CC(FN) JOSÉ
EMÍLIO DE OLIVEIRA RODRIGUES
O primeiro passo
no processo de análise da evolução de qualquer operação militar é saber o que
foi dito sobre a mesma no passado. Entretanto, a História dificilmente se
repete, pois as circunstâncias são sempre diferentes. Assim, não se deve buscar
um modelo estereotipado para ser imposto, mas fatos isolados positivos ou
negativos que constituam uma rica fonte de inspiração para análise. Desde a 1ª
Guerra Mundial, as Operações Anfíbias têm sido questionadas quanto à sua
viabilidade e utilidade mesmo com alguns acontecimentos históricos demonstrando
sua importância para a estratégia naval. Desta forma, é importante analisar a
evolução das Operações Anfíbias por meio da História para o entendimento dos
motivos que provocaram os questionamentos a respeito da sua importância,
verificando a veracidade e validade dessas indagações para os dias atuais.
A Guerra do
Peloponeso (431 a.C.-404 a.C.) entre Atenas e Esparta, ilustra a complexidade
das Operações Anfíbias. Em 425 a.C., Atenas tinha a superioridade no mar e
Esparta o domínio em terra. Nenhuma das 2 Cidades-Estado conseguia obter uma
vantagem estratégica sobre a outra até que Atenas capturou a Ilha de Pylos em
frente à costa espartana bloqueando o seu comércio marítimo. Enquanto esperava
pelo contra-ataque espartano, o General Demóstenes gritou para suas tropas
“Vois sois atenienses e sabem por experiência própria como é difícil
desembarcar na presença do inimigo”. Os espartanos realizaram uma série de
Operações Anfíbias para retirar os atenienses da ilha, mas todas falharam até
que um armistício foi acertado e as tropas retiraram-se da Ilha.
Durante os 100
anos que antecederam a Revolução Francesa (1789-1799), a Grã-Bretanha esteve em
guerra contra a França. Nesse período, 17 Operações Anfíbias foram realizadas
contra a França e suas colônias sendo que somente 7 atingiram seus objetivos.
Nos 20 anos dos quais 7 seguiram à Revolução, 12 Operações Anfíbias foram
realizadas, mas somente 4 obtiveram sucesso. Conclui-se que os registros
históricos das Operações Anfíbias realizadas antes da 1ª Guerra Mundial
demonstram que elas sempre foram consideradas operações militares complexas, de
difícil execução e de resultados imprevisíveis, sendo, em sua grande maioria,
desfavoráveis.
Embora essas
operações tenham uma história tão antiga quanto à própria estratégia da guerra
em si, apenas no século XX sua conduta foi verdadeiramente profissionalizada,
por meio de um estudo sistemático, visando a elaboração de uma doutrina formal
que contemplasse seu planejamento, treinamento, aquisição de equipamentos
especializados e a designação de algumas forças para serem especificamente
anfíbias em seu foco tático e operacional.
Os registros
históricos das Operações Anfíbias na 1ª Guerra Mundial foram bastante
desapontadores. Após a decisão britânica de reforçar diretamente a França em
operações terrestres, poucas Operações Anfíbias foram realizadas em comparação
com os números das guerras anteriores. Mesmo assim, os poucos desembarques anfíbios
realizados não preencheram as expectativas; pelo contrário, provocaram um
grande e prolongado descrédito sobre sua viabilidade frente às defesas de
costa.
Ignorando alguns
sucessos obtidos pelos aliados em desembarques como em Zeebrugge (1918) e pelos
alemães no golfo de Riga (1917), os analistas militares que estudaram a 1ª
Guerra Mundial focaram sua atenção na mal sucedida campanha anfíbia realizada
na Península de Galípoli (1915) que acabou tornando-se um trauma militar.
Entretanto, seu fracasso não foi conceitual, mas sim o resultado de uma série
de problemas de execução. Não existiam, na época, meios apropriados nem tropas
treinadas para a realização de desembarques anfíbios. Se a operação tivesse
obtido êxito, todo o plano de campanha dos alemães em 1915 teria sido ameaçado.
A campanha em
Galípoli transmitiu a equivocada ideia de que as Operações Anfíbias tornaram-se
obsoletas pelos avanços tecnológicos da época, principalmente, nos sistemas de
armas, tais como o aperfeiçoamento da artilharia e das metralhadoras. Além
disso, os avanços nos meios de transporte, com a construção de ferrovias e a
invenção dos motores de combustão interna, fizeram com que uma potência
continental transferisse rapidamente suas forças à parte da costa objetivada
pelo invasor, atacando-o antes dele construir seu poder de combate em terra.
Analisando a
campanha em Galípoli, detectou-se que Operações Anfíbias em praias defendidas
eram quase impossíveis, considerando-as uma das operações militares mais
difíceis da guerra. Estudos da época depreciaram a importância das Operações
Anfíbias fazendo com que a Grã-Bretanha abandonasse sua estratégia anfíbia
concentrando-se prioritariamente em campanhas terrestres. Os resultados
decepcionantes da campanha em Galípoli exerceram forte influência negativa na
percepção dos analistas militares da época sobre as Operações Anfíbias,
corroborando com as já mencionadas ideias do historiador grego Thucydides sobre
a complexidade da execução dos desembarques anfíbios.
Cerca de 600
Operações Anfíbias foram realizadas durante a 2ª Guerra Mundial, variando em
tamanho e complexidade. Desde pequenas incursões até assaltos de grupos de
exércitos inteiros, quase todas obtiveram êxito, exceto casos como: a
desastrosa tentativa de retomar a Noruega invadida pelos alemães em 1940 e o
desembarque anfíbio em Dieppe em 1942, na costa da França. A partir de 1942, a
realização de Operações Anfíbias começou a guinar para resultados mais
favoráveis quando forças britânicas e dos EUA realizaram desembarques
com êxito em Madagascar, Guadalcanal e na África do Norte, rompendo com o
pessimismo oriundo das experiências em Galípoli.
Em meados de
1944, o poder de choque resultante da combinação dos sistemas de apoio de fogo
da época com os meios de desembarque, que evoluíam rapidamente, como as
viaturas blindadas de assalto, inverteu completamente o pensamento pós 1ª
Guerra Mundial sobre as Operações Anfíbias. Os assaltos anfíbios tornaram-se
impossíveis de serem impedidos. O mundo testemunhava o que os historiadores
navais chamaram de “a época de ouro das Operações Anfíbias”. No ocidente, esse
período culminou com a Operação Overlord (1944) na Normandia, onde 4.000 navios
transportaram 176.000 homens através do canal da mancha, escoltados por 600
navios de guerra provendo apoio de fogo naval durante a invasão aliada. No
oriente, o sucesso do grande assalto anfíbio à Ilha de Iwo Jima (1944),
tornou-se um símbolo da vitória dessa época, registrado nos anais da História.
As Operações
Anfíbias têm sido descritas como as mais difíceis de todas as ações militares.
Historicamente, grande parte dessa percepção deveu-se à concepção inicial de
emprego contra áreas fortemente defendidas. Consequentemente, o início da
evolução da guerra anfíbia foi baseado nas lições de combate adquiridas durante
a 2ª Guerra Mundial a um preço muito alto em termos de vidas. Apesar das
operações no Pacífico muitas vezes não terem apresentado alternativa ao
desembarque, sempre que possível as praias óbvias e bem defendidas foram
rejeitadas em favor de pequenas marchas por terra a partir de praias não
defendidas como em Tinian (1944). A técnica anfíbia evoluía e atingia uma
grande eficácia.
As Operações Anfíbias da 2ª Guerra Mundial
transformaram a natureza de como as guerras eram travadas. Em verdade, o
desembarque anfíbio foi a chave da vitória dos aliados, uma vez que cada passo
em direção ao objetivo começava com um desembarque anfíbio. A 2ª Guerra Mundial
inverteu completamente a imagem negativa dessas operações. Apesar do elevado
número de baixas na operação, o avanço tecnológico dos meios utilizados em
desembarques e o aprimoramento das suas concepções de emprego tornaram essas
operações uma valiosa ferramenta, sendo largamente utilizada pelos aliados para
derrotarem as potências do eixo Roma-Berlim-Tóquio.
Entretanto, após
a conclusão da 2ª Guerra Mundial, muitos analistas acharam que as Operações
Anfíbias eram válidas apenas para as circunstâncias peculiares daquele
conflito, considerando-as obsoletas nos campos de batalha dominados por armas
nucleares. Desde a adoção das teorias de Alfred Thayer Mahan na
virada do século XIX para o século XX, as marinhas existiam para derrotar
outras marinhas. No período entre 1945 e 1950, a própria necessidade da
existência de uma marinha de guerra, e, consequentemente das Operações Anfíbias
passou a ser questionada.
Em julho de 1946,
testes nucleares realizados no atol de Bikini, no Oceano Pacífico, simularam um
ataque a uma Força-Tarefa Anfíbia, alarmando as marinhas por suas implicações
relativas à execução de uma Operação Anfíbia, exigindo uma revisão com o
objetivo de desenvolver novas técnicas para conduzi-las na era nuclear. As
análises focaram a vulnerabilidade do movimento navio para terra e as
possibilidades inerentes ao emprego de helicópteros.
Em 1949 o Chefe
do Estado-Maior Conjunto dos EUA, General Omar Nelson Bradley (1893-1981), fez
uma alarmante declaração de sua convicção acerca da não realização de Operações
Anfíbias em larga escala na era nuclear. Em 1950, o Secretário de Defesa dos
EUA Louis Arthur Johnson (1891-1966) afirmou que as Operações Anfíbias
pertenciam ao passado, tornando desnecessária a existência do United States
Marine Corps. Continuando suas ideias, anunciou que a USAF sozinha poderia
cumprir qualquer uma das tarefas que a marinha e o Corpo de Fuzileiros
Navais dos EUA realizava. Posteriormente, as restrições impostas ao uso de
armas nucleares e a inexistência de uma proliferação nuclear generalizada
reduziu significativamente a probabilidade da ocorrência dessa ameaça.
De qualquer
forma, ao final da 2ª Guerra Mundial, uma redução na capacidade anfíbia das
principais marinhas do mundo era inevitável. A maioria dos navios anfíbios foi
vendida ou doada para estados menos desenvolvidos ou usados como alvos. No
período de 1945 a 1950, dos 610 navios anfíbios da US Navy, apenas 91
permaneceram em atividade, fruto da prematura fixação nos artefatos nucleares
como solução final para os conflitos armados.
Os entusiastas do
poder aéreo, ao acreditarem precipitadamente que a aviação pode ganhar uma
guerra sozinha, equivocaram-se. Esse excesso de valorização das possibilidades
da aviação obscureceu sua verdadeira eficiência e suas diversas limitações,
gerando conclusões fora de contexto. Assim, embora as Operações Anfíbias tenham
demonstrado toda sua importância durante a 2ª Guerra Mundial, as indagações
quanto às suas viabilidade e utilidade voltaram a ganhar força, relegando o
potencial real de um desembarque anfíbio a um segundo plano.
Na Guerra da Coréia(1950-1953), foi realizada uma Operação anfíbia em Inchon, fundamental para o
seu resultado final. As condições das praias eram bastante desfavoráveis ao
desembarque tradicional. Muralhas de pedras cercavam toda a costa, obrigando o
uso de escadas para o desembarque. Apesar das dificuldades, o assalto anfíbio
em Inchon foi um sucesso. Ao desembarcar em um local inesperado, essa operação
inverteu decisivamente o resultado da guerra em favor dos EUA, que estavam
isolados realizando uma defensiva no perímetro de Pusan. Os norte-coreanos
entraram em colapso ao terem seu fluxo logístico cortado por tropas
posicionadas em sua retaguarda, a US Navy, retraindo de forma
desorganizada para tentar enfrentar a nova ameaça.
Com isso, as
Operações Anfíbias ganharam novo fôlego ao provarem sua utilidade, diminuindo a
pressão das discussões acerca de sua eficácia na era nuclear. Inchon confirmou
a evolução da concepção do emprego em praias não defendidas iniciada na 2ª
Guerra Mundial, visando evitar o elevado número de baixas e demonstrando a
importância estratégica dessas operações para o resultado final de um conflito.
Ao contrário do
ocorrido durante a 2ª Guerra Mundial, no início da Guerra Fria (1945-1991)
houve um enfraquecimento da percepção da “época de ouro das Operações
Anfíbias”. Nesse período, operações em águas azuis profundas e guerra anti-submarina dominaram os investimentos e pensamentos estratégicos da US Navy
focando a atenção nas formas de lidar com a ex-URSS. A capacidade de realizar desembarques anfíbios era inútil nesse
contexto e de pouca utilidade prática dentro dessa concepção estratégica. Além
disso, a vulnerabilidade dos navios ao se aproximarem da costa aumentou
consideravelmente nesse período, particularmente, devido à evolução tecnológica
dos mísseis.
Diante desse
cenário, os questionamentos a respeito do futuro da guerra anfíbia ganharam
novamente força durante a Guerra do Vietnã (1959-1975), quando foram realizadas
73 incursões anfíbias em missões de busca e destruição visando a interdição do
fluxo logístico norte-vietnamita. Nenhuma destas operações provocou elevadas
baixas no inimigo, o que na época era um indicador de eficiência na guerra.
Assim, com resultados pouco significativos, a doutrina anfíbia subestimada e
mal compreendida, ficou fora de moda entre os pensadores militares da época.
O foco da
estratégia naval das grandes potências marítimas em uma guerra naval travada
nos oceanos provocou a atribuição de uma baixa prioridade às Operações
Anfíbias. Tais aspectos, aliados às inovações tecnológicas em prol das defesas
de costa, contribuíram para que os questionamentos contra essas operações
ganhassem força novamente, ofuscando sua importância que já havia sido
constatada nos anos finais da 2ª Guerra Mundial e na Guerra da Coréia.
Em 1976, o
Brookings Institute publicou o estudo criticando o USMC por priorizar a missão
anfíbia, considerada por eles como apenas um peculiar tipo de combate. Nesse
estudo, foi afirmado que a “época de ouro das Operações Anfíbias” pertencia ao
passado e que o USMC não precisava mais de uma única missão para justificar sua
existência.
O período
pós-guerra do Vietnã foi uma época de restabelecimento da credibilidade das
Operações Anfíbias. EUA e ex-URSS visualizaram a importância das águas rasas e
da captura antecipada dos estreitos estratégicos do mundo para facilitar a
passagem das suas esquadras ou para proteger um flanco de uma guerra terrestre.
Entretanto, significantes e antigas dificuldades continuavam: capacidade de
transporte de tropa, construção de novos navios e meios anfíbios,
vulnerabilidades de uma Força Tarefa Anfíbia aos ataques de mísseis nucleares e
anti-navio, além do lançamento de minas.
Para superar
esses obstáculos, chegou-se à conclusão que as Operações Anfíbias deveriam ser
lançadas além do horizonte. O único meio existente após a Guerra do Vietnã que
permitia tal intento era o helicóptero. No entanto, o emprego exclusivo de
helicópteros realizando um assalto vertical era inexequível, principalmente,
pela inexistência de espaços a bordo dos navios. Mesmo assim, o emprego do
helicóptero revolucionou a guerra anfíbia capacitando uma Força de Desembarque
a ultrapassar praias antes consideradas intransponíveis e inabordáveis para as
Embarcações de Desembarque (ED) e Viaturas Anfíbias (VtrAnf), conferindo maior
impulsão ao assalto anfíbio.
Novos meios para
a execução dessa técnica de desembarque que ficou conhecida como Over The
Horizon (OTH) começaram a ser desenvolvidos, tais como: a Landing Craft Air
Cushion (LCAC), o Expeditionary Fighting Vehicle (EFV), um Carro Lagarta
Anfíbio (CLAnf) avançado, capaz de ser lançado além do horizonte para atuar
como ponta de lança em um assalto por superfície e o versátil MV-22 Osprey que
combina as características de uma aeronave de asa fixa com as de um
helicóptero. Esses vetores em desenvolvimento constituíam uma tríade de
mobilidade que tornaria exequível a OTH.
Embora o
desenvolvimento tecnológico desses vetores tenha sido muito importante, foram as
novas concepções de emprego das Operações Anfíbias que efetivamente provocaram
a evolução. Novos conceitos estratégicos, operacionais e táticos, combinados
com os meios disponíveis ou em desenvolvimento, proporcionaram a necessária
flexibilidade para que os aperfeiçoamentos das defesas de costa fossem
superados, mantendo assim a viabilidade dos desembarques anfíbios.
O desenvolvimento
da doutrina OTH foi uma profunda revolução no tradicional modo de conduzir a guerra
anfíbia. Além de proporcionar uma surpresa tática à operação, acabava com os
sangrentos desembarques frontais realizados em praias fortemente defendidas;
evitando o indesejável efeito político adverso, oriundo do afundamento de um
grande navio com sua lotação completa de marinheiros e fuzileiros navais.
Em 1981, o
periódico britânico The Times publicou um artigo dizendo que as Operações
Anfíbias eram um conceito militar ultrapassado que não requeria nenhuma
expertise particular. Um ano depois, um conflito armado permitiu que os
analistas tivessem uma visão da guerra anfíbia em plena era dos mísseis sob
condições reais de laboratório: a Guerra das Falklands/Malvinas (1982), que
reafirmou a importância, a viabilidade e a utilidade dessas operações,
revalidando velhas lições aprendidas e apresentando novas concepções de a serem
analisadas.
Diversos
conceitos doutrinários considerados clássicos não foram seguidos pelos
britânicos, tais como: a operação foi realizada sem a obtenção da superioridadeaérea local, resultando no afundamento de vários navios; meios de defesa
antiaérea foram desembarcados antes das unidades de assalto, para prover
segurança contra a aviação; a superioridade numérica mínima exigida para um
assalto anfíbio não foi respeitada e a descarga geral não foi realizada
ininterruptamente, sendo executada somente durante o período noturno para
evitar ataques aéreos.
Apesar dos
questionamentos contrários às Operações Anfíbias terem atingido seu auge
durante a Guerra Fria, no mesmo período, surgiram novas concepções de emprego e
meios de desembarque, tais como: o helicóptero, a LCAC, o EFV e o MV-22 que
garantiram a sua exequibilidade, permitindo que os avanços das defesas de costa
fossem superados.
Na Operação
Desert Storm (1990-1991), as Operações Anfíbias demonstraram mais uma vez sua importância.
Uma Força Tarefa Anfíbia posicionada nas proximidades da costa do Kuwait
constituiu um trunfo para as forças da coalizão liderada pelos EUA. A simples
ameaça da realização de um grande assalto anfíbio, em local e momento
desconhecidos, fez com que o Iraque empregasse ¼ das suas forças na defesa da
costa, enfraquecendo a frente terrestre na fronteira entre Arábia Saudita e o
Kuwait.
Em 1992, o
General Colin Powell dos EUA apresentou uma perspectiva própria sobre as
Operações Anfíbias. ”Não pode haver mais debate sobre a importância relativa do
controle do mar, da projeção de poder sobre terra ou da capacidade de
transportar pessoal e equipamentos por navios – nós vimos claramente que
precisamos de todos os 3 agora. Não pode haver mais debate sobre a
estratégia marítima versus guerra continental, pois os serviços do mar
demonstraram claramente sua integração com ambos. E não pode haver mais debate
sobre a utilidade das Operações Anfíbias, pois elas provaram seu valor de uma
vez por todas”.
Com o fim da
Guerra Fria, não tinha sentido continuar expressando o poder naval de acordo
com os princípios Mahanianos de que as marinhas existiam para combater outras
marinhas. Assim, uma especial atenção foi dedicada à capacidade de projeção de
poder sobre terra, resultando no lançamento pela US Navy de novas concepções
estratégicas navais: o From the Sea: a new direction for the Naval Services e o
Forward...From the Sea . Estas novas percepções provocaram um impacto direto
nas principais marinhas do mundo que passaram a atribuir um maior grau de
prioridade e importância às suas capacidades anfíbias.
Detalhando
doutrinariamente essas novas concepções, o USMC lançou os conceitos derivados
“Operational Maneuver From The Sea”
(OMFTS) e o “Ship To Object Maneuver” (STOM). O OMFTS não é simplesmente
uma operação além do horizonte, mas uma projeção de poder que utiliza o mar
como espaço de manobra para aplicar força contra as fraquezas do oponente com
ênfase sobre a inteligência, a surpresa e a flexibilidade. Já o STOM é a
aplicação tática do OMFTS. Abandonando a ideia de que as Operações Anfíbias
deveriam assegurar uma cabeça de praia a partir da qual partiriam operações
terrestres subsequentes, a manobra deveria ser dirigida diretamente até o
objetivo operacional, combatendo inteligentemente e procurando desarticular o
defensor com fogos de precisão, elevado ritmo, surpresa e simultaneidade das
ações. Ao maximizar a surpresa, imprimindo velocidade e ritmo às Operações
Anfíbias, o OMFTS e o STOM tornaram a tarefa do defensor bem mais difícil.
Na Operação Iraqi
Freedom (2003), foi realizado um assalto anfíbio vertical pela 3ª Royal Marines
Brigade britânica para conquistar o porto de Umn Qasr, essencial para a
abertura do fluxo logístico da coalizão liderada pelos EUA. Apesar do pequeno
vulto e do fraco poder de combate do oponente, mais uma vez um desembarque
anfíbio obteve êxito na era dos mísseis, atingindo plenamente seus propósitos.
O fim da Guerra
Fria provocou uma mudança no foco da estratégia naval das grandes potências
marítimas para o litoral, onde as Operações Anfíbias têm uma relevante
importância. Da mesma forma que Inchon, a Guerra das Falklands/Malvinas, a
Guerra do Golfo e a Guerra do Iraque (2003) mostraram que essas operações são
exequíveis e têm um papel relevante para as marinhas na atualidade.
Os princípios e
os procedimentos doutrinários existem para serem adaptados e adequarem-se às
circunstâncias particulares. Foi exatamente isso que aconteceu com a doutrina
anfíbia. Como suas circunstâncias são sempre mutáveis, as Operações Anfíbias
evoluíram ao longo do tempo, adaptando-se à realidade das ameaças que foram
surgindo com os desenvolvimentos tecnológicos. Empregando a tecnologia a seu
favor, táticas, técnicas, conceitos e sistemas inovadores foram desenvolvidos
para atender às exigências da guerra anfíbia moderna, demonstrando que a
utilidade das Operações Anfíbias ainda é uma realidade.
As novas
concepções de emprego desenvolvidas durante o final da Guerra Fria e detalhadas
a partir da década de 1990 foram viabilizadas com o surgimento dos novos
vetores, tornando as Operações Anfíbias exequíveis em plena era dos mísseis.
Portanto, os desembarques anfíbios não tornaram-se operações militares
ultrapassadas ao longo do tempo, pelo contrário, foram evoluindo
permanentemente, buscando superar os obstáculos que impediam sua realização..
OS IMPACTOS DA
TECNOLOGIA NAS OPERAÇÕES ANFÍBIAS
Cada vez que
surge um novo sistema de armas, logo depois aparece uma resposta com capacidade
para enfrentar essa ameaça. Essa espécie de antídoto continuará assim. Desde o
início do século XX, a tecnologia sempre foi a responsável pela dúvida e pela
resposta sobre a utilidade e a viabilidade das Operações Anfíbias. A evolução
das defesas de costa foi enfrentada pelo desenvolvimento tecnológico de novos
meios de desembarque, princípios e conceitos de emprego que proporcionaram a
necessária flexibilidade para que uma Força Tarefa Anfíbia cumprisse sua
missão.
A tecnologia
contra as operações anfíbias
O ruído ambiente
elevado das águas costeiras, sua pouca profundidade e seus complicados níveis
de salinidade e temperatura ampliam as vantagens do emprego de submarinos
defendendo uma costa. Cada vez mais inteligentes, velozes e poderosos, os
torpedos constituem um tipo de ameaça difícil de ser enfrentada nas águas
congestionadas e pouco protegidas dos litorais.
Reforçando a
defensiva turca contra os desembarques anfíbios realizados em Galípoli na 1ª
Guerra Mundial, submarinos alemães afundaram os encouraçados britânicos HMS
Triumph e HMS Majestic provocando a retirada de todos os navios capitais do
teatro de operações, com consequências desastrosas para o exército
expedicionário britânico que já se encontrava em terra. O submarino e o torpedo
aumentaram significativamente as vantagens das defesas de costa contra as
Operações Anfíbias, demonstrando a importância da necessidade de uma capacidade
anti-submarina apoiando essas operações.
As minas são o
tradicional obstáculo da projeção de poder sobre terra, reforçando significativamente
as vantagens de uma defesa de costa. Na Guerra da Coréia, se a Coréia do Norte
tivesse minado o porto de Inchon, o desfecho da Operações Anfíbias poderia ter
sido desastroso. Uma outra operação desse tipo em Wonson foi atrasada significativamente
por causa da minagem feita na área de desembarque. A varredura durou 16 longos
dias, sendo que 3 navios-varredores afundaram. Quando a Força de Desembarque
estava pronta para realizar a operação, as tropas norte-coreanas já haviam se
retirado, perdendo-se a oportunidade de interditá-las. A capacidade de
varredura de minas da US Navy cresceu menos que a sua eficácia anfíbia nos anos
que se seguiram ao final da 2ª Guerra Mundial. Esse fato teve consequências
para o curto prazo, quando a fé nas Operações Anfíbias perdia sua força.
4 décadas
depois da Guerra da Coréia, o Almirante Frank Benton Kelso, Comandante de
Operações Navais da US Navy durante a Operação Desert Storm (ODS), admitiu que
foram reaprendidas algumas duras lições do passado. Dentre elas, ele destacou
que as minas podem frustrar a mais poderosa das forças navais, classificando-as
como as verdadeiras armas invisíveis da atualidade. Durante os preparativos
para a planejada e não executada Operação Desert Sabre, um assalto anfíbio noturno
para capturar o porto de Ash Shuabah no Kuwait, vários navios sofreram sérios
danos provocados por minas iraquianas.
A ODS demonstrou
como um estado sem um poder naval relevante pode ainda constituir uma séria
ameaça para as Operações Anfíbias. Barcos pesqueiros iraquianos lançaram um
complexo sistema de 1200 minas de contato e de influência que inibiram um
assalto anfíbio em larga escala. Após a guerra, o Almirante John Baptiste
LaPlante, Comandante da Força Tarefa Anfíbia afirmou que a deficiência em
varredura de minas é um dos maiores desafios que a US Navy precisaria resolver
no futuro. As marinhas e suas forças anfíbias deverão prestar cada vez mais
atenção a esse óbvio meio de negação de acesso ao litoral.
A capacidade de
varredura de minas é essencial para o sucesso das Operações Anfíbias. As minas
são baratas, fáceis de serem lançadas e capazes de provocar sérios danos aos
navios de uma Força Tarefa Anfíbia. Hoje em dia, qualquer Estado pode comprar e
estocar minas facilmente. Existe uma tendência de exagerar nas capacidades
quando um novo sistema de armas é desenvolvido. Logo após a 1ª Guerra Mundial,
começaram a surgir os defensores do poder aéreo que visualizavam exageradamente
que a aviação decidiria sozinha as guerras do futuro. O mais famoso deles foi o
italiano Giulio Douhet que desenvolveu um conceito de destruição de indústrias
e cidades a partir do ar que posteriormente entrou para a História com o nome
de Strategic Bombing . Em 1921, o General William Lendrum Mitchell do US Army,
discípulo de Douhet, previu que o poder aéreo dominaria conflitos sobre a terra
e o mar, afirmando que os navios de guerra seriam inúteis.
Após a 2ª Guerra
Mundial, foram realizados diversos debates acerca da utilidade dos
excessivamente vulneráveis e caros grandes navios frente ao poder aéreo em
forte desenvolvimento. O Strategic Bombing proporcionava a profundidade
necessária para evitar a exposição dos navios às crescentes ameaças oriundas da
costa. Não havia alvo mais atrativo para uma força aérea do que uma Força
Tarefa Anfíbia navegando vagarosamente pelo litoral.
O advento do
laser para designação de alvos contribuiu significativamente para o aumento da
eficiência do poder aéreo, representando o começo de uma nova era, cujo mantra
era o termo Precision Strike. Durante a ODS, o desempenho das armas de precisão
parecia tornar as demais operações de guerra obsoletas. Nessa época, analistas
militares afirmaram que o poder aéreo estava substituindo as forças em terra. A
guerra estava se transformando em um vídeo game. Novos entusiastas do poder
aéreo surgiram como o General Michael Dugan, Chefe do Estado-Maior da USAF, que
foi demitido após suas declarações à imprensa nas quais afirmava que a aviação
sozinha poderia ganhar a Guerra do Golfo.
Assim, surgia no
final do século XX um novo estilo de guerra moderna no qual a aversão às
baixas, a relutância em colocar tropas no terreno, a confiança no poder aéreo e
a pressão da mídia foram suas principais características. O mesmo cenário de
precisão e entusiasmo com o poder aéreo repetiu-se com as ações da OTAN contra
as forças sérvias na Península dos Balcãs, em 1995, na Bósnia e, em 1999, em
Kosovo, onde 35% das armas utilizadas empregaram munições de precisão. Segundo
John Desmond Patrick Keegan, renomado historiador militar britânico, o poder
aéreo deu a vitória aos aliados nessas duas guerras, tornando-se uma excelente
opção para evitar o combate terrestre.
A Operação Iraqi
Freedom (OIF) demonstrou que a notável evolução experimentada no Precision
Strike continuava. Nesta operação, 90% das munições empregadas foram de
precisão, enquanto que o efetivo de forças terrestres empregadas foi reduzido
pela metade quando comparado com a ODS. Conclui-se que a aviação ao invés de
potencializar o poder de combate de uma Força de Desembarque apoiando uma
Operação Anfíbia, passou a vislumbrar a possibilidade de substituí-las,
baseando-se na eficiência das armas de precisão e na aversão da opinião pública
mundial às baixas. Essa percepção criou uma espécie de rivalidade muito
desfavorável para os desembarques anfíbios.
Em verdade, grande parte dos créditos do poder
aéreo pertence aos mísseis que podem ser lançados, também, a partir de
plataformas navais e terrestres, constituindo uma grande ameaça às Operações
Anfíbias. Os navios que transportam as tropas, historicamente o “Calcanhar de
Aquiles” da guerra anfíbia, seriam alvos de oportunidade prontos para serem
destruídos por esses sistemas. Assim, as baterias fixas de canhões das defesas
de uma costa foram substituídas por plataformas móveis lançadoras de mísseis.
Com capacidade para detectar e engajar alvos cada vez mais afastados do
litoral, rapidamente esses sistemas podem ser movimentados de um ponto a outro
da costa. Como recebem informações sobre os alvos a partir de centrais de
comando afastadas da sua posição, essas plataformas são difíceis de serem
detectadas antes do momento do lançamento do míssil.
A vulnerabilidade
de uma Força Tarefa Anfíbia aos mísseis constitui a maior ameaça para as
Operações Anfíbias do futuro. Os mísseis anti-navio não podem ser
desconsiderados por uma força naval operando próxima de uma costa. Várias
marinhas de recursos escassos possuem esses mísseis instalados, inclusive, em
embarcações de médio porte, como nos navios-patrulha. Na Guerra das
Falklands/Malvinas, a fragata britânica HMS Glamourgan quase foi afundada por
um míssil Exocet lançado pelas forças de defesa argentinas em Porto Argentino.
Depois desse episódio, muitos Estados intensificaram o desenvolvimento de
mísseis de cruzeiro para a defesa de seus litorais. A proliferação de armas
para negar o acesso litorâneo nas mãos de atores não estatais complica ainda
mais a realização de Operações Anfíbias. Mesmo em missões não bélicas, a
vulnerabilidade dos navios operando próximo à costa é um fato. Na crise do
Líbano em 2006, o Hezbollah empregou mísseis de superfície contra navios
israelenses, provocando uma preocupação constante para as operações de
evacuação de não combatentes. Da mesma forma, o ataque assimétrico realizado
por uma pequena embarcação ao USS Cole, em 2000, em um porto do Iêmen,
demonstrou a vulnerabilidade dos navios quando operam em águas rasas.
A ascensão
repentina dos mísseis antiaéreos colocou em dúvida a questão da viabilidade dos
helicópteros como meio de transporte de tropas e de apoio aéreo aproximado às
Operações Anfíbias. Na Guerra pelo canal de Suez (1956), devido à possibilidade
de existirem armas de defesa antiaérea na zona de desembarque planejada, o
assalto por helicópteros foi realizado nas proximidades da praia em locais já
reconhecidos pelas forças que desembarcaram por superfície. A performance
tecnológica dos sistemas de armas são assuntos extremamente complexos. É válido
observar que os assuntos nem sempre atingem em ação os resultados que seus propagandistas
proclamam e não importa quão complexo é um sistema, ele ainda estará
subordinado ao erro humano. Na atualidade, os mísseis de superfície e
antiaéreos representam uma grande ameaça às Operações Anfíbias, entretanto, não
existem registros históricos de que os mesmos as inviabilizem como operação
militar, apesar dos grandes danos que podem provocar. Da mesma forma, até o
presente momento, os mísseis potencializaram significativamente o poder aéreo,
mas ainda não estão tão avançados tecnologicamente a ponto de permitir que a
aviação substitua as Operações Anfíbias tornando-as ultrapassadas e
desnecessárias.
A tecnologia a
favor das operações anfíbias
O reconhecimento
das Operações Anfíbias tem oscilado positiva e negativamente, apesar da sua
importância ser evidente em todos os níveis de condução dos conflitos, desde o
político até o tático. Como ação bélica, esse tipo de operação tem sobrevivido
aos saltos da tecnologia que por algum tempo pareceram ameaçar sua
praticabilidade militar. O sucesso das operações aéreas na Península dos
Balcãs, durante as guerras da Bósnia (1994) e de Kosovo (1999), também serviram
para demonstrar as limitações do poder aéreo. Nuvens, vegetação e ambientes
urbanos, além de questões ambientais e leis são obstáculos para o emprego do
poder aéreo. A tecnologia ainda está imatura e incapaz de lidar adequadamente
com as mudanças climáticas. Além disso, ficou claro que simples medidas de
contra-reconhecimento de baixo custo, tais como: camuflagem, emprego de
artefatos, dispersão e frequente movimentação de forças são muito eficientes
contra os ataques de precisão do poder aéreo.
Cabe ainda
ressaltar que o poder aéreo foi incapaz de impedir a trágica limpeza étnica
ocorrida nos Balcãs nesse período. Para minimizar as baixas civis, é necessário
empregar tropas em terra. Manter uma incerteza na mente do adversário é uma
peça chave da estratégia moderna e isso frequentemente exigirá preparo para ir
além dos limites do poder aéreo. Existem tarefas simples que podem ser
executadas pelo poder aéreo, mas forças terrestres são decisivas a longo prazo.
Portanto, o poder aéreo não cumpre todas as tarefas que uma Força de desembarque realiza em terra, não podendo substituí-la. Bombardeios aéreos de
precisão não tornaram as Operações Anfíbias obsoletas. Pelo contrário, o poder aéreo é incapaz de resolver
decisivamente todas as questões dos conflitos em terra, tornando a projeção do
poder naval por meio do emprego de tropas anfíbias uma ferramenta valiosa e de
grande utilidade na guerra moderna.
Os helicópteros
causaram um grande impacto tecnológico nas Operações Anfíbias. Seu emprego
revolucionou a guerra anfíbia ao dar uma nova dimensão espaço de batalha,
permitindo o rápido desembarque de tropas sem as restrições normalmente
enfrentadas pelos assaltos por superfície, tais como: recifes, gradientes,
condições de trafegabilidade e defesas de costa. Assim, o helicóptero tornou-se
um eficaz vetor de projeção de poder sobre terra que muito contribuiu para a
viabilidade das Operações Anfíbias. A LCAC com sua velocidade, alcance e
capacidade de transporte de carga foi outra inovação tecnológica que impactou
positivamente as Operações Anfíbias. Apesar da falta de uma blindagem, sua
capacidade de superar obstáculos naturais e artificiais reduziu
significativamente a vulnerabilidade. As ED só abicam em 17% das praias do
mundo. Por sua vez, as LCAC abicam em 73% delas, complicando significativamente
as tarefas do defensor. As aeronaves STOVL como o AV-8B Harrier e o F-35 foram
tão revolucionárias para as Operações Anfíbias quanto o helicóptero. Com
capacidade de pouso e decolagem em áreas remotas como uma simples estrada,
estas aeronaves podem ser lançadas a partir de convoos simples, descartando a
necessidade de um Navio-Aeródromo. Na Guerra das Falklands/Malvinas, os
Harriers mostraram sua versatilidade ao serem lançados de navios mercantes com
convoos adaptados. O MV-22 Osprey e o EFV são os meios de desembarque mais
avançados da atualidade. A tecnologia Tiltrotor permite que o Osprey decole e
pouse como um helicóptero e voe como um avião. O EFV é o carro-lagarta anfíbio
mais avançado tecnologicamente, combinando velocidade e alcance na água com
blindagem e mobilidade tática nas operações em terra. Apesar das dificuldades e
dos custos envolvidos em seus projetos, ambos estão em avaliação operacional.
Da mesma forma que o helicóptero e a LCAC, o MV-22 e o EFV são lançados além do
horizonte, diminuindo a concentração de navios próximos à costa, oferecendo
poucos alvos para seus defensores. O Litoral Combat Ship (LCS) e o Joint High
Speed Vessel (JHSV) são os mais recentes projetos em desenvolvimento em prol
das Operações Anfíbias. Além das suas velocidade e manobrabilidade, o LCS pode
receber módulos intercambiáveis que garantem uma grande versatilidade para
desempenhar uma ampla gama de tarefas: varredura de minas, apoio de fogo,
comando e controle e, até mesmo, transporte de tropas apoiando o desembarque e
o reembarque de fuzileiros navais. O JHSV provê rapidez no transporte de
pessoal e material em locais onde as condições portuárias são precárias ou
estão deterioradas. O valor destes últimos tem sido questionado nos últimos
anos.
Os meios navais e
de fuzileiros navais que estão sendo desenvolvidos para serem empregados em
Operações Anfíbias são uma resposta à evolução tecnológica dos sistemas que
integram as defesas de costa. Esses meios viabilizam as novas concepções de
emprego, tais como a OTH, a OMFTS e a STOM, capacitando uma Força de
Desembarque a superar as ameaças oriundas de terra, tornando a tarefa do
defensor muito mais difícil. As forças navais mais sofisticadas da atualidade
têm conseguido enfrentar a ameaça dos mísseis sem dificuldade, embora quanto
mais relativamente evoluído seja o oponente, maior será o desafio. A
ressurreição da Jeune École (navios menores fortemente armados para enfrentar
navios maiores – Séc XIX) é uma ilusão. Além de não serem navios com capacidade
para operar em condições adversas de mar, embarcações de pequeno porte são
bastante vulneráveis aos ataques aéreos e de submarinos. Na ODS, a
superioridade aérea local permitiu que forças navais da coalizão utilizassem
helicópteros contra as lanchas rápidas da Marinha do Iraque com efeitos
devastadores. Até agora, o avanço tecnológico sempre tem falhado em confirmar
as pretensões mais extravagantes dos estrategistas navais que visualizam a
defesa de uma costa por meio de esquadras de pequeno porte.
A construção
atual dos navios é compartimentada de um modo tal que um dano em uma área, não
necessariamente leva ao colapso de todo o conjunto. Além disso, os avanços
tecnológicos das armas e sensores instalados a bordo dos navios reduzem sua
vulnerabilidade frente aos ataques oriundos de terra. O Aegis é considerado o
sistema de combate naval mais avançado do mundo, sendo capaz de engajar mísseis
antinavio ainda na sua trajetória ascendente em velocidades subsônica ou
supersônica e em quaisquer condições climáticas.
Os mísseis também
atuam em prol das Operações Anfíbias. Os mísseis de cruzeiro como o Tomahawk
têm tido um êxito operacional muito grande desde o início da década de 1990,
sendo extremamente eficientes na incapacitação das defesas antiaéreas e dos
meios de comando e controle do oponente nas etapas iniciais de um conflito. Na
década de 80, quatro encouraçados da classe Iowa dos EUA foram modernizados,
recebendo vários lançadores de mísseis como o Harpoon, o Tomahawk e o Sea
Sparrow. Estes navios foram capazes de despejar 800 toneladas de munição de
precisão em menos de meia hora. O equivalente ao poder de destruição de 17
destroyers. Ainda que por pouco tempo, esses mísseis e os canhões de 16
polegadas deram uma sobrevida aos velhos encouraçados da 2ª Guerra Mundial,
constituindo uma perigosa ameaça para os iraquianos durante a ODS. A tecnologia
de ponta do apoio de fogo naval também está evoluindo para evitar expor os
navios às ameaças da costa. Os EUA desenvolveram o Advanced Gun System (AGS),
canhões navais de 155mm totalmente automatizados, cuja munição atinge 180 km,
por meio de um projétil assistido por foguete. Atualmente estão inativos devido
ao custo da munição.
Por último, o
advento do Global Positioning System (GPS) revolucionou o controle do teatro.
Estando presente em todos os meios de desembarque, o GPS pôs um fim à “parada”
de vagas de ED em linha da 2ª Guerra Mundial. Além disso, dificilmente
acontecerá eventos semelhantes ao ocorrido na Operação Torch (1942), o assalto
anfíbio noturno aliado no norte da África, onde as ED foram parar a mais de 10
milhas da praia de desembarque.
Assim, os
impactos da tecnologia nas Operações Anfíbias têm mantido um equilíbrio entre
os sistemas de armas e meios que estão à disposição dos atacantes e defensores
em uma área de desembarque. Atualmente esses sistemas, apesar do seu impressionante
aperfeiçoamento, não são suficientes para impedir um desembarque anfíbio, pelo
contrário, eles significam que a projeção de forças anfíbias em terra ainda é
uma possibilidade. Os avanços tecnológicos fortaleceram as defesas de um
litoral ao permitir o desenvolvimento de sistemas de armas cada vez mais
eficazes contra um desembarque anfíbio. Entretanto, essa mesma tecnologia
forneceu as respostas em termos de concepções de emprego e meios de desembarque
que permitiram que as novas ameaças fossem superadas. Até o presente momento, o
resultado desse confronto tem sido favorável às forças que desembarcam.
Inovações
tecnológicas podem refinar ou modificar o curso e a natureza do pensamento
estratégico. Os recentes avanços tecnológicos não apagam três realidades: as
armas de precisão não são perfeitas, o engajamento de tropas no solo ainda é
necessário e a ênfase na tecnologia faz esquecer considerações estratégicas
também muito importantes.
UMA OPÇÃO
ESTRATÉGICA VALIOSA
O homem utiliza o mar, mas não vive nele,
estando sempre apegado à terra onde se encontram seus bens materiais e
espirituais. Assim, as grandes questões bélicas entre os estados são decididas,
exceto em casos excepcionais, a partir do que os exércitos são capazes de fazer
contra o território inimigo ou pelo que as marinhas permitem aos exércitos
realizarem. As forças armadas devem atuar de forma conjunta a fim de realizar
operações ao longo dos litorais, visualizando a guerra de uma forma
essencialmente anfíbia. Um exército pode conquistar territórios ultramar,
operando conjuntamente com a marinha que flanquearia com Operações Anfíbias
seus adversários em terra, golpeando os pontos mais débeis da costa inimiga. O
domínio do mar não ganha as guerras nem decide seus resultados políticos, mas a
realização de desembarques é uma opção estratégica para as grandes potências
marítimas, capacitando-as a influenciar decisivamente no resultado final dos
conflitos. Uma Operação Anfíbia tem um efeito estratégico desproporcional às
suas dimensões, exercendo um poder de fixação que influencia a estratégia
continental. Napoleão Bonaparte, durante sua campanha na Aústria,
afirmou que o exército britânico embarcado em Dover com apenas 30.000 homens
era capaz de paralisar os 300.000 soldados do seu exército e, tal capacidade,
reduzia a França a uma potência de 2ª classe. Há muito tempo as Operações
Anfíbias são uma opção estratégica valiosa para líderes políticos e militares,
sendo capazes de influenciar diretamente o resultado final dos conflitos. A ameaça
representada pela iminência desse tipo de operação exerce um poder de atração
sobre as forças terrestres oponentes, criando oportunidades ímpares.
No final do
século XIX e início do século XX houve uma explosão repentina de interesse
pelas Operações Anfíbias. A Grã-Bretanha debatia sobre o emprego de suas forças
armadas em uma estratégia terrestre focada em um envolvimento de grande escala
no continente europeu ou em uma estratégia naval baseada em desembarques
anfíbios contra posições vulneráveis nos litorais dos territórios inimigos.
Para o Almirante John Arbuthnot Fisher, First Sea Lord, famoso
pelos programas de reaparelhamento que conduziu na Royal Navy, o exército
britânico deveria permanecer como um projétil a ser disparado pela marinha por
meio de desembarques anfíbios. As terríveis experiências da frente ocidental da
1ª Guerra Mundial confirmaram o erro do abandono dessa estratégia pela
Grã-Bretanha. Enquanto formulava sua estratégia da aproximação indireta que o
deixaria famoso, Liddlell Hart acreditava que a Grã-Bretanha poderia derrotar
um adversário continental, evitando um confronto direto em território europeu.
Muito se questionou sobre a importância estratégica e decisiva das Operações
Anfíbias por críticos que acreditavam que os avanços tecnológicos estavam
tornando sua realização cada vez mais difícil. Os resultados da campanha em
Galípoli e suas duras experiências e frustrações, a evolução das técnicas
empregadas nos sucessivos desembarques que foram realizados mostrou que essas
operações eram exequíveis, constituindo um conjunto de oportunidades passíveis
de serem exploradas. Galípoli fracassou por falta de planejamento e preparo
adequado, inexistindo forças e equipamentos especializados. Foi uma inteligente
opção estratégica que poderia ter separado a Turquia dos seus aliados, levando
a guerra à retaguarda alemã. Após Galípoli, os aliados abandonaram os
desembarques anfíbios. Se não tivessem cometido esse erro, a Alemanha
continuaria tendo que conviver com o dilema de dividir seus esforços entre as
frentes terrestres e a proteção de seus flancos contra a realização de
Operações Anfíbias. Enquanto fosse mantida uma capacidade anfíbia pelos
aliados, os alemães teriam que levá-la em consideração no seu dispositivo
defensivo e nos seus movimentos ofensivos.
Se os Estados
aliados da 1ª Guerra Mundial tivessem desenvolvido uma capacidade anfíbia com
tropas treinadas e meios especializados, a mesma poderia ter sido empregada
como uma alternativa à estacionária campanha terrestre que resultou nas famosas
guerras de trincheiras caracterizadas pelo desgaste e equilíbrio de poder.
Portanto, possuir a capacidade para projetar poder sobre terra por meio de
Operações Anfíbias tem uma importância estratégica valiosa e decisiva para as grandes
potências marítimas. No início da 2ª Guerra Mundial, a história se repetiu.
Diversas oportunidades foram desperdiçadas porque os aliados não tinham
inicialmente a opção estratégica naval de realizar desembarques. Essa
deficiência permitiu que a Noruega fosse conquistada sem a possibilidade de uma
retomada por forças anfíbias. Posteriormente, após desenvolverem essa
capacidade, os aliados puderam escolher onde e quando seria mais vantajoso
retomar a iniciativa, projetando seu poder sobre terra por meio de Operações
Anfíbias. Assim foi feito na África, na Itália, na Noruega e na Riviera
Francesa, mudando o resultado da guerra a seu favor.
A capacidade de
realizar Operações Anfíbias proporcionou aos aliados da 2ª Guerra Mundial uma
grande influência sobre os eventos em terra, embora a guerra na Europa tenha
sido essencialmente terrestre. A ameaça anglo-americana de invadir a Europa
pelo mar demonstrou um efeito estratégico significativo, provocando a dispersão
das forças lideradas pela Alemanha. O poder anfíbio aliado atraiu 45% (133
divisões) das forças alemãs para se oporem à invasão do continente europeu,
deixando 55% (165 divisões) na frente oriental contendo o crescente aumento da
pressão russa. A possível realização de um desembarque aliado em local
desconhecido do litoral europeu dispersou o poder de combate alemão pelas áreas
de desembarque potencialmente favoráveis para uma invasão pelo mar. 32 divisões
(10%) foram atraídas para o norte da França para impedir a travessia do Canal
da Mancha, 18 divisões (6%) foram posicionadas ao sul da Itália, 18 divisões
(6%) na Noruega e na Dinamarca, 10 divisões no sudeste da França, 10 divisões
no norte da Itália, 9 divisões na Holanda, 8 divisões no sudoeste da França,
além de outras 28 divisões espalhadas pelo sudeste da Europa. Cabe ressaltar,
que esse efeito estratégico diversionário reduz-se rapidamente após o
desembarque, o que requer grande rapidez na construção de um poder de combate
em terra que constitua uma efetiva ameaça.
As Operações
Anfíbias da 2ª Guerra Mundial foram as grandes responsáveis pela derrota das
potências do eixo. Não foram exploradas todas as suas possibilidades porque era
um conceito praticamente novo, mas o primeiro passo ao seu desenvolvimento foi
dado. A regra fundamental para o emprego estratégico de uma força anfíbia é que
ela não deve ser desperdiçada em operações terrestres. Uma vez estabelecida uma
força em terra, a tropa anfíbia deve retornar aos navios para voltar a
constituir-se como opção estratégica capaz de formar uma nova ameaça para os
defensores inimigos em terra. Para o autor, os resultados da campanha anfíbia
realizada na Europa durante a 2ª Guerra Mundial reforçam as ideias de Napoleão
sobre o poder de atração exercido pela ameaça da realização de uma Operação Anfíbia.
Ao ameaçar suas linhas de abastecimento, a Operações Anfíbias realizada em
Inchon desarticulou totalmente o exército norte-vietnamita forçando-o a uma
retirada desorganizada, transformando completamente o cenário operacional em
terra. Essa Operação enfatizou o efeito estratégico provocado por um
desembarque anfíbio realizado em momento e local inesperados. A alternativa
para o assalto anfíbio era um ataque frontal que só poderia resultar em uma
árdua e prolongada campanha com elevado número de baixas. A Guerra da Coréia
mostrou que mesmo na era nuclear, as Operações Anfíbias ainda tinham seu lugar,
representando um poderoso golpe estratégico para as potências marítimas que
possuem tal capacidade.
As Operações
Anfíbias representam um trunfo nas mãos dos líderes políticos e militares que,
utilizado corretamente, pode contribuir significativamente para o resultado
final de um conflito. Desta forma, seu emprego em local e momento não esperados
pelo oponente proporciona um efeito surpresa capaz de desarticular suas forças.
Alguns analistas dos EUA concluíram que o plano de redução da capacidade
anfíbia da Royal Navy anunciado pelo Secretário de Defesa John William Frederic
Nott, às vésperas da Guerra das Falklands/Malvinas, diminuiu a efetividade da
sua dissuasão estratégica, motivando os argentinos a invadirem as ilhas em
1982. Além disso, a Grã-Bretanha sem uma capacidade anfíbia não teria
conseguido retomar as ilhas, mesmo obtendo o controle do mar e conquistando a
superioridade aérea local. Para tentar impedir uma retomada britânica das
Falklands/Malvinas, os argentinos foram obrigados a dispersar suas forças pelas
duas principais ilhas do arquipélago a fim de defender as potenciais áreas mais
favoráveis para a realização de desembarques.
Durante a ODS, a
simulação de um desembarque anfíbio desempenhou um papel estratégico crucial na
guerra. A ameaça de uma invasão pelo mar provocou o deslocamento de 5 divisões
da Guarda Republicana iraquiana da região da fronteira do Kuwait com a Arábia
Saudita para o litoral a fim de tentar deter o suposto assalto anfíbio,
enfraquecendo, consequentemente, a frente terrestre. Analisando esse conflito,
Liddell Hart deduziu que a flexibilidade proporcionada por uma capacidade
anfíbia é a maior opção estratégica que um poder naval possui, criando uma
ameaça para a concentração das forças oponentes que é desproporcionalmente
vantajosa aos recursos empregados. Uma marinha sem capacidade anfíbia tem a
credibilidade e a dissuasão do seu poder naval significativamente reduzidas. As
marinhas que realizam Operações Anfíbias apresentam um maior poder dissuasório
capaz de influenciar as decisões, os movimentos ofensivos e o posicionamento
defensivo das tropas terrestres do Estado oponente. A Guerra do Golfo impactou
bastante a estratégia naval dos EUA. Não houve força naval inimiga, submarinos
ou batalhas navais em mar aberto para as quais a US Navy havia preparado-se
durante os 20 anos que a antecederam. Em seu lugar, dominaram as ações de menor
vulto da guerra no litoral. Assim, a estratégia naval pelo controle do mar
deslocou-se para a estratégia naval que enfatiza as influências do poder naval
nos sucessos em terra.
Sendo assim, as
faixas litorâneas dos estados tendem a tornarem-se os campos de batalha do
século XXI, onde o mar é um espaço de manobra para a projeção de poder sobre
terra. Essa tendência demonstra que as Operações Anfíbias são agora parte
fundamental das concepções estratégicas das grandes potências navais de várias
marinhas do mundo, reconhecendo sua importância e utilidade para os dias
atuais. Hoje, ao lado dos submarinos e navios-aeródromo, a capacidade de
realizar Operações Anfíbias representa uma das 3 principais competências de uma
marinha. As Operações Anfíbias são para as guerras navais o que a Blitzkrieg e
o Strategic Bombing foram para as guerras terrestre e aérea, respectivamente.
Uma importante opção estratégica para qualquer Estado que clama ser uma
potência marítima. A projeção de poder sobre terra é a maneira mais eficaz de
introduzir poder de combate em uma região, compulsando o inimigo a conviver com
a incerteza quanto ao momento e local de aplicação da força, obrigando-o a
imobilizar parte substancial das suas tropas para fazer frente a esse tipo de
ameaça.
A OIF, apesar de
não ter sido uma guerra essencialmente naval, confirmou a tendência atual de
que o foco da estratégia naval está nas ações próximas ao litoral, controlando
áreas marítimas ou projetando poder sobre terra em conjunto com outras
operações terrestres. Uma das principais operações navais desencadeadas na OIF
foi o desembarque anfíbio realizado na Península de Al-Faw a fim de assegurar
as principais instalações petrolíferas de Rumaylah e garantir o acesso ao Porto
de Umm Qasr. Este, tinha uma importância estratégica para as operações futuras,
pois seria por meio dele que fluiria grande parte do apoio logístico às forças
da coalizão em terra. A mudança da concepção estratégica adotada
pelas principais marinhas do mundo, que passaram a focar as águas litorâneas,
reforça a importância das Operações Anfíbias para a estratégia naval no mundo
pós-Guerra Fria. Neste contexto, a capacidade anfíbia das marinhas passa a
exercer relevante papel dentro das possibilidades de emprego de um poder naval
de credibilidade. No final do século XX, mudanças significativas ocorreram nas
principais esquadras do mundo. A tarefa de projeção de poder sobre terra passou
a receber uma grande prioridade. Novos meios e técnicas para o bombardeio
aeronaval foram desenvolvidos e diversos tipos de navios anfíbios foram
projetados, dando um grande impulso para a construção naval.
A capacidade de
realizar Operações Anfíbias deixou de ser um privilégio de poucas potências.
Muitos Estados não só estão mantendo suas capacidades anfíbias, mas também
ampliando-as e, analisando seus programas de construção naval, aparentam estar
convencidos de que essa competência tem um futuro garantido, no qual as forças
anfíbias continuarão a constituir uma flexível, útil e valiosa ferramenta para
seus comandantes operacionais. Um poder naval estático possui muito pouco valor
estratégico. A capacidade de realizar Operações Anfíbias confere uma maior
credibilidade para que sua habilidade de intervir seja convincente, aumentando
seu poder de dissuasão. Assim, os estados com essa capacidade usam-na para
ameaçar um oponente ou obter uma vantagem política em crises. De uma situação
de expectativa, através da simples presença de uma Força Tarefa Anfíbia ao
largo de uma costa, pode-se evoluir até o extremo estágio de intervenção direta
por meio de um assalto anfíbio. Desta forma, uma capacidade anfíbia não está
limitada ao emprego no extremo do espectro dos conflitos. Elas se aplicam a uma
variedade de situações e circunstâncias, desde operações de paz e de ajuda
humanitária até a guerra convencional propriamente dita. Tropas treinadas nas
especificidades da guerra anfíbia configuram uma importante capacidade para as
marinhas da atualidade, constituindo uma excelente ferramenta de credibilidade
internacional.
CONCLUSÃO
Desde a 1ª Guerra
Mundial até os dias atuais, as Operações Anfíbias vem sendo frequentemente
questionadas a respeito da sua importância, utilidade e viabilidade como
operação militar. Imagens negativas de operações fracassadas como em Galípoli
ou de navios afundados por bombas e mísseis revezaram-se ao longo da segunda
metade do século XX com cenas de desembarques anfíbios triunfais como em Iwo
Jima, Inchon e Falklands/Malvinas. Analisar a evolução das Operações Anfíbias
por meio de fatos reais que ocorreram em guerras passadas permite compreender
os motivos que provocaram tais indagações, assim como sua validade para os dias
atuais. Os desembarques anfíbios foram impactados pelos avanços tecnológicos
dos sistemas de armas empregados nas defesas de costa que supostamente inviabilizariam
sua realização, principalmente, pelas prováveis elevadas perdas de pessoal e
material. Além disso, essa evolução potencializou outras operações militares,
como os bombardeios aéreos, induzindo muitos analistas a acreditarem
precipitadamente que as mesmas seriam capazes de cumprir as mesmas tarefas
executadas pelas Operações Anfíbias, tornando a projeção de forças anfíbias
sobre terra ultrapassada e desnecessária.
Assim, as vantagens das defesas de costa foram superestimadas e a aviação, por sua vez, ao invés de apoiar uma Força de Desembarque, passou a vislumbrar a possibilidade de substituí-las, criando uma rivalidade muito desfavorável para as Operações Anfíbias. Durante a Guerra Fria, a crença das potências marítimas da época na ocorrência de grandes batalhas em alto mar entre esquadras poderosas, depreciou ainda mais as Operações Anfíbias. Neste período, as indagações contrárias aos desembarques atingiram seu auge, ofuscando resultados positivos como os obtidos nas Guerras da Coréia e das Falklands/Malvinas, nas quais essas operações tiveram uma participação decisiva no resultado final de ambos os conflitos. Mesmo desacreditadas, novas concepções de emprego foram desenvolvidas ainda durante a Guerra Fria, tais como: a técnica de desembarque OTH e as concepções de emprego OMFTS e STOM. Tais ideias, somadas ao desenvolvimento de novos meios de desembarque, como o helicóptero, a LCAC, o EFV e o MV-22, tornaram os desembarques anfíbios capazes de superar as defesas de costa mesmo na era dos mísseis. Assim, esses vetores viabilizaram as novas concepções, tornando a tarefa do defensor mais difícil. A mesma tecnologia, que impactou negativamente as Operações Anfíbias, forneceu as ferramentas que permitiram minimizar os efeitos contrários à sua realização. Atualmente, o resultado dessa contradição tem sido favorável aos desembarques anfíbios, tornando possível sua execução. Com a mudança do foco das principais marinhas do mundo para as águas litorâneas, as Operações Anfíbias recuperaram seu prestígio dentro da estratégia naval, enfraquecendo significativamente os argumentos contrários à sua utilidade como operação militar. Sendo assim, as esquadras dotadas de uma capacidade anfíbia apresentam um poder dissuasório com maior credibilidade, podendo exercer uma considerável influência nas decisões, nos movimentos ofensivos e no posicionamento defensivo de um Estado oponente. A ameaça de um desembarque anfíbio é capaz de fixar parcela significativa de uma força oponente, criando oportunidades que podem ser estrategicamente exploradas em terra. Seu emprego em local e momento não esperados proporciona um efeito surpresa capaz de desarticulá-lo, obrigando-o a dispersar suas forças para tentar impedir o desembarque, enfraquecendo toda a costa a ser defendida e o interior do seu território. Assim, as Operações Anfíbias são de grande utilidade para a estratégia naval, representando uma opção valiosa que empregada corretamente pode contribuir decisivamente para o resultado final de um conflito. Portanto, analisando-se a evolução dessas operações até os dias atuais, conclui-se que as inovações tecnológicas dos sistemas de armas empregados nas defesas de costa e nos bombardeios aéreos não inviabilizaram nem tornaram a projeção de forças anfíbias sobre terra ultrapassada. Versatéis e aptas a serem empregadas em uma ampla gama de situações belicosas ou não, tal competência constitui um importante trunfo de grande valor estratégico para as marinhas nesse início de século.
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