslocamento de Teatros diferentes causou muitos ajustes de transporte aéreo e marítimo;
  • as ideias sobre misto de unidades ativa/reserva não foram válidas; 
  • a substituição de brigadas da ativa por brigadas da reserva aumentou a demanda de transporte aéreo; 
  • os transportes de equipamentos pesados foram deslocados de todo o mundo, e com isto usou mais meios de transporte aéreo que o planejado; 
  • as decisões de conduta feitas pelos comandantes operacionais trouxeram prejuízo na utilização do transporte aéreo e marítimo 
Cumpre salientar que o transporte de tropas foi uma atividade bastante desenvolvida no conflito, principalmente a realização de rodízio  das tropas nos postos avançados, face aos fortes desgastes físico e emocional. 

 c. Os helicópteros utilizados pelo Iraque em missões de transporte aéreo, deslocamento de tropas e suprimento aéreo foram os do tipo Mi-8, Mi-17, Mi-24, Frelon, Super Puma e Bell 214, de fabricação alemã, francesa e russa.


ATIVIDADE LOGÍSTICA DE SUPRIMENTO

Na ofensiva terrestre as grandes distâncias de apoio projetavam que a capacidade de reposição dos estoques seria inferior às necessidades de consumo. Para reduzir os efeitos de uma possível interrupção do fluxo adotou-se os procedimentos a seguir: 

  • Suprimentos de classe I (Gêneros), II (Material de Intendência), V (munição) e X (água) foram transportados por meio aéreo e colocados à frente dos Corpos de Exército, em locais previamente selecionados, ao longo dos eixos de progressão. Estes locais transformar-se-iam em Bases Logísticas Avançadas - Oscar, Romeo, Hotel, Novembrer e Cobra. 
  • A Previsão de construção de estradas à retaguarda dos Corpos de Exército e o uso de portos do Kuwait, entretanto, pela rapidez da ofensiva, não foram necessários. 
  • O transporte de suprimentos foi realizado durante as 24 horas do dia contrariando a norma de executá-lo preferencialmente à noite. 
  • A cadeia de apoio logístico operou em distâncias muito superiores às previstas nos manuais, devido ao avanço rápido e ininterrupto das forças combatentes. 
  • O Pré-posicionamento de suprimentos, garantindo a sustentação das Forças Aliadas nas ações iniciais e quando do seu deslocamento para as áreas de concentração 
  • Estabelecimento de Postos de Suprimentos Avançados, à frente das tropas de combate, em território inimigo, destinados a permitir o avanço ininterrupto dos dois Corpos de Exército. 
A seguir, serão apresentados os suprimentos que se destacaram na sustentação das forças da coalizão no TO do Oriente Médio. 

1. Classe I - Gêneros Alimentícios

O Exército norte-americano  dedicou muitos recursos para a pesquisa e desenvolvimento, visando melhorar o fornecimento dos artigos de subsistência, particularmente a ração. 

A ração MRE (“Meal Ready to Eat” - Ração Pronta para Consumo), que substituiu a ração da era Vietnã, foi uma ração de combate altamente eficiente, comprovando sua eficácia pelo seu tamanho, forma, peso, auto-conservação e qualidade. A ração T, que necessitava apenas o aquecimento antes de ser substituta do antigo conceito de cozinha de campanha, porém, devido às dificuldades da indústria em atender as solicitações da demanda, surgiu o novo conceito ração T-MRE. Caso as missões se prolongassem por um período mais longo era distribuída a ração de equipagem ou de guarnição, muito empregada na maioria das bases norte-americanas. Cerca de 94 milhões de refeições foram servidas na Guerra do Golfo. 

O nível de suprimento de ração no dia “G” - 24 de fevereiro de 1991 - era de 29 dias, considerado compatível para as operações no Conflito do Golfo e crítico, caso a batalha terrestre viesse a se prolongar. 

2. Classe II - Material de Intendência 

No final de 1990, as Forças Armadas Norte-Americanas haviam encomendado 1,5 milhões de protetores labiais, 5,2 milhões de uniformes para o deserto, 250 mil pares de óculos de proteção contra o sol, 1,4 milhões de coturnos para o deserto e 130 mil coletes à prova de bala. 

A indústria dos Estados Unidos  forneceu os produtos dentro dos prazos, em regime de urgência, atendendo às necessidades das tropas norte-americanas. O fornecimento do material de classe II foi ágil e eficiente no apoio às operações terrestres. 

3. Classe III - Combustíveis e Lubrificantes 

O combustível foi um dos suprimentos mais críticos no prosseguimento da ofensiva terrestre. As necessidades diárias de combustível situam-se em cerca de 16,2 milhões de litros, distribuídos por 900 caminhões-cisterna. Dez Companhias de Transporte de combustível, óleo e lubrificantes do 22 SUPCOM forneceram o apoio ininterruptamente. 

O nível de suprimento do combustível no dia “G” era de 5,2 dias de suprimento, foi considerado baixo para a conduta da ofensiva e tornar-se-ia mais crítico caso a operação se prolongasse. 

4. Classe IV - Material de Construção 

A defesa no deserto pobre em obstáculos exigiu grande demanda de material para construção de obstáculos artificiais, particularmente na manutenção da integridade do território saudita, nas fases iniciais do conflito. Os obstáculos mais usados foram cercas de arame, estacas, campos minados, postes e sacos de areia. 

O material necessário para a construção dos obstáculos foi fornecido em grandes quantidades. Caso a ofensiva terrestre viesse a se prolongar, possivelmente este suprimento tornar-se-ia crítico, em especial nas situações mais defensivas do combate, como na manutenção de objetivos conquistados. 




5. Classe V - Munição 

As unidades que se deslocaram para o Golfo Pérsico transportaram sua munição orgânica, suficiente para a própria segurança e combates curtos, caso necessário. Posteriormente, os navios conduziram para a Arábia Saudita quantidades adequadas de munição para apoiar a Operação Tempestade no Deserto. Não houve falta de munição, particularmente porque os suprimentos foram embarcados dos E.U.A, de depósitos da Europa e de depósitos espalhados em vários locais estratégicos do mundo, estruturados durante a guerra fria.

Para simplificar e agilizar o reabastecimento, a munição foi organizada em Conjuntos de Carga de Combate Configurada (“Combat Configured Lood Sets”- CCLS), contendo quantidades específicas de cada tipo de munição, necessária para um determinado sistema de armas. O CCLS para um carro de combate M1A1, por exemplo, cartuchos para o canhão de 120mm, para as metralhadoras .50 e 7,62mm e para as granadas fumígenas. 

O nível de suprimento de munição do dia “G” era de 45 dias de suprimento, entretanto seria muito difícil a sua manutenção por um período maior, caso a ofensiva terrestre fosse prolongada. A industria de munição norte-americana não teria capacidade de aumentar a produção, se necessário. 

6. Classe VII - Material de Comunicações, Eletrônica e Informática 

Diversos equipamentos de comunicações e eletrônica de última geração foram usados em larga escala. Os principais foram: 

  • Sistemas de Conjuntos Aerotransportados de Radar de Vigilância e de Ataques de Alvos (Joint - Stars). 
  • Canal Simples Terrestre e Sistema Rádio Aerotransportado (SINCGARS) 
  • Ultra-Portátil Sistema de Localização e Recepção (GPS e SLGR). 
Os pedidos de suprimento das unidades eram remetidos para um computador central nos E.U.A, o qual consolidava e repassava as ordens de fornecimento para o depósito central de New Cumberland, em Harrisburg. Este último enviava o suprimento solicitado às unidades no TO, no máximo em 24 horas após o pedido. Isto comprova o excelente desempenho ao empregar material de informática no combate moderno. 

Para alguns componentes eletrônicos as únicas fontes eram japonesas, impondo que o departamento de Comércio dos E.U.A negociasse com os antigos parceiros comerciais asiáticos, para conseguir uma entrega rápida de componentes vitais.

7. Classe VIII - Material de Saúde 

Devido a sua importância para a preservação do potencial humano e a influência que a sua existência exerce sobre o moral da tropa, foi realizado um grande esforço para que os suprimentos de classe VIII estivessem sempre disponíveis, em qualidades e quantidades adequadas, nos locais e oportunidades onde fossem necessários. 

O sistema de saúde se preparou para um combate incluindo o tratamento de grande número de baixas causadas por armas químicas, devido a ameaça de uso deste armamento por parte do Iraque. Foram adquiridos um milhão de ampolas de atropina, um antídoto contra gás que atua no sistema nervoso. 


8. Classe IX - Material de Motomecanização e de Aviação 

Os suprimentos de classe IX caracterizam-se pelo grande número de artigos e pela dificuldade de controle, minimizado com o emprego racional da informática, agilizando o fornecimento dos artigos solicitados. 

A constatação de que motores, sistemas rotores para helicópteros, largatas para blindados, bem como um vasto conjunto de material pesado, desgartar-se-íam muito mais rapidamente no deserto do que nos TO europeu ou americano, implicou um consumo de itens de classe IX a um ritmo bem superior ao habitual. Tal situação obrigou um fluxo aéreo e marítimo constante e ágil, visando o rápido resuprimento dos itens mais graves. 

9. Classe X - Água 

O fornecimento de água foi de suma importância e de interesse para a logística e comandantes, neste ambiente particularmente áspero. Os soldados conduziam sua própria água em recipientes plásticos de alta resistência, com capacidade de 3,5 litros. A provisão de água foi realizada em grande quantidade, apesar do deserto constituir-se num obstáculo difícil no abastecimento da tropa. 

O nível de suprimento da água no dia “G” era de 29 dias, crítico caso o combate terrestre se prolongasse por um período mais longo. 



ATIVIDADE LOGÍSTICA DE SAÚDE 

Comprovadamente a atividade logística de saúde não foi empregada de forma expressiva por parte dos aliados. O número de baixas foi bastante pequeno e os profissionais de saúde não foram exigidos ao extremo.

Por parte do Iraque esta atividade foi muito extensa, porém não era encarada com o mesmo senso de profissionalismo dos americanos. Os aspectos religiosos, culturais e até mesmo a forma desumana de comando do ditador iraquiano fizeram com que o homem não fosse valorizado como deveria, vindo como consequência, a influenciar no número total de baixas no pós-guerra e na forma de atuação do Serviço de Saúde Iraquiano. 

Foi registrada a grande preocupação por parte do Serviço de Saúde Aliado em desenvolver algumas medidas preventivas com fins de se obter o menor índice de baixas. Como exemplos das medidas podemos citar: 

  • a tropa não podia beber e nem consumir alimentos que não tivessem controle de qualidade; 
  • o consumo de pelo menos ¼ l de água pela manhã, necessária para manter a performance fisiológica do combatente. 

No deserto, alguns problemas fisiológicos se tornaram muito frequentes, sendo que as afecções mais comuns foram as do aparelho digestivo, as relacionadas com a pele, amigdalite, disenteria e febres. 


ATIVIDADE LOGÍSTICA DE MANUTENÇÃO 

As características do Teatro de Operações provocaram, desde o início, um elevado desgaste dos sistemas de armas, atacando indistintamente os equipamentos em operação, tendendo a reduzir significativamente o tempo de vida útil dos materiais. Com isso, as atividades de manutenção tiveram de ser intensificadas por parte das tropas de apoio. O esforço suplementar de manutenção exigido, particularmente no caso dos helicópteros (pás e sistema de rotores), carro de combate e meios mecanizados (lagartas, sistemas de refrigeração e mecanismos de transmissão) e outros sistemas de tecnologia sofisticada, foi conseguido durante a operação terrestre. 

Contudo, devido à curtíssima duração dos combates terrestres, ficou por provar se aquele esforço acrescido, aliado à necessidade de estoques aumentados de sobressalentes, seria capaz de conseguir níveis de manutenção satisfatórios, em condições mais difíceis. 

No deserto os veículos têm os seus pneus constantemente estourados ou rasgados. Os motores, apesar de dotados de filtros de ar especiais, têm sua vida útil reduzida pela metade. Os freios sofrem desgaste anormal. Os blindados têm as suas lagartas constantemente quebradas. A vida útil das lagartas é reduzida pela ação abrasiva da areia e pelo contato com o solo duro e escaldante. 

Estes problemas foram minimizados com o uso de transportadores de equipamentos pesados (HET), para o transporte de forças pesadas dos E.U.A, comprovando que seu uso reduzia o número de panes por falhas mecânicas nos blindados e assegurou a chegada das equipes às posições de ataque. 

O armamento também sofre bastante. Tubos e canos ficam prematuramente desgastados. O raiamento é danificado, a poeira e o calor atacam os frágeis equipamentos de pontaria, os mecanismos de recuo dos canhões acabam super aquecendo, prejudicando, assim, a cadência de tiro. 

Equipamentos ópticos-eletrônicos delicados, como periscópios de visão noturna, computadores de tiro, dentre outros, são bastante prejudicados pelo excessivo calor e acabam reduzindo a performance do armamento. 

As turmas de manutenção hidráulica tiveram muitos problemas causados pelo excesso de areia que riscavam as paredes dos cilindros elevadores de trem de pouso, durante o taxiamento e decolagem das aeronaves. As equipes de manutenção de aeronaves enfrentaram reveses causados pelos estilhaços de artilharia antiaérea, que perfuravam a carenagem e entravam na turbina, causando perda de potência e, às vezes, até a parada de um dos motores das aeronaves, durante o vôo. 

No total da operação foram empregados , aproximadamente, 117.000 viaturas sobre rodas, 13.000 carros de combate, 1749 helicópteros e foram percorridos 102,5 milhões de quilômetros, fatores que implicaram em uma grande demanda de manutenção, peças e conjuntos de reparação. 

Em virtude da grande demanda para transporte e deficiente fiscalização do material em trânsito, alguns contêineres de peças de reparação nunca chegaram ao seu destino. A substituição e a canibalização controladas completaram um sistema de requisição e distribuição intensamente monitorado. Um plano indicava quem poderia tomar decisões tocantes à substituição e canibalização controladas e em que nível. 

Apesar das dificuldades encontradas, os norte-americanos conseguiram obter um índice de disponibilidade de 90% em média. 

No lado do Iraque, o embargo internacional impediu a continuidade de apoio (reposição e manutenção) do material importado utilizado naquele país. Para piorar ainda mais a situação, os técnicos estrangeiros que prestavam serviço no território iraquiano evadiram-se com o agravamento da situação e o início do conflito. 



ATIVIDADE LOGÍSTICA DE PESSOAL 


Um grupo de assistência ao pessoal, formado a nível Corpo de Exército, controlou os elementos designados para aquela atividade resultando em economia de tempo e de pessoal. Um grupo de finanças comandou e controlou as unidades encarregadas do setor financeiro do Corpo de Exército, bem como conceder verbas para efetuar compras locais, principalmente em teatros com infra-estrutura deficiente. Outras áreas do serviço de apoio de pessoal, tais como relações públicas, procurador geral de Justiça Militar, não sofreram, praticamente mudança alguma. As equipes de assistência religiosa (UMT) do Corpo de Capelães continuaram a ser parte dos escalões abaixo da divisão, no entanto, nesse nível, essas equipes foram reduzidas de quatro para duas pessoas. 

Artigos para recreação, bem-estar e moral dos soldados foram providenciados nestas áreas, o Comando Logístico fez todo o possível para colocar à disposição dos militares não apenas artigos de sobrevivência mas, também, aqueles que trouxessem algum conforto e levantassem o moral de seus homens. O mais apreciado pela tropa eram os trailers onde eram vendidos hambúrguer, sanduíches, entre outros produtos, localizados nas zonas de reunião.

1. Mobilização e Treinamento 

Foi oferecido assistência às brigadas de combate mobilizadas de apoio administrativo e, posteriormente, suplementando a experiência por elas adquiridas no Centro Nacional de Treinamento (NTC), em Fort Irwin, Califórnia, ao conduzir treinamentos realísticos no cruento palco do deserto. 

Treinar os soldados da ativa, tarefa básica do Comando de Instrução e Doutrina (TRADOC), constituiu-se num esforço contínuo durante todo este período. O CASCOM e o Comando de Armas Combinadas (CAC), comando integrador da Força, e suas escolas prepararam-se rapidamente para tirar o máximo partido do tempo de treinamento disponível e prover às nossas forças desdobradas no campo um fluxo constante de pessoal de apoio administrativo e aprestado. 

A atividade vital de contratação de pessoal da nação anfitriã e de meios durante situações de contingência também foi intensificada e irá desempenhar, sem dúvida, importante papel em qualquer operação de contingência no futuro. 

2. Componentes da Reserva 

O presidente Bush foi obrigado a convocar tropas da reserva, pois não havia forças suficientes na ativa para atender às necessidades. Os componentes da reserva - Guarda Nacional do Exército e Reserva do Exército - receberam diversos encargos, alguns como unidades de combate, a maioria como unidades de apoio logístico. Cerca de 70% dos apoios e serviços do Exército foram fornecidos pelos reservistas. 

Os reservistas convocados para o serviço ativo foram classificados e registrados, sendo submetidos a treinamento de reciclagem em áreas de aptidões gerais, sobrevivência e em técnicas diversas, tendo em vista sua atualização. 

O Exército em seu desdobramento no Golfo Pérsico não poderia ter funcionado efetivamente sem esse apoio em homens e unidades da reserva. As funções de apoio às tropas na Arábia Saudita incluíam unidades de Intendência, Manutenção, Transporte, Saúde, Assuntos Civis, Material Bélico, Finanças, Ajudância Geral, Auditoria de Guerra, História Militar, Operações de Portos e de Suprimentos.

A contribuição prestada pelos componentes da Reserva foi vital para o êxito da operação. Não obstante, deve-se enfatizar que, apesar da flexibilidade e da confiabilidade demonstrada, essas unidades ainda precisariam de mais tempo para treinamentos em suas guarnições de mobilização no CONUS (Base no Território Continental dos Estados Unidos da América).

Acredita-se que o Exército não pode se dar ao luxo de desviar mais elementos de Apoio Administrativo da Ativa para a Reserva e ainda esperar que essas unidades respondam eficazmente em cima da hora, prestando apoio a uma estrutura logística da Ativa. Transferências adicionais de elementos de apoio para os componentes da Reserva deverão basear-se em uma análise da missão e uma avaliação da ameaça realizada pelos escalões mais altos.


Fonte: APOIO LOGÍSTICO  NA GUERRA DO GOLFO, trabalho de pesquisa doutrinária de alunos do CMB/EsAO - 1997. 

7 comentários:

  1. Trabalho muito bem montado! Achei muito interessante e útil!
    Obrigado...
    Cel R1 Antunes
    ESG - Campus RJ

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    1. Coronel. Agradeço seu comentário e o prestígio ao meu blog, mas este foi um dos artigos que não esqueci de citar a fonte. Um trabalho de alunos da EsAO.

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  2. Riquíssimos material, parabéns!
    Tenho curiosidade para saber sobre o IDIOMA para integração das tropas de outros países e de paises de apoio, como a Arábia Saudita.
    Favor descrever artigo sobre este tema.
    Antecipo meus agradecimentos,

    Sérgio Ferreira

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  3. Excelente trabalho! Parabéns!

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  4. Certamente um dos melhores artigos do Blog

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  5. Excelente trabalho!
    Gostaria de poder citar a fonte.
    Poderia me enviar os dados da obra e do autor?

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