Winston
Churchill, primeiro-ministro britânico precisava afastar de uma vez por todas a
ameaça dos nazistas pisarem no solo das ilhas de Sua Majestade, com o primeiro
passo dado pela vitória na Batalha da Inglaterra, uma disputa entre a RAF e a
Luftwaffe pela supremacia aérea no espaço sobre o Canal da Mancha e as ilhas ao
norte. Ele sabia que os alemães deveriam ser derrotados em solo francês, de
onde partiria o golpe final até Berlim a consequente derrocada das forças de
Hitler. Mesmo beneficiado pelo atrito que a Wehrmacht vinha sofrendo no front
oriental, sabia que a empreitada não seria fácil e a abertura deste segundo
front para as forças alemães deveria ser um golpe poderoso e bem planejado, não
dando chance para uma aventura frustrada, pois uma nova tentativa não seria
possível em prazo aceitável, uma vez que a ameaça de Stalin podia se configurar
no domínio total da Europa ou uma eventual reação nazista os colocaria muito
fortes.
Partiu-se então
para o fortalecimento do Royal Army, extremamente enfraquecido pela desastrosa
campanha do início do conflito, quando tiveram que ser evacuados das praias
francesas por milhares de embarcações civis e militares. Eram necessários novo
treinamento e equipamentos, e para tal voltou-se o olhar para o extraordinário
potencial do poder industrial dos EUA. Em 1939, a experiência em operações
anfíbias era extremamente débil em quase todas as forças do mundo, para não
dizer inexistente. Não existiam equipamentos adequados e nem doutrina, bem como
a percepção das singularidades táticas e estratégicas de uma operação de
desembarque, notadamente do vulto da operação necessária. Este conhecimento
começou a ser forjado com a criação de uma organização chamada “Combined
Operations” que passou a realizar incursões anfíbias em pequena escala atacando
pontos sensíveis de natureza tática e estratégica. Foram criadas unidades
conhecidas hoje como “comandos”, especializadas nestas empreitadas de assalto
em condições especiais, com a primeira missão acontecendo na ilha de Guernesey,
localizada a oeste da península de Cotentin cerca de 50 km.
No front leste
prosseguia a campanha dos alemães em território russo, com estes solicitando
aos aliados a abertura de uma segunda frente. Norte-americanos e ingleses
passaram a enviar equipamentos, combustível e munições para eles, porém Stalin
não estava nada satisfeito em enfrentar sozinho a máquina de guerra germânica.
Em 1942 a vitória em Stalingrado marcou a virada nos rumos desta campanha, e o
Exército Vermelho começou a reconquistar territórios antes cedidos às tropas
invasoras, porém a situação era extremamente difícil e os apelos do líder
soviético por decisões militares decisivas era constante.
Os
norte-americanos súditos de Sua Majestade, fizeram uma operação anfíbia na
cidade de Dieppe na costa norte francesa denominada operação “Jubilee” em
agosto de 1942, de forma a demonstrar a Stalin seu comprometimento. Este ataque
teve por objetivo fornecer informações sobre a “Muralha do Atlântico”, e a
reação dos defensores, sem ter por objetivo ocupar a França ou vencer a guerra.
Rendeu milhares de relatórios de inteligência com uma amostra valiosa do
potencial de defesa da Wehrmacht neste setor. Foi liderado pela 2ª Divisão
Canadense e apoiada por blindados “Churchill” de 40 toneladas que fixaram o
inimigo em sua linha frontal, com os “Comandos” atacando pelas laterais as
baterias costeiras instaladas nos penhascos. A Royal Navy, temerária quanto a
colocar sua frota no canal, não ofereceu fogo de preparação. Aos atacantes foi
desejada sorte, pois reforços não foram enviados por tratar-se de um teste, com
apurada observação e cronometragem, para servir de subsídio a um ataque
posterior em escala real.
Em 28 de novembro
de 1943 os líderes aliados incluindo Stalin se reuniram em Teerã e decidiram
pela abertura da segunda frente. Churchill queria que o desembarque se desse
nos Bálcãs, porém a logística deveria partir da Inglaterra, e o ponto de
desembarque deveria ficar mais próximo. As costas atlânticas foram consideradas
distantes e perigosas pela presença dos U-Boots, o mesmo valendo para as costas
da Bretanha. As praias belgas possuem correntes muito fortes e são arriscadas e
as praias da Holanda possuem excesso de terreno inundado com vias de acesso
restritas, impossibilitando a instalação da cabeça de praia.
Um novo comando
chamado de COSSAC foi criado para a coordenação de operações combinadas. Ao
COSSAC coube escolher os locais dos desembarques, reunir toda a inteligência
possível utilizando a experiência das operações combinadas anteriores e
viabilizar as forças de transporte que apoiaram a invasão. As costas da
Normandia foram escolhidas pela similaridade das praias com as costas inglesas,
apresentando a areia com a mesma resistência, além é claro da localização
próxima. Outro local possível seria Pas-de-Calais, porém por ser o ponto mais
próximo da Inglaterra foi onde os alemães concentraram sua defesa mais potente.
Em 1942, os
primeiros navios transportando equipamentos e tropas que participariam da invasão
da França deixam as terras americanas rumo ao Reino Unido. A Batalha do
Atlântico visando tornar a travessia segura se intensifica, pois os submarinos
alemães passam a assediar os comboios que transportam tropas e suprimentos para
as ilhas britânicas, com os aliados vencendo em 1943 e tornando este oceano
mais seguro. Soldados são instalados em bases dispersas ondem refinam seu
treinamento e grande quantidade de equipamento e suprimento armazenado longe
das vistas. O fornecimento de todo este suprimento foi negociado com os
ingleses em troca do uso de bases pelo mundo inteiro. A aviação de
reconhecimento aliada entra em atividade frenética visando produzir
inteligência para os planos de invasão. As ilhas britânicas se tornam uma
grande base militar, onde soldados treinam, equipamento é armazenado, unidades
de preparação operam incessantemente e navios começam a se acumular ao largo de
toda a costa britânica em seus diversos portos, além dos ataques aéreos à costa
francesa que se intensificam em todos os pontos, a fim de não revelar o local
da invasão.
Como ocultar
tamanha movimentação é muito difícil, e os alemães entendem rapidamente que
algo grande está em preparação, com agentes sendo infiltrados em território
britânico. Esta situação não fora negligenciada pelo comando aliado, que para
confundir os espiões pos em prática a operação “Fortitude” que montou um
exército fantasma com blindados infláveis, armas de madeira, unidades falsas e
outros artifícios, tudo posicionado na área de Dover, próxima a Pas-de-Calais.
Aeronaves de reconhecimento alemães passam a observar este dispositivo falso
comandando por um general de verdade de grande credibilidade, o General Patton.
O 15º Exército Alemão recebe ordens para desdobrar-se nesta região da França e
preparar-se para repelir a invasão, coroando a operação “Fortitude” de sucesso.
A resistência
francesa participou da coleta de informações de inteligência, que recebe
mensagens da BBC codificadas durante a transmissão francesa. O desembarque
denominado operação “Overlord”, deverá contar com o apoio dos partisans
franceses antes e durante a invasão. Mensagens improváveis como um poema
francês transmitido pela BBC avisaram a data do desembarque, quando os
partisans intensificaram seus atos de sabotagem, destruindo ferrovias e linhas
telefônicas, instalando minas e outros.
A Resistência
Francesa
Os “Partisans”
franceses desempenharam papel vital para viabilizar a operação “Overlord”.
Segundo o General Willian Donovan, chefe da inteligência dos EUA, a maior parte
das informações úteis durante o desembarque foram fornecidas por eles, embora
seja difícil quantificar uma organização que trabalhava na clandestinidade e
sem arquivos, e talvez por este motivo muitas vezes esquecida. A Resistência
Francesa começou tão logo os nazistas ocuparam a França, em 1940. Em 22 de
junho deste ano o cabo telefônico entre o aeródromo de Boos e o comando alemão
em Rouen foi destruído, inaugurando as ações desta organização, ainda que de
forma individualizada. Com o tempo as redes foram surgindo e se adaptando às
necessidades, como a evacuação de aviadores abatidos e sabotagem das linhas de
comunicação eletrônica e ferroviárias.
Desprovida de
refúgios adequados como platôs e montanhas, a Normandia não era o melhor lugar
para uma rede subterrânea atuar, dispondo apenas das florestas da região. A
França de Vichy obrigou vários franceses a prestarem trabalho aos nazistas,
empurrado muitos voluntários às fileiras da resistência, que atingiu mais de 10
mil indivíduos, só na Normandia. A Gestapo reagiu com prisões e execuções. A
falta de um comando central que agregasse os esforços de várias células não
permitiu que todo o potencial desta organização fosse explorado. Comunistas,
Gaulistas e grupos pró-britânicos não conversavam entre si, embora buscassem o
mesmo propósito. Em fevereiro de 1944 organizaram-se as FFIs, Forças Francesas
do Interior, com a agregação de várias redes e movimentos.
Quando da
Conferência de Teerã em novembro de 1943, os Aliados ainda não tinham muita
noção do potencial desta organização, ignorando-a inicialmente em seus
planejamentos iniciais e capacidade de executar ações táticas. O próprio
General De Gaulle não estava a parte das minúcias dos preparativos da invasão.
O tempo veio a aproximar os “Partisans” e os serviços de inteligência Aliados
com uma série de operações clandestinas coordenadas a partir do “Dia D”,
principalmente envolvendo sabotagem. As comunicações receberam especial atenção
com mensagens enviadas para Londres por pombos-correio e transmissões de rádio fornecidos
pelos aliados, com a BBC passando instruções e informações gerais de forma
ostensiva ou codificada. Por causa da natureza clandestina da organização, os
combatentes da resistência careciam de meios antitanque e metralhadoras
pesadas, que os Aliados buscaram preencher com o suprimento pelo ar de armas e
equipamentos.
Agentes
especializados em transmissão, demolição e armamento também foram enviados à
França, através do SOE (Special Operations Executive). Esse comando de
operações especiais britânico, criado por Winston Churchill, também operou em
países neutros como a Espanha. Apelidados de “Jedburghs” e organizados em
equipes de 3, esses agentes tinham a missão de apoiar e aconselhar a
Resistência na Europa continental: eles foram responsáveis ??por informações
sobre as ações dos Aliados, preparavam armas, munições e outros materiais e
instalaram um sistema de comunicação viável. Os Jedburghs podiam, se
necessário, assumir o comando das unidades de resistência locais. Os Aliados
não limitaram seus preparativos apenas à Normandia: eles também planejaram
ações em toda a França para retardar o progresso dos reforços
alemães. Eles também procuraram evitar a sabotagem indiscriminada, de
forma a preservar certas infraestruturas que poderiam ser úteis para os
exércitos de libertação. Para esse fim, instruções precisas foram
transmitidas de Londres. Os principais feitos da resistência normanda antes do
início da Operação “Overlord”, foram essencialmente a aquisição de
inteligência. Os Aliados fizeram milhões de fotos de praias e zonas de
desembarque, concatenando-as às muitas informações sobre o terreno,
infraestrutura, equipamento e moral do ocupante fornecidas pelos locais.
Desde o início de
1942, os alemães começaram a construção do “Muro do Atlântico” contra a
possibilidade de um ataque anfíbio vindo da Inglaterra. Eles montaram
milhares de estruturas defensivas, contando principalmente com a força de
trabalho local: na Normandia, os combatentes da resistência se envolvem em
vários destes projetos para estabelecer secretamente planos para essas
instalações; alguns aproveitam a oportunidade para colocar cubos de açúcar
em misturadores de concreto para reduzir a resistência dos bunkers de concreto
construídos ao longo da costa. Cópias desses planos chegaram à Inglaterra,
onde foram analisadas pelos serviços de inteligência. As informações obtidas
pela resistência também permitiram aos Aliados refinar seu grau de conhecimento
sobre as unidades alemãs presentes na Normandia: as ordens de batalha e a
história das várias divisões presentes foram detalhadas até o nível de
companhia, permitindo uma estimativa de seu valor de combate. Assim, se
informou Londres da chegada da 352ª divisão de infantaria alemã a partir de 15
de março de 1944, uma unidade forjada por longos meses de luta na frente russa
que representariam um formidável oponente às forças aliadas. Para aumentar as
chances de sucesso da operação Overlord, as redes francesas recebem uma
sucessão de ordens para entrar em ação, essencialmente através das “mensagens
pessoais” da BBC. Cada frase codificada foi enviada a uma rede específica, que
conhecia seu significado e data de execução, a fim de iniciar as ações de
sabotagem e interromper as forças alemãs. Assim, de 1 a 3 de junho de
1944, a primeira parte do verso de “Verlaine” é transmitida nas ondas
radiofônicas. Em 5 de junho de 1944, às 21h15, foram transmitidas as seguintes
mensagens: “... feriram meu coração com uma lentidão monótona”: os resistentes
tinham, neste caso, 48 horas para realizar uma ação de sabotagem
específica. Por inferência, algumas redes provavelmente estabeleceram que
a Operação Overlord ocorreria nas próximas 48 horas.
Na madrugada de
terça-feira, 6 de junho de 1944, após os primeiros atritos, os membros das
redes de resistência foram espontaneamente ao encontro das forças aliadas, às
vezes para servir de batedores. Seu excelente conhecimento do terreno
tinha um valor agregado inegável para tropas e unidades aéreas. No
entanto, os Aliados estavam cautelosos com as informações que podiam obter da
população francesa e procuraram primeiro garantir que seus interlocutores não
fossem colaboradores que pudessem operar como agentes duplos. Vários
normandos que se aproximaram dos soldados aliados foram, portanto, mortos por
engano. Os riscos incorridos durante essas ações foram particularmente altos:
um grande número deles possuía muito pouco conhecimento militar e se opunham a
um treinamento por um exército experiente e melhor equipado. Na noite de 6
de junho de 1944, as perdas da resistência são estimadas em 124 mortos,
feridos, desaparecidos ou feitos prisioneiros. No entanto, a natureza repentina
e maciça dessas sabotagens surpreendeu profundamente e ajudou a abalar as
forças alemãs.
No dia D, dezenas
de combatentes franceses da resistência estavam custodiados pelos alemães na
prisão de Caen. À medida que os bombardeios aéreos aumentavam, e com
o medo de ver as forças aliadas chegarem à capital da Baixa Normandia, os
alemães não queriam correr o risco dos prisioneiros fugirem para se juntar aos
agressores. Inicialmente, eles planejaram transferi-los de trem para uma
instituição penitenciária na região de Paris. Mas as linhas ferroviárias
sofreram tanta degradação que qualquer movimento por esse meio era impossível.
Os alemães então receberam ordens da Gestapo de Rouen: eles deveriam atirar nos
prisioneiros. 87 foram mortos no pátio da prisão. Essas práticas
repetiram-se, várias vezes, com os corpos jogados em valas comuns.
Após o
desembarque, a Resistência continuou a fornecer inteligência aos Aliados
durante toda a Batalha. No início de julho de 1944, quando a frente
estagnou, a aquisição de informações sobre posições e dispositivos alemães
permaneceu limitada; os Aliados pediram à resistência, via SOE, para obter
mais informações para poderem vencer o impasse. A fim de limitar a chegada de
futuros reforços alemães à Normandia após o desembarque, comandos franceses
foram lançados de paraquedas sobre a Bretanha. Essas operações paralelas
ocorreram em junho e agosto de 1944, com a participação de 538 paraquedistas do
Serviço Aéreo Especial (SAS). Eles coordenaram as várias redes de
resistência para lutar efetivamente contra o ocupante. Sua fraqueza estrutural
e falta de recursos paradoxalmente, ajudaram de forma involuntária a
resistência francesa, porque os alemães gastaram uma energia cansativa para
entender sua organização e o esboço exato de seus muitos dispositivos, sem
nunca conseguir pôr um fim às suas atividades. O general Eisenhower,
comandante-chefe dos exércitos aliados na Europa, teve que escolher entre
coordenar as ações da resistência francesa ou favorecer ações excessivas
durante o surto da Operação Overlord. Por estar lutando para esconder suas
preocupações com o sucesso desse ataque ousado, ele finalmente fez a escolha da
sabotagem em massa, correndo o risco de danificar a infraestrutura
potencialmente útil como resultado da guerra.
O impacto preciso
da resistência na condução dos desembarques da Normandia não é quantificável,
mas não há dúvida de que ela desempenhou um papel de liderança no sucesso dos
exércitos aliados. Segundo Eisenhower, a resistência francesa foi
inestimável durante a libertação da Europa em 1944: sem a sua grande ajuda, os
combates na França teriam durado muito mais tempo e teriam causado mais baixas
nas fileiras dos combatentes.
A Muralha do Atlântico
Apesar do foco da
Wehrmacht estar no front oriental, a ocupação da França no ano anterior
demandou que algumas divisões ficassem ali estacionadas, pois os alemães tinham
o desembarque ali, vindo das ilhas britânicas como uma certeza, só não sabiam
quanto aconteceria. Esta região também serviria para o descanso e recuperação
de divisões que estavam já desgastadas pelo atrito na Rússia, e poderiam ali
retomar o fôlego.
Criado por Fritz
Todt, ministro do armamento e munição do Reich, a Organização Todt (OT) era um
grupo paramilitar especializado em construções militares, como casamatas e
estradas para suportar veículo blindados. Em 1941, começaram os trabalhos nas
costas do canal da Mancha e do mar do Norte, depois que a invasão alemã contra
a Inglaterra (Operação Leão Marinho) foi cancelada. Fortificações de concreto
armado forram construídas da Noruega ao País Basco espanhol e também no
Mediterrâneo, com campos minados, milhares de quilômetros de arame farpado,
casamatas e bunkers de artilharia, obstáculos de praia, valas anti-tanque,
etc... Esta fortificação, chamada de “Muro do Atlântico”, foi muito reforçada
em áreas “sensíveis”, como as mais próximas da Inglaterra, por exemplo, em
Pas-de-Calais, onde um desembarque era mais do que provável, segundo os
generais alemães. Baterias costeiras armadas com armas de grande calibre foram
construídas em locais importantes da costa para proteger portos e áreas mais
prováveis.
Em agosto de
1942, os Aliados empreenderam um ataque na área de Dieppe, que fracassou, mas
cuja intenção era ganhar experiência junto a estas fortificações e na
desconhecida arte do desembarque anfíbio. Os oficiais do Estado Maior Alemão
estacionaram o forte 15º exército em Pas-de-Calais, com cerca de 150.000
homens. Em janeiro de 1944 um dos mais conceituados generais do Reich, Erwin
Rommel foi designado para comandar este setor sensível, sob às ordens de von
Rundstedt.
Ele acreditava
que o dispositivo defensivo deste setor não era suficiente, e decidiu inundar
as áreas baixas para dificultar as manobras de paraquedistas. Instalou campos
minados nas praias e obstáculos para o pouso de planadores e a chegada de
lanchões. Sua experiência em lutar no norte da África foi de grande valia, pois
tinha consciência de que se os Aliados conseguissem desembarcar nas costas
francesas, ficaria muito difícil repeli-los de volta ao mar. Assim, o
trabalho se intensifica principalmente nas costas do norte da França até a
Holanda. Mas a Alemanha ainda está em campanha na Rússia e na Itália, e estas
duas frentes exigiam uma quantidade muito grande de matérias-primas e meios
militares, o que o atrapalhou em suas requisições. A Organização Todt lançou
várias operações em toda a Europa para reunir a quantidade máxima de material
que pode durante a criação desse gigantesco “Muro do Atlântico”.
Na Normandia, e
como em outros lugares, os alemães construíram baterias de artilharia
costeiras, poderosamente armadas e protegidas em seu entorno. Entre Barfleur e
Le Havre, existiam pelo menos 6 baterias: as de Merville, Longues-sur-Mer,
Pointe du Hoc, Maisy, Azeville e Crisbecq. Elas eram capazes de disparar até 30
km e foram uma grande preocupação para os planejadores Aliados. O “Muro do
Atlântico” não foi apenas um dispositivo de obstáculos, casamatas e campos
minados. Inúmeras estações de radar foram disponibilizadas ao longo da costa,
da Noruega à Espanha, além de estações de escuta. Entre Cherbourg, Vire e Le
Havre, existiam 1 radar de identificação, 2 radares do tipo "Freya",
5 radares de vigilância costeira de longo alcance, 7 radares de vigilância
costeira e 14 radares gigantes Wurzburg. Frequentemente, esses radares eram
associados à armas antiaéreas (canhões FLAK de 88 mm), muito eficazes tanto no
fogo antiaéreo como no fogo de apoio terrestre.
Para
contra-atacar no caso de um desembarque, as forças alemãs tinham 3 divisões
“panzer” e um regimento de “Fallschirmjäger” (paraquedistas), além das divisões
de infantaria clássicas posicionadas ao longo da costa e guarnecendo as
fortificações, sendo muitas deslas, unidades retiradas da frente oriental e
colocadas na Normandia para que pudessem descansar. Sua rotina era a
vigilância, principalmente contra os atentados da resistência e bombardeios
aliados, que atingiam regularmente alvos costeiros e os lembravam que a guerra
não havia acabado.
Forças Alemãs na Normandia
Apesar de todo o
dispositivo conhecido como “Muro do Atlântico” desdobrado na costa norte
francesa, os alemães sabiam que essas estruturas eram limitadas e não poderiam
repelir um ataque anfíbio dos Aliados. O exército alemão guarneceu a região com
unidades militares experientes e poderosas, e garantiu que fosse observada uma
disciplina rigorosa nos territórios ocupados: essa força de ocupação deveria
evitar qualquer desvio de conduta que desse munição à resistência francesa.
Longe de Berlim e das zonas de combate do Mediterrâneo e da Rússia, os generais
alemães não encontravam muitas ocasiões para mostrar serviço e obter os favores
do Führer; outros, muito felizes por estarem distantes da frente, se
aproveitaram dessa situação e viviam em magníficas residências requisitadas,
onde se interessavam cada vez menos pela guerra.
Essas unidades
pertenciam à Wehrmacht , às SS , à Kriegsmarine e
à Luftwaffe . Em 1944, as tropas alemãs já lutavam há cerca de 6 anos
e o moral vinha caindo desde o início de 1942. As diferentes forças mantinham
rivalidades, principalmente porque seus meios eram muito desiguais: as divisões SS eram
duas vezes mais numerosas do que as da Wehrmacht, a Kriegsmarine tinha poucos
navios de guerra e a Luftwaffe estava completamente desgastada desde o final da
Batalha da Grã-Bretanha, e pelos contínuos bombardeios realizados pelos
aliados. A multiplicidade de autoridades militares e a competição
contraproducente entre estas forças (particularmente forte entre
a Wehrmacht e as SS) eram particularmente prejudiciais para o
Reich, com as decisões não sendo necessariamente tomadas no interesse geral da
Alemanha, mas, às vezes, no de uma unidade comparada com outra.
O alto comando
alemão tinha poder de decisão limitado: deveria necessariamente ter o apoio de
Hitler para tomar decisões. Esse detalhe foi importante no decorrer dos
eventos. Obviamente, essa fragilidade estrutural das forças alemãs afetava
tanto as unidades no oeste quanto as que lutavam no leste e no Mediterrâneo.
As forças terrestres alemãs do grupo do exército ocidental foram
colocadas sob o comando do Marechal von Rundstedt, cujo posto de
comando estava localizado em Saint-Germain-en-Laye. A costa do norte da França
estava sob a responsabilidade do grupo B do exército comandado pela “raposa do
deserto”, Marechal Rommel (instalado no castelo de La Roche-Guyon).
Dois exércitos compartilhavam este setor: o 7º exército do General von
Salmuth , instalado ao longo da costa da Bretanha até a foz do Sena, e o
15º exército do General Dollmann, instalado ao longo das costas de Le
Havre ao Soma.
As forças
marítimas alemãs posicionadas ao longo da costa do Canal da Mancha
respondiam ao almirante Friedrich Rieve, cujo posto de comando estava
localizado em Rouen. A marinha alemã, Kriegsmarine, controlava as unidades
de superfície e submarinas do 3º Reich, bem como as baterias de artilharia
costeira. Na primavera de 1944, o Kriegsmarine, na Normandia, estava
sob o comando de 2 comandos diferentes: no oeste, o setor do almirante Walter
Hennecke com sede em Cherbourg, abrangendo a baía de Mont-Saint-Michel até na
foz do Orne, a leste, o setor do contra-almirante Henning von Tresckow com sede
em Le Havre, que se estende da foz do Orne ao Somme. Já bastante enfraquecida
pelos anos de guerra anteriores, a marinha alemã possuía apenas
163 caça- minas nesta área (Raumboote), 57 barcos de patrulha
(Vorpostenboote), 42 barcaças de artilharia (Artilharia-Träger), 34
lanchas-torpedeiras (S-Boote) e 5 barcos de torpedos (Torpedoboote). Meios
muito escassos em comparação com o poder dos 6.000 navios de diferentes classes
da armada Aliada, que estavam concentrados no Canal da Mancha de junho a agosto
de 1944.
A parte
da Luftwaffe no oeste pertencia à 3ª Luftflotte, sob o comando
do Marechal Speerle. Equipada com menos de 1.000 aeronaves para controlar todo
o espaço aéreo francês, estas unidades foram continuamente bombardeadas pelos Aliados
e não foram capazes de ocupar os aeródromos localizados ao longo da costa do
Canal da Mancha. Na Normandia, em 6 de junho de 1944, apenas os
esquadrões I / Jagdgeschwader (JG) 2 (Richthofen), I / JG 26 e III / JG
26 ( Schlageter ) e a Stab estavam presentes no local.
Von Rundstedt e
Rommel não concordavam quanto a estratégia de defesa costeira: o primeiro
considerava que deveriam deixar seus adversários adentrarem ao interior e
depois contra-atacá-los durante a fase de aceleração, enquanto ainda estão em
uma condição semi-vulnerável. O segundo pensava, ao contrário, que era
importante, acima de tudo, não deixar os Aliados ganharem posição, caso
contrário eles não seriam capazes de repeli-los. Os dois generais concordavam
em uma coisa, no entanto: eram as formações “panzer” que fariam a diferença.
Mas Rommel queria colocá-las imediatamente atrás das praias, enquanto von
Rundstedt preferiam posiciona-los longe da costa, capazes de lançar um ataque
blindado nas profundezas das linhas inimigas.
Em 6 de junho de
1944, Rommel não estava na Normandia: ele estava na Alemanha para comemorar o
aniversário de sua esposa e com intenção de uma audiência com o Führer. Tentaria vender sua visão de que as unidades blindadas fossem posicionadas ao
longo da Muralha do Atlântico, mas era tarde demais: os Aliados desembarcariam
em seguida ...
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