FRASE

"Quem escolhe a desonra a fim de evitar o confronto, a conseguirá de pronto, e terá o confronto na sequência."

domingo, 6 de junho de 2021

Operações Anfíbias *215





Praticada desde a antiguidade, as operações de desembarque anfíbio são parte importante da estratégia militar moderna, e permitem que uma força baseada em meios flutuantes possa projetar seu poder sobre terra a partir do mar, através de um desembarque tático usando as praias ou terrenos assemelhados para a consecução de uma “cabeça de praia”, ou seja, um perímetro em território inimigo de onde possam se organizar para lançar operações território a dentro, ou mesmo cumprir sua missão dentro do território conquistado e retirar-se em seguida.

É, sem dúvida a operação militar mais complexa a ser realizada em um cenário de conflito e envolve elementos de todos os tipos, como navios, aeronaves, tropas e outros sistemas de armas. A diversidade de meios empregados implica em custos altos, e potenciais reveses podem causar grande perda de vidas. Seu emprego contra costas moderadamente defendidas só se justifica contra objetivos relevantes e também constitui-se em alvo de grade valor para artefatos nucleares táticos. Apesar destes óbices, é um recurso valioso e tanto seu emprego como suas técnicas continuam a ser aprimoradas.

Foi praticada por gregos e persas, romanos, ingleses e outros ao longo da história. Porém foi a 1ª Guerra Mundial que iniciou estas operações nos tempos modernos, sendo o mal sucedido desembarque em Galípoli a operação mais conhecida deste período. A 2ª Guerra Mundial experimentou um número significativo destas operações, com desembarques no norte da África, na Itália, nas praias da Normandia e nas ilhas do Pacífico, entre outras, consolidando a importância deste tipo de operação, sem a qual os aliados não teriam como fazer frente ameaça das forças do Eixo que ocuparam a Europa, o Oriente Médio e o Pacífico. Na guerra dos 7 anos (1756-1763) os russos surpreenderam os exércitos de Frederico, o Grande, desembarcando no báltico longe de sua atenção que estava dirigida para o interior do continente. Apesar de Napoleão e Wellington terem reconhecido o valor destas operações, durante 2 séculos elas foram relegadas a papéis secundários, pois as batalhas eram terrestres ou navais, ficando o componente anfíbio sem despertar interesse.

O desembarque na península de Galípoli, na Turquia, foi projetado visando dar aos britânicos o controle do estreito de Dardanelos, de onde poderiam proteger o Canal de Suez no Egito e as áreas de exploração de petróleo. A França queria aumentar sua influência na Síria e no Líbano. Já a Rússia buscava o controle do Bósforo e do Dardanelos, pois deles dependem seu acesso ao Mediterrâneo. Até hoje os dois estreitos são estratégicos, formam um gargalo que inutilizaria toda a frota do Mar Negro, os únicos portos de águas quentes que os russos têm. O território porém, pertencia a Turquia a quem interessava mantê-lo. A operação subestimou os turcos que receberam armas modernas dos alemães e o resultado não foi o esperado. Britânicos e franceses tiveram que se retirar após muito esforço e mais de 10 meses. A partir deste fracasso este tipo de operação passou a ser questionada.

O teatro do Pacífico, mais afeto a estratégia militar dos EUA, foi minuciosamente estudado pelas forças deste país, o que lhes proporcionou um doutrina mais consistente, que foi aplicada e aperfeiçoada durante a 2ª Guerra Mundial. As operações anfíbias caracterizaram grande parte de todo o esforço durante este conflito e grandes operações foram realizadas tanto no Atlântico como no Pacífico, e que devido a proporção do evento, não ficaram restritas às tropas de fuzileiros navais. As características insulares do Pacífico o tornaram o teatro por excelência destas operações, pois o caminho até as ilhas japonesas, demandavam que muitos objetivos fossem conquistados antes de se chegar lá.

Também o teatro europeu, a exceção da frente russa, demandou este tipo de operação. Seja no Atlântico ou no Mediterrâneo, todas as operações também demandaram um componente anfíbio geralmente como marco inicial, pois as bases de operações aliadas ou estavam no continente americano ou nas ilhas britânicas. Em fins de 1943, após o desembarque aliado em Salerno, o Gen Clark do US Army , criou uma equipe especial de planejamento anfíbio junto ao seu Estado-Maior, pois o sucesso das operações de flanqueamento pelo mar até então se mostraram muito promissores. Ele determinou que todas as oportunidades de emprego anfíbio naquele teatro da Itália fossem identificadas e tabuladas para utilização, se necessário. O Gen Bradley declarou em 1949 que na sua visão operações anfíbias de grande escala nunca mais aconteceriam, e em menos de 1 ano o Gen Mac Arthur desembarcou em Incheon, na Guerra da Coréia. Na esteira do aprendizado da 2ª Guerra Mundial, Mac Arthur em um lance ousado salvou as tropas norte-americanas e sul-coreanas sitiadas no Perímetro de Pusan. Em 1966 o ministro da defesa britânico declarou que as forças de Sua Majestade também nunca mais desembarcariam em costas defendidas, e apenas 16 anos depois a Guerra da Falklands/Malvinas provou o contrário. Em 1965 os norte-americanos desembarcaram na República Dominicana conquistando o aeroporto local que permitiu que tropas aerotransportadas ali aterrassem com aeronaves C-130. Os Israelenses também se valeram do flanqueamento pelo mar inúmeras vezes em suas intermináveis operações contra contingentes árabes, e em 1983 novamente os EUA realizaram uma operação conjunta anfíbia e aeroterrestre para intervir na ilha de Granada. No conflito contra o Iraque na Operação Desert Storm, o USMC se posicionou para desembarcar em um flanco iraquiano mas não o fez, porém somente a possibilidade do desembarque obrigou aos iraquianos ao deslocamento de 5 divisões da Guarda Republicana, enfraquecendo a frente principal.



Características das Operações Anfíbias

Uma operação anfíbia é uma ação lançada do mar por forças navais e de desembarque, a fim de conquistar um perímetro em uma costa hostil para servir de base para o avanço a um objetivo definido, ou cumprir uma missão naquele perímetro. Para tanto pode lançar mão de todos os tipos de meios disponíveis como navios de escolta para prover segurança e apoio de fogo, navios de características anfíbias que podem abicar diretamente na praias ou lançar embarcações menores (ED) a uma distância segura, veículos blindados com características marinheiras ou embarcados em embarcações de desembarque (ED), navios-aeródromo servindo de base flutuante a meios aéreos de transporte e de apoio de fogo, tropas cuja finalidade será ocupar a cabeça de praia e consolida-la, e outros meios disponíveis que se mostrarem úteis. Toda a ação é desenvolvida visando subjugar um inimigo que esteja defendendo este perímetro da forma mais eficiente possível. É uma operação naval de projeção de poder sobre terra, pois resulta de uma escaramuça de meios de marinha procurando construir um cenário que confunda os defensores e potencialize o fator surpresa, buscando a consecução dos objetivos com um mínimo de baixas humanas e de material.

Ela acontece, nos dias de hoje, dentro de um espectro mais amplo de operações, onde componentes aeroterrestres ocupam o espaço dominado pelo inimigo em concomitância com o componente anfíbio e desembarques administrativos posteriores de meios mais volumosos em portos ocupados pelas tropas em assalto. Pode-se optar pelo desembarque aeroterrestre em substituição ao desembarque anfíbio, porém esta manobra está limitada a menor capacidade de carga das aeronaves, seu menor alcance e condicionamento a condições meteorológicas favoráveis, em que pese ao seu favor a maior velocidade as aeronaves. Seu emprego conjunto é, no entanto, o mais provável de ser empreendido. Uma equação que combine massa com velocidade resulta favorável aos meios navais em concorrência com os aéreos, embora seu emprego conjunto seja desejável. Uma operação puramente aérea não permite conduzir todos os meios necessários a um desembarque a “full power” e forças complementarem se farão necessárias bem como complemento logístico, sendo as duas operações complementares. Seja em Anzio, na Normandia ou Suez, todas se valeram de meios complementares. O helicóptero trouxe nova dimensão à estas operações, com seu primeiro emprego no assalto à Incheon, na Guerra da Coréia. Com seu advento, grande parte das tarefas destinadas aos elementos aeroterrestres passaram a ser atribuídas a eles.

Existem várias modalidades de emprego das operações anfíbias no contexto estratégico de um conflito. A primeira delas, refere-se às operações de desembarque à viva força “full power” para servir de ponta de lança a uma ofensiva em território inimigo profundo. Este foi o caso dos assaltos montados, por exemplo, na Normandia em 1944 e, ainda, nas Falklands/Malvinas em 1982. Uma segunda modalidade de emprego se dá quando se destina a apoiar um esforço militar maior, desbordando o inimigo e permitindo abrir uma nova frente de combate como o realizado em Anzio e Incheon. Ambas se caracterizam como operações de Assalto Anfíbio.

A terceira modalidade é a Incursão Anfíbia quem têm sido empregada para obter efeito moral como no fiasco de Dieppe na 2ª Guerra Mundial; para coleta de informações ou em apoio à uma operação de maior vulto, como na Ilha Pebble, no conflito argentino-britânico no Atlântico Sul em 1982; para resgate de prisioneiros, como a fracassada incursão no Irã em 1979; e para destruição ou desgaste do inimigo, como nas operações germânicas contra as instalações industriais e de comunicações das Ilhas Britânicas, em fevereiro e setembro de 1942, e a famosa incursão contra Saint Nazaire em 1942.

Uma quarta modalidade é a Demonstração Anfíbia, sempre empregada com o propósito de induzir o inimigo a adotar uma linha de ação determinada, e forçá-lo a ações equivocadas. Para conquista de Midway, em 1943, os japoneses tentaram, sem lograr êxito, fazer os americanos cair nesse ardil, planejando uma demonstração em Attu, nas Ilhas Aleutas. Já os americanos conseguiram seu intento com a diversão ao sul da Ilha de Okinawa, no assalto a essa ilha.

Por fim o último emprego da modalidade de guerra anfíbia é a Retirada Anfíbia, que trata-se da extração de um efetivo para o mar, através da utilização dos meios de guerra anfíbia, que pode ocorrer de forma coordenada, ou se a situação assim o exigir como for possível, como aconteceu em Dunquerque, na França, em 1940.

Levada a luz dos Princípios de Guerra, as Operações anfíbias exploram majoritariamente os princípios da Mobilidade e da Massa (Concentração de Meios), sem esquecer da Surpresa e da Segurança. Uma Operação Anfíbia deve se concentrar em um ponto específico do litoral, pois uma dispersão de meios enfraquece os atacantes frente a forças geralmente superiores do inimigo ali estacionado. Deve ser rápida e dinâmica a fim de atingir “massa crítica” antes que o inimigo mobilize suas defesas nos pontos de desembarque. Esta força deverá ter um efetivo adequado a resistência que irá enfrentar e valer-se da máxima surpresa de forma a pegar o inimigo desavisado, sob pena de um grande fracasso, pois os meios de combate chegam à praia em vagas e vai tomando corpo aos poucos. Estes momentos são críticos ao desembarque e retardar a mobilidade das tropas inimigas em reforço é vital à manobra. Esta vulnerabilidade não é exclusividade das forças anfíbias, mas também da frota que às apoia e a superioridade aérea se faz imprescindível para a proteção dos navios, seja ela alcançada por aviação de caças navais ou uma eficiente rede de baterias antiaéreas embarcadas, e preferencialmente as duas. Manter o impulso é vital para se alcançar no menor tempo possível em terra um dispositivo com real poder de combate capaz de fazer frente às defesas. Poder de combate é tudo nesta operação, e esta “massa crítica” depende visceralmente do sigilo em torno da operação para ser alcançada, de forma que os princípios da Surpresa e da Segurança não devem ser menosprezados.

Existem 2 níveis diferentes de surpresa em uma Operação Anfíbia: O Tático e o Estratégico. A surpresa tática se consegue quando o inimigo, apesar de saber que o desembarque irá ocorrer, não tem ideia da área de desembarque e demais características a ela relacionadas. Por exemplo, no conflito do Atlântico Sul em 1982, os argentinos conheciam a intenção dos britânicos de reconquistar as Ilhas e que o arquipélago seria um Objetivo Anfíbio, mas não sabiam onde seus oponentes do norte desembarcariam, área que foi selecionada na baía de São Carlos, e tampouco sabiam do momento do desembarque. A surpresa de local e data permitiu aos britânicos desembarcarem sem oposição e consolidarem sua cabeça-de-praia rapidamente, inclusive com peças antiaéreas, de forma a oferecer reação aos meios aéreos argentinos, possibilitando dessa forma, a posterior marcha em direção ao seu objetivo final, que certamente era Port Stanley. A surpresa estratégica é obtida quando o inimigo pouco o nada sabe sobre a Operação Anfíbia. Desconhece a área onde será realizada ou até mesmo a intenção de se realizar uma operação deste tipo. O desembarque em lncheon, na Guerra da Coréia, configura-se um ótimo exemplo de surpresa estratégica. Dentre as modalidades acima citadas, temos na incursão como aquela que possui maior dependência da surpresa, pois está implícito que a retirada da área deve efetuar-se antes que o inimigo possa organizar-se para esboçar reação. A concentração é o princípio que envolve a mensuração de meios de pessoal e material - aéreos, navais e terrestres - que venham a permitir, em face das possibilidades de oposição que o inimigo possa oferecer em cada situação, conquistar e manter a cabeça-de-praia e, dessa forma, atingir o propósito da missão. Tal princípio, no entanto, deverá ser balanceado com o princípio da Economia de Meios, prevalecendo é claro, o primeiro.

O princípio do Controle deve ser especialmente observado quando a operação contar com mais de uma força, e também no que diz respeito ao controle da esquadra de apoio e dos meios anfíbios, pois a unidade de comando e controle (C2) deve ser sempre buscada. A história nos mostra a participação dos exércitos neste tipo de operação, como por exemplo no desembarque da Normandia em 1944, o que requer treinamento especial. Considerando o poderio inicial pequeno das forças de desembarque durante as primeiras horas do assalto, fica ressaltada a vital importância da participação da esquadra de apoio para a consecução de uma operação deste tipo, lançando as ED e meios aéreos, bem como proporcionando fogo de apoio. Após o desembarque, a participação da força naval será de mais focada no apoio logístico. Desta forma, fica evidente a necessidade de fina sintonia (vital) entre os comandos das forças navais e de desembarque, com subordinação óbvia. Quando forças singulares diversas estão envolvidas, o problema do estabelecimento das relações de comando fica majorado, mas nenhum tipo de operação será mais propício de se tornar combinada do que esta. Até mesmo em uma incursão de pequena envergadura como na operação "Desert One", para resgate dos reféns no Irã, grande parte do insucesso foi atribuído à falta de unidade de comando e imprópria organização da cadeia de relações.

Em operações de grande vulto, com outras forças singulares e multiplicidade de meios, deve-se durante o planejamento dispensar especial atenção ao princípio da Simplicidade. Com a tendência moderna de se realizarem campanhas cada vez mais abreviadas e com aviso prévio mínimo, deve-se ter sempre em consideração o princípio da Prontidão, visando-se ter forças para operarem com um tempo de mobilização bem pequeno. Os demais princípios de guerra afetam às operações anfíbias praticamente na mesma forma que os demais tipos de operações.



Condicionamentos de Emprego

Muitos são os fatores que influenciam ou podem, até mesmo, determinar a forma de condução destas operações. Dentre eles temos os fatores geográficos, a disponibilidade de material adequado, a influência de estrategistas famosos e as preferências pessoais dos planejadores.

Os fatores geográficos são os mais óbvios deles, e mais fáceis de analisar. O teatro de operações do Pacífico na 2ª Guerra Mundial certamente condicionava a utilização sucessiva de desembarques anfíbios como único meio de operação, devido as grandes distâncias e características oceânicas. No que concerne ao Atlântico, outras estratégias poderiam ter sido adotadas. As situações peninsulares da Itália, Noruega, Coréia e Vietnam também propiciam a adoção de uma estratégia de guerra conduzida pelo litoral. Faltou visão aos líderes americanos no teatro de operações do Vietnam, em 1972, quando oportunidade idêntica à lncheon se apresentou na primeira ofensiva do Vietnam do Norte, com suas forças organizadas como tropa regular, empregando táticas convencionais. É difícil saber porque tal oportunidade foi perdida e em que nível influiria no resultado final do conflito. Podemos afirmar, no entanto, que a perda dessa oportunidade acelerou a campanha a favor das forças comunistas. Algumas das características da área de operações desfavorecem uma operação anfíbia, como a batimetria e a oceanografia costeira, a topografia das praias, as marés e correntes das regiões em análise, a existência de densas florestas litorâneas, etc. Em lncheon, inúmeros eram os fatores desfavoráveis, e chegou-se a dizer que "se aquela operação houvesse sido planejada na Escola de Guerra, não faltariam traços vermelhos no exercício e, certamente, seria considerada como um absurdo". No entanto poucos desembarques foram tão bem sucedidos e os lucros auferidos tão valiosos.

A disponibilidade de material também condiciona de forma bastante forte as operações. Apesar de disporem de fartos meios, os aliados por diversas vezes tiverem de adiar o desembarque no norte da França. A introdução de helicópteros de grandes dimensões e os veículos sobre colchão de ar vieram diminuir a dependência das operações anfíbias das restrições impostas por características hidrográficas e oceanográficas, transformando as costas em grandes portas de acesso. Conquanto para as embarcações de desembarque convencionais apenas 17% das costas permitem abicagem, com o emprego de "hovercrafts", esse percentual ascende a 70%, e para o helicóptero não existe linha de desembarque inexpugnável.

Os principais estrategistas militares nunca fizeram inteira justiça às operações anfíbias. Eles sempre procuraram "departamentalizar" a guerra em terrestre, naval e aérea. Enquanto uns defendiam que a pressão ativa e passiva exercida pelo peso das belonaves nos mares conduziria à vitória, outros preconizavam que uma idêntica pressão, quando exercida por meio de ataques aéreos concentrados contra cidades, centros de grande densidade populacional e áreas de concentração de indústrias, iriam aterrorizar as populações que impeliriam seus governos na busca de rendição. Estas teorias desses pensadores tiveram forte influência na condução das campanhas.

 


Executando a Operação Anfíbia

Caracterizada como a mais difícil e melindrosa das operações militares, as operações anfíbias detém esta alcunha devido a fragilidade de suas bases de lançamento a partir de meios flutuantes (e vulneráveis); da impossibilidade recuo depois da operação ser iniciada e da relativa fragilidade das forças que a executam, que chegam a praia em vagas e aumentam seu poder de combate gradativamente a medida que mais efetivos conseguem atingir terra firme. Outro fator de vulnerabilidade é a provável complexidade na cadeia de comando da operação, que primariamente é composta por uma força anfíbia e uma força puramente naval, mas pode ainda ser integrada por várias forças diferentes seja no meio naval como no anfíbio, e de mais de uma nacionalidade.

A partir de um grupo-tarefa naval uma força de combate terrestre e seus meios de suporte ao combate devem ocupar uma cabeça-de-praia com poder suficiente para lá se manter com seus próprios meios, em profundidade adequada e assegurar que forças subsequentes possam desembarcar em segurança. Para tanto, devem contar com o apoio de uma força naval que lhe proporcionará cobertura, meios de desembarque, suporte logístico e relações de comando e controle. Esta força naval poderá ainda ser reforçada por meios da força aérea igualmente proporcionando cobertura, fogos de apoio e transporte de tropas aeroterrestres. Todas estas forças componentes devem ser eficientemente coordenadas e possuírem relações de comando bem definidas e adequadamente integradas por meios de ligação modernos e eficazes.

Estas operações são caracterizadas por 5 fases: planejamento, ensaio, embarque, travessia e assalto. O planejamento ocorre durante toda a operação, porém com intensidade maior nos períodos que antecedem ao desembarque. As fases se dão de forma sobreposta e cada uma delas predomina em determinados períodos da operação.

Coleta de Inteligência e Planejamento

Como toda operação militar, as operações anfíbias se iniciam com seu planejamento e coleta de inteligência com o provável envio de operadores ao local de desembarque. Os planejadores devem observar, além do que é feito em outras operações, das especificidades inerentes a operação em si e a missão em questão, pois será necessária coordenação minuciosa entre as diversas forças componentes. O apoio logístico virá igualmente do mar e apresentará dificultadores específicos, como a exigência de portos em muitos casos e a necessidade de transportar grande quantidade de suprimento enquanto estes não estiverem disponíveis. Na operação Overlord os aliados construíram portos “portáteis” (Portos Mulberry) na Gra-Bretanha e os rebocaram até as costas francesas para uso enquanto o porto de Cherbourg ainda não estivesse disponível. A sincronização entre os fogos navais, aéreo e de artilharia com os movimentos em terra é vital e evitará o fratricídio, bem como contribuirá para uma maior sinergia dos meios de desembarque e de apoio. A construção do dispositivo da cabeça de praia, extremamente vulnerável nas primeiras horas devido ao tempo que leva para desembarcar todos os meios necessários é um problema que deve ser bem planejado. Outro fator de incerteza é a possível falta de contato inicial entre os oponentes, que dificultará a obtenção de informes, mas facilitará o desembarque pela falta de oposição. E por fim a necessidade de planejamento simultâneo em todos os escalões sem que o planejamento final do alto comando esteja concluído, sob pena de retardar demais a operação. Os planejadores deverão definir prioritariamente as informações iniciais e distribuí-las aos operadores como ordens fragmentárias a fim de que estes possam iniciar os seus planejamentos específicos como: Os Objetivos a serem alcançados, as unidades e meios envolvidos, as linhas e áreas de desembarque (praias) e zonas de lançamento e aterragem, a extensão das cabeças de praia e serem consolidadas, o dia e hora prováveis dos embarques e desembarques, e os locais de embarque de cada unidade. Após estas definições iniciais se procedem os planejamentos detalhados, seja no alto escalão como nas unidades operadoras. O planejamento é uma atividade constante e só se encerra quando a operação estiver concluída. Vale-se dizer que a dependência de condições meteorológicas favoráveis é total, bem como de marés e outros fatores naturais.

Estabelecimento da Superioridade Aérea e Naval

O controle da área marítima e de espaço aéreo que influenciará na operação deve ser assegurado, evitando-se que as forças em operação sejam inviabilizadas antes mesmo de deixarem os seus transportes. Bombardeiros táticos inimigos e submarinos serão as maiores ameaças. É sempre desejável que as áreas de operações estejam dentro do alcance da cobertura aérea baseada em terra, seja para permitir o apoio aéreo aproximado (CAS) ou para a obtenção da superioridade aérea, ou se não for possível, contar com aviação embarcada capaz de desempenhar este papel. Na operação Overlord as áreas da Normandia e de Pas de Calais satisfaziam esta condição, porém as áreas ao sul da Bretanha ficavam fora do alcance, o que diminuiria o poder das forças de invasão. Meios navais com vocação de defesa antiaérea também são valiosos.

Ensaio, Embarque e Travessia

Se segue o ensaio, o embarque e a travessia, período durante o qual as forças tem suas habilidades consolidadas e seus meios são aferidos para posteriormente serem embarcados nos navios e aeronaves previamente designados. No ensaio se testam procedimentos novos e se consolidam os tradicionais, confere-se a validade e adequação dos planos e se cronometram o tempo das ações. Ocorrem antes do embarque, principalmente em ações mais específicas que exijam terreno preparado e também podem ocorrer durante a travessia. A travessia deve contar com meios de escolta e cobertura proporcionados pela frota de apoio.

Operações de Preparação

Ações preparatórias são desencadeadas antes da chegada da força de desembarque, como o envio de comandos para, por exemplo, destruírem alvos específicos como uma ponte que retardaria a chegada de reforços, o que pode denunciar a execução da operação. Elementos balizadores farão o reconhecimento dos pontos de desembarque e sinalizarão às vagas de assalto seus itinerários e pontos de abicagem. Bombardeios preparatórios por artilharia naval e de apoio aéreo procederão a debilitação das defesas, facilitando o desembarque das forças anfíbias. Operação de contramedidas de minas, sejam navais como terrestres, também devem ser efetuadas antes que as vagas de assalto cheguem à terra. Tropas de cobertura, para proteção de flancos e domínio de pontos capitais poderão ser infiltradas por meios aéreos, sejam de asas rotativas ou lançadas por paraquedas, garantido a proteção contra a chegada de reforços. Na operação Overlord, as divisões aeroterrestres aliadas garantiram a posse de pontes para o avanço pós-desembarque.

Os fogos de apoio são inicialmente proporcionados pelos meios navais e aéreos, sendo o fogo dos meios orgânicos possível apenas após as primeiras fases do desembarque quando unidades de apoio já estiverem em terra e áreas para seu desdobramento disponíveis. Operações de características especiais também são amplamente empregadas por forças especialmente adestradas (forças especiais), buscando informações, destruindo alvos pontuais e checando as condições de abicagem dos grandes meios anfíbios, entre outras.

Ao desembarcarem as forças poderão ou não enfrentarem resistência dos defensores, sendo importante que se lancem ações que visem impedir o envio de reforços, como a destruição de pontes e interdição de gargalos de fluxo de tráfego por meios adequados; direcionamento de fogo de apoio a alvos de alto valor como artilharia de costa inimiga e outros elementos dificultadores, destruição da estrutura de comunicações e outros. Estas ações podem ser coordenadas e/ou executadas por elementos infiltrados por meios aéreos ou mergulhadores de combate em incursões incógnitas, e também por forças de resistência.

Desembarque

O desembarque se fará através do lançamento de blindados anfíbios, hovercrafts, embarcações de desembarque (ED) e meios de asas rotativa. As forças inimigas que defendem os locais de desembarque já devem estar pontualmente debilitadas pelas ações de preparação. A força de desembarque deve contar com superioridade significativa sobre estas forças de defesa. As áreas escolhidas para desembarque devem oferecer condições para desdobramento do dispositivo defensivo que assegure a integridade a força desembarcada, além de suficiente vias de acesso para fora da praia a fim de que se possa estabelecer um perímetro seguro de desembarque (cabeça de praia). No desembarque da Normandia o terreno depois da praia foi alagado dificultando a progressão, e os planejadores não levaram em consideração a “sebes” (cercas vivas) ali existentes o que obrigou às forças a improvisarem meios de transposição. Após o desembarque inicial, a força-tarefa anfíbia deve ter condições de prestar apoio tático e logístico contínuo as forças desembarcadas, que poderão ou não estabelecer as condições para o desembarque de uma força maior e mais poderosa. Por fim ficam estabelecidas condições para que navios de maior porte possam desembarcar sua carga diretamente nas praias, proporcionando uma maior velocidade às operações. O apoio logístico é vital ao sucesso, e a tropas deverão levar consigo meios de se manterem por um tempo mínimo, até que as linhas de suprimento comecem a funcionar, o que deverá ser implementado o mais depressa possível. A falta de munição ou combustível poderá comprometer toda a operação. Os embarques, da mesma forma, deverão ser feitos em ordem inversa aos desembarques, sempre que houver prioridade de meios.

Consolidação da Cabeça de Praia

A progressão ao interior deve ser feita na maior velocidade possível, sem perder o ímpeto inicial, normalmente até que seja estabelecida a ligação com as tropas precursoras aerolançadas. Esta progressão deve ser balanceada com a capacidade dos meios disponíveis em assegurar a segurança das vanguardas e de forma a não estrangular a "cauda" logística. Deve ser estendida até os limites planejados para assegurar um perímetro "seguro" para o desembarque nas tropas subsequentes ou se estas não existirem até onde seja necessário para a consolidação de uma cabeça-de-praia segura. As operações serão consideradas concluídas quando os objetivos estabelecidos forem atingidos.



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