Guerra Eletrônica parte 2 - O Espectro Eletromagnético
Medidas de Apoio Eletrônico (ESM)
A exploração eletrônica é a primeira forma que qualquer
força armada lança mão para obter informações sobre seus inimigos ou potenciais
inimigos. Ela é usada tanto em tempos de paz como em situações de crise e
conflito. Conhecer seu inimigo é uma das máximas da guerra, e a vigilância e o
reconhecimento eletrônico são constantemente usados a fim de atingir este
objetivo. Lançar mão destes meios se mostra muito conveniente pois não viola
qualquer tipo de regra internacional em tempos de paz e não expõem ao perigo os
meios de inteligência em tempos de crise e conflito.
A espionagem eletrônica se encarrega de alimentar
bibliotecas com parâmetros de radares e sistemas de armas e de comunicações
para que possam ser usadas quando necessário, interceptar mensagens e fornecer
subsídios diversos a elaboração da ordem eletrônica de batalha dos inimigo e
potenciais inimigos
Ordem Eletrônica de Batalha (EOB): é um conceito
militar que se refere ao conhecimento detalhado da organização, localização,
capacidade e intenções das forças inimigas, especificamente no que diz respeito
ao seu uso do espectro eletromagnético, relacionando seus sistemas eletrônicos,
seus localizações, frequências usadas por cada sistema e seus “modus operandi”,
e todas as outras informações relacionadas a estes sistemas.
Estas informações permitem realizar interferências
eletrônicas, monitorar sinais, determinar a localização físicas dos emissores,
e outras ações que permitem aos comandantes localizar o inimigo, acompanha-lo e
engajá-lo.
No campo de batalha moderno, emitir qualquer tipo de
radiação eletromagnética fatalmente sensibilizará um sistema passivo de
monitoramento do inimigo, que em muitos casos poderá resultar em uma resposta
mortal, de forma que todas as emissões devem ser disciplinadas e reduzidas ao
mínimo, e efetuadas somente quando autorizadas.
Todos os atores de um teatro de operações devem se
limitar a emitir o mínimo indispensável, pois sempre haverá um sensor passivo à
espreita. Sensores de radiação eletromagnética podem ser ativos e passivos. O
radar é um sensor ativo, que se vale da própria radiação refletida para obter
sua informação desejada e um alvo primário dos sensores passivos do
inimigo. Radiocomunicadores também são
emissores de radiação e alvo das MAGE (medidas de apoio de guerra eletrônica) e
embora não sejam sensores, são faróis acessos na escuridão. A situação tática
determinará o nível desta disciplina de emissões, e em situações assimétricas
ela pode em muito ser relaxada à medida que um dos lados assume a supremacia
das operações. Em tempos de paz emissões alimentam as bibliotecas eletrônica
dos inimigos em potencial e em tempo de guerra denunciam seus emissores que
viram alvos.
Ao uso de medidas de apoio eletrônico (ESM) chamamos de
esclarecimento eletrônico. Os registros assim adquiridos, vindos de diversos
sistemas, são sistematizados e mostrados aos comandantes de forma a compor um
cenário dos meios inimigos. O grau de eficiência deste esclarecimento é função
da área coberta pela unidade de tempo, guardadas as particularidades de cada
sistema dedicado. Cabe aos sistemas de comando e controle (C2) relacionar estes
dados à situação tática e disseminá-los entre suas forças para ações efetivas.
Devido ao alcance e letalidade dos sistemas de armas modernos, cada vez vale mais a condição de vantagem de quem encontra o inimigo primeiro e realiza um ataque efetivo, enquanto esquiva-se da recíproca. O campo de batalha eletrônico moderno é hoje a chave da vitória.
Primeira forma de emprego da EW, o reconhecimento eletrônico é uma atividade passiva e discreta, exercida principalmente em tempos de paz e visa monitorar toda a atividade eletrônica praticada nas áreas de interesse de uma nação, com vistas a formação de bancos de dados de informações eletrônicas.
Estas informações coletadas a partir dos emissores dos meios aéreos, terrestres e navais de potenciais inimigos, e também, por que não dos meios amigos, são analisadas, avaliadas, e interpretadas, e por fim usadas para alimentar as memórias dos sistemas MAGE e permitir o planejamento tático das ações de EW e de resposta de fogo. Quando em operação, os sistemas eletrônicos inimigos devem ser localizados e identificados, e a partir das informações previamente armazenadas são tomadas as ações adequadas.
Formas de Reconhecimento Eletrônico
- SIGINT (Signal Inteligence) (Inteligência de sinal) - Consiste na detecção, identificação, classificação e análise de emissões eletrônicas amigas, inimigas, potenciais inimigos e outros. A localização do sinal não é muito importante pois busca-se suas características, e esta pode mudar quando do emprego operacional. Pode ser tática ou estratégica. São realizadas por plataformas aéreas, terrestres, marítimas ou espaciais (satélites).
- ELINT (Eletronic Inteligence) (Inteligência eletrônica) - É a forma de SIGINT em que as emissões-alvo não são comunicações eletrônicas nem explosões nucleares, e sim sinais de radares e outros emissores.
- COMINT (Comunication Inteligence) (Inteligência de comunicações) - É a forma de SIGINT em que as emissões-alvo são derivadas das comunicações eletrônicas. Pode ser explorada para localizar as forças inimigas ou obter informações relevantes.
- TELINT (Telemetry Inteligence) (Inteligência de telemetria) - É a forma de SIGINT que tem a função de coletar dados de voo (telemetria) de aeronaves e foguetes.
- RINT – RADINT (Radiation Inteligence) (Inteligência de radiação) - É a forma de SIGINT que se destina a coleta informações derivadas de todos emissores de energia residual (emissões não propositais) e que não seja uma detonação nuclear. Por exemplo, a presença de um transformador de energia emitindo involuntariamente pode denunciar a presença de atividade naquele local.
- MAGE/MAE/ESM (medidas de apoio eletrônico) - Semelhante a ELINT pois busca a detecção de radares hostis e outros equipamentos. A diferença é que a ELINT concentra-se na pesquisa original ou repetida confirmação dos dados paramétricos, enquanto a MAGE consistem nas ações de busca, interceptação, identificação e localização dos sinais eletrônicos para reconhecimento imediato da ameaça (durante as operações). Apenas para emissores já conhecidos.
- RWR (Radar Warning Receiver)(Alerta Radar) - É um sistema MAGE especializado a prover alerta contra ameaças imediatas como artilharia antiaérea e mísseis SAM e AIM guiados por radar. Este sistema detecta a radiação que o está "iluminando" e alerta o piloto para tomar medidas evasivas/defensivas.
As atividades de reconhecimento eletrônico envolvem a medição dos parâmetros das transmissões de rádio-frequência dos radares (RF), frequência de repetição de pulso (PFR) e duração de pulso (PD), além da razão e padrão de varredura . A maioria dos radares tem RFs e PRFs de reserva para uso em tempos de guerra e a monitoração frequente irá revelar estes modos. A monitoração COMINT também revelam padrões e devem ser monitoradas constantemente.
Medidas de Apoio à Guerra Eletrônica (MAGE/MAE/ESM)
Os sistemas MAGE atuam no sentido de detectar, interceptar, monitorar, localizar, gravar e registrar, avaliar, identificar e analisar a radiação recebida de forma a identificar sua fonte em proveito das operações ou da segurança própria. Uma emissão radar detectada, pode por exemplo, alertar que um míssil guiado por esta radiação específica está se aproximando.
O alerta antecipado da presença inimiga é sempre uma função dos receptores MAGE, que sempre detectarão a “iluminação” dos radares inimigos antes que as plataformas dotadas desses receptores possam ser vistas pelos radares emissores, pois as ondas radar, para retornarem na forma de "ecos" úteis aos equipamentos radares inimigos, têm que percorrer um caminho de ida e volta. Grandes distâncias atenuam essas ondas que terão potência suficiente para chegar aos receptores MAGE, mas os "ecos" de retorno carregando a informação útil podem se tornar pouco discerníveis pelos emissores. Esta situação em particular é própria à função de Alerta Radar (RWR), por periscópios de submarinos, navios de superfície e aeronaves. Um submarino ou caça pode saber da presença de uma emissão hostil de forma instantânea e evadir-se em tempo hábil. Os parâmetros recebidos podem também ditar as contra-medidas ativas adequadas, se for o caso.
De características discretas, pois tem emissão zero, a monitoração de sinais compreende basicamente a busca, interceptação e goniometria do sinal e da fonte, sua análise e Identificação se valendo de bibliotecas de sinais.
Radiogoniometria (esta técnica será descrita com mais detalhes em artigo próprio)
A radiogoniometria é uma técnica usada para localizar, monitorar e interceptar emissões como comunicações de rádio e outras, utilizando equipamentos para determinar a direção de um sinal de transmissão. É empregada em diversas funções, como navegação, reconhecimento de comunicações e inteligência eletrônica, tanto em ambientes de navegação marítima e aérea quanto em cenários táticos terrestres. Permite identificar a origem de transmissões de rádio, como as feitas por inimigos, ajudando a prever seus movimentos e ações, auxilia na determinação da posição de uma embarcação ou aeronave por meio da identificação da direção de sinais de rádio de auxílio à navegação, como faróis de rádio. É fundamental para coletar informações sobre as comunicações do adversário, auxiliando na tomada de decisões estratégicas e táticas, além de envolver a identificação de diversas comunicações em diferentes frequências.
Utiliza os radiogoniômetros, que são equipamentos que captam os sinais de rádio e determinam a direção de onde eles vêm. Podem ser fixos (em estações costeiras ou aéreas) ou portáteis para uso em campo. Se valem de técnicas de triangulação, que -e a mais comum para determinar a localização dos emissores. Envolve a tomada de direções de um sinal de diferentes pontos de observação para encontrar o ponto exato de origem. Outras técnicas como os métodos de diferença de tempo na chegada (TDOA) e a diferença de potência na chegada (PDOA) também são utilizados para localizar o transmissor. Em equipamentos portáteis, é comum a integração com uma bússola para facilitar a leitura da direção do sinal, mesmo com o movimento da embarcação ou aeronave.
Guerra Eletrônica (Parte 4) - O Radar




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