Praticada desde a
antiguidade, as operações de desembarque anfíbio são parte importante da
estratégia militar moderna, e permitem que uma força baseada em meios
flutuantes possa projetar seu poder sobre terra a partir do mar, através de um desembarque
tático usando as praias ou terrenos assemelhados para a consecução de uma
“cabeça de praia”, ou seja, um perímetro em território inimigo de onde possam
se organizar para lançar operações território a dentro, ou mesmo cumprir sua
missão dentro do território conquistado e retirar-se em seguida.
É, sem dúvida a operação
militar mais complexa a ser realizada em um cenário de conflito e envolve
elementos de todos os tipos, como navios, aeronaves, tropas e outros sistemas
de armas. A diversidade de meios empregados implica em custos altos, e
potenciais reveses podem causar grande perda de vidas. Seu emprego contra
costas moderadamente defendidas só se justifica contra objetivos relevantes e
também constitui-se em alvo de grade valor para artefatos nucleares táticos.
Apesar destes óbices, é um recurso valioso e tanto seu emprego como suas
técnicas continuam a ser aprimoradas.
Foi praticada por gregos e
persas, romanos, ingleses e outros ao longo da história. Porém foi a 1ª Guerra
Mundial que iniciou estas operações nos tempos modernos, sendo o mal sucedido
desembarque em Galípoli a operação mais conhecida deste período. A 2ª Guerra
Mundial experimentou um número significativo destas operações, com desembarques
no norte da África, na Itália, nas praias da Normandia e nas ilhas do Pacífico,
entre outras, consolidando a importância deste tipo de operação, sem a qual os
aliados não teriam como fazer frente ameaça das forças do Eixo que ocuparam a
Europa, o Oriente Médio e o Pacífico. Na guerra dos 7 anos (1756-1763) os
russos surpreenderam os exércitos de Frederico, o Grande, desembarcando no
báltico longe de sua atenção que estava dirigida para o interior do continente.
Apesar de Napoleão e Wellington terem reconhecido o valor destas operações,
durante 2 séculos elas foram relegadas a papéis secundários, pois as batalhas
eram terrestres ou navais, ficando o componente anfíbio sem despertar
interesse.
O desembarque na península
de Galípoli, na Turquia, foi projetado visando dar aos britânicos o controle do
estreito de Dardanelos, de onde poderiam proteger o Canal de Suez no Egito e as
áreas de exploração de petróleo. A França queria aumentar sua influência na
Síria e no Líbano. Já a Rússia buscava o controle do Bósforo e do Dardanelos,
pois deles dependem seu acesso ao Mediterrâneo. Até hoje os dois estreitos são
estratégicos, formam um gargalo que inutilizaria toda a frota do Mar Negro, os
únicos portos de águas quentes que os russos têm. O território porém, pertencia
a Turquia a quem interessava mantê-lo. A operação subestimou os turcos que
receberam armas modernas dos alemães e o resultado não foi o esperado.
Britânicos e franceses tiveram que se retirar após muito esforço e mais de 10
meses. A partir deste fracasso este tipo de operação passou a ser questionada.
O teatro do Pacífico, mais
afeto a estratégia militar dos EUA, foi minuciosamente estudado pelas forças
deste país, o que lhes proporcionou um doutrina mais consistente, que foi
aplicada e aperfeiçoada durante a 2ª Guerra Mundial. As operações anfíbias
caracterizaram grande parte de todo o esforço durante este conflito e grandes
operações foram realizadas tanto no Atlântico como no Pacífico, e que devido a
proporção do evento, não ficaram restritas às tropas de fuzileiros navais. As
características insulares do Pacífico o tornaram o teatro por excelência destas
operações, pois o caminho até as ilhas japonesas, demandavam que muitos
objetivos fossem conquistados antes de se chegar lá.
Também o teatro europeu, a
exceção da frente russa, demandou este tipo de operação. Seja no Atlântico ou no
Mediterrâneo, todas as operações também demandaram um componente anfíbio
geralmente como marco inicial, pois as bases de operações aliadas ou estavam no
continente americano ou nas ilhas britânicas. Em fins de 1943, após o
desembarque aliado em Salerno, o Gen Clark do US Army , criou uma equipe
especial de planejamento anfíbio junto ao seu Estado-Maior, pois o sucesso das
operações de flanqueamento pelo mar até então se mostraram muito promissores.
Ele determinou que todas as oportunidades de emprego anfíbio naquele teatro da
Itália fossem identificadas e tabuladas para utilização, se necessário. O Gen
Bradley declarou em 1949 que na sua visão operações anfíbias de grande escala
nunca mais aconteceriam, e em menos de 1 ano o Gen Mac Arthur desembarcou em Incheon, na Guerra da Coréia. Na esteira do aprendizado da 2ª Guerra Mundial,
Mac Arthur em um lance ousado salvou as tropas norte-americanas e sul-coreanas
sitiadas no Perímetro de Pusan. Em 1966 o ministro da defesa britânico declarou
que as forças de Sua Majestade também nunca mais desembarcariam em costas
defendidas, e apenas 16 anos depois a Guerra da Falklands/Malvinas provou o
contrário. Em 1965 os norte-americanos desembarcaram na República Dominicana
conquistando o aeroporto local que permitiu que tropas aerotransportadas ali
aterrassem com aeronaves C-130. Os Israelenses também se valeram do
flanqueamento pelo mar inúmeras vezes em suas intermináveis operações contra
contingentes árabes, e em 1983 novamente os EUA realizaram uma operação
conjunta anfíbia e aeroterrestre para intervir na ilha de Granada. No conflito
contra o Iraque na Operação Desert Storm, o USMC se posicionou para desembarcar
em um flanco iraquiano mas não o fez, porém somente a possibilidade do
desembarque obrigou aos iraquianos ao deslocamento de 5 divisões da Guarda
Republicana, enfraquecendo a frente principal.
Características das Operações Anfíbias
Uma operação anfíbia é uma
ação lançada do mar por forças navais e de desembarque, a fim de conquistar um
perímetro em uma costa hostil para servir de base para o avanço a um objetivo
definido, ou cumprir uma missão naquele perímetro. Para tanto pode lançar mão
de todos os tipos de meios disponíveis como navios de escolta para prover
segurança e apoio de fogo, navios de características anfíbias que podem abicar
diretamente na praias ou lançar embarcações menores (ED) a uma distância
segura, veículos blindados com características marinheiras ou embarcados em
embarcações de desembarque (ED), navios-aeródromo servindo de base flutuante a
meios aéreos de transporte e de apoio de fogo, tropas cuja finalidade será
ocupar a cabeça de praia e consolida-la, e outros meios disponíveis que se
mostrarem úteis. Toda a ação é desenvolvida visando subjugar um inimigo que
esteja defendendo este perímetro da forma mais eficiente possível. É uma
operação naval de projeção de poder sobre terra, pois resulta de uma escaramuça
de meios de marinha procurando construir um cenário que confunda os defensores
e potencialize o fator surpresa, buscando a consecução dos objetivos com um
mínimo de baixas humanas e de material.
Ela acontece, nos dias de
hoje, dentro de um espectro mais amplo de operações, onde componentes
aeroterrestres ocupam o espaço dominado pelo inimigo em concomitância com o
componente anfíbio e desembarques administrativos posteriores de meios mais
volumosos em portos ocupados pelas tropas em assalto. Pode-se optar pelo
desembarque aeroterrestre em substituição ao desembarque anfíbio, porém esta
manobra está limitada a menor capacidade de carga das aeronaves, seu menor
alcance e condicionamento a condições meteorológicas favoráveis, em que pese ao
seu favor a maior velocidade as aeronaves. Seu emprego conjunto é, no entanto,
o mais provável de ser empreendido. Uma equação que combine massa com velocidade
resulta favorável aos meios navais em concorrência com os aéreos, embora seu
emprego conjunto seja desejável. Uma operação puramente aérea não permite
conduzir todos os meios necessários a um desembarque a “full power” e forças
complementarem se farão necessárias bem como complemento logístico, sendo as
duas operações complementares. Seja em Anzio, na Normandia ou Suez, todas se
valeram de meios complementares. O helicóptero trouxe nova dimensão à estas
operações, com seu primeiro emprego no assalto à Incheon, na Guerra da Coréia.
Com seu advento, grande parte das tarefas destinadas aos elementos aeroterrestres
passaram a ser atribuídas a eles.
Existem várias modalidades
de emprego das operações anfíbias no contexto estratégico de um conflito. A
primeira delas, refere-se às operações de desembarque à viva força “full power”
para servir de ponta de lança a uma ofensiva em território inimigo profundo. Este
foi o caso dos assaltos montados, por exemplo, na Normandia em 1944 e, ainda, nas
Falklands/Malvinas em 1982. Uma segunda modalidade de emprego se dá quando se
destina a apoiar um esforço militar maior, desbordando o inimigo e permitindo abrir
uma nova frente de combate como o realizado em Anzio e Incheon. Ambas se
caracterizam como operações de Assalto Anfíbio.
A terceira modalidade é a Incursão
Anfíbia quem têm sido empregada para obter efeito moral como no fiasco de
Dieppe na 2ª Guerra Mundial; para coleta de informações ou em apoio à uma
operação de maior vulto, como na Ilha Pebble, no conflito argentino-britânico
no Atlântico Sul em 1982; para resgate de prisioneiros, como a fracassada
incursão no Irã em 1979; e para destruição ou desgaste do inimigo, como nas
operações germânicas contra as instalações industriais e de comunicações das
Ilhas Britânicas, em fevereiro e setembro de 1942, e a famosa incursão contra
Saint Nazaire em 1942.
Uma quarta modalidade é a
Demonstração Anfíbia, sempre empregada com o propósito de induzir o inimigo a
adotar uma linha de ação determinada, e forçá-lo a ações equivocadas. Para
conquista de Midway, em 1943, os japoneses tentaram, sem lograr êxito, fazer os
americanos cair nesse ardil, planejando uma demonstração em Attu, nas Ilhas
Aleutas. Já os americanos conseguiram seu intento com a diversão ao sul da Ilha
de Okinawa, no assalto a essa ilha.
Por fim o último emprego da
modalidade de guerra anfíbia é a Retirada Anfíbia, que trata-se da extração de
um efetivo para o mar, através da utilização dos meios de guerra anfíbia, que
pode ocorrer de forma coordenada, ou se a situação assim o exigir como for
possível, como aconteceu em Dunquerque, na França, em 1940.
Levada a luz dos Princípios de Guerra, as Operações anfíbias exploram majoritariamente os princípios da
Mobilidade e da Massa (Concentração de Meios), sem esquecer da Surpresa e da
Segurança. Uma Operação Anfíbia deve se concentrar em um ponto específico do
litoral, pois uma dispersão de meios enfraquece os atacantes frente a forças
geralmente superiores do inimigo ali estacionado. Deve ser rápida e dinâmica a
fim de atingir “massa crítica” antes que o inimigo mobilize suas defesas nos
pontos de desembarque. Esta força deverá ter um efetivo adequado a resistência
que irá enfrentar e valer-se da máxima surpresa de forma a pegar o inimigo
desavisado, sob pena de um grande fracasso, pois os meios de combate chegam à
praia em vagas e vai tomando corpo aos poucos. Estes momentos são críticos ao
desembarque e retardar a mobilidade das tropas inimigas em reforço é vital à
manobra. Esta vulnerabilidade não é exclusividade das forças anfíbias, mas
também da frota que às apoia e a superioridade aérea se faz imprescindível para
a proteção dos navios, seja ela alcançada por aviação de caças navais ou uma
eficiente rede de baterias antiaéreas embarcadas, e preferencialmente as duas.
Manter o impulso é vital para se alcançar no menor tempo possível em terra um
dispositivo com real poder de combate capaz de fazer frente às defesas. Poder
de combate é tudo nesta operação, e esta “massa crítica” depende visceralmente
do sigilo em torno da operação para ser alcançada, de forma que os princípios
da Surpresa e da Segurança não devem ser menosprezados.
Existem 2 níveis diferentes
de surpresa em uma Operação Anfíbia: O Tático e o Estratégico. A surpresa
tática se consegue quando o inimigo, apesar de saber que o desembarque irá
ocorrer, não tem ideia da área de desembarque e demais características a ela relacionadas.
Por exemplo, no conflito do Atlântico Sul em 1982, os argentinos conheciam a
intenção dos britânicos de reconquistar as Ilhas e que o arquipélago seria um
Objetivo Anfíbio, mas não sabiam onde seus oponentes do norte desembarcariam,
área que foi selecionada na baía de São Carlos, e tampouco sabiam do momento do
desembarque. A surpresa de local e data permitiu aos britânicos desembarcarem
sem oposição e consolidarem sua cabeça-de-praia rapidamente, inclusive com
peças antiaéreas, de forma a oferecer reação aos meios aéreos argentinos,
possibilitando dessa forma, a posterior marcha em direção ao seu objetivo
final, que certamente era Port Stanley. A surpresa estratégica é obtida quando
o inimigo pouco o nada sabe sobre a Operação Anfíbia. Desconhece a área onde
será realizada ou até mesmo a intenção de se realizar uma operação deste tipo.
O desembarque em lncheon, na Guerra da Coréia, configura-se um ótimo exemplo de
surpresa estratégica. Dentre as modalidades acima citadas, temos na incursão como
aquela que possui maior dependência da surpresa, pois está implícito que a
retirada da área deve efetuar-se antes que o inimigo possa organizar-se para
esboçar reação. A concentração é o princípio que envolve a mensuração de meios
de pessoal e material - aéreos, navais e terrestres - que venham a permitir, em
face das possibilidades de oposição que o inimigo possa oferecer em cada
situação, conquistar e manter a cabeça-de-praia e, dessa forma, atingir o
propósito da missão. Tal princípio, no entanto, deverá ser balanceado com o
princípio da Economia de Meios, prevalecendo é claro, o primeiro.
O princípio do Controle deve
ser especialmente observado quando a operação contar com mais de uma força, e
também no que diz respeito ao controle da esquadra de apoio e dos meios
anfíbios, pois a unidade de comando e controle (C2) deve ser sempre buscada. A
história nos mostra a participação dos exércitos neste tipo de operação, como
por exemplo no desembarque da Normandia em 1944, o que requer treinamento
especial. Considerando o poderio inicial pequeno das forças de desembarque
durante as primeiras horas do assalto, fica ressaltada a vital importância da
participação da esquadra de apoio para a consecução de uma operação deste tipo,
lançando as ED e meios aéreos, bem como proporcionando fogo de apoio. Após o
desembarque, a participação da força naval será de mais focada no apoio
logístico. Desta forma, fica evidente a necessidade de fina sintonia (vital)
entre os comandos das forças navais e de desembarque, com subordinação óbvia.
Quando forças singulares diversas estão envolvidas, o problema do
estabelecimento das relações de comando fica majorado, mas nenhum tipo de
operação será mais propício de se tornar combinada do que esta. Até mesmo em uma
incursão de pequena envergadura como na operação "Desert One", para
resgate dos reféns no Irã, grande parte do insucesso foi atribuído à falta de
unidade de comando e imprópria organização da cadeia de relações.
Em operações de grande
vulto, com outras forças singulares e multiplicidade de meios, deve-se durante
o planejamento dispensar especial atenção ao princípio da Simplicidade. Com a
tendência moderna de se realizarem campanhas cada vez mais abreviadas e com
aviso prévio mínimo, deve-se ter sempre em consideração o princípio da
Prontidão, visando-se ter forças para operarem com um tempo de mobilização bem
pequeno. Os demais princípios de guerra afetam às operações anfíbias
praticamente na mesma forma que os demais tipos de operações.
Condicionamentos de Emprego
Muitos são os fatores que influenciam
ou podem, até mesmo, determinar a forma de condução destas operações. Dentre
eles temos os fatores geográficos, a disponibilidade de material adequado, a influência
de estrategistas famosos e as preferências pessoais dos planejadores.
Os fatores geográficos são os
mais óbvios deles, e mais fáceis de analisar. O teatro de operações do Pacífico
na 2ª Guerra Mundial certamente condicionava a utilização sucessiva de
desembarques anfíbios como único meio de operação, devido as grandes distâncias
e características oceânicas. No que concerne ao Atlântico, outras estratégias
poderiam ter sido adotadas. As situações peninsulares da Itália, Noruega,
Coréia e Vietnam também propiciam a adoção de uma estratégia de guerra conduzida
pelo litoral. Faltou visão aos líderes americanos no teatro de operações do
Vietnam, em 1972, quando oportunidade idêntica à lncheon se apresentou na
primeira ofensiva do Vietnam do Norte, com suas forças organizadas como tropa
regular, empregando táticas convencionais. É difícil saber porque tal
oportunidade foi perdida e em que nível influiria no resultado final do
conflito. Podemos afirmar, no entanto, que a perda dessa oportunidade acelerou
a campanha a favor das forças comunistas. Algumas das características da área
de operações desfavorecem uma operação anfíbia, como a batimetria e a
oceanografia costeira, a topografia das praias, as marés e correntes das
regiões em análise, a existência de densas florestas litorâneas, etc. Em lncheon,
inúmeros eram os fatores desfavoráveis, e chegou-se a dizer que "se aquela
operação houvesse sido planejada na Escola de Guerra, não faltariam traços
vermelhos no exercício e, certamente, seria considerada como um absurdo". No
entanto poucos desembarques foram tão bem sucedidos e os lucros auferidos tão
valiosos.
A disponibilidade de
material também condiciona de forma bastante forte as operações. Apesar de
disporem de fartos meios, os aliados por diversas vezes tiverem de adiar o
desembarque no norte da França. A introdução de helicópteros de grandes
dimensões e os veículos sobre colchão de ar vieram diminuir a dependência das operações
anfíbias das restrições impostas por características hidrográficas e
oceanográficas, transformando as costas em grandes portas de acesso. Conquanto
para as embarcações de desembarque convencionais apenas 17% das costas permitem
abicagem, com o emprego de "hovercrafts", esse percentual ascende a
70%, e para o helicóptero não existe linha de desembarque inexpugnável.
Os principais estrategistas
militares nunca fizeram inteira justiça às operações anfíbias. Eles sempre
procuraram "departamentalizar" a guerra em terrestre, naval e aérea.
Enquanto uns defendiam que a pressão ativa e passiva exercida pelo peso das
belonaves nos mares conduziria à vitória, outros preconizavam que uma idêntica
pressão, quando exercida por meio de ataques aéreos concentrados contra
cidades, centros de grande densidade populacional e áreas de concentração de
indústrias, iriam aterrorizar as populações que impeliriam seus governos na
busca de rendição. Estas teorias desses pensadores tiveram forte influência na
condução das campanhas.
Executando a Operação Anfíbia
Caracterizada como a mais difícil e melindrosa das operações militares, as operações anfíbias detém esta alcunha devido a fragilidade de suas bases de lançamento a partir de meios flutuantes (e vulneráveis); da impossibilidade recuo depois da operação ser iniciada e da relativa fragilidade das forças que a executam, que chegam a praia em vagas e aumentam seu poder de combate gradativamente a medida que mais efetivos conseguem atingir terra firme. Outro fator de vulnerabilidade é a provável complexidade na cadeia de comando da operação, que primariamente é composta por uma força anfíbia e uma força puramente naval, mas pode ainda ser integrada por várias forças diferentes seja no meio naval como no anfíbio, e de mais de uma nacionalidade.
A partir de um grupo-tarefa naval uma força de combate terrestre e seus meios de suporte ao combate devem ocupar uma cabeça-de-praia com poder suficiente para lá se manter com seus próprios meios, em profundidade adequada e assegurar que forças subsequentes possam desembarcar em segurança. Para tanto, devem contar com o apoio de uma força naval que lhe proporcionará cobertura, meios de desembarque, suporte logístico e relações de comando e controle. Esta força naval poderá ainda ser reforçada por meios da força aérea igualmente proporcionando cobertura, fogos de apoio e transporte de tropas aeroterrestres. Todas estas forças componentes devem ser eficientemente coordenadas e possuírem relações de comando bem definidas e adequadamente integradas por meios de ligação modernos e eficazes.
Estas operações são caracterizadas por 5 fases: planejamento, ensaio, embarque, travessia e assalto. O planejamento ocorre durante toda a operação, porém com intensidade maior nos períodos que antecedem ao desembarque. As fases se dão de forma sobreposta e cada uma delas predomina em determinados períodos da operação.
Coleta de Inteligência e Planejamento
Como toda operação militar, as operações anfíbias se iniciam com seu planejamento e coleta de inteligência com o provável envio de operadores ao local de desembarque. Os planejadores devem observar, além do que é feito em outras operações, das especificidades inerentes a operação em si e a missão em questão, pois será necessária coordenação minuciosa entre as diversas forças componentes. O apoio logístico virá igualmente do mar e apresentará dificultadores específicos, como a exigência de portos em muitos casos e a necessidade de transportar grande quantidade de suprimento enquanto estes não estiverem disponíveis. Na operação Overlord os aliados construíram portos “portáteis” (Portos Mulberry) na Gra-Bretanha e os rebocaram até as costas francesas para uso enquanto o porto de Cherbourg ainda não estivesse disponível. A sincronização entre os fogos navais, aéreo e de artilharia com os movimentos em terra é vital e evitará o fratricídio, bem como contribuirá para uma maior sinergia dos meios de desembarque e de apoio. A construção do dispositivo da cabeça de praia, extremamente vulnerável nas primeiras horas devido ao tempo que leva para desembarcar todos os meios necessários é um problema que deve ser bem planejado. Outro fator de incerteza é a possível falta de contato inicial entre os oponentes, que dificultará a obtenção de informes, mas facilitará o desembarque pela falta de oposição. E por fim a necessidade de planejamento simultâneo em todos os escalões sem que o planejamento final do alto comando esteja concluído, sob pena de retardar demais a operação. Os planejadores deverão definir prioritariamente as informações iniciais e distribuí-las aos operadores como ordens fragmentárias a fim de que estes possam iniciar os seus planejamentos específicos como: Os Objetivos a serem alcançados, as unidades e meios envolvidos, as linhas e áreas de desembarque (praias) e zonas de lançamento e aterragem, a extensão das cabeças de praia e serem consolidadas, o dia e hora prováveis dos embarques e desembarques, e os locais de embarque de cada unidade. Após estas definições iniciais se procedem os planejamentos detalhados, seja no alto escalão como nas unidades operadoras. O planejamento é uma atividade constante e só se encerra quando a operação estiver concluída. Vale-se dizer que a dependência de condições meteorológicas favoráveis é total, bem como de marés e outros fatores naturais.
Estabelecimento da Superioridade Aérea e Naval
O controle da área marítima e de espaço aéreo que influenciará na operação deve ser assegurado, evitando-se que as forças em operação sejam inviabilizadas antes mesmo de deixarem os seus transportes. Bombardeiros táticos inimigos e submarinos serão as maiores ameaças. É sempre desejável que as áreas de operações estejam dentro do alcance da cobertura aérea baseada em terra, seja para permitir o apoio aéreo aproximado (CAS) ou para a obtenção da superioridade aérea, ou se não for possível, contar com aviação embarcada capaz de desempenhar este papel. Na operação Overlord as áreas da Normandia e de Pas de Calais satisfaziam esta condição, porém as áreas ao sul da Bretanha ficavam fora do alcance, o que diminuiria o poder das forças de invasão. Meios navais com vocação de defesa antiaérea também são valiosos.
Ensaio, Embarque e Travessia
Se segue o ensaio, o embarque e a travessia, período durante o qual as forças tem suas habilidades consolidadas e seus meios são aferidos para posteriormente serem embarcados nos navios e aeronaves previamente designados. No ensaio se testam procedimentos novos e se consolidam os tradicionais, confere-se a validade e adequação dos planos e se cronometram o tempo das ações. Ocorrem antes do embarque, principalmente em ações mais específicas que exijam terreno preparado e também podem ocorrer durante a travessia. A travessia deve contar com meios de escolta e cobertura proporcionados pela frota de apoio.
Operações de Preparação
Ações preparatórias são desencadeadas antes da chegada da força de desembarque, como o envio de comandos para, por exemplo, destruírem alvos específicos como uma ponte que retardaria a chegada de reforços, o que pode denunciar a execução da operação. Elementos balizadores farão o reconhecimento dos pontos de desembarque e sinalizarão às vagas de assalto seus itinerários e pontos de abicagem. Bombardeios preparatórios por artilharia naval e de apoio aéreo procederão a debilitação das defesas, facilitando o desembarque das forças anfíbias. Operação de contramedidas de minas, sejam navais como terrestres, também devem ser efetuadas antes que as vagas de assalto cheguem à terra. Tropas de cobertura, para proteção de flancos e domínio de pontos capitais poderão ser infiltradas por meios aéreos, sejam de asas rotativas ou lançadas por paraquedas, garantido a proteção contra a chegada de reforços. Na operação Overlord, as divisões aeroterrestres aliadas garantiram a posse de pontes para o avanço pós-desembarque.
Os fogos de apoio são inicialmente proporcionados pelos meios navais e aéreos, sendo o fogo dos meios orgânicos possível apenas após as primeiras fases do desembarque quando unidades de apoio já estiverem em terra e áreas para seu desdobramento disponíveis. Operações de características especiais também são amplamente empregadas por forças especialmente adestradas (forças especiais), buscando informações, destruindo alvos pontuais e checando as condições de abicagem dos grandes meios anfíbios, entre outras.
Ao desembarcarem as forças poderão ou não enfrentarem resistência dos defensores, sendo importante que se lancem ações que visem impedir o envio de reforços, como a destruição de pontes e interdição de gargalos de fluxo de tráfego por meios adequados; direcionamento de fogo de apoio a alvos de alto valor como artilharia de costa inimiga e outros elementos dificultadores, destruição da estrutura de comunicações e outros. Estas ações podem ser coordenadas e/ou executadas por elementos infiltrados por meios aéreos ou mergulhadores de combate em incursões incógnitas, e também por forças de resistência.
Desembarque
O desembarque se fará através do lançamento de blindados anfíbios, hovercrafts, embarcações de desembarque (ED) e meios de asas rotativa. As forças inimigas que defendem os locais de desembarque já devem estar pontualmente debilitadas pelas ações de preparação. A força de desembarque deve contar com superioridade significativa sobre estas forças de defesa. As áreas escolhidas para desembarque devem oferecer condições para desdobramento do dispositivo defensivo que assegure a integridade a força desembarcada, além de suficiente vias de acesso para fora da praia a fim de que se possa estabelecer um perímetro seguro de desembarque (cabeça de praia). No desembarque da Normandia o terreno depois da praia foi alagado dificultando a progressão, e os planejadores não levaram em consideração a “sebes” (cercas vivas) ali existentes o que obrigou às forças a improvisarem meios de transposição. Após o desembarque inicial, a força-tarefa anfíbia deve ter condições de prestar apoio tático e logístico contínuo as forças desembarcadas, que poderão ou não estabelecer as condições para o desembarque de uma força maior e mais poderosa. Por fim ficam estabelecidas condições para que navios de maior porte possam desembarcar sua carga diretamente nas praias, proporcionando uma maior velocidade às operações. O apoio logístico é vital ao sucesso, e a tropas deverão levar consigo meios de se manterem por um tempo mínimo, até que as linhas de suprimento comecem a funcionar, o que deverá ser implementado o mais depressa possível. A falta de munição ou combustível poderá comprometer toda a operação. Os embarques, da mesma forma, deverão ser feitos em ordem inversa aos desembarques, sempre que houver prioridade de meios.
Consolidação da Cabeça de Praia
A progressão ao interior deve ser feita na maior velocidade possível, sem perder o ímpeto inicial, normalmente até que seja estabelecida a ligação com as tropas precursoras aerolançadas. Esta progressão deve ser balanceada com a capacidade dos meios disponíveis em assegurar a segurança das vanguardas e de forma a não estrangular a "cauda" logística. Deve ser estendida até os limites planejados para assegurar um perímetro "seguro" para o desembarque nas tropas subsequentes ou se estas não existirem até onde seja necessário para a consolidação de uma cabeça-de-praia segura. As operações serão consideradas concluídas quando os objetivos estabelecidos forem atingidos.
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